A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO
ambiente acadêmico e competência moral
Thaísa Angélica Déo da Silva Bereta
É com satisfação que apresento o
livro A Formão Ética do Psicólogo: am-
biente acadêmico e competência moral,
fruto da Tese defendida por aísa An-
gélica Déo da Silva Bereta, no Programa
de Educão da UNESP de Marília, sob a
orientão da Profa. Dra. Patricia Bataglia.
Várias publicações tematizam a
formão de psicólogas(os) no Brasil e des-
tacam os desaos dessa formão: seja pe-
las questões relativas ao currículo dos cur-
sos de Psicologia, que precisam avançar no
âmbito das poticas públicas e sociais, da
garantia de direitos, em uma perspectiva
interdisciplinar e intersetorial; seja pelos
cuidados com as(os) estudantes visando
desenvolver o pensamento crítico e o espa-
ço de escuta para suas necessidades e de-
saos postos pela ciência e pela prossão.
A discussão da formão em Psico-
logia tem se aprofundado também por meio
da organização de docentes, coordenado-
res de cursos, estudantes; materializada
por congressos, seminários, documentos,
pesquisas que visam pensar cada vez mais
sobre “que psicóloga(o) queremos formar
em uma sociedade de classes, desigual, com
uma enorme dívida histórica com as popu-
lações campesinas, negras, indígenas e po-
bres? Que projeto ético-potico de socie-
dade e de Psicologia queremos construir?
Em meio a esses e tantos outros
questionamentos, este livro aborda uma
das dimensões fundamentais da forma-
ção em psicologia: a questão ética. E o
faz sob a base teórica do desenvolvimen-
to moral, ou seja, incluindo processos de
aproprião que se imbricam nas pticas
formativas e que produzem o que a au-
tora nomeia de formão da personali-
dade ética e o desenvolvimento moral.
A partir das Diretrizes Curricula-
res do Curso de Graduão em Psicologia
- DCNs, aísa analisa a dimensão ética
da formão de psicólogas(os), enquanto
eixo transversal do currículo, e aprofun-
da esta discussão nas atividades de estágio
supervisionado, momento privilegiado da
formão em que o conhecimento teóri-
co se articula com a ptica prossional.
É importante ressaltar que o curso de psi-
cologia possui uma conguração pecu-
liar nesse aspecto, com uma carga horia
signicativa de estágio supervisionado.
Este livro também apresenta um
tema de grande importância para o Ensino
Superior ao destacar a relencia das meto-
dologias ativas, algo ainda muito novo para
a formão docente, e que precisará ser
objeto de nossas pticas, produzindo di-
álogos necessários com as novas gerações.
Trata-se de uma publicão
muito oportuna em virtude da ex-
pansão do número de cursos de Psi-
cologia no Brasil e em virtude da re-
visão das DCNs aprovadas em 2020.
Convidamos você para conhe-
cer esta obra e compreender o pensa-
mento de estudantes e professores re-
lativo aos dilemas e desaos vividos na
prossão e na formão em Psicologia.
Boa leitura a todos e todas.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO
Thaísa Bereta
Esta obra aborda a problemática da formão em Psicologia, especial-
mente quanto à formão ética e moral para o exercício da prossão.
Apresenta os conceitos, as diretrizes curriculares, a interdisciplinarida-
de, as metodologias ativas e o papel do professor; colaborando com a
reexão de estudantes de Graduão em Psicologia e em Educão, de
docentes, de instituições educacionais e de conselhos de classe preocu-
pados com a formão ética da Psicologia no Brasil.
Ao abordar a formão ética do psicólogo, temos a visão das dimen-
sões assumidas por esse saber cientíco, quer no relacionamento con-
sigo mesmo, quer nas relações interpessoais, quer no posicionamento
potico com a sociedade ou, ainda, na possibilidade da constrão de
uma concepção crítica do entorno. No processo ensino-aprendizagem,
os estágios supervisionados em Psicologia possibilitam a formão de
prossionais com maior capacidade de integração entre teoria, técnica e
ptica. Integração essa que contribui para maior sensibilidade dos pro-
ssionais às demandas, à integralidade do outro e a seu papel social e
ético.
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA | USP
A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO:
AMBIENTE ACADÊMICO E
COMPETÊNCIA MORAL
Thaísa Angélica Déo da Silva Bereta
A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO:
AMBIENTE ACADÊMICO E COMPETÊNCIA MORAL
Thaísa Angélica Déo da Silva Bereta
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
D
iretor
Prof. Dr. Marcelo Tavella Navega
Vice-Diretor
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Conselho Editorial
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Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
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Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação -
UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
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Maria do Rosário Longo Mortatti
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Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
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agem de capa: https://www.piqsels.com/en/public-domain-photo-zbots
Au
xílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
F
icha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
B
ereta, Thaísa Angélica Déo da Silva.
B492f A formação ética do psicólogo: ambiente acadêmico e competência moral / Thaísa Angélica Déo da
Silva Bereta. Marília : Oficina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2020.
251 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-86546-59-0 (Impresso)
ISBN: 978-65-86546-97-2 (Digital)
1. Escolas Psicólogos - Currículo. 2. Escolas Psicólogos Metodologia de ensino. 3. Psicólogos
Formação. 4. Ensino superior. I. Título.
CDD 150
Copyright © 2020, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
C
ultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
DOI: https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-97-2
Para Isabela,
por tornar minha vida
mais prazerosa e completa
e
para minha família,
por todos os momentos
valiosos que passamos juntos.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______
Gráfico 1 Análise conjunta das pontuações normalizadas dos estudantes de
segundo e quinto ano da IES 1 .....................................................................172
Gráfico 2 Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt dos estudantes de segundo e quinto ano da IES 2 ..........................173
Gráfico 3 Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt das IESs 1 e 2 para os estudantes de segundo ano ..........................174
Gráfico 4 Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt dos estudantes de quinto ano das IESs 1 e 2 ..................................176
Gráfico 5 Boxplot para relacionar docentes colaboradores das IESs 1 e 2 .....177
Gráfico 6 Boxplot para relacionar docentes formadores das IESs 1 e 2 .........179
LISTA DE TABELAS
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ __
Tabela 1 Instituições de Educação Superior por estado que oferecem o curso de
graduação em Psicologia ................................................................................26
Tabela 2 Número de Psicólogos inscritos no Conselho Federal de Psicologia,
por estado brasileiro .......................................................................................28
Tabela 3 Comparação dos docentes colaboradores das IESs 1 e 2 em relação as
dimensões RT e GR .....................................................................................178
Tabela 4 Comparação dos docentes formadores das IESs 1 e 2 em relação as
dimensões RT e GR .....................................................................................180
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ _______
ABEP
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
ANPPEP
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Psicologia
CAPS
Centro de Atenção Psicossocial
CFP
Conselho Federal de Psicologia
CNE
Conselho Nacional de Educação
CRP
Conselho Regional de Psicologia
CM
Currículo Mínimo
DAU
Departamento de Assuntos Universitários
DIT
Defining Issue Test
DCN’s
Diretrizes Curriculares Nacionais
EAD
Educação à Distância
GR
Reflexão Dirigida
IES
Instituição de Ensino Superior
LDB
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
KMDD
Konstanz Method of Dilemma Discussion
MEC
Ministério da Educação
MCT
Moral Competence Test
MCT_xt Moral Competence Test - extended version
MJI
Moral Judgment Interview
MJT
Moral Judgment Test
MUT Moralisches Urteil Test
OAB
Ordem dos Advogados do Brasil
ORIGIN/esfp
Questionário Ensino Superior: Formação em
Psicologia
ORIGIN/pd
Questionário Ensino Superior: Prática Docente na
Formação em Psicologia
PBL
Problem Based Learning
PCN’s
Parâmetros Curriculares Nacionais
PDE
Plano de Desenvolvimento da Educação
PUC-RJ
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUC-RS
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RT
Assunção de Responsabilidade
SROM
Sociomoral Reflectio Objetive Measure
SUAS
Sistema Único da Assistência Social
TCC
Trabalho de Conclusão de Curso
UNICAP
Universidade Católica de Pernambuco
UFPR
Universidade Federal do Paraná
USP
Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____
Prefácio ................................................................................................15
Introdução ...........................................................................................19
A Formação em Psicologia: Perspectiva Histórica ..................................21
A Formação do Psicólogo no Brasil
Estruturação dos currículos dos cursos de Psicologia no Brasil
2018 – Ano da Formação em Psicologia
Diretrizes para a estruturação dos currículos dos cursos de Psicologia no
Brasil
A transformação da Psicologia: de um lugar de elite para o social
As atividades práticas de estágio como possibilidade de contato com a
subjetividade humana
O Uso de Metodologias Ativas e o Papel do Professor na Graduação ......75
O Ensino Tradicional
As Metodologias Ativas
O papel da educação na formação de estudantes mais críticos-reflexivos
e de transformação social
O papel do professor na transformação educacional dos cursos de
graduação
A Formação da Personalidade Ética e o Desenvolvimento Moral ...........97
Definindo Moral e Ética
A Formação da Personalidade Ética
A Interligação entre afetividade e cognição na construção da
Personalidade Ética
A afetividade e suas primeiras implicações
A afetividade sendo trabalhada desde a educação infantil até a graduação
Desenvolvimento moral segundo Jean Piaget
Discussão de Dilemas Morais segundo Lawrence Kohlberg
Discussão de Dilemas Morais segundo Georg Lind
Relato de um estudo a respeito da formação ética de psicólogos............159
Contextualizando o estudo e os participantes
Apresentação dos instrumentos utilizados no estudo
Descrevendo a análise dos dados do estudo
Análise conjunta do segundo e quinto ano da IES 1
Análise conjunta do segundo e quinto ano da IES 2
Análise conjunta para estudantes do segundo ano da IES 1 e 2
Análise conjunta para estudantes do quinto ano da IES 1 e 2
Análise conjunta dos docentes das duas IESs
Ampliando discussões a partir das análises conjuntas
Palavras Finais ....................................................................................201
Referências Bibliográficas ...................................................................213
Sobre a Autora ....................................................................................249
15
PREFÁCIO
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ______
É um prazer enorme prefaciar este livro por vários motivos.
Destacaria dois de ordem muito pessoal e um que envolve mais o aspecto
profissional. O primeiro de ordem pessoal é que Thaísa foi minha primeira
orientanda de mestrado e de doutorado. Acompanhei, portanto, desde o
início, sua formação como pesquisadora sempre muito dedicada e
determinada. Mergulhou desde o início na questão fundamental deste
livro que é a formação do(a) psicólogo(a). Realizou um trabalho de
intervenção no mestrado, trabalhando com psicólogos(as) formados(as),
participantes de um curso de pós-graduação lato sensu em psicologia do
trânsito. No doutorado se propôs a continuar seus estudos, dessa vez com
estudantes de psicologia considerando o ambiente acadêmico e a
competência do juízo moral. O segundo motivo pessoal é justamente o seu
tema de estudo que dá prosseguimento aos meus próprios, iniciados em
1990 quando do meu ingresso no mestrado. A preocupação com a
qualidade da formação de psicólogos, em especial com a questão da
construção da capacidade reflexiva durante a graduação é um tema que
interessa a mim desde então. Tomei um rumo de trabalho mais voltado
para o próprio conceito de competência moral, mas sempre fui atenta às
questões da ética na formação e atuação na psicologia, profissão que
abracei.
O motivo de ordem profissional se vincula ao anterior e se refere à
importância da educação na construção de uma sociedade que possamos
chamar democrática, justa e reflexiva. A via para a efetivação de uma
16
situação em que os ideais de justiça, convivência democrática, respeito e
solidariedade, valores do meu ponto de vista fundantes para a sociedade, é
a educação. Mas não qualquer educação. Uma educação que propicie o
desenvolvimento da consciência moral autônoma. Em nossa experiência
tradicional da escola brasileira percebemos claramente a ênfase na
transmissão de conhecimentos e avaliação da retenção momentânea de tais
conhecimentos. Esse tipo de experiência não atende às necessidades da
formação do cidadão. O cidadão é o ser consciente de seu papel na
sociedade, que contribui para sua construção e apoia aos que não estão em
condições de fazê-lo. Observamos que desde a educação infantil até a pós-
graduação a preocupação com a educação é restrita a conteúdos não
contextualizados.
Hoje, mais do que nunca, temos oportunidades de pensar no
fundamental para a educação que é o desenvolvimento da capacidade de
construir conhecimento. Digo mais do que nunca porque escrevo este
prefácio em isolamento social durante uma pandemia que nos provocou a
pensar: como formar profissionais sem contar com a proximidade? Se a
transmissão de conhecimento bastasse não haveria grandes conflitos, mas
a educação, implica na relação pessoal, na construção conjunta. Embora
existam atividades que possam se dar a distância, há capacidades a serem
desenvolvidas que exigem o contato pessoal. Como desenvolver a
sensibilidade ética para o encontro com o outro? Como trabalhar a
empatia? Se a psicologia é um trabalho na e para a sociedade, a formação
do psicólogo não pode deixar de ser na relação.
Neste livro, o leitor encontrará um trabalho cuidadoso de
retomada a respeito da formação do psicólogo até mesmo desde antes da
Lei 4.119 de 27/08/1962 que regulamentou a profissão, até o ano de 2018,
17
ano da revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de
psicologia. Discute as metodologias ativas como necessárias ao processo de
formação de cidadãos/profissionais críticos e reflexivos e, portanto,
possibilitadores das transformações sociais necessárias. Como não
crítica e reflexão sem a preocupação com a formação ética, o capítulo
seguinte aborda esse aspecto, retomando os principais autores da área da
psicologia moral, concluindo com o conceito de competência moral, que
é uma capacidade eminentemente reflexiva e que é possível de ser
construída em um ambiente que valorize a troca, o respeito e a convivência
democrática.
Nesse sentido, buscando um diagnóstico e caminhos de
intervenção, encontramos na sequência um estudo empírico que relaciona
o ambiente acadêmico ao desenvolvimento da competência moral. As
oportunidades de assunção de responsabilidade e reflexão dirigida no
processo de aprendizagem se relaciona a experiência de metodologias
ativas. O ensino tradicionalista não incentiva tais práticas e os resultados
demonstrados no estudo empírico vão ao encontro de outros tantos em
várias formações. Por outro lado, a competência moral, que é intimamente
ligada à capacidade reflexiva também não encontra nesse ambiente
condições de desenvolvimento.
O texto traz muitas reflexões para os estudiosos de psicologia
moral, de educação, da formação específica do psicólogo e de interessados
em políticas públicas para a educação. Desejo aos leitores um bom proveito
na leitura.
Patricia Bataglia
Marília, 13 de julho de 2020.
19
INTRODUÇÃO
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ____________ ___________ ____________ ______
Este livro surge do desejo de compreender mais sobre como ocorre
a formação em Psicologia no Brasil; sobre qual é o perfil de profissionais
que queremos formar; sobre qual a perspectiva histórica da documentação
que regulamenta a formação; sobre como os docentes vêm contribuindo
para esse processo de formação; bem como, compreender de que forma se
o uso de metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem; a
contribuição dos estágios supervisionados na integração da teoria, da
técnica e da prática, a fim de possibilitar um profissional mais sensível às
demandas; e, também, a integralidade do outro e seu papel social e ético.
Compreendemos a configuração da formação em Psicologia como
interdisciplinar, constituindo-se, como desafio, a reflexão sobre as questões
aqui postas. Contudo, acreditamos que uma formação que não contemple
o moral e sua relação com a afetividade, dificilmente, terá bases sólidas para
contribuir com a formação de profissionais comprometidos com o social e
prontos a desempenharem um trabalho reflexivo e ético frente às inúmeras
demandas profissionais. Os cursos de graduação em Psicologia deveriam
estar preocupados, além da dimensão cognitiva, com a afetiva, para que as
práticas profissionais contribuam com entendimento do sujeito enquanto
protagonista de sua história e de agente de transformações sociais. Quando
abordamos a formação ética, percebemos algumas dimensões, quais sejam:
relacionamento consigo próprio e com o outro; a dimensão política, que
inclui a relação com a sociedade; e a concepção crítica do entorno.
20
No Ensino Superior, tem-se priorizado ensinos teóricos e,
principalmente, técnicos, esperando que isso faça dos estudantes,
profissionais e cidadãos. No caso das Ciências Sociais, Humanas e da
Saúde, isso parece-nos ainda mais preocupante, uma vez que os
profissionais dessas áreas lidam, diretamente, com vidas, e que teoria e
técnica não bastam para essa capacitação. Então, como poderíamos pensar
a Educação Superior, de modo que ela contemple a formação teórica e
técnica e, também, a construção de uma personalidade ética que possa
assumir tarefas tão importantes na vida profissional e cidadã?
Este é nosso convite para aqueles que estão preocupados com a
formação ética do psicólogo: percorrer as reflexões, o relato de um estudo
com cursos de graduação em Psicologia e as propostas para a formação.
21
A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA:
PERSPECTIVA HISTÓRICA
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ___________ ______
Este capítulo discute estudos sobre a formação e função do
psicólogo, a estruturação dos currículos dos cursos de Psicologia, as
orientações de órgãos competentes sobre as diretrizes da formação no
ensino superior e, mais especificamente, do psicólogo. Também serão
abordados assuntos relacionados às novas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a graduação em Psicologia, as disciplinas e estágios durante
a formação, e o quanto há necessidade de uma transformação da prática
psicológica, a fim de atingir mais os espaços públicos. O capítulo termina
com o destaque para a afetividade sendo trabalhada desde a educação
infantil até a graduação.
A Formão do Psicólogo no Brasil
Pensar em Educação Superior é compreender a responsabilidade
frente ao processo de formação e integração dos profissionais, é pensar em
produzir conhecimentos novos e desenvolver a sociedade. Desta forma, as
Instituições de Educação Superior são responsáveis pelo desenvolvimento
das pessoas, por meio das relações que estabelecem entre si e com o meio
ambiente, com o mercado de trabalho e com as comunidades, sempre se
comprometendo com a ética, a política e o social (CAIXETA; SOUSA,
2013).
A Psicologia está presente em meados do século XIX e início do
século XX, propondo o estudo relacionado ao homem e à relação deste
22
com o mundo, e configurando-se como área de conhecimento que atua na
adaptação e ajustamento dos indivíduos e destes consigo mesmos, com os
demais e com o meio. Mas devemos olhar esta adaptação e ajustamento de
uma forma crítica, pois a Psicologia atua na concepção de homem
enquanto ser universal, dotado de capacidades, processos e potencialidades
que estão em desenvolvimento. Com isso, a prática psicológica assume um
perfil neutro, objetivo, de experimentação e tecnicismo, reproduzindo
conceitos e procedimentos nas intervenções psicológicas
(NASCIMENTO; MANZINI; BOCCO, 2006).
Rudá, Coutinho e Almeida-Filho (2015) orientam que foi durante
as décadas de 1930 e 1950, período de modernização e industrialização do
Brasil, que a Psicologia emergiu, concentrando-se nas áreas clínica,
educação e trabalho; com a utilização de métodos e técnicas psicológicas
que objetivavam o diagnóstico psicológico, a orientação e seleção
profissional, a orientação psicopedagógica e os problemas de ajustamento.
Mas foi na década de 1950 que os cursos de Psicologia passaram por uma
normatização e a profissão foi regulamentada a partir da Lei n. 4.119 (em
27 de agosto de 1962).
Com o avanço dos cursos de Psicologia, houve a necessidade da Lei
n. 4.024 (de 20 de dezembro de 1961), regulamentada pela Resolução n.
28/62, do antigo Conselho Federal de Educação, que propunha a
estruturação de um Currículo Mínimo (CM), com matérias indispensáveis
na graduação, sendo este o regimento para a formação em diferentes
carreiras profissionais até a publicação das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN’s) pela Lei n. 9.394 (de 20 de dezembro de 1996). O
Currículo Mínimo somente foi substituído, em 2004, pelas DCN’s, com
23
a intenção de contemplar uma nova dinâmica na formação do profissional
da Psicologia (RUDÁ; COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015).
Amendola (2014) explica que houve a aprovação, em 2004, da
Resolução que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos
de graduação em Psicologia. Mas, posteriormente, a Resolução do
Conselho Nacional de Educação/Conselho Ensino Superior nº 5/11
revogou questões da anterior, organizando Diretrizes Curriculares para os
cursos de graduação em Psicologia. Desta forma, tendo como base essa
resolução, as instituões de Ensino Superior se debruçariam para uma
formação básica, ampla e generalista, com disciplinas que capacitassem
para os princípios teóricos, técnicos e éticos, sempre visando preparar o
graduando para atuar em diferentes contextos, inclusive considerando as
particularidades regionais do país, as demandas provenientes da sociedade
e o mercado de trabalho.
Anteriormente à Lei n. 4.119, que regularizou a profissão de
psicólogo, a formação acontecia por meio dos cursos de especialização, ou
até mesmo cursos breves de preparo técnico. Um dos primeiros registros
dessas experiências foi em São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, Sedes Sapientiae, no ano de 1953 (BAPTISTA, 2011). Já no Rio
de Janeiro, os cursos breves eram oferecidos no Instituto de Seleção e
Orientação Profissional (ISOP), que era voltado para o preparo técnico de
profissionais habilitados para a realização da Psicotécnica (INSTITUTO,
1949). A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-
RS) também ofertava o curso de especialização em Psicologia, que, com a
inclusão de mais um ano letivo, concedia em 1959, o título de psicólogo
(RUDÁ; COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015).
24
Entretanto, há registros de formação em Psicologia datados
anteriormente à Lei n. 4.119, como o da década de 1930, com a criação
de um curso regular de formação em Psicologia, a partir do Decreto n.
21.173 (de 19 de março de 1932). Este curso, que propunha uma
formação sistematizada em Psicologia, aconteceu no Instituto de
Psicologia do Rio de Janeiro (antigo Laboratório de Psicologia, fundado
em 1924, na Colônia de Psicopatas), idealizado pelo polonês Waclaw
Radecki, mas que não obteve ascensão devido a uma possível sabotagem
de médicos e setores da igreja católica (CENTOFANTI, 1982).
Yamamoto (2006) apresenta-nos que os primeiros cursos de
graduação em Psicologia são da década de 1950, que antecede em uma
década a regulamentação da profissão de psicólogo (Lei 4.119, de
27/08/1962). Mas em contrapartida Antunes (1998) afirma que o que
verificamos neste período é que havia a criação de cadeiras de Psicologia
nas instituições de ensino superior. No Brasil, com os primeiros cursos de
Psicologia sendo criados, podia haver uma imprecisão de acordo com as
terminações possíveis para a carreira: Formação de Psicólogo, Bacharelado
e Licenciatura (YAMAMOTO, 2006).
O primeiro curso de Psicologia foi o da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em 1953, mas que ainda não tinha
caráter oficial, acordado com a legislação da época (FÉRES-CARNEIRO,
2010). Na sequência, foram criados o curso da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em 1959, e o da Universidade
Católica de Pernambuco (UNICAP), no ano de 1961 (JA-VILELA;
ROCHA, 2014). Controversamente à oposição da igreja católica para a
implantação dos cursos de Psicologia, Schmidt e Souza (2011) apud Rudá,
Coutinho e Almeida-Filho (2015), ao afirmar que dos cinco primeiros
25
cursos de formação em Psicologia no Brasil, quatro aconteceram em
instituições católicas, sendo apenas um fora do contexto religioso, que foi
o da Universidade de São Paulo (USP), implantado em 1958, por lei
estadual.
Com esta contextualização histórica, a formação de psicólogos no
país pode ser dividida em três períodos, sendo eles: i) período das primeiras
experiências de formação, que se configuraram pouco sistemáticas e com
regulamentação enfraquecida; ii) período de ênfase do Currículo Mínimo
(Lei n. 4.119 e Parecer n. 403 do Conselho Federal de Educação); iii)
período de destaque das Diretrizes Curriculares Nacionais (primeiramente
instituídas em 2004 e com reformulação em 2011) (RUDÁ;
COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015).
Atualmente, vivemos o terceiro período (no aguardo do quarto
período, com a homologação/aprovação das Novas Diretrizes Curriculares
Nacionais, de 2018), regidos pela reformulação das Diretrizes Curriculares
Nacionais, em 2011. Mas é desde a Lei de Diretrizes e Bases, proposta no
ano de 1996, que começamos a refletir nesta perspectiva crítica, positiva e
progressista para a educação e em processos de intervenção amplos, que
apontem para a responsabilidade social das instituições de Educação
Superior, nas quais devem ser organizados espaços para a atuação na gestão
e prática de intervenções pautadas na promoção do outro, da sociedade e
de si mesmos (CAIXETA; SOUSA, 2013).
Desde a década de 70, há uma preocupação com a formação do
psicólogo em nosso país (PEREIRA; CARELLOS, 1995), sendo uma
problemática que se instaura logo após a regulamentação da profissão do
psicólogo no Brasil (NORONHA et al., 2013). Os mesmos autores
complementam que a falta de consenso sobre o perfil profissional do
26
psicólogo é um ponto de discussão nas pesquisas que estudam sobre a
formação deste profissional.
Quando se estrutura um panorama da evolução dos cursos de
Psicologia e do número de estudantes pelo país, entre 1962 e 1968, houve
um aumento de 56 para 2.000 (cerca de 3.500%) (RUDÁ; COUTINHO;
ALMEIDA-FILHO, 2015); em 1974, o número de profissionais atuantes
na Psicologia era aproximadamente 11.000 e no início de 2018, somos um
total de 304.689 psicólogos inscritos no Conselho Federal de Psicologia
(BRASIL, 2018).
Tabela 1Instituições de Educação Superior por estado que
oferecem o curso de graduação em Psicologia
Estado
Número de Instituições
São Paulo
115
Minas Gerais
81
Bahia
48
Paraná
46
Rio Grande do Sul
44
Rio de Janeiro
29
Santa Catarina
29
Pernambuco
28
Ceará
26
Espírito Santo
21
Goiás
21
Mato Grosso
20
Rondônia
14
Paraíba
13
Piauí
12
Distrito Federal
11
Amazonas
10
continua
27
Maranhão
09
Rio Grande do Norte
09
Mato Grosso do Sul
08
Alagoas
07
Pará
07
Sergipe
06
Tocantins
06
Acre
04
Amapá
03
Roraima
02
Fonte: Adaptado de Brasil (2018).
Quando consultado o site do Ministério da Educação (MEC), para
sabermos a amplitude da oferta de cursos de Psicologia no Brasil,
encontramos a divisão, por estado, das Instituições de Educação Superior
que têm Cursos de Psicologia cadastrados. Na Tabela 1, encontramos a
relação entre estado e número de instituições que ofertam a graduação em
Psicologia (BRASIL, 2018). Desta forma, podemos compreender que a
Região Sudeste apresenta o maior número de instituições de educação
superior que ofertam o curso de Psicologia, com 246 instituições, seguida
da Região Nordeste, com 158. Em terceiro lugar, encontra-se a Região Sul,
com 119 instituições, em quarto lugar, a Região Centro-Oeste, com 60
instituições e, na quinta posição, a Região Norte, com 46 instituições. O
Estado de São Paulo é o que mais apresenta instituições que ofertam a
graduação em Psicologia e o Estado de Roraima o que menos apresenta
instituições de educação superior com curso de Psicologia.
28
Tabela 2Número de Psicólogos inscritos no
Conselho Federal de Psicologia, por estado brasileiro
Número de Inscritos
São Paulo
93.120
Rio de Janeiro
37.697
Minas Gerais
33.718
Rio Grande do Sul
19.973
Paraná
17.315
Bahia
12.098
Santa Catarina
12.098
Pernambuco
10.707
Distrito Federal
9.137
Goiás
7.798
Ceará
6.938
Espírito Santo
4.917
Paraíba
4.335
Pará
4.073
Amazonas
3.933
Mato Grosso do Sul
3.839
Alagoas
3.691
Mato Grosso
3.371
Rio Grande do Norte
3.175
Piauí
2.538
continua
29
Maranhão
2.408
Sergipe
2.206
Tocantins
2.057
Rondônia
1.663
Acre
654
Roraima
621
Amapá
560
Fonte: Adaptado de Conselho Federal de Psicologia (2018).
Em uma análise mais detalhada da realidade de cada estado
brasileiro quanto ao número de inscritos no Conselho Federal de
Psicologia, no início do ano de 2018, foi proposta a Tabela 2. Devemos
considerar que, semestralmente, formam-se mais profissionais na área da
Psicologia e os números tendem a ser atualizados frequentemente. A
referida tabela contribui para a percepção de que São Paulo é o estado que
mais tem psicólogos inscritos no Conselho Federal de Psicologia, seguido
do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que fazem parte da composição de
estados da Região Sudeste. Situação que se assemelha com o número de
instituições de educação superior cadastradas no Ministério da Educação
que oferecem o curso de Psicologia, conforme análise da Tabela 1.
A explicação do impressionante salto no número de instituições de
ensino superior que ofertam a graduação em Psicologia e do número de
estudantes matriculados nestes cursos, pode partir de alguns fatores como:
uma melhor distribuição de renda entre a população brasileira, o aumento
dos postos de trabalho, o aumento das bolsas de estudo, a demanda por
30
profissionais que trabalhem questões de saúde mental em diversos
contextos e uma grande disseminação de instituições que ofertam o curso
de Psicologia pelo país, com certeza, também contribuíram para o
aumento de profissionais graduados na área. Tal aumento traz a
preocupação quanto ao absorção de profissionais pelo mercado de
trabalho, podendo acarretar a desvalorização da profissão (RUDÁ;
COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015), bem como a preocupação de
como vem ocorrendo esta formação e consequentemente, a prática
profissional.
Com este panorama, Rabelo et al. (2009) ressaltam a necessidade
de investimento na formação acadêmica do psicólogo, para que ocorra uma
qualificação profissional de boa qualidade, que priorize a problematização
e a construção do conhecimento, a partir da interdisciplinaridade.
Neste sentido, Freire (1996) defende que a formação deve ser mais
do que treinar o educando para o desempenho de destreza. Deve, na
verdade, torná-lo “partícipe do processo de construção e reconstrução do
saber, medida que serve para potencializar a própria formação”
(AMENDOLA, 2014, p.980).
Os cursos de Psicologia sejam generalistas, pois sempre assumiram
um posicionamento de especialistas, ao preparar profissionais
especializados para a prática clínica, em consultório particular, seguindo o
modelo biomédico. A formação deste profissional deve ser capaz de incluir
uma prática pluralista, que seja crítica e transformadora, que reconheça as
demandas e cujas propostas de intervenção atendam às necessidades destas.
Mas, para o alcance deste propósito, encontra-se a urgente revisão dos
conceitos de saúde mental, da concepção de sujeito, da sociedade, dos
31
métodos de investigação utilizados e da relativização do saber acadêmico
frente ao empírico (MOURA, 1999).
Uma formação estruturada na Psicologia tradicionalista, que
distancia o estudante da realidade, que não debate, que não solicita
trabalhos acadêmicos, é criticada por Bock (1999a), pois a ausência de
pesquisas, de um espaço que promova o desenvolvimento da crítica e da
troca de experiências, que não valorize o ensino de diversos conhecimentos
(e não somente o psicológico), são os fatores principais em uma formação
insuficiente. Mas a autora nos traz que não são essenciais as mudanças
somente na grade curricular dos cursos de graduação em Psicologia,
inclusive mudanças no perfil profissional, que abrange o conceito de saúde
mental, do sujeito, da sociedade, da ciência e dos métodos empregados na
investigação, a fim de formar um profissional que consiga atuar de forma
pluralista, crítica e transformadora.
Diversos autores trazem a importância dos requisitos necessários
na estruturação da formação do psicólogo. Matos (2000) destaca que os
profissionais da Psicologia devem responder às necessidades da ciência
psicológica e atender às necessidades sociais. Meghnagi, Ajello e Cevoli
(1992) acreditam que a formação profissional deve preparar as pessoas para
atividades específicas, permitindo a construção de capacidades mais
imediatas, que se desenvolvam e se adequem aos contextos que estão em
constante transformação, permitindo a atuação mais reflexiva nas
situações. Felippe (1993) destaca que a graduação em Psicologia é
composta por três elementos: a formação básica, estruturada nos pontos de
vista epistemológico, histórico e metodológico; a pesquisa; e pelas práticas
em Psicologia, ou seja, os estágios. Manfredi (1998) traz para a discussão
que a formação profissional do psicólogo supervaloriza o conhecimento
32
teórico, deixando para segundo plano o conhecimento prático. Já
Bronckart e Dolz (2004) defendem que o conhecimento teórico não é
suficiente para a eficácia do conhecimento prático, pois o conhecimento
adquirido por meio da experiência da prática de trabalho, é realmente
eficaz para o desenvolvimento do profissional. Assim, faz-se importante o
cuidar tanto da inserção quanto do desenvolvimento profissional, em
contextos de trabalho e dos espaços de aprendizagem e de interações
(CRUZ; SCHULTZ, 2009).
Para outros autores, as condições de ensino oferecidas nos
primeiros momentos do curso de Psicologia podem ser uma oportunidade
para construir informações e imagens que os graduandos trazem da
faculdade e, mais especificamente, do próprio curso de graduação,
objetivando o estabelecimento de relações significativas entre profissional
e sociedade (BETTOI; SIMÃO, 2000).
Nas pesquisas desenvolvidas por Mattos, Shimizu, Berviquel
(2008) com estudantes da graduação em Psicologia, foi possível perceber
que os estudantes estão ligados a questões básicas da profissão e não se
aprofundam adequadamente às necessidades da mesma, que não
aconteceram ganhos no desenvolvimento moral dos estudantes, que os
cursos devem relacionar a formação ética com a formação para a cidadania,
possibilitando a reflexão sobre leis e normas de conduta do psicólogo.
Para tanto, um dos objetivos da formação profissional deve ser o
de formar profissionais comprometidos com o indivíduo e com o social,
permitindo, a partir de suas atuações, contribuir para formação de sujeitos
mais autônomos, críticos de seu papel na sociedade e
construtores/modificadores das realidades em que estão inseridos. Desta
forma, para formar um profissional tecnicista o ensino tradicional bastaria,
33
mas para formar um profissional reflexivo devemos pensar melhor em
como o curso de graduação se estrutura e o que ele oferece de
oportunidades para o desenvolvimento autônomo dos estudantes.
E é indo além desta formação em Psicologia, que Martín-Baró
(1996) reflete que, em 1968, Marc Richelle, um psicólogo francês,
questionou a função da profissão de psicólogo, sendo que, tempos depois,
outro francês, Didier Deleule, respondeu que a disseminação da Psicologia
estava ligada à função que ela estava assumindo na sociedade e na solução
para os conflitos sociais, pois, ao mudar o indivíduo, também poderíamos
mudar o social, ou seja, como se a sociedade se configurasse como uma
somatória de muitos sujeitos.
Ferreira Neto (2004) também acredita que a formação em
Psicologia deve estar além de um profissional somente técnico e que
demonstre flexibilidade para atuar indiscriminadamente frente às
demandas, mas que atue de forma a tomar a demanda como objeto de um
trabalho crítico. Bock (1996) complementa que um profissional compro-
metido com o tempo e com a sociedade, que promova saúde, que discuta
seu compromisso profissional com a sociedade e que paute seu trabalho a
partir deste debate, sendo um profissional comprometido com a cidadania.
Com isso, pensando que o lugar ocupado pelo psicólogo é
essencialmente ético, espera-se que ele se posicione de acordo com as
demandas, questione suas próprias ações, para que a prática de sua
profissão não se transforme em opressão, adestramento e normatização. O
compromisso da Psicologia com o social, que objetiva o trabalho com o
homem, deve ser enfatizado, pois assim, é possível, na formação do futuro
profissional, fazer a articulação entre teoria e prática, permitindo ao
estudante uma solidez epistemológica, o desenvolvimento intelectual e a
34
reflexão na atuação cotidiana frente aos desafios e dilemas das práticas
(AMENDOLA, 2014). Para Bock (1999b, p.326) o saber ou fazer
Psicologia é uma interferência na sociedade, então “o psicólogo não pode
mais ter uma visão estreita de sua intervenção, pensando-a como um
trabalho voltado para um indivíduo, como se este vivesse isolado, não
tivesse a ver com a realidade social, construindo-a e sendo construído por
ela”. Toda intervenção individual é uma intervenção social.
Em um estudo realizado por Cruz e Schultz (2009), a partir da
construção de um inventário de competências profissionais de psicólogos,
com a participação de 102 sujeitos (professores, estagiários e psicólogos
egressos da graduação em Psicologia da região Sul do Brasil), foi possível
destacar como competências para o trabalho do psicólogo: a manutenção
do sigilo profissional, a atuação em equipes multidisciplinares e a
responsabilidade pelos resultados do trabalho desenvolvido. Sendo assim,
as competências estão relacionadas à dimensão ética profissional, ao
trabalho com a comunidade e ao relacionamento social e profissional.
Bock (1999b) afirma que a formação tecnicista em Psicologia nos
ensina coisas já prontas para aplicar nas situações, mas é preciso criar
Psicologia, a partir da adaptação de nossos saberes àquilo que nos é
apresentado, à demanda e à realidade. Queremos estar em busca
permanente, em movimento sempre. “Queremos que o movimento seja a
nossa identidade e que a inquietação seja nosso lema” (BOCK, 1999b,
p.328). Assim, Nascimento, Manzini e Bocco (2006) propõem um
estranhamento aos paradigmas e realidades que estão prontas, mas que haja
uma reinvenção, no cotidiano, de estratégias que possibilitem a autonomia
nas intervenções.
35
Estruturação dos currículos dos cursos de Psicologia no Brasil
Palma, Rodrigues e Moraes (2012) discutem que independente da
teoria, tradicional, crítica ou pós-crítica, são utilizados diferentes critérios
para selecionar os conhecimentos que serão incluídos nas grades
curriculares, de acordo com o que a teoria considera como adequado para
a sociedade que quer intervir, ou seja, os currículos estão ligados às
questões de identidade ou de subjetividade. Já Silva (2009) complementa
que a etimologia da palavra currículo, vem de curriculum, que significa
pista de corrida, sendo que esta estruturação vem para determinar o que
nos tornaremos.
Em 1962 com o Parecer nº 403, do Conselho Federal de
Psicologia, foi disposto sobre o currículo mínimo para a graduação em
Psicologia, relacionando quais matérias eram necessárias no bacharelado,
na licenciatura e na formação de psicólogos, a duração de quatro anos para
a formação no bacharelado e na licenciatura e de cinco anos para a
formação de psicólogo (neste caso seriam desenvolvidos estágios
supervisionados). Outro documento, a Lei nº 4.119/62, do mesmo órgão,
regulamenta a profissão de psicólogo no Brasil, destacando as condições de
funcionamento dos cursos em Psicologia e da organização dos serviços
ofertados à sociedade (COSTA et al., 2012).
Para Rudá, Coutinho e Almeida-Filho (2015), com críticas
frequentes à atuação profissional do psicólogo, percebe-se que havia um
esgotamento do modelo de formação, e duas frentes de pensamento que
visavam a reforma curricular e um reforço do compromisso social
assumido pela Psicologia. Então, segundo os autores, em 1978, surgem
duas propostas para a reformulação curricular da Psicologia: a proposta
pelo Conselho Federal de Educação e do Departamento de Assuntos
36
Universitários (DAU), que era vinculado ao Ministério da Educação e
Cultura (MEC) da época e não foi aceita por acreditarem na
fundamentação de um currículo que não era viável, principalmente por
propor que a Psicologia se torna uma ciência mais controladora e
reacionária, mas também, propunha mais liberdade na escolha do
currículo de acordo com as necessidades locais (PENNA, 1980).
Um dos grandes nomes da Psicologia, com destaque para a
Psicologia do Trânsito, Reinier Rozestraten, também fez suas
contribuições, em 1976, tendo sido apresentada por Rudá, Coutinho e
Almeida-Filho (2015) como uma proposta de reforma curricular,
precursora das DCN’s, em que a formação do psicólogo seria de cunho
generalista e a formação de pesquisadores, professores universitários e
especialistas ficariam sob a responsabilidade da formação na pós-
graduação.
Mas para Weber (1985), as primeiras iniciativas de diretrizes
curriculares aparecem na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
por meio do Departamento de Psicologia, em 1979, a partir da
reformulação curricular pensada pelo DAU e pelo MEC, com a elaboração
de um documento sugerindo a regulamentação da graduação por meio de
orientações, substituindo o currículo mínimo. A referida autora também
complementa que, na renovação deste currículo, havia inclusive a
necessidade de se ampliar as práticas de pesquisa durante a graduação em
Psicologia.
Outras experiências de reforma do currículo aconteceram na
década de 1980, em universidades do nordeste e sul do país, assim com
tantas discussões, críticas e propostas de reformulação curricular, o
Conselho Federal de Psicologia, mesmo não sendo sua função, assume as
37
discussões sobre a formação profissional e, em 1984, propõe o Programa
de Estudos e Debates sobre a Formação e Atuação do Psicólogo, tentando
a aproximação entre Conselho Federal e Regionais com as instituições de
educação superior, para que houvesse a estruturação de um novo currículo
para os cursos de Psicologia, pois há mais de vinte anos que o Currículo
Mínimo estava em vigência, estando defasado entre as novas demandas da
sociedade (ACHCAR, 1994).
Este programa, lançado pelo CFP, estava dividido em três
subprojetos: i) Perfil do Psicólogo formação, campo de atuação e
condições de trabalho (1984-1986), no qual se reflete sobre a Psicologia
enquanto ciência e profissão, por meio de debates ao longo do país, tendo
sido estruturada a obra Quem é o psicólogo brasileiro?, que apresenta a
atuação profissional e as práticas de formação; ii) Demanda Social do
Psicólogo campo de atuação, características e potencialidades, sendo
lançado, em 1992, o livro Psicólogo Brasileiro construção de novos
espaços, com os resultados desta etapa; iii) Demanda social e formação
profissional do psicólogo, sendo publicado, em 1994, o livro Psicólogo
brasileiro práticas emergentes e desafios para a formação (RUDÁ;
COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015).
Achcar (1994) apresenta que durante a execução destes
subprojetos, ocorreram eventos importantes para o amadurecimento de
reflexões sobre a formação, como o I Encontro de Coordenadores de
Cursos de Formação de Psicólogos, em 1992, em Serra Negra, que discutiu
questões relacionadas à cidadania, compromisso social, ética,
interdisciplinaridade, desenvolvimento da formação básica e pluralista,
práticas profissionais, formação técnico-científica, construção do
conhecimento, adequação do currículo ao contexto regional, concepção de
38
homem, integralidade, avaliação do processo de formação, ensino,
pesquisa e extensão (JAPUR, 1994). Em 1994, aconteceu o I Congresso
Nacional de Psicologia, para continuar as discussões levantadas no
congresso anterior e prosseguir no debate sobre a construção das propostas
curriculares (ROCHA JÚNIOR, 1999).
Foi em 1995, durante todo esse processo em que a Medida
Provisória n. 1.159/95, convertida posteriormente em Lei n. 9.131/95,
modifica a legislação educacional, com a criação do Conselho Nacional de
Educação (CNE), que iria substituir o Conselho Federal de Educação,
sendo definido que a atribuição do conselho seria a deliberação sobre as
DCN’s, constatada a ineficácia do Currículo Mínimo na formação dos
cursos de graduação. Já em 1998, pensando na Psicologia, foi composta a
Comissão de Especialista, pelo MEC, com a finalidade de estruturarem a
formação em Psicologia. No ano de 2001, ocorreu a aprovação das
Diretrizes Curriculares para os cursos de Psicologia, por meio do Parecer
CNE/CES n. 1.314, de 7 de novembro. No entanto, o documento não foi
homologado devido a várias reinvindicações, passando por retificação com
o Parecer CNE/CES n. 72, de 20 de fevereiro de 2002, que também teve
a minuta devolvida ao CNE. Em 2003 houve o Fórum Nacional de
Entidades de Psicologia com a discussão das Diretrizes Curriculares e
somente em 2004 que aconteceu a aprovação do Parecer CNE/CES n. 62,
de 19 de fevereiro de 2004, instituída com a Resolução CNE/CES n. 08
de 7, de maio do mesmo ano, que regulamentam que a graduação em
Psicologia não mais segue o Currículo Mínimo, mas sim, obedece às
DCN’s, que estão mais interligadas com as exigências da sociedade e do
mundo do trabalho (RUDÁ; COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015).
39
Costa et al. (2012) reforçam que somente após sete anos de
debates, em 2004, as entidades da categoria trouxeram uma nova
regulamentação para a graduação em Psicologia, a partir da Resolução
8/2004, na qual são instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN’s) no lugar dos currículos mínimos, além das inovações: a formação
de um núcleo comum e de ênfases curriculares (com no mínimo duas
opções de escolha para o graduando); desenvolvimento das competências
juntamente com os conhecimentos; e ampliação dos estágios de formação
(para o núcleo comum e para as ênfases) (BERNARDES, 2004).
Já em relação a necessidade de instituição de normativas sobre a
formação de professores, foi criado o Projeto Pedagógico para a Formação
de Professores de Psicologia, a partir das DCN’s reformuladas em 2011,
tentando acompanhar as novas transformões sociais e do mercado de
trabalho (RUDÁ; COUTINHO; ALMEIDA-FILHO, 2015), com a
atuação na docência, ampliando as possibilidades de trabalho dos
profissionais psicólogos.
2018 Ano da Formão em Psicologia
Desde a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais de 2004,
que foram substituídas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2011, a
formação em Psicologia vivencia a partir de 2018, um importante
momento, que é o processo de revisão das Diretrizes Curriculares
Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia. Que se constitui em
um amplo e intenso trabalho das entidades organizadoras (Conselho
Federal de Psicologia, Associação Brasileira de Ensino em Psicologia,
Federação Nacional dos Psicólogos), de docentes, estudantes e profis-
sionais para construir propostas para as novas diretrizes. O processo de
40
revisão das diretrizes foi organizado em várias etapas: Reuniões
Preparatórias, Encontros Regionais, Encontro Nacional, consulta pública,
elaboração da minuta das diretrizes e encaminhamento aos órgãos
reguladores da formação (Conselho Nacional de Saúde, para parecer, e ao
Conselho Nacional de Educação para avaliação, aprovação e publicação
das novas diretrizes) (CFP, 2018).
Tal processo de revisão de Diretrizes Curriculares vem ao encontro
de uma decisão do Conselho Federal de Psicologia, da Associação Brasileira
de Ensino em Psicologia e da Federação Nacional dos Psicólogos em se
envolverem nos debates e ações coletivas promovidas pelos cursos
vinculados à Saúde, voltadas ao enfrentamento do projeto do Ministério
da Educação, que visava permitir a formação de graduação nos cursos da
Saúde totalmente à distância, bem como ao crescente número de entidades
formadoras que visam ao lucro financeiro e precarizam as condições de
trabalho dos professores, coordenadores e funcionários. Tal fato é
considerado uma ameaça à qualidade dos cursos de Psicologia, desde a
formação dos estudantes até a oferta de um trabalho qualificado e ético
(CFP, 2018).
Ao procedermos a leitura da minuta das Diretrizes Curriculares
Nacionais (CFP, 2018) para os cursos de graduação em Psicologia, fizemos
o levantamento dos principais enfoques:
- A meta central para a formação de psicólogo é voltada para a
atuação profissional, para a pesquisa e para o ensino de Psicologia, devendo
a formação ser: científica, ética, política, generalista, humanista, crítica,
reflexiva, democrática e laica;
41
- Formação presencial, generalista, multi e interdisciplinar, baseada
na diversidade teórico-metodológica e na pluralidade dos seus campos de
atuação, reconhecendo a identidade nacional, respeitando os contextos
regionais e atendendo às diferentes necessidades dos indivíduos e
populações, de forma inclusiva;
- A articulação dos componentes curriculares em torno dos
seguintes eixos estruturantes: I - Fundamentos epistemológicos e
históricos; II - Fundamentos teórico-metodológicos; III - Fenômenos e
processos psicológicos; IV - Procedimentos para a investigação científica e
a prática profissional; V - Interfaces com campos afins do conhecimento;
VI - Políticas Públicas; VII - Práticas profissionais voltadas para assegurar
um núcleo básico de saberes;
- Estruturação a partir de um núcleo comum, que estabelece uma
base comum para a formação em Psicologia no país, mas pode se
diferenciar em ênfases curriculares;
- Garantir ao egresso o domínio básico de conhecimentos
psicológicos, em articulação com outros campos de saberes, e a capacidade
de utilizá-los em diferentes contextos que demandam investigação, análise,
avaliação, prevenção e intervenção em processos psicológicos e
psicossociais e promoção da qualidade de vida;
- Integração da pesquisa às atividades de ensino e extensão durante
a formação;
- Carga horária total mínima de 4.000 (quatro mil) horas,
integralização mínima em cinco anos, sendo facultada a oferta de no
máximo 20% (vinte por cento) da carga horária total de 4.000 (quatro mil)
horas na modalidade de ensino à distância. Não devem ser ministrados na
42
modalidade de ensino à distância conteúdos da formação profissional
específica, atividade de orientação e supervisão de estágio, disciplinas que
subsidiem as áreas de aplicação técnica, atividades em laboratório,
orientação de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), de pesquisa e
práticas de extensão, visto a importância da mediação presencial para a
consecução dos objetivos dessas atividades;
- Procedimentos de auto avaliação periódica, com participação de
docentes e estudantes;
- O Trabalho de Conclusão de Curso deve compor a conclusão da
formação e ser apresentado no formato de documento (monografia, artigo
científico, relatório de pesquisa);
- Contemplar metodologias de ensino e aprendizagem
diversificadas, que priorizem a ação de estudantes e professores, com
destaque para a construção do conhecimento de forma ativa e colaborativa,
articulando teoria e prática, considerando as demandas contemporâneas e
uma leitura crítica da realidade, e observando as necessidades educacionais
especiais;
- A avaliação do processo de ensino-aprendizagem deve ser
contínua e ter caráter formativo, reflexivo, integrado, contextual,
processual e investigativo, incluindo diversidade de instrumentos;
- Criação e execução de projetos de extensão relacionados aos eixos
estruturantes do curso, e devem garantir a obrigatoriedade, de modo
creditado, de 10% (dez por cento) da carga horária total do curso;
43
- Estruturação dos estágios supervisionados em dois níveis
Estágios do Núcleo Comum e Estágios Específicos, cada um com sua carga
horária própria, com orientações grupais ou individuais;
- Atividades complementares devem corresponder, no máximo, a
3% (três por cento) da carga horária total do curso;
- O Projeto de curso deve incluir um serviço-escola de Psicologia;
- Garantir suporte, acolhimento e apoio psicossocial e pedagógico
aos estudantes;
- Formação de Professores de Psicologia dar-se-á em um projeto
pedagógico complementar e diferenciado, com carga horária de, no
mínimo, 1.000 (mil) horas, integradas à carga horária do curso de
Psicologia;
- Adaptação a esta Resolução no prazo de 2 (dois) anos, a contar
da data da publicação das novas diretrizes, o que revoga a Resolução
CNE/CES nº 5, de 15 de março de 2011.
Pelo atual panorama da formação em Psicologia no Brasil vemos a
necessidade de que ocorra uma reforma curricular, enfatizando
competências importantes para a atuação profissional do psicólogo, com
destaque para aquelas que se relacionam com as questões éticas, à
comunicação e ao relacionamento social e profissional, não deixando de
atentar-se para o aperfeiçoamento de competências políticas e educativas
na graduação (CRUZ; SCHULTZ, 2009).
Com isso, os responsáveis pela estruturação dos currículos dos
cursos de Psicologia devem estar atentos que, para se desenvolver
competências, é imprescindível que se compreenda que as situações, as
44
experiências e as aprendizagens são transformadas em conhecimentos e
habilidades, permitindo que se forme a base para a possibilidade de
intervenção e, assim, a capacidade de atuação profissional (CRUZ;
PEREIRA; SOUZA, 2004).
Portanto, o desafio da formação profissional está em superar o
Currículo Mínimo e efetivar um pacto tanto acadêmico como político e
social, que não esteja apenas ligado às DCN’s, mas interligado com as
diversas experiências educativas ocorridas no mundo, com a finalidade de
propor uma formação que seja mais flexível, interdisciplinar e que
corresponda aos inúmeros desafios atuais (RUDÁ; COUTINHO;
ALMEIDA-FILHO, 2015).
Diretrizes para a estruturação dos currículos dos cursos de
Psicologia no Brasil
O Ministério da Educação (MEC) iniciou suas atividades em
1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e recebia o nome de
Ministério da Educação e Saúde Pública. Antes disso, a educação era
tratada pelo Departamento Nacional do Ensino, ligado ao Ministério da
Justiça. A função do MEC era desenvolver atividades pertinentes aos
ministérios da saúde, do esporte, da educação e do meio ambiente
(BRASIL, 2018).
Por ser um órgão da administração federal direta, o MEC tem
como área de competência: a política nacional de educação; a educação
infantil; o ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, educação
de jovens e adultos, educação profissional, educação especial e educação à
distância (exceto o ensino militar); a avaliação, informação e pesquisa
educacional; a pesquisa e extensão universitária; o magistério; e a assis-
45
tência financeira a famílias carentes para a escolarização de seus filhos ou
dependentes (BRASIL, 2018).
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, realizado em 1932,
por um grupo de intelectuais, destacava a necessidade do Estado organizar
um plano geral de educação para uma escola que fosse única, pública, laica,
obrigatória e gratuita. Em 1934, com a publicação da Constituição
Federal, a educação é vista como direito de todos, devendo ser realizada
pela família e pelos poderes públicos. Entre os anos de 1934 a 1945, houve
uma gestão que reformou os ensinos secundário e universitário,
implantando as bases da educação nacional. O MEC recebeu o nome de
Ministério da Educação e Saúde até 1953, surgindo após isso o Ministério
da Educação e Cultura (que leva a sigla MEC) (BRASIL, 2018).
Em 1961, com a aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB), que levou 13 anos de debate, houve mais autonomia
dos órgãos estaduais e municipais. Em 1968, ocorreu a reforma
universitária, garantindo mais autonomia didático-científica, disciplinar,
administrativa e financeira às universidades, bem como instituindo um
modelo organizacional único para as instituições educacionais de ensino
superior públicas e privadas. Em 1971, com uma nova LDB, o ensino se
torna obrigatório dos sete aos 14 anos. Em 1985, foi criado o Ministério
da Cultura, e em 1992, o MEC foi transformado em Ministério da
Educação e do Desporto, sendo que apenas em 1995, passou a ser
responsável apenas pela área da educação. Em 2007, com o lançamento do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), houve a preocupação de
que quando se investe na educação básica, consequentemente, está se
investindo na educação profissional e na educação superior (BRASIL,
2018). Mesmo que os resultados sejam colhidos a longo prazo, é necessário
olhar para todos os níveis de ensino, iniciando pela educação básica, a fim
46
de conseguirmos computar resultados favoráveis na formação do estudante
quando este estiver no ensino superior. Se houver o investimento apenas
em um nível de ensino, possivelmente não haverá um processo de mudança
significativo deste sujeito.
Explicado a evolução histórica do MEC, destacamos que houve
importante contribuição para a formação em Psicologia com a criação da
Resolução nº 5, de 15 de março de 2011 (BRASIL, 2011), que institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em
Psicologia. Esta traz que a graduação nesta área tem como objetivo central
a formação do psicólogo, voltado para a atuação profissional, para a
pesquisa e para o ensino de Psicologia, e a formação deve estar baseada nos
seguintes princípios e compromissos:
I - construção e desenvolvimento do conhecimento científico em
Psicologia;
II - compreensão dos múltiplos referenciais que buscam apreender a
amplitude do fenômeno psicológico em suas interfaces com os
fenômenos biológicos e sociais;
III - reconhecimento da diversidade de perspectivas necessárias para
compreensão do ser humano e incentivo à interlocução com campos
de conhecimento que permitam a apreensão da complexidade e
multideterminação do fenômeno psicológico;
IV - compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais
e políticos do País, fundamentais ao exercício da cidadania e da
profissão;
V - atuação em diferentes contextos, considerando as necessidades
sociais e os direitos humanos, tendo em vista a promoção da qualidade
de vida dos indivíduos, grupos, organizações e comunidades;
47
VI - respeito à ética nas relações com clientes e usuários, com colegas,
com o público e na produção e divulgação de pesquisas, trabalhos e
informações da área da Psicologia;
VII - aprimoramento e capacitação contínuos (BRASIL, 2011, p.1).
Já em seu quatro artigo, a mesma resolução apresenta que o
profissional da Psicologia deve ser dotado de conhecimentos para o
exercício de competências e habilidades gerais, tais como as que se seguem:
I - Atenção à saúde: os profissionais devem estar aptos a desenvolver
ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde
psicológica e psicossocial, tanto em nível individual quanto coletivo,
bem como a realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de
qualidade e dos princípios da ética/bioética;
II - Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais deve estar
fundamentado na capacidade de avaliar, sistematizar e decidir as
condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas;
III - Comunicação: os profissionais devem ser acessíveis e devem
manter os princípios éticos no uso das informações a eles confiadas, na
interação com outros profissionais de saúde e o público em geral;
IV - Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os
profissionais deverão estar aptos a assumirem posições de liderança,
sempre tendo em vista o bem-estar da comunidade;
V - Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos
a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e a administração da força
de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma
forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores,
empregadores ou líderes nas equipes de trabalho;
VI - Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de
aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua
prática, e de ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e
48
o treinamento das futuras gerações de profissionais, estimulando e
desenvolvendo a mobilidade acadêmica e profissional, a formação e a
cooperação através de redes nacionais e internacionais (BRASIL, 2011,
p.2).
Essas habilidades e competências, exigidas no curso de formação
de psicólogos, devem ser estruturadas em torno dos seguintes eixos
estruturantes:
I - Fundamentos epistemológicos e históricos que permitam ao
formando o conhecimento das bases epistemológicas presentes na
construção do saber psicológico, desenvolvendo a capacidade para
avaliar criticamente as linhas de pensamento em Psicologia;
II - Fundamentos teórico-metodológicos que garantam a apropriação
crítica do conhecimento disponível, assegurando uma visão abrangente
dos diferentes métodos e estratégias de produção do conhecimento
científico em Psicologia;
III - Procedimentos para a investigação científica e a prática
profissional, de forma a garantir tanto o domínio de instrumentos e
estratégias de avaliação e de intervenção quanto a competência para
selecioná-los, avaliá-los e adequá-los a problemas e contextos
específicos de investigação e ação profissional;
IV - Fenômenos e processos psicológicos que constituem classicamente
objeto de investigação e atuação no domínio da Psicologia, de forma a
propiciar amplo conhecimento de suas características, questões
conceituais e modelos explicativos construídos no campo, assim como
seu desenvolvimento recente;
V - Interfaces com campos afins do conhecimento para demarcar a
natureza e a especificidade do fenômeno psicológico e percebê-lo em
sua interação com fenômenos biológicos, humanos e sociais,
49
assegurando uma compreensão integral e contextualizada dos
fenômenos e processos psicológicos;
VI - Práticas profissionais voltadas para assegurar um núcleo básico de
competências que permitam a atuação profissional e a inserção do
graduado em diferentes contextos institucionais e sociais, de forma
articulada com profissionais de áreas afins (BRASIL, 2011, p.2).
Em seu oitavo artigo, a resolução compreende que o profissional
da Psicologia deve ter domínio básico dos conhecimentos psicológicos,
bem como da capacidade de utilizá-los em diferentes contextos que irão
exigir: investigação, análise, avaliação, prevenção e atuação em processos
psicológicos e psicossociais e na promoção da qualidade de vida, sendo
listados a seguir:
I - analisar o campo de atuação profissional e seus desafios
contemporâneos;
II - analisar o contexto em que atua profissionalmente em suas
dimensões institucional e organizacional, explicitando a dinâmica das
interações entre os seus agentes sociais;
III - identificar e analisar necessidades de natureza psicológica,
diagnosticar, elaborar projetos, planejar e agir de forma coerente com
referenciais teóricos e características da população-alvo;
IV - identificar, definir e formular questões de investigação científica
no campo da Psicologia, vinculando-as a decisões metodológicas
quanto à escolha, coleta e análise de dados em projetos de pesquisa;
V - escolher e utilizar instrumentos e procedimentos de coleta de dados
em Psicologia, tendo em vista a sua pertinência;
VI - avaliar fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental
e afetiva, em diferentes contextos;
VII - realizar diagnóstico e avaliação de processos psicológicos de
indivíduos, de grupos e de organizações;
50
VIII - coordenar e manejar processos grupais, considerando as
diferenças individuais e socioculturais dos seus membros;
IX - atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensão
dos processos e fenômenos envolvidos assim o recomendar;
X - relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento
de vínculos interpessoais requeridos na sua atuação profissional;
XI - atuar, profissionalmente, em diferentes níveis de ação, de caráter
preventivo ou terapêutico, considerando as características das situações
e dos problemas específicos com os quais se depara;
XII - realizar orientação, aconselhamento psicológico e psicoterapia;
XIII - elaborar relatos científicos, pareceres técnicos, laudos e outras
comunicações profissionais, inclusive materiais de divulgação;
XIV - apresentar trabalhos e discutir ideias em público;
XV - saber buscar e usar o conhecimento científico necessário à atuação
profissional, assim como gerar conhecimento a partir da prática
profissional (BRASIL, 2011, p.3).
Essas diretrizes têm como objetivo promover uma formação mais
homogênea pelo país, demonstrando uma preocupação com o profissional
que queremos formar. Entretanto, sabemos que muitos aspectos não são
almejados e muito menos alcançados pelos cursos de graduação em
Psicologia, mas imaginemos se não houvessem diretrizes para nortear ou
mesmo para atuar como fator fiscalizador da formação, esta seria apenas
um produto do capitalismo, com a preocupação das instituições de ensino
superior apenas com o número de matrículas novas a cada ano e não com
a responsabilidade educacional e social ao se propor formar profissionais
para o mercado de trabalho.
É com este objetivo de avaliar o desempenho das instituições
educacionais acerca da aprendizagem do graduando, que foi planejado o
Exame Nacional de Desempenho Educacional (ENADE), que também
51
coleta informações sobre as condições estruturais, o corpo docente, a
organização acadêmica e o funcionamento do curso. Isso para indicar um
perfil dos egressos da graduação em Psicologia no país, as competências
gerais e específicas adquiridas durante a formação do futuro profissional
(BASTOS et al., 2011). Configurando-se para tanto, como um exame
dentro de um sistema de avaliação do ensino superior no país.
Na pesquisa realizada pelos autores (BASTOS et al., 2011), a partir
dos indicadores do ENADE, é demonstrado o desafio de compatibilizar o
crescimento de inúmeros cursos de Psicologia no Brasil nas últimas
décadas, visando a democratização do acesso a formação em todo o país,
sem que cresça um modelo de organização, que se mostra insatisfatório.
O papel das instituições particulares na formação dos profissionais
em Psicologia é bastante significativo, pois a maioria dos cursos de
Psicologia no Brasil ocorrem em instituições educacionais privadas
(YAMAMOTO et al., 2010). Para tanto, um olhar atento ao ensino
ofertado por todas estas instituições, bem como os desempenhos dos
estudantes no ENADE, fornece claros indicativos de como está
acontecendo a formação superior e confirmam a superioridade das
instituições públicas sobre as particulares, devido à preocupação com a
produção de conhecimento, com projetos de extensão e a articulação entre
graduação e pós-graduação (BASTOS et al., 2011).
Neste panorama de discussões sobre a formação e atuação do
psicólogo, pensando em uma postura mais ética e comprometida com a
sociedade, bem como no número crescente de profissionais formados a
cada ano, que após a regulamentação da profissão de psicólogo, em 1971,
foi aprovada a lei de criação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e
dos Conselhos Regionais (PEREIRA; PEREIRA NETO, 2003).
52
O Conselho Federal de Psicologia é o órgão supremo dos
Conselhos Regionais, atuando em todo o território brasileiro e que tem
sua sede no Distrito Federal. É constituído de nove membros efetivos e o
mesmo número de suplentes, que são eleitos por maioria de votos durante
a Assembleia dos Delegados Regionais (CFP, 1971). Em seu sexto
capítulo, são propostas as atribuições do referido conselho:
a) elaborar seu regimento e aprovar os regimentos organizados pelos
Conselhos Regionais;
b) orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo;
c) expedir as resoluções necessárias ao cumprimento das leis em vigor
e das que venham modificar as atribuições e competências dos
profissionais de Psicologia;
d) definir, nos termos legais, o limite de competência do exercício
profissional, conforme os cursos realizados ou provas de especialização
prestadas em escolas ou institutos profissionais reconhecidos;
e) elaborar e aprovar o Código de Ética Profissional do Psicólogo;
f) funcionar como tribunal superior de ética profissional;
g) servir de órgão consultivo em matéria de Psicologia;
h) julgar, em última instância, os recursos das deliberações dos
Conselhos Regionais;
i) publicar, anualmente, o relatório de seus trabalhos e a relação de
todos os psicólogos registrados;
j) expedir resoluções e instruções necessárias ao bom funcionamento
do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais, inclusive no que tange
ao procedimento eleitoral respectivo;
l) aprovar as anuidades e demais contribuições a serem pagas pelos
psicólogos;
53
m) fixar a composição dos Conselhos Regionais, organizando-os à sua
semelhança e promovendo a instalação de tantos Conselhos quantos
forem julgados necessários, determinando suas sedes e zonas de
jurisdição;
n) propor ao poder competente alterações da legislação relativa ao
exercício da profissão de psicólogo;
o) promover a intervenção nos Conselhos Regionais, na hipótese de
sua insolvência;
p) dentro dos prazos regimentais, elaborar a proposta orçamentária
anual a ser apreciada pela Assembleia dos Delegados Regionais, fixar os
critérios para a elaboração das propostas orçamentárias regionais e
aprovar os orçamentos dos Conselhos Regionais;
q) elaborar a prestação de contas e encaminhá-la ao Tribunal de Contas
(BRASIL, 1971, s/p).
O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia têm
papel importante na proposição de reflexões acerca da formação e exercício
profissional, bem como o de fiscalização de como vem sendo realizada esta
articulação da profissão com as diferentes demandas da sociedade. Para
tanto, é imprescindível que tais órgãos estejam cada vez mais próximos das
instituições de ensino superior, das entidades da Psicologia e dos psicólogos
a fim de contribuir para o desenvolvimento de todos os envolvidos no
processo de saber psicológico.
Com isso, para manter essa proximidade, atualmente existem 23
regiões contempladas pelos Conselhos Regionais, sendo: 1- Distrito
Federal, 2- Pernambuco, 3- Bahia, 4- Minas Gerais, 5- Rio de Janeiro, 6-
São Paulo, 7- Rio Grande do Sul, 8- Paraná, 9- Goiás, 10- Amapá e Pará,
11- Ceará, 12- Santa Catarina, 13-Paraíba, 14- Mato Grosso do Sul, 15-
54
Alagoas, 16- Espírito Santo, 17- Rio Grande do Norte, 18- Mato Grosso,
19- Sergipe, 20- Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, 21- Piauí, 22-
Maranhão e 23- Tocantins (CFP, 2017).
Cumprindo com sua função de orientar, disciplinar e fiscalizar o
exercício da profissão de Psicólogo, o Conselho Federal de Psicologia
(CFP), em 2013, publicou um texto que expressa a posição do órgão, em
sua Gestão de 2011 a 2013, sobre a formação e que foi sumarizada a partir
da realização da Oficina Formação dos Psicólogos, que ocorreu em 23 de
março de 2012. Neste texto, é destacado que a responsabilidade imediata
pela formação profissional em Psicologia, inclusive do pesquisador da
ciência psicológica é das redes, dos centros universitários, associações
científicas e profissionais, como por exemplo, a Associação Brasileira de
Ensino de Psicologia (ABEP) e a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Psicologia (ANPPEP) (CFP, 2013). No entanto, o CFP
deve se preocupar com a cooperação para a formação do profissional, pois
é ele que regula eticamente a prática profissional e assume um
compromisso político com a sociedade, em respeito a todas as demandas e
necessidades apresentadas pela população quanto ao serviço do psicólogo.
O projeto ético-político de formação vem como mais importante
que o currículo acadêmico, segundo o CFP, pois a existência de um projeto
ético-político na profissão pode diminuir o abismo entre o implementado
na graduação e o desenvolvido na prática, entre a teoria e a prática, entre
o diálogo e a cristalização das teorias ensinadas nos cursos de graduação em
Psicologia, que, em sua maioria, não estão aprofundando as discussões
políticas que são exigidas na realidade do trabalho profissional (CFP,
2013).
55
Portanto, currículo e projeto político-pedagógico, são fatores
importantíssimos na formação dos profissionais da Psicologia e a função
do CFP, a partir de uma articulação entre formação e realidade, construir
as Diretrizes Curriculares, que desde o final da década de 1980 é
contraditória, devido à dificuldade das instituições superiores em
realizarem o proposto em seu projeto político-pedagógico, apesar de uma
fundamentação teórica e consolidadas justificativas apresentadas em seu
conteúdo. Outro fator desta contradição está no compromisso assumido
ao longo do tempo pela Psicologia com o social, pois a profissão não deve
ser elitista, realizada apenas em consultório, mas um profissional que
desenvolva práticas voltadas para a realidade dos serviços públicos (saúde,
assistência social, educação, dentre outros). É preciso uma mudança que
deve se iniciar nos próprios psicólogos que formam futuros profissionais
para a atuação na área, entendendo como cada um dos autores fazem uma
leitura do mundo e da realidade. Quando as instituições de ensino
apresentam uma análise da Psicologia, dizendo que formam profissionais
generalistas, podem não estar definindo profissionais para determinados
setores profissionais. Enquanto não há uma discussão sobre os compo-
nentes ideológicos do currículo, há a permanência de belas diretrizes
curriculares sem que haja uma efetiva transformação da realidade e dos
serviços prestados pelos profissionais, bem como a falta de inserção no
mercado de trabalho, pois a formação não condiz com a demanda dos
serviços apresentados (CFP, 2013).
Continuando a discussão, o CFP apresenta cinco pontos que se
configuram como um entrave na formação crítica do psicólogo, são eles: i)
dificuldade dos estudantes e professores em realizar uma análise
conjuntural sobre a realidade vivenciada a fim de tomada de decisões éticas,
56
políticas e profissionais; ii) a não relação da formação com a intervenção e
as consequências desta ação; iii) o posicionamento profissional frente as
demandas que são contrárias àquilo que defendemos; iv) a reduzida relação
e o abismo existente entre a graduação e pós-graduação; v) definir o papel
do psicólogo tanto na sociedade brasileira como na latino-americana, pois
estamos trabalhando segundo um capitalismo periférico, com necessidade
crescente de publicações, pontuações, ampliação do trabalho. O que
verificamos na atuação prática do psicólogo é uma sociedade desigual,
opressora, preconceituosa, homofóbica, violenta e excludente. Então como
formar profissionais para atuar nesta sociedade? (CFP, 2013).
Com certeza, uma transformação nos currículos torna-se
fundamental para o início das discussões, para que o graduando possa se
desenvolver criticamente, embasado em teorias que reafirmam a
importância do sujeito como autor no curso de sua própria vida, que vejam
o indivíduo com potencialidades de mudar a realidade na qual está inserido
e não apenas, como um sujeito vulnerável ao processo capitalista e desigual
da sociedade (CFP, 2013). O futuro trabalho do psicólogo já é iniciado
nas primeiras práticas profissionais, que são as intervenções realizadas em
estágios supervisionados. Por isso, é desde este momento que uma
responsabilidade social deve estar presente em suas ações, demonstrando
que a Psicologia não desenvolve apenas ações elitistas, mas que somos
formados para atuar frente a todas as demandas que nos forem
apresentadas pela sociedade.
De acordo com o Código de Ética Profissional (CFP, 2005), o
terceiro da profissão de psicólogo no Brasil (como uma necessidade de
atender ao contexto institucional legal do país), o psicólogo deve ter uma
autorreflexão acerca de sua prática, de modo a se responsabilizar tanto
57
pessoal como coletivamente pelas ações e pelas consequências no exercício
profissional, tendo a percepção de que as sociedades e as profissões se
transformam e isso irá exigir uma reflexão contínua sobre o código de ética
que o orienta. Sendo para tanto, a missão do código de ética, de assegurar
que exista um padrão de conduta e o fortalecimento social da categoria.
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção
da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser
humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a
qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a
eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando
crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e
cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do
contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o
desenvolvimento da Psicologia como campo científico de
conhecimento e de prática.
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do
acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência
psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja
efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja
sendo aviltada.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos
em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com
os demais princípios deste Código (CFP, 2005, p.7).
58
Desta forma, as instituições de ensino superior devem ser cobradas
pelas instâncias superiores quanto a que perfil de graduandos estão
formando e qual o compromisso social que está sendo assumido, pois
mudar um currículo apenas no papel é não produzir resultados satisfatórios
frente às necessidades emergentes da sociedade e não estar de acordo com
o preconizado nos princípios fundamentais da profissão. Talvez podem
existir mecanismos mais eficientes de avaliar as ações e intervenções que
estão sendo realizadas como pticas dos cursos de graduação, ouvir a
sociedade e a instituição que recebe o estagiário, com o objetivo de
entender se está ocorrendo a necessária articulação entre teoria, técnica e
prática e, consequentemente, se está promovendo uma transformação
positiva desta realidade.
Em consulta ao site da Associação Brasileira de Ensino de
Psicologia (ABEP), entendemos que a entidade foi criada em 28 de maio
de 1999 e atua em âmbito nacional, tendo caráter educacional e objetiva
tanto o desenvolvimento quanto o aprimoramento do ensino da
Psicologia, podendo congregar sócios institucionais (Conselho Federal e
Regionais de Psicologia, Sindicato dos Psicólogos, Federação Nacional do
Psicólogos, Executiva Nacional dos Estudantes de Psicologia, Entidades
Científicas de Psicologia, Cursos de Graduação em Psicologia e Entidades
formadas de docentes e discentes dos cursos de Psicologia) e individuais
(professores e estudantes de Psicologia e psicólogos) (ABEP, 1999).
São objetivos da ABEP, segundo o seu Estatuto:
1. cooperar com o desenvolvimento do ensino da Psicologia,
coordenando informações e coligindo dados sobre o mercado de
trabalho, sobre experiências educacionais de formação em Psicologia,
sobre aplicações do conhecimento da Psicologia que possam auxiliar
59
na solução de problemas nacionais e outras informações necessárias e
importantes para a qualificação dos cursos de formação em Psicologia;
2. promover o apoio na obtenção de fundos e financiamentos para o
ensino da Psicologia;
3. promover medidas que objetivem a capacitação e a educação
continuada do pessoal docente em Psicologia;
4. promover o intercâmbio com entidades governamentais e não
governamentais e com os profissionais e estudantes de Psicologia e de
áreas afins, do país e do exterior;
5. promover o intercâmbio entre as agências formadoras do ensino
superior de Psicologia do país e do exterior;
6. promover a colaboração com outras entidades interessadas nos
programas de ensino de Psicologia, podendo filiar-se a entidades
internacionais que tenham objetivos conexos ou similares;
7. celebrar convênios, acordos, contratos ou ajustes com entidades
públicas ou privadas, nacionais ou não, para a realização de seus
objetivos;
8. promover atividades periódicas no âmbito do interesse dos seus
associados (ABEP, 2006, s/p).
A ABEP tem a importante função de fazer a articulação entre o
desenvolvimento do ensino da Psicologia com o Conselho Federal de
Psicologia e as instituições de ensino superior que oferecem os cursos de
graduação na área, sempre visando a qualidade destes no processo de
formação em Psicologia.
Quando consultado sobre o histórico das Diretrizes Curriculares
Nacionais, no site da ABEP, percebemos que, antes das diretrizes de 2004,
existiam 3 perfis de formação do Psicólogo: Licenciatura (que é a formação
do professor); Bacharelado (que é formação de pesquisador); e Formação
60
do Psicólogo. Assim, é a partir das Diretrizes Curriculares de 2004
(Resolução n. 8, de 07 de maio de 2004) que existe apenas uma
possibilidade de formação, o Curso de Psicologia, que é o único a formar
profissionais psicólogos no Brasil, priorizando uma formação ampla, com
respeito a diversidade de concepções teóricas e metodológicas. Portanto, as
turmas que fizeram o curso no antigo projeto pedagógico receberam
diplomas de bacharel e de formação de psicólogo e, eventualmente o de
licenciatura, conforme a organização de cada instituição de ensino
superior. Já as turmas ingressantes, a partir da implantação das novas
Diretrizes, receberão um único diploma, que é o de psicólogo. Em 2011,
a partir da Resolução n. 5, 15 de março do referido ano, é instituída a
criação de um projeto de formação complementar para o professor de
Psicologia, já apresentado anteriormente, o qual a instituição de ensino
superior tem a obrigatoriedade de oferecer, mas ao estudante é facultativo
cursar (ABEP, 2004).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação
em Psicologia, instituídas em 2011, estabelecem normas para o projeto
pedagógico complementar para a formação de professores de Psicologia.
Esta iniciativa de atualização das diretrizes aconteceu a partir de uma
manifestação coletiva (demanda de coordenadores de cursos), e tem por
objetivo suprir as demandas de formação de professores de Psicologia, que
surgiram em 2004, após as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos
de graduação em Psicologia, e que enfatizam que o projeto pedagógico
deve propiciar desenvolvimento de competências e habilidades básicas
previstas no núcleo comum do curso de Psicologia e nas Diretrizes
Nacionais para a formação do professor da Educação Básica, em nível
superior (ABEP, 2017).
61
Segundo o Parecer do Conselho Nacional de Educação n.
329/2004 (BRASIL, 2004), fica estabelecido que os cursos de graduação
em Psicologia, bacharelados, na modalidade presencial, terão uma carga
horária mínima de 4 mil horas, cabendo às instituições de educação
superior a fixação do tempo mínimo e máximo da integralização
curricular, obedecendo o mínimo anual de 200 dias letivos. Em relação às
atividades complementares e estágios, estes estarão incluídos na carga
horária total do curso, não devendo exceder 20%.
Quanto a estruturação dos projetos pedagógicos, esta se dá a partir
de uma delimitação de competências que devem ser desenvolvidas nos
estudantes, mas isso requer um esforço coletivo, para romper com o
modelo tradicionalista de ensino a fim de se reformular os currículos e não
apenas o que acontece frequentemente, rearranjar-se as disciplinas. Estas
nem sempre estão engajadas efetivamente com o projeto coletivo para a
formação profissional, ficando a formação fragmentada (ABEP, 2017).
Quando pensamos em uma educação por competências, podemos
inclusive almejar um currículo sem disciplinas, com o desenvolvimento de
problemas ou projetos (situação comum em cursos de Medicina), mas
também propor uma mediação entre o existente tradicionalista e uma
diversidade de espaços de aprendizagem, mecanismos de integração,
ampliação da interação, desenvolvimento de habilidades e competências
transversais, a partir de eixos estruturantes que indicam os conteúdos que
devem organizar o projeto, fazendo a articulação entre as competências e
os conhecimentos da Psicologia (ABEP, 2017).
Essas transformações dos projetos pedagógicos devem ser
entendidas como um desafio para se melhorar a formação dos profissionais
da Psicologia no país. Mas pressupostos importantes devem ser consi-
62
derados, tais como: um trabalho coletivo dos professores de cada curso, a
fim de conjugar informações e práticas profissionais que envolvam os
graduandos em ações articuladas que visem a sua formação; o desenvolvi-
mento de habilidades e competências por parte dos estudantes; e um
projeto pedagógico que inclua o pensamento crítico e que rompa com uma
visão departamentalizada (ABEP, 2017).
Nas Diretrizes Curriculares, foi proposta uma nova estratégia para
garantir uma homogeneidade da formação de psicólogos no Brasil, que foi
Núcleo Comum. Neste há a garantia de que os psicólogos formados nos
mais diversos cursos pelo país tenham uma mesma formação básica, que
garanta a formação substantiva do psicólogo. Este Núcleo Comum, que
perpassa do início ao final do curso, articula competências básicas e eixos
estruturantes, com propósito de garantir o contato com a diversidade e
com uma formação generalista do psicólogo. Nele deverão estar incluídas
variadas atividades curriculares, bem como os estágios básicos, que
constituem práticas integrativas com o objetivo de desenvolver suas
competências e habilidades, vinculando-se a uma formação básica e não
específica no psicólogo (ABEP, 2017).
Já em relação às ênfases curriculares, estas devem atender a uma
formação generalista, sem que seja superficialista. Elas consistem de um
conjunto de fazeres/competências centradas em um específico conjunto de
atividades, ou seja, na vivência, em diferentes contextos, dos processos e
competências que são tratados no núcleo comum. Nas ênfases, o
importante é a diversificação das práticas, procedimentos, espaços e
problemas, incluindo obrigatoriamente, a realização de estágios espe-
cíficos. Para tanto, as ênfases se constituem enquanto estratégias para
viabilizar uma formação não superficial, ou agregada de coisas
63
fragmentadas. E não necessariamente são as mesmas ao longo do tempo,
mas podem ser alteradas/acrescentadas novas de acordo com as demandas
da realidade. Sempre que houver uma mudança nas Ênfases Curriculares
deve haver uma mudança no Projeto Pedagógico (ABEP, 2017).
Quando se reflete sobre os estágios, devemos considerar que existe
uma diferença entre atividades práticas e aquelas que são supervisionadas.
O estágio é definido como prática curricular por possibilitar atendimento
individualizado que esteja sobre orientação constante, ao contrário de
outras práticas, como uma aula prática, em que as atividades e orientações
são realizadas com grupos maiores. A carga horária dos estágios deve
corresponder a pelo menos 15% da carga horária total do curso de
Psicologia, rompendo com o modelo tradicionalista, que concentrava a
prática no final do curso, como um grande momento de aquisição de
competências profissionais. Com a possibilidade de realizar o estágio
básico, a inserção dos graduandos em práticas supervisionadas se tornou
mais distribuída ao longo do curso, desconstruindo a separação entre a fase
de receber informação da fase de ir para a prática (ABEP, 2017).
Os estágios do núcleo comum devem se voltar para apoiar
habilidades da prática profissional (avaliação, observação, entrevista,
coordenação de grupos, transcrição psicológica de diferentes situações),
havendo uma conexão entre os básicos e os específicos e estando sob a
responsabilidade técnica de um psicólogo/docente vinculado à instituição
de ensino superior. Sendo recomendado que o número de estudantes por
supervisor seja o menor possível, tendendo a cinco, e que se reúnam por
três horas semanais. Já a relação entre horas de supervisão e de atividade
em campo de estágio deve ser definida de acordo com o trabalho
desenvolvido, a demanda, condições de trabalho do supervisor, sendo
64
sugerido uma proporção de 50% para supervisão e 50% para
desenvolvimento de atividade em campo, sempre sendo referenciado no
Projeto Pedagógico do curso (ABEP, 2017).
Além dos estágios, as diretrizes curriculares também preveem a
realização de atividades complementares que objetivem o desenvolvimento
de competências do psicólogo, mas que devem estar definidas também no
Projeto Pedagógico, e não ultrapassar 20% do total de horas do curso
quando somadas à carga horária de atividades complementares com a de
estágios. Excluído aqui os estágios de formação de professor que obedecerá
à legislação própria (ABEP, 2017).
A atenção a políticas públicas na formação de psicólogos é assunto
discutido frequentemente, pois existem autores que relatam o significativo
espaço que a Psicologia ocupa no mercado de trabalho das políticas
públicas, inclusive o crescimento de campo de atuação. Já outros autores
relatam a oportunidade que existe de aproximação dos psicólogos com
habilitações comuns para outros profissionais da área da saúde, educação e
assistência social. Mas também é uma oportunidade de conhecer os
problemas vivenciados pela população e atuar no enfrentamento desses
problemas. O que precisa de cautela é a fixação de modelos homoge-
neizados da formação, que não completem a diversidade de contextos de
atuação. Desta forma, o núcleo comum da formação prioriza o
desenvolvimento de competências centrais para todos os campos de
atuação do psicólogo, e a atuação em políticas públicas, torna-se fator de
importância que deve ter atenção incrementada no Projeto Pedagógico,
pois é um campo de atuação profissional de relevância social no momento
do país (ABEP, 2017).
65
A transformação da Psicologia: de um lugar de elite para o social
Sabe-se que, entre os profissionais da Psicologia, há um grande
interesse pela Psicologia Clínica. Ferreira Neto (2004) aponta que a clínica
pode indicar maior preferência devido à existência de identificação entre
Psicologia e clínica, frente a um modelo profissional liberal, atuando de
modo privado. Por outro lado, Meira e Nunes (2005), acreditam que esta
influência pode vir do corpo docente, que estimula diretamente o
encaminhamento dos estudantes para psicoterapia. Este incentivo acontece
como condição desejável e que contribui para a formação profissional e
talvez possa justificar o crescimento da busca pela psicoterapia.
Figueiredo e Rodrigues (2004) refletem que a preferência pela
prática clínica é explicada pelas condições históricas e sociais nas quais a
profissão se constituiu, principalmente por pouco ser discutido na
formação, aspectos sociais como fatores determinantes da condição
humana. Moura (1999) destaca que a atuação clínica do psicólogo não
mais se refere a uma atuação específica ou modalidade de psicoterapia, mas
designa a especificidade de atuação do psicólogo, relacionando-se a um
olhar que ultrapassa o que é obvio e busca o oculto, a interpretação que é
construída e compartilhada, que traz significado a uma existência concreta.
Que haja uma preocupação no desenvolvimento de ações de clínica
ampliada, a fim de aumentar a autonomia do sujeito, de sua família e da
comunidade.
Assim, Fischer (1998) acredita que para que a Psicologia deixe de
ser criticada e questionada em relação às formas que utiliza de intervenção,
forneça meios para que os indivíduos se incluam no processo de revisão e
transformação, assumindo-se não apenas como sujeitos desejantes, mas
enquanto conquistadores e reinventores da cidadania. O uso de métodos,
66
de técnicas e da contextualização social adequados permite o
aprimoramento do sujeito a partir de um processo de intervenção
psicológica (SILVA, 1992).
Martín-Baró (1996) traz o questionamento de que qualquer que
seja a área em que se trabalhe, deve-se formular perguntas críticas sobre a
formação das atividades desenvolvidas e, consequentemente, sobre o papel
desempenhado na comunidade, visando quais são as consequências
históricas concretas que a atividade vem produzindo. Para tanto, diversas
são as possibilidades de atuação do psicólogo. Os graduandos têm a
oportunidade de entrar em contato com esta diversidade de atuações ainda
na graduação, a partir dos estágios supervisionados. Ao ser possível
vivenciar várias áreas de atuação profissional, confrontar teoria e prática,
interagir com outros profissionais, e por meio do descobrimento de jeitos
de lidar com as mais variadas situações, o graduando tem a possibilidade
de diminuir a dependência criada com o supervisor (RODRIGUES,
2000). Teixeira e Nunes (1999) também contribuem ao dizer que os
estagiários tendem a aproveitar as experiências dos modelos
proporcionados pelos seus supervisores e/ou psicoterapeutas.
Os estágios podem permitir o desenvolvimento de uma prática
conscientizadora, a partir da capacidade crítica e criativa dos graduandos
frente ao oferecido pela escola e pela sociedade, tornando-se um modelo
diferente de confrontação da vida social e laboral. O objetivo não é apenas
que os estudantes aprendam com os currículos escolares já planejados, mas
sim, que consigam confrontar a realidade existencial com o pensamento
crítico. O horizonte da Psicologia está na conscientização, está estruturado
em um fazer do psicólogo que desaliene as pessoas e os grupos, que
proporcione chegar a um saber crítico acerca de si mesmos e de sua
67
realidade, mudando os mecanismos que não permitem a consciência da
identidade social, que levam as pessoas a assumir papéis de dominadores
ou dominados, de exploradores opressivos ou marginalizados oprimidos
(MARTÍN-BARÓ, 1996).
Moura (1999) diz que, para transformar a realidade social, é
necessária a articulação do sujeito com a sua realidade concreta, pelas trocas
intersubjetivas que ocorrem nos espaços concretos, produzindo
significados compartilhados, que permitem a reinvenção da existência do
homem. O psicólogo que desconhece este processo, continua por propagar
a exclusão social, rotulando as pessoas, diferenciando aqueles que não estão
próximos das normas estabelecidas, não contribuindo para a
transformação social, mas para a propagação da desigualdade e da ordem
social injusta e perversa.
A atuação do psicólogo em espaços públicos permite que o saber
psicológico possa ser usado em prol da comunidade e não apenas seja
acessível a uma parcela da população que possa arcar com os custos de um
atendimento clínico, em consultório particular. A Psicologia precisa
assumir a função de promoção de saúde e de prevenção de doenças, e não
somente atuar quando a saúde mental já está fragilizada, ou seja, no
tratamento e acompanhamento das doenças.
Alguns fatores foram importantes para o início das práticas do
psicólogo nos serviços públicos de saúde: a) as políticas públicas na área da
saúde, entre as décadas de 1970 e 1980, com destaque para o setor dos
recursos humanos; b) a redução na busca pelos atendimentos psicológicos
clínicos, devido ao poder aquisitivo da população, na década de 1980; c) a
redefinição da função social da Psicologia; d) a ampliação da difusão dos
conceitos da psicanálise e a psicologização da sociedade (LIMA, 2004).
68
Cantele e Arpini (2017) destacam que a Psicologia passou por duas
principais crises, que possibilitaram a reflexão da prática até então
desenvolvida. Sendo elas: a prática clínica tradicional que provinha do
modelo médico hegemônico, restrita em função dos aspectos econômicos
e socioculturais de uma classe social; e as instituições psiquiátricas e
maneira desumana com a qual lidavam com a loucura. Tais crises
permitiram que as práticas profissionais fossem revistas e que a
complementação dos diversos campos de conhecimento proporcionasse a
ampliação da compreensão sobre os processos saúde-doença, e
contribuindo para a inclusão da Psicologia na saúde mental (MENEGON;
COELHO, 2006). Os mesmos autores compartilham que a atuação, nesta
perspectiva, leva os profissionais a desafios e a constantes ressignificações e
integração dos saberes e práticas da graduação.
Em um levantamento realizado pelo Conselho Federal de
Psicologia, em 2009, com a participação de 382 psicólogos, foram
apontadas mudanças na prática em Saúde Mental, principalmente com a
ampliação das atividades realizadas pelos psicólogos nos Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) (CANTELE; ARPINI, 2017). No estudo das autoras
ficou evidenciado que os psicólogos estão mais integrados e participativos,
desenvolvendo ações em grupo, visitas domiciliares e acolhimento, ou seja,
não mais realizando práticas apenas centradas no atendimento
individualizado de tempos passados.
Yamamoto e Oliveira (2010) não acreditam que a entrada do
psicólogo na saúde pública seja resultante de conscientização da função da
profissão junto às camadas mais humildes da população, mas que a crise
advinda do capitalismo refletiu nos serviços psicológicos, dificultando a
manutenção da prática clínica. Assim, Bettoi (2003) complementa que as
69
dificuldades que o psicólogo encontrou no mercado de trabalho,
juntamente com as discussões promovidas no meio acadêmico sobre a
relevância social da Psicologia, contribuíram para colocar o psicólogo em
novos espaços (mas ainda, com o pensamento de levar a psicoterapia para
outras camadas sociais e não de atuar com modelos diferentes de
intervenção).
Um outro campo de atuação para o profissional da Psicologia,
pensando no trabalho em diferentes espaços e com camadas sociais mais
vulneráveis, está a atuação no setor da assistência social, que ocorreu mais
tardiamente do que a inserção do psicólogo na saúde pública
(YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010). Os mesmos autores destacam que
por mais que se acredite que este seja um novo campo de atuação do
psicólogo, não é algo novo a participação deste profissional nas equipes do
Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Segundo Coimbra (2003),
há registros de trabalhos desenvolvidos em políticas focalizadas, com
crianças, adolescentes, mulheres e idosos, ou mesmo na parte jurídica e
familiar, mas que não estão sistematizados na literatura, o que dificulta a
definição de quando a Psicologia começou a atuar neste campo. Nery
(2009) acredita que a luta da Psicologia pelos direitos humanos, o combate
à desigualdade e por melhores condições de vida para os sujeitos, ocorreu
quando esta área do conhecimento se findou à assistência social na década
de 1980.
No entanto, podemos considerar que a presença deste profissional
na assistência social brasileira é significativa, só perdendo em números para
a atuação de assistentes sociais e pedagogos (NERY, 2009; SENRA, 2009).
Os trabalhos desenvolvidos pelos psicólogos estão tanto na proteção básica
quanto na proteção especial do SUAS, com o desenvolvimento, na
70
primeira, de trabalhos focalizados nas famílias em situação de
vulnerabilidade social (YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010) e nas famílias
e indivíduos que se encontram em risco pessoal e social ou que tenham
seus direitos violados, quando se pensa na proteção social especial.
Quando refletimos sobre a profissionalização da Psicologia no país
e sobre o seu desenvolvimento, dificilmente conseguiríamos articular um
trabalho com as populações menos favorecidas economicamente e em
caráter político reformista, pois haveria uma hegemonia da atuação clínica
e de referenciais importados que não davam espaço para as transformações
neste campo do saber. Mas os psicólogos iniciaram o trabalho com essas
populações, e este campo de atuação vem crescendo, tanto em intervenção
quanto em pesquisa. Estamos presenciando ramificações da Psicologia,
adaptações de referenciais teóricos e técnicos, direcionamento das
entidades de representação para buscar a problematização dos campos e
construção de parâmetros para guiar o trabalho dos psicólogos
(YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010).
Ressalta-se que a Psicologia Social tem uma missão muito nobre
quando se pensa no trabalho que ela tem a desenvolver para melhorar a
qualidade de vida da população, juntamente com a política de assistência
social, visando a superação da condição de necessidade e transpassando
para a de humanidade, com o resgate de direitos e de dignidade da
população (REIS; CABREIRA, 2013).
A avaliação das práticas e de suas consequências no cotidiano das
populações que são atendidas configura-se como um desafio para os
profissionais que trabalham na Psicologia Social e Comunitária. Uma
delimitação de práticas que sejam comprometidas com a transformação
social e que exijam criticidade na análise, na produção de conhecimento e
71
na formulação das intervenções vão envolver grande complexidade.
Contudo, os psicólogos irão ocupar uma posição central quando se aborda
a questão do compromisso social, pois os conhecimentos partem da
produção de sujeitos concretos que são imbuídos de suas próprias
experiências, de uma visão de mundo e de interesses que vão se expressar
no desenvolvimento de práticas diversificadas (SENRA; GUZZO, 2012).
As atividades práticas de estágio como possibilidade de contato com a
subjetividade humana
Segundo o Parecer do Conselho Regional de São Paulo sobre as
atividades de estágio, desde 2008, vigora a Lei Federal n. 11.788, que
regulamenta as relações de estágio desenvolvidas por estudantes
matriculados em instituição de ensino formal, em diferentes níveis (CRP,
2011). Em seu primeiro artigo, temos a definição de estágio:
Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no
ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo
de educandos que estejam frequentando o ensino regular em
instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino
médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental,
na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
§ 1º O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de
integrar o itinerário formativo do educando.
§ 2º O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da
atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o
desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho
(CRP, 2011, p.1).
72
Na Lei nº 11.788/2008 são definidos os tipos de estágio: i) Estágios
Obrigatórios definidos no projeto pedagógico do curso e compatíveis
com o projeto pedagógico da instituição, devem atender à demanda de
diferentes contextos, de modo interdisciplinar e segundo as Diretrizes
Curriculares Nacionais devem se estruturar em dois níveis (básico e
específico); ii) Estágios Não-Obrigatórios desenvolvidos como atividade
opcional e complementar à formação, sendo que a sua carga horária não
compõe a carga horária regular e obrigatória do curso, mas devem estar
descritos no projeto pedagógico e ser supervisionado; 3) Estágios Básicos
visam o desenvolvimento de práticas previstas em um núcleo comum de
formação, englobando a capacidade básica na articulação dos conteúdos da
Psicologia; 4) Estágios Específicos são aqueles ligados às ênfases
curriculares propostas pelo curso de graduação e que incluem o
desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências; 5)
Estágios Internos são aqueles realizados na própria instituição formadora;
6) Estágios Externos são aqueles realizados em diferentes contextos, fora
das instituições formadoras (CFP, 2013a).
O curso de Psicologia possibilita ao discente o contato direto com
a prática por meio dos estágios em diferentes possibilidades de atuação
profissional. Assim, é possível que aconteça a integração das competências
teóricas, técnicas e práticas necessárias para o desenvolvimento adequado
desse estudante.
O estágio em Psicologia pode ser compreendido como atividades
supervisionadas que são realizadas em situações reais e de trabalho, por
estudantes matriculados em curso de graduação em Psicologia, objeti-
vando a aprendizagem profissional e sociocultural, e que esteja sob a
responsabilidade e coordenação da instituição de ensino superior. O
73
estágio possibilita a problematização da realidade, a intervenção em
campos de atuação e o levantamento de questões para futuras pesquisas,
configurando-se como um dos instrumentos pedagógicos fundamentais de
desenvolvimento profissional, social e da própria ciência psicológica (CFP,
2013a). Assim, os programas de estágio devem objetivar o desenvolvi-
mento do estudante, sempre aprimorando suas condições profissionais,
autonomia e consciência de que haja uma formação continuada (CRP,
2010).
O estudante de Psicologia que desenvolve atividades de estágio está
sujeito ao cumprimento do Código de Ética Profissional na figura do
supervisor ou professor que realize a orientação, cabendo a este esclarecer,
informar, orientar e exigir a observação dos princípios e normas contidas
no Código de Ética Profissional. É desejável o engajamento do supervisor
em atividades de pesquisa científica e de pesquisas sobre sua experiência
profissional, com submissão de trabalhos em congressos, encontros
científicos e que haja publicações técnico-científicas dos trabalhos
realizados (CRP, 2010).
Também são estabelecidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais
de 2011 os objetivos e as concepções do Serviço-Escola de Psicologia, que
tem a função de atuar como um espaço de articulação entre os estágios
supervisionados, com as supervisões, atividades práticas de estágio,
coordenação de estágios, tanto externos quanto obrigatórios ou não. O
objetivo deste serviço também está em ser congruente com as competências
desenvolvidas no estudante diante das demandas psicológicas provenientes
da comunidade (BRASIL, 2013)
Para tanto, a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais visam
que os estágios façam uma interlocução com os componentes curriculares,
74
considerem as demandas regionais e promovam os direitos humanos,
sempre incentivando a interdisciplinaridade, a atuação com as demais
classes profissionais e a promoção de políticas públicas para que haja a
consolidação, bem como a articulação do saber e da prática que estão
integradas na formação do profissional da Psicologia (CFP, 2018).
Mattos, Shimizu, Berviquel (2008) concluem destacando a
importância dos estágios em Psicologia, pois proporcionam uma
integração entre a teoria e a prática, situações essenciais para o encontro
com as ocasiões que demandam reflexões éticas. É justamente esta reflexão
ética que se espera da formação em Psicologia, pois não é somente a
articulação da teoria com a prática, mas o refletir sobre as ações que estão
sendo disponibilizadas para a comunidade e o quanto essas ações estão
gerando mudanças significativas no cotidiano desta e na vida dos sujeitos
pertencentes a ela.
75
O USO DE METODOLOGIAS ATIVAS E O PAPEL
DO PROFESSOR NA GRADUAÇÃO
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao longo deste segundo capítulo, serão abordados o ensino
tradicional, as metodologias ativas, a educação na formação de estudantes
mais críticos-reflexivos e de agentes de transformação social. Finalizaremos
a presente reflexão com o papel do professor na transformação educacional
nos cursos de graduação visando à formação integral do estudante, que
vimos no capítulo anterior, um importante fator a ser considerado.
O Ensino Tradicional
Considera-se como ensino tradicional aquele em que o adulto é
um homem já pronto e acabado, e o estudante como um adulto em
miniatura, que ainda precisa ser atualizado (MIZUKAMI, 1986). A
transmissão do saber está constituída tanto na tradição quanto nas
verdades acumuladas pela humanidade, sendo o ensino como uma
impressão de imagens vindas das palavras do professor ou da observação
sensorial. Os papéis de estudante e professor são descritos nesta
modalidade de ensino como: o primeiro, um recebedor da matéria,
devendo decorá-la e os objetivos do ensino referindo-se à formação de um
estudante ideal, mas ao mesmo tempo desvinculado da realidade concreta;
já o professor tenta encaixar os estudantes numa estrutura idealizada de
homem, que se distancia da vida presente e futura (LIBÂNEO, 1994).
76
Este sistema tradicional de ensino não tem interesse na construção
do aprendizado pelo estudante, mas apenas na transmissão do
conhecimento pelo professor. O modelo de estudante almejado é aquele
que recebe todo o conhecimento transmitido e, depois, o reproduz nos
momentos solicitados, que são as avaliações. O ensino é reduzido a aulas
expositivas, a posturas empiristas, que compreendem o estudante
simplesmente como uma folha em branco, na qual são inscritos os
conhecimentos transmitidos e que o aprendizado acontece apenas pelo
ouvir os conceitos transmitidos pelo professor (CASTANHO, 2001).
Quanto à matéria do ensino, o mesmo autor complementa que é
tratada de forma isolada, estando desvinculada tanto dos interesses dos
estudantes quanto dos problemas reais da sociedade e da vida. Em relação
ao método, este é organizado de forma lógica e sequencial, sendo o meio
utilizado pelo professor para a comunicação da matéria, e não como
prioridade o aprendizado do estudante. Também se verifica a presença de
métodos intuitivos no ensino tradicional (LIBÂNEO, 1994).
O ensino está sempre centrado no professor, e o estudante apenas
executa aquilo que lhe é prescrito por autoridades exteriores a ele
(programa, disciplinas e professor). A autora ainda compactua com a ideia
de que o ensino tradicional está pautado nas situações de espaços de
aprendizagem, com a instrução e ensino dos estudantes pelo professor, pois
a aprendizagem acontece a partir dos conteúdos e informações que são
adquiridos e da imitação dos modelos. Com isso, ocorre a formação de
reações que são estereotipadas, dos automatismos, favorecendo que o
estudante consiga compreender apenas de forma parcial. As difereas
individuais são ignoradas, não há a variação dos métodos utilizados, é
característico o verbalismo do professor e a memorização do estudante. As
77
tarefas são padronizadas, prioriza-se a rotina para fixação dos
conhecimentos, dos conteúdos e das informações. Há o destaque para
algumas matérias em relação às outras. Tal situação se constata pela
diferença existente entre a carga horária das disciplinas do currículo
(MIZUKAMI, 1986).
A avaliação visa a reprodução do conteúdo transmitido nos espaços
de aprendizagem e o exame passa a ter um fim em si mesmo, sendo
mantido como um ritual. Existe uma prioridade atribuída à disciplina
intelectual, bem como aos conhecimentos abstratos. Para Mizukami
(1986, p.17) “o método de recitação e as espécies de conteúdo ensinados
derivam de uma concepção estática de conhecimento”, na qual ao
estudante resta a posição de passividade, de receptáculo do conhecimento,
que irá receber uma intervenção do professor para a aquisição do
conhecimento, reduzindo assim, a importância dos dados sensíveis e
intuitivos.
Professor e estudante estão em uma relação vertical em que o
professor detém o poder quanto à metodologia, ao conteúdo, à avaliação,
quanto ao estudante, resta a repetição automática dos conteúdos
fornecidos pela escola. Há a extinção das relações sociais, inclusive a
dependência intelectual e afetiva do professor, pois os elementos da vida
emocional e afetiva são julgados como impeditivos para que haja uma boa
direção do ensino (MIZUKAMI, 1986).
A escola tradicional trabalha separando e fragmentando os
conhecimentos abordados nas áreas disciplinares. O tempo e o espaço
passam por divisões para que os distintos campos da ciência, das relações
humanas e da cultura possam ser ensinados. Neste modelo de escola ocorre
a disjunção do objeto de conhecimento propiciado pelo pensamento
78
cartesiano e as grades curriculares são estruturadas de modo a dar
visibilidade aos conteúdos que serão trabalhados de modo fragmentado
(ARAÚJO, 2003).
Quando rompemos com este paradigma, encaramos de frente os
desafios de implementação de propostas interdisciplinares e
transdisciplinares, trazendo para os espaços de aprendizagem conteúdos
transversais relacionados aos sentimentos, emoções e valores, buscando
formas de organização do trabalho escolar pautados em espaços e tempos
que sejam diferentes dos tradicionais (ARAÚJO, 2003). Arantes (2003)
também defende que a prática educativa deva inserir transversalmente no
currículo escolar temáticas que sejam relacionadas com a afetividade.
Assumindo uma proposta educacional que inclua os sentimentos pessoais
e interpessoais como objeto de conhecimento, e que trate esta nova
maneira de conceber a educação como uma das principais finalidades
educacionais.
Este tipo de construção de conhecimento pressupõe um sujeito que
é participante ativo e reflexivo das atividades. O projeto educativo deve
prever o conhecimento, privilegiando o desenvolvimento da competência
dialógica e reflexiva dos estudantes e também a busca de estratégias que
tenham como pressuposto o levar os estudantes a tomada de consciência
de seus próprios sentimentos e emoções (ARAÚJO, 2003).
Contudo, o início do século XX trouxe uma credibilidade maior
para a educação, pois esta foi vista como a responsável pelo
desenvolvimento da sociedade. A relação entre Pedagogia e Psicologia foi
reforçada, permitindo que a educação começasse a ser vista a partir de bases
científicas, sendo acentuado tal pensamento pelos ideais escolanovistas,
que traziam uma nova proposta educacional, em que a concepção de
79
infância não era mais vista de maneira tradicional (criança necessitando ser
cultivada, pois sua natureza era corrompida), mas como possuidora de uma
natureza pura e boa, em que era necessário conhecer o seu desenvolvimento
em sua profundidade (BOCK, 1999a).
Becker ([20--?]) traz uma divisão importante para representar a
relação entre ensino e aprendizagem escolar, e mais especificamente, a
própria sala de aula. Esta divisão ocorre em três formas - Pedagogia
Diretiva, Pedagogia Não-Diretiva e a Pedagogia Relacional. Na Pedagogia
Diretiva as seguintes situações são presenciadas quando adentramos uma
sala de aula: o professor acredita que o conhecimento pode ser transmitido
para o estudante; o professor considera o estudante como uma tabula rasa
a cada novo conteúdo de sua disciplina; o estudante somente irá aprender
se o professor ensinar; o estudante deve ser submisso a fala do professor; é
reproduzida a heteronomia e o autoritarismo do docente; sendo
caraterístico a reprodução e a não permissão para o novo acontecer. O
egresso desta Pedagogia Diretiva será bem recebido no mercado de
trabalho, pois aprendeu a não reivindicar, a silenciar, a fazer coisas sem
sentido, sempre renunciando o direito de pensar, de promover a sua
cidadania, não acreditando na ação como mobilizadora de mudança.
A segunda forma discutida por Becker ([20--?]), a Pedagogia Não-
Diretiva, é mais difícil de ser visualizado nas práticas de sala de aula, pois
se encontra mais nas concepções pedagógicas e epistemológicas, extraindo
sua fundamentação da epistemologia apriorista. Neste modelo, o referido
autor apresenta que: o professor deve realizar o mínimo de interferência
possível, deixando que o estudante encontre o caminho, aprenda por si
mesmo; o professor irá despertar o conhecimento que existe no estudante;
a interferência do meio é reduzida ao mínimo possível; o professor deixa
80
de exercer a sua função e a não aprendizagem do estudante será considerada
um “déficit herdado”, quase impossível de ser superado.
Na terceira forma, da Pedagogia Relacional, o professor possibilita
que o estudante tenha contato com o material proposto, explorando-o, e
sendo direcionado pelo docente, por meio de perguntas, que permitam a
exploração de diferentes aspectos problemáticos e assim, possam
representar o que elaboraram. A partir desta experiência é definida a
direção, problematização e materiais que serão usados em uma próxima
aula. Nesta prática o professor considera que para a construção do
conhecimento, o estudante deva agir e problematizar a sua ação, assim o
estudante precisa agir sobre o material (assimilação) e responder para si
mesmo às perturbações (acomodação) que foram provocadas pela situação
anterior (BECKER, [20--?]).
Assim, a aprendizagem, segundo a psicologia genética piagetiana é
de que somente é possível aprender se o sujeito (re)criar para si, bem como
se ele criar novas perguntas para respostas antigas e respostas novas para as
perguntas novas (BECKER, [20--?]). Estas reflexões precisam de mais
discussões e continuarão a serem abordadas nas metodologias ativas do
processo ensino-aprendizagem.
As Metodologias Ativas
Freire (1996, p.23) destaca que ensinar não é simplesmente
transferir conhecimentos e conteúdos, bem como formar não é uma ação
em que um sujeito criador irá dar forma a um corpo indeciso e acomodado,
assim, para que haja docência é necessário haver discência, pois “quem
ensina, aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender”. O
81
educador deve, em sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do
estudante, bem como a curiosidade e a insubmissão, ensinando-o não
somente os conteúdos, mas também o pensar da maneira correta. Assim,
o dever do professor e da escola não está em apenas respeitar os saberes dos
educandos, mas inclusive o das classes populares, que estabelecem relação
com o ensino dos conteúdos. Freire (1996, p.38) complementa que “a
prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento
dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”. Com esta
reflexão, é possível a compreensão de que ensinar não é uma transmissão
de conhecimento, mas sim, a criação de possibilidades para a própria
produção ou a sua construção, bem como o respeito tanto à autonomia
quanto à dignidade de cada pessoa deve ser um imperativo ético, e não
simplesmente um favor que concedemos ou não aos outros. Se é a partir
da dialogicidade verdadeira que os sujeitos aprendem e crescem, respeitam
a diferença, podem ser considerados seres inacabados e se tornam
radicalmente éticos. O autor também defende que a prática docente é
especificamente humana, é formadora e, por isso, é ética, devendo-se exigir
dos agentes formadores seriedade e retidão no processo de aprendizagem,
pois a prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ao
ensinar, irá aprender, e o outro que, aprendendo, irá ensinar. Quando
pensamos a educação, devemos considerar uma existência de objetos, de
conteúdos tanto ensinados quanto aprendidos, de métodos, de técnicas e
de materiais que implicam em objetivos, sonhos, utopia, ideais (FREIRE,
1996).
No entanto, para Conterno e Lopes (2016), os princípios
pedagógicos que são divulgados tanto como inovadores como modernos
são uma retomada dos preceitos do movimento renovador da escola,
82
iniciado no século XX, na Europa e Estados Unidos, que visavam o
estudante como central no processo de ensino-aprendizagem, os métodos
como ativos e criativos, fixados no interesse do discente, na aprendizagem
significativa e na não diretividade pedagógica das práticas educativas. Os
mesmos autores concluem dizendo que esses princípios pedagógicos
podem assumir a posição de inovação no contexto em que foram
produzidos, principalmente por trazerem respostas dirigidas aos problemas
educacionais, desde a educação básica; e que estes princípios são
influenciados pela Pedagogia Ativa e pelas ideias do escolanovismo.
Freire (1996, p.105) salienta que o grande problema que se
apresenta ao educador e à educação é o de como trabalhar “no sentido de
fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente pela
liberdade”, pois quanto mais a liberdade assume o limite necessário, mais
autoridade ela terá, eticamente falando, para que continue lutando em seu
nome. “Se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a
educação pode. Se a educação não é a chave das transformações sociais,
não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante”
(FREIRE, 1996, p.112). A educação é interatividade, troca de saberes,
construção de conhecimento em que todos os agentes envolvidos neste
processo têm papel fundamental para o êxito do mesmo.
Contrariamente ao ensino tradicional, Litwin (2000) destaca o uso
de metodologia ativas, com o objetivo de um ensino pautado na reflexão e
no desenvolvimento do pensamento crítico, criando, nos próprios
contextos de prática, as condições para o desenvolvimento de tal
pensamento. E é neste processo de ensino-aprendizagem, pautado em
metodologias ativas, que o estudante adquire o papel de protagonista do
processo e, por sua vez, o professor, o de mediador/facilitador deste
83
processo (WALL; PRADO; CARRARO, 2008). Papéis diferentes do
ensino tradicional em que o maior protagonista é o professor, por ser a
figura detentora de todo o conhecimento.
O uso de metodologias ativas inicia-se principalmente na formação
e qualificação dos trabalhadores de saúde, principalmente porque se
evidencia as limitações no modo tradicional de lidar com os problemas da
realidade. As metodologias ativas aplicadas na graduação em saúde vêm
demonstrando diversos benefícios, ainda mais quando empregadas com a
educação permanente, é capaz de uma transformação no contexto de
trabalho na saúde (FREITAS et al., 2015).
Saviani (2010) acredita que a Educação Nova visa a organização da
escola como um meio social, tirando-a das abstrações e impregnando-a da
vida nas suas mais variadas manifestações, propiciando que ocorra a
vivência das virtudes e verdades morais, e para a harmonização dos
interesses individuais com os coletivos. E Mitre et al. (2008)
complementam que as metodologias ativas estão alicerçadas no princípio
da autonomia, e que já foram defendidas por Paulo Freire (anteriormente
referenciado), que enfatizou o respeito a todo o indivíduo quanto a sua
autonomia e dignidade, mas principalmente como construtor de sua
própria história. Assim, em uma formação crítico-reflexiva, colocamo-nos
como sujeitos contestantes da realidade, mais críticos e reflexivos do
próprio existir, capacitados de nos voltarmos sobre nós mesmos, sobre a
sociedade e suas relações, atuando na modificação da realidade e do
processo de conhecer (BERETA, 2014).
Na atualidade, verificamos diversos profissionais da educação
buscando métodos inovadores, mas o que não pode ser deixado em
segundo plano, para que realmente ocorra uma metodologia ativa de
84
ensino, é que deve haver a preocupação com uma prática pedagógica ética,
crítica, reflexiva e transformadora, que ultrapasse o técnico, e alcance a
formação do homem como ser histórico, e que vise a constante
problemática da ação-reflexão-ação (MITRE et al., 2008). Sousa (2010)
acredita que a chave para a independência intelectual esteja justamente na
transformação da sociedade, fundamentada em uma gradativa
reconstrução dos materiais e métodos de ensino, sempre com o intuito de
privilegiar ocupações ou vocações sociais, contínuas e cumulativas. Para
isso defende que a escola deve ser um ambiente propício para a reflexão
social, para o incentivo aos estudantes de serem protagonistas da vida e da
sociedade, e, ainda, promotores de situações que permitam o
desenvolvimento crítico a partir de problemas coletivos.
A escola deve assumir ser um espaço para a democracia, a
cidadania, o convívio e o respeito ao indivíduo, para tanto, os profissionais
atuantes neste espaço devem ter consciência de seu papel no
desenvolvimento e educação moral, não estando apenas reduzidos a
manutenção da disciplina e da ordem, mas a formação de cidadãos éticos
(BARRIOS; MARINHO-ARAÚJO; BRANCO, 2011). o podemos
simplesmente pensar em uma mudança educacional apenas mudando as
pessoas, mas sim, em uma mudança de pessoas e contextos, ou seja, dos
indivíduos em seus contextos educativos e sociais (IMBERNÓN, 2000).
Pois, o professor, ao permitir que o estudante reelabore associações, amplie
e ganhe novos sentidos, a partir de novas relações, permite que ele se
envolva com a resolução de problemas e abra-se para aprendizagens mais
complexas (RIBEIRO, 1998). Desta forma, o uso adequado da
metodologia ativa potencializa as capacidades dos estudantes, dando
85
condições para que enfrentem os novos conhecimentos (LIBÂNEO,
1994).
Já em relação à avaliação que é proposta pela metodologia ativa,
esta se configura como uma experiência enriquecedora, que envolve todos
os participantes na tomada de decisão e garante um compromisso e
responsabilidade de todos (PEDROSA et al., 2011). Para Mitre et al.
(2008, p.2.138) “a avaliação deve ser um processo amplo, que provoque
uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus progressos,
suas resistências, suas dificuldades e possibilitar deliberações sobre as ações
seguintes”.
Gomes et al. (2010) defendem uma problematização da prática,
seja assistencial ou educativa, criando espaços para os graduandos
experienciarem a complexidade, que é inerente aos processos de conhecer
e de conviver. Mas, segundo os autores, a grande dificuldade está no
processo de construção e materialização das práticas, em que as mudanças
devem ocorrer tanto macro (como por exemplo: currículo integrado,
pautado na comunidade, novos projetos político-pedagógicos, etc) como
micropoliticamente (como por exemplo: a realização de serviços em
escolas, unidades de saúde, etc).
Não podemos pensar que se houver a troca de uma metodologia
ultrapassada por outra mais atual, só isso seja capaz de reorientar a
formação profissional. Ou ainda, simplesmente, fazer de uma aula
expositiva um espaço de diálogo e manter as relações de opressão nas
discussões, não é uma metodologia. É preciso um cuidado com o cenário
de aprendizagem a fim de uma coerência no processo formativo do
profissional que se espera formar (SIMON et al., 2014).
86
Conterno e Lopes (2016) retomam em seus estudos que no Brasil
vem acontecendo, nos últimos anos, sugestões para a mudança na
formação dos profissionais que atuam na saúde, a partir de projetos e
programas do Ministério da Saúde, que defendem inovações pedagógicas,
metodologias de abordagens não diretivas, para fomentar a adesão das
Instituições de Ensino Superior a essas metodologias. Tais sugestões se
apresentam pela necessidade de os cursos de graduação estarem atentos às
demandas das políticas de saúde, invertendo o modelo assistencial até
então utilizado, formando profissionais que atuem em programas
destinados à atenção básica em saúde e em ações preventivas.
Este discurso pedagógico emergiu com a Medicina Preventiva, que
apresentava pressupostos das pedagogias ativas, que atualmente são
consideradas inovadoras e capazes de atuar na formação de profissionais
que sejam mais comprometidos com os problemas da população em
relação à saúde. Passa-se de um contexto quantitativo de aulas teóricas e
expositivas para a centralidade da atividade no estudante e na
aprendizagem ativa (CONTERNO; LOPES, 2016). Gomes et al. (2010)
complementam que embora o uso de metodologias ativas tenha surgido a
partir de estudos da formação médica, elas não são de exclusividade desta
área de atuação profissional, mas devem ser aplicadas e desenvolvidas nos
processos de formação das mais variadas profissões das ciências da saúde,
sociais ou exatas.
Fischer (2009) também acredita que a prática docente na
universidade tem justamente a função de levar o estudante a pensar, buscar
soluções para os problemas, ir em busca de alternativas que sejam originais
para os inúmeros enfrentamentos teóricos e práticos. Este perfil de prática
docente contribui para que haja a verdadeira integração entre teoria,
87
técnica e prática, discutida por diversos pesquisadores, como essencial para
a formação de futuros profissionais.
O papel da educação na formação de estudantes mais
críticos-reflexivos e de transformão social
Quando consultamos os Parâmetros Curriculares Nacionais
PCN’s (BRASIL, 2000), verificamos que os temas transversais propostos
para trabalho na escola de forma integrada com as disciplinas do currículo
são: Ética, Meio Ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural, Consumo,
Trabalho e Orientação Sexual. Shimizu, Cordeiro e Menin (2006, p.169)
consideram que os temas transversais dos PCN’s são “linhas de conheci-
mento que atravessam e se cruzam entre as diferentes disciplinas,
constituindo-se em fator estruturador e condutor da aprendizagem”. Os
PCN’s devem ser base para potencializar valores, comportamentos,
conceitos, procedimento, atitudes, tanto pessoais como sociais e, inclusive,
possibilitar que temas como educação moral, ética, valores e pluralidade
étnica sejam contextualizados e discutidos na educação brasileira. Para
tanto, é possível vislumbrar novas possibilidades na formação do
estudante, em uma educação que esteja mais comprometida com a
formação para a autonomia (SHIMIZU; CORDEIRO; MENIN, 2006).
Segundo Neres e Lima (2011), os referidos temas expressam
conceitos e valores fundamentais para a democracia e cidadania, bem como
importantes questões para a sociedade, sempre considerando as realidades
e a interdisciplinaridade. A discussão da ética como tema transversal
proporciona o incentivo à autonomia, à constituição de valores,
88
principalmente em quatro lócus temáticos, que são: o respeito mútuo, a
justiça, o diálogo e a solidariedade.
Para tanto, nos PCN’s (BRASIL, 2000), a orientação dada ao
professor é de que planeje várias atividades com objetivos estabelecidos a
fim de que os estudantes decidam coletivamente sobre o desenvolvimento
da mesma. Os PCN’s também consideram que para o desenvolvimento da
moralidade há a necessidade do envolvimento afetivo e racional, a partir
da interação social, discussão esta já apresentada por ilustres estudiosos.
Mas será que o trabalho, por vezes isolado dos temas transversais,
promove uma modificação da realidade? Será que os resultados são
positivos? Será que os educandos realmente se envolvem nos projetos
propostos pelo sistema educacional? Puig (1988) acredita que uma
educação moral analisa criticamente a realidade cotidiana e as normas
sociais, contribui para formas mais adequadas de convívio social, aproxima
os educandos de condutas, hábitos, princípios e normas que são
construídas, inclusive forma hábitos de convívio que reforçam valores
(justiça, solidariedade, cooperação, cuidados com os outros).
Muitas críticas já foram tecidas em relação à forma como a
educação moral foi trabalhada na educação, principalmente com a
disciplina Educação Moral e Cívica, durante o governo militar. Uma das
críticas foi feita por La Taille (2006), que acredita que tal disciplina
contribuiu para que a moral fosse levada para os “calabouços semânticos
da educação”, pois as discussões promovidas foram conduzidas de forma
autoritária. Neres e Lima (2011) destacam que foi a Lei nº. 5692/71 que
constituiu a Educação Moral e Cívica como uma das áreas da educação
escolar brasileiras, mas que a educação moral necessita apreciar, manter e
aprofundar a democracia, considerando as inter-relações, organizando os
89
conflitos coletivos. Isso somente será possível, segundo as autoras, quando
houver um planejamento, organização e execução interdisciplinar, pois,
assim, moral e ética seriam temas trabalhados durante todo o ano letivo e
não apenas, em projetos ou semanas específicas.
“O desafio ético para uma nação é o de universalizar os direitos
reais, permitindo a todos a cidadania plena, cotidiana e ativa, pois sua
efetivação proporcionará o desenvolvimento moral e ético da sociedade”
(NERES; LIMA, 2011, p.38). Moral e ética implicam reflexões, que
necessitam começar desde o planejamento do Projeto Político Pedagógico
da escola, e da presença nestas discussões de todos os envolvidos no sistema
educacional, para que realmente haja uma construção democrática e
autônoma, tão essencial para a educação moral.
Monich (2007) acredita que houve uma inversão das relações
pedagógicas na escola, a partir das relações mercadológicas existentes, pois
o saber não está mais pautado na ação social, mas na relação de trocas, de
vantagens, de retribuições. Mas seria necessário que nessas relações
pedagógicas houvesse como resultado do encontro, a ética, nascida do
desejo da manutenção do outro, sem que haja o aniquilamento de si. “Ela
não é uma abstração teleológica ou transcendental, antes é a sustentação
vital, física e simbólica do sujeito coletivo [...], por isso ética é resultada da
cultura, da educação do sujeito que se deseja” (MONICH, 2007, p. 334-
335).
Para tanto, a formação do professor quanto ao desenvolvimento
moral não deve simplesmente ser quanto à transmissão de conhecimento
e conceitos relacionados à moralidade, mas sim, se perceberem enquanto
sujeitos ativos do desenvolvimento moral na escola, e que a moral adulta
está entrelaçada com a moral infantil. Tanto a formação inicial do
90
professor quanto a continuada devem refletir o compromisso social e ético
dos educadores na formação de estudantes autônomos, críticos e
participativos. Assim, “as interações professor-criança têm uma conotação
fundamental para o desenvolvimento moral, em função de suas
características e do papel do professor como mediador do desenvolvimento
da criança” (BARRIOS; MARINHO-ARAÚJO; BRANCO, 2011, p. 93).
O professor precisa desenvolver outros recursos, além dos conhecimentos
específicos sobre o desenvolvimento moral, sendo os seguintes: “as crenças
e valores sociomorais da cultura; as crenças e valores sociomorais que
subjazem a sua prática pedagógica; as características, conteúdos e
qualidades das interações e relações que se estabelecem no ambiente
escolar” (BARRIOS; MARINHO-ARAÚJO; BRANCO, 2011, p.93).
Piaget (1998), ao citar Durkheim, diz que o professor deve ser o
representante da sociedade para a criança, sendo o intermediário entre a
sociedade adulta e o estudante. Complementa dizendo que os novos
métodos da atividade vão insistir na relação das crianças entre si, mas
apenas uma pedagogia que esteja fundada nas relações sociais, que
permitem a união entre adultos, permitirá que haja o desenvolvimento de
atitudes morais e internacionais sadias e permitirão assim, que as crianças
nos superem.
Também Piaget (1996) acredita que a criança deve redescobrir, a
partir de uma verdadeira investigação e de atividades espontâneas, as
matérias ensinadas, deixando em uma escola ativa, de serem impostas à
criança. Complementa que a criança possa descobrir por si mesma e,
consequentemente, crie um meio social para fazer as experiências desejadas
sobre os conhecimentos aprendidos. Para tanto, Demo (2007) apresenta a
necessidade de modificarmos a definição dada ao professor como a de
91
perito em aula. Tardif (2002) contribui dizendo que o professor ideal é
aquele que conhece o conteúdo, a disciplina e o programa, inclusive tenha
conhecimentos sobre ciência da educação e de pedagogia, e que desenvolva
praticamente na experiência diária com os estudantes.
Pensando no desenvolvimento de metodologias ativas na
educação, o orientador das ações desta prática educativa é colocar o
estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem, atribuindo-lhe
responsabilidade e autonomia para a construção do próprio saber, o que se
diferencia de deixar os estudantes à deriva, sem a mediação do professor
(DUFOUR, 2005). Assim, para Imbernón (2002, p. 102-103), a escola
não deve ser apenas um lugar, mas “uma manifestação de vida em toda a
sua complexidade, em toda sua rede de relações e dispositivos com uma
comunidade educativa, que mostra um modo institucional de conhecer e
de querer ser”. E quando falamos em qualidade da instituição educativa, o
mesmo autor diz que isso irá depender da qualidade dos estudantes em
relação as contribuições para com a sociedade, bem como da qualidade do
que se aprendeu e de como foi aprendido. Para tanto, o conceito de
qualidade educativa não é absoluto. Então configura-se como importante
as discussões sobre a função do professor no ensino superior para que
aconteça as transformações educacionais e consequentemente, uma
formação colaborativa.
O papel do professor na transformação educacional
dos cursos de graduação
Bastos et al. (2011) destacam que, embora o professor não seja o
único responsável pela formação no ensino superior, não podemos pensar
em melhorias na educação sem que haja uma qualificação docente, pois,
92
os espaços de aprendizagem e a relação professor-estudante são essenciais
para a realização do processo de aprendizagem. E responder à pergunta: os
professores dos cursos de graduação em Psicologia têm habilidades e
compencias essenciais ao trabalho do psicólogo? Torna-se de
fundamental importância, caso isso seja respondido negativamente, a
necessidade de reflexão sobre como está ocorrendo a formação em
Psicologia, como os cursos estão senso estruturados, o que se objetiva para
a formação profissional e o papel do professor neste processo de construção
do conhecimento. Assim, definimos como essencial trazer reflexões sobre
essa importante formação que trabalha diretamente com o outro e que
pode realizar intervenções significativas no desenvolvimento dos sujeitos e
do ambiente no quais eles estão inseridos.
O que é transmitido por um professor não é somente o repertório
dominado por ele, mas sim, a perspectiva da qual ele produz seu trabalho
com o pensamento, ou seja, aquilo que o professor transmite e a maneira
como ele faz a própria prática enquanto pensador. Então, o que o professor
transmite não é um saber, mas o aprender e o criar. O professor deve se
transmitir enquanto pensador e deve atuar como um suporte a fim de que
o estudante possa ampliar os recursos psíquicos e teóricos para a construção
do aprendizado (ROLNIK, 1993).
A relação professor e estudante deve acontecer na ordem de
cumplicidade, na qual o estudante possa se desenvolver a partir do
pensamento, e o professor seja potencializador desta capacidade. Mas, para
que o professor possa suscitar este aprendizado no estudante, precisa antes
mesmo suscitá-lo em si mesmo, como um aprendizado infinito e que não
evolui em linha reta, mas oscila, entra em estagnação, anda para trás,
apresenta grandes saltos sem nos darmos conta. Então, com certeza,
93
quanto mais o professor busca o aprendizado, mais é possível que ele
suscite isso no estudante, tornando-se mais prazeroso e gratificante o ofício
para o professor (ROLNIK, 1993).
A aprendizagem é possível quando acontece uma troca entre os
envolvidos neste processo intersubjetivo, que é envolto de simbolismos e
significações. O professor precisa identificar e analisar todos os significados
que cada envolvido apresenta aos procedimentos e conteúdos das
atividades realizadas, bem como no cotidiano da convivência (TACCA;
BRANCO, 2008) para que assim possamos realmente ver uma evolução
na construção do conhecimento e na interação entre professor e estudante.
O trabalho do professor consiste em propor para o estudante
situações de aprendizado que o levem à produção de conhecimentos por
meio de resposta pessoal, fazendo-os funcionar ou modificando-os como
resposta às exigências do meio e não simplesmente ao professor. Assim, a
resolução do problema se tornará responsabilidade do estudante, que deve
se encarregar de chegar a um resultado. Tal situação não constitui tarefa
fácil, mas o estudante deve ter um projeto e assumir sua responsabilidade
(BROUSSEAU, 1994).
Lerner (1990) nos coloca o seguinte questionamento: como
podemos definir o ensino a partir de uma perspectiva construtivista? E nos
apresenta como resposta: que o ensino deve estar pautado na discussão de
problemas, na coordenação de diferentes pontos de vista, na resolução
cooperativa dos problemas, na formulação de conceitualizações, nas
redefinições sucessivas até se atingir o conhecimento que esteja próximo ao
saber socialmente estabelecido.
94
Assim podemos compreender que a concepção de ensino deve estar
pautada na mudança de paradigma de: “passo a passo e definidamente”
para “complexa e provisoriamente”, devido a complexidade do objeto de
conhecimento e a necessidade de reorganização gradual deste
conhecimento. Desta forma, não se torna possível destrinchar o objeto de
conhecimento a fim de simplificar a tarefa do ensino, pelo contrário, temos
que enfrentá-lo como um todo, abordando seus aspectos ao mesmo tempo
(LERNER, 1990).
Segundo Imbernón (2002), é necessária uma redefinição da prática
docente como profissão e consequentemente, para que haja o
desenvolvimento dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem, para tanto destaca os seguintes pontos: reestruturação das
instituições educativas; educação como compromisso político com valores
éticos e morais; desenvolvimento das relações, da convivência e da
interação entre os integrantes do grupo, os semelhantes e a comunidade;
criação de espaços de participação, de reflexão e formação; formar o
professor nas mudanças e para as mudanças; e por fim, valorizar a
autonomia profissional compartilhada.
As sugestões apresentadas como necessárias para a educação
democrática vão ao encontro da formação em Psicologia, principalmente
acreditando que o profissional psicólogo deva conseguir desenvolver nas
relações as capacidades, a convivência com cada sujeito e com o grupo,
criando espaços de possibilidade para a participação, a reflexão, permitindo
o desenvolvimento da autonomia das pessoas e contribuindo para a
adaptação e resiliência nos diferentes contextos.
Considerando essa prática docente na graduação em Psicologia,
esta deve ser associada a participação ativa e crítica no processo de definição
95
de mudanças, adequações curriculares, elaboração de projetos, enfim, o
docente deve estar integrado às diretrizes que regem os cursos, a fim de
contribuir para uma formação que vise o estudante como agente de
transformação social e não simplesmente, como passivo neste processo.
O ensino superior deve adquirir justamente este posicionamento,
o de formar profissionais que estejam capacitados para as demandas que a
sociedade apresenta, atuando de modo comprometido com o social e com
os princípios éticos. A formação deveria envolver os professores em tarefas
que visem a formação comunitária, permitindo à educação escolarizada o
vínculo entre o saber intelectual e a realidade social, e a manutenção de
estreitas relações entre ambos (IMBÉRNON, 2002).
A aprendizagem do estudante deve ser o foco de atuação do
professor e sua garantia de aprendizagem, sendo os esforços do professor
para proporcionar experiências que favoreçam o atingir os objetivos
estabelecidos para todos os estudantes. É proposta uma aprendizagem que
permita a aquisição de conhecimentos teóricos, a partir da observação da
realidade, da reflexão crítica, e da articulação teórica e prática (GOMES et
al., 2010).
Quando se pensa no desenvolvimento profissional do professor,
este pode atuar como um estímulo para a melhoria da prática, das
convicções e do conhecimento profissional, aumentando a qualidade
docente, de pesquisa e de gestão, pois para esse desenvolvimento
profissional deve-se considerar o desenvolvimento pedagógico, o conheci-
mento e a compreensão de si mesmo, o desenvolvimento teórico ou
cognitivo e a situação profissional carreira docente (IMBERNÓN,
2002).
96
Já quando se pensa na formação deste professor para a atuação
segundo as possibilidades discutidas, Imbernón (2002) defende que o
processo de formação deve conferir ao docente os conhecimentos, as
habilidades e as atitudes necessárias para a criação de profissionais
reflexivos, inclusive sobre a própria prática docente, aprendendo a
interpretar, compreender e refletir a respeito da educação e da realidade
social.
Se realmente houvesse esta formação aqui idealizada, os docentes,
em todos os níveis de atuação, mas em caso especial, os aqui em discussão,
que são da graduação, conseguiriam permear os conhecimentos teóricos,
técnicos e práticos de suas disciplinas com os das demais, contribuindo
assim para uma maior coerência e completude do conhecimento
construído pelo estudante, auxiliando-o em sua prática profissional para
uma visão integrada do sujeito e de suas necessidades.
Contudo, Berbel (1995) apresenta que o Ensino Superior no país
deve objetivar preparar os sujeitos para a vida em sociedade, voltando-se
para a preparação profissional, construção e reconstrução do saber,
formação do cidadão e participação na construção de uma sociedade que
seja justa, livre e desenvolvida. Com isso, os problemas precisam ser
enfrentados e resolvidos tanto racional e criativamente como individual e
coletivamente, buscando formas de trabalhar com o estudante, de maneira
apropriada, respeitando suas características e desenvolvendo suas atitudes,
habilidades, conhecimentos que estejam em consonância com os objetivos
da graduação.
97
A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE ÉTICA
E O DESENVOLVIMENTO MORAL
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ _______________ ___________ ____________ ____________ ____________ _______________ _
No presente capítulo, serão apresentadas as definições de moral e
ética, a formação da personalidade ética e a interligação entre afetividade e
cognição na construção desta personalidade ética. O trabalho com a
afetividade assume importância, nestas discussões, quando o psicólogo
constantemente precisa desenvolver práticas que estejam ligadas ao outro.
Também abordaremos o desenvolvimento moral para Jean Piaget e a
discussão de dilemas morais segundo Lawrence Kohlberg e Georg Lind.
Essas são reflexões importantes quando pensamos na formação do
psicólogo, que é o objetivo maior nesta obra.
Definindo Moral e Ética
Para La Taille (2006, p.25), a moral e a ética são conceitos
empregados como sinônimos, em que ambos se referem “a um conjunto
de regras de conduta consideradas como obrigatórias”. Mas, quando se
pensa no meio acadêmico, a moral é usada para valores, princípios e regras,
e ética está relacionada a reflexão destes. Também há distinção desses
termos, pois moral está relacionada ao dever e ética à felicidade e ao campo
das virtudes (LA TAILLE; SOUZA; VIZIOLI, 2004).
Para Bataglia (2001), a ética está relacionada aos princípios
determinantes de juízo de valor ou que dirigem ações que implicam tais
juízos, e como exemplo poderia ser discutida a coerência ou incoerência
dos princípios. Já moral está relacionada com o “bem” e o “mal” nas
98
situações, que dependem também do espaço e do tempo. Como exemplo,
temos o quanto o psicólogo agiu bem em uma situação da profissão. Por
moralidade há o entendimento à conformidade ao que é considerado
“bem” pelo sujeito. Bataglia (2001, p.11) complementa que “a moral
poderia ser definida para o indivíduo como o conjunto de regras (com
determinados conteúdos) que ele adota, às quais se conforma e procura
seguir. Pelo contrário, quando falamos de Ética, referimo-nos a
princípios”.
Atualmente o emprego do termo ética é mais frequentemente
utilizado que o de moral, certamente pôr as referências à ética aparentarem
serem mais sofisticadas e liberais e as referências à moral mais autoritárias
e moralistas (TOGNETTA; LA TAILLE, 2008). Neres e Lima (2011)
complementam que a palavra ética vem do grego (ethos) e moral vem do
latim (mores), e referem-se a costumes, mas as diferenças entre ética e moral
são bastante significativas e se confundem. As autoras continuam
contribuindo para a compreensão da diferença entre os dois conceitos
quando apresentam que moral corresponde à como devo agir, ou seja, está
relacionada aos deveres. Já ética corresponde a que vida quero ter, à
qualidade da vida. É nesta perspectiva que Tognetta (2009a, p.22)
apresenta que “se a Moral nos infunde um sentimento de obrigatoriedade,
a ética nos impele a olhar para aquilo que nos move a uma vida boa [...] o
que quero para minha vida?”.
Tognetta (2009a, p.20) traz afirmações de Blondel de que “esse
termo (ética), que ganhou uma importância cada vez maior, veio aliviar o
inextricável embaraço daqueles que desejavam falar de moral sem ousar
pronunciar a palavra”. A autora traça um panorama histórico das primeiras
ideias que definem os conceitos trabalhados aqui. A autora começa por
99
Platão, na Grécia antiga, dizendo que “ainda que não se remetesse
diretamente ao tema da moral, Platão já adiantava a presença de duas
instâncias que seriam retomadas por seus sucessores: a razão e afetividade”
(TOGNETTA, 2009a, p.20). Já em relação a Aristóteles, Tognetta
(2009a, p. 20-21) “definiria o caráter de um homem como uma firme
disposição do querer [...] não desconsideraria, de forma alguma, a
necessidade do dever moral [...] há uma energia que nos move, pois,
segundo tal autor, para agir bem, é preciso uma disposição”.
Para Kant, “o bem como um ideal a ser conquistado pela tomada
de consciência, racionalmente, pela legitimação de um preceito
imperativo: age segundo uma lei que o submeta a fazer o bem a qualquer
um que seja. Assim, seria o bem irrestrito que conduz a moral”
(TOGNETTA, 2009a, p.21). A autora continua destacando os
pensamentos de Descartes de que “a razão é aquela que nos dirige para o
conhecimento da verdade e para a escola do bom caminho. Ela não só nos
permite tomar conhecimento do mundo como permite escolher entre o
bem e o mal”. Tognetta (2009a, p.21) apresenta também a compreensão
de Shopenhauer, que coloca “o afeto no lugar do dever entendendo o
próprio agir por dever como um ato afetivo [...] o fundamento exclusivo
da moral não é agir por dever e, sim, é querer o bem-estar alheio”. Outro
pensador, apresentado por Tognetta (2009a, p.22) é Bérgson que traz que
“jamais, nas horas de tentação, sacrificam-se à coerência lógica, o interesse
próprio, a paixão, a vaidade”. A autora ao citar Rauhl diz que “se a Moral
pode ser considerada uma crença, pode-se dizer que uma crença não se
prova, mas se sente”. E conclui dizendo que “é por dever que agimos bem
e, portanto, é pela consciência deste mesmo dever que guiamos nossas
ações para com todos” (TOGNETTA, 2009a, p.22).
100
La Taille (2006) complementa que moral é falar em deveres e ética
em busca de uma vida boa que realmente deve ser vivida. Para tanto, ética
está ligada a valores e aos princípios de um determinado grupo social,
histórica e economicamente definidos, enquanto que as normas são
provenientes deste princípios e valores, pois as regras são definidas a partir
destes conceitos (NERES; LIMA, 2011).
Tognetta (2009a) defende que a moral é composta por um
conjunto de deveres, inspirada pela tomada de consciência e, por outro
lado, a ética é inspirada por uma energia, ou seja, a afetividade. Já Goergen
(2001, p.153) diz que a serventia da educação moral não é para a
internalização das normas corretas, mas sim, para aprender que as “normas
são necessárias como parâmetros de salvaguarda de princípios mínimos de
convivência humana [...] e para aprender a lidar com estes princípios em
circunstâncias concretas”. A educação moral permeia toda a estrutura e as
relações que se estabelecem na escola.
Para Aristóteles (1996, p.118), moral é compreendida como “toda
ação e todo propósito, visam a algum bem”. Lima (2011) complementa
que Aristóteles considera que a busca pela felicidade está em buscar a
excelência moral, e esta está na prática de virtudes. Chauí (1999) nos
apresenta que o estudo da moralidade foi tema da Filosofia, mas que aos
poucos outras ciências humanas, como Psicologia, Sociologia e
Antropologia também foram definindo objetivos, métodos e resultados. A
Psicologia configura-se como uma destas identidades, e tem como uma de
suas áreas de estudo a Psicologia Moral.
Para Lima (2011), La Taille atribui a possibilidade do estudo da
moral como disciplina científica a Lévy-Bruhl, com sua obra La morale et
la science des moeurs, com a necessidade de uma ciência dos costumes,
101
buscando o conhecimento de leis que regem a moral humana. Piaget
também concordou com as ideias de vy-Bruhl. Os estudos de Piaget
sobre a moral serão apresentados a seguir, a partir de sua obra Juízo Moral
na Criança, importante para o desenvolvimento da Psicologia e da
Educação.
Com a ampliação das pesquisas sobre moralidade em Psicologia, a
partir das décadas de 1950 e 1960, os seguintes temas passam a ter
destaque: a interferência dos afetos e das emoções tanto nos juízos quanto
nas ações morais; a preocupação com normas que regulem a convivência
entre os pares, a partir das pesquisas sobre virtudes; os estudos sobre a
educação moral; os sentimentos morais; a personalidade moral; na
interdisciplinaridade, como a ecologia; e no envolvimento da moralidade
com temas como mídia, ética e justiça (LIMA, 2011).
Outros pesquisadores (ALMEIDA et al., 2013; ASSAD, 2013;
BATAGLIA et al., 2013; HADDAD; BATAGLIA, 2007; OLIVEIRA;
REGO, 2008; SERÓDIO, 2013; SHIMIZU et al., 2011) também vêm
buscando estabelecer relações entre a competência moral, o juízo moral, a
função da cultura e da religião sobre o desenvolvimento moral, bem como
utilizando e aprimorando instrumentos desenvolvidos por Piaget,
Kohlberg e Lind no entendimento destes conceitos e relações.
Os valores morais estão em constante modificação, pois são
determinados pelas condições históricas (CHAUÍ, 2002). E é justamente
esta questão que a educação precisa rever, e mais, rever sua forma de
atuação, pois a sociedade está em modificação, de valores e de princípios,
e a educação precisa acompanhar tais transformações, a fim de realmente
contribuir para a formação de indivíduos. A “crise de valores” que Puig
(1988) se refere em sua obra é um desafio para os educadores que terão
102
que rever seus próprios conceitos, valores e princípios para poder
contribuir com uma sociedade tão pluralista e imediatista, deixando a
função de transmissor do conhecimento e de valores, mas assumindo o
papel de formador e de defensor da construção do conhecimento.
Uma educação moral é aquela que respeita a autonomia do
indivíduo, parte do diálogo, considera os interesses pessoais e coletivos,
valoriza a cultura e os direitos humanos (NERES; LIMA, 2011). Não é
simplesmente um controle da indisciplina, tema tão presente nas
discussões a respeito da atual situação educacional. La Taille (2001) diz
que disciplina significa regras e corresponde à moral, que por sua vez é o
respeito às normas de convívio. Então um indivíduo indisciplinado é
aquele cujos valores não estão de acordo com as regras, seja porque elas são
incoerentes ou ditadas por uma autoridade que não exerce realmente o seu
papel.
Lima (2011) destaca que, para Piaget, a base filosófica da
moralidade está pautada no respeito, que primeiramente está associado à
coação dos adultos e mais velhos sobre as crianças e, depois, ao grupo social
e seus componentes, pelas normas e regras que são discutidas, aceitas e
respeitadas. Continua enfatizando que, no Brasil, a moralidade teve
significados sociais e políticos, inclusive pela influência da igreja e pelas
disciplinas de Educação Moral e Cívica durante o governo militar. Assim,
a palavra moral teve uma interpretação negativa, adquirindo o sentido de
normas restritivas e de cerceamento da liberdade.
Mas o que se pretendeu discutir nesta seção é justamente a
afirmação de Ricoeur (1900) apud Tognetta (2009a) de que perspectiva
ética é uma perspectiva de vida boa, para e com outrem, em instituições
que sejam justas. Ou seja, quando pensamos em Moral, estamos nos
103
remetendo a que vida devemos seguir (como um dever), enquanto quando
falamos em Ética, associamos a vida que queremos ter (como uma
disposição). A formação dos sujeitos no processo educacional somente
estará pautada nos princípios éticos quando realmente houver uma
preocupação com o outro, quando identificarmos os nossos sentimentos e
os do outro, interligados neste complexo sistema de relações.
A formação da Personalidade Ética
Tognetta (2009a, p.83) apresenta que para a formação da
personalidade ética deveria haver uma correspondência das imagens que
temos de nós com os conteúdos morais pois, para que haja a formação
desta personalidade ética, é necessário que olhemos para nós mesmos, ou
seja, “é preciso que as representações que um sujeito tem de si busquem
uma boa imagem, cujos conteúdos sejam éticos”.
Mas como formar uma personalidade ética, integrando os valores
éticos e morais? Isso irá depender de uma construção de um sistema de
valores que acontece pela interação com o meio em que o sujeito está
inserido, dependendo de seus investimentos afetivos em relação aos objetos
(TOGNETTA, 2009a). Para a formação da personalidade ética, é preciso
relacionar o que devo fazer (moral) com que vida eu quero ter (ética),
considerando a dimensão da afetividade. Assim, uma ação moral “depende
de sua integração à identidade ao sujeito, ao seu sistema de valores, ao que
valoriza, ao que se envergonha, ao que admira” (TOGNETTA, 2009a,
p.87). La Taille (2006) acredita que a construção da personalidade ética
deva ocorrer a partir da consideração do dever moral, que não é externo ao
indivíduo e que quando este toma uma decisão deveria considerar os
princípios morais, não a considerando apenas como convenção imposta.
104
Vidigal (2011) compreende a formação da personalidade ética
como a busca da autonomia e o desenvolvimento desta autonomia
ocorrendo a partir da reflexão do sujeito do porquê de suas ações e da
tomada de consciência das causas e consequências das mesmas. Na
autonomia, quando ocorre a tomada de decisões, há a consideração dos
pontos de vista do próprio sujeito como de outros, em busca de uma
solução que atenda da melhor forma a todos. A autora acrescenta que um
desenvolvimento moral é possível se percebermos o outro e trabalharmos
com as diferenças, sendo que assim, o desenvolvimento moral configura-
se como requisito básico na construção da personalidade ética. Essa
evolução do desenvolvimento moral será abordada mais adiante, a partir
da teoria de três autores: Piaget, Kohlberg e Lind.
Mas para se formar uma personalidade ética nos sujeitos, o sistema
educacional tem a tarefa de contribuir para que seus estudantes se
compreendam com valor e dignidade, que construam imagens de si que
sejam capazes de julgar moralmente e que se comovam com a dor do outro
(TOGNETTA, 2009a). A referida autora também complementa que o
educar para a ética é levar crianças e adolescentes a um constante pensar
sobre suas próprias ações, falar sobre sentimentos, se sentirem valorizados
e terem suas opiniões respeitadas.
O ambiente também desempenha um papel importante no
desenvolvimento moral e da personalidade ética, quando ele contribui para
uma formação autônoma do sujeito (VIDIGAL, 2011). Ambientes
cooperativos e democráticos que permitem que aconteça trocas sociais por
reciprocidade, contribuem para o desenvolvimento da autonomia moral e
intelectual (ARAÚJO, 2003). As crianças e adolescentes devem participar
das decisões da escola, da necessidade de existir da regra, para que assim
105
possamos pensar a educação ética e a formação moral (TOGNETTA,
2009a).
Para Vidigal (2011), o ambiente, a postura dos docentes e os
questionamentos feitos cotidianamente por estes aos estudantes
influenciam tanto no cognitivo quanto nos valores dos estudantes. Com
isso, a mesma autora completa que os docentes não transmitem somente
os conhecimentos específicos da disciplina que ministram, mas as ações
deles demonstram aquilo em que acreditam. Tal exposição permite que
associemos o papel do professor na formação de estudantes mais críticos e
reflexivos. Se não temos professores que trabalhem sob esta perspectiva
dificilmente teremos estudantes formados nesta proposta educacional.
Assim Vidigal (2011, p.23) traz que para que ocorra a formação da
personalidade ética, as representações de valores morais devem estar
integradas na personalidade dos indivíduos e “as imagens que uma pessoa
tem de si podem ser aspectos integrados à sua personalidade ou somente
aspirações, desejos. Essas imagens também podem ser ligadas a valores
morais”.
Tognetta (2009a) sugere que a personalidade está em construção
desde dos primórdios do pensamento, por meio das relações afetivas inter
e intraindividuais e para que haja o entendimento desta personalidade
configura-se como primordial a compreensão da identidade e das
representações que o sujeito cria sobre si próprio. Desta forma, Puig (1998)
considera que, em uma intervenção educativa que vise o desenvolvimento
da moralidade, é imprescindível o entendimento da educação moral como
uma construção pessoal, que utilize as situações da realidade social. O autor
acredita que uma educação moral pressupõe a consideração da incerteza
do sujeito, e a problematização moral, a construção de um modo de ser
106
que esteja ligada à improvisação e à criatividade. E ainda complementa que
uma consciência moral heterônoma e autônoma se origina das práticas
sociais, das interações que são mediadas pela linguagem, e são nas relações
em que há respeito mútuo e cooperação que aparecem as formas morais
autônomas. Para Vidigal (2011), esta consciência moral autônoma pode
ser considerada como uma entidade funcional, que é constituída por
instrumentos procedimentais, compreensão, juízo moral e auto regulação.
Quanto a esta última, a autora explora que está relacionada tanto às
faculdades cognitivas e reflexivas quanto ao esforço de cada um para dirigir
a sua própria conduta.
Vidigal (2011, p.28) diz que “a compreensão torna possível
reconhecer a particularidade de cada situação, não só pela razão, mas
também pela consciência, pelo sentimento de equidade, o espírito de
conciliação, a benevolência e o amor”. Já quando se fala em uma
consciência moral autônoma, Puig (1998) apresenta que ao mesmo tempo
que o juízo moral (instrumento da consciência moral) necessita de tempo
para que o seu desenvolvimento e formação e consequentemente, para
elaboração de raciocínio e capacidade de agir com coerência nas variadas
situações, também a dominância e o uso cotidiano se convertem em
hábitos para a atuação na resolutividade dos conflitos morais.
As ligações afetivas (amizade, parentesco, exposição da intimidade,
vergonha) são fatores importantes na determinação da moralidade, bem
como na diferenciação do juízo moral expresso e da ação. Também se
configura como importante a localização da disposição da moralidade no
indivíduo, pois, na formação da personalidade, valores que não são
considerados morais podem ser centralizados, enquanto valores morais
podem estar como periféricos. Tal situação traz uma explicação do porquê
107
algumas pessoas agem de uma determinada forma e outras não. A inversão
de valores apresenta suas causas de acordo com o grupo em que o sujeito
convive (LIMA, 2004).
Feitosa et al. (2013) apresentam que as capacidades morais podem
ser observadas e medidas, configurando-se como de grande relevância para
a compreensão do comportamento humano. Desta forma, quando falamos
em uma conduta moral-democrática, estamos considerando os ideais
morais ou democráticos do sujeito, e inclusive sua capacidade ou
competência para colocar em prática os ideais em sua vida diária. Portanto,
moral, democracia e educação estão interligadas, por isso, a educação deve
assumir a formação de princípios para que haja um bem-estar social e a
solução de conflitos sem que permeie a violência.
Lind (2007) destaca que para uma formação geral em um sistema
democrático, além da transmissão de conhecimentos e de capacidades
técnicas (importantes para o bem-estar social), deve haver a compreensão
das capacidades morais e democráticas. Assim, no construtivismo
entendemos formação da consciência moral como sendo a construção do
sujeito na interação com o meio em que está inserido, portanto, as relações
sociais permitem que a criança se desenvolva moralmente
(DELLAZZANA-ZANON et al., 2013). A educação, a partir do
momento que permite a interação de sujeitos diferentes com experiências
e valores também constituídos diferentemente, está propiciando o
desenvolvimento moral.
Portanto, com as discussões propostas sobre o desenvolvimento da
personalidade ética e das reflexões sobre o desenvolvimento moral, espera-
se que a educação seja um campo propício para a construção desta
personalidade ética em todos os envolvidos no processo educacional. Mas
108
antes é preciso que haja uma transformação na maneira como as práticas
pedagógicas vêm sendo construídas no sistema educacional, desde a
educação infantil até a graduação.
A Interligação entre afetividade e cognição na construção
da Personalidade Ética
Os conceitos de moral (provindo da ação do indivíduo) e ética
(conotação mais teórica, social e coletiva) estão interligados, pois
encontram-se nas práticas dos sujeitos e nas interações sociais, frente a
garantir qualidade para as relações e interações estabelecidas entre os
indivíduos e a sociedade. Tanto os princípios quanto os valores morais
podem servir como orientadores das ações e interações que o sujeito realiza
no convívio social, bem como na resolutividade que realiza dos dilemas
éticos da realidade (BARRIOS; MARINHO-ARAÚJO; BRANCO,
2011).
Piaget (2014) afirma que não existe mecanismo cognitivo sem
elementos afetivos, sendo o contrário também verdadeiro. A afetividade
desempenha a função de uma fonte energética da qual dependeria o
funcionamento da inteligência, mas não suas estruturas. A afetividade não
gera estruturas cognitivas e não modifica as estruturas no funcionamento
das quais intervém. Em outras palavras, nesse caso particular, como em
todos os outros, a “estrutura” já é pensamento, em oposição à energética
em jogo, que é somente afetiva” (PIAGET, 2014, p.354).
Com isso, Freitas (2003) prioriza que na condição humana existe
uma indissociabilidade entre a inteligência e a afetividade, e que as
construções cognitivas caminham com a constituição dos sentimentos.
109
Piaget em suas discussões sobre as duas morais, afirma que na moral
heterônoma, a criança obedece às regras, tanto para ser agradável como
para que os exemplos dos pais permaneçam como registros afetivos do
respeito heterônomo e, assim, comandem os julgamentos morais (LIMA,
2011).
Lind (2007) demonstra que Piaget aderiu às diversas tendências do
desenvolvimento moral, mas principalmente, considerou que a moral tem
um aspecto de capacidade ou cognitivo, e que provavelmente é tão
importante para o comportamento moral como a afetividade. Desta forma,
a moralidade está pautada na integração dos aspectos cognitivo e afetivo, e
para que ela se desenvolva, o contexto social é imprescindível, pois é nele
que os estudantes interagem e que é possível o desenvolvimento da
aprendizagem.
Outro ponto de discussão são os sentimentos presentes na gênese
da afetividade, tanto descritos por Piaget quanto por outros autores e que
contribuem para o ponto máximo do desenvolvimento, que é a formação
da personalidade ética (o autor La Taille chama o sexto estágio de
desenvolvimento afetivo, do ponto de vista moral, de construção da
personalidade ética) e é somente neste estágio que acontece a formação de
um sentimento próprio na formação desta personalidade ética, que é a
vergonha (TOGNETTA, 2009a). Enquanto que os sentimentos de amor,
medo, confiança, simpatia, indignação e culpa estão presentes na
heteronomia, ou como apresenta La Taille, no despertar do senso moral.
La Taille ([20--?]) defende que desde o nascimento a criança é
submetida a pequenas regras de conduta, hábitos ou rotinas e assim, vai
aprendendo que há coisas que devem ser feitas e outras que não devem ser
feitas, mas somente entrará no universo moral quando ela penetrar o
110
universo do dever (pois a compreensão dos deveres dependerá do
desenvolvimento da inteligência) e querer participar dele, compreendendo
intelectualmente esses deveres (a isso chamamos de senso moral).
Podemos compreender que os sentimentos (amor e medo,
confiança, simpatia, indignação, culpa e vergonha) presentes nesse
despertar do senso moral, que são necessários ao “querer agir” moral, e que
se desenvolvem sequencialmente, modificando-se e aplicando-se a novos
objetos e conteúdos, mas sempre se fazendo presentes (LA TAILLE, [20--
?]). O mesmo autor, também destaca a distinção, mas não separação entre
as dimensões intelectual e afetiva do agir moral, bem como, se dedica a não
confundirmos moral (que são os deveres) com ética (que é “vida boa”), que
vão interagir incessantemente na psique humana.
Segundo Tognetta (2009a), Piaget concluiu o desenvolvimento
afetivo pela formação da personalidade, que quando vemos o seu
significado na Psicologia da época, nos remetemos a persona que se refere
às máscaras do teatro grego. A evolução da personalidade para Piaget
mostra a progressiva construção de um si mesmo. Assim, o trabalho com
a afetividade na escola deve referir-se à construção do autor respeito, que
consequentemente conduzirá ao respeito ao outro. Desta forma, se as
instituições educacionais não reconhecerem a necessidade de considerar os
sentimentos, não haverá como controlar os comportamentos, pois é a
energia que alimenta a ação, e é por esta energia que será construído o
respeito por si. É com essa grande contribuição da Psicologia Moral, que
nos permite concluir que somente no momento em que os estudantes
desejarem serem vistos como generosos, justos e solidários é que temos a
possibilidade de serem sensíveis aos sentimentos dos demais
(TOGNETTA, 2009a).
111
Para Tognetta (2009a), pensar em educação moral exige que haja
uma adequação do currículo escolar. As disciplinas atuais, as propostas
superficiais de trabalho com os temas transversais não têm permitido que
haja um desenvolvimento da autonomia do sujeito, bem como a
construção do autor respeito, do respeito ao outro, e da consideração dos
sentimentos de todos os envolvidos nas situações escolares.
Piaget ([1944] 1977) já dizia que é impossível ensinar os estudantes
a pensar, pois pensar é criticar livremente e é demonstrar de maneira
autônoma, pressupondo o livre jogo das funções intelectuais e não o
trabalho sob coerção e repetição verbal. O papel da educação, segundo
Tognetta (2009a) é o de formar uma personalidade ética, compreendida
como a possibilidade de se ver com valor e com dignidade e assim,
construir imagens de si capazes de julgar moralmente e de se comover com
a dor do outro.
Desta forma, Sampaio (2007) aponta que os trabalhos de Piaget e
Kohlberg foram importantes para o desenvolvimento dos estudos sobre a
moral e, consequentemente, para a própria Psicologia. A partir de tal
perspectiva psicogenética, a moralidade adquiriu uma dimensão que evolui
por meio das interações sociais e do desenvolvimento cognitivo e afetivo,
não podendo ser apenas ensinada pelos conteúdos do currículo tradicional
escolar. O autor também destaca que Piaget e Kohlberg sofreram críticas
teóricas por alguns estudiosos que desconsideraram a importância dada por
eles para a afetividade no campo da moralidade.
No entanto, como sabemos, Piaget (1976) defendeu que afetivo e
cognitivo são aspectos inseparáveis, mas distintos, pois o afetivo depende
da energia e o cognitivo da estrutura, sendo distinguíveis pela observação
ou mensuração. Kohlberg (1992) afirmou que interpretaram
112
erroneamente sua teoria e a de Piaget, pois os dois propõem uma base
estrutural comum e paralela entre a afetividade e a cognição, e que os
julgamentos morais não podem ser considerados puramente cognitivos,
pois também possuem componentes afetivos e motivacionais. Lind
(2000b), por sua vez, defende que tanto afeto quanto cognição devem ser
medidos como aspectos do mesmo conjunto de comportamentos. Com
isso, justifica-se, a partir de três autores, a ligação entre afeto e cognição na
construção da moralidade, mas também se destaca que, principalmente
Piaget e Kohlberg, não estudaram profundamente a relação da afetividade,
da cognição e da moralidade, deixando lacunas empírico-teóricas, que
proporcionaram espaço para outros autores divergirem sobre as teorias
construídas acerca da moralidade, como é o caso de Martin Hoffman, que
investigou afetividade a partir da perspectiva desenvolvimentista, fora do
âmbito clínico (SAMPAIO, 2007).
Hoffman (1987) em seus estudos do desenvolvimento da empatia
sobre o julgamento e comportamento morais, compreendeu que a empatia
é uma experiência em que o indivíduo vivencia uma resposta afetiva muito
mais adequada a outro do que a si mesmo. Assim, a empatia aconteceria
quando uma pessoa vivencia situações negativas, dolorosas, ou mesmo de
perigo, despertando nos outros estados afetivos semelhantes aos que estão
sendo observados.
Sampaio (2007) enfatiza que a Psicologia tem contribuído na
investigação e compreensão do desenvolvimento moral, mas não caminha
progressivamente na aplicação destes conhecimentos além dos contextos
experimentais. Já a Educação trabalha no desenvolvimento social e moral
de forma didática, enfatizando sobretudo os aspectos cognitivos e
valorizando temas para a formação dos estudantes, que estejam voltados ao
113
ingresso no ensino superior ou no mercado de trabalho. A preocupação
com a formação para a vida e para a atuação enquanto cidadão é deixada
para segundo plano, ou mesmo esquecida pelo sistema educacional
vigente.
A Educação precisa ser um espaço dialógico, que vise mais a
afetividade e repense as noções de moralidade que são trabalhadas. Para
isso, rever os objetivos da Educação e mesmo da Educação Moral é
imprescindível para a interlocução e fortalecimento entre Psicologia e
Educação. Quando se fala em educação moral, a consideração dos aspectos
afetivos é tão importante quanto os cognitivos, pois moralidade não pode
ser ensinada como qualquer outro conteúdo em que uma pessoa ensina e
a outra aprende de forma passiva. As investigações sobre a moralidade e a
afetividade têm evoluído nas últimas três décadas, contribuindo para o
entendimento de tais processos, principalmente pelo estudo das teorias de
Piaget, Kohlberg e Hoffman, nos contextos educacionais. Os Estados
Unidos têm desenvolvido programas e novas tecnologias educacionais para
o desenvolvimento sociomoral e afetivo neste contexto específico
(SAMPAIO, 2007).
Com relação ao processo de mudança da educação moral, outros
países já iniciaram tais mudanças, mas o Brasil caminha a passos lentos,
com distanciamento entre a prática e a teoria. Poucas notícias de ações têm
sido vinculadas como realmente eficazes. Uma das estratégias pode ser a
criação de espaços educacionais em que os estudantes possam opinar e ser
responsáveis pelas decisões, tendo o conhecimento sobre o
desenvolvimento moral e afetivo como integrantes, também da formação
dos educadores, e temas sobre ética, valores, direitos e justiça colocados
114
como discussão, sempre prevalecendo o respeito entre todos os integrantes
do grupo (SAMPAIO, 2007).
Outro fator que necessita de discussões é o quanto a formação em
Psicologia vem contribuindo para esta interligação entre afetivo e cognitivo
a fim da construção da personalidade ética, pois ao longo do tempo houve
uma separação nos estudos entre as dimensões cognitiva e afetiva, o que
configura-se como uma das principais deficiências da Psicologia, tendo
como base que este saber científico compreende o processo de pensamento
como sendo um fluxo autônomo de pensamentos, que estão dissociados
da plenitude da vida, das necessidades, dos interesses pessoais, bem como
das inclinações e dos impulsos do indivíduo pensante (VIGOTSKY,
1993).
Com certeza, se não tivermos um projeto pedagógico do curso de
Psicologia que contemple a interligação entre afetividade e cognição, bem
como docentes que não compreendam a importância desta relação na
constituição do sujeito em formação, inclusive nas relações que este
estabelece com os indivíduos durante os processos de intervenção, não
conseguiremos avançar em termos da construção da personalidade ética. A
base (projeto pedagógico e atuação docente) dos cursos de graduação
precisam passar por transformações para que estas possam atingir
positivamente os estudantes e, consequentemente, que estas mudanças
também atinjam as práticas profissionais. Formar psicólogos
comprometidos com uma atuação mais ética da profissão (não seguindo
apenas as regras colocadas pela profissão, mas que consigam refletir a
respeito de tais regras), que consigam lidar com os seus sentimentos e
percebem os sentimentos daqueles com quem se está trabalhando, que
115
estejam dispostos a querer com o outro, pensando no social, certamente é
um grande desafio que se instaura.
A afetividade e suas primeiras implicações
Piaget (2014, p.39) compreende afetividade como sendo “os
sentimentos propriamente ditos, e em particular, as emoções; as diversas
tendências, incluindo “tendências superiores” e, em particular, a vontade”.
Para Tognetta (2009b), a afetividade pode ser entendida como uma
energia presente desde o início da vida que nos direciona a nós mesmos e
ao outro. La Taille (1996) afirma que a afetividade não é uma causa da
inteligência, não vai engendrar e nem modificar as estruturas cognitivas,
irá intervir no conteúdo das estruturas, mas não em sua construção e
forma. Em cada estágio do desenvolvimento, são passíveis de se observar
transformações coerentes em ambas.
Araújo (2003, p.156) define afetividade como sendo “um termo
genérico que dá qualidade ao que é afetivo, que dá significado ao conjunto
de afetos que sentimos em relação a nós mesmos e aos demais, à vida, à
natureza, etc”. Tassoni (2000) discute que há grande divergência quanto à
conceituação dos fenômenos afetivos, pois, na literatura, encontra-se a
utilização dos termos afeto, emoção e sentimento, como sinônimos. Mas
ressalta que a afetividade tem uma significação mais ampla e refere-se às
vivências dos sujeitos e a uma maior complexidade nas relações
essencialmente humanas.
Velthuis e Ferreira (2004) compreendem que afetividade é a
preocupação com os estudantes, ao reconhecê-los como autônomos, com
experiências de vida diferentes da sua, que manifestam preferências e
116
desejos diferentes dos seus, aceitando-os e respeitando-os. Enquanto Pino
(1993), diz que a afetividade enquanto entidade não existe, mas ela se dá
na constituição enquanto qualidade da relação e envolve o que é
significativo para o sujeito nesta relação.
Diversos autores vão discutir as ideias de Wallon para a afetividade.
Ferreira e Acioly-Régnier (2010) por sua vez trazem que é um domínio
funcional que inclui diversas manifestações que vão se complexificando
com o desenvolvimento e que surgem de uma base orgânica e alcança
relações dinâmicas com a cognição. Quando a teoria aponta esta base
orgânica da afetividade, está resgatando o orgânico na formação do
indivíduo, indicando que o meio social gradativamente transforma a
afetividade orgânica e torna suas manifestações mais sociais. Eles acreditam
que Wallon aponta para uma ligação entre afetivo, motor e cognitivo e
para a integração dinâmica entre o orgânico e o social, compreendendo o
humano de forma não fragmentada (FERREIRA; ACIOLY-RÉGNIER,
2010). O ser humano é considerado integralmente, o que nos leva a refletir
sobre as teorias que a educação vem seguindo ao longo do tempo,
considerando a fragmentação do sujeito.
Outro autor a expor reflexões sobre a teoria de Henry Wallon é
Galvão (2003) discutindo que a gênese dos processos psíquicos que
constituem a pessoa, baseia-se numa perspectiva não fragmentada do
desenvolvimento humano, buscando a compreensão deste, a partir do ato
motor, da afetividade, da inteligência e das relações que o sujeito estabelece
com o meio. A teoria se volta para o início da vida, ao mostrar que é o
período em que as emoções são predominantes, e para isso deve estar aí a
sua compreensão.
117
Mas, para Piaget, esta afetividade não é restrita às emoções e aos
sentimentos, inclusive engloba as tendências e a vontade. Sendo que,
quando fala da afetividade e da inteligência nas condutas, remete que toda
conduta visa uma adaptação, e o desequilíbrio se traduz por uma impressão
afetiva particular, que é a consciência de uma necessidade. Para tanto,
inteligência e afetividade embora diferentes em termos de natureza, são
indissociáveis na conduta da criança, existindo uma relação entre ambas,
não permitindo uma conduta que seja unicamente afetiva ou cognitiva; no
entanto, esta afetividade não traz uma modificação nas estruturas da
inteligência, mas funcionando como um elemento enérgico das condutas
do sujeito (SOUZA, 2003).
Quando se fala em teorias de desenvolvimento da afetividade, a
abordagem piagetiana não costuma ser mencionada na mesma proporção
que a psicanálise freudiana e a teoria de Wallon. Tal fator ocorre em
decorrência de Piaget não considerar a afetividade como único fator no
desenvolvimento ou no núcleo da personalidade, mas atribuir à afetividade
função fundamental na construção dos conhecimentos sobre si, sobre o
mundo e para o desenvolvimento psicológico integral. Piaget se opõe a
ideia de afetividade que: a psicanálise apresenta como sendo
intrinsecamente ligada à libido (energia sexual); e teoria de Wallon com a
determinação de que as emoções se sobrepõem à inteligência, bem como a
alternância no desenvolvimento entre a afetividade predominando sobre a
inteligência e esta predominando sobre a afetividade (SOUZA, 2012).
Para Piaget (2014), a afetividade desempenha a função de uma
fonte enérgica, da qual depende o funcionamento da inteligência,
entretanto, não o de suas estruturas. Da mesma forma que para um
automóvel funcionar precisa de combustível, mas este não modifica a
118
estrutura da máquina. Mas ao mesmo tempo que a afetividade intervém
no funcionamento da inteligência, ela não gera as estruturas cognitivas,
bem como não modifica as estruturas no funcionamento das quais
intervém.
Observamos no desenvolvimento do sujeito um paralelismo ou
uma correspondência estreita entre transformações afetivas e
transformações das funções cognitivas ao longo dos seis estágios de
desenvolvimento. Existe uma complementariedade entre os dois aspectos,
pois a afetividade constitui a energética da conduta e a inteligência e a
percepção irão constituir a estrutura dessas condutas, para tanto, em cada
transformação da conduta haverá simultaneamente uma transformação da
estrutura (que é uma transformação intelectual) e a transformação nas
relações energéticas (que é uma transformação afetiva) (PIAGET, 2014).
A compreensão de como a constituição do afeto está presente na
primeira relação estabelecida pelo bebê, que é com sua mãe, é fator de
importância para posteriores discussões de como se dão o desenvolvimento
da afetividade em relações posteriores. Para tanto, Winnicott (2001)
compreende que o bebê não existe sozinho, mas deve fazer parte de uma
relação. E neste desenvolvimento afetivo, o rosto da mãe, permite que a
criança encontre a si mesma, pois o rosto da mãe irá refletir a imagem que
a mãe está vendo, o bebê.
Para Tassoni (2000), a relação de ensinar e aprender, que se inicia
no ambiente familiar, ocorre a partir da constituição de vínculos entre as
pessoas. Esta relação é afetiva, pois é por meio de uma comunicação
emocional que o bebê mobiliza o adulto e garante os cuidados dos quais
necessita. Assim, “é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança
119
que sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem” (TASSONI,
2000, p.3).
Nesta mesma linha de pensamento, Cunha (2012) diz que para
que haja a conquista da atenção do aprendiz o primeiro caminho é o afeto.
Este funciona como um facilitador para a educação, um mecanismo eficaz
de auxílio ao professor, que assim como os pais, é um modelo de
identificação do estudante. O professor, como uma mãe, deve olhar seus
estudantes de forma individual e compreendê-los sempre pautando o que
dizer a cada um deles por que os conhece. O professor, como um pai, que
assume a posição de responsabilidade, atuando de forma a garantir que os
direitos e deveres sejam tanto cumpridos quanto seguidos (SILVA, 2011).
Andersen (2011, p.13) destaca que “o afeto e o exercício dos limites
são os elementos mais importantes nessa tarefa e devem ser compreendidos
e treinados quase que diariamente, para que haja alguma eficácia nesse
processo de transformação social”. Contudo, o trabalho com a afetividade
é fator de urgência na educação, desde a básica até a superior a fim de que
consigamos formar sujeitos conscientes de seu papel de responsabilidade
na construção do conhecimento e no respeito aos seus sentimentos e os
dos demais.
A afetividade sendo trabalhada desde a educação infantil até a
graduação
Para que seja possível desenvolvermos propostas pedagógicas
construtivistas nos espaços de aprendizagem, os professores necessitam
compreender sobre o desenvolvimento moral da criança, mas muitos
professores dizem desconhecer a obra de Piaget sobre o desenvolvimento
120
moral. É este conhecimento que pode auxiliá-los na condução das
atividades pedagógicas que visem a construção da autonomia moral, base
para uma sociedade democrática. O trabalho com a temática da ética é tido
como um tema transversal, mas funcionando muitas vezes, apenas, como
um substituto dos horários vagos, e não como um projeto prioritário da
escola, que vise a formação de cidadãos e a discussão de questões éticas e
morais (LIMA, 2011).
A escola precisa trabalhar a afetividade considerando três
dimensões: as relações estabelecidas com a autoridade; as relações com seus
pares; e as relações que a criança estabelece consigo mesma. A escola vem
utilizando uma formação moral baseada no medo, na obediência e no
dever, mas a afetividade deve fazer parte do currículo escolar ocidental. As
regras da escola vão existir, mas é importante que crianças e adolescentes
participem das decisões quando se tornar necessária a existência de uma
regra (TOGNETTA, 2009b).
A afetividade não deve se limitar apenas às manifestações físicas de
carinho ou de elogios superficiais. Quando se adequa a tarefa às
possibilidades do estudante, fornecendo-lhe suporte para a realização das
atividades confiando na sua capacidade, demonstrando atenção às dificul-
dades e problemas apresentados pelos estudantes, determinam formas de
atuação refinadas em relação à comunicação afetiva. Experiências deste
tipo, permitem trocas afetivas positivas nos espaços de aprendizagem,
favorecendo a autonomia e fortalecendo a confiança dos estudantes quanto
as suas capacidades e decisões (TASSONI, 2000).
Leite (2006) acredita que a experiência afetiva, seja prazerosa ou
aversiva, depende da qualidade da mediação que o sujeito vivencia, durante
a relação com o objeto. Portanto, a relação estudante-professor precisa ser
121
pensada como fundamental para que haja a construção do conhecimento,
atuando o professor como mediador desta relação afetiva. Moreno et al.
(1999) apresentam que quando falta aos estudantes a educação da própria
vida afetiva e o desconhecimento das formas de interpretação e de respostas
adequadas perante as atitudes, condutas e manifestações emotivas das
demais pessoas, eles ficam à mercê do ambiente que os rodeia e do qual
pode abundar modelos de resposta agressiva, descontrolada e ineficaz
diante dos conflitos interpessoais, que, com frequência, apresentam-se em
todas as formas de convivência social. Assim, os sentimentos podem
permitir uma ligação entre conhecimento cotidiano (experimentado no dia
a dia) e conhecimento acadêmico (procedimentos e técnicas de reflexão
sobre parcelas da realidade).
Souza, Petroni e Andrada (2013) chamam a atenção para a
urgência da criação de espaços para a elaboração de questões afetivas na
escola, tanto de docentes quanto de estudantes. Sendo o psicólogo escolar
um atuante para assegurar, preventivamente, a oportunidade de que
professores e estudantes possam manifestar emoções e sentimentos, sejam
escutados e elaborem essa reflexão por meio de um processo de
conscientização sobre o que vive e o porquê de viver desta forma. Estes
momentos também se configuram como importantes por avançar no
processo de constituição identitária dos estudantes e dos professores
enquanto sujeitos-cidadãos. E em pesquisas desenvolvidas Souza, Petroni
e Andrada (2013), apresentam que se pode evidenciar que os professores
destacam o estabelecimento de vínculo e construções afetivas dentro da
escola como necessários. Mas ao mesmo tempo em que buscam essas
vivências no ambiente de ensino, estão perdidos, sem saber lidar com seus
afetos e os de seus estudantes, não tendo consciência do quanto os afetos
122
podem contribuir, facilitar a prática docente e que deve haver intervenções
nas relações afetivas e não apenas cognitivas, a fim de considerar que o
aprendizado envolve o cognitivo, o afetivo, o biológico e o social.
Moreno et al. (1999) dizem que os aspectos cognitivos e afetivos
da personalidade não podem ser considerados como opostos, e a educação
não pode voltar-se apenas para um deles e excluir o outro. São necessárias
mudanças na educação, principalmente que repensem o currículo, sem
temer prejudicar diversos interesses antigos. Tal mudança deve permitir
uma aprendizagem emocional importante na resolução dos conflitos
cotidianos (ARAÚJO, 2003).
Arantes (2003) conclui que a dimensão afetiva da personalidade
precisa ser trabalhada na escola, de forma transversal, relacionando a
temática com as demais disciplinas que compõem o currículo. A autora
propõe que os sentimentos pessoais e interpessoais sejam assumidos como
objeto de conhecimento, assim como as outras disciplinas. Desta maneira,
esta forma de conceber a educação não seria apenas um apêndice, mas uma
finalidade principal da educação. Segundo Sampaio (2007), nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), a educação deve estar
preocupada, não exclusivamente com os conteúdos acadêmicos, mas com
a formação de cidadãos que sejam comprometidos com o meio ambiente,
a diversidade cultural, a dignidade e a valorização da vida humana. Indo
mais além, com a formação e a transformação de valores e atitudes,
inclusive com os conhecimentos e valores trazidos dos diversos contextos
de que os estudantes participam. Mas sabemos que as ações propostas pelos
PCN’s nem sempre conseguem ser efetivadas na prática, por diversos
fatores que as impedem, como os culturais, econômicos e políticos, mas
uma maior aproximação entre a Psicologia e a educação podem colaborar
123
para que haja uma transformação das propostas dos PCN’s em ações de
âmbito público mais efetivas, desafiando o paradigma racionalista/
intelectualista vigente no sistema educacional (SAMPAIO, 2007).
Uma consciência moral autônoma considerada verdadeira é aquela
em que há a prevancia do respeito mútuo e da cooperação, e na qual a
afetividade seja um fator responsável pela mobilização de ações pessoais e
interindividuais (SAMPAIO, 2007). Lind (2007) compreende que a
missão da escola e da universidade, bem como a dos pais e das instituições
formadoras de crianças e adultos está em desenvolver as competências
morais, sociais e emocionais, conjuntamente com o conhecimento técnico.
Desta forma, a educação moral é considerada um processo de
aprendizagem e desenvolvimento, além da aquisição de habilidade. O
autor também considera que o homem é um ser moralmente educável, e o
desenvolvimento da moral depende da educação.
Com esta compreensão, Goergen (2007) diz que a escola deve
despertar no indivíduo a consciência de sua própria realidade, de sua
história, e criar condições para que possa ser protagonista de sua
identidade, construindo-se de forma moralmente autônoma e conduzindo
seu destino na sociedade. Para tanto, a instituição escolar precisa oferecer
oportunidades para que os estudantes assumam responsabilidades e
tenham uma Reflexão Dirigida, podendo integrar conceitos de moral e
ética às suas práxis (BATAGLIA; BORTOLANZA, 2012). Quando
falamos nesta integração teoria, técnica e prática, possibilitamos ir além
dos espaços de aprendizagem, das disciplinas curriculares ou das paredes
do ambiente de trabalho, estamos incutindo no indivíduo a
responsabilidade pelas atividades que desenvolve, o seu envolvimento com
a vida de outras pessoas, no caso da Psicologia, a ética do cuidado de
124
trabalhar com os sentimentos e afetos daqueles que recorrem a um
profissional psicólogo.
Uma outra questão é a introdução de temas morais no currículo
escolar, pois tal atitude permite o compartilhamento de diferentes opiniões
sobre os problemas morais, permitindo, inclusive, o compartilhamento das
razões sob as quais opiniões dos envolvidos se baseiam. Quando os
professores favorecem o aparecimento de conflitos cognitivos e estimulam
a tomada de uma perspectiva social, como por meio de situações-
problemas (HERSH; REIMER; PAOLITTO, 1984), estão permitindo o
desenvolvimento moral de seus estudantes. Os autores complementam que
os professores também precisam estar preparados para fomentar sua
própria consciência de temas morais e da dimensão moral envolvida nas
interações entre professor-estudante, bem como refletir sobre quais são as
características do grupo com o qual está trabalhando, pois, a partir da
consideração destes pontos, as experiências educativas poderão ser mais
eficazes e favorecerão um maior estímulo para o desenvolvimento da
moralidade.
Em contrapartida ao discutido anteriormente, Bordignon (2011)
acredita que não há conscientização, muito menos transformação social e
educacional, se aqueles que compõem a sociedade, os líderes, os
educadores, não chegarem o nível pós-convencional de desenvolvimento
moral.
Os professores da educação superior, formadores de profissionais para
a educação básica e superior necessitam do desenvolvimento dessa
capacidade reflexiva e, consequentemente, chegarem aos níveis mais
elevados de moralidade, isto é, do nível baseado em princípios, onde a
consciência moral passa a atribuir um valor moral à coerência interna
125
da pessoa e aos valores e princípios sociais internalizados (BERETA,
2014, p.159).
Quadros et al. (2010) complementam que, na comparação entre o
foco de atenção do professor de Ensino Superior e do professor da
Educação Básica, é possível perceber que o professor das séries iniciais foca
nos estudantes o seu trabalho e desenvolve uma relação de afetividade com
os sujeitos aprendizes. Com a passagem pelos níveis de ensino, mudanças
vão acontecendo nessa relação e o professor começa a focar o seu trabalho
no conteúdo. Situação esta presenciada como uma necessidade de
cumprimento de cronogramas e conteúdos que vem assumindo dimensões
cada vez maiores na realidade da educação brasileira.
Veras e Ferreira (2010) destacam a importância da afetividade no
processo de desenvolvimento do indivíduo e na relação com o outro,
devido ser por meio desse outro que o sujeito se delimita como pessoa nesse
processo em permanente construção. Para tanto, a educação precisa
assumir a formação integral do ser humano, perpassando pela necessidade
de assumir a discussão da temática da afetividade. Assim, surge a crítica
sobre os moldes que a educação vem assumindo ao longo de décadas, de
um regime autoritário sobre o conhecimento. Pensando no Ensino
Superior, o professor deve estar envolvido em todo o processo,
considerando a afetividade como parte do desenvolvimento, pautando-se
na formação integral dos estudantes e em uma vivência positiva da
aprendizagem.
A afetividade é um fator de importância no desenvolvimento do
sujeito e na relação que ele estabelece com o outro, pois é nesta interação
que nos constituímos enquanto pessoa, em um processo que está em
126
constante construção. Para tanto, é imprescindível que o professor que
atua no ensino superior se envolva neste processo, e considere a afetividade
parte do desenvolvimento, e busque a formação integral dos graduandos,
bem como priorize uma vivencia positiva da aprendizagem (VERAS;
FERREIRA, 2010).
Quadro et al. (2010) consideram que acontece um distanciamento
na relação entre professores e estudantes, nos cursos de graduação, não
tendo claro para os estudantes o que o professor espera deles e para o
professor o que os estudantes esperam dele, provavelmente pelos sujeitos
não conhecerem as expectativas de cada um nesta relação. Com isso, o
trabalho neste universo de diferentes pessoas é desafiador para os
professores e o gerenciamento dos espaços de aprendizagem torna-se uma
tarefa que precisa ser melhor compreendida pelas instituições básicas e
superiores de ensino, bem como melhor discutidas nos cursos de formação
dos professores.
Libâneo (2006) destaca que a escola se torna um local para a
formação teórica e crítica, sendo um espaço para o desenvolvimento da
razão, da reflexividade, da cultura crítica, propiciando autonomia, a
autodeterminação, a emancipação intelectual e social. Mas, para que seja
possível um estudante crítico-reflexivo, é fundamental que ao seu lado
esteja um professor crítico-reflexivo. Para Ferreira e Acioly-Régnier
(2010), a educação comprometida com a reflexão amplia e resgata
fundamentos da razão formativa a humanização, implicando novos
desafios tanto para a educação quanto para a escola, como por exemplo, o
lugar da afetividade e de suas relações com a cognição na educação. Aspecto
discutido anteriormente na interligação entre afetividade e cognição na
construção da personalidade ética.
127
Araújo (2003) destaca que, para que a escola promova a formação
ética, é preciso o emprego de formas e linguagens mais eficientes,
elucidando a projeção de sentimentos positivos, pois caso contrário, com
o trabalho de valores de forma maçante e enfadonha, passam a adquirir
novo significado, e deixam de ser a finalidade da educação, e sim um meio
para conhecerem a si mesma e o mundo onde vivem.
Terminamos estas reflexões compreendendo a necessidade do
trabalho com a afetividade durante a graduação em Psicologia, pois, com
certeza, durante sua prática profissional, o psicólogo irá trabalhar com ela.
Tal fato é também justificado por Freud (1982) que, na prática clínica, “o
analisando tem que lembrar algumas experiências e as noções afetivas
suscitadas por elas e ligadas a elas”. Pinto (2005) complementa que,
quando o psicólogo organiza psiquicamente as diversas experiências do
cotidiano, junto ao seu sujeito atendido, utiliza a afetividade para a solução
de uma situação que está gerando conflito. Conclui dizendo sobre a
importância da incorporação da afetividade no estudo psicológico, pois
“ela estaria unida ao domínio do mundo subjetivo do ser humano, fazendo
parte fundamental do funcionamento psicológico, mais precisamente do
raciocínio” (PINTO, 2005, p.49). Bock (1999a, p.198) também defende
que tanto as emoções como os sentimentos são os alimentos do psiquismo
e fazem parte das manifestações da vida, por isso, “necessitamos deles
porque dão cor e sabor a nossa vida, orientam-nos e nos ajudam nas
decisões.
Contudo, trabalhar com o outro pressupõe o trabalho com a sua
afetividade. Para tanto, a discussão proposta até aqui justifica a necessidade
de que os cursos de formação em Psicologia estejam preocupados com a
dimensão afetiva, além da cognitiva, na formação do psicólogo, a fim de
128
que as práticas profissionais estejam mais voltadas para a constituição do
sujeito enquanto autor de sua história e o papel deste, nas transformações
sociais.
Desenvolvimento moral segundo Jean Piaget
Jean Piaget (1896-1980), epistemólogo e psicólogo suíço, teve a
influência do filósofo alemão Imanuel Kant (1724-1804), que começou a
entender a moral como sendo um fio condutor que permite julgar as ações
e os costumes de diversos povos (KANT, 1974). O mesmo autor apresenta
a existência de duas tendências morais (heteronomia e autonomia), que
conduzem a pessoa e irão determinar a relação estabelecida com as regras,
as normas e as leis. Ele entende heteronomia como sendo a obediência cega
às regras, sem que haja uma consciência do significado delas, ou ainda, que
o ser heterônomo é guiado por regras que vêm dos outros e que não são
construídas, nem mesmo elaboradas pelo próprio sujeito. Por autonomia
compreende o respeito à determinadas regras construídas pelo sujeito para
si, que são baseadas em princípios de igualdade e equidade. Assim, para
Kant, agir moralmente implicará na condição do princípio de
universalidade, em que o bem deve ser um bem para toda a humanidade,
e não para culturas isoladas (LEPRE, 2005).
A obra de Jean Piaget intitulada O Juízo Moral na Criança, que foi
publicada pela primeira vez em 1932, propõe a compreensão do juízo
moral do ponto de vista da criança, bem como descreve as regras morais
que são estabelecidas durante o seu desenvolvimento. No entanto, Piaget
não aprofundou suas pesquisas nesta área por estar envolvido com questões
como o problema epistemológico ou pela posição que ocupava no Instituto
Jean Jacques Rousseau (LIMA, 2004; 2011). Mas Sampaio (2007) destaca
129
que, na referida obra de Piaget, há relatos de diversos experimentos que
demonstram que a moralidade vai se desenvolvendo com os anos e de
acordo com as aquisições cognitivas e afetivas que o indivíduo vai
conquistando. O campo de estudo da educação moral vem crescendo
constantemente, produzindo novas teorias e propostas de intervenção.
Bataglia (1996) apresenta que Piaget descreveu o processo de
desenvolvimento moral a partir de quatro momentos básicos, nos quais a
criança irá evoluir de um estado de inserção social inconsciente até um
estado de percepção mais nítido sobre o contexto social. Com a interação,
a criança reconhece as relações socais que a cercam e que estão
codeterminando a sua vida, até a constituição de valores próprios, que
determinem a sua própria individualidade. Com isso, há a passagem de um
estágio pré-moral (autocentração), para um estágio de moralidade
heterônoma (realismo moral), para o de transição entre moralidade
heterônoma e autônoma (não obediência rígida às regras), atingindo um
estágio de moralidade autônoma (em que o cumprimento do dever é
relativizado).
Atualmente, podemos entender melhor que Piaget não elaborou
uma teoria que contemplasse estágios de desenvolvimento moral, o que ele
identificou são atitudes dominantes que foram apresentadas por alguns
sujeitos, em determinadas idades, nos estudos realizados (VINHA, 2000;
VIDIGAL, 2011). Ou ainda, podemos falar em tendências dominantes
para o desenvolvimento moral dos sujeitos.
No Juízo Moral da Criança, o celebre autor estudou o jogo de
bolinhas de gude, o qual era um jogo comum aos meninos pesquisados e
os jogos de pique e amarelinha, comuns às meninas. Elaborava questões
morais no formato de dilemas ou perguntava livremente às crianças de 6 a
130
12 anos, sempre procurando estabelecer relação entre o respeito e a
moralidade. O inquérito sempre foi considerado por Piaget
importantíssimo para o melhor entendimento da estruturação do
pensamento da criança e das relações que esta estabelece com o meio
(LIMA, 2004).
Neste estudo, Piaget concluiu que há quatro estágios tendo em
vista a prática das regras. No Primeiro Estágio - Motor e Individual (que
segue até dois anos) a criança estabelece um processo de adaptação efetiva,
manipulando as bolinhas de forma exploratória e na utilização como
diversos objetos a fim de estabelecer uma ritualização. No Segundo
Estágio Egocentrismo Infantil (de 2 até 5 ou 6 anos) a criança durante
o jogo considera as regras como sagradas e imutáveis, sendo avessa à
mudanças, mas existe a característica de que por haver uma desorganização
da memória da criança até cerca de sete anos, durante um jogo, se as regras
forem modificadas, as crianças imediatamente não aceitam, mas depois elas
concordam; fato que é justificado por Piaget como uma imitação que a
criança faz dos outros e quando estão jogando sozinhas modificam as regras
sem perceberem. No Terceiro Estágio Cooperação (de 7 a 12 anos) a
criança conhece as regras e aceita as mudanças, mas o grupo precisa estar
de acordo com elas; no entanto, há a presença de infinitas regras
concomitantes quando estão jogando juntas. No Quarto Estágio
Organização do Pensamento e Autonomia (11 a 12 anos) as crianças
sentem prazer na disputa, mas interagem com as regras, que são mutáveis
e decididas pelo grupo (PIAGET, 1994; LIMA, 2004).
A partir destas interações Piaget relacionou a questão moral com o
jogo de bolinhas de gude, concluindo que existem três regras: Regra
Motora está associada à fase pré-verbal, pois a criança estabelece uma
131
ritualização de sua ação para com os objetos e, assim, os elabora; Regra
Coercitivaa criança considera as regras como sagradas e imutáveis, pois
o adulto que informa as regras é compreendido como superior e
inatingível; Regra Racional o quase adolescente compreende as regras
como modificáveis, a partir de decisão do grupo, atendendo aos desejos e
necessidades do mesmo (PIAGET, 1994; LIMA, 2004).
Piaget também considerou que as crianças aplicam
responsabilidades diferentes em seus julgamentos morais. A criança mais
nova aplica a Responsabilidade Objetiva, julgando os atos pelas suas
consequências e não pelas suas intenções, sendo que a consciência da regra
acontece externamente, mas junto ao indivíduo, sem que seja introjetada
por ele. Já crianças mais velhas aplicam a Responsabilidade Subjetiva, que
acontece em decorrência da primeira pelo desenvolvimento do juízo moral
e pelo desvencilhamento da criança em relação à coação do adulto e o
alcance da cooperação. Nesta última responsabilidade, há o
descentramento do egocentrismo, o início da percepção de intenção sob os
atos, a veracidade, o desenvolvimento da inteligência psicológica e a
cooperação (PIAGET, 1994; LIMA, 2011).
Vidigal (2011) complementa que, para Piaget, quando a criança
nasce, ela vivencia a fase da anomia, pois há um desconhecimento das
regras sociais, com isso não as considera. Quando a criança é inserida no
mundo das regras, ela ainda não as valida, mas as segue em função da
autoridade que as impõe, estando na fase da heteronomia. Quando ela não
se prende mais à regra em si, considera o princípio que a rege e aceita a
mesma, porque tem consciência de sua necessidade, tendemos a uma
autonomia.
132
Com a pesquisa apresentada no Juízo Moral da Criança podem ser
destacados dois períodos de experiência do indivíduo com a moralidade: a
Moral Heterônoma, na qual o adulto exerce controle externo sobre o juízo
moral da criança, pois a ordem e os exemplos vêm dos adultos, obrigando
o sujeito a promover uma seleção de seus comportamentos para ser aceito
e participar do grupo; e a chegada à Moral Autônoma, quando a
capacidade de raciocínio lógico e reversível, juntamente com as estruturas
de tomada de consciência sobre a construção das regras e a possibilidade
de modificá-las vão se desenvolvendo (LIMA, 2004). Puig (1998)
considera que um indivíduo autônomo é aquele capaz de agir de acordo
com a própria vontade.
Vidigal (2011) traz que, para Piaget, na autonomia será
considerada a reciprocidade nas relações e a necessidade das normas morais
e princípios passarem pelo crivo da inteligência para que haja legitimação.
Também acrescenta que o estudo piagetiano está baseado não nas ações
morais, mas no juízo, considerando a necessidade das operações lógicas
(pensamento reversível) e de conservação de valores.
Piaget investigava, com a aplicação de dilemas morais simples, as
concepções que crianças de diferentes idades possuíam sobre as regras dos
jogos, entre elas a mentira, o roubo e a justiça. O autor também usava
como estratégia de investigação o pedir para as crianças brincarem com ele,
bem como ensiná-lo a como se comportar perante as regras dos jogos,
sempre fingindo não as conhecer para assim poder questionar às crianças
conforme o prosseguimento do jogo. Crianças de pouca idade
demonstravam comportamentos heterônomos diante de questões morais,
acreditando no respeito unilateral e na figura de autoridade. Compreendeu
que crianças que tinham em torno de cinco anos não eram capazes de
133
refletir autonomamente questões morais, de estabelecer questionamentos
sobre convenções sociais e de construir sua conscncia moral de forma
independente da dos adultos. Tal autonomia somente é possível a partir
do momento que fatores cognitivos, afetivos e sociais interajam
adequadamente, inclusive quando ocorre a diminuição do egocentrismo,
a descentração cognitiva, as relações sociais, a cooperação, o respeito
mútuo, a possibilidade de reconhecer-se como igual perante aos demais, a
compreensão de que as noções morais estão relacionadas com o
estabelecimento de acordos sociais e a perspectiva grupal (SAMPAIO,
2007). Piaget ([1944] 1977, p.199) expõe que o significado essencial do
universo moral não está na regra geral, mas sim na “coerência interna das
condutas, a reciprocidade”.
Sampaio (2007) relata que, nas obras de Piaget, a moralidade se
desenvolve paralelamente à afetividade, mas o epistelogo suíço acredita
que não podemos falar de estágios de desenvolvimento moral, devido às
grandes variações entre o moral e os valores culturais. Em algumas
situações, há a prevalência de julgamentos heterônomos também em
adultos, o que o levou a considerar correto falar em diferentes fases de
heteronomia e autonomia, inclusive considerar o contexto nos quais as
investigações são realizadas.
Piaget acreditava que as interações sociais poderiam possibilitar o
desenvolvimento da consciência moral autônoma, pois permitiam que as
pessoas se descentrassem cognitivamente e enxergassem a realidade de
acordo com diferentes pontos de vista, respeitando as opiniões e valores de
outras pessoas. Desta maneira, desconstrói-se a perspectiva de que pais e
professores possam ensinar crianças sobre noções de certo e errado, de
justiça e injustiça, por meio da coerção e da imposição de normas e valores
134
(SAMPAIO, 2007). Pois para que haja uma evolução do julgamento moral
deve-se ter por base a dimensão heteronomia-autonomia, em que a
evolução passa de uma moral imposta pela autoridade (vinda de fora) para
uma moral que seja autônoma (parte da consciência individual)
(BIAGGIO, 2006).
Desta forma, a convivência com outros indivíduos é fundamental
para que haja o desenvolvimento da inteligência da criança, bem como
para a socialização e a cooperação. Puig (1988, p.80) destaca “que um
sujeito é autônomo quando é capaz de agir de acordo com sua própria
vontade. No entanto, isso não impede que se possa agir como juiz de si
mesmo, mas por delegação de uma instância alheia: pode-se usar a
consciência moral de modo heteronômico”. Podemos enfatizar que a
consciência moral permite que tenhamos sujeitos mais crítico-reflexivos de
seu papel social e de seu posicionamento sobre a realidade que nos cerca.
E para o desenvolvimento dessa moralidade, é de fundamental importância
que estejam presentes a competência no enfrentamento de deveres e
dilemas éticos da profissão docente, sendo fator de destaque para a
formação continuada do professor (BARRIOS; MARINHO-ARAÚJO;
BRANCO, 2011), que muitas vezes deixa para segundo plano a reflexão
de tais fatores.
Bataglia (2001) discute que, para Piaget, o desenvolvimento moral
não está reduzido a um processo de aculturação, nem ao registro de normas
e valores culturais, nem ao processo de deflagração de normas e valores,
mas pautado nas trocas entre o indivíduo e o meio. Bataglia (1996)
também complementa que, quando pensamos em um nível de
desenvolvimento moral inferior, podemos compreender um
relacionamento com o outro e consigo mesmo prejudicados devido ao
135
autoconhecimento e ao desenvolvimento social, pois há ausência de
reversibilidade e de perspectiva social. Em suas pesquisas com psicólogos,
a referida autora conclui que é interessante uma reflexão sobre o nível de
desenvolvimento moral desses profissionais, pois é esperado que os
psicólogos (que têm a função de auxiliar o desenvolvimento do ser
humano) alcancem um desenvolvimento moral superior, baseado em um
senso de justiça, em que haja o predomínio de escolhas universais e
autônomas. No entanto, as discussões propostas são a de revermos a
formação dos psicólogos no Brasil, a fim de melhor entendimento de como
a graduação está contribuindo para a construção de uma personalidade
ética destes futuros profissionais.
Discussão de Dilemas Morais segundo Lawrence Kohlberg
Lawrence Kohlberg nasceu em Nova York no ano de 1927 e
faleceu em Winthrop, no ano de 1987. Em 1945, engajado na Marinha
Mercante, ajudou refugiados a escaparem para a Palestina. Seu interesse
sobre o desenvolvimento da moralidade e a noção de justiça pode ter
surgido no período que ficou em um campo de concentração. Fez
Bacharelado na Universidade de Chicago e queria se tornar psicólogo
clínico, mas foi encantado com as ideias de Piaget sobre o desenvolvimento
moral de crianças e adolescentes, que contribuíram para a sua tese de
doutorado em 1958, em que ampliou a obra de Piaget e propôs seis
estágios na identificação do desenvolvimento moral (VIDIGAL, 2011).
Segundo Kohlberg, Power e Higgins (1997), Kohlberg realizou um
estudo longitudinal de 20 anos para justificar que os níveis de juízo moral
que foram identificados por ele estavam ligados aos estágios piagetianos.
Na década de 1960, desenvolveu uma teoria cognitivo-evolutiva de
136
moralização para explicar a interação do indivíduo com o meio ambiente,
a passagem do sujeito para a etapa seguinte, porque o desenvolvimento de
alguns sujeitos é maior do que o de outros, e a relação entre cognitivo,
sentimentos e ações morais. Já, no final da década de 1960, concentrou na
aplicação da teoria de desenvolvimento moral na educação. Os trabalhos
de seu estudante Moshe Blatt contribuíram para essa segunda fase de sua
carreira profissional.
Sua teoria cognitivo-evolucionista traz as discussões sobre o
conceito de estágio e a reorganização sequencial relacionada com a idade e
desenvolvimento de atitudes morais (KOHLBERG, 1984). Acreditava que
as estruturas sociais são necessariamente dependentes das estruturas
cognitivas, da mesma forma que os afetos e as atitudes dos sujeitos. Uma
estrutura não se distingue da outra, assim as ações morais apresentam
também um elemento cognitivo formal (LIMA, 2004).
Entretanto, estes estudos deram sequência às pesquisas de Jean
Piaget, com destaque para o método clínico, no qual os participantes
precisavam explicar suas repostas. Para tanto, os dilemas morais utilizados
por ele em suas pesquisas, precisavam de resolução a partir do relato de
situações em que o conflito estava instaurado. Um dos dilemas morais mais
conhecidos é o Dilema de Heinz, no qual um esposo precisava conseguir
um remédio para sua esposa, que estava com câncer, quase à morte, mas o
farmacêutico estava cobrando dez vezes mais pelo preço do remédio. O
esposo pediu dinheiro emprestado, mas não sendo suficiente para a
compra, e não obtendo o desconto ou o parcelamento do valor do remédio
decide por assaltar a loja para roubar o mesmo para a sua esposa, em um
ato de desespero. (BIAGGIO, 2006). O dilema coloca em embate o
conflito de se dever ser respeitada a lei e não roubar o remédio ou se a lei
137
deve ser desrespeitada e salvar a vida de outra pessoa. A justificativa dada
pela pessoa é de real importância para a compreensão do desenvolvimento
moral da mesma (BERETA, 2014). O inquérito realizado após a
apresentação do dilema moral estabelece parâmetros de respostas para
auxiliar nesta compreensão do estágio de desenvolvimento moral. Segundo
Biaggio (2006), poderiam ser realizadas perguntas como: E se ele não
gostasse da mulher, ainda assim deveria roubar o remédio? E se fosse um
amigo? E se fosse um estranho? E se fosse um animal doméstico? Você acha
que as pessoas devem fazer tudo para obedecer à lei?
Vidigal (2011) discute que nos dilemas não existe uma solução
mais desejável de forma evidente, mas que as duas alternativas têm uma
equivalência em importância ou desejabilidade, acarretando em uma
dificuldade de se posicionar frente a elas. Essas alternativas envolvem
valores morais que são analisados na tomada de decisão, entendendo qual
valor é mais importante e o porquê. A partir da resposta do sujeito ao
dilema, Kohlberg avaliava o pensamento utilizado nesta tomada de
decisão, classificando a resposta nos estágios. Assim, a evolução dos estágios
acontece por uma estrutura de pensamento e não simplesmente pelo
conteúdo.
Quando são discutidas as descobertas de Kohlberg sobre a moral,
estas são apresentadas em estágios, pois são construções tipológicas que
trazem diferenças qualitativas para as organizações psicológicas de
evolução, sendo que são previsíveis em escala ordinal. Lima (2004, p.15)
continua enfatizando que “Kohlberg acreditava que uma parte essencial da
estrutura de cada estágio era sua perspectiva sociomoral, pois isso
confrontava a perspectiva cognitivo-evolutiva com a perspectiva da
socialização no desenvolvimento moral”. Assim, Lind (2000b) considera
138
que as pesquisas de Kohlberg pertencem ao grupo das teorias cognitivo-
evolutivas, porque as transformações básicas das estruturas cognitivas
resultam dos processos interacionais entre o organismo e o meio. Foi dado
grande destaque à cognição e às competências morais, transcendendo o
discurso religioso e político, e possibilitando o conhecimento científico
sobre a educação moral sistemática e o estabelecimento de bases para a
mensuração das competências morais. Estas, por sua vez, foram definidas
por Kohlberg (1964, p.425) como “a capacidade de tomar decisões e julgar
moralmente (isto é, baseado em princípios internos) e agir de acordo com
tais juízos”. A competência moral tem como caraterística um alto nível de
diferenciação e integração do comportamento de julgar moralmente
(KOHLBERG, 1984). Para Lind (2000b), um indivíduo pode ser
considerado moralmente consistente e integrado se seguir regras morais
sob variadas condições, e não as usar somente para racionalizar decisões
não-morais. Desta forma, o mesmo autor propõe que a moralidade não é
apenas um problema de ideais morais ou atitudes, mas tem um aspecto
cognitivo ou de competência. Sabemos que não devemos esperar que a
pessoa raciocinasse da mesma forma nos dilemas, e que apresentasse o
mesmo estágio de desenvolvimento moral, pois existem dilemas que são
universais e dilemas da vida que podem apresentar estágios de
desenvolvimento moral mais baixos, por invocação da regra “olho por
olho, dente por dente” (LIND, 2000b). Portanto, não significa que a
pessoa não seja competente, mas que ela pode apresentar consistência e
coerência mesmo em dilemas que não exijam dela alto nível de
argumentação (BERETA, 2014).
Biaggio (2006) indica em seus estudos que Kohlberg defende a
sequência de estágios de desenvolvimento moral, que trataremos a seguir,
139
como universal, pois todos os sujeitos, independentemente de qual cultura
estejam inseridos, passarão pela mesma sequência e ordem, no entanto, tal
universalidade não determina que os sujeitos atinjam os estágios mais
elevados do desenvolvimento moral. Vidigal (2011) discute que tal teoria
é universal, pois a estrutura que utilizamos para raciocinar moralmente está
presente em todas as sociedades pesquisadas por Kohlberg.
Bataglia (1996) explica a teoria kohlberguiana dizendo que o
sujeito irá progredir progressivamente pelos níveis e estágios de
desenvolvimento moral, mas com velocidades que vão depender da cultura
em que está inserido e do próprio sujeito. Pode haver um estacionamento
do sujeito em algum nível ou estágio, mas ele prosseguirá na sequência que
foi prevista. Bataglia (1996) também discute que o estágio não irá definir
o conteúdo, mas sim a estrutura e o modo de raciocínio, pois dois sujeitos
podem apresentar opiniões diferentes quanto a uma questão e mesmo
assim, pertencerem ao mesmo estágio de desenvolvimento moral.
Kohlberg desenvolveu uma estrutura madura e elaborada a respeito
dos três níveis de desenvolvimento sociomoral, tendo dividido esta
estrutura em seis estágios. No nível pré-convencional verificamos a
presença de uma moralidade heterônoma, de individualismo, de uma
intenção instrumental e de troca. Já no nível convencional percebemos a
presença de expectativas interpessoais, relações de mutualidade e
conformidade interpessoal, de um sistema social e de consciência. No
último nível, que é o pós-convencional, os princípios éticos são universais,
existe um contrato social ou de direitos individuais (LIMA, 2004). Na
compreensão de Bataglia, Morais e Lepre (2010) no nível pré-
convencional a pessoa promove um julgamento do certo e do errado,
simplesmente a partir de interesses próprios, mas com medo de que
140
aconteça uma punição por tal ação; no nível convencional as ações são
consideradas moralmente corretas quando ligadas a convenções e regras
sociais que são determinadas por figuras de autoridade ou instituições
sociais; no nível pós-convencional a ação está pautada nos princípios
morais universais, e não mais por regras sociais, pois a há o pensamento de
reciprocidade, igualdade, de ética, de princípios e de valores gerais.
Tratando mais detalhadamente de cada nível de desenvolvimento
moral, as explicações de Lima (2004) são acessíveis ao destacar que no pré-
convencional estão as crianças abaixo de nove anos, alguns adolescentes, e
muitos dos adolescentes e adultos delinquentes. Neste nível, há a
compreensão das normas e regras sociais, bem como não colabora para a
manutenção das mesmas, pois ainda são exteriores ao sujeito. Os fatos são
considerados pelas consequências e não pelas intenções. Tenta não romper
com as normas para não ser castigado, bem como a aplicação das regras é
literal, segue as normas somente por interesse próprio e tem uma
perspectiva individualista e concreta. Já em relação ao raciocínio moral, vai
compreendendo que as pessoas apresentam diferentes interesses pelas
questões, passando a desenvolver uma relatividade moral, mesmo sem
meios para solucionar de modo satisfatório a questão.
No nível convencional, formado pela maioria dos adolescentes e
adultos, manisfesta uma conformidade com as regras sociais e tenta mantê-
las, sempre baseando na autoridade. Seus pontos de vista são regulados por
meio dos pontos de vista das demais pessoas, considerando a regra de fazer
para os outros aquilo que queremos que façam para nós. Em relação ao
raciocínio moral, as perspectivas do sujeito são coordenadas com as
perspectivas de terceiros, que são representadas pelo grupo e por normas
morais, desde que partilhadas entre eles. Mas as normas morais podem ser
141
discutidas e transcendentes de acordo com particularidades (intenção e os
motivos – bons e maus) (LIMA, 2004).
No nível pós-convencional, no qual encontramos uma minoria de
adultos depois dos 20 anos, os valores são definidos pelos princípios auto
escolhidos, as questões que são de legalidade e moralidade, bem como suas
perspectivas são reguladas pelos contratos e mecanismos formais,
considerando que o bem maior é aquele que atinge o maior número de
pessoas. Já quanto ao raciocínio moral, as leis são válidas se preservarem e
protegerem os direitos humanos fundamentais, e para o bem-estar dos
indivíduos, precisa ocorrer um contrato social que seja aceito livremente
pelos mesmos. Os princípios de justiça, igualdade, equidade, respeito e
universalidade são características deste nível de desenvolvimento moral
(LIMA, 2004).
A partir desta apresentação dos níveis de juízos morais, Menin
(1996) destaca que estes podem atingir seis estágios (1, 2, 3, 4, 5, 6). Nos
estágios 1 e 2 (que compreendem o nível pré-convencional) há a
predominância de noções hedonistas, egoístas e de interesse pessoal. Nos
estágios 3 e 4 (no nível convencional) estão presentes as convenções sociais,
a fim de que o indivíduo seja aceito pelos demais. Nos estágios 5 e 6 (no
terceiro nível, pós-convencional) se destacam o respeito pelas instituições
sociais e direitos humanos. O sexto estágio é atingido por pouquíssimas
pessoas, podendo destacar figuras históricas como Gandhi, Madre Tereza
e Luther King (SAMPAIO, 2007), inclusive o próprio Jesus Cristo.
Bataglia, Morais e Lepre (2010), em seus estudos, destacaram as
principais características de cada um dos estágios apresentados por
Kohlberg: estágio 1 para que não ocorra o castigo, há obediência às
normas sociais; estágio 2 a decisão está baseada em interesses próprios;
142
estágio 3 - necessidade do cumprimento do que se espera do indivíduo,
como ser bom filho, amigo, esposo; sendo que os interesses coletivos são
considerados mais importantes do que os interesses individuais; estágio 4
considera-se que a moralidade está na manutenção da ordem social e do
que é proposto pelas autoridades, assim é necessária uma colaboração para
a organização social e para com as instituições; estágio 5 há a
consideração do contrato social e dos direitos individuais; estágio 6 é o
estágio mais evoluído e estão presentes os princípios éticos universais.
Na teoria cognitivo-evolucionista de Kohlberg (1969), os estágios
de desenvolvimento moral apresentam-se agrupados em sete conjuntos:
regras, consciência, altruísmo, bem-estar próprio, sentido de dever,
assunção de papéis e justiça. Então, para que pudesse identificar o estágio
moral, era necessário realizar uma comparação das respostas apresentadas
pelos sujeitos com o manual elaborado por Kohlberg, e, desta forma,
estabelecer uma relação das respostas com o estágio em que a pessoa se
encontra, sendo possível perceber que quanto mais avançadas forem as
respostas, maior abrangência nos conjuntos, ou seja, maior percepção de
regras morais, das outras pessoas e da justiça. Para Bataglia (1996), a justiça
tem importante papel na universalização de princípios, por isso Kohlberg
destaca a justiça como base dos princípios morais, e a coloca como primeira
virtude
Bataglia, Morais e Lepre (2010) incluem em seu artigo a discussão
de que Kohlberg, ao definir estágio moral, fez uma subdivisão em estágios
A e B, que seriam compreendidos como formas diferentes de raciocínio.
No subestágio A, a forma predominante seria a heterônoma, a partir do
respeito às regras e às autoridades e, no subestágio B, predominaria a
autonomia, com destaque para os princípios de justiça, igualdade,
143
reciprocidade e comprometimento com ações morais que acreditam serem
justas.
Considerando que existe uma relação entre as perspectivas de nível
social e as de nível moral, Lima (2004, p.16) destaca nos ensinamentos de
Kohlberg que “os estágios do juízo moral são estruturas de pensamento
sobre a prescrição das regras e dos princípios que obrigam os indivíduos a
agir por formas consideradas moralmente corretas”. Portanto, a teoria
kohlberguiana pode ser considerada como a teoria da justiça e seus estudos
apontam que, com o avanço da idade, aumenta-se a discriminação da
intencionalidade, que existe uma relação com o desenvolvimento mental
da inteligência, e que dependendo da estimulação cognitiva, o
desenvolvimento mental diferencia-se nas culturas estudadas (LIMA,
2004). La Taille (2000) destaca que Carol Gilligan, pesquisadora do século
XX, questionou Kohlberg sobre a soberania da justiça, pois, além de uma
ética da justiça, haveria também uma ética do cuidado, enfatizando a
existência de outras virtudes além da justiça.
Para Arantes (2003), uma grande contribuição do trabalho
desenvolvido por Gilligan foi o fato de questionar uma moral
essencialmente normativa e racionalista, trazendo para a Psicologia moral
os vínculos interpessoais e os aspectos afetivos. Sua teoria contemplou, ao
lado da de Kohlberg, os aspectos afetivos e psicológicos nas relações intra
e interpessoais.
Dellazzana-Zanon et al. (2013) enfatizam que Kohlberg,
diferentemente de Freud, Skinner e Piaget, fez do desenvolvimento moral
o tema principal de sua pesquisa, permitindo que na segunda metade do
século passado houvesse a consolidação da Psicologia moral como um
campo de conhecimento. Os referidos autores apenas tiveram o
144
desenvolvimento moral dentre um de seus interesses. Mas colaboradores
de Kohlberg como Blatt, Turiel, Rest e Lind seguiram com a investigação
e amadurecimento do julgamento moral, tanto na teoria quanto na prática
(BERETA, 2014).
Para Sampaio (2007), as pesquisas de Piaget foram
importantíssimas para a compreensão da perspectiva psicogenética e
permitiram que outras teorias se desenvolvessem como, no caso, a de
Kohlberg. Este promoveu críticas a Piaget por afirmar que as questões
propostas por ele revelavam mais sobre o conteúdo do que sobre a estrutura
de raciocínio das crianças, não permitindo que Piaget identificasse estágios
de desenvolvimento moral delimitados. Sampaio (2007) enfatiza que tanto
Kohlberg (1964; 1992) como Piaget (1932; 1994) acreditam que o
desenvolvimento moral esteja ligado ao desenvolvimento cognitivo e
afetivo, bem como as interações sociais que ocorrem ao longo da vida.
As críticas aos estudos de Kohlberg acontecem, primeiramente,
devido a seus estudos estarem baseados no ocidente e com universitários
americanos do sexo masculino; segundo, o considerar a moral masculina
na escala de juízo moral, deixando de considerar a moral, o cuidado,
presente nas características femininas; terceiro, a utilização de dilemas
hipotéticos e quarto, a sequência de estágios kohlberguianos não
considerarem as caraterísticas de cada cultura na qual o indivíduo es
inserido e da qual se origina (MILNITSKY-SAPIRO, 2000). Bataglia
(1996) afirma que as pesquisas de Kohlberg não foram realizadas com
mulheres até 1969, mas a partir disso realizou um estudo em Kibutz, com
homens e mulheres. As justificativas de Kohlberg para não ter utilizado
mulheres em seus estudos iniciais, segundo ele, não foi por pensar que elas
fossem menos desenvolvidas em relação ao senso de justiça, mas porque
145
elas não tiveram oportunidade de participar de sociedades e instituições
complexas e, assim, tiveram menores condições de desenvolver habilidade
de tomada de papéis importantes para se atingir os estágios 4 e 5 de juízo
moral. Uma outra crítica é, segundo Habermas, a existência de um sétimo
estágio de desenvolvimento moral, que não foi considerado por Kohlberg,
mas que não houve discordância deste (BATAGLIA, 1996).
Mas, embora estas diversas críticas aconteçam, Lima (2004)
destaca que os estudos desenvolvidos por Kohlberg podem ser
considerados transversais, quando usam os dilemas morais; longitudinais,
pois a cada três anos, durante um período de 12 anos, entrevistou um
grupo de 70 pessoas; e intercultural, pois foram desenvolvidos em países
como México, Israel, Turquia, Taiwan e Canadá.
Kohlberg lecionou em Harvard e desenvolveu seu trabalho no
Harvard's Center for Moral Education, onde ministrava o curso Moral
Development and Moral Education, no qual procurava combinar a teoria
filosófica de justiça com a teoria psicológica do processo de
desenvolvimento moral, a fim de produzir uma teoria educacional que
permitisse prescrever a prática da educação moral nas escolas (BATAGLIA,
2001).
Bataglia, Morais e Lepre (2010) também destacam que as pesquisas
iniciadas por Kohlberg em sua tese de doutorado, na Universidade de
Chicago, e posteriormente, seus diversos estudos a respeito do
desenvolvimento moral, contribuíram para a confecção de instrumentos
que pudessem avaliar o juízo moral, como a Entrevista do Juízo Moral
(Moral Judgment Interview - MJI) e o Defining Issue Test (DIT) de James
Rest, que foram traduzidos e adaptados para a realidade brasileira. O DIT
era composto de seis dilemas de Kohlberg, seguidos de 12 afirmações cada,
146
que são avaliadas quanto ao grau de importância atribuído a resolução do
problema. Uma pontuação P indica o percentual de pensamento pós-
convencional. Na versão atual criada pelo autor e colaboradores, são cinco
dilemas morais, devendo serem avaliadas e ordenadas as alternativas
(BIAGGIO, 2006). Na MJI, temos uma série de dilemas morais
hipotéticos, na qual Kohlberg construiu uma tipologia organizando em
três níveis, com dois estágios cada nível (SAMPAIO, 2007). No entanto,
tais instrumentos sofrem críticas, por não preencherem perfeitamente os
padrões para construção de testes psicológicos, mas o objetivo principal de
Kohlberg era a construção de instrumentos que permitissem e
aprimorassem a teoria e a prática sobre o desenvolvimento moral (LIND,
2000b) e, principalmente, que servissem como um modelo de entrevista
clínica (BIAGGIO, 2006).
O Sociomoral Reflectio Objetive Measure (SROM), de John Gibbs,
também foi um teste desenvolvido a partir da MJI. No SROM, eram
apresentados dois dilemas kohlbergianos, seguidos de perguntas de
múltipla escolha. As alternativas correspondem ao estágio de
desenvolvimento moral (BIAGGIO, 2006). Gibbs, Basinger e Fuller
(1992) publicaram no referido ano uma nova versão do instrumento
(chamada de Social Reflection Questionnaire) em que não são usados
dilemas, mas sim, perguntas elaboradas a respeito dos valores: contrato,
verdade, afiliação, vida e outros.
Feitosa et al. (2013) acreditam que para Lind (2007) as críticas aos
referidos instrumentos também estão pautadas na questão de não avaliar a
real capacidade moral, mas a atitude ou valoração, pois, tanto as
capacidades como as competências, não podem ser simuladas facilmente e
nem ensinadas como instruções diretas. Assim, os instrumentos avaliam as
147
preferências por argumentos, sendo eles os melhores ou os menos
apropriados, estando suscetível a simulação e a supostas capacidades morais
que podem ser transmitidas.
Kohlberg, a partir do modelo de discussões de dilemas morais,
permite que os indivíduos tenham acesso a diferentes níveis de
desenvolvimento moral, com isso pode acontecer um desequilíbrio
cognitivo (HERSH; REIMER; PAOLITTO, 1984).
Quando realizada a discussão de dilemas proposta por Kohlberg, esse
desequilíbrio e acomodação também ocorrem em termos da argumen-
tação moral (nível pré-convencional, nível convencional e nível pós-
convencional), possibilitando que o indivíduo passe de um nível menos
desenvolvido para outro mais desenvolvido moralmente. Mas quanto
menos autoridade moral se encontra nas instituições educacionais
tradicionais, menos encontraremos indivíduos no nível convencional,
podendo aumentar assim os índices de sujeitos no nível pré-
convencional, nível este, com argumentações morais menos
desenvolvidas e mais centradas na perspectiva individualista, de ganhos
próprios (BERETA, 2014, p.80).
Bordignon (2011) diferencia julgamento moral da perspectiva
moral. No primeiro, o conteúdo é representado pela visão cognitiva, pelas
justificativas, pelos valores e pelas razões da ação. No segundo, há uma
ligação com o posicionamento que o sujeito tem quando define fatos
sociais, valores sociomorais ou deveres.
Para a teoria kohlberguiana, o ponto central do julgamento moral
é a estrutura de justiça, que inclui a reciprocidade e a igualdade, em que a
reciprocidade está intimamente ligada à reversibilidade, assim, quando um
sujeito apresenta um baixo grau de reversibilidade, consequentemente é
148
caracterizado por um baixo estágio de reciprocidade. Já em um alto grau
de reversibilidade, o sujeito tende a se colocar no lugar dos personagens do
dilema e buscar repostas que sejam universalizáveis, mas como é apontado
pelo autor, a reversibilidade não é facilmente encontrada, de forma
constante, fora do último nível de desenvolvimento moral (BATAGLIA,
2001).
A teoria de Kohlberg avançou a de Piaget com a identificação do
nível pós-convencional de raciocínio moral, que contempla o conceito de
autonomia, também estudado por Piaget (SOUZA, 2008). Desta forma,
o desenvolvimento moral apresentado em estágios cognitivo-evolutivos,
podem ser sintetizados a partir das seguintes variáveis:
- o desenvolvimento moral inclui, necessariamente, as transformações
de estrutura cognitiva, a interação da maturidade cronológica e da
aprendizagem;
- a direção do desenvolvimento da estrutura cognitiva é para um maior
equilíbrio na interação pessoa e contexto social;
- esse novo equilíbrio significa novos conhecimentos, interações,
adaptações e complexidade em seus conteúdos e formas;
- o desenvolvimento se realiza na integração das dimensões afetiva,
cognitiva e comportamental da pessoa, de forma integrada e
integradora;
- a assunção de papéis e funções sociais, ao longo da vida, em
responsabilidades cada vez mais baseadas em direitos, valores e
princípios de justiça universais;
- a direção do desenvolvimento pessoal e social é para o equilíbrio de
reciprocidade entre as potencialidades da estrutura fundamental da
pessoa (dimensões física, psíquica e espiritual) e sua expressão em
149
relação a si mesmo, aos outros (intersubjetividade) e aos valores
espirituais (transcendência) (KOHLBERG, 1992, p.50).
Mas sabemos que a maioria das pessoas se encontra no nível
convencional de desenvolvimento moral, em que seu pensamento e ação
corroboram com as expectativas e interesses do grupo (BORDIGNON,
2011), assim, a educação, desde a infantil até a superior, deveria assumir o
seu papel diante da formação de indivíduos mais autônomos e críticos.
Segundo Feitosa et al. (2013), tanto a qualidade quanto a quantidade da
educação são fatores na promoção da competência de juízo moral. Mas,
mesmo que haja um enfático papel da educação superior no
desenvolvimento da moralidade, presenciamos questionamentos sobre a
real eficácia em estudantes do curso de Medicina e demais áreas. Assim, ao
mesmo tempo em que há um discreto aumento, pode ocorrer uma
estagnação ou ainda uma regressão do raciocínio moral utilizando-se da
escala de Kohlberg ou na avaliação da competência de juízo moral proposta
por Georg Lind.
Bereta (2014) também apresenta que Kohlberg elaborou o
conceito de competência moral, que posteriormente foi operacionalizado
por Georg Lind, e se refere à capacidade de avaliar juízos morais em
contextos que são adversos ao emissor. No entanto, isso irá depender tanto
do desenvolvimento da capacidade reflexiva quanto do desenvolvimento
cognitivo. Kohlberg (1958 apud Lind, 2000a) complementa que a
competência moral é “a capacidade para tomar decisões e elaborar juízos
morais (isto é, baseadas em princípios internos) e agir de acordo com tais
juízos". Desta forma, Lind (2007) conclui que o comportamento moral de
um sujeito não está ligado somente às atitudes e valores deste, mas também
150
está diretamente relacionado à habilidade deste sujeito em aplicar os
valores em sua tomada de decisões concretas.
Contudo, um aprofundamento do professor na teoria do
desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg e da competência moral de
Georg Lind torna-se essencial para se atingir resultados satisfatórios, não
somente em pesquisas, mas na própria formação dos sujeitos. Tanto as
pesquisas de Kohlberg realizada nos Estados Unidos e de Lind, na
Alemanha, foram possíveis a partir dos estudos de Piaget (BERETA,
2014). E é a partir destes estudos que se começa a clarear as ideias sobre a
formação do psicólogo e a necessidade de um curso que ofereça o
desenvolvimento moral do graduando a fim de que possa agir com
competência moral na aplicabilidade de suas intervenções.
Discussão de Dilemas Morais segundo Georg Lind
Georg Lind, pesquisador alemão da Universidade de Konstanz,
desenvolve suas pesquisas baseadas na teoria e nos estudos de Lawrence
Kohlberg, a respeito do desenvolvimento moral. Sua teoria compreende
que a moralidade contempla os aspectos cognitivo e afetivo e que o
comportamento moral está além das atitudes e valores morais do sujeito, e
em como este sujeito irá aplicar tais aspectos na sua tomada de decisões
concretas (LIND, 2000b). Tal modelo do duplo aspecto do
comportamento da moralidade contempla que afeto (que são as ideias
morais) e cognição (que são as capacidades morais dos sujeitos) sejam ao
mesmo tempo discerníveis, inseparáveis e únicos no comportamento
(LIND, 2007).
A teoria de Lind (2000b) apresenta três ideias sobre a mensuração
cognitivo-estrutural: i) Primeira ideia: o juízo moral irá corresponder de
151
forma afetiva e cognitiva a um comportamento humano, a partir de
princípios morais de cada sujeito e em como estes princípios são aplicados
na tomada de decisão; ii) Segunda Ideia: embora o afeto e a cognição sejam
domínios comportamentais diferentes, eles podem ser tanto verificados
quanto medidos separadamente, chegando ao mesmo nível de
comportamento de julgar no afetivo e no cognitivo; iii) Terceira ideia: as
estruturas cognitivas do juízo moral podem ser alcançadas da mesma forma
que em uma propriedade do comportamento manifesto de julgar, não
estando apenas inferidas pelos sinais que irão requerer interpretações
hábeis.
Bataglia (2010) diz que com a preocupação de Lind que o
indivíduo mostre sua competência na aplicação de estrutura em diferentes
situações, em que não há o compartilhamento de opinião, nem mesmo o
ajuizamento contrário, foi que desenvolveu um instrumento para avaliar a
competência do juízo moral, a partir da Moral Judgment Interview (MJI)
de Kohlberg. Esta preocupação de Lind (2007) também se estende na
investigação de que todas as pessoas têm ideias ou princípios morais, mas
que para a sua aplicabilidade se torna necessário que as capacidades morais
tenham sido anteriormente fomentadas, tanto pelos pais quanto pela escola
e por outras instituições responsáveis pela formação dos sujeitos. Portanto,
o desenvolvimento da competência moral é relacionado com estas
instituições citadas em uma proporção maior do que dos outros fatores
estudados por Lind (2000b). E este autor levanta duas hipóteses para
explicar que a educação oportuniza o desenvolvimento cognitivo e moral:
a primeira é de que a competência moral está relacionada com a qualidade
da educação que recebemos; e a segunda, de que o juízo moral se relaciona
152
negativamente com a idade nos casos em que as pessoas não participaram
de processos educacionais (LIND, 2000b).
Para tanto, a educação moral pode ser pensada como um processo
de aprendizagem e de desenvolvimento para a aquisição de habilidades,
que irá requerer assistência de profissionais da educação para o seu
desenvolvimento, pois se não irá prosseguir em ritmo mais lento em
comparação com a mudança de atitude (LIND, 2000b).
Bataglia (2001) diz que Lind, assim como os autores Kohlberg e
Piaget, sustentam que a moralidade não está resumida a um conjunto de
ideais ou atitudes, mas refere-se à competência, como por exemplo, uma
criança, ao mesmo tempo em que conhece princípios elevados de justiça,
ainda lhe falta a competência de aplicabilidade em seus processos de
tomada de decisão. Também defende que afetivo e cognitivo, mesmo que
distintos, são inseparáveis no comportamento moral e que o
comportamento moral não é reduzido à conformidade com o social e o
juízo moral não é puramente linguístico (BATAGLIA, 2001).
Lind (2007), a partir de seus estudos, compreende que a moral es
baseada em princípios internos, e que o compromisso pessoal com os
próprios ideais morais fundamentam capacidades democráticas
importantes, com destaque para a autonomia e a maturidade. Desta
maneira, não podemos limitar a moral a ideais e valorizações, pois ela deve
manifestar-se no comportamento, antes mesmo de podermos falar de
capacidades morais. Assim, nem os fatores genéticos, nem a pressão social
podem ser suficientes no desenvolvimento das capacidades morais, pois
estas podem ser ensinadas e aprendidas, efetivamente, com a discussão de
dilemas. Entretanto, não há um bom desenvolvimento das capacidades
morais sem o devido apoio da formação institucional.
153
Quando Lind chama competência moral de aspecto cognitivo, ele
está indo além das relações lógicas formais e refere-se à habilidade de se
aplicar os juízos estabelecidos à ação (BATAGLIA, 2001). A autora
continua dizendo que sua preocupação está em avaliar as condições para
que os sujeitos desenvolvam um nível de competência moral, adquirindo
a habilitada estudada por Kohlberg.
Georg Lind elaborou o Moral Judgment Test (MJT), atualmente
chamado de Moral Competence Test (MCT), e estabeleceu o fundamento
do modelo do aspecto dual, no qual estão envolvidos os aspectos afetivo e
cognitivo, integrantes para a compreensão do comportamento moral. Estas
duas dimensões estão presentes no comportamento moral e, portanto,
devem ser vistas em conjunto. O MCT tem o objetivo de relacionar o
afetivo e o cognitivo no campo do desenvolvimento moral e da educação,
propondo primariamente fornecer um critério para o teste de teorias que
tendem a conduzir o planejamento e a aplicação prática dos modelos de
educação moral pelos professores, pais e administradores, bem como
avaliar os métodos educacionais quanto ao seu poder de elevar a
competência moral dos indivíduos que são submetidos a eles (BATAGLIA,
2001).
Segundo Bataglia, Morais e Lepre (2010), o MCT originalmente
composto por dois dilemas, com temas relacionados ao roubo e a
eutanásia, após aplicações no Brasil e no México demonstraram uma
segmentação do juízo moral, ou seja, uma grande diferença entre as
respostas obtidas nos dois dilemas. Tal resultado pode ser uma influência
da cultura latino-americana e mesmo da religião, que possibilita baixos
resultados no dilema da eutanásia e resultados equivalentes aos europeus
no dilema do roubo. Assim, a partir dos estudos de Bataglia, foi proposta
154
a inclusão de um terceiro dilema, que foi o do juiz, no qual há a relação
entre a quantidade de vidas e o respeito a uma dessas vidas, passando o
MCT a receber o nome de MCT_xt (versão estendida).
Bataglia (2010) recomenda que, na aplicação do MCT no Brasil,
seja utilizada a versão estendida, o MCT_xt, com a aplicação dos três
dilemas morais: o primeiro é relacionado aos operários que tomam a
decisão de arrombar a empresa que trabalham a fim de reunir provas das
atitudes irregulares da gerência para denunciar aos superiores; o segundo
diz respeito ao médico que recebe um pedido do paciente em fase terminal
para que seja realizada a eutanásia, com a finalidade de abreviar o
sofrimento sentido; e o terceiro dilema traz a situação de um juiz, que
precisa tomar um posicionamento entre deixar torturar uma pessoa para
obter informações de um atentado terrorista e, assim, salvar muitas vidas.
Lind (2000b) descreve três vantagens para a utilização do MCT:
1) há uma independência lógica na avaliação da competência moral em
que a dimensão cognitiva está envolvida na mensuração; 2) a avaliação
objetiva do teste; 3) o teste atinge as relações entre as respostas dadas pelo
sujeito. Para tanto, Bataglia (2010) diz que o MCT proe avaliar o
quanto o grupo é capaz de avaliar a qualidade dos argumentos morais ou
o quanto o grupo fica restrito às próprias opiniões, não objetivando,
portanto, a utilização para o diagnóstico individual ou para seleção de
pessoas.
Para Bataglia, Morais e Lepre (2010), o MCT possibilita que o
sujeito: i) reflita sobre os argumentos que estejam em acordo com a sua
opinião, implicando em uma atitude moral que esteja em acordo com suas
crenças, valores e conceitos; ii) reflita sobre os argumentos contrários à sua
opinião, permitindo o envolvimento da estrutura cognitiva e de um
155
posicionamento não dogmático em relação à sua própria atitude; iii) a
avaliação de contra-argumentos, quando os argumentos estão de acordo
com a sua decisão (avaliação do nível de discurso moral que é preferido
pelo sujeito) ou quando os argumentos são contrários à sua decisão (indica
o quanto o sujeito é determinado pelos próprios ideais ou mesmo pela
qualidade de seus argumentos).
Bataglia (2010) complementa que os dilemas irão colocar
personagens em situações de conflito e a decisão sempre estará permeada
pelas regras sociais e pessoais, precisando o sujeito avaliar a decisão do
personagem, se está concordando ou não com ela, e posteriormente, avaliar
seis argumentos que estejam a favor da decisão e seis argumentos contra a
decisão (tais argumentos estão relacionados aos níveis de raciocínio moral,
nos seis estágios, descritos por Kohlberg). Bereta (2014, p.63) completa o
pensamento apresentado dizendo que “o sujeito precisa avaliar argumentos
que estão em acordo e em desacordo com a sua opinião e, quando consegue
avaliar um argumento em desacordo com a sua opinião como bom, pela
qualidade do próprio argumento ele pode obter um escore mais alto”.
Assim, Bataglia (1996) conclui que, ao apresentar mais alto, o sujeito
demonstra competência para apreciar a qualidade moral do argumento de
modo independente de estar concordando ou não com o conteúdo da
argumentação.
As capacidades morais podem ser tanto ensinadas quanto
aprendidas efetivamente, a partir da discussão de dilemas morais, para
tanto, o Método de Konstanz, que foi desenvolvido por Lind, prioriza a
confrontação de contra-argumentos, tendo como objetivo fomentar a
capacidade de ação moral e democrática, além da capacidade de
pensamento (LIND, 2007).
156
Algumas informações importantes são apresentadas pelo autor
(2007) para a discussão dos dilemas de acordo com seu método, são elas:
- O dilema moral deverá descrever uma situação em que, no
mínimo, dois princípios morais estejam em conflito;
- Para considerar um dilema didaticamente como bom, é necessária
a limitação de dois ou três princípios em conflito, bem como a descrição
do dilema se restringir a meia página;
- Utilizar dilemas semirreais ou hipotéticos com alto conteúdo de
realidade;
- Método adequado para estudantes desde o quinto ano até
adultos, mas que pode ser utilizado com crianças menores, desde que passe
por modificações;
- A discussão do dilema com duração entre 80 e 100 minutos;
- Utilização da regra de ping-pong para a discussão do dilema, a
fim de assegurar que não haja interferência de outras pessoas quando se
estiver concluindo uma fala. A pessoa que está falando é quem irá indicar
uma pessoa do outro grupo para responder;
- A pessoa que estiver coordenando as discussões somente deve
interferir quando as pessoas ou as regras não forem respeitadas;
- A alternância das fases de apoio e desafio a fim de um processo
de aprendizagem. O apoio consiste na utilização de estratégias como:
explicação dos problemas, ilustração de teorias, apresentação de
experimentos, realização de excursões, trabalhar com pequenos grupos,
compartilhamento de pontos de vista, escrita de argumentos, elogiar,
dentre outros. Já o desafio está em possibilitar que o estudante solucione
157
problemas, exponha e relacione teorias, realize experimentos, planeje
excursões, peça a palavra e participe de um plenário, proponha espaços de
discussão, formule uma ideia, dentre outros.
Ao apoiar e desafiar o estudante, o professor está possibilitando que se
rompa com a metodologia tradicional de ensino, com aulas expositivas
e textos decorados para apresentação nas provas. Mas sim, o professor
está abrindo caminhos para que o estudante se encontre como agente
que precisa ir em busca do conhecimento e, principalmente, que este
conhecimento se torne significante para o estudante (BERETA, 2014,
p.85).
Na discussão de dilemas morais, o uso da Reflexão Dirigida parece
ser a melhor alternativa, pois os participantes são levados tanto a pensarem
em argumentos possíveis que justificariam as ações de personagens
hipotéticos ou de dilemas reais quanto a discutir argumentos contrários
aos próprios, buscando argumentos de diferentes níveis (BATAGLIA,
2001).
Feitosa et al. (2013) destacam que uma proposta que vem
demonstrando resultados consideráveis sobre uma mudança na
metodologia de ensino é a discussão de dilemas com o Konstanz Method of
Dilemma Discussion (KMDD), proposto por Lind, e apresentada acima.
No entanto, tal método necessita de treinamento e formação de
professores, para que os resultados continuem sendo superiores ao modelo
clássico de Blatt e Kohlberg que inspirou a elaboração do KMDD.
Além de pensar na formação do professor para o trabalho com a
discussão de dilemas morais, é urgente a articulação desta discussão com o
currículo escolar, nas mais diversas disciplinas. Quando se pensa na
educação superior e, mais especificamente, na graduação em Psicologia,
158
não se deve restringir esta proposta de desenvolvimento moral à disciplina
de Ética Profissional, mas em todas as disciplinas que permitem uma
integração com a prática da profissão, a fim de possibilitar a formação de
profissionais que consigam se expressar, colocar-se no lugar do outro e que
respeitem os argumentos dos demais como sendo bons também. Esta é a
função da educação, além do papel da família e das instituições
formadoras.
159
RELATO DE UM ESTUDO A RESPEITO DA
FORMAÇÃO ÉTICA DE PSICÓLOGOS
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ___________ _______________ ____________ ____________
As discussões deste capítulo contextualizarão um estudo a respeito
da formação ética de psicólogos. Para tanto, apresentaremos os instru-
mentos utilizados, a descrição da análise dos dados, as análises conjuntas
dos dados dos participantes e as considerações sobre os resultados do
estudo e de outras pesquisas realizadas na área.
Contextualizando o estudo e os participantes
Este trabalho é um estudo transversal (fruto de tese de Doutorado
em Educação) com estudantes de segundo e de quinto anos do curso de
Psicologia de duas Instituições de Ensino Superior (IES), com abordagem
quanti-qualitativa. Os dados utilizados foram coletados com os estudantes
e com os professores que tinham Formação em Psicologia e que
ministravam aulas nesses cursos. A técnica utilizada pode ser compreendida
como um estudo de caso, conforme aponta Barbier (1985), devido a
possibilidade de integrar as diferentes técnicas e os campos de
conhecimento, a fim de compreender e de planejar as ações de intervenção.
Para Pereira, Godoy e Tercariol (2009), o estudo de caso permite a
organização de dados e a reunião de informações, de numerosas e de
detalhadas, a fim de preservar o caráter unitário, dessa forma, a totalidade
do objeto mantem-se preservada pela amplitude e pela verticalidade dos
dados, da interação entre os dados que foram observados e o tempo em
que o evento ocorre. A técnica também pode ser considerada exploratória,
160
pois, segundo Campos (2004), está pautada na busca de informações de
uma determinada situação, na qual há a possibilidade de limitar o campo
de trabalho, bem como de mapear as condições em que as situações se
manifestam.
O estudo foi realizado em duas IES particulares do interior do
Estado de São Paulo. Na IES 1, o curso é de Bacharel em Psicologia e de
Formação para Psicólogo, com duração de cinco anos, acontecendo no
período noturno, das 19h às 22h30. Quando consultado, em março de
2018, a website da instituição informava que o curso conta com uma
infraestrutura de biblioteca e de laboratórios de informática e com um
Núcleo de Psicologia Aplicada, que funciona desde 2006, fornecendo
atendimento à comunidade local a partir de serviços gratuitos, bem como
oferecendo uma formação profissional atualizada nas necessidades da
sociedade. Em relação ao corpo docente com formação em Psicologia, são
três professores especialistas, quatro professores mestres e três professores
doutores. Os objetivos do curso são avançar no conhecimento e no
tratamento da saúde psíquica do ser humano, trabalhando no equilíbrio
emocional dos sujeitos e proporcionando às pessoas a possibilidade de
autoconhecimento, resolução de conflitos internos e melhor convivência
social. A matriz curricular em vigência é a do ano de 2017, com carga
horária total de 4.120 horas. Nos segundo e terceiro anos do curso, são
realizados os Estágios Básicos; ao passo que nos quarto e quinto anos
realizam-se os estágios de formação. Com relação aos estágios do quarto
ano, configuram-se em duas ênfases, a saber: (i) Processos Clínicos e
Psicologia da Saúde (Desenvolvimentos da Clínica e Psicoterapia Infantil)
e (ii) Psicologia das Instituições e Processos de Gestão (Processo de
Intervenções Psicossociais e Processos de Intervenções Psicopedagógicas).
161
No quinto ano, configuram-se nas seguintes ênfases: (i) Processos Clínicos
e Psicologia da Saúde (Psicologia da Saúde e Processos de Hospitalização;
Psicoterapia Familiar e de Grupo) e (ii) Psicologia das Instituições e
Processos de Gestão (Psicologia Jurídica e Processos de Gestão).
Na IES 2, o curso é noturno e tem duração de 10 semestres, das
19h20 às 22h50 e aos sábados (nos três primeiros anos) das 07h30 às 11h.
O curso foi autorizado pela portaria do Conselho Estadual de Educação
no ano de 2001, com renovação em 2017. A formação é em Licenciatura
e Bacharelado em Psicologia e de Formação para Psicólogo. Os objetivos
do referido curso são proporcionar ao estudante o domínio técnico-
científico necessário ao desempenho da função de psicólogo e professor de
Psicologia no Ensino Médio, e reforçar o compromisso com a construção
da cidadania e promoção de saúde mental e qualidade de vida em
diferentes contextos. Quando às informações na website da instituição
educacional, em março de 2018, verificamos que a proposta do curso tem
preocupação com as origens, com as causas, com o funcionamento e com
os fatores de mudança no pensamento, na linguagem, na afetividade, nos
valores e nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento da
personalidade, estudando esses fenômenos em indivíduos, grupos,
instituições e comunidades. Consta, ainda, a informação de que a grade
curricular em vigor é a de 2013 e foi adequada às exigências do Conselho
Estadual de Educação de São Paulo e do Conselho Federal de Psicologia,
apresentando até o terceiro ano do curso, disciplinas relacionadas à
licenciatura com a realização de estágios nas instituições educacionais, bem
como a realização de Estágios Básicos. Nos quarto e quinto anos
concentram disciplinas mais específicas para a formação em Psicologia,
inclusive com a realização de estágios supervisionados em Psicologia do
162
Trabalho, Psicologia Educacional, Psicologia Institucional/Social e
Psicologia Clínica. Ainda de acordo com as informações da website, a
infraestrutura oferecida pela Instituição conta com um laboratório de
Psicologia Experimental devidamente equipado para os estudantes
desenvolverem temas de neurociências e de comportamento, além de um
Núcleo de Psicologia, que acompanha e que regulamenta todos os estágios
realizados, além de comportar a Clínica-Escola, onde os estudantes
oferecem atendimento psicoterápico à comunidade. Ainda em relação à
infraestrutura da instituição, estão disponíveis laboratórios de informática
e a biblioteca. Quanto ao corpo docente que tem formação em Psicologia,
o curso conta com sete professores mestres e dois professores doutores.
Da IES 1, 28 estudantes matriculados no segundo ano de
Graduação em Psicologia participaram da coleta de dados do estudo, que,
depois do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), responderam ao Critério de Classificação Econômica Brasil, ao
Questionário Ensino Superior: Formação em Psicologia (ORIGIN/esfp) e
ao Moral Competence Test - extended version (MCT_xt). A amostra é
composta por 22 (78,6%) estudantes do sexo feminino e 6 (21,4%)
estudantes do sexo masculino. A idade média dos estudantes do segundo
ano é de 20,8 anos, com desvio padrão de 2,85 anos e predominância de
92,4% dos 18 aos 24 anos. Em relação à escolaridade do chefe da família,
a maioria (44,4%) possui o Ensino Médio Completo/Ensino Superior
Incompleto e tem o pai como principal gerador de renda na família do
estudante (53,6%). Quanto ao nível econômico, a maioria dos estudantes
estão na classe A (35,7%) ou B1 (39,3%). Em relação ao tipo de escola
que concluíram o Ensino Médio, 82,1% disseram ser em escola pública.
Já quanto a ter frequentado outro curso superior antes da graduação em
163
Psicologia, 60,7% responderam que não, 17,9% que concluíram outro
curso e 21,4% que frequentaram, mas que não o concluíram.
Na amostra do quinto ano da IES 1, 28 estudantes participaram,
utilizando os mesmos instrumentos que os alunos do segundo ano. A
amostra foi composta por 23 (82,1%) estudantes do sexo feminino e 5
(17,9%) estudantes do sexo masculino. A idade média dos estudantes do
quinto ano foi de 25,75 anos, com desvio padrão de 4,1 anos, prevalecendo
57,1% dos 18 aos 24 anos e 35,7% dos 25 aos 31 anos. Quando
perguntados sobre a escolaridade do chefe da família, 39,3% possuem o
Ensino Médio Completo/Ensino Superior Incompleto. Já em relação a
quem é o principal gerador de renda na família do estudante, 53,6%
disseram ser o pai. O nível econômico dos referidos participantes está sem
sua maioria nas classes B1 (28,6%) e B2 (35,7%). Quanto ao tipo de escola
em que concluiu o Ensino Médio, 89,3% foram em instituições públicas;
77,8% informaram não terem frequentado outro curso superior antes da
graduação em Psicologia, e 22,2% que frequentaram, mas que não
finalizaram o curso.
Quanto à coleta de dados com os docentes da IES 1, foram seis
docentes formados em Psicologia que ministravam aulas na graduação em
Psicologia e que participaram da coleta de dados, que, depois do
preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
responderam ao Critério de Classificação Econômica Brasil e Questionário
Ensino Superior: Prática Docente na Formação em Psicologia
(ORIGIN/pd). A idade média dos docentes é de 34 anos, com desvio
padrão de 4,38 anos, a idade máxima é de 40 e a mínima, de 29 anos. A
maioria dos docentes possui experiência no ensino para a Psicologia há
mais de 6 anos e ministravam aulas e/ou atividades em mais de um termo
164
do curso. Uma parcela representativa dos docentes possuía eram mestres
(33,3%) ou doutores (50,0%). Entre os principais geradores de renda
familiar, identificamos o próprio docente ou o esposo, com 33,3% cada.
Os docentes pesquisados estão classificados quanto ao nível econômico nas
classes A, B1 e B2, sendo duas observações em cada nível. As instituições
de Ensino Superior que os docentes frequentaram foram particulares e
públicas, 50,0% da amostra em cada tipo. A maior parte dos docentes
ministram aulas e/ou atividades em outra instituição de ensino, sendo que
a experiência nestas instituições varia de menos de 2 até 9 anos. Metade da
amostra possui atividade docente em outros cursos de graduação, além da
Psicologia.
Na IES 2, 30 estudantes matriculados no segundo ano de
Graduação em Psicologia participaram da coleta de dados do estudo, que,
depois do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), responderam ao Critério de Classificação Econômica Brasil, ao
Questionário Ensino Superior: Formação em Psicologia (ORIGIN/esfp) e
ao Moral Competence Test - extended version (MCT_xt). Dos participantes,
27 (90%) eram do sexo feminino e 2 (10%), do sexo masculino. A idade
média dos estudantes do segundo ano foi de 20,33 anos, com desvio
padrão de 4,75 anos, tendo a predominância de 93,3% na faixa etária dos
18 aos 24 anos. Sobre a escolaridade do chefe da família, a maioria (33,3%)
possui o Ensino Médio Completo/Ensino Superior Incompleto. O
principal gerador de renda na família do estudante foi o pai (58,6%).
Quanto ao nível econômico houve predominância na classe B2 (40%).
Quanto ao tipo de escola que concluiu o Ensino Médio, 86,7%
concluíram em instituição pública. Quase todos os alunos (93,3%) os
165
frequentaram outro curso superior antes da graduação em Psicologia,
somente 6,7% frequentaram e finalizaram o curso.
Participaram da coleta de dados do estudo, 40 estudantes
matriculados no quinto ano da Graduação em Psicologia da IES 2, sendo
33 (82,5%) dos estudantes do sexo feminino e 7 (17,5%) do sexo
masculino. A idade média dos estudantes é de 26,38 anos, com desvio
padrão de 7,9 anos, com predominância de 61,5% na faixa etária dos 18
aos 24 anos; contudo, verificamos a participação de um estudante com
idade até 57 anos. Quando perguntado sobre a escolaridade do chefe da
família 37,5% disseram possuir o Ensino Médio Completo/Ensino
Superior Incompleto. Em relação ao principal gerador de renda na família
do estudante, 38,5% indicaram que o pai é a fonte e 33,3% indicaram a
mãe. O nível econômico contempla uma maioria dos estudantes na classe
B2, com 45%. Quanto ao tipo de escola que concluiu o Ensino Médio, a
grande maioria dos estudantes (92,1%) concluíram em instituição pública.
A maioria dos estudantes (79,4%) informaram não terem frequentado
outro curso superior antes do atual, 10,3% que concluíram outro curso e
10,3% que iniciaram outro curso, mas não finalizaram.
O estudo também contou com sete docentes formados em
Psicologia que ministravam aulas na graduação em Psicologia (IES 2) que,
depois do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), responderam ao Critério de Classificação Econômica Brasil e
Questionário Ensino Superior: Prática Docente na Formação em
Psicologia (ORIGIN/pd). A idade média dos docentes participantes é de
43,3 anos, com desvio padrão de 9,1 anos; a idade mínima foi de 29 anos
e máxima de 57. As docentes do sexo feminino correspondem a 85,3% da
amostra. A experiência na docência variou de 3 até mais de 20 anos
166
dedicados ao ensino, sendo que a maior parte da amostra se concentra em
mais de 10 anos de experiência. Nenhum docente ministra aula/atividade
em todos os termos, sendo que 42,8% trabalha somente com dois termos
do curso de Psicologia, os demais docentes com pelo menos cinco termos.
O corpo docente da Graduação em Psicologia da referida IES apresenta
titulação de mestrado e doutorado, sendo 71,4% e 28,6%, respectiva-
mente. O principal gerador de renda da família é o próprio docente
(85,7%). No nível econômico houve uma predominância da classe A até
B2 com 57,1%. A amostra graduou-se, em sua maioria, em instituição
pública, 57,1%. Uma parcela representativa da amostra (85,7%) não
trabalha em outras instituições de ensino superior, mas 85,7%, ministram
aulas em outros cursos de Graduação dentro da mesma instituição de
ensino superior.
Apresentação dos instrumentos utilizados no estudo
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (2015),
o Critério de Classificação Econômica Brasil é composto de cinco partes,
sendo possível verificar quem é o chefe da família (o principal gerador de
renda), o grau de escolaridade do chefe da família, a posse e a quantidade
de itens que existem na casa (automóveis, empregadas mensalistas,
máquina de lavar roupa, banheiros, DVD, geladeira, freezers,
microcomputadores, lavadora de louças, fornos de micro-ondas,
motocicletas e máquinas secadoras de roupas). A partir da análise de
pontos decorrentes da posse de itens que existe na casa dos participantes, é
possível atribuir uma classe econômica (A, B1, B2, C1, C2, D e E) ao
participante.
167
O questionário ORIGIN/u foi desenvolvido por Georg Lind em
1996, sendo traduzido e adaptado por Marcia Schillinger-Agati, em sua
tese de doutorado na Universidade de Konstanz, em 2006, na Alemanha,
para a investigação do ambiente educacional no ensino superior. Sua
pesquisa entende como a educação universitária promove o julgamento da
competência moral no Brasil e em dois países de língua alemã, além de
estudar a realidade universitária e suas relações com a ética ou com a moral.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da área de Desenvolvimento
Moral e Educação do departamento de Psicologia da referida universidade
e coordenado por Georg Lind (SCHILLINGER-AGATI, 2006). Assim, a
partir de autorização dos autores para a utilização e para a adaptação do
questionário, este foi adaptado para se investigar a formação em Psicologia,
com os estudantes do segundo e quinto ano matriculados em dois cursos
de Graduação na área. Com a adaptação, o questionário é composto de 83
questões, em que constam respostas em escala Likert e abertas para que o
sujeito se posicione, passando a ser nomeado ORIGIN/esfp (Questionário
Ensino Superior: Formação em Psicologia).
Aplicamos nos estudantes de segundo e quinto ano o MCT_xt,
composto por três dilemas morais: dos operários, do médico e do juiz.
Inicialmente organizado por Georg Lind, na década de 1970, na
Alemanha, recebia o nome de MUT (Moralisches Urteil Test) e teve
contribuição da entrevista de juízo moral de Kohlberg em seu
desenvolvimento. A partir dos dilemas. é possível avaliar os processos de
educação moral ou seus similares, mais especificamente o desenvolvimento
da competência moral. Segundo Lind (2007), o MCT conta com os
dilemas e com os argumentos morais frente a situações controversas e
atinge, ao mesmo tempo, os aspectos afetivo e cognitivo, sem os misturar
168
(LIND, 2000b). Atualmente, o instrumento foi adaptado para 40 idiomas
(LIND, 2014). No estudo, procedemos a uma avaliação total e segmentada
dos dados coletados, e a utilização da planilha desenvolvida por Bataglia
(2010).
O questionário ORIGIN/u também foi adaptado para a
investigação da prática docente na formação em Psicologia, recebendo o
nome de ORIGIN/pd. Nessa adaptação, o questionário ficou com 91
questões com respostas em escala Likert e abertas para que os docentes que
tenham formação em Psicologia possam se posicionar sobre a sua própria
prática, bem como, propor sugestões de melhorias para a formação na área.
Descrevendo a análise dos dados do estudo
Os dados obtidos com a aplicação do Critério de Classificação
Econômica Brasil e do questionário adaptado do ORIGIN/u (2002) com
estudantes e com professores foram organizados em planilhas eletrônicas
do programa Microsoft Excel e Software RStudio (versão 1.1.423),
permitindo a análise estatística inferencial.
Consideramos como variáveis a IES e os anos, para, em um
segundo momento, utilizamos os testes estatísticos para validar a amostra
e para compará-las. Os testes estatísticos utilizados foram o Shapiro Wilk
para verificar se as amostras eram normalizadas, teste Levene para verificar
se as variâncias eram homogêneas e finalmente, o teste t de Student para
comparar os grupos quanto à igualdade das médias. A literatura sugere que
o pesquisador tente aplicar o teste paramétrico t de Student, em um
primeiro momento, e quando não atender aos pressupostos para aplicação
deste teste, recorra a testes não paramétricos como o Mann-Whitney
169
(ARON, 2003; LEVIN, 1977). Assim, em um primeiro momento da
análise, buscamos verificar se as dimensões de Assunção de
Responsabilidade e Reflexão Dirigida atendiam aos pressupostos para
aplicação do teste t de Student. Os dois pressupostos necessários são a
normalidade dos dados e a homogeneidade da variância.
A análise dos dados obtidos pelos questionários para estudantes e
para docentes, seguiu a interpretação proposta por Schillinger-Agati
(2006), e deu-se a partir de duas dimensões: a Assunção de Responsa-
bilidade (RT) e a Reflexão Dirigida (GR). Podemos compreender que, na
RT, o estudante assume a responsabilidade sobre o processo de ensino-
aprendizagem, que pode ser possível por meio da utilização de
metodologias ativas nos espaços de aprendizagem, a fim de permitir mais
autonomia para os estudantes. Em contrapartida, na GR, entendemos que
quanto mais se abre espaço para a discussão, para a relação entre teoria e
prática, mais se possibilita ao estudante e ao professor o desenvolvimento
da autonomia moral. Dentro das duas dimensões de análise existem quatro
categorias de respostas: (i) Curricular (atividade obrigatória para a
formação do estudante); (ii) Semicurricular (atividade não obrigatória para
a formação, mas ligada à área de conhecimento do estudante); (iii)
Extracurricular (atividade não obrigatória para a formação e não ligada a
área de conhecimento do estudante); e, por fim, (iv) Não Curricular
(atividade que acontece fora da instituição e não ligada à área de
conhecimento do estudante). Quando pensamos, por exemplo, em
atividade curricular, mencionamos as disciplinas ou os estágios
obrigatórios. Uma atividade semicurricular comum poderia ser a iniciação
científica. Como atividade extracurricular temos as atividades esportivas
ou políticas organizadas por centros acadêmicos e atividades não
170
curriculares, atividades como participação em organizações comunitárias.
Essas atividades são de Assunção de Responsabilidade. Atividades de
Reflexão Dirigida seriam conversas, discussões ou supervisões relativas à
prática nessas tarefas.
Quando tratamos do docente, compreendemos que ele atua tanto
como colaborador da instituição, quanto na formação dos estudantes. É
necessário, portanto, que as respostas sejam analisadas e separadas de
acordo com essas duas funções, por exemplo, uma questão do questionário
se referia à autonomia do professor para definir sua própria forma de
trabalho para atingir os objetivos definidos; já outra questão estava pautada
na postura do docente em relação aos estudantes. Esta questão pergunta se
o professor propôs trabalhos ou seminários, ou seja, se utiliza alguma forma
de metodologia mais ativa oferecendo aos estudantes a oportunidade de
Assunção de Responsabilidade; aquela está relacionada entre o docente e a
equipe gestora ou normas da instituição e visa identificar se há
oportunidade de Assunção de Responsabilidade pelo docente dada sua
relação com a instituição.
Quanto às pontuações das respostas, estas seguiram o critério de:
Muitas Vezes (3 pontos), Várias Vezes (2 pontos), Raramente (1 ponto),
Nunca (0 ponto), Participação Ativa (3 pontos), Pouca Participação (2
pontos), Interessado, mas não ativo (1 ponto), Nenhum (0 ponto), Sim (1
ponto) e Não (0 ponto). Por vezes, foi necessário inverter na pontuação,
pois algumas perguntas no questionário dos estudantes e dos docentes que
apresentavam sentido contrário ao das demais perguntas, como, por
exemplo: “eu trabalhei sozinho, sem assistência”, “as tarefas e trabalhos
solicitados reduzem-se à memorização e reprodução de textos indicados?”,
dentre outras. No caso da inversão de pontuação, as respostas foram
171
pontuadas da seguinte forma: Muitas Vezes (0 ponto), Várias Vezes (1
ponto), Raramente (2 pontos) e Nunca (3 pontos). Em relação à variação
de pontuação, mínima e máxima, dentro das categorias de resposta,
também houve diferença, sendo, pois, calculadas as médias possíveis para
cada dimensão. Também aconteceu de algumas questões se repetirem nas
categorias de análise (Semi e Extracurricular), pois as duas avaliavam a
Reflexão Dirigida.
Análise conjunta do segundo e quinto ano da IES 1
Foi realizada uma comparação entre os estudantes de segundo e
quinto ano quanto as dimensões do ORIGIN/esfp e dos dilemas do
MCT_xt. Os questionários possuíam veis de mensuração e de pontuação
diferentes. Para analisar as médias das dimensões foi necessário normalizá-
las, ou seja, utilizar uma mesma magnitude de medida, optando-se pela
medida logarítmica.
172
Gráfico 1 - Análise conjunta das pontuações normalizadas dos estudantes de segundo e
quinto ano da IES 1
Fonte: Do autor (dados do estudo)
1
.
O Gráfico 1 compara os resultados das dimensões do questionário
ORIGIN/esfp e os dilemas do MCT_xt, para os grupos dos segundo e
quinto anos sob uma mesma magnitude, construída utilizando a
normalização pela medida logarítmica. As dimensões do ORIGIN/esfp
ocupam as oito primeiras posições do eixo x, sendo possível perceber que
o segundo ano obteve a pontuação dia inferior à do quinto ano. As
variáveis que identificam o questionário MCT_xt, que são os dilemas
separadamente, de dois em dois e a pontuação total, ocupam da nona até
a décima quinta posição. Os estudantes do quinto ano da IES 1
apresentaram pontuações médias mais elevados que do segundo.
1
* dimensões que mostraram diferença estatisticamente significativa na comparação dos grupos.
173
Análise conjunta do segundo e quinto ano da IES 2
A verificação do ORIGIN/esfp e MCT_xt ocorreu por meio da
análise do comportamento das pontuações médias de cada dimensão dos
questionários.
Gráfico 2 - Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt dos estudantes de segundo e quinto ano da IES 2
Fonte: Do autor (dados do estudo)
2
.
No Gráfico 2, os estudantes do quinto ano da IES 2 apresentaram
pontuações mais elevadas em relação aos de segundo ano, nas dimensões
do ORIGIN/esfp. É possível também verificar que para os dilemas do
MCT_xt, os estudantes do segundo ano obtiveram pontuações mais
elevadas do que o quinto.
2
* dimensões que mostraram diferença estatisticamente significativa na comparação dos grupos.
174
Análise conjunta para estudantes do segundo ano da IES 1 e 02
Gráfico 3Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt das IESs 1 e 2 para os estudantes de segundo ano
Fonte: Do autor (dados do estudo)
3
.
Para a análise conjunta das pontuações dos estudantes do segundo
ano da IES 1 e 02, verificando se manteve um padrão de respostas,
utilizamos as médias das dimensões do ORIGIN/esfp e dilemas do
MCT_xt. Assim, para expor os valores, em um mesmo gráfico, foi
necessário normalizar as médias, pois compreendiam mensurações
diferentes.
O Gráfico 3 apresenta proximidade da percepção dos estudantes
do segundo ano das IES 1 e 02 para a dimensão de Assunção de
Responsabilidade (curricular, semi, extra e não curricular), bem como para
3
* dimensões que mostraram diferença estatisticamente significativa na comparação dos grupos.
175
a dimensão Reflexão Dirigida (curricular, extra e não curricular). Houve
um ligeiro acréscimo da média da IES 2 em relação à IES 1, em GR
semicurricular. Já nos dilemas do MCT_xt verificamos pontuações
superiores da IES 2 em relação à IES 1, em juiz, operários/juiz e total. Para
os dilemas médico/juiz e operários/médico houve uma ligeira
superioridade da IES 2.
Análise conjunta para estudantes do quinto ano da IES 1 e 2
Com o objetivo de analisar conjuntamente o comportamento das
respostas dos estudantes de quinto ano aos das IESs 1 e 2, buscamos
colocar em uma mesma escala os resultados obtidos pela aplicação dos
testes ORIGIN/esfp e MCT_xt. Para tal, foi necessário normalizar as
pontuações para obter a mesma escala.
176
Gráfico 4 - Análise conjunta das pontuações normalizadas do ORIGIN/esfp e
MCT_xt dos estudantes de quinto ano das IESs 1 e 2
Fonte: Do autor (dados do estudo)
4
.
Na análise dos dados do ORIGIN/esfp para os estudantes do
quinto ano das IESs 1 e 2 (cf. Gráfico 4), verificamos um equilíbrio,
acontecendo uma ligeira vantagem (pontuações dias mais altas) da IES
1 em comparação com a IES 2, em RT curricular, extra e não-curricular,
bem como em GR curricular e extracurricular. Para o MCT_xt, as
pontuações médias mais elevadas da IES 1 em relação à IES 2, são
encontrados nos dilemas médico, médico/juiz, operários/juiz e total.
Verificamos, assim, que, na IES 1, superioridade na pontuação dos dois
questionários, em relação à IES 2.
4
* dimensões que mostraram diferença estatisticamente significativa na comparação dos grupos.
177
Análise conjunta dos docentes das duas IESs
Buscamos comparar as dimensões de Assunção de
Responsabilidade e Reflexão Dirigida dos docentes das IESs 1 e 2 quanto
à colaboração e quanto à formação.
Gráfico 5 - Boxplot para relacionar docentes colaboradores das IESs 1 e 2
Fonte: Do autor (dados do estudo).
O Gráfico 5 apresenta as medidas descritivas das dimensões
enquanto docentes colaboradores por meio de um boxplot, para melhor
visualização dos dados da IES 1 e 02. As retas na horizontal, em negrito,
dentro de cada caixa, representam as medianas da IES 1 e da IES 2. A IES
1 apresentou medianas superiores a IES 2 para as dimensões RT
extracurricular, RT não-curricular e GR curricular. Em contrapartida, a
178
comparação das medianas das IESs 1 e 2 mostraram-se próximas para as
dimensões RT curricular, GR extracurricular e GR não-curricular.
Para verificarmos a existência de diferença estatisticamente
significativa entre as medianas das dimensões, optamos por um teste não
paramétrico de Mann-Whitney, uma vez que a amostra de professores ser
pequena (IES 1 apresentou seis participantes; IES 2, sete). O teste de
Mann-Whitney compara as medianas, adotando como hipótese nula que
as medianas das dimensões dos colaborados da IES 1 são iguais às medianas
das dimensões dos colaboradores da IES 2. A Tabela 3 apresenta os
resultados da estatística inferencial.
Tabela 3 - Comparação dos docentes colaboradores das IESs 1 e 2
em relação as dimensões RT e GR
Assunção de Responsabilidade
(RT)
Reflexão Dirigida (GR)
Mann-
Whitney
Tamanho do
efeito
Mann-
Whitney
Tamanho do
efeito
U
p
valor Cohen’s
U
p
valor Cohen’s
Curricular
18 0,70 0,57 27 0,40 0,58
Extra
curricular
24 0,70 0,31 20 1,00 0,28
Não
curricular
34 0,07 1,27 23 0,80 0,42
Fonte: Do autor (dados do estudo).
179
Os dados apresentados mostram que a hipótese nula foi aceita, pois
nenhum p valor foi menor do que o nível de significância de 5%. Portanto,
não existe diferença, estatisticamente, significativa entre os docentes
colaboradores nas dimensões RT e GR, nas duas IESs investigadas. O
tamanho do efeito é considerado quando temos p valor significativo.
A análise da comparação dos docentes das duas IESs foi realizada
pelo teste não paramétrico Mann-Whitney, devido ao fato de a amostra ser
pequena, preferindo-se, nesses casos, a comparação das medianas. O
Gráfico 6 apresenta o comportamento das medidas descritivas.
Gráfico 6 - Boxplot para relacionar docentes formadores das IESs 1 e 2
Fonte: Do autor (dados do estudo).
180
No Gráfico 6, as retas horizontais indicam o valor da mediana nas
IES 1 e 02, para dimensões RT e GT dos docentes, enquanto formadores.
A IES 1 apresentou medianas inferiores às da IES 2 para as dimensões RT
curricular e semicurricular. Para a dimensão GR semicurricular a IES 1
apresentou mediana superior a IES 2. Na dimensão GR curricular as
medianas dos docentes mostraram-se próximas.
A hipótese nula testada corresponde à igualdade das medianas dos
docentes formadores das IESs 1 e 2 quanto às dimensões RT e GR. O
resultado do teste é apresentado na Tabela 4.
Tabela 4 - Comparação dos docentes formadores das IESs 1 e 2
em relação as dimensões RT e GR
Assunção de Responsabilidade
(RT)
Reflexão Dirigida (GR)
Mann-
Whitney
Tamanho
do efeito
Mann-
Whitney
Tamanho
do efeito
U
p
valor Cohen’s
U
p
valor Cohen’s
Curricular
9.5 0,10 1,33 18 0,70 0,24
Semicurricular
18 0,80 0,08 33 0,10 1,02
Fonte: Do autor (dados do estudo).
Considerando o nível de significância de 5%, a análise do teste não
paramétrico, Mann-Whitney, aceitou a hipótese de igualdade das medianas
entre os docentes formadores das duas IESs, em relação às dimensões RT
181
e GR. Portanto, não existe diferença estatística entre os docentes
formadores das IES 1 e 02, quanto as dimensões RT e GR.
Ampliando discussões a partir das análises conjuntas
Retomamos as comparações qualitativas e quantitativas realizadas
entre: (i) os estudantes de segundo e quinto ano, (ii) os docentes e (iii) as
duas IESs, para melhor ênfase dos resultados alcançados com o estudo.
Assim, quanto à análise qualitativa das perguntas dissertativas para os
estudantes de segundo e quinto anos da IES 1, destacamos, como pontos
centrais, os quais serão discutidos a seguir.
Em relação à compreensão do que deveria ser modificado na
formação em Psicologia, os estudantes de segundo ano e quinto ano da IES
1 apresentaram respostas semelhantes que se enquadram nas seguintes
categorias: forma de trabalho dos professores, discussões sobre as questões
atuais da sociedade, mudança na grade curricular, afetividade dos
estudantes, maior acesso dos estudantes as palestras e cursos. Quanto às
supervisões em Psicologia contribuem para a formação profissional, os
estudantes ao serem questionados sobre as contribuições das supervisões
em Psicologia apresentaram respostas que corroboram: o esclarecimento
de dúvidas, troca de experiências, orientação, diferentes pontos de vista,
acesso a diferentes experiências da prática profissional, segurança sentida
pelo estudante e contribuição para a prática profissional futura. No que
diz respeito à possibilidade de trabalhar de forma mais independente em
outras atividades, os estudantes responderam de forma semelhante nas
seguintes categorias: prática em instituições educacionais, atividades
religiosas, oportunidades que a instituição poderia oferecer. Por fim, no
182
que diz respeito à forma como contribuem para a organização de eventos
do curso de Psicologia, as respostas dos estudantes do segundo e quinto
ano da IES 1 apresentaram semelhança nas categorias: participação em
Centro Acadêmico e divulgação dos eventos.
Quanto aos pontos centrais das perguntas dissertativas dos
estudantes dos segundo e quinto anos da IES 2, temos, no primeiro deles,
categorias semelhantes entre os grupos, para a questão do que deveria ser
modificado na formação em Psicologia: (i) mudanças na grade curricular,
(ii) incentivo para iniciação científica, (iii) auxílio psicológico aos
estudantes, (iv) relação psicólogo paciente (nos estágios), (v) metodologias
ativas (integração teoria e prática), (vi) questões institucionais (concessão
de bolsas estudantis) e (vii) prática docente. O segundo ponto central
abordou a forma como as supervisões em Psicologia contribuem para a
formação profissional, sendo que as categorias de respostas convergem no
esclarecimento de dúvidas, na orientação, na troca de experiências, na
ampliação do conhecimento, na contribuição para prática profissional
futura, no aprimoramento e no autoconhecimento dos estudantes e
formação ética. No terceiro ponto central, as categorias de respostas que se
assemelham entre os estudantes dos segundo e quinto anos da IES 2, para
a possibilidade de trabalhar de forma mais independente em outras
atividades foram as práticas propiciadas pelo próprio curso, as atividades
religiosas e as possibilidades futuras de trabalho. Em relação ao quarto
ponto central, as categorias de respostas relacionaram-se quanto à
organização e à divulgação dos eventos.
Em relação à comparação dos docentes para justificar o que deveria
ser melhorado na formação em Psicologia e as possibilidades de trabalhar
de forma mais independente em outras atividades, os docentes da IES 1
183
apresentaram mais respostas que permitiram entender o estudante como
mais atuante no processo de aprendizagem, dando-lhe a oportunidade de
reflexão acerca do conhecimento, pois destacaram o uso de metodologias
ativas, discussões sobre ética, práticas problematizadoras, reformulação da
grade curricular e inclusão de disciplinas mais práticas, como a arteterapia.
Em relação ao trabalho de forma mais independente em outras atividades,
há uma aproximação entre as respostas dos docentes das duas IESs, com
destaque para a atuação clínica e de pesquisa, sendo que as demais
categorias estão ligadas à prática docente.
Retomando outro aspecto dos resultados, a comparação do
ORIGIN/pd para os docentes enquanto formadores e colaboradores,
percebemos que a IES 1 apresenta pontuações maiores do que a IES 2,
para docente colaborador é menor do que a IES 2, enquanto formador. A
análise estatística não confirmou essas diferenças. Logo, consideramos a
igualdade nas percepções dos docentes de duas IESs, enquanto formadores
(prática do docente em relação aos estudantes, inclusive a utilização de
metodologia mais ativa oferecendo aos estudantes a oportunidade de
Assunção de Responsabilidade e Reflexão Dirigida) e colaboradores
(relacionamento entre o docente e a equipe gestora ou normas da
instituição que visem a oportunidade de Assunção de Responsabilidade e
Reflexão Dirigida).
Em estudo realizado com estudantes, professores e coordenador de
curso de Psicologia a respeito das Diretrizes Curriculares Nacionais, dos
processos educativos e da formação de psicólogos na Amazônia, Brasileiro
e Souza (2010) concluíram que o curso pesquisado tenta adequar-se às
Diretrizes Curriculares Nacionais, os docentes e o coordenador concordam
com as contribuições trazidas pelas Diretrizes, que visam uma formação
184
mais ampla, destacam as dificuldades de definição de ênfases e do embate
generalista x especialista, que eram presentes nas Diretrizes de 2004, que
estavam vigentes na época do estudo.
Em relação ao processo formativo percebido pelos estudantes, os
próprios estudantes destacam a dificuldade de relacionar teoria e prática,
acreditando estarem preparados para atividades de orientação, de
aconselhamento psicológico, de psicoterapia avaliação de fenômenos
humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, mas, em
contrapartida, sentem insegurança na atuação preventiva ou terapêutica
em diferentes níveis de ação. Quanto à satisfação com o curso, destacamos
uma melhoria qualitativa da formação, o comprometimento docente, o
currículo do curso, mas os estudantes apresentaram dificuldades
institucionais (físicas e materiais) para o desenvolvimento das atividades.
Recortando as discussões de Brasileiro e Souza (2010), sobre a
formação generalista x especialista, que faziam parte das Diretrizes
Curriculares de 2004, Soligo (2015) apresenta que uma formação
generalista visa a integralidade e a presença da Psicologia em diferentes
possibilidades de atuação e a formação especialista, especializada, que
formaria diferentes perfis de psicólogos. Assim, as Diretrizes Curriculares
Nacionais, de 2011, vem no intuito de abranger as discussões e os dissensos
produzidos com a primeira Diretriz, propondo a criação de ênfases
curriculares na tentativa de conciliar generalista e especialista, assumindo
como Yamamotto (2012) retrata, uma especialidade dentro da
generalidade.
Ao pensar não somente na formação, mas na própria atuação
profissional, Souza (2010), em sua pesquisa para o título de livre-docência
em Psicologia, levantou do ponto de vista dos psicólogos participantes do
185
estudo, os princípios norteadores de suas atuações, que foram apresentados
nas seguintes categorias: (i) postura crítica que possibilite o rompimento
de uma compreensão naturalista dos fenômenos educativos; (ii) percepção
da educação a partir de dimensões históricas, culturais e sociais; (iii)
educação que promova o respeito à diversidade e vise a inclusão social; (iv)
desenvolvimento integral dos envolvidos no processo educacional; e, por
fim, (v) reconhecimento da capacidade de transformação de si e da
realidade na qual se inserem, sendo considerado um sujeito ativo no
processo de escolarização. Tais categorias elucidam nossas discussões de
que para uma adequada atuação profissional dos psicólogos, que hoje
estamos formando, deve acontecer um envolvimento de todos os
integrantes do processo educativo da Graduação em Psicologia, ao pensar
em uma formação integral, que possibilite ao estudante a compreensão do
outro como ser bio-psico-social-histórico-cultural-espiritual e, além disso,
devemos olhar o outro como um ser único que atua sobre o meio em que
está inserido e consequentemente, sofre influências deste mesmo meio.
A partir das comparações aqui apresentadas, verificamos que o
estudo foi concebido no sentido de contribuir para algumas reflexões. A
primeira delas trata da integração das metodologias ativas e os trabalhos
com as práticas morais podem trazer significativos avanços éticos e de
promoção do desenvolvimento moral na formação de profissionais da
Psicologia. Diferentemente do que se entendia anteriormente, somente a
metodologia ativa não garante a formação ética do profissional.
Nosso pensamento de que o desenvolvimento moral engloba
discussões muito mais amplas que perpassam pelo cognitivo, afetivo, uso
de metodologia ativas, pelo papel do professor e por uma articulação entre
as diretrizes sobre a formação em Psicologia, são reforçadas por Oliveira e
186
Rego (2008), ao afirmarem que “[...] o ser humano se torna um indivíduo
e se constitui um agente moral, mediado pelo mundo subjetivo, pelo
mundo intersubjetivo e o social” (OLIVEIRA; REGO, 2008, p.135). Os
espaços de aprendizagem são os propulsores para o desenvolvimento da
competência moral e, consequentemente, de profissionais mais críticos-
reflexivos sobre a sua atuação e que consigam melhor integrar teoria,
técnica e prática.
A moralidade não se desenvolverá naturalmente nos estudantes,
portanto uma mudança nos currículos é evidenciada como necessária para
que a IES possa atuar como real colaboradora na construção dos processos
de aprendizagem e de desenvolvimento moral. No estudo realizado,
percebemos o quanto os estudantes ainda estão distantes da construção de
sua aprendizagem, e os modelos de ensino tradicional ainda se sobressaem
sobre as metodologias ativas. Situação essa que é destacada, inclusive, pela
coordenadora da Graduação).
Poucos estudantes relatam a possibilidade de participação na
organização de eventos do curso, em espaços de discussão e de
compartilhamento de ideias e de modos de fazer mais autônomos em suas
diferentes atuações sociais. Talvez, a maioria das situações seja em práticas
religiosas ou de estágio para a concessão de bolsas estudantis, como o
Programa Escola da Família. Há, também, um número reduzido de
estudantes do segundo ano das duas IESs compreende que as supervisões
do Estágio Básico são uma oportunidade para a reflexão sobre a prática
profissional, a integração entre teoria e técnica e, consequentemente, de
uma melhora no desenvolvimento do futuro profissional. Para esses
estudantes, somente os Estágios de Formação em Psicologia oportunizarão
essas práticas reflexivas.
187
Em estudos com estudantes do curso de Medicina, os futuros
médicos defendem o aspecto afetivo da moralidade e a necessidade do
trabalho com a promoção de valores morais, mesmo que seja uma tarefa
árdua, para a promoção de valores profissionais. Uma tentativa de
melhorar a atuação moral dos graduandos de medicina e,
consequentemente, dos futuros médicos, é a utilização de estratégias que
mobilizem as emoções deles, a partir de uma sensibilização da importância
dos valores morais, ainda que seja difícil avaliar a eficácia de intervenções
educativas sobre a afetividade (SERÓDIO, 2013). Essa reestruturação das
práticas pedagógicas na Graduação deve ser pensada para todos os cursos,
com destaque para a formação dos psicólogos que trabalham diretamente
com o outro, com suas emoções e afetos.
Seródio (2013) destaca, também, que devemos buscar estratégias
educativas que fomentem os valores morais, mas que não abandonem o
investimento cognitivo do comportamento moral, isso significa que ao
investir no afetivo do comportamento moral expandimos as possibilidades
da formação ético-moral. Em sua pesquisa com estudantes de medicina, o
autor compreendeu que, assim como outros jovens, esses estudantes
nasceram e cresceram em um mundo em que os valores estão em
constantes reinterpretações e que se subestima princípios humanistas
(generosidade, compreensão, tolerância), mas que essa negligência do
aspecto afetivo da moralidade não deveria acontecer. Para que haja
melhora no desenvolvimento moral dos profissionais da Medicina, o autor
sugere a utilização de estratégias que trabalhem com as emoções dos
graduandos, sensibilizando-os quanto à importância dos valores morais,
como um complemento de práticas pedagógicas, que busquem o
desenvolvimento da competência moral. Sabemos que tal situação não se
188
diferencia da Graduação em Psicologia, pois há uma dificuldade geral nos
cursos de ensino superior em integrar o afetivo e o cognitivo.
Pensando no ambiente de aprendizagem, é grande a parcela de
responsabilidade da escola e dos professores no processo de estagnação ou
de regressão moral dos estudantes do curso de Medicina, e o quanto têm a
obrigação de mudarem o quadro apresentado, a fim de promover uma
formação ético-moral dos futuros profissionais. Sabemos, ainda, que os
esforços pedagógicos não garantam o alcance de metas para motivar
moralmente os estudantes e de fazer com que pensem por si e comportem-
se segundo o esperado (SERÓDIO, 2013). Entretanto, mesmo com essas
adversidades, devemos, sim, iniciar discussões como essa sobre a
necessidade de que o projeto político-pedagógico do curso contemple a
utilização de metodologias mais ativas, em que é possível a inversão do
papel do professor de único autor no processo ensino-aprendizagem para
um mediador de práticas que possibilitem os estudantes a compreenderem
a sua importância nesse processo de construção do conhecimento e
desenvolvimento de sua capacidade de reflexão diante das inúmeras
situações que serão exigidas na integração da teoria, técnica e prática.
Também em estudos com estudantes de Medicina, Feitosa et al.
(2013) compreenderam que a profissão requer mais demanda por
profissionais moralmente competentes, se comparados com outras
profissões, pois os futuros médicos são treinados no desenvolvimento de
habilidades técnicas, o que não ocorre com o desenvolvimento moral. Os
autores citam, também, Lind (2000b), quando destacam que, com o
desenvolvimento da tecnologia na Medicina, os médicos posicionam-se na
tomada de decisões tanto para nosso bem-estar quanto para nossa vida,
mas para isso precisam estar preparados para as implicações morais que tais
189
decisões acarretam. Os estudos têm mostrado que, enquanto pesquisas
com estudantes de diversas áreas apresentam aumento da competência
moral, os estudantes de Medicina apresentam estagnação ou regressão. Os
problemas morais acabam sendo resolvidos a partir de negativas, ou mesmo
da confusão com a natureza técnica. O modelo atual de educação médica
tem falhado no desenvolvimento de competências morais para que os
estudantes se tornem bons médicos. Rego e Schillinger-Agati (2011) dizem
que as mudanças devem passar não somente pelos currículos dos cursos,
mas principalmente pelos métodos e pelo ambiente educacional.
O trabalho de Oliveira (2014), sobre educação moral na formação
de enfermeiros, com a utilização da discussão de dilemas, como uma
intervenção pedagógica para a promoção da competência moral,
demonstra uma importante mudança ao final dos estudos, de uma
regressão moral para uma estagnação dos resultados da população
estudada. A autora destaca que tais resultados repetem o padrão de estudos
de outros países latino americanos, mas se diferenciam dos resultados de
outros continentes. Os fatores destacados por ela para a compreensão dos
processos de regressão e segmentação dos resultados, são a estreita relação
entre o ensino da ética com os pressupostos religiosos, o forte traço
deontológico nas decisões morais, o não estímulo ao pensamento crítico,
o distanciamento da IES com as demandas sociais e o impacto de sistemas
opressores sobre o agir e pensar da população ao longo da história da
América Latina.
Fundamentando-nos em Oliveira (2014), assim como na
graduação em Enfermagem, também ocorre na formação em Psicologia: o
ensino da ética deve ser laico nos currículos, sendo enfatizado os direitos
humanos, a justiça e a autonomia, com maior carga horária, com
190
professores qualificados que utilizem métodos visando a promoção do
pensamento crítico, a fim de formar agentes morais competentes para o
desenvolvimento da profissão. A laicidade da Psicologia contribuiu,
significativamente, para a garantia de direitos da demanda atendida pelos
estagiários e profissionais da Psicologia, inclusive para avanços nas
dimensões ética e política.
Verificamos, em nosso estudo, comparando os estudantes dos
segundo e quinto anos da IES 1 quanto as pontuações dos dilemas do
MCT_xt, que não existe diferença, estatisticamente, significativa, embora
a maioria das pontuações do quinto ano tenham sido maiores do que os
do segundo ano. Em relação à comparação desses estudantes quanto ao
ORIGIN/esfp, percebemos que os resultados maiores foram para os
estudantes de quinto ano em todas as dimensões que foram significativas
(RT curricular e GR curricular, GR semi e GR extracurricular).
Quando procedemos o levantamento das comparações da IES 2,
destacamos que os estudantes dos segundo e quinto anos, ao serem
comparados quanto aos dilemas do MCT_xt, demonstraram
superioridade em relação ao quinto ano para os dilemas (juiz,
operários/juiz, médico/juiz e total). Hipotetizamos que a formação em
Psicologia (o desenvolvimento do curso) não tem contribuído de modo
eficaz, ao aumentar a competência moral. Os estudantes dos segundo e
quinto anos da IES 2 também foram comparados quanto aos resultados do
ORIGIN/esfp e destacam-se pontuações mais altas para os estudantes de
quinto ano do que os de segundo ano, nas dimensões RT e GR.
Em estudos com profissionais da Psicologia matriculados na Pós-
Graduação em Psicologia do Trânsito, percebemos, também, que tanto na
intervenção tradicional no grupo controle, que é proposta pelo próprio
191
curso, como na intervenção proposta no grupo experimental, houve
mudanças significativas na capacidade reflexiva dos profissionais. Situação
essa que pode ser justificada pelo fato de os estudantes não estarem
acostumados com as intervenções desenvolvidas, a partir de discussão de
dilemas morais e da reflexão sobre o seu cotidiano de trabalho, bem como
pela necessidade de modificação no currículo do curso como possibilidade
de posicionamento reflexivo e da integração da ética nas diversas
disciplinas (BERETA, 2014).
Indo ao encontro dessa tendência, Bataglia e Bortolanza (2012)
realizaram um estudo de caso com estudantes dos primeiro e quinto anos
da Graduação em Psicologia, sobre o ambiente acadêmico e os conceitos
de moral e ética, sendo aparente para os docentes que “[...] o
desenvolvimento de um ambiente acadêmico que permita o
desenvolvimento da Assunção de Responsabilidades e a Reflexão Dirigida
é uma condição para que os estudantes possam integrar os conceitos de
moral e ética à sua práxis” (BATAGLIA; BORTOLANZA, 2012, p.137).
Compreendemos que somente haverá um avanço nas questões aqui
discutidas, quando a grade curricular, os docentes e os estudantes estiverem
integrados para a mudança das práticas até então realizadas nos processos
de aprendizagem no Ensino Superior. Ao longo das análises estatísticas,
percebemos pouco envolvimento dos estudantes nas problematizações, em
discussões sobre a prática profissional e na integração entre teoria e técnica;
posicionamentos esses que vêm muito mais da figura docente do que do
próprio estudante. As participações discentes acontecem com mais
frequência quando estão em supervisões, nas quais a integração entre teoria
e prática é muito mais perceptível e faz parte do cotidiano de estágio dos
futuros profissionais da Psicologia.
192
Enfatizamos, nesse ponto, a importância das supervisões para a
formação dos estudantes, como um dos grandes avanços do curso de
Psicologia, que, diferentemente, dos demais cursos de Ensino Superior,
oportuniza maior proximidade do Psicólogo (supervisor) com o estudante,
a fim de discutirem e de refletirem sobre as melhores formas de atuação
profissional, sobre as demandas sociais e sobre a sensibilidade na
compreensão do outro de forma integral. Com as supervisões, é possível
transcender a Psicologia de um lugar de elite e do atendimento clínico
clássico, para a realização de uma clínica ampliada.
Continuando com a exposição de alguns estudos sobre a temática,
Bataglia (1996), em sua dissertação de Mestrado, realizou uma pesquisa
com estudantes de Psicologia, compreendendo que a maioria demonstrou
um nível de juízo moral caracterizada pelo relativismo instrumental
hedonista e por uma satisfação dos valores grupais, sendo o conhecimento
do código de ética profissional reduzido ao sigilo profissional. Tal situação
traz preocupação tendo em vista, que os posicionamentos do psicólogo
podem perpassar as quatro paredes do setting terapêutico (BATAGLIA,
2012). Por sua vez, em sua tese de doutorado, Bataglia (2001) continuou
a enfatizar a necessidade de reformulação na disciplina de ética
profissional, a fim de que haja uma mudança significativa na competência
moral dos estudantes de Psicologia. A autora percebeu, após a discussão de
dilema morais com os participantes da pesquisa, que houve um aumento
da capacidade reflexiva, mas que as discussões devem ser amplas e
continuada para que se mantenham (BATAGLIA, 2012).
Ainda segundo autora, no Ensino Superior, a formação ética é
considerada parte da formação profissional e, consequentemente, de
responsabilidade de quem educa, sendo mais amplas as discussões pois
193
estamos falando de desenvolvimento de capacidade reflexiva e não somente
de Código de Ética Profissional. Assim, agir moralmente dependerá do
desenvolvimento dessa capacidade de aplicar, consistentemente, os
princípios nas situações difíceis e dilemáticas, é o que Kohlberg (1984)
denomina de competência moral (BATAGLIA, 2012). Portanto, a
disciplina de ética assume, juntamente com as demais disciplinas do
currículo, um importante papel de reflexão diante das regras do Código de
Ética Profissional. Segundo Kohlberg (1984) não basta ser decorado pelos
graduandos os artigos que compõe este documento ético, pois assim,
estariam em níveis baixos de desenvolvimento moral, mas, sim, serem
propostas atividades que desenvolvam o senso crítico-reflexivo a respeito
das inúmeras demandas que o psicólogo pode vivenciar em sua prática
profissional. Dessa forma, contribuirão para o desenvolvimento moral do
futuro profissional a níveis pós-convencionais, em que há a preocupação
com contratos sociais, com direitos individuais e com os princípios éticos
universais, consequentemente agindo e refletindo de forma mais autônoma
demonstrando um maior comprometimento com a ação moral.
Nesse sentido, pesquisadores de Harvard concluíram que a ética
deva fazer parte do currículo e não apenas uma disciplina que os estudantes
tiveram contato. Para tanto, essa intervenção envolveu todos os
participantes do ambiente acadêmico, realizou uma alteração no currículo
do curso, prepararam os docentes para adequarem as disciplinas para que
os estudantes construam um pensamento sistémico e crítico, atuando de
forma mais ativa (BATAGLIA, 2012). A ética precisa ser compreendida
como um trabalho transversal entre as disciplinas do currículo dos cursos
de Graduação em Psicologia, mas, aqui, defendemos a inclusão e/ou a
continuidade da disciplina de ética profissional nos currículos dos cursos
194
de Psicologia, a fim de um maior espaço para as realizações de práticas
morais e de espaços de reflexão no ambiente de aprendizagem.
Bataglia e Bortolanza (2012) apontam em seus estudos com a
utilização do ORIGIN/u que houve maior Reflexão Dirigida nos
estudantes do quinto ano, em comparação com os do primeiro ano do
curso de Psicologia, o que pode ser justificado por a medida que os
estudantes avançam no curso, são propostas mais discussões e
consequentemente contribuem para a formação de um sujeito mais
reflexivo. As pesquisas de Schillinger-Agati (2006), por sua vez, com
estudantes de três cursos de Graduação (Psicologia, Administração de
Empresas e Medicina) em três países diferentes (Suíça, Alemanha e Brasil)
sobre o ambiente acadêmico e o desenvolvimento da competência moral
apresentam resultados de que as universidades que promovem
oportunidade de Assunção de Responsabilidade e Reflexão Dirigida
poderão ter maiores progressos na formação profissional dos estudantes.
Discutindo a relação entre religião e desenvolvimento moral, Von
Rondon (2009) apresenta, em seu estudo com estudantes do curso de
Teologia, a partir da teoria kohlberguiana, que a autonomia moral é
baseada no pressuposto de que a moralidade deveria ser “[...] uma esfera
logicamente independente na aplicação de pensamentos religiosos em
questões morais” (VON RONDON, 2009, p.56). Assim, Kohlberg
(1984, p.336) destaca que “uma pequena porcentagem de indivíduos apela
explicitamente a questões de ordem religiosa para justificar seus
julgamentos morais, sendo que a grande maioria não o faz”. Continua
defendendo que o desenvolvimento moral ocorre independentemente, e
mesmo indivíduos em estágios morais mais elevados apresentam
divergências em suas visões religiosas.
195
No primeiro estágio um apelo pode ser feito ao humano como oposto
a teoria divina e punição, no segundo estágio pode ser feito um apelo
ao interesse próprio, no estágio 3 para a aprovação dos outros, no
estágio 4 um apelo ao respeito de si mesmo ou a seu papel na sociedade,
no estágio 5 para a proteção ao direito de perseguir sua própria
felicidade socialmente ou individualmente com devida consideração
para o direito e bem-estar dos outros. No estágio 6, entretanto, o
princípio de ética universal não pode ser imediatamente justificado
pela realidade da ordem social humana. Tal moralidade requer
unicamente um estágio último de orientação religiosa e move as
pessoas nesta direção. Como nós notamos a orientação religiosa
requerida pelo princípio moral universal eu tenho chamado de “7º.
Estágio” (KOHLBERG, 1984, p.344).
Kohlberg (1984) defenderá um sétimo estágio de desenvolvimento
moral para pensar nas questões religiosas. Para Lind (2005 apud
BATAGLIA, 2010), a influência da cultura e da religião são fatores
determinantes, no Brasil, para que ocorra a redução da competência moral
quando se apresenta questões que estejam relacionadas à religiosidade ou
dogmas cristãos, pois vivenciamos uma forte influência de agentes sociais
(igreja, exército e outras instituições). Bataglia, Morais e Lepre (2010),
conforme já discutido em outros capítulos desta obra, destacam que a
influência da cultura latino-americana e possivelmente da religião,
contribuem para baixos resultados nos dilemas de conteúdo relacionado à
religião.
Nas pesquisas de Schillinger-Agati e Lind (2003), mantém-se a
discussão sobre a influência da religião e do contexto cultural brasileiro
como determinante para a manutenção dos resultados encontrados. Assim,
no referido estudo com estudantes de renomadas universidades
competitivas do Brasil, foram verificadas: média C de 22,8; 31,4 para o
196
médico; e 45,0 para o dos operários. Em universidades de baixa
competitividade, os estudantes apresentaram pontuação média de 13,4;
20,9 para o dilema do médico; 33,5 para o dos operários. Na comparação
de um grupo de estudantes brasileiros de Psicologia com um semelhante
de alemães, confirmamos a presença desse fenômeno apenas na amostra do
Brasil, já que, na amostra alemã, as pontuações C ainda maiores no dilema
do médico. Situação que é esperada devido o dilema da eutanásia ser mais
moralmente exigente do que o dilema dos operários (LIND, 1985 apud
SCHILLINGER-AGATI; LIND, 2003). O dilema da eutanásia traz um
fator importante de discussão que é o princípio da vida, estando
fortemente influenciado também por aspectos religiosos e éticos da
profissão médica, enquanto o dilema dos operários traz como tema o furto
de algo que não lhe pertence para confirmação de uma suspeita (BERETA,
2014).
Dessa forma, é possível compreender que a segmentação da
competência do juízo moral não reflete isoladamente uma competência
individual, mas, também, uma influência do meio social, das instituições
e da cultura (LIND, 2007; SERÓDIO, 2013). Para tanto, a literatura
levanta a hipótese de que o dogmatismo religioso é fator presente na
limitação da competência moral da população latino-americana no dilema
do médico (BATAGLIA et al., 2013; BERETA, 2014; SERÓDIO, 2013).
Os índices de competência do juízo moral obtidos no dilema do juiz
assemelham-se ao do dilema dos operários, sendo superiores aos que são
observados no dilema do médico. Quanto ao dilema do juiz, mesmo que
haja a vida de um ser humano em discussão, não é uma sacralidade
(conceito religioso), mas a relação entre a dignidade (conceito laico) do
197
indivíduo a ser torturado e o risco da morte de inocentes (SERÓDIO,
2013).
No entanto, no estudo que desenvolvemos com o grupo de
estudantes dos segundo e quinto anos da IES 1, as respostas ao dilema do
juiz foram mais baixas do que as respostas aos dilemas dos operários e do
médico; para os estudantes de segundo ano da IES 2, os resultados ao
dilema do dico foram mais baixos e para os estudantes de quinto ano
da IES 2 o pontuação mais baixo está no dilema do juiz. Curiosamente,
tivemos, em alguns grupos, as respostas ao dilema do juiz mais baixas em
pontuação C do que as respostas ao dilema do médico e do operário.
Situação essa que também foi verificada em grupos pesquisados por Bereta
(2014). Podemos inferir que, nesta amostra, os resultados são atípicos em
comparação com os demais resultados brasileiros, pois não demonstram
que a religião está sendo fator limitador da competência moral no dilema
do médico. Tal fato se comprova, inclusive, nas comparações realizadas a
seguir.
Os dados de comparação entre a religião e o MCT_xt permitiram
a verificação de que para o segundo ano da IES 1 não foi possível
comprovar correlação, estatisticamente, significativa entre as pontuações
dos dilemas e a idade dos participantes. Embora os estudantes que
declararam religião tenham resultados entre baixo e médio no dilema do
médico e os que não declararam religião tenham pontuações médias e
muito altas. Na comparação dos estudantes de quinto ano da IES 1,
verificamos uma correlação significativa no dilema operários/médico; para
quem declarou religião, as pontuações foram baixa e médias e, para os que
não declararam religião, as pontuações foram baixas, médias e altas. Não
198
existindo correlação, estatisticamente, significativa entre idade e
pontuações dos dilemas.
Na comparação entre a religião e o MCT_xt para os estudantes de
segundo ano da IES 2, os resultados não foram significativos, embora as
pontuações de quem não apresentou religião estejam classificadas de média
a muito alta. Também não existe correlação entre idade e as pontuações
dos dilemas. Quanto ao resultado dos estudantes de quinto ano, manteve-
se a não existência de correlação entre declaração de religião e as
pontuações dilemas. Contudo, foi possível verificar uma fraca
significância, no dilema do médico/juiz, na comparação entre idade e as
pontuações dos dilemas. Nessa última situação, entendemos ser uma
característica própria das amostras brasileiras, pois na medida em que a
idade aumenta, a pontuação diminui.
Essa inexistente ou fraca correlação entre a idade e as pontuações
dos dilemas pode ser justificada pela própria estruturação do sistema
educacional no Brasil. Sem que haja uma modificação em todo o sistema
educativo das práticas tradicionalistas certamente o desenvolvimento da
autonomia moral e da reflexão acerca dos princípios sociais não terá êxito.
A Educação Básica é a primeira a ter que se sensibilizar com esta mudança,
para que possamos alcançar tal objetivo na educação superior. Caso essa
mudança não aconteça, é muito difícil que consigamos formar psicólogos
realmente comprometidos com o outro e sensíveis com a afetividade
envolvida em todo o processo terapêutico, uma vez que a educação não
possibilitou que houvesse o desenvolvimento de práticas morais e reflexivas
na formação inicial destes sujeitos e assim, temos uma lacuna na formação.
Para tanto, quando pensamos na formação de psicólogos, precisamos de
199
uma Psicologia “[...] que se funde na diferença como princípio e na
igualdade como valor” (SOLIGO, 2015, p.177).
O grande desafio está na integração entre a pesquisa, a atuação e o
ensino na formação em Psicologia, orientados a partir da ética, da
formação política e do compromisso social (SOLIGO, 2015). Além de
pensarmos em uma formação dos profissionais da Psicologia, que priorize
(i) o inventivo ao conhecimento científico e a validação empírica; (ii) o
estado da arte da pesquisa e das teorias científicas; (iii) a criação de
mecanismos metodológicos; (iv) a busca de sintonia com a Psicologia
mundial; (v) a disseminação das informações psicológicas afim de evitar
uma pseudociência; (vi) a expansão do mercado de trabalho para os recém-
formados; (vii) a ampliação das fontes escritas de conhecimento
psicológico em língua portuguesa; a estimulação dos laços
interdisciplinares sem a desvirtuação da Psicologia; e (viii) o
profissionalismo competente e ético (PFROMM NETTO, 2007).
Pensando nas contribuições do estudo desenvolvido, destacamos as
adaptações do questionário ORIGIN/u (2002) para o ORIGIN/esfp
(Ensino Superior - Formação em Psicologia) e para o ORIGIN/pd (Ensino
Superior - Prática Docente), afim de contar com um instrumento que
consiga ser aplicado em estudantes do curso de Psicologia, para
entendermos qual a compreensão deles a respeito da formação, e, o outro
instrumento que nos permita compreender a prática docente sob duas
perspectivas, a de colaborador da instituição e a de formador de futuros
profissionais da Psicologia. Outra contribuição importante foi propor a
associação dos resultados do ORIGIN/esfp com o MCT_xt, para os
estudantes de segundo e quinto ano, participantes do estudo. Tal
associação permitiu perceber o ambiente acadêmico em termos de
200
Assunção de Responsabilidade e Reflexão Dirigida, inclusive o
desenvolvimento da competência do juízo moral dos estudantes
pesquisados. Uma terceira contribuição refere-se a uma leitura dos cursos
pesquisados, permitindo assim, que as próprias IES possam rever a
formação que estão propiciando aos graduandos, bem como a estruturação
do projeto político-pedagógico dos cursos e sua adequação às novas
Diretrizes Curriculares Nacionais.
Uma das limitações do estudo apresentado foi o número de cursos
de Psicologia pesquisados, tendo em vista, a crescente abertura de novos
cursos todos os anos no Brasil. Situação essa que nos traz uma enorme
preocupação no modo como está ocorrendo a formação, os
desenvolvimentos da capacidade reflexiva, da competência moral, da
afetividade, enfim, como os inúmeros cursos de Psicologia pretendem
formar os estudantes profissionalmente. Outra limitação deste estudo foi
delimitar a amostra a graduandos de dois anos do curso, não permitindo,
uma visão geral da formação de cada instituição, mas de estudantes de
início e término dos cursos.
201
PALAVRAS FINAIS
_______ ____________ ____________ _____________________ _____________________ _______________ ____________ _____________________ ______________ ____________ _____
Discutimos, nos capítulos anteriores, a proposição de que os cursos
de Psicologia, assim como a Educação Básica, focam no ensino tradicional,
centrado na teoria e na técnica, deixando de lado o desenvolvimento da
capacidade reflexiva e a integração da teoria e da prática, o que redunda
em uma formação que não considera o aspecto ético. Portanto, quando
nos referimos ao aspecto ético compreendemos algo maior do que um
estudo de código e leis que regulam a profissão, mas a uma competência
pessoal e profissional de consideração do outro como fim em si mesmo.
Acreditamos que a formação tradicional fica adstrita às competências
técnicas e teóricas, ignorando o desenvolvimento de uma competência
moral.
A educação moral é papel tanto da família, como do ambiente de
aprendizagem, complementando-se na formação de sujeitos mais
autônomos e mais conscientes de sua responsabilidade enquanto cidadãos
e comprometidos com uma sociedade mais igualitária e afetiva. A educação
moral não deve ser desconsiderada ou mesmo considerada inferior à
formação ética, uma vez que a ética é a reflexão crítica da ação moral. Dessa
forma, através da educação moral, compreendemos o contexto em que
estamos inseridos, os hábitos, os símbolos e os códigos. A moral possibiliza
a ordem social, os parâmetros da cidadania e, consequentemente, a
possibilidade do convívio entre as pessoas. Formação ética e educação
moral estão relacionadas, pois uma habita a outra, ou seja, uma está na
outra (NUNES, 2014).
202
Assim, para que seja possível o desenvolvimento dessa formação
ética e da educação moral, bem como o rompimento das frequentes bases
do ensino tradicionalista, é essencial o uso de metodologias mais ativas no
processo de ensino e de aprendizagem em todos os níveis educacionais. Se
não houve uma modificação nas metodologias utilizadas, entendemos que
o avanço no desenvolvimento da capacidade reflexiva dos graduandos e
futuros profissionais da Psicologia será irrisório.
Outro ponto de destaque está em o curso de Psicologia e a própria
instituição de Ensino Superior olhar mais atentamente para a valorização
da afetividade, permitindo aos estudantes o reconhecimento de seus
sentimentos e contribuindo para o reconhecimento dos sentimentos dos
demais. É necessária a constituição de um espaço de escuta, de respeito e
de compartilhamento de sentimentos, possibilitando a formação de
estudantes mais ativos e participantes. Moreno et al. (1999) defendem os
aspectos cognitivos e os afetivos da personalidade não são universos
opostos. Assim, a educação não pode estar voltada para somente um deles,
excluindo o outro.
O ensino da ética no Ensino Superior tem como objetivo formar
cidadãos contribuintes de uma sociedade justa e que as oportunidades
oferecidas pelo meio irão influenciar tal situação, requerendo que haja
transformações e reajustes na formação desses profissionais para que suas
práticas sejam baseadas em princípios coletivos, sempre resgatando os fins
humanistas (OLIVEIRA; REGO, 2008).
Para isso, acreditamos que a formação e que a própria atuação em
Psicologia estejam caminhando de forma crítica a uma sociedade que
apresenta desigualdades e injustiças, estando o cotidiano da realidade
brasileira nas propostas de trabalhos feitos pelas instituições, aos
203
professores e estudantes, afim de que a formação do psicólogo adquira este
posicionamento crítico (NAVES et al., 2017).
Assim, “[...] formar não é moldar o informe, é criar um território
favorável à cooperação, à curiosidade, à indagação, à provisoriedade e à
permanente produção de sentidos e apropriação de significados sociais”
(CFP, 2013c, p.48). Portanto, não basta uma regulação da formação pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais ou por um projeto político-pedagógico
inovador, se o currículo não for incorporado pela própria instituição
educacional e por seus atores como uma possibilidade de pensar e repensar
o que se está construindo e consequentemente, o seu produto (a formação
de profissionais da Psicologia que sejam capazes de analisar e propor
intervenções sobre os vários contextos da realidade) (DAMASCENO et
al., 2016).
Em uma entrevista da psicóloga Ana Bock ao Conselho Federal de
Psicologia, percebemos justamente esta preocupação com a formação.
Eu pensava que as diretrizes curriculares, só pelo fato de serem algo que
nos moveu do lugar, poderiam produzir outra realidade de formação
acadêmica, sem deixar de reconhecer que muitos cursos fazem hoje um
esforço para absorver as questões da população; eu acho a ciência dura.
Há esforço nos estágios, professores fazendo inovações, colocando os
alunos em situação, mas o conhecimento é duro. Ele não se move.
Continuamos tendo, nos cursos de Psicologia, as teorias ensinadas sem
suas bases epistemológicas, sem que se ensine qual humano está
presente, qual humano é o modelo em cada uma dessas teorias. Tenho
dito que nossa formação é tecnicista, ou seja, ensinamos para aplicar o
que ensinamos. Não temos tido uma postura universitária e científica
que implica duvidar, questionar, interrogar o conhecimento a partir do
contato problematizador com a realidade. Acho que é isso que temos
204
que fazer: ensinar um contato problematizador com a realidade.
Podemos e devemos ensinar todas as Psicologias que são produzidas no
mundo todo, mas não podemos continuar com essa postura
colonialista de receber e aplicar. É preciso traduzir, e isso significa
dialogar com os conhecimentos produzidos em outros países de modo
a reinterpretá-los (CFP, 2010, p.253).
Com isso, não é somente a prática profissional que precisa mudar.
A formação dos graduandos precisa ser significativa, a ponto de eles
próprios conseguirem problematizar as situações e entenderem o outro
como alguém complexo, que precisa ser olhado e compreendido, de forma
integral, e dentro do contexto no qual se insere. Os cursos de Graduação
em Psicologia necessitam integrar a dimensão ética, com outras dimensões,
que são a dimensão da competência moral, de um pensar criticamente
acerca das situações, e a dimensão política, que é o compromisso com o
social.
As Diretrizes Curriculares Nacionais passaram por um importante
momento de revisão das orientações para os cursos de Graduação em
Psicologia, mas ainda aguardamos a sua homologação. Esta iniciativa parte
da preocupação das entidades envolvidas na formação em Psicologia,
quanto ao posicionamento do Ministério da Educação, em permitir a
formação de Graduação dos cursos da área da Saúde na modalidade
totalmente a distância, sem que haja o olhar para uma ameaça à qualidade
dos cursos de Psicologia e para a oferta de um trabalho qualificado e ético
(CFP, 2018).
Com a vivência de um período de distanciamento social, ocorrido
em 2020, devido a grave crise sanitária presente nos países do mundo em
relação a pandemia do novo coronavírus, Sars-Cov-2 (COVID-19,
tivemos a necessidade de conectarmo-nos mais com as tecnologias e
205
verificarmos o quanto a tecnologia é responsável por nossa aproximação e,
também, por nosso afastamento. Quero dizer que ao mesmo tempo em
que a tecnologia conecta pessoas que se encontram separadas por
quilômetros de distância, por meio das vídeochamadas e dos chats; ela
distancia ainda mais essas mesmas pessoas, pois a imagem ou mesmo o
áudio podem ser bloqueados a qualquer momento. As relações pautaram-
se, durante um período, em relações superficiais, por meio das quais
podemos bloquear o outro do meu convívio, do meu círculo de relações e
da minha interação a partir de botões tecnológicos. Nosso pensamento
amplia-se quando pensamos na formação que estamos propiciando aos
nossos estudantes de Psicologia, neste mesmo momento que contextualizo.
Se há distanciamento, se há bloqueio de relações, se há fragilidade nos
vínculos, como posso pensar em empatia, em olhar o outro na sua
integralidade e na importância do rapport, fatores tão presentes na
formação humana que tentamos prezar durante a Graduação de
Psicologia?
Retomamos nosso posicionamento contrário a possibilidade de um
curso de Graduação em Psicologia totalmente a distância, devido todos os
apontamentos já discutidos. Seria muito preocupante não haver mais a
aproximação entre esses atores do processo educacional. Assim, muitos
outros questionamentos permeiam nossos pensamentos. Como
sensibilizar os estudantes para o respeito ao outro, aos seus sentimentos
e a sua individualidade? Como trabalhar a afetividade dos estudantes a
distância, por meio do sistema de informática? Como problematizar e
refletir sobre a integralidade do sujeito, sem a proximidade do docente e
do estudante nos espaços de supervisão? Como desenvolver moralmente
os estudantes sem o uso de metodologias ativas e prática morais nos
ambientes de aprendizagem? Enfim, como será a prática destes
206
profissionais em Psicologia formados totalmente a distância? Para tanto,
destacamos novamente a proposta das novas diretrizes que é
[...] a formação em Psicologia presencial, generalista, multi e
interdisciplinar, baseada na diversidade teórico-metodológica e na
pluralidade dos seus campos de atuação, reconhecendo a identidade
nacional, respeitando os contextos regionais e atendendo às diferentes
necessidades dos indivíduos e populações, de forma inclusiva (CFP,
2018, p. 91).
Uma profissão que esteja caminhando no sentido do que se espera
dela, assim Ana Bock conclui que, “[...] em nosso campo, é difícil
encontrarmos a clareza de que Psicologia é um trabalho na e para a
sociedade” (BOCK, 2010, p.255). Muitas vezes, escutamos, nos ambientes
de aprendizagem, os estudantes referindo-se a escolha desse campo
profissional como uma possibilidade de ajuda ao outro, reduzindo o
fazer” psicológico a um contexto individualizado e clínico; não, a uma
atividade social.
A formação em Psicologia deve possibilitar uma revisão crítica
sobre as representações e sobre as concepções do próprio homem, da
sociedade, do papel do Estado e do ambiente de aprendizagem, da
produção de conhecimento, como um processo reflexivo que aconteça em
uma dimensão coletiva, no interior do próprio ambiente educacional,
envolvendo a comunidade e os atores comprometidos com a possibilidade
de transformar o mundo pela ação educacional (CRP, 2008).
Dessa forma, queremos contribuir apresentando algumas
propostas para a formação e, mais amplamente, para o exercício
profissional do psicólogo. A primeira delas seria a necessidade de incluir
uma reflexão sobre a prática profissional em todos os anos do curso de
207
Psicologia, para possibilitar ao estudante ingressante entrar em contato
com a atuação do psicólogo além da realidade acadêmica, conseguindo
fazer uma articulação entre teoria, técnica e prática. A realidade, muitas
vezes, vivenciada, traz essas reflexões apenas para os anos nos quais são
realizados os estágios de formação em Psicologia, deixando para o início
do curso apenas as discussões de cunho mais teórico.
Para que essa reflexão possa ser viabilizada, apresentamos como
proposta metodológica a inclusão de práticas morais, como a discussão de
dilemas, as assembleias, a problematização e a Problem-Based Learning
(PBL), dentre tantas outras. Com a possibilidade dada ao estudante de
problematização da atuação profissional, por meio da busca de soluções
possíveis para a questão, bem como de o próprio graduando ser
incentivado a ir buscar a construção de seu conhecimento, não esperando
a resolutividade da questão ou mesmo a transmissão do conhecimento pelo
professor. Essa segunda proposta para a formação do psicólogo vem sendo
discutida em outros cursos, principalmente de Medicina, com a utilização
da PBL e da discussão de situações-problemas.
Contudo, pensar na formação de um profissional que consiga fazer
articulações entre os aprendizados construídos com a demanda na qual está
intervindo se tornou urgente na Graduação em Psicologia, para que, no
futuro profissional, ele esteja capacitado para continuar utilizando a
mesma metodologia, ou mesmo metodologias ativas nas diversas
possibilidades profissionais que surgirem. Inclusive, a disponibilização de
um espaço para a realização das assembleias é importante no sentido de
integrar todos os envolvidos neste processo de ensino-aprendizagem para
uma responsabilização na formação e consequentemente, num fazer ético
em sua atuação enquanto profissional.
208
Uma proposta bastante interessante que vem acontecendo no
ensino superior é a proposta pedagógica da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), setor do Litoral, que se baseia em projetos e é desenvolvida
junto às comunidades locais, buscando contribuir decisivamente para o
desenvolvimento científico, econômico, ecológico e cultural. O seu Projeto
Político Pedagógico prevê a promoção da educação pública integrada,
visando o desenvolvimento sustentável de toda a região litorânea do
Paraná. Com isso, os estudantes são formados de modo que possam
contribuir na retomada do crescimento social e econômico regional. É uma
proposta de organização curricular diferenciada que, ao invés de os
estudantes cursarem disciplinas, cursam dulos, cujas estruturas são mais
flexíveis e abertas, visando a atenderem as demandas de cada turma
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, [20--]).
As atividades de Integração Cultural e Humanística, que
promovem a interação entre os estudantes de diferentes cursos e em fases
diferentes dos cursos, a fim de valorizar os diferentes saberes e lugares
culturais que compõem a vida social, e os Projetos de Aprendizagem,
construído por cada estudante desde seu ingresso na universidade para que
seja possível a construção de seu conhecimento de maneira integrada,
percebendo criticamente a realidade, completam os Fundamentos
Teóricos Práticos, os quais propiciam que os conhecimentos científicos
sejam trabalhados como meios no processo de formação, a partir de
módulos semestrais (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, [20--
]). Embora a UFPR não ofereça a Graduação em Psicologia e,
consequentemente, essa proposta pedagógica não tenha sido efetivada na
formação de psicólogos, configura-se como uma terceira proposta de
organização curricular diferenciada de mudança para os cursos de
Psicologia, tendo em vista a integração deste campo de saber com a
209
comunidade, através dos trabalhos desenvolvidos e do emergente olhar
social que a Psicologia requer.
Na quarta proposta para a formação em Psicologia, destacamos a
reflexão sobre que local a Psicologia está inserida nas áreas educacionais,
refletindo sobre qual o espaço da Psicologia: se nas Ciências Humanas, nas
Ciência Biológicas ou nas Ciências da Saúde. Diversos podem ser os
posicionamentos nesse sentido, mas o que destacamos, aqui, é a intrínseca
relação que a Psicologia estabelece com o humano e, para tanto, com o
outro e suas subjetividades, não podendo se distanciar de seu principal
contribuinte, de seu sujeito de estudo e de intervenção. A função da
Psicologia é, justamente, olhar para o outro, entendendo suas
particularidades, acolhendo seu sofrimento e pensando estratégias para o
enfrentamento daquilo que lhe incomoda. Atuando, assim, no sentido de
fortalecer esse sujeito e de construir, com ele, habilidades internas para os
diversos enfrentamentos de sua vida e das relações que estabelece com o
meio. Para tanto, não compreendemos como adequado que a Psicologia
esteja fora da área educacional de Humanas, pois o papel dos cursos de
Graduação é o de formar profissionais humanizados e, consequentemente,
comprometidos com o outro e que possam desenvolver suas intervenções
nas mais variadas demandas que a sociedade lhe apresentar.
A quinta proposta a ser discutida diz respeito ao curso de Psicologia
estar inserido em uma Educação à Distância (EAD). Acreditamos que com
as reflexões propostas até aqui sobre a formação do psicólogo e os requisitos
mínimos para a estruturação dos cursos, vemos como inviável que a
formação em Psicologia aconteça à distância, embora esta possibilidade
passe pelos pensamentos de muitos administradores de instituições de
ensino superior, em termos de diminuição de custos com os cursos e de
otimização de tempo e espaço. Como o próprio nome já nos remete,
210
“distância”, o quanto estaremos contribuindo para a formação de
profissionais mais distantes de seus sujeitos, profissionais que não tenham
a oportunidade de, no contato direto com o professor, que também é
psicólogo, e com os colegas de Graduação, construir relações mais
humanizadas, que prezem o cuidado, a afetividade, o respeito e a
proximidade. São também por meio dos estágios básicos e de formação e,
consequentemente, das supervisões que conseguimos contribuir mais
diretamente para a formação deste sujeito que está sob os nossos cuidados
e com o qual estabelecemos um compromisso ético e de sensibilidade para
a realidade que vivenciamos na prática profissional. Pensemos mais
adiante: o quanto uma formação à distância contribuirá para a construção
de uma personalidade ética e para o desenvolvimento moral deste
graduando? Certamente a resposta será: realmente não é compreensível
que a Graduação em Psicologia aconteça à distância. Tal reflexão também
é proposta e compartilhada pela ABEP (2017) quando apresenta em seu
site a Resolução 569, de 08 de dezembro de 2017, do Conselho Nacional
de Saúde, que se posiciona contrário à autorização de cursos de Graduação
em saúde que sejam ministrados na modalidade de Educação à Distância.
Conforme discutido no primeiro capítulo deste livro, muitos
cursos foram criados pelo país, e cabe principalmente ao MEC à
fiscalização. Será que uma única instituição consegue se atentar à
formão em todo o território brasileiro? Certamente, alguns pontos,
necessitam ser mais bem discutidos com as instituições de ensino superior,
principalmente quanto ao perfil do profissional da Psicologia que se quer
formar, e se este profissional está integrado com a demanda da sociedade e
o que se espera da atuação da Psicologia. Dessa forma, uma sexta proposta
é a atuação mais próxima do Conselho Federal de Psicologia, por meio dos
Conselhos Regionais e da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
211
com as faculdades, universidades e centros universitários que oferecem o
curso de Psicologia para a discussão de pontos centrais sobre a formação
profissional, inclusive a orientação sobre disciplinas importantes para
comporem a grade curricular na formação do psicólogo. Muitos cursos
ainda, podem não estar trabalhando o compromisso do psicólogo com a
subjetividade do outro. Podem não estar relacionando a importância de
discussões sobre a afetividade na relação educacional, principalmente na
formação de um profissional que durante toda a sua atuação irá trabalhar
com a afetividade do outro. Podem não estar preocupados com a formação
de uma personalidade ética durante a Graduação, para que assim se possa
desenvolver intervenções em que haja uma melhor compreensão do eu e
do outro, com total respeito a este que é diferente de mim.
É justamente a partir de todas estas reflexões que podemos pensar
em uma sétima proposta: para que haja uma maior fiscalização e controle
de como está ocorrendo na formação de profissionais psicólogos no Brasil,
serem realizados exames de conhecimento profissional para obtenção da
carteira profissional, assim como o que acontece com o bacharelado em
Direito. Os estudantes formados em Direito, para exercerem a atividade
profissional, precisam realizar uma prova e serem aprovados quanto aos
requisitos mínimos para o exercício profissional e, consequentemente,
poderem se inscrever na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Não
sabemos se a realização da prova conseguirá, efetivamente, selecionar
profissionais que estejam mais preparados para exercerem a profissão, pois
para a apresentação de tais resultados é necessário o desenvolvimento de
pesquisas nesta área. Contudo, isso se configura como uma proposta de
mudança para a realidade que estamos presenciando a respeito da formação
em massa na área da Psicologia.
212
Atualmente, temos uma proposta semelhante para a obtenção do
Título de Especialista pelo Conselho Federal de Psicologia (2007): a
realização de um Concurso de Provas e Títulos, que concede ao psicólogo,
já formado, a possibilidade de ter o reconhecimento de ser especialista em
uma área da Psicologia, quando consegue atingir os requisitos exigidos pelo
órgão profissional. Embora não seja uma condição obrigatória para o
exercício da profissão, há a possibilidade de um reconhecimento da atuação
do psicólogo em uma área da especialidade e, assim, qualificar a atuação
do profissional. As áreas de especialidade são: Neuropsicologia, Psicologia
Hospitalar, Psicologia do Trânsito, Psicologia Clínica, Psicologia Jurídica,
Psicologia do Esporte, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Psicologia
Social, Psicologia em Saúde, Psicomotricidade, Psicologia Escolar/
Educacional e Psicopedagogia. Para maiores informações sobre o assunto,
pode ser consultada a Resolução CFP n. 013/2007 (BRASIL, 2018).
Muitas podem ser as propostas, o mais importante é a reflexão de
como a formação em Psicologia está acontecendo no Brasil, a fim de que
haja uma mudança nesse processo, pensando nas transformações sociais
que estamos vivenciando.
213
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SOBRE A AUTORA
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____
Thaísa Angélica Déo da Silva Bereta é
psicóloga, mestre e doutora em Educação
pela Universidade Estadual Paulista
(Unesp), câmpus de Marília. Atualmente, é
docente no Centro Universitário de
Adamantina (UNIFAI) e na Faculdade da
Alta Paulista (FAP). Participa do Grupo de
Estudo e Pesquisa em Epistemologia
Genética e Educação (GEPEGE) e do Grupo de Estudos e Pesquisas
em Psicologia Moral e Educação Integral (GEPPEI).
Pareceristas
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Este livro foi submetido ao Edital 01/2020 do Programa de Pós-
graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, câmpus
de Marília e financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº
23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES. Contamos com o apoio
dos seguintes pareceristas que avaliaram as propostas recomendando a publicação.
Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alessandra Arce Hai
Alexandre Filordi de Carvalho
Amanda Valiengo
Ana Crelia Dias
Ana Maria Esteves Bortolanza
Ana Maria Klein
Angélica Pall Oriani
Eliana Marques Zanata
Eliane Maria Vani Ortega
Fabiana de Cássia Rodrigues
Fernando Rodrigues de Oliveira
Francisco José Brabo Bezerra
Genivaldo de Souza Santos
Igor de Moraes Paim
Irineu Aliprando Tuim Viotto Filho
José Deribaldo Gomes dos Santos
Jussara Cristina Barboza Tortella
Lenir Maristela Silva
Livia Maria Turra Bassetto
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Márcia Lopes Reis
Maria Rosa Rodrigues Martins de
Camargo
Marilene Proença Rebello de Souza
Mauro Castilho Gonçalves
Monica Abrantes Galindo
Nadja Hermann
Pedro Laudinor Goergen
Tânia Barbosa Martins
Tony Honorato
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2020 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Lívia Mendes Pereira
Capa e diagramação
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16X23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 70g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Acabamento
Grampeado e colado
Tiragem
100
A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO
ambiente acadêmico e competência moral
Thaísa Angélica Déo da Silva Bereta
É com satisfação que apresento o
livro A Formão Ética do Psicólogo: am-
biente acadêmico e competência moral,
fruto da Tese defendida por aísa An-
gélica Déo da Silva Bereta, no Programa
de Educão da UNESP de Marília, sob a
orientão da Profa. Dra. Patricia Bataglia.
Várias publicações tematizam a
formão de psicólogas(os) no Brasil e des-
tacam os desaos dessa formão: seja pe-
las questões relativas ao currículo dos cur-
sos de Psicologia, que precisam avançar no
âmbito das poticas públicas e sociais, da
garantia de direitos, em uma perspectiva
interdisciplinar e intersetorial; seja pelos
cuidados com as(os) estudantes visando
desenvolver o pensamento crítico e o espa-
ço de escuta para suas necessidades e de-
saos postos pela ciência e pela prossão.
A discussão da formão em Psico-
logia tem se aprofundado também por meio
da organização de docentes, coordenado-
res de cursos, estudantes; materializada
por congressos, seminários, documentos,
pesquisas que visam pensar cada vez mais
sobre “que psicóloga(o) queremos formar
em uma sociedade de classes, desigual, com
uma enorme dívida histórica com as popu-
lações campesinas, negras, indígenas e po-
bres? Que projeto ético-potico de socie-
dade e de Psicologia queremos construir?
Em meio a esses e tantos outros
questionamentos, este livro aborda uma
das dimensões fundamentais da forma-
ção em psicologia: a questão ética. E o
faz sob a base teórica do desenvolvimen-
to moral, ou seja, incluindo processos de
aproprião que se imbricam nas pticas
formativas e que produzem o que a au-
tora nomeia de formão da personali-
dade ética e o desenvolvimento moral.
A partir das Diretrizes Curricula-
res do Curso de Graduão em Psicologia
- DCNs, aísa analisa a dimensão ética
da formão de psicólogas(os), enquanto
eixo transversal do currículo, e aprofun-
da esta discussão nas atividades de estágio
supervisionado, momento privilegiado da
formão em que o conhecimento teóri-
co se articula com a ptica prossional.
É importante ressaltar que o curso de psi-
cologia possui uma conguração pecu-
liar nesse aspecto, com uma carga horia
signicativa de estágio supervisionado.
Este livro também apresenta um
tema de grande importância para o Ensino
Superior ao destacar a relencia das meto-
dologias ativas, algo ainda muito novo para
a formão docente, e que precisará ser
objeto de nossas pticas, produzindo di-
álogos necessários com as novas gerações.
Trata-se de uma publicão
muito oportuna em virtude da ex-
pansão do número de cursos de Psi-
cologia no Brasil e em virtude da re-
visão das DCNs aprovadas em 2020.
Convidamos você para conhe-
cer esta obra e compreender o pensa-
mento de estudantes e professores re-
lativo aos dilemas e desaos vividos na
prossão e na formão em Psicologia.
Boa leitura a todos e todas.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
A FORMAÇÃO ÉTICA DO PSICÓLOGO
Thaísa Bereta
Esta obra aborda a problemática da formão em Psicologia, especial-
mente quanto à formão ética e moral para o exercício da prossão.
Apresenta os conceitos, as diretrizes curriculares, a interdisciplinarida-
de, as metodologias ativas e o papel do professor; colaborando com a
reexão de estudantes de Graduão em Psicologia e em Educão, de
docentes, de instituições educacionais e de conselhos de classe preocu-
pados com a formão ética da Psicologia no Brasil.
Ao abordar a formão ética do psicólogo, temos a visão das dimen-
sões assumidas por esse saber cientíco, quer no relacionamento con-
sigo mesmo, quer nas relações interpessoais, quer no posicionamento
potico com a sociedade ou, ainda, na possibilidade da constrão de
uma concepção crítica do entorno. No processo ensino-aprendizagem,
os estágios supervisionados em Psicologia possibilitam a formão de
prossionais com maior capacidade de integração entre teoria, técnica e
ptica. Integração essa que contribui para maior sensibilidade dos pro-
ssionais às demandas, à integralidade do outro e a seu papel social e
ético.
MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA | USP