O livro apresenta aos seus leitores novos
caminhos para compreender os fenôme-
nos da Superdotação e do Transtorno do
Décit de Atenção/Hiperatividade. Por
meio de um rigoroso delineamento me-
todológico, a autora investiga o diagnós-
tico do TDAH em sujeitos com com-
portamento superdotado, bem como a
Superdotação em sujeitos com TDAH e
amplia as discussões sobre a manifestação
da dupla excepcionalidade com base em
referenciais teóricos nacionais e interna-
cionais.
Mãe do Mateus. Mestra em Educação pelo
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da Faculdade de Filosoa e Ciências
da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Campus
de Marília, na linha de pesquisa com
foco em Educação Especial. Graduada
em Pedagogia pela mesma universidade.
Teve pesquisas nanciadas pela Funda-
ção de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientí-
co e Tecnológico (CNPq). Atuou como
educadora do Programa de Atenção ao
Estudante Precoce com Comportamen-
to de Superdotação (PAPCS) UNESP/
Marília, por cinco anos. Membro do
Grupo de Pesquisa “Diferença, desvio e
estigma” (UNESP/Marília). Desenvolve
pesquisas cientícas na área da Educação
Inclusiva, Educação Especial, Superdota-
ção e Dupla Excepcionalidade.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio 0798/2018
Processo 23038.000985/2018-89
O livro apresenta uma discussão extremamente necessária ao século XXI
e traz reexões sobre os fenômenos da Superdotação e do Transtor-
no do Décit de Atenção/Hiperatividade, delineando, desmiticando
e alertando sobre a possibilidade de sua coocorrência a denominada
Dupla Excepcionalidade –, que se manifesta em indicadores de um e de
outro fenômeno, mas, como todo encontro, se transforma e apresenta
indicadores especícos. A complexidade e a heterogeneidade intrínseca
aos grupos podem dicultar o diagnóstico e a atuação com esses estu-
dantes, nos diferentes âmbitos: família, escola e sociedade. Compreen-
dê-los e atendê-los em suas necessidades é necessário a quem se dedica
ao ofício de ensinar, pois eles podem se tornar líderes mais empáticos
com as necessidades humanas e promover o desenvolvimento cultural e
tecnológico da nossa sociedade.
Com uma abordagem multidisciplinar e de caráter multimodal, são
investigados os indicadores dos fenômenos e suas habilidades sociais,
apontando pontos fortes e fracos, o que pode oportunizar o entendi-
mento diante de uma realidade tão paradoxal, dinâmica e com traços
aparentemente contraditórios.
SUPERDOTAÇÃO, TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO /
HIPERATIVIDADE E DUPLA EXCEPCIONALIDADE
KETILIN MAYRA PEDRO
Clarissa Ogeda
SUPERDOTAÇÃO, TRANSTORNO DE DÉFICIT
DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE E DUPLA
EXCEPCIONALIDADE
Clarissa Maria Marques Ogeda
um estudo de indicadores e habilidades sociais
SUPERDOTÃO, TRANSTORNO DE
FICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
E DUPLA EXCEPCIONALIDADE:
um estudo de indicadores e habilidades sociais
CLARISSA MARIA MARQUES OGEDA
SUPERDOTÃO, TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE E DUPLA
EXCEPCIONALIDADE:
um estudo de indicadores e habilidades sociais
CLARISSA MARIA MARQUES OGEDA
Marília/Oficina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS FFC
UNESP - campus de Marília
Diretora
Dra. Claudia Regina Mosca Giroto
Vice-Diretora
Dra. Ana Claudia Vieira Cardoso
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Marcos Antonio Alves
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação
- UNESP/Marília
Graziela Zambão Abdian
Patrícia Unger Raphael Bataglia
Pedro Angelo Pagni
Rodrigo Pelloso Gelamo
Maria do Rosário Longo Mortatti
Jáima Pinheiro Oliveira
Eduardo José Manzini
Cláudia Regina Mosca Giroto
Desenho da capa: Carolina Ito
Auxílio Nº 0798/2018, Processo Nº 23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES
Ficha catalográfica
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Ogeda, Clarissa Maria Marques.
O34s Superdotação, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e dupla excepcionalidade: um
estudo de indicadores e habilidades sociais / Clarissa Maria Marques Ogeda. Marília : Oficina
Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2020.
369 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5954-012-9 (Digital)
1. Crianças superdotadas. 2. TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade). 3. Educação especial. I. Título.
CDD 371.9
Copyright © 2020, Faculdade de Filosofia e Ciências
Editora afiliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Oficina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
SUMÁRIO
PREFÁCIO | Miguel Cláudio Moriel Chacon..............................7
INTRODUÇÃO........................................................................11
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................17
Panorama das publicações que relacionam a superdotação
ao tdah no período de 2009 a 2018
O fenômeno da superdotação
O TDAH
"Dupla vulnerabilidade": a dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH
Habilidades sociais
OBJETIVOS............................................................................143
Objetivo geral
Objetivos específicos
PERCURSO METODOLÓGICO DO ESTUDO EMPÍRICO
.................................................................................................145
Participantes
Aspectos éticos
Materiais
Instrumentos
Equipamentos
Procedimentos
Procedimentos de coleta de dados
Procedimentos de análise de dados
RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................177
Estudo intragrupo - o grupo 1
Estudo intragrupo - o grupo 2
Estudo intergrupos
CONCLUSÕES.......................................................................283
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................285
REFERÊNCIAS.......................................................................289
APÊNDICES............................................................................331
ANEXOS..................................................................................363
7
Prefácio
,___ _______________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ____________ ________
É importante observar que conheci Clarissa Maria Marques
Ogeda em uma turma de primeiro ano de Pedagogia da Faculdade
de Filosofia e Ciências UNESP, Campus de Marília, na disciplina
Desenho Universal, Acessibilidade e Adaptações. Durante todas as
aulas chamava-me a atenção seu interesse pelo conhecimento e a
qualidade de suas participações nas aulas o que me levou a convidá-
la para participar de um Projeto de Extensão e Pesquisa criado para
trabalhar com crianças que apresentavam desenvolvimento precoce
em alguma área de domínio seja acadêmica, artística ou outras. Sua
participação logo me mostrou que se tratava de uma águia que
precisava apenas alçar voos mais ousados. A partir dessa constatação
iniciou-se seu projeto de iniciação cientifica seguido do mestrado
que originou esta publicação.
As linhas que seguem abrigam a forte pulsão de vida da
autora, que é de desafiar qualquer pessoa que com ela se envolva,
além do esmero acadêmico que mostra a qualquer orientador que
fizemos uma boa escolha e que dentre tantos que passam pelas nossas
vidas, ali estava uma pessoa com potencial para pesquisa e carreira
acadêmica.
Como é de se esperar de uma pessoa com o perfil brevemente
delineado, o trabalho defendido em fevereiro de 2020, foi aprovado
e indicado para publicação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências Unesp, campus de
Marília.
8
Sob minha orientação, a dissertação intitulada
“Superdotação, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e
Dupla Excepcionalidade: um estudo de indicadores e habilidades
sociais”, contou com as preciosas colaborações da Professora
Doutora Cristina Maria Carvalho Delou, doutora em Educação,
vinculada ao Departamento Sociedade, Educação e Conhecimento
da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense,
uma referência nacional nas áreas em questão, e do Professor Doutor
Sadao Omote, doutor em Psicologia, vinculado ao Departamento
de Educação Especial do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP, Campus de Marília,
referência em metodologia de pesquisa.
A pesquisa envolve os importantes fenômenos da
Superdotação, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e
Dupla Excepcionalidade, circunscritos na Educação Especial,
círculos temáticos com especificidades bastante complexas.
Inicialmente, a partir de cuidadosa pesquisa bibliográfica, a obra
apresenta diferenças sutis entre esses fenômenos, aspectos
convergentes e divergentes necessários para sua correta identificação,
avaliação e atribuição de serviços educacionais especializados.
Qual é a especificidade de cada um desses fenômenos? O que
há de comum em todos eles? Como identificar? Como e quais
instrumentos podem avaliá-los? Os pais e/ou responsáveis
participam deste processo? Os professores, por serem profissionais
indispensáveis neste processo, como devem participar? Estas são
todas perguntas que, em algum momento nos deparamos quando
estamos diante de algum estudante com tais características, e se
encontram respondidas ou referenciadas neste livro. No entanto,
9
ainda há muitas perguntas a serem respondidas à medida em que
novos desenhos modificam o universo educacional, sejam eles por
contribuições científicas ou naturais, como é o caso do
confinamento promovido pela pandemia que nos assolou no ano de
2019 e levou todos buscar novas configurações no desenho universal
das escolas, das relações escolares e dos processos de aquisição do
conhecimento.
Acredito que a publicação dessa obra traga contribuições
significativas ao universo da Educação Inclusiva, pois tanto o corpo
teórico utilizado para discutir de forma atualizadas os assuntos
abordados, bem como o rigor do trabalho científico foram bem
observados.
Assim o livro está organizado da seguinte maneira:
introdução do estudo; capítulos teóricos que dissertam sobre os
fenômenos em discussão, incluídos o diagnóstico diferencial e o
diagnóstico duplo; percurso metodológico do estudo empírico
minuciosamente detalhado, e resultados, apresentados de maneira
separada em cada um dos grupos de estudantes e posteriormente
dialogados. Por fim, apresenta e discute a importante percepção dos
pais em relação aos fenômenos nos filhos.
Boa leitura!
Miguel Cláudio Moriel Chacon
11
Introdução
1
_______ ____________ ____________ ________________________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ __________
No século XXI, parece ser consenso a necessidade de uma
escola e de uma sociedade para todos. Para isso, é necessário termos
em mente que uma boa escola não é uma escola igual para todos, e
que é primordial apoiar nossos discursos e práticas em critérios mais
justos e na ideia de equidade.
Assim, é preciso agir com vistas a promover o processo de
desenvolvimento, de acordo com as potencialidades de cada
estudante, por meio da eliminação das barreiras originadas no
próprio sistema educacional ou por algum transtorno ou deficiência.
Corroborando esses pressupostos, a identificação e o
atendimento aos estudantes que apresentam comportamento
superdotado são garantidos pelas políticas públicas de Educação
Especial, desde 1971 (BRASIL, 1971), sendo que os primeiros
escritos sobre a temática datam de 1929 (PÉREZ, 2004).
Apesar de não ser uma temática nova, ainda é permeada por
muitos mitos (WINNER, 1998; RECH; FREITAS, 2006), um dos
quais se percebe mais inculcado, no imaginário social: o de que o
estudante com comportamento superdotado não tem pontos fracos,
remetendo-nos ao paradoxo inteligência e potencialidades versus
desordens comportamentais e emocionais (OUROFINO, 2006;
GUIMARÃES; OUROFINO, 2007).
1
Pesquisa resultante de apoio FAPESP processo número 2018/01362-7. "As opiniões, hipóteses e
conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade do autor(es) e não
necessariamente refletem a visão da FAPESP”.
12
Se não bastassem os mitos, existem alguns fenômenos que se
expressam em comportamentos similares aos apresentados por esses
estudantes e que podem ocasionar erros diagnósticos, como é o caso
do TDAH. A semelhança de características entre os fenômenos
referidos e a falta de informações sobre a temática fazem com que
esses estudantes não sejam identificados corretamente e,
consequentemente, atendidos em suas necessidades (MASSUDA,
2016).
Muitas pesquisas ressaltam o fato de que professores tendem
a observar os indicadores do transtorno, em detrimento da
Superdotação, e raramente pensam em um diagnóstico alternativo
para o TDAH (BAUM, 1990; WINNER, 1998; BAUM;
OLENCHACK, 2002; MOON, 2002; NEIHART, 2003,
PÉREZ; RODRIGUES, 2013; MULLET; RINN, 2016), de sorte
que as práticas pedagógicas mais adequadas a cada um dos
fenômenos são diferentes e podem ser até prejudiciais, se utilizadas
de modo indiscriminado, nesses indivíduos (BAUM;
OLENCHACK, 2002; MOON, 2002; NEIHART, 2003; NEA,
2006; OUROFINO, 2006; MASSUDA, 2019).
Enfatizam, também, que muitos estudantes com
comportamento superdotado não identificados culminam
desenvolvendo condutas de desatenção e hiperatividade, pela falta
de oportunidades educacionais significativas (LOVECKY, 1999;
WILLARD-HOLT, 1999).
Webb e Latimer (1993) e Lovecky (1999) alertam que o
potencial de erro acontece nas duas direções: estudantes com
comportamento superdotado que não têm suas necessidades
atendidas podem ser vistos como TDAH, enquanto estudantes com
13
comportamento superdotado e TDAH podem mascarar os
indicadores do transtorno, devido ao comportamento de hiperfoco
nas atividades de interesse.
Em contrapartida, constata-se uma aceitação cada vez maior
na literatura do fato de que esses comportamentos podem
igualmente se apresentar associados no indivíduo, originando uma
dupla excepcionalidade, a qual causa manifestações diferenciadas e
forma um subgrupo dentro da população superdotada.
Apesar do crescimento vertiginoso de publicações sobre os
dois fenômenos (Superdotação e o TDAH), observa-se que poucas
são as discussões que abrangem os estudantes com tais características
associadas ou as diferenças e semelhanças entre os dois grupos
(WEBB; LATIMER, 1993; GERMANI, 2006; FOLEY-NICPON
et al., 2012; PRIOR, 2013; MARTINS et al., 2016).
Esses estudantes acabam não sendo vistos em suas
potencialidades, porque tendem a manifestar características ligadas
ao transtorno, como falta de atenção, dispersão em situações
específicas, baixa tolerância nas tarefas que julgam sem importância,
dificuldade de manter a atenção em tarefas de rotina, dificuldade em
monitorar projetos a longo prazo, tédio, questionamento de regras e
autoridades e alto nível de atividade (WEBB; LATIMER, 1993;
MASSUDA, 2016).
Os estudantes com a concomitância das duas condições
costumam desenvolver problemas socioemocionais, o que os coloca
em situação de vulnerabilidade social e educacional (MOON et al.,
2001; CHAE; KIM; NOH, 2003; OUROFINO; FLEITH, 2005;
NEA, 2006; OUROFINO, 2006; HUA; SHORE; MAKAROVA,
2014; TORDJMAN, 2018).
14
Nesse contexto, delimitar os fenômenos e considerar a
possibilidade de dupla excepcionalidade demanda maior
aprofundamento teórico e discussão, principalmente quando
levamos em conta que estudantes com TDAH não são tidos como
público-alvo da Educação Especial, no Brasil, e que muitos autores
alertam que a incidência desse transtorno em estudantes com
comportamento superdotado vem crescendo a uma taxa imprevista
(WEBB; LATIMER, 1993; BAUM; OLENCHACK, 2002;
OUROFINO; FLEITH, 2005; GUIMARÃES; OUROFINO,
2007; REIS; BAUM; BURKE, 2014), chegando a tomar essa como
a mais negligenciada das subpopulações, entre os estudantes com
comportamento superdotado (MOON, 2002; NEA, 2006).
Renzulli, Reid e Gubbins (1992) já chamavam atenção para
a necessidade de a área da educação ao superdotado priorizar o
desenvolvimento de estudos sobre subpopulações especiais, por se
tratar de um grupo bastante heterogêneo.
A problemática deste estudo se dá em torno de três
questionamentos: 1) existem diferenças entre estudantes
frequentadores de um programa de atenção a estudantes precoces
com comportamento superdotado e estudantes em tratamento
psicoterápico, no Centro de Atenção Psicossocial, quanto à
desatenção, hiperatividade/impulsividade, indicadores de
Superdotação e habilidades sociais? 2) existe algum estudante
inserido nos grupos que apresenta indicadores de dupla
excepcionalidade? 3) qual a percepção dos pais/responsáveis com
relação aos fenômenos nos estudantes?
Para além da origem na literatura relacionada ao tema, esta
investigação é também decorrente de inquietações da prática
15
profissional da pesquisadora, a qual atuou por cinco anos no
Programa de Atenção ao Aluno Precoce com Comportamento
Superdotado (PAPCS
2
), no qual as dificuldades socioemocionais e
comportamentais eram motivos de encaminhamento de estudantes
que se sobrepunham a preocupações estritamente associadas ao
desempenho.
A hipótese inicial levantada é de que exista, entre os sujeitos
pesquisados, algum caso indicativo de dupla excepcionalidade.
Nesse contexto, é relevante desvelar alguns dados ligados à
produção científica existente na área, já que a escassez dessas
pesquisas é apontada por diversos autores. Para tal, realizamos a
revisão da literatura de estudos teóricos e empíricos sobre a dupla
excepcionalidade Superdotação e TDAH, e os achados estão
expostos no Capítulo 2, Subcapítulo 2.1.
2
Programa de enriquecimento vinculado à Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), que exerceu suas atividades
até 2018, sob a coordenação do Professor Dr. Miguel Claudio Moriel Chacon. No programa,
eram oferececidos atendimentos gratuitos aos estudantes precoces com comportamento
superdotado das escolas públicas e privadas de Marília e região. Através de oficinas inter e
multidisciplinares, os estudantes participavam de atividades de enriquecimento e caminhavam
na busca do conhecimento, de acordo com suas potencialidades e áreas de domínio. Também os
pais/responsáveis participavam de um grupo à parte e eram integrados às atividades oferecidas
pelo programa, sendo discutidas informações ligadas ao manejo e enriquecimento desses
estudantes. Os estudantes eram encaminhados para o projeto, por meio da Secretaria de
Educação de Marília ou por demanda espontânea dos pais. Após uma primeira avaliação com
os estudantes e as famílias, feita pelo coordenador, os estudantes passavam a integrar as oficinas
semanalmente e, nessas, era observada a presença dos indicadores da Superdotação.
17
Fundamentão teórica
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ _______________ ____________ ____________ ___-
Panorama das publicações que relacionam a superdotação ao
TDAH, no período de 2009 a 2018
Com o objetivo de explorar o conhecimento científico sobre
a associação da Superdotação com o TDAH, o trabalho de revisão e
sistematização da literatura se torna imperioso. “A revisão
sistemática é um método que permite maximizar o potencial de uma
busca, encontrando o maior número possível de resultados de uma
maneira organizada.” (COSTA; ZOLTOWSKI, 2014, p. 56).
A fim de proceder a essa revisão, seguimos os pressupostos de
Costa e Zoltowski (2014), fundamentados em Akobeng (2005), os
quais consistem na delimitação da questão a ser pesquisada; escolha
das fontes de dados; eleição dos descritores; busca e armazenamento
dos resultados; seleção de artigos pelo resumo, de acordo com
critérios de inclusão e exclusão (quando possível e necessário,
acessávamos o texto na íntegra); extração dos dados dos artigos
selecionados e sua avaliação; e, após essas etapas, concretização da
síntese e interpretação (AKOBENG, 2005).
Para efetuar essa revisão bibliográfica, foram realizados
levantamentos em seis bases de dados: Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações (BDTD), Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), Portal de Periódicos do Scientific Eletronic Library Online
(SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Education Resources Information Center (ERIC) e
18
PubMed. Essas bases de dados foram selecionadas por reunirem um
grande número de publicões, o que facilita as buscas em âmbito
nacional e internacional.
Foram usados os descritores gifted e adhd, hyperactivity e
attention deficit hyperactivity disorder, em inglês, além de adotados
“Altas Habilidades”, “Superdotação”, “talento”, “dotação” e
“precocidade”
3
,
juntamente com o descritor “TDAH”, “transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade” e “hiperatividade”. Entre eles,
foi utilizado o operador booleano “AND” e, assim, foram formadas
dezoito strings (conjuntos de descritores com operadores booleanos):
gifted AND adhd, gifted AND hyperactivity, gifted AND attention
deficit hyperactivity disorder, “Altas Habilidades” AND “TDAH”,
“Altas Habilidades” AND “transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade”, “Altas Habilidades” AND
“hiperatividade”, “Superdotação” AND “TDAH”, “Superdotação
AND “transtorno de déficit de atenção/hiperatividade”,
“Superdotação” AND “hiperatividade”, “talento” AND “TDAH”,
“talento” AND “transtorno de déficit de atenção/hiperatividade”,
“talento” AND “hiperatividade”, “dotação” AND “TDAH”,
“dotação” AND “transtorno de déficit de atenção/hiperatividade”,
“dotação” AND “hiperatividade”, “precocidade” AND “TDAH”,
“precocidade” AND “transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade” e, finalmente, “precocidade” AND
“hiperatividade”.
Como critérios de inclusão dessa revisão, elencamos:
3
Justifica-se o emprego de diversos descritores em português, pelo fato de, no Brasil, não haver
consenso teórico com relação à temática, de modo que, dependendo do referencial teórico
adotado, essa nomenclatura varia.
19
1. Ter sido publicado no intervalo temporal de 2009 a 2018.
2. Possuir no assunto, título, resumo ou palavras-chave os
descritores citados.
3. O objeto de análise ter sido a dupla excepcionalidade
(Superdotação e TDAH) ou a relação entre a Superdotação
e o TDAH.
4. Ser caracterizado como relato de pesquisa (foram
desconsiderados livros, resenhas e ensaios teóricos).
O primeiro levantamento em bases de dados ocorreu no
banco de teses e dissertações da CAPES. Dessa maneira, foram
levantadas 102 produções. Destas, 85 foram consideradas falsos
positivos e 14 estavam repetidas, de modo que somente três
contemplavam os critérios de inclusão e foram analisadas. Estas estão
alocadas no Quadro 1.
Quadro 1- Publicações levantadas na BDTD da CAPES
Fonte: Elaboração própria.
20
Nas buscas realizadas no Portal de Periódicos da CAPES, no
Portal de Periódicos SciELO, na base de dados ERIC, na LILACS e
PubMed foram encontrados 256 resultados, sendo 123 falsos
positivos. Muitas das produções se repetiam nas diversas strings
(102); assim, somente 31 foram consideradas para análise.
Como muitas produções coincidem nas quatro bases de
dados supracitadas, o levantamento foi alocado em um único
quadro, o Quadro 2.
21
Quadro 2- Publicações levantadas na base de dados ERIC, LILACS e Portais de
Periódicos SciELO, CAPES e PubMed.
continua
22
continua
23
** Produções não disponíveis na íntegra gratuitamente.
Fonte: Elaboração própria.
24
Tendo em vista todas as bases de dados selecionadas para esta
revisão, 34 produções foram levantadas, dezoito das quais estão
disponíveis gratuitamente na internet. Quanto ao idioma de
publicação, a maioria delas está em inglês (21), sete em português,
três em espanhol, duas em francês e uma em persa (resumo
disponível em inglês).
Com relação ao ano de publicação, os dados estão expostos
na Figura 1.
Figura 1- Distribuição das produções por ano de publicação.
Fonte: Elaboração própria.
É possível constatar que não foi encontrada nenhuma
publicação referente ao ano de 2018, sendo 2012 o ano com maior
número de publicações. Vale ressaltar a necessidade de tempo para
indexação dessas produções nas bases de dados, possível motivo de
não ter sido encontrada nenhuma produção de 2018.
25
Quanto ao tipo de publicação, foram levantados 27 artigos
de periódicos científicos, cinco dissertações de Mestrado e duas teses
de Doutorado
4
.
Verificou-se que a revista que mais publica na área é a Roeper
Review, veículo de quatro artigos. Os periódicos Parenting for High
Potential, Gifted Child Quarterly e Gifted Education International são
responsáveis por duas publicações cada. Os outros periódicos foram
local de publicação de uma única produção.
A autora de maior recorrência nas produções foi Anne Rinn,
professora do Departamento de Psicologia Educacional da
Universidade do Norte do Texas, nos Estados Unidos.
Das cinco dissertações de Mestrado, três têm origem em
universidades estrangeiras (Universidade da Califórnia,
Universidade de La Verne e University of Calgary) e duas na mesma
universidade brasileira (Universidade Federal de São Carlos-
UFSCar). Quanto às teses de Doutorado, uma foi defendida no
Brasil, na mesma universidade das dissertações nacionais, mostrando
que esse é um local que focaliza os estudos sobre a temática, em
âmbito nacional. Destaca-se aqui a importância das universidades
públicas brasileiras, na produção do conhecimento científico. Uma
tese foi defendida internacionalmente, na Universidade Nacional de
Córdoba.
Após o levantamento, procedemos a uma exploração mais
aprofundada do material e interpretação dos resultados. As
produções passaram a integrar seis categorias temáticas, a saber:
“Identificação”, “Avaliação”, “Atendimento”, “Revisão da
4
Levantamento atualizado em 08 de dezembro de 2019.
26
Literatura”, “Habilidades Sociais” e “Características”. O número de
produções em cada categoria está exposto na Figura 2
5
.
Figura 2- Distribuição das produções por categoria
Fonte: Elaboração própria.
A categoria “Identificação” acomoda nove produções. Nesta,
foram alocadas as pesquisas que realizam estudos empíricos de
identificação, os quais versam sobre estratégias para identificar esse
público-alvo e também sobre equívocos recorrentes no processo.
Rinn e Nelson (2009) investigaram o potencial para erro
diagnóstico de Superdotação e TDAH. Os participantes foram 132
professores universitários e, em uma análise estatística, evidenciaram
que a sugestão de Superdotação é capaz de influenciar o diagnóstico
de comportamentos que podem ser típicos dessa dupla
5
Ressaltamos aqui que o número de produções por categoria é maior que o número de produções
levantadas. Esse fato é justificado porque algumas produções se inserem em mais de uma categoria.
27
excepcionalidade. As conclusões e implicações são discutidas no
artigo.
Concordando com esses achados, Rinn e Reynolds (2012)
admitem igualmente a possibilidade de erro diagnóstico e advertem
sobre a escassez de dados empíricos para apoiar o relacionamento
entre o TDAH e a sobre-excitabilidade (SE), comumente presente
nos superdotados. Foram sujeitos 116 participantes de um programa
de verão para superdotados de 12 a 16 anos e, utilizando um
questionário de avaliação específico para SE e também a escala
Conners para identificação de indicadores de TDAH, discutem as
relações entre os tipos de SE identificados e os padrões de TDAH
(hiperativo/impulsivo, desatento ou misto). Os resultados indicaram
uma relação significativa entre sobre-excitabilidade psicomotora e a
subescala hiperativo/impulsivo do DSM-IV, entre a sobre-
excitabilidade sensorial e o escore geral de TDAH e entre a sobre-
excitabilidade imaginativa e os escores de desatenção. As autoras
finalizam, enfatizando que falta ainda consciência e predisposição
para avaliar comportamentos de Superdotação, principalmente as
manifestações de SE em sujeitos com indicativos de TDAH.
Sugerem que outras pesquisas sejam realizadas com diferentes
grupos socioeconômicos, em distintos níveis de desempenho e em
outras configurações que não programas de verão.
Niusha, Ganji e Sotodeh (2012) investigaram a prevalência
de indicadores de TDAH em estudantes com comportamento
superdotado, em uma província no Irã. Foram participantes da
pesquisa 220 estudantes de diversas idades, tanto de escolas
particulares quanto públicas, e com um QI de 127 ou mais. Por
meio de um questionário de indicadores, entrevistas e o teste
28
Matrizes Progressivas de Raven, constataram que, emdia, 8% dos
estudantes com comportamento superdotado apresentaram
indicativos de TDAH. Concluem que esses comportamentos podem
afetar o rendimento dos estudantes, necessitando de um diagnóstico
precoce.
Irueste (2012) buscou identificar se estudantes designados
como dispersos e hiperativos pelos professores exibem capacidades
intelectuais diferenciadas. Foram participantes da pesquisa 37
docentes e 40 estudantes. Como resultados, observaram pontuações
superiores em inteligência, criatividade e motivação em 10% deles.
Os professores reconhecem as dificuldades e falta de formação na
temática e os resultados revelam limitações no diagnóstico do
TDAH.
Shive (2013) também concebe a possibilidade da dupla
excepcionalidade e afirma que, embora o TDAH possa ser
superdiagnosticado em estudantes com comportamento
superdotado, este e outros transtornos podem ser igualmente
negligenciados nessa população. A autora ressalta que muitos
estudantes podem ter um desempenho suficientemente bom para
mascarar suas dificuldades, mas isso os impede de atingir
efetivamente seu potencial. Descreve diagnósticos alternativos,
estratégias para localizar um profissional adequado para identificação
e opções de atendimento para esse alunato.
Silva (2013) avaliou a frequência e o padrão de indicadores
de TDAH em indivíduos superdotados e sua relação com anomalias
físicas menores. Os sujeitos da pesquisa foram 77 membros da
29
Mensa
6
Brasil. Foi identificada uma frequência de 37,8% de sujeitos
com indicadores de TDAH, e o número de anomalias físicas
menores foi significativamente associado ao TDAH. Nesse fato o
autor apoia a tese de que o TDAH é um transtorno de
neurodesenvolvimento. Silva e Rohde (2015), em um artigo baseado
na Dissertação de Mestrado de Silva (2013), apresentam os mesmos
objetivos e resultados.
Reis, Baum e Burke (2014) afirmam que, nas últimas três
décadas, o número de estudantes duplamente diagnosticados em
populações superdotadas dobrou. Destacam que esses estudantes
estão em um grupo de risco para dificuldades sociais, emocionais e
insucesso escolar, e propõem uma definição, a fim de que os
profissionais identifiquem esses estudantes e desenvolvam
programas para atender às suas necessidades. Apoiam a mudança de
foco para os pontos fortes e desenvolvimento dos potenciais dos
estudantes.
Massuda (2016) verificou a presença de indicadores de
Superdotação em determinados estudantes diagnosticados com
TDAH. Os participantes foram cinco profissionais do Centro de
Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), três professoras do Ensino
Fundamental I, com pelo menos um estudante com TDAH e
indicado pelo CAPSi, três diagnosticados com TDAH e 63 sem
diagnóstico. Foram identificados indicadores de Superdotação em
dois estudantes com TDAH. A autora também avaliou e discutiu as
atitudes sociais de professores em relação à identificação e ao
desenvolvimento desses estudantes; com isso, constatou que a
presença de atitudes sociais carregadas de mitos e crenças influencia
6
A Mensa é maior e mais antiga sociedade de alto QI do mundo.
30
a identificação e a forma como o processo de desenvolvimento da
Superdotação é engendrado.
Ao analisar as produções, é possível perceber que quatro
delas (NIUSHA; GANJI; SOTODEH, 2012; RINN;
REYNOLDS, 2012; SILVA, 2013; SILVA; ROHDE, 2015) têm
como foco a identificação de indicadores de TDAH em estudantes
com comportamento superdotado; em contraponto, Massuda
(2016) e Irueste (2012) focalizam a identificação da Superdotação
em estudantes com TDAH. Quatro investigações relacionam esses
indicadores com outro tópico de estudo, no caso de Rinn e Reynolds
(2012), as sobre-excitabilidades; em Silva (2013) e Silva e Rohde
(2015), anomalias físicas menores, e, em Massuda (2016), atitudes
sociais dos professores.
Rinn e Nelson (2009) realizaram um estudo empírico sobre
os erros no diagnóstico temática que vem gerando réplicas e
tréplicas na literatura , os quais são muito comuns, quando
dissertamos sobre o objeto de estudo desta pesquisa.
A respeito desse assunto, Ourofino e Fleith (2005) assinalam
que desconhecer a Superdotação e suas especificidades leva ao
diagnóstico de TDAH.
As pesquisas de Reis, Baum e Burke (2014) e Shive (2013)
são produções que contemplam, além de estratégias para a
identificação, estratégias para atendimento, portanto, foram
contabilizadas em ambas as categorias (“Identificação” e
“Atendimento”).
31
Na categoria “Avaliação”, foram alocadas sete pesquisas, as
quais versam sobre avaliação de aspectos cognitivos e
socioemocionais.
Simões Loureiro et al. (2009) efetuaram um estudo com 45
estudantes com alto potencial, divididos em dois grupos, de acordo
com o perfil intelectual. Por meio de testes padronizados, avaliaram
a atenção, funções executivas, memória de trabalho e as capacidades
psicomotoras. Verificaram que há maior preponderância do TDAH,
quando se apresenta um perfil intelectual desarmônico, ao passo que
os estudantes com alto potencial e TDAH revelam um perfil
neuropsicológico diferenciado, quando comparados aos estudantes
com alto potencial sem o TDAH.
Alloway e Elsworth (2012) compararam o desempenho em
medidas de memória de trabalho verbal, visuoespacial e habilidade
geral (vocabulário e bloco design) de grupos de estudantes de alta,
média e baixa capacidade intelectual. O perfil de estudantes de alta
capacidade também foi cotejado com aqueles com diagnóstico
clínico de TDAH. Os quatro grupos de estudantes totalizaram 211
participantes. Os pesquisadores notaram que o desempenho de
memória de trabalho foi superior nos estudantes de alta capacidade,
quando comparados com os grupos de capacidade baixa e média,
embora a relação entre memória de trabalho e QI enfraqueça, em
função do aumento da capacidade. Os autores ressaltam que o perfil
comportamental desse grupo indica características semelhantes, em
alguns aspectos, àqueles com diagnóstico clínico de TDAH, no
entanto, explicações subjacentes podem ser diferentes, devendo ser
levadas em conta em pesquisas futuras sobre a dupla
excepcionalidade Superdotação e TDAH.
32
Foley-Nicpon et al. (2012) examinaram a autoestima e o
autoconceito de estudantes com comportamento superdotado com
e sem o diagnóstico de TDAH. Foram participantes da pesquisa 112
estudantes de seis a 18 anos. Os autores concluem que, apesar do QI
semelhante, os estudantes com comportamento superdotado e
TDAH tiveram escores mais baixos em medidas de autoestima,
autoconceito comportamental e felicidade geral do que os estudantes
sem a dupla excepcionalidade.
Wood (2012) analisou as percepções de pais e professores
sobre comportamentos exibidos por 21 estudantes com
comportamento superdotado e sugestão de dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH. A escala de avaliação de comportamento
Conners 3 demonstrou pontuações médias nas avaliações de pais e
professores, nas áreas de desatenção, hiperatividade/impulsividade,
funcionamento executivo e problemas de aprendizagem. Destaca a
necessidade de uma análise mais aprofundada das propriedades
psicométricas e uso adequado do Conners 3, no diagnóstico de
estudantes com dupla excepcionalidade.
Fugate, Zentall e Gentry (2013) avaliaram a memória de
trabalho e a criatividade de
dois grupos de estudantes com
comportamento superdotado: com e sem indicadores de TDAH.
Participaram da pesquisa 37 estudantes. Os autores justificam a
importância do estudo da
memória de trabalho associado à
criatividade com o fato de que uma memória de trabalho
deficitária pode interferir na capacidade de manter as informações
na mente, o que poderia reduzir a capacidade de fazer novas
combinações de informações, ou seja, a criatividade. Como
resultados, contrariando achados anteriores, os estudantes com
33
dupla excepcionalidade apresentaram pior memória de trabalho,
mas, significativamente, maior criatividade do que estudantes com
comportamento superdotado que não atendiam aos critérios iniciais
de diagnóstico de TDAH. Discutem os resultados em termos de
potencial criativo e enfatizam que este pode servir tanto como um
aspecto identificador quanto como um caminho para a instrução.
Whitaker et al. (2015) exploraram os processos de memória
verbal estratégica de jovens intelectualmente superiores com e sem
TDAH. Foram participantes da pesquisa 125 estudantes
que
responderam à Escala de Inteligência Wechsler para crianças e à
versão teste infantil de aprendizagem verbal da Califórnia. Os
resultados apontaram diferenças significativas entre os
grupos, como
a melhoria do efeito principal estudantes com comportamento
superdotado com TDAH em memória verbal estratégica, quando
fornecidas “dicas” organizacionais. Também os intelectualmente
superiores com TDAH obtiveram escores estatisticamente menores
de memória verbal estratégica, quando comparados aos
intelectualmente superiores sem TDAH. Estudantes intelectual-
mente superiores com TDAH atingiram maiores escores que jovens
com habilidades comuns com TDAH. Os achados demonstram
novas evidências sobre o papel dessa dupla excepcionalidade, na
memória verbal estratégica, e sugerem que, embora um diagnóstico
de TDAH tenha uma implicação negativa nesse tipo de memória,
habilidades intelectuais superdotadas podem atuar como um fator
de proteção.
Gomez-Arizaga et al. (2016) examinaram a autoimagem e as
experiências vividas por estudantes com dupla excepcionalidade,
com relação aos colegas e professores. A amostra foi composta por
34
quatro estudantes com idades de oito a 15 anos, com comportamento
superdotado e TDAH. Por meio da coleta de entrevistas, os
resultados mostraram que os estudantes tinham noção de suas
discrepâncias e sabiam que eram motivados para a aprendizagem,
todavia, sentiam-se entediados e tinham dificuldade de evoluir,
quando as tarefas não eram desafiadoras. Eles também relataram ter
um bom relacionamento com seus professores e colegas.
Com a análise das produções alocadas na categoria
“Avaliação”, constata-se que maior atenção é dada à avaliação de
aspectos cognitivos da inteligência, em detrimento dos aspectos
socioemocionais, sendo que cinco das sete produções se debruçam
sobre esses aspectos, com destaque para as investigações sobre a
memória de trabalho. A avaliação desse construto está presente em
três das sete produções levantadas (ALLOWAY; ELSWORTH,
2012; FUGATE; ZENTALL; GENTRY, 2013; SIMÕES
LOUREIRO et al., 2009).
As pesquisas que se diferenciam por investigar aspectos
socioemocionais são a de Gomez-Arizaga et al. (2016), sobre o
autoconceito desses estudantes, e a de Foley-Nicpon et al. (2012),
que estuda, além do autoconceito, a autoestima.
Com relação a isso, Alves e Nakano (2015) alertam que a
literatura tem apontado que grandes dificuldades socioemocionais e
comportamentais podem aparecer em comorbidade com essa dupla
excepcionalidade, mas que frequentemente apenas aspectos
cognitivos são levados em conta, nos processos de avaliação e
intervenção.
35
Compõem a categoria “Atendimento” as sete pesquisas que
versam sobre estratégias no atendimento do estudante com dupla
excepcionalidade aqui investigada.
Grizenko et al. (2012) avaliaram se os estudantes com
TDAH com diferentes níveis de QI (limítrofe, normal ou alto)
respondem de diferentes maneiras ao tratamento psicoestimulante
com metilfenidato (MPH). Participaram do estudo 502 estudantes
de seis a 12 anos, divididos em dois grupos: o primeiro, em que foi
administrado o MPH, e outro, no qual se adotou um placebo
controlado. Além de diferenças no contexto socioeconômico e na
educação dos pais, os estudantes com QI mais alto apresentaram
indicadores menos graves, todavia, não foram encontradas
diferenças significativas em relação à resposta ao tratamento,
enquanto os estudantes com TDAH, dentro dos níveis normais e
altos de funcionamento intelectual, responderam igualmente ao
tratamento com psicoestimulantes. Os autores finalizam,
asseverando que o manejo apropriado da medicação é necessário
para todos os estudantes com o transtorno, independentemente do
nível intelectual.
Moody (2014) investigou as estratégias de melhores práticas
para o estudante com dupla excepcionalidade, apontadas por
especialistas. Analisou também a viabilidade das práticas
identificadas para o contexto de sala de aula. Esses especialistas foram
divididos em dois grupos: os acadêmicos e os práticos. Constatou-se
que os dois grupos julgam que fazer a avaliação desses estudantes,
acomodar e modificar a instrução, valendo-se dos pontos fortes e
fracos, foram as estratégias de melhores práticas, consideradas mais
eficazes e viáveis. O grupo de especialistas práticos classificou a
36
estratégia de diferenciar para instrução e agrupamento como a
prática mais viável. O grupo acadêmico apontou a estratégia de
permitir que os estudantes com dupla excepcionalidade ajudassem
outros como a menos eficaz. Dessa forma, o autor avalia que, apesar
de os dois grupos não terem concordado na maioria dos rankings,
avaliar e fazer adaptações/modificações para o estudante com dupla
excepcionalidade, oferecer instrução diferenciada e o agrupamento
são fortes estratégias de melhores práticas. Conclui que fazer
adaptações, utilizando seu ponto forte, é algo facilmente
implementado na sala de aula. Também julga como facilmente
implementável a diferenciação de instruções, o agrupamento, o
ensino de habilidades organizacionais e o feedback imediato. Colocar
os estudantes em contratos de estudos independentes foi tomado
como um procedimento difícil de implementar e pouco eficaz.
Hua, Shore e Makarova (2014) alertam para o fato de que,
em caso de estudantes com dupla excepcionalidade, a literatura
aborda, em grande parte, como remediar os déficits percebidos,
contudo, menos tem sido investigado sobre como desenvolver os
potenciais desses estudantes. Fazem uma crítica a esse tipo de
abordagem, assinalando que tende a recorrer a princípios
comportamentalistas e de processamento de informações, a fim de
auxiliar os estudantes na compensação de seus déficits em funções
executivas, memória, organização e gerenciamento de tempo.
Acreditam que apenas esse tipo de remediação é insuficiente, pois
não promove proativamente o desenvolvimento do potencial. Por
meio de uma narrativa semiautobiográfica, propõem que a instrução
baseada em investigação seria a mais adequada e com potencial para
desempenhar um papel integral, no desenvolvimento desses
estudantes.
37
Collins (2016) descreve as características de estudantes com
dupla excepcionalidade, sublinhando que esses podem lutar contra a
organização de tarefas cognitivas, devido às funções executivas
deficitárias, além de poderem apresentar dificuldades com “dicas”
sociais, problemas sensoriais, dificuldades de aprendizagem,
ansiedade e depressão. O autor ressalta a importância do uso de
tecnologias em sala de aula, enumera e descreve diversas ferramentas
on-line que podem auxiliar o processo de ensino-aprendizagem.
Luque-Parra, Luque-Rojas e Diaz (2017) objetivaram
refletir sobre as necessidades educacionais específicas de estudantes
com a dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH. Por meio de
um estudo de caso interventivo, verificaram melhora na atenção e
redução de seu comportamento hiperativo, sendo que o estudante
observado apresentou desempenho superior nas tarefas da sala de
aula, em atividades na área da linguagem (corporal, verbal, artística,
abordagem à linguagem escrita), bem como no autoconhecimento,
autonomia e conhecimento do meio ambiente. No entanto,
apresentou dificuldades associadas às relações sociais com pares,
expressão de emoções e no controle de seu comportamento. São
discutidas estratégias para pais e professores, no manejo dos
comportamentos indesejáveis e do processo de ensino-
aprendizagem do estudante. Ressaltam a necessidade de um
ambiente acolhedor, uma metodologia flexível, a qual inclua
pesquisa e cooperação, de sorte a aprimorar o pensamento
divergente, por meio da criação de múltiplas soluções e ideias
originais, e desenvolver o pensamento crítico. Salientam, também, a
necessidade de um programa para desenvolvimento de habilidades
sociais e emocionais, com vistas ao desenvolvimento integral do
estudante.
38
Ao se examinar as produções sobre a temática, nota-se que
cinco das sete produções versam sobre estratégias pedagógicas para
estudantes com dupla excepcionalidade, sendo destacadas: a
eficiência do uso da tecnologia (COLLINS, 2016), a utilização de
pontos fortes e fracos (MOODY, 2014; REIS; BAUM; BURKE,
2014), a avaliação diferencial, a realização de adaptações/
modificações, o oferecimento de instruções diferenciadas e o
agrupamento (MOODY, 2014) e a instrução baseada em
investigação (HUA; SHORE; MAKAROVA, 2014; LUQUE-
PARRA; LUQUE-ROJAS; DIAZ, 2017).
A pesquisa de Grizenko et al. (2012) se diferencia das outras,
por investigar aspectos ligados ao atendimento farmacológico (e não
pedagógico) do TDAH, em diferentes níveis de QI.
As produções alocadas em “Revisão da literatura” discutem
as contribuições até o momento para a área. Somam-se sete.
Orendorf (2009) efetuou uma ampla revisão de literatura, a
fim de esclarecer informações sobre a dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH, afirmando que esses estudantes têm
necessidades específicas e precisam ser identificados e atendidos. A
autora aponta técnicas que podem auxiliar nesse processo, de acordo
com cada área da inteligência.
Partindo de suas experiências clínicas no primeiro Centro
Nacional de Recursos para Crianças e Adolescentes com Alto
Potencial e dificuldades, Robert et al. (2010) ressaltam que ainda são
muitas as dúvidas relacionadas aos estudantes com comportamento
superdotado. Para dar luz a esses estudantes, esclarecem alguns
conceitos e termos utilizados e versam sobre distúrbios,
frequentemente associados, como o TDAH. Os autores destacam a
39
dissincronía, comum nos estudantes com comportamento
superdotado, a importância de um diagnóstico precoce, bem como
a necessidade de utilizar os pontos positivos como apoio do processo,
realizando uma avaliação intelectual, comportamental e emocional.
Destacam também a necessidade de envolver uma equipe
multidisciplinar, bem como os estudantes e suas famílias, com vistas
a propor um atendimento escolar, familiar e social abrangente,
adaptados ao estudante e seu ambiente.
Mullet e Rinn (2015), uma década após o diagnóstico errado
da Superdotação como TDAH ter sido investigado pela primeira
vez, em Hartnett, Nelson e Rinn (2004), analisaram estudos
empíricos sobre o diagnóstico errado, identificação e diagnóstico
duplo de Superdotação e TDAH, publicados em periódicos
acadêmicos nacionais e internacionais revisados por pares, entre
2000 e 2014. Destacam que a identificação da dupla
excepcionalidade deve ser realizada, levando-se em conta um
conjunto de características e sua interação, que, juntos, formam a
base para o diagnóstico, pois existe um mascaramento de mão dupla,
quando nas duas condições.
Lee e Olenchak (2015) estudaram a literatura atual sobre a
dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH. Notaram que esses
sujeitos são investigados em termos de diagnósticos individuais e
duais, desempenho do estudante com dupla excepcionalidade
(incluindo insucesso, criatividade e desfechos psicossociais) e
intervenções para os mesmos. Concluíram que indivíduos
superdotados com TDAH correm o risco de um diagnóstico
incorreto, desempenho e resultados psicossociais ruins. Alertam para
o fato de que, até então, várias áreas não foram examinadas no campo
40
da pesquisa científica, como estudantes criativos com TDAH, os
subtipos de TDAH e o trabalho longitudinal com indivíduos que
apresentam essa dupla excepcionalidade.
Pfeiffer (2015) dá ênfase aos estudantes com
comportamento superdotado com TDAH e os problemas de
aprendizagem. Sobressaem a falta de estudos empíricos e a
complexidade na identificação, realçando a circunstância de que, na
avaliação, é necessário considerar o tipo de Superdotação e de
comprometimento, sendo que, nas intervenções, deve-se levar em
conta questões sociais, interpessoais, emocionais, culturais e de
família, bem como acomodar os pontos fortes e interesses e planejar
a superação das suas fraquezas. A autora adverte ainda para o cuidado
no mascaramento dos indicadores de Superdotação, em um caso de
dupla excepcionalidade.
Alves e Nakano (2015) discutiram a presença da
Superdotação, na Síndrome de Asperger, TDAH e nos Transtornos
de aprendizagem. Para os autores, os comportamentos sociais e a
criatividade são características fundamentais para a diferenciação da
dupla excepcionalidade, e os comportamentos característicos do
TDAH podem ser observados nos estudantes com comportamento
superdotado.
Rommelse (2016) versa sobre o mascaramento simultâneo
dos indicadores dos dois fenômenos e desenvolvimento de
estratégias pelo próprio estudante, abordando um conjunto
específico de critérios para a validação do TDAH, no contexto de
alta inteligência. Os resultados sugerem que o TDAH é um
diagnóstico válido, apresentando características clínicas, curso,
resultado e uma resposta específica ao tratamento. Alerta para o fato
41
de que as pesquisas demonstram que o TDAH e o QI estão
correlacionados negativamente, sublinhando a necessidade de se
considerar o QI como moderador potencial nos estudos de TDAH e
estudar mais sistematicamente o transtorno, na população
superdotada.
As pesquisas dessa categoria enfatizam a necessidade de mais
estudos empíricos sobre a temática (ROBERT et al., 2010; RINN;
REYNOLDS, 2012; ALVES; NAKANO, 2015; PFEIFFER; 2015)
e também de estudos longitudinais (MOON et al., 2001).
Constata-se que três produções concordam em que há, na
literatura, evidências sobre o mascaramento de mão dupla dos
indicadores (PFEIFFER, 2015; MULLET; RINN, 2015;
ROMMELSE, 2016).
A categoria “Habilidades sociais” acomoda quatro
produções. Três delas versam sobre as habilidades sociais de
estudantes de diversas categorias de Necessidades Educacionais
Especiais (NEE), incluídos o TDAH e a Superdotação, a saber:
Freitas e Del Prette (2013; 2014) escreveram dois artigos,
fruto da Dissertação de Mestrado de Freitas (2011), portanto, com
os mesmos participantes e comparando as mesmas categorias. Em
Freitas e Del Prette (2013), são comparadas as habilidades sociais e,
em Freitas e Del Prette (2014), é feita a análise de regressão, com a
finalidade de verificar quais são as categorias preditoras de déficits,
nessa área.
Os autores cotejaram, com base na avaliação do professor, o
repertório de habilidades sociais de estudantes de 12 diferentes
categorias de NEE: autismo, deficiência auditiva, deficiência
42
intelectual leve, deficiência intelectual moderada, deficiência visual,
desvio fonológico, dificuldades de aprendizagem, Superdotação,
problemas de comportamento externalizantes, problemas de
comportamento internalizantes, problemas de comportamento
internalizantes e externalizantes e TDAH. Essas foram comparadas
entre si e com a amostra normativa do inventário de habilidades
sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica para
crianças (SSRS). Identificaram também recursos e déficits em
habilidades sociais e verificaram o grau de predição das diferentes
categorias sobre o repertório dessas habilidades. Participaram da
pesquisa professores de 120 estudantes de escolas regulares ou
especiais, com idades entre seis e 14 anos. Os resultados revelam que
as categorias com menor frequência de habilidades sociais, quando
comparadas às outras, foram também as maiores preditoras de
déficits nessa área: TDAH, autismo, problemas de comportamento
internalizantes e externalizantes e problemas de comportamento
externalizantes. Em contraponto, o grupo com maior frequência
dessas habilidades foram os de estudantes com comportamento
superdotado, com deficiência visual e deficiência intelectual leve.
Desse modo, observa-se que o grupo de estudantes com
TDAH e de estudantes com comportamento superdotado se
situaram em limiares opostos, quando o foco da avaliação foram as
habilidades sociais.
A outra investigação alocada na categoria “Habilidades
sociais” é a de Reed (2013), que investigou a relação entre ansiedade
e habilidades sociais em estudantes com dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH, de oito a 11 anos, pareadas com estudantes
com TDAH de inteligência mediana e também de desenvolvimento
43
típico. Com base nos resultados, a autora afirma que a ansiedade foi
um preditor significativo de déficits nas habilidades sociais em
estudantes com dupla excepcionalidade e sugere que mais pesquisas
sejam realizadas, dando enfoque à alta inteligência como fator de
risco para o desenvolvimento de ansiedade e déficits em habilidades
sociais em estudantes com TDAH.
Na categoria “Características”, foram alocadas duas
produções, que tratam das peculiaridades de estudantes com dupla
excepcionalidade.
Sumida (2010) desenvolveu uma lista de verificação a fim de
identificar características de Superdotação específicas para o
aprendizado de Ciências. Tal lista consistiu em 60 itens,
relacionados a atitudes, raciocínio, habilidades e
conhecimento/compreensão. Participaram do estudo 86 estudantes
de oito escolas primárias no Japão. Metade deles tinha alguma
dificuldade de aprendizagem, TDAH ou autismo de alto
funcionamento. A análise identificou três estilos de aprendizagem,
em Ciências: estilo espontâneo, estilo expert e estilo sólido. Os
estudantes com dupla excepcionalidade exibiram um estilo
espontâneo, enquanto os que não se inserem nesse diagnóstico foram
caracterizados pelo estilo sólido. Em ambos os grupos, o número de
participantes do estilo expert foi o menor. Assim, discutem-se os
benefícios de uma educação científica para estudantes com e sem
distúrbios leves do desenvolvimento.
Fugate e Gentry (2016) examinaram as experiências vividas
por cinco meninas de 12 e 13 anos, com comportamento
superdotado e TDAH, a fim de compreender os mecanismos
utilizados por elas, para enfrentamento das pressões, no ambiente
44
acadêmico. As meninas relataram problemas como desatenção e
tédio com tarefas, a exemplo da lição de casa, enquanto desafios que
afetam sua motivação. Os autores observaram que os indicadores
internalizantes podem igualmente influir na motivação dessas
meninas, e as saídas criativas são estratégias usadas para a
autorregulação. Por fim, as meninas entendem que apenas
habilidade é insuficiente para o sucesso acadêmico, realçando que
esforço e resiliência foram fatores muito importantes, assim como o
apoio acadêmico e motivacional dos professores e pais, e suas
expectativas. Com base nos resultados, propõem um novo termo:
“meninas com Atenção Divergente Hiperativa Superdotada
(ADHG)” uma mudança de paradigma que alteraria o foco,
destacando pontos fortes, motivação, perseverança e resiliência.
Por fim, ao analisar as produções dessa categoria, constata-se
ainda que Sumida (2010) realiza um levantamento de características
específicas para o ensino de Ciências, enquanto Fugate e Gentry
(2016), uma associação com o gênero, pois investigam um grupo de
estudantes com comportamento superdotado e TDAH composto
exclusivamente por meninas.
Com o levantamento efetuado, foi possível perceber que há
uma diferença nos padrões de comportamento dos estudantes com
comportamento superdotado, quando associados ao transtorno,
envolvendo dificuldades com respeito tanto a aspectos educacionais
quanto socioemocionais. Conclui-se, ademais, que esses padrões de
comportamento se assemelham mais aos comportamentos do
TDAH do que aos da Superdotação, uma das razões pelas quais é
verificada na literatura maior propensão da identificação do
transtorno (WINNER, 1998; MOON, 2002; NEIHART, 2003;
45
PÉREZ; RODRIGUES, 2013; MASSUDA; MANI, 2014;
MASSUDA, 2016; MULLET; RINN, 2016).
Diante desses dados, esta investigação contribuirá com as
discussões sobre a temática, pois foi comprovada a necessidade de
maior exploração, devido à incipiência de pesquisas nacionais nesse
sentido.
Após a revisão bibliográfica, para delineamento do quadro
conceitual em que se embasa esta pesquisa, vemos por necessário dar
luz a cada um dos diagnósticos e seus indicadores individualmente,
para enfim compará-los e relacioná-los à dupla excepcionalidade
aqui discutida. Essas explanações estão alocadas nos Subcapítulos
2.2, 2.3 e 2.4.
O fenômeno da superdotação
Os estudantes com comportamento superdotado
apresentam algumas características comportamentais e de
personalidade que os diferenciam dos que exibem desenvolvimento
típico para a idade.
Gama (2006) enfatiza que esses sempre existiram e, de
alguma maneira, em determinado tempo e contexto, foram
valorizados por seus potenciais. A autora ressalta que, na Grécia e em
Roma, os indivíduos com habilidades acima da média eram
procurados e valorizados. Em Esparta, os meninos eram separados
para receber educação em artes e técnicas de luta e, se fossem
identificadas habilidades incomuns, recebiam um treinamento mais
avançado.
46
No Japão, além de uma educação especializada, que era
destinada aos Samurais, as escolas mais eficientes eram procuradas
pelos estudantes mais capazes, os quais, após sua inserção nesses
ambientes, passavam por avaliações, para que fossem identificadas e
desenvolvidas suas habilidades específicas (GAMA, 2006).
Segundo essa mesma autora, com relação ao mundo
ocidental, a busca pelo desenvolvimento intelectual começou a ser
impulsionada com os avanços do Renascimento e da Reforma
Protestante, acompanhados pelas mudanças na economia.
A pioneira nas pesquisas na área, nacionalmente falando, foi
Helena Antipoff. Teve seus primeiros escritos datados de 1929 e
fundou o primeiro atendimento a estudantes com comportamento
superdotado, no Brasil: a Sociedade Pestalozzi, no Rio de Janeiro,
em 1945 (PÉREZ, 2004).
O primeiro livro sobre a Superdotação no Brasil é
denominado “A educação dos supernormais”, de Leoni Kaseff, o
qual foi publicado em 1930 (PÉREZ, 2004; CUPERTINO, 2012).
O autor foi seguido por Estevão Pinto, que escreveu “O dever do
Estado relativamente à assistência aos mais capazes”, de 1932, e “O
problema da educação dos bem-dotados”, no ano seguinte (PÉREZ,
2004).
De acordo com Delou (2007), várias iniciativas públicas e
privadas ligadas à educação dos estudantes com comportamento
superdotado foram registradas, a partir de 1971 (ano em que foram
citados pela primeira vez na legislação), nos estados do Pará, Bahia,
Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. Algumas
47
dessas se mantiveram em funcionamento, adquirindo o caráter de
referência na área.
Esses achados mostram que essa não é uma temática nova,
entretanto, ainda existem muitas barreiras que dificultam o processo
de identificação e avaliação.
Segundo o censo demográfico do IBGE (BRASIL, 2010a),
o Brasil tem por volta de 209 milhões de habitantes, dos quais 48
milhões estão em idade escolar e matriculados nas redes de ensino
(BRASIL, 2017a). Desses, 22.161 estão registrados como estudantes
com comportamento superdotado (BRASIL, 2018), o que
representa apenas 0,04% do total.
Esse número é extremamente baixo, se comparado às
estimativas probabilísticas mais conservadoras, segundo as quais se
tem em torno de 3 a 5% desses estudantes na população escolar
(MARLAND, 1972). Com relação à prevalência, o estudo de Pérez
(2004), realizado no Sul do Brasil, identificou que de 2 a 3
estudantes por sala de aula tinham comportamento superdotado,
número que não foi influenciado por outras variáveis (étnicas,
sociais, culturais e de gênero).
Quanto aos mitos que transpassam a temática, Ellen Winner
(1998) elencou alguns que a permeiam, entre os quais o mito da
Superdotação global, o qual denota que o estudante com
comportamento superdotado, para ser assim considerado, precisa
necessariamente ser suficientemente bom em todos os seus aspectos.
Essa lógica não é verdadeira, porque a criança com uma combinação
de pontos fortes e fracos acadêmicos vem a ser a regra e não a
exceção, existindo casos em que esses estudantes podem apresentar
48
até um déficit em alguma área, como nos casos dos estudantes com
dupla excepcionalidade.
O modelo dos três anéis e a Operação Houndstooth
Joseph Sebastian Renzulli foi um visionário e modificou a
educação dos superdotados, no mundo. O autor desenvolve uma
teoria que alerta sobre a necessidade de avaliações multidisciplinares
e multimodais, contrapondo-se ao modelo tradicionalmente
vigente, embasado somente em testes de inteligência.
Segundo a Teoria dos Três Anéis desenvolvida por esse autor
em 1986, as características dos estudantes com comportamento
superdotado podem ser inferidas a partir de um conjunto de traços
específicos. Para ele, esses indivíduos se diferenciam por possuírem
habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e altos níveis
de criatividade. A representação gráfica dessa definição é um
diagrama de Venn, sobre um fundo quadriculado (também
chamado de pied-de-poule ou houndstooth), no qual a intersecção dos
três círculos simboliza o estudante com comportamento
superdotado, em suas características (Figura 3).
De acordo com o autor, estudantes que manifestam ou são
capazes de desenvolver uma interação entre os três grupos necessitam
de uma ampla gama de oportunidades e recursos educacionais
diferenciados daqueles providos pela educação regular.
49
Figura 3- Diagrama de Venn
Fonte: Renzulli (1986).
O fundo foi acrescentado para representar os aspectos que
interferem na manifestação das características, como os
componentes genéticos, ambientais (situação socioeconômica,
disponibilidade de modelos, existência de doenças físicas,
estimulação dos interesses da criança pela família, personalidade dos
pais ou situações potencialmente traumáticas, como o divórcio ou a
morte de familiares) e a própria personalidade (a percepção de si, a
coragem, o caráter, a intuição, o carisma e a necessidade de mostrar
desempenho) (RENZULLI, 1986). Isso nos faz entender que esses
anéis representam uma interpretação extremamente dinâmica de tais
comportamentos.
Os documentos oficiais corroboram a ideia de não fixidez
das características do estudante superdotado, quando afirmam que
as várias características reveladas por estudantes com
50
comportamento superdotado se rearranjam de diferentes maneiras,
evidenciando a complexidade de tal fenômeno (BRASIL, 2006).
A “habilidade acima da média” é caracterizada pela
[...] capacidade de processar informações, integrar experiências
que resultam em respostas apropriadas e adaptativas para novas
situações e engajar-se no pensamento abstrato [...] que pode ser
demonstrada em diversas áreas do saber e fazer humanos, ou em
subáreas específicas. (RENZULLI; REIS, 1997, p. 5- 6).
Esse atributo deve ser identificado tendo como parâmetro
um grupo de referência, com características em comum, e pode ser
definido de duas formas: habilidade geral e habilidades específicas.
Para Renzulli (1986, 2014, 2018), a habilidade geral consiste
em traços que podem ser aplicados a todos os domínios (ex.
inteligência geral) ou a domínios amplos (ex. habilidade verbal).
Essas habilidades podem ser mensuradas por testes de aptidão geral
ou de inteligência e tendem a permanecer constantes, ao longo do
tempo, de modo que os outros dois construtos a criatividade e o
comprometimento com a tarefa são contextuais, situacionais e
temporais. Conforme o autor, esse anel é menos variável, por ser o
que tem maior relação com os aspectos cognitivos e intelectuais mais
tradicionais (RENZULLI, 2014).
Ainda segundo Renzulli (1986, 2014, 2018), as habilidades
específicas estão ligadas à capacidade de adquirir conhecimento e
técnica, ou à habilidade de executar uma ou mais atividades de um
âmbito restrito (ex. química, balé, escultura, fotografia). Habilidades
específicas em certas áreas, como Matemática e Física, têm forte
relação com as habilidades gerais, portanto, uma indicação de
51
potencial nessas áreas pode ser determinada em testes de aptidão
geral. Quanto à prevalência de pessoas na população que possuem
alguma habilidade acima da média, para Renzulli (2014), temos
representativos 15 a 20% de indivíduos superiores em qualquer área
do empreender humano.
Complementarmente, Guimarães e Ourofino (2007)
elencaram alguns indicadores de habilidades acima da média:
memória muito destacada, a qual retém muitas informações sobre
temas do interesse; vocabulário muito avançado e rico; capacidade
analítica e indutiva muito desenvolvida; facilidade e rapidez de
aprendizagem e aplicação a outras áreas; capacidade de generalização
destacada; fácil adaptação a situações novas ou a modificações;
pensamento abstrato; raciocínio lógico matemático bem
desenvolvido e desempenho destacado.
O segundo anel, denominado “comprometimento com a
tarefa”, revela um traço advindo de uma motivação intrínseca, a qual
faz com que o estudante se dedique a um problema ou área
específicos. Perseverança, persistência, autocrítica, expectativas
elevadas e trabalho árduo são características de quem apresenta esse
traço (RENZULLI; REIS, 1997).
O comprometimento com a tarefa representa um conjunto
não intelectivo e pode ser encontrado frequentemente em indivíduos
produtivo-criativos, funcionando como uma forma de motivação
mais refinada, direcionada a uma área específica (RENZULLI,
2018).
Guimarães e Ourofino (2007) complementam, sustentando
que ter elevada autoexigência e autocrítica, insistir em buscar
soluções para os problemas, ter organização própria, ter segurança e
52
teimosia nas suas convicções, não precisar de muito estímulo para
terminar o que lhe interessa, deixar de fazer outras coisas para se
envolver no que lhe interessa, identificar áreas de dificuldade e
estabelecer prioridades em uma atividade, saber distinguir
consequências e efeitos de ações e treinar por conta própria, para
aprimorar suas técnicas, são igualmente comportamentos exibidos
por quem tem um alto nível de comprometimento com a tarefa.
Esse traço é parte importante no desenvolvimento de uma
pessoa, pois muitas pesquisas sugerem que o intelecto e a realização
estão longe de estar perfeitamente correlacionados (RENZULLI,
2014).
Por fim, o terceiro grupo de atributos que caracteriza os
sujeitos com comportamento superdotado é a “criatividade”, a qual
se manifesta por um senso estético bem desenvolvido, alto nível de
fluência de ideias, pensamento original e desejo de agir e reagir ao
ambiente (RENZULLI; REIS, 1997). Engloba a “[...] curiosidade,
originalidade, inventividade e uma disposição em desafiar a
convenção e a tradição.” (RENZULLI, 2018, p. 27).
À criatividade Torrance (1998) também associa os elevados
níveis de curiosidade, desgosto com a rotina, gosto por desafios,
distração e tédio, quando exposto a uma atividade não desafiadora.
Na visão do autor, essa capacidade é medida por meio de testes de
pensamento divergente. Um exemplo desses testes é o Teste
Torrance do Pensamento Criativo, traduzido e adaptado para uso,
no Brasil, com a finalidade de avaliar dimensões relacionadas ao
processo criativo e à personalidade.
Renzulli (2014) alerta que a validade preditiva desses testes
parece limitada, porque não é encontrada estreita correlação com
53
realizações mais substanciais, necessitando de cautela no seu uso e
interpretação, assinalando que, muitas vezes, a análise do produto
ou o relato sobre a produção criativa podem trazer informações
suficientemente precisas sobre o pensamento criativo.
Alguns indicadores de criatividade apontados por Guimarães
e Ourofino (2007) foram: apresenta extrema curiosidade; gosta de
arriscar-se a desafios; exibe imaginação e inventividade elevadas;
mostra inconformismo; compreende ideias diferentes das suas; gosta
da crítica construtiva e rejeita o autoritarismo; faz perguntas
provocativas e difíceis, as quais
expressam crítica e inquietude
intelectual; rejeita a rotina repetitiva; descobre novos e diferentes
caminhos para a solução dos problemas; é questionador, quando um
adulto fala algo com que ele não concorda, e não gosta de cumprir
regras, especialmente quando injustas e sem sentido.
As autoras ressaltam que os indicadores do construto
criatividade são muito propensos à influência de barreiras, tanto
individuais quanto sociais, culturais e familiares (GUIMARÃES;
OUROFINO, 2007).
Com relação à manifestação desses comportamentos,
constata-se que eles podem se manifestar em duas áreas: a acadêmica
e a produtivo-criativa. A primeira é o tipo mais identificado nos
ambientes escolares, onde o estudante apresenta, principalmente,
habilidades analíticas, enquanto o segundo tipo é caracterizado por
expressões artísticas originais e pelo desenvolvimento de ideias ou
produtos (RENZULLI, 1986, 1988, 2004, 2014).
Delou (2010) salienta que os estudantes do tipo acadêmico
são os que apresentam boas notas, aprendem com rapidez e possuem
boa memória; os do tipo produtivo-criativo não m
54
necessariamente um QI elevado, têm desgosto pela rotina e
culminam demonstrando tédio, desinteresse e distração, no
ambiente escolar.
Renzulli (2014) frisa que os dois tipos são igualmente
importantes e devem ser identificados e valorizados, sendo possível
também encontrar interões entre esses dois tipos, em alguns
indivíduos, o denominado tipo combinado ou misto.
O autor define sua orientação teórica como
psicoeducacional, que suas teorias têm se centrado na aplicação de
teorias e pesquisas da área da Psicologia, em situações pedagógicas
dentro das escolas (RENZULLI, 1986, 1988, 2000).
Renzulli (2014) assevera que inseriu o fundo quadriculado
no Diagrama de Venn, no início da década de 1970, quando
objetivava criar uma definição que desafiasse a visão tradicional do
conceito, atrelada somente aos testes de QI, o que foi extremamente
válido. Mas, diante da necessidade de maiores estudos sobre os
fatores que interagem e realçam os traços cognitivos, denominados
fatores cocognitivos, desenvolveu o diagrama a seguir, chamado de
Operação Houndstooth:
55
Figura 4- Operação Houndstooth
Fonte: Renzulli (2014, p. 249).
O desenvolvimento da Operação Houndstooth foi motivado
pelo importante papel que a educação dos superdotados
desempenha, na construção de uma liderança responsável e ética, a
qual se estende por todos os caminhos que esse estudante pode
percorrer e leva em conta seis fatores: otimismo, coragem, romance
ou tópico ou disciplina, sensibilidade para as questões humanas,
energia física/mental e visão/sentido de destino (RENZULLI,
2014).
Renzulli (1988, p. 20) ressalta que não há garantia de uma
rotulação definitiva em nenhum estudante, porque a Superdotação
56
é caracterizada por “[...] manifestações do desempenho humano que
podem ser desenvolvidas em certas pessoas, em determinados
momentos e sob determinadas circunstâncias.” É importante
sublinhar que a identificação é um processo no qual os indicadores
deverão estar presentes com “frequência, intensidade e consistência
ao longo do tempo.” Ademais, Ourofino e Guimarães (2007)
acrescentam que, além da frequência e intensidade, deve ser
investigado um maior número de fontes de informação possíveis.
No senso comum, é recorrente encontrarmos pessoas que
questionam a educação diferenciada para os estudantes com
comportamento superdotado, empregando, em sua maioria, o
argumento de que esses já foram agraciados com um potencial
superior. Nesse aspecto, Renzulli (2018) frisa que o primeiro
propósito da educação para a Superdotação é proporcionar aos
estudantes a máxima oportunidade de autorrealização, por meio do
desenvolvimento e expressão de uma ou de um conjunto de áreas
de desempenho, onde esse potencial pode estar presente. O segundo
maior propósito é o de aumentar o reservatório de pessoas, na
sociedade, que contribuiriam na solução dos problemas
contemporâneos, ao invés de se tornarem meros consumidores de
informações preexistentes. Para ele, a autorrealização e as
contribuições sociais são inquestionáveis, em uma sociedade que se
pretende democrática.
Pensando nessa evolução de toda a sociedade e na liderança
de um mundo em constante mudança, Renzulli desenvolveu mais
uma teoria, complementar às anteriores, denominada “Funções
Executivas”. Tais funções são definidas como as habilidades de
engajamento em situações novas que requerem planejamento,
57
tomada de decisão, resolução de problemas, liderança e ética, que
não sejam dependentes de rotina ou respostas bem ensaiadas, porém,
provenham de combinações de condições desafiadoras
(RENZULLI, 2018).
O autor assinala que essa pode muito bem ser considerada o
catalisador para o “faça acontecer”, e assevera:
As ideias mais criativas, as habilidades analíticas avançadas e os
motivos mais nobres podem não resultar em ações positivas, a
menos que as habilidades de liderança, como a organização,
sequenciação e bom senso estejam reunidas para enfrentar
situações problema. (RENZULLI, 2018, p. 35).
Para além, destaca estudos os quais mostram que os
estudantes mais persistentes na autorrealização não são
necessariamente aqueles que se saem melhor nos testes de aptidão,
mas aqueles com maior força de caráter, otimismo, persistência e
inteligência social.
Nesse viés, está desenvolvendo um instrumento chamado
“Classificação das funções executivas dos jovens”, o qual servirá para
identificar os traços potenciais de liderança, desejáveis na sociedade
atual, auxiliando professores no delineamento de estratégias para
desenvolver esses traços, tanto individualmente quanto em grupo
(RENZULLI, 2018).
Entende que as variáveis dependentes que emergiram nesse
sentido foram diversas, dividindo-as em cinco fatores, os quais
devem ser levados em conta, quando se busca uma liderança em um
mundo de mudança: “Orientação para a ação”, “Interações sociais”,
58
“Liderança altruísta”, “Autoavaliação realista” e “Consciência das
necessidades dos outros” (RENZULLI, 2018).
O autor finaliza a ideia, enfatizando:
Se pudéssemos ter um impacto no capital social e lideranças
eficazes e empáticas, então estaremos preparando os tipos de
líderes que serão tão sensíveis às questões humanas, ambientais
e democráticas quanto assim são os tradicionais fabricantes
materialistas de sucesso no mundo de hoje. A maior recompensa
em focalizar a educação para superdotados na aprendizagem
investigativa e em usar o conhecimento sabiamente será um
aumento drástico da reserva de pessoas que irão usar seus
talentos para construir um mundo melhor. (RENZULLI,
2018, p. 40).
O aspecto socioemocional
Embora a Superdotação esteja intimamente ligada com os
pontos fortes do estudante, temos que, para além das predisposições
intelectuais, o ser humano é também, e sobretudo, um sujeito
formado por uma gama de “fatores cocognitivos”, os quais
influenciam, direta ou indiretamente, a organização geral de seu
psiquismo.
Para melhor entendimento dos processos que influenciam o
ajustamento emocional dos estudantes com comportamento
superdotado, há que se considerar fatores que permeiam as
características individuais e ambientais, as quais são mutáveis e
complexas.
A partir de 2020, as escolas vão ter que incluir o
desenvolvimento das habilidades socioemocionais no currículo,
59
como previsto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
apontadas como necessárias para resolver as demandas complexas da
vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e da atuação no
mundo do trabalho.
Nesse documento, são apontadas dez competências gerais da
Educação Básica, entre as quais é possível destacar:
[...] cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo- se
na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos
outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas [...]
exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a
cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
qualquer natureza [...] agir pessoal e coletivamente com
autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e
determinação, tomando decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL,
2017b, n.p).
Daniel Goleman (1995) afirma que o QI tradicional
(avaliado pela inteligência lógico- matemática ou verbo-linguística)
contribui em apenas 20% para o sucesso na vida, ao passo que a
inteligência emocional é a responsável pelos 80% restantes,
sugerindo que essas competências são novas maneiras de ser
inteligente. Quanto a esse aspecto, vale ressaltar que o “sucesso na
vida” é um indicador subjetivo, dependendo da cultura em que esse
sujeito está inserido.
60
Nessa perspectiva, Jean Charles Terrassier (1999) cunhou o
termo “dissincronia”, que caracteriza a criança intelectualmente
precoce, a qual experimenta um desenvolvimento heterogêneo
específico. Sua evolução intelectual vem a ser tão rápida que as outras
áreas da realização humana ficam “atrasadas” e se desenvolvem
igualmente aos seus pares. Pode haver, assim, uma defasagem entre
o desenvolvimento intelectual e o psicomotor, entre as diferentes
funções cerebrais e entre a inteligência e o campo socioemocional,
sendo este o mais passível de gerar problemas pessoais e na escola.
Para além da dissincronia interna, o autor discute o termo à
luz do ponto de vista externo ao próprio indivíduo, a denominada
dissincronia social, a qual novamente esbarra na inadaptação escolar,
em um sistema que oferece um currículo único, que não motiva o
estudante, nem mobiliza suas habilidades. Esse fenômeno poderia
levar ao desestímulo escolar e a problemas de comportamento, e a
escola seria, para parte dessa população, geradora de desajustes e, em
muitos casos, fracasso escolar (TERRASSIER, 1999).
Apesar de ter sido Terrassier o primeiro autor a utilizar o
termo “dissincronia”, Silverman (1993) ressalva que a primeira
pesquisadora a identificar que habilidades excepcionais, que
inclusive podem ultrapassar grande parte do atingido por adultos,
podem estar alocadas em um corpo de criança, com emoções de
criança, foi Letta Hollingworth.
Ourofino e Guimarães (2007) definem o fenômeno da
Superdotação justamente por essa assincronia e versam que esses
estudantes têm um desenvolvimento desigual nos diferentes aspectos
que os constituem.
61
Na literatura, encontramos com certa frequência
investigações com estudantes inteligentes que não conseguem
expressar um rendimento compatível com o próprio potencial, seja
na área acadêmica, seja na profissional e interpessoal, conhecidos
como superdotados underachievers (OUROFINO, 2006;
ANTSHEL et al., 2011; TENTES, 2011; BUDDING;
CHIDEKEL, 2012).
Na maioria das vezes, esse baixo desempenho tem alguma
associação a fatores emocionais e/ou contingências ambientais que
agem como barreiras para o pleno desenvolvimento desses
estudantes (OUROFINO, 2006; ALENCAR, 2007).
Alencar (2007) alerta que baixas expectativas parentais,
atitudes incoerentes com respeito às realizações do filho, excessiva
pressão e conflitos no lar podem contribuir para o sub-rendimento
do estudante com comportamento superdotado.
Tentes (2011) examinou o fenômeno underachievement (ou
baixa performance) em estudantes com comportamento
superdotado. Para dar base empírica à discussão, comparou dois
grupos de estudantes superdotados e superdotados underachievers
de um atendimento educacional superdotado. Participaram do
estudo 96 estudantes. Os resultados revelam que os estudantes com
comportamento superdotado, quando comparados aos
underachievers, obtiveram desempenho significativamente superior
nas medidas de inteligência, criatividade total e criatividade verbal,
autoconceito, desempenho escolar total e no subteste de escrita. Por
outro lado, os underachievers se destacaram nos aspectos de
motivação extrínseca, quando comparados aos com comportamento
superdotado. A autora identificou uma prevalência de estudantes
62
underachievers entre os superdotados, na razão de 2:1, ou seja, a cada
dois estudantes com comportamento superdotado, um apresenta o
rendimento abaixo do potencial.
Montgomery (2009) insere o aspecto tempo na identificação
e atribui a condição underachievement somente aos casos que
comprovadamente demonstrarem discrepâncias reais entre o
potencial estimado e a produtividade atual, descartando a utilização
do termo underachiever para as dificuldades comportamentais,
hiperatividade, desatenção e falta de persistência.
Terrassier (1999) adverte para o fato de muitos estudantes
com comportamento superdotado esconderem seus potenciais, na
sala de aula, gerando o embotamento, situação na qual o estudante
acaba se igualando a seus pares. Isso acontece principalmente
quando o estudante não está identificado e não tem suas
necessidades educacionais contempladas, o chamado “efeito
pigmalião negativo”.
Segundo Alencar (2007), o “efeito pigmalião” foi
mencionado na literatura pela primeira vez por Rosenthal e
Jacobson, em 1968, para se referir à situação na qual o professor, ao
ser informado sobre a competência acadêmica elevada de estudantes,
escolhidos, por sua vez ao acaso, passou a agir de maneira diferente
com eles, estimulando-os e levando-os a apresentar desempenho
correspondente à avaliação que o professor havia recebido
anteriormente.
No caso do estudante superdotado, pode ocorrer o processo
inverso, como alertado por Terrassier (1999).
63
Outra teoria que tem implicações consideráveis para o estudo
da Superdotação é a teoria da desintegração positiva (TDP) de
Dabrowski (MENDAGLIO, 2002, 2008; OUROFINO, 2006;
ALENCAR, 2007; DANIELS, 2009; LEE; OLENCHACK, 2015;
OLIVEIRA; BARBOSA; ALENCAR, 2015). O autor a nomeou de
“desintegração”, porque acredita que a personalidade tende a se
desfazer para evoluir (desintegração positiva) ou involuir
(desintegração negativa), pois a involução de nível também pode
ocorrer (DABROWSKI, 1964, 1970; OLIVEIRA; BARBOSA;
ALENCAR, 2015).
Segundo Oliveira, Barbosa e Alencar (2015), os dois
construtos aos quais a TDP dá ênfase são a personalidade e as
emoções, e, até o momento, esses são bem menos investigados do
que variáveis intelectivas, como a inteligência.
Mendaglio (2008) afirma que a TDP é considerada uma
Teoria de Personalidade para o século XXI e que ela busca explicar
o processo de desenvolvimento humano, atribuindo importância
primária às emoções, o que releva a inteligência a uma posição
secundária, corroborando os escritos de Goleman (1995).
Esse desenvolvimento não se define em estágios fixos, por
faixas etárias, porém, de acordo com um continuum hierárquico de
níveis, os chamados multiníveis, isto é, em uma progressão, de um
baixo e primitivo nível para um alto e avançado nível. A transição
entre esses níveis não é automática, acontecendo quando há
movimento, ao ocorrerem desintegrações e reestruturações, de sorte
que o sujeito pode estar em um nível mais ou menos avançado,
dependendo do aspecto analisado (MENDAGLIO, 2008). Nos
pressupostos da TDP, a idade não é um fator determinante, embora
64
o autor enfatize que todo ser humano possui um instinto
desenvolvimental, ou seja, uma tendência a evoluir do menor para o
maior nível de personalidade (DABROWSKI, 1964).
Dabrowski (1970) elencou três conjuntos de fatores que vão
influenciar esse desenvolvimento. O primeiro é determinado
biologicamente e se refere aos genes, às alterações permanentes na
constituição física do organismo, às características psíquicas
constitucionais e às potencialidades inatas. O segundo diz respeito
aos influxos da cultura e do ambiente social em que os indivíduos
atuam, sozinhos ou em grupos, como a família, os amigos, a igreja e
a escola. O terceiro e último conjunto de fatores que influem no seu
desenvolvimento concerne aos processos autônomos que a pessoa
traz, como os conflitos internos, a autoconsciência e as escolhas em
relação ao próprio crescimento, enquanto sujeito. Esses são
considerados imprescindíveis para a formação de um ser livre,
independente e autêntico, e transcendem os aspectos biológicos e
sociais.
O autor ressalta que nem todos os indivíduos são afetados
pelos três conjuntos e, quando o terceiro passa a afetar o
desenvolvimento, esse indivíduo começa a elaborar uma autêntica
hierarquia de valores. Para ele, a expressão das emoções, dos
comportamentos e pensamentos também é qualitativamente
diferente, nos cinco níveis de desenvolvimento, podendo existir
valores considerados extremamente elevados, como o altruísmo, e
aqueles tidos como muito inferiores, como o egocentrismo.
Apesar de essa não ter sido uma teoria formulada para
entendimento do sujeito superdotado, foi introduzida no campo da
65
Superdotação, há mais de 40 anos, em 1979 (OLIVEIRA;
BARBOSA; ALENCAR, 2015).
Dabrowski (1970) sinaliza que o indivíduo com
comportamento superdotado tem maior propensão a exibir
processos desintegrativos, podendo concluir um nível específico
mais rapidamente ou, até mesmo, alcançar o quinto nível. O
psicólogo polonês identificou, nesses indivíduos, cinco áreas de
sobre-excitabilidade (SE): psicomotora, sensorial, intelectual,
imaginativa e emocional (DABROWSKI, 1964).
A sobre-excitabilidade vem sendo tomada como uma
característica compartilhada por muitos superdotados e, embora não
seja tida como um comportamento exclusivo desses sujeitos, age
como um catalisador, um combustível que nutre e fortalece o
desempenho de sujeitos com comportamento superdotado
(OLIVEIRA; BARBOSA; ALENCAR, 2015).
Segundo esses mesmos autores, é preciso ter em vista que
nem todas as formas de SE possibilitam maior desenvolvimento ou
trazem benefícios, e que muitas vezes isso ocorre de modo inverso,
podendo levar esses sujeitos a apresentar uma série de
questionamentos e conflitos a respeito de si e de seus potenciais.
A literatura da área revela que particular relevância deve ser
direcionada às discussões sobre a SE psicomotora e imaginativa.
Uma SE psicomotora é indicativa de comportamentos impulsivos e
hiperativos (CRAMOND, 1995; MENDAGLIO, 2002;
HARTNETT; NELSON; RINN, 2004; RINN; REYNOLDS,
2012), enquanto uma SE imaginativa pode ser confundida com
desatenção, mas significa tempo ininterrupto de utilização do
66
pensamento criativo (CRAMOND, 1995; HARTNETT;
NELSON; RINN, 2004; RINN; REYNOLDS, 2012).
Daniels (2009) assevera que, em suma, a TDP de Dabrowski
oferece uma forte base, capaz de: (1) reconhecer aspectos ligados ao
desenvolvimento da personalidade no superdotado; (2) modificar a
percepção de características frequentemente vistas como
inadequadas e problemáticas em uma ótica mais positiva e como
essenciais para o potencial de desenvolvimento do indivíduo; (3)
conduzir novas pesquisas associadas ao desenvolvimento
socioemocional e da personalidade do sujeito com comportamento
superdotado.
Ourofino e Fleith (2005) ressaltam que diferentes posiciona-
mentos têm sido tomados quanto aos aspectos socioemocionais dos
estudantes com comportamento superdotado. Há quem acredite que
o estudante superdotado tem propensão a desenvolver problemas e
necessita de intervenções, para superar suas dificuldades; por outro
lado, há quem afirme que os estudantes superdotados são mais
resilientes e que somente uma minoria precisaria de
acompanhamento e intervenções.
Corroborando esses dados, Webb e Latimer (1993) e
Oliveira (2016), em pesquisas de revisão bibliográfica, constataram
que parte delas aponta que esses estudantes apresentam déficits no
aspecto socioemocional. As dificuldades mais citadas são isolamento
social, distanciamento dos pares, sentir-se diferente e não se adaptar
ao contexto social, raiva por não atingir a perfeição, sentimento de
inadequação, hostilidade, comportamento agressivo, irritabilidade,
insegurança, baixa autoestima, depressão, ansiedade e ideação
suicida.
67
Entretanto, outras pesquisas contrariam esses achados e
apontam que esses estudantes têm melhores habilidades sociais que
a média dos pares. Entre as características positivas, foram citadas
responsabilidade, assertividade, civilidade, autocontrole, expressão
de sentimento positivo, capacidade de resolver problemas, bom
humor, habilidade de liderança e autoestima elevada (WEBB;
LATIMER, 1993; OLIVEIRA, 2016).
Martins (2019) também relata essa falta de consenso quanto
ao desempenho social desses estudantes e se eles apresentam ou não
predisposição a desajustes, principalmente no período da
adolescência.
A confusão terminológica
Com relação à nomenclatura usada para caracterizar esses
estudantes, a atualização da LDB (BRASIL, 2013a) adota “Altas
Habilidades ou Superdotação”; em contraponto, o Conselho
Brasileiro de Superdotação (ConBraSD) e a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEE), de
2008, optam por “Altas Habilidades/Superdotação” (BRASIL,
2008a), compreendendo que não há uma oposição entre tais
conceitos (DELOU, 2010; PEDRO, 2016).
Além das divergências entre as nomenclaturas utilizadas por
órgãos oficiais, é imperativo salientar que, a depender do referencial
teórico empregado por cada autor, em suas pesquisas, essa também
é modificada. Nesta investigação, nós nos valemos do termo
“superdotado”, enquanto adjetivo e não substantivo; investigamos o
estudante que apresenta “comportamento superdotado”, ou a
68
“Superdotação”, enquanto fenômeno, mostrando coerência com o
referencial teórico em que se baseiam os instrumentos usados na
investigação (RENZULLI, 1986, 1988, 2004, 2014, 2018).
Embora tenhamos feito essa opção, nas citações diretas, foi
respeitada a nomenclatura adotada pelo autor.
Como exposto, são evidenciadas algumas dificuldades no
processo de identificação. Verifica-se que estas estão atreladas
principalmente à falta de formação dos profissionais, aos mitos que
permeiam a temática e também à confusão com diagnósticos, como
a precocidade, a prodigialidade, a genialidade e o bom desempenho
acadêmico.
A precocidade, conforme já citado, não é sinônimo de
Superdotação, contudo, há autores que a consideram como
imprescindível para que a Superdotação ocorra (WINNER, 1998;
GAMA, 2006).
Para Winner (1998), o que determina a Superdotação é a
precocidade, insistência em fazer as coisas ao seu modo e a fúria por
dominar. Segundo essa autora, todo indivíduo com comportamento
superdotado foi precoce, porém, nem todo precoce virá a apresentar
a Superdotação, posteriormente. Entende que a precocidade é
vinculada ao funcionamento biológico e à aprendizagem. A
insistência em fazer as coisas ao seu modo envolve a independência
de pensamento, o não conformismo com a realidade e a criatividade;
já a fúria por dominar concerne aos traços de motivação,
perseverança, engajamento intenso e até obsessivo, a fim de aprender
e manter um alto desempenho (WINNER, 1998).
Entretanto, Tarrida (1997) afirma que nem todos os
estudantes com comportamento superdotado foram precoces. O
69
autor ressalta que esse é um fenômeno independente da
Superdotação, já que sua natureza não está associada a determinada
configuração intelectual, todavia, a um fenômeno evolutivo. Para
ele, o nível de desenvolvimento intelectual de um estudante precoce
será o mesmo de outros, mas atingido mais rapidamente. O autor
trata ainda da possibilidade de, com a estimulação adequada,
conseguir que a precocidade seja alcançada, contudo, não seria sinal
de maior inteligência, mas uma ativação de recursos de maneira mais
rápida e antes do tempo. Portanto, seria possível “produzir” uma
criança precoce, no entanto, nunca uma criança com
comportamento superdotado.
Winner (1998), ao diferenciar os estudantes precoces dos
estudantes com comportamento superdotado, sustenta que os
precoces requerem apoio, instrução e encorajamento extensivos, não
apresentam a fúria por dominar, não fazem descobertas por conta
própria e geralmente não atingem os propósitos com tão pouco
esforço, como os estudantes com comportamento superdotado. A
autora cita ser comum que os precoces abandonem suas atividades,
quando lhes falta o apoio e a estimulação necessários, pois não
conseguem vencer, sozinhos, seus desafios.
O termo “prodígio” é empregado para definir uma criança
que tem um desempenho em nível de um adulto altamente treinado.
É um fenômeno que acontece com a criança, mas que necessita da
ajuda de outro. Neste, é dado foco ao desenvolvimento e não a
aspectos cognitivos em si; por isso, apresenta excelente performance,
com uma precocidade extrema na área, porém, não pode ser
considerado criativo, pois não rompe com as normas estabelecidas e
70
não possui um pensamento divergente (FELDMAN, 1993 apud
PÉREZ; RODRIGUES, 2013).
Segundo as autoras, o prodígio crescido não se distingue de
seus pares que nunca o foram e que conseguiram seus feitos por meio
de esforços contínuos e muito treino. Por conseguinte, somente a
prodigiosidade não é suficiente para que a Superdotação ocorra.
Da confusão com o termo “gênio”, as mesmas autoras
sublinham que, para rotular alguém como gênio, é necessário um
distanciamento histórico, a fim de que haja suficiente
reconhecimento social e que, para se tornar um gênio, é necessário
ter experiência em determinado campo ou área de domínio, algo
impossível para uma criança.
Para além dessas confusões, é necessário distinguir um
estudante inteligente de um que apresenta o comportamento
superdotado.
O Quadro 3 tem a finalidade de destacar algumas dessas
diferenças.
71
Quadro 3- Diferenças mais comuns entre estudantes inteligentes e com
comportamento superdotado
Variáveis
Estudante inteligente
Estilo de
aprendizagem
- Aprende de forma
convergente
e linear;
-
acumula fatos até
entender o
todo;
-
adota e capta
as
informações
apresentadas em
aula;
-
aproveita exercícios
de fixação e repetição
e não tem dificuldades
em aprender
mecanicamente e nem
em seguir
instruções.
pula etapas para a compreensão;
- sintetiza informações
apresentadas e as aplica em uma
nova situação;
- processa a informação de maneira
particular e única;
- é intuitivo na solução de
problemas;
- não gosta de repetição, pois
aprende logo nos primeiros
exercícios;
- quando necessário, segue
instruções, mas prefere
encontrar novas maneiras de
Estilo de
questionamento
-
Faz perguntas que
têm respostas
e
geralmente as repete
mais de uma vez;
-
acumula os fatos
relacionados
à
mesma
tarefa;
-
prefere um
trabalho
mais
sequenciado.
abstratas, teorias e conceitos que
podem não ser fáceis de responder e,
quando as repete, faz isso de
maneira diferente;
-
prefere a complexidade, imaginar
novas relações, investigar causas e
efeitos, prever novas possibilidades e
pode até gostar de respostas
ambíguas.
Socioemocional
-
Demonstra suas
emoções e consegue
superar incidentes que
o incomodam com
relativa
facilidade;
forma intensa e profunda, o que
pode inclusive atrapalhar outras
áreas de desempenho;
-
é apaixonado, investe nos
relacionamentos, é extremamente
Continua
72
-
sabe que
relacionamentos têm
altos e baixos e convive
com
isso.
demonstrar seus sentimentos e
fica extremamente desapontado,
quando se frustra.
Nível de interesse
-
É curioso em
relação a diversos
assuntos;
-
trabalha muito e
muito energicamente
e termina as
tarefas
conforme solicitado,
geralmente para
agradar a outros.
quase tudo e geralmente mergulha
em uma área de interesse específica;
-
demonstra muita energia e
entusiasmo nas atividades que têm
relação com a área de interesse.
Envolve-se profundamente.
Habilidade
linguística
-
Facilidade de
aprendizagem de
novas palavras,
facilidade na
compreensão da
estrutura da língua;
-
facilidade para
aprender
línguas
estrangeiras com a
prática;
-
espera sua vez
para
falar.
Vocabulário extremamente rico
e extenso, com conhecimento das
nuances das palavras que seus
pares desconhecem;
-
aprende novas línguas com
extrema facilidade;
-
gosta de jogos de palavras e
trocadilhos;
-
pode dominar uma conversação,
devido ao entusiasmo pelas ideias,
embora, às vezes, seja muito quieto
e tenha que ser incentivado a falar.
Senso de justiça
- Opiniões firmes
com relação ao que
é justo ou não,
geralmente
relacionado a
situações pessoais.
equidade de uma forma mais
global;
-
compreende a sutileza de
questões morais e éticas e
defende seus pontos de vista
Fonte: Adaptado de Strip e Hirch (2000) apud Pérez e Rodrigues (2013).-
73
Delou (2010) e Webb et al. (2005) argumentam que,
geralmente, os estudantes com comportamento superdotado têm
que esperar o processo de aprendizagem de outros estudantes, na sala
de aula, já que assimilam os conteúdos de forma mais rápida e
causam desajustes no ambiente escolar, em uma escola que se
apresenta como normativa e homogeneizadora.
Em suma, Pérez e Rodrigues (2013) afirmam que, em dois
pontos, os principais pesquisadores da área concordam: a
Superdotação não é a mesma coisa que capacidade, potencial ou
desempenho acima da média, nem sinônimo de precocidade,
prodigiosidade ou genialidade.
As políticas públicas
Como discutido anteriormente, a identificação e,
consequentemente, o atendimento aos estudantes com
comportamento superdotado, no Brasil, estão longe do ideal, mas a
implementação de políticas públicas é um dos caminhos possíveis
para auxiliá-los, quanto aos seus direitos enquanto cidadãos, o que
contribuiria para a construção de sua identidade (RECH; FREITAS,
2006).
Segundo a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p.
1), documento do qual o Brasil é signatário,
[...] toda criança tem direito fundamental à educação, e deve
ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado
de aprendizagem. Toda criança possui características,
interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que
são únicas e sistemas educacionais deveriam ser designados e
74
programas educacionais deveriam ser implementados no
sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais
características e necessidades.
Quando recorremos à legislação de âmbito federal, vemos
que os estudantes com comportamento superdotado foram citados
nos documentos oficiais nacionais, pela primeira vez, na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1971, a qual
determina, em seu 9º artigo, que “[...] os superdotados deverão
receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos
competentes Conselhos de Educação.” (BRASIL, 1971, n.p).
É sabido também que o documento legislador soberano no
Brasil é a Constituição (BRASIL, 1988), a qual determina, em seu
artigo 208, inciso V, que o dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de “[...] acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um”, o que é reiterado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990), em seu artigo 54, inciso V, e,
mais tarde, pela LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996, n.p), em seu artigo
4º, inciso V.
Esta última é a primeira lei que regulamenta especificamente
a educação escolar, pois suas asntecessoras eram mais genéricas; em
tese garantiria um currículo flexível e oportunidades de
aprendizagem, na medida das potencialidades de cada estudante,
mas pesquisas denunciam que muitas são as barreiras para a
operacionalização desses pressupostos, como a falta de formação e
estrutura nas unidades de ensino (MARTINS et al., 2016;
FERREIRA, 2018).
75
Essa lei, em seu artigo 58, assevera que Educação Especial é a
modalidade de educação oferecida “[...] preferencialmente na rede
regular de ensino para educandos com deficiência, Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação”,
público-alvo que virá a ser alterado pela Política de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008a,
n.p), para “[...] alunos com deficiência, Transtorno do Espectro
Autista e Altas Habilidades/Superdotação.”
Esse documento define os estudantes com comportamento
superdotado como os que
[...] demonstram potencial elevado em qualquer das seguintes
áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança
psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada
criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e
realização de tarefas em áreas de seu interesse. (BRASIL, 2008a,
n.p).
A LDB também prevê, em seu artigo 23º, que a Educação
Básica pode se organizar em
[...] séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade,
na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de
aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL, 1996, n.p).
O artigo 24, alínea c, inciso II dessa mesma lei garante a
inscrição na série ou etapa adequada, “[...] independentemente de
escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que
76
defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato”; e, no
inciso V, indica a possibilidade de avançar nas séries, por meio da
verificação do aprendizado. A “[...] aceleração para concluir em
menor tempo o programa escolar para os superdotados” está prevista
no inciso II do artigo 59 (BRASIL, 1996, n.p).
Ainda no âmbito federal, a Resolução 02/2001 do
CNE/CEB Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Básica (BRASIL, 2001a, n.p) também cita os estudantes com
comportamento superdotado e ressalta, em seu artigo 5º, inciso III,
que, entre outros, são considerados educandos com NEE aqueles
que, durante o processo educacional, apresentarem “[...] altas
habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os
leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.”
Complementar a essa resolução, o Parecer CNE/CEB
17/2001 (BRASIL, 2001b) determina que,
[...] por terem condições de aprofundar e enriquecer esses
conteúdos, devem receber desafios suplementares em classe
comum, em sala de recursos ou em outros espaços definidos
pelos sistemas de ensino, inclusive para concluir, em menor
tempo, a série ou etapa escolar. (BRASIL, 2001b, n.p).
O Decreto nº 7.611, de 2011, que dispõe sobre a Educação
Especial e o Atendimento Educacional Especializado (AEE),
enfatiza, no Art. 2º:
A educação especial deve garantir os serviços de apoio
especializado voltados a eliminar as barreiras que possam
obstruir o processo de escolarização de estudantes com
77
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação. (BRASIL, 2011, n.p).
Responsabiliza o Poder Público por prover, no Art. 4
o
, “[...]
o acesso ao AEE de forma complementar ou suplementar ao ensino
regular, assegurando a dupla matrícula” para esses estudantes
(BRASIL, 2011, n.p).
Cabe salientar a importância do registro desses estudantes no
censo escolar, anualmente, mesmo que o processo de identificação
no AEE não tenha sido concluído, posto que o INEP (BRASIL,
2011) orienta que, no preenchimento dos formulários, para o
encaminhamento para o AEE e o cadastro no censo escolar, não há
a exigência de “laudo” prévio.
Nesse sentido, uma nota técnica emitida pela Diretoria de
Políticas de Educação Especial (DPEE) extinguiu a obrigatoriedade
de apresentação de laudo médico como comprovação da condição
apresentada por esses estudantes:
Para realizar o AEE, cabe ao professor que atua nesta área,
elaborar o Plano de Atendimento Educacional Especializado
Plano de AEE, documento comprobatório de que a escola,
institucionalmente, reconhece a matrícula do estudante público
alvo da educação especial e assegura o atendimento de suas
especificidades educacionais. Neste liame não se pode
considerar imprescindível a apresentação de laudo dico
(diagnóstico clínico) por parte do aluno com altas
habilidades/superdotação, uma vez que o AEE caracteriza- se
por atendimento pedagógico e não clínico. (BRASIL, 2014,
n.p).
78
O parecer do CNE/CBE 17/2001(BRASIL, 2001b), sugere,
em seu artigo 5º:
As escolas organizar-se-ão de modo a prever e prover em suas
classes comuns, podendo contar com o apoio das instituições,
órgãos públicos e a colaboração das entidades privadas,
flexibilizações curriculares que considerem metodologias de
ensino diversificadas e recursos didáticos diferenciados para o
desenvolvimento de cada aluno, em consonância com o projeto
pedagógico da escola, professores capacitados para o
atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos
e atividades de aprofundamento e enriquecimento curriculares
que favoreçam aos alunos com AH/SD o desenvolvimento de
suas potencialidades criativas. (BRASIL, 2001b, n.p).
Além disso, o artigo ressalta a necessidade de um
atendimento multi e interdisciplinar para esse alunato:
As escolas poderão utilizar-se de instituições especializadas,
dotadas de recursos humanos das áreas de saúde, educação e
assistência e de materiais diferenciados e específicos, para
complementar, suplementar, no sentido de ampliar,
aprofundar ou enriquecer, e apoiar o processo de escolarização
dos alunos com necessidades educacionais especiais
matriculados nas classes comuns das escolas de ensino regular.
(BRASIL, 2001b, n.p).
Assim, por uma iniciativa do governo federal, foram criados,
em 2005, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades (NAAH/S),
os quais, em parceira com as Secretarias Estaduais de Educação e
equipes multidisciplinares, são responsáveis por prover a
identificação e o atendimento de estudantes com AH/SD da rede de
educação básica (PEDRO; OGEDA; CHACON, 2015). Esses
79
núcleos foram implantados somente nas capitais dos estados
brasileiros, gerando uma limitação logística no acesso de todos os
estudantes.
A Resolução nº 4, de 2009 (BRASIL, 2009a), garante, em
seu artigo 7º, o acesso às atividades de enriquecimento curricular
desenvolvidas tanto no âmbito das escolas públicas quanto nos
NAAH/S e em instituições que promovam atividades artísticas, de
pesquisa e desportivas.
Na esfera estadual, no Estado de São Paulo, a Deliberação
do Conselho Estadual de Educação (CEE) nº 68/2007 (SÃO
PAULO, 2007), fixa normas para a educação de estudantes que
apresentam NEE, no sistema estadual de ensino e, no seu artigo 3º,
inciso II, utiliza o mesmo critério para definir o estudante com
comportamento superdotado do Parecer do CNE/CBE 17/2001
(BRASIL, 2001b).
A Resolução SE nº 11/2008, alterada pela Resolução SE nº
31/2008 (BRASIL, 2008b), está consonante à Deliberação CEE
68/07 (SÃO PAULO, 2007), pois, em seu artigo 1º, inciso II, elenca
no rol de estudantes do PAEE “[...] alunos com altas habilidades,
superdotação e grande facilidade de aprendizagem, que os levem a
dominar, rapidamente, conceitos, procedimentos e atitudes.
(BRASIL, 2008b, n.p).
A Resolução SE nº 81, de 7 de agosto de 2012, define os
estudantes com AH/SD como aqueles que
[...] apresentam potencial elevado e grande envolvimento com
áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas, tais
como as áreas intelectual, acadêmica, psicomotora, de liderança
80
e de criatividade, associados a um alto grau de motivação para a
aprendizagem e para a realização de tarefas em assuntos de seu
interesse. (SÃO PAULO, 2012, n.p).
Essa resolução regulamenta o processo de aceleração de
estudos na rede estadual de ensino e versa sobre o mecanismo de
reclassificação do estudante, a partir do fim do primeiro bimestre,
com uma avaliação do desempenho escolar e de sua maturidade
socioemocional, estabelecendo o limite de dois anos da sua idade ou
do segmento de ensino em que esteja atualmente matriculado.
Constata-se que são muitos os documentos que legislam
sobre o fenômeno, mas é identificado um descompasso entre o
número de estudantes identificados e, consequentemente, atendidos,
e entre o realizado e o que é proposto pelas políticas públicas, pois
uma lei não altera a cultura e os problemas culturais não podem ser
superados por meio delas.
Essa identificação e o atendimento precário a esses
estudantes são agravados, quando o estudante não apresenta todos
os comportamentos condizentes com o que se espera de um
estudante com comportamento superdotado, gerando um
subentendimento.
Paralelamente a isso, existem outros fenômenos que revelam
indicadores comuns à Superdotação, como, por exemplo, o TDAH,
o que pode acarretar graves erros de diagnóstico, como já frisado. A
fim de compreender melhor esse transtorno, o Subcapítulo 2.3
contempla sua etiologia, características, prevalência, os critérios
diagnósticos e subtipos e suas necessidades educativas especiais.
81
O TDAH
O médico alemão Heinrich Hoffman foi o primeiro a
descrever um quadro de hiperatividade em estudantes, no ano de
1854. Desde então, ocorreram diversas modificações na
nomenclatura da síndrome, desde lesão cerebral mínima, disfunção
cerebral mínima, até chegar à designação atual: Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) (CRAMOND, 1995;
BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS, 2003; ROHDE;
HALPERN, 2004; APA, 2014; EFFGEN, ROSSETTI, 2017).
O pioneiro nos estudos sobre a temática foi o pediatra inglês
Still, o qual, em 1902, descreveu 43 casos de crianças já atendidas
por ele, as quais apresentavam problemas de atenção. O autor tinha
como pressuposto o fato de que a atenção é um aspecto importante
no controle moral do comportamento. Como conclusão de suas
pesquisas, afirmou que a maioria mostrava excesso de atividade,
muitas tinham comportamentos impetuosos, desafiadores e até
agressivos. Demonstravam, ainda, pouca volição inibitória do
próprio comportamento, malevolência, ilegalidade, desonestidade,
crueldade e pouca sensibilidade a punições (BARKLEY, 2002).
Rondini, Incau e Martins (2016) assinalam que a relação
educação e medicina está presente desde o começo da Revolução
Industrial, que exigiu um contingente de pessoas mais instruídas e
em bom estado de saúde.
Com isso, para além da prosperidade econômica decorrente
desse processo, grandes aglomerados de pessoas começaram a se
formar nas cidades, que, sem condições adequadas de saneamento,
facilitavam a proliferação de doenças. Esses mesmos autores
sustentam que assim surgiu o movimento higienista, na segunda
82
metade do século XX, dando-se início ao processo de identificação e
tratamento de “doenças”, não somente físicas, mas também
psíquicas e/ou que impediriam ou prejudicariam a aprendizagem,
com vistas à homogeneização (RONDINI; INCAU; MARTINS,
2016).
A etiologia
As causas diretas e imediatas do TDAH ainda não estão
claras, apesar dos avanços científicos e tecnológicos.
O TDAH já foi considerado um desvio comportamental ou,
ainda, um distúrbio de interação. Todavia, atualmente, a maioria
dos pesquisadores suspeita que seja genético ou biológico, mas
reconhece que o ambiente ajuda a determinar seus comportamentos
específicos. Portanto, o TDAH seria resultante não só de um sistema
biológico susceptível, geneticamente falando, mas também é
dependente da interação com o ambiente (BARKLEY, 2002;
CHAE; KIM; NOH, 2003; ROHDE; MATTOS, 2003;
GUIMARÃES; OUROFINO, 2007).
Estudos por meio de imagens têm indicado que pode haver
avarias em regiões cerebrais de pacientes com TDAH. Uma pesquisa
realizada em 1996, no National Institute for Mental Health,
constatou que o córtex pré-frontal, parte do cerebelo, e pelo menos
dois dos aglomerados de células nervosas (os gânglios) são
significativamente menores nas crianças com TDAH (BARKLEY,
1998). Essas zonas do cérebro dizem respeito à regulação da atenção.
No entanto, a causa de essas áreas do cérebro serem menores
em algumas crianças ainda é desconhecida. Os pesquisadores
83
sugerem que as várias mutações em genes que estão ativos nessas
regiões podem desempenhar um papel significativo, nesse caso
(BARKLEY, 1998, 2002).
Diante desses achados, o transtorno, conforme alguns
autores, tem um certo grau de herdabilidade, embora mesmo para
eles a influência do ambiente não seja descartada (BARKLEY, 2002;
ROHDE; MATTOS, 2003). Na visão de Barkley (2002), existem
aproximadamente 40% de chance de um dos pais da criança com
TDAH também apresentar o transtorno.
Segundo esse mesmo autor, pelo menos dois genes que
regulam a dopamina foram associados ao TDAH. Embora não
conclusivos, estudos que avaliam a produção, liberação e captação
desse neurotransmissor são julgados como promissores (BARKLEY,
2002).
Um outro estudo, efetuado com 3.242 pessoas com idades
entre quatro e 63 anos, avaliou o tamanho e o volume de cada região
cerebral, a fim de comparar cada uma das estruturas cerebrais de
indivíduos com e sem o transtorno. Os resultados revelaram que
algumas estruturas, incluindo a amígdala cerebral, acúmbens e
hipocampo, responsáveis pela regulação das emoções, a motivação e
o chamado sistema de recompensa são menores nos pacientes com
TDAH (HOOGMAN et al., 2017), corroborando os achados
anteriores.
Ao levar em conta a idade dos pacientes, observa-se que essas
alterações são mais leves em pacientes adultos, o que sugere que há
uma compensação, ao menos parcial, com o passar dos anos. Para os
autores, esses resultados são a sustentação mais sólida, até o
momento, de que o TDAH é um transtorno relacionado ao atraso
84
na maturação de regiões cerebrais reguladoras das emoções, pois
essas estruturas estão menos desenvolvidas, principalmente nas
crianças (HOOGMAN et al., 2017). Outro achado do estudo é que
tais alterações não se devem ao uso de medicamentos para
tratamento do TDAH e nem à presença de outros transtornos
psiquiátricos em comorbidade, como ansiedade e depressão.
Em 2019, foi publicada uma pesquisa, na revista Nature
Genetics, que identificou novas informações importantes sobre a
etiologia do TDAH. Por meio de uma metanálise de associação
genômica em 20.183 indivíduos diagnosticados com TDAH e
35.191 controles, os autores identificaram diferenças em 12 locais
independentes nos genes (DEMONTIS et al., 2019).
Apesar desses dados, para a American Psychiatric Association
(APA, 2014), não há nenhum marcador biológico que seja, sozinho,
diagnóstico de TDAH.
Alguns fatores não genéticos têm igualmente sido
relacionados ao TDAH, como nascimento prematuro, alcoolismo e
tabagismo maternos, e níveis elevados de exposição ao chumbo, na
gestação. Há quem afirme que aditivos alimentares e questões
socioeconômicas podem levar a criança a desenvolver o transtorno,
entretanto, não há provas conclusivas que apoiem esses achados e
não se sabe se essas relações são realmente causais (BARKLEY, 1998,
2002; ROHDE; MATTOS, 2003; APA, 2014).
ainda autores, como Prekop e Schweizer (2005), os quais
atribuem, além de às causas orgânicas, também às ambientais o
desencadeamento dos indicadores do TDAH, como problemas com
o divórcio dos pais, de interação familiar, gravidez abreviada e a
circunstância de ser o primogênito.
85
Verifica-se que ainda não é definida a etiologia e a natureza
desse quadro, de sorte que esses diagnósticos, muitas vezes, são
realizados de maneira superficial e aligeirada.
O diagnóstico
O diagnóstico do TDAH é clínico e comportamental.
Usualmente, é apoiado no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM) e na Classificação Internacional de
Doenças (CID).
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou
a CID-11, que passou a vigorar oficialmente a partir de 2020. Em
junho de 2018, publicou de maneira antecipada uma versão, com
vistas a adaptação. A nova versão cataloga cerca de 55 mil códigos,
bem mais que o CID- 10, o qual continha 14.400 e estava em vigor
desde 1992.
Na CID-11, o TDAH está colocado junto aos Distúrbios do
Desenvolvimento Neurológico, nos Transtornos Mentais,
Comportamentais e do Neurodesenvolvimento, e é caracterizado
por
[...] um padrão persistente (pelo menos 6 meses) de desatenção
e / ou hiperatividade-impulsividade, com início durante o
período de desenvolvimento, tipicamente no início até a
metade da infância. O grau de desatenção e hiperatividade-
impulsividade está fora dos limites da variação normal esperada
para a idade e o nível de funcionamento intelectual e interfere
significativamente no funcionamento acadêmico, ocupacional
ou social. Desatenção refere-se a dificuldade significativa em
manter a atenção para tarefas que não fornecem um alto nível
86
de estimulação ou recompensas frequentes, distração e
problemas com a organização. A hiperatividade refere- se à
atividade motora excessiva e às dificuldades de permanecer
imóvel, mais evidentes em situações estruturadas que exigem
autocontrole comportamental. Impulsividade é uma tendência
a agir em resposta a estímulos imediatos, sem deliberação ou
consideração dos riscos e consequências. (OMS, 2018, n.p).
O equilíbrio relativo e as manifestações específicas das
características de desatenção variam ao longo do desenvolvimento
do indivíduo e, para um diagnóstico preciso, o padrão de
comportamento deve ser claramente observável em mais de um
contexto (OMS, 2018).
No DSM V (APA, 2014), o TDAH também é classificado
como um Transtorno de Neurodesenvolvimento, embora o mesmo
manual assinale que os indicadores também poderiam alocá-lo junto
aos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e de conduta.
É definido por
[...] níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou
hiperatividade- impulsividade. Desatenção e desorganização
envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa,
aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis
inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento.
Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva,
inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão
em atividades de outros e incapacidade de aguardar - sintomas
que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento.
(APA, 2014, p. 73).
A desatenção se manifesta como “[...] divagação em tarefas,
falta de persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização
87
e não constitui consequência de desafio ou falta de compreensão.”
Já a hiperatividade concerne à “[...] atividade motora excessiva
quando não apropriado ou remexer, batucar ou conversar em
excesso.” A impulsividade, por sua vez, “[...] refere-se a ações
precipitadas que ocorrem no momento sem premeditação e com
elevado potencial para dano à pessoa.” (APA, 2014, p. 61).
Nesse manual, existe uma lista com dezoito características
nove dessas relacionadas à desatenção, seis à hiperatividade e três à
impulsividade e são adotados cinco critérios para o diagnóstico: A,
B, C, D e E.
O Critério A exprime que deve ser usado o ponto de corte
de seis indicadores de desatenção e/ou seis de hiperatividade-
impulsividade. Para serem considerados clinicamente significativos,
devem estar presentes durante pelo menos seis meses, em pelo menos
dois contextos (Critério B), se manifestar antes dos doze anos de idade
(Critério C
7
)
e ser nitidamente inconsistentes com a idade do
indivíduo, havendo um claro comprometimento na vida acadêmica
ou social (Critério D). O Critério E ressalta a necessidade de o
avaliador saber distinguir o TDAH de outros transtornos (APA,
2014; ABDA, 2017).
Segundo Massuda (2016), a primeira versão do DSM não
menciona o TDAH. A autora elaborou uma síntese, de acordo com
os DSM publicados, os quais normatizam o diagnóstico do
transtorno.
7
No DSM-IV, a idade de manifestação dos indicadores era de sete anos, evidenciando que essa revisão
flexibiliza o diagnóstico e revela a “[...] importância de uma manifestação clínica substancial na
infância” (APA, 2014, p. 61). Também no DSM-V, depois dos 17 anos de idade, deve-se considerar
cinco e não seis indicadores como nota de corte para diagnóstico (APA, 2014).
88
Quadro 4- Evolução da definição do TDAH nos DSM
* No DSM-III-R não há indicação de subtipos de Distúrbio de Déficit de Atenção por
Hiperatividade (DDAH), apesar de haver critérios para gravidade no distúrbio: leve,
moderado e grave.
Fonte: Adaptado de Massuda (2016).
No Quadro 4, constata-se que o TDAH evoluiu de um
distúrbio de comportamento para um transtorno do
neurodesenvolvimento, diminuindo a preponderância de uma
origem no ambiente sobre o fator genético e hereditário.
O DSM delineia os indicadores do transtorno, permitindo
maior confiabilidade diagnóstica e maior mero de estudos,
chegando esse a ser considerado bem pesquisado e com validade
89
superior à maioria dos transtornos e até mesmo a muitas condições
médicas (ROHDE; MATTOS, 2003).
Para definir os critérios de diagnóstico, no DSM-V, o
TDAH foi subdividido e pode se
apresentar como:
Predominantemente desatento, Predominantemente hiperativo/
impulsivo,
Apresentação combinada, outro TDAH Especificado e
TDAH Não especificado (APA, 2014). O outro TDAH
Especificado e o Não especificado são diagnosticados, quando os
indicadores clínicos e o prejuízo funcional são evidentes, contudo,
não satisfazem todos os
critérios do DSM-V. No primeiro, é
explicada a razão, como, por exemplo, “número de sintomas de
desatenção insuficientes”, “sintomas que só ocorrem na escola” etc.
No Não especificado, como o próprio nome sugere, essa razão não
é relatada, sendo isso comum, quando não há informações
suficientes para o diagnóstico específico (APA, 2014).
No que se refere à prevalência do transtorno na população,
verifica-se que a última versão do DSM aponta que é de 5% nas
crianças e 2,5% nos adultos (APA, 2014), o que indica uma
compensação ao longo do tempo, embora tenhamos encontrado na
literatura considerável variação.
Segundo Desidério e Miyazaki (2007), essa falta de consenso
quanto à prevalência é decorrente das diferenças metodológicas entre
os estudos, como representatividade, tamanho e diferenças nas
amostras, idade dos participantes, inclusão ou não de critérios
funcionais no diagnóstico e uso de diferentes fontes de informação.
Para Rohde e Mattos (2003), está claro que a não inclusão de
critérios funcionais aumenta a prevalência do transtorno.
90
Estudantes com o predomínio da apresentação “hiperativo/
impulsivo” tendem à agressividade e se correlacionam positivamente
com impopularidade e rejeição pelos pares, mas é o tipo desatento
que se correlaciona com uma maior taxa de prejuízo acadêmico
(APA, 2014).
Sobre o TDAH de apresentação combinada, esses estudantes
experienciam prejuízos associados às características dos dois grupos
(ROHDE et al., 2000; APA, 2014), de modo que esse constitui o
com maior prevalência na população, identificado em 80% dos casos
(NEIHART, 2003; DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Conforme a APA (2014), a prevalência do transtorno tem
forte relação com o gênero. De modo geral, este é
predominantemente identificado em meninos, em uma proporção
de 2:1; embora isso ocorra, o TDAH de apresentação
predominantemente desatenta é mais frequentemente identificado
em meninas. Rohde e Mattos (2003) justificam essa prevalência de
meninas com o fato de que estas exibem menos comportamentos de
hiperatividade/impulsividade.
O TDAH é mais facilmente identificado nas escolas, durante
os anos do Ensino Fundamental, período em que a desatenção e os
comportamentos hiperativos/impulsivos vão ficando mais aparentes
e também prejudiciais (ROHDE; MATTOS, 2003; DESIDÉRIO;
MIYAZAKI, 2007; APA, 2014).
Quanto aos aspectos da desatenção, Barkley (2002) afirma
que esses comportamentos ocorrem principalmente associados à
manutenção da atenção por longos períodos de tempo e que não
consenso sobre se estudantes com TDAH se distraiam mais que
91
outros não acometidos pelo transtorno, embora o fator distração seja
um dos critérios para diagnóstico na CID-11.
O TDAH é apontado como um dos temas mais estudados
em crianças em processo de escolarização e o principal motivo de
encaminhamento de estudantes ao sistema de saúde, além de ser o
transtorno de comportamento com maior número de diagnósticos
(BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS, 2003; SANTOS;
VASCONCELOS, 2010).
Rohde et al. (2000) asseveram que, no sistema educacional
brasileiro, não faltam professores que apoiam seu posicionamento,
com relação aos estudantes que revelam comportamentos não
condizentes com o esperado, em tal fenômeno, isentando-os de
repensar estratégias pedagógicas que favoreçam a aprendizagem
desses estudantes e neutralizando certos conflitos educacionais.
Sobre esse aspecto, Goldstein e Goldstein (2000) ressaltam
que, nas décadas de 1950/1960, quando se adotavam somente
professores como informantes, quase metade dos estudantes eram
apontados. Em 2000, esse percentual diminuiu bastante e estava em
torno de 20 a 25%. Nesse contexto, os pais são bons informantes
para os critérios diagnósticos do transtorno, porque os professores
tendem a superinformar os indicadores (ROHDE et al., 2000).
Todavia, observa-se que os pais geralmente não fornecem
informações para o diagnóstico do transtorno nos estudantes
(RONDINI; INCAU; MARTINS, 2016).
Os estudantes com TDAH vivenciam, em seu cotidiano,
condições desfavoráveis a seu processo de desenvolvimento, o que
resulta, frequentemente, em conflitos de ordem socioafetiva e de
aprendizagem, os quais podem conduzir ao fracasso escolar. A
92
despeito de estudantes com esse diagnóstico terem características em
comum, existe uma grande variabilidade em seu comportamento
individual, contudo, em sua maioria, estes são alvo de críticas
frequentes, as quais muitas vezes podem ser consideradas excessivas
(DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
O TDAH se associa a um desempenho escolar e sucesso
acadêmico reduzidos, bem como à rejeição social. Esses estudantes
apresentam maior probabilidade que seus pares de desenvolver
Transtorno de Conduta, na adolescência, e Transtorno da
Personalidade Antissocial, quando adultos, o que aumenta a
probabilidade de problemas por uso de substâncias e até prisão. Os
indivíduos com TDAH são mais propensos a sofrer lesões que seus
colegas, enquanto acidentes ou violações no trânsito e risco
aumentado de suicídio são mais frequentes em pessoas acometidas
pelo transtorno (BARKLEY, 2002; APA, 2014).
Desidério e Miyazaki (2007) corroboram essa
vulnerabilidade dos estudantes, na fase adulta, alertando para o fato
de que eles estão susceptíveis a comportamento desafiador e
opositivo, comportamento criminoso, expulsão da escola, baixa
motivação e dificuldades de aprendizagem, além do abuso de
substâncias, indo ao encontro dos achados de Barkley (2002) e da
APA (2014). Para Barkley (2002), esses estudantes parecem não
aprender com os erros passados, muitas vezes insistindo neles.
As implicações e intervenções
As intervenções em casos de TDAH são baseadas sobretudo
em terapias medicamentosas, comportamentais ou uma combinação
93
dos dois procedimentos (BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS,
2003; DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007; SANTOS;
VASCONCELOS, 2010; PERES, 2013).
Quanto à terapia medicamentosa, esta é feita com a
administração de psicoestimulantes, sendo que o mais adotado no
Brasil é o metilfenidato (apresentado como Concerta® e Ritalina®)
(MOYSÉS; COLLARES, 2010; PERES, 2013). Segundo esses
autores, os efeitos secundários mais comuns dos estimulantes são:
sensação de inquietude e nervosismo; dificuldade para dormir; perda
do apetite; dores de cabeça; mal-estar estomacal; irritabilidade e
mudanças de humor; depressão; tontura; aceleração do ritmo
cardíaco e tiques.
Estudos demonstram que a eficácia do medicamento varia
em torno de 70-80% (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007). Este se
mostra capaz de auxiliar no controle dos impulsos e na capacidade
de concentração, mas, mesmo quando es funcionando
efetivamente, nos estudantes, estes ainda são susceptíveis à
apresentação de problemas socioemocionais e desajustes, em
determinados ambientes (PERES, 2013).
Moysés e Collares (2010) aludem ao aumento do uso de
medicamentos à base de metilfenidato. Assinalam que sua produção,
nos Estados Unidos, cresceu mais de 800%, de 1990 a 2000, sendo
que, em 2007, o número de pessoas medicadas com o princípio ativo
era de 6.000.000, entre as quais 4.750.000 crianças. Sublinham que,
no contexto brasileiro, os resultados também são alarmantes, de
maneira que nosso país já pode ser considerado o segundo maior
consumidor do fármaco. Os autores afirmam que, no ano de 2000,
foram vendidas 71.000 caixas do medicamento e, em 2008,
94
1.147.000, com um aumento de mais de 1.500%, o que pode ser
caracterizado como um processo de medicalização.
O termo “medicalização’ foi cunhado nos anos 1960 e é
carregado de crítica à biologização, diante da heterogeneidade
comumente encontrada na sociedade (GARRIDO; MOYSÉS,
2010).
Alguns autores, baseados no aumento do consumo desses
psicoestimulantes, questionam sua eficácia e, até mesmo, a existência
do transtorno, atribuindo os comportamentos a causas estritamente
ambientais e à incompatibilidade com o currículo (WEBB;
LATIMER, 1993; BAUM; OLENCHACK; OWEN, 1998).
Segundo Massuda (2019), os achados sobre fracasso escolar
e problemas de comportamento têm resultados discrepantes. Parte
dos pesquisadores foca em uma crítica ao sistema escolar como um
todo e, por outro lado, ocorre uma tentativa de “cura” quanto aos
comportamentos relacionados ao TDAH, que, por ser mais fácil de
se realizar, geralmente é a opção escolhida, culminando no processo
de medicalização da aprendizagem.
Apesar desses dados, Barkley (2002) assevera que o
subdiagnóstico e o subtratamento do TDAH ainda constituem uma
realidade, nos Estados Unidos, como concluiu a Conferência de
consenso sobre o TDAH do National Institute of Mental Health
(NIMH), alegando que esse aumento se deve ao reconhecimento de
transtornos na população em geral.
A despeito de o TDAH não estar classificado como um
transtorno de aprendizagem, ele traz como causa secundária a
imposição de barreiras na aprendizagem e, em 2/3 dos casos, aparece
95
em comorbidade com outros diagnósticos, inclusos os transtornos
de aprendizagem (dislexia, disgrafia ou discalculia) (ROHDE et al.,
2000; PERES, 2013; APA, 2014).
Apesar desses dados, não há consenso na literatura quanto à
prevalência desses transtornos de aprendizagem, sendo encontradas
variações substanciais, de 10 a 95% (ROHDE; MATTOS, 2003).
Além do baixo desempenho acadêmico e de dificuldades de
aprendizagem, Ourofino (2007) salienta que o TDAH tem sido
apontado como um dos preceptores de um baixo desempenho na
produção criativa, dificuldades emocionais e comportamento de
risco social, principalmente em estudantes muito inteligentes. Por
outro lado, há estudos que demonstram relação positiva entre
criatividade, TDAH e inteligência (CHAE; KIM; NOH, 2003).
As intervenções pedagógicas baseiam-se em adaptações
curriculares (métodos, técnicas e materiais), modificação no
ambiente, flexibilidade na realização e apresentação dos resultados
(tipo de avaliação e feed back) e também adequação do tempo da
atividade (BARKLEY, 1998; ROHDE; MATTOS, 2003;
DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007), o que demanda do professor
maior trabalho e respeito ao estilo de aprendizagem desses
estudantes.
Goldstein e Goldstein (2000) listaram cinco estratégias, com
o objetivo de orientar o processo de ensino e aprendizagem dos
estudantes com TDAH, a saber: 1) Proporcione estrutura,
organização e constância, isto é, mantenha uma rotina organizada.
2) Valorize-os, dê a eles responsabilidades que possam cumprir, aja
de modo que favoreça suas oportunidades sociais. 3) Faça um
trabalho junto com a família e conduza as atividades de maneira mais
96
lenta e parcelada. 4) Adapte suas expectativas, levando em conta as
limitações. 5) Reforce positivamente esforços, persistência e
comportamentos bem-sucedidos.
Troconis (2008 apud PERES, 2013) acrescenta o cuidado
com os castigos de contenção (como, por exemplo, fazer com que não
saia do quarto ou deixar o estudante sem recreio) e com a alimentação
rica em açúcares.
Apropriando-se do entendimento do desenvolvimento
humano como proposto pela Teoria Histórico-Cultural de
Vygotsky, Leite et al. (2012) assinalam que o educador deverá
planejar práticas educativas voltadas para o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores, incluindo a atenção voluntária, e não
entender o quadro como estritamente biológico e medicalizante, o
que não auxiliaria para o seu desenvolvimento qualitativo. Também
há autores os quais versam sobre terapias alternativas, como a
zooterapia, homeopatia, florais de Bach e óleos essenciais (PERES,
2013).
Porém, o que parece ser mais efetivo e viável são as técnicas
de modelagem comportamental, empregadas para o manejo, no
contexto de sala de aula (BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS,
2003; DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Estudantes com TDAH são considerados problemáticos, no
contexto escolar, e essa visão restrita e estereotipada pode fazer com
que sejam identificados sempre por suas dificuldades, tendo suas
potencialidades ignoradas (WEBB; LATIMER, 1993; COSTA;
RAGNI, 2010; MASSUDA, 2016; MASSUDA; RANGNI, 2017).
97
Para considerar o sujeito de modo holístico, é preciso ter em
vista não apenas o impacto do transtorno na vida acadêmica e na
aprendizagem do estudante, mas sobre o funcionamento na
sociedade e bem-estar, ao longo da vida, para ele e sua família e por
todos os ambientes em que esse sujeito irá atuar.
Esses estudantes têm um padrão de resposta
comportamental exacerbado e não só se movem demais, mas
também exibem a chamada hiper-responsividade, sendo mais
propensos a responder às coisas ao seu redor, em qualquer situação
(BARKLEY, 2002).
O mesmo autor destaca que estudantes acometidos pelo
TDAH apresentam comportamento extremamente regido pelas
emoções e têm dificuldade de separar fatos e sentimentos, por não
inibirem suas primeiras reações face à situação. Obviamente, essa
situação nem sempre é favorável aos interesses coletivos e,
consequentemente, essas pessoas terão dificuldades em lidar com
situações nas quais precisam agir de maneira calma, fria, não
emocional e objetiva; infelizmente ou não, nossa sociedade nos
coloca frequentemente nesse tipo de situação, valoriza e recompensa
pessoas que demonstram maior racionalidade.
Posto isso, os problemas de relacionamento costumam ser os
mais angustiantes que o estudante com TDAH pode enfrentar.
Hiperatividade, impulsividade, aspereza e sinceridade, geralmente
presentes em seus comportamentos, são aversivas para outros, assim
como a tendência à agressividade e à hostilidade (BARKLEY, 2002).
De acordo com o autor, esses estudantes, por serem
imediatistas, querem viver e ser recompensados no momento
presente, de sorte que as habilidades sociais, por não oferecerem essa
98
recompensa imediata, geralmente não parecem muito importantes
para eles, e não conseguem levar um relacionamento saudável
baseado em trocas mútuas de favores, gentilezas e interesses em longo
prazo.
Ainda conforme Barkley (2002), as habilidades sociais que
podem ser mais problemáticas para estudantes com TDAH são:
começar a interação com outros ou outro grupo; começar e manter
uma conversação empática com outros; resolver conflitos e dividir as
coisas.
As políticas públicas
Com relação às políticas públicas, os documentos brasileiros
que versam sobre inclusão, igualdade, dignidade e não
discriminação
8
acabam dando suporte para a defesa dos direitos das
pessoas com alguma disfuncionalidade, no nosso país, incluindo-se
o TDAH.
O artigo 54, inciso III, do ECA (BRASIL, 1990, p. 31), pode
ser aplicado aos estudantes com TDAH e que necessitam de AEE;
esse documento atribui ao Estado o dever de “[...] assegurar à criança
e ao adolescente [...] atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino.” (ABDA, 2017, n.p). Esse artigo mostra concordância com
a LDB, a qual, em seus artigos 58 e 59, ressalta a importância do
AEE para as pessoas com NEE e estabelecem que sejam assegurados
currículos, métodos e técnicas, recursos educativos e organizações
8
UNESCO (1994); BRASIL (1996, 1998, 2013).
99
específicas para atender às peculiaridades dos estudantes (BRASIL,
2013a).
O Decreto Legislativo nº 186, de 2008, aprova o texto da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu
Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março
de 2007. Esta tem o propósito de “[...] promover, proteger e
assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e
promover o respeito pela sua dignidade inerente.” (BRASIL, 2008c,
n.p). O texto considera como “pessoas com deficiência” as que
possuem
[...] impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.
(BRASIL, 2008c, n.p).
Quando versamos exclusivamente sobre o TDAH, em
âmbito federal, temos o Projeto de Lei (PL) 7081, de 2010 (Câmara
dos Deputados) (BRASIL, 2010b), que dispõe sobre diagnóstico e
tratamento do TDAH e Dislexia na Rede Pública de Educação
Básica. O texto foi aprovado em 07 de novembro de 2018,
significando que, em tese, seguiria para sanção presidencial, todavia,
foi interposto um recurso, em 21/11/2018, contra sua tramitação
conclusiva.
Esse PL objetiva instituir, no âmbito da Educação Básica, a
obrigatoriedade da manutenção de programas de diagnóstico e
tratamento da dislexia e do TDAH, por meio da atuação de equipes
100
multidisciplinares, com a participação de educadores, psicólogos,
psicopedagogos, médicos e fonoaudiólogos (BRASIL, 2010b),
conforme preconizado pela literatura da área.
Assim, fica determinado que sejam assegurados aos
estudantes com tais características o acesso aos recursos didáticos
necessários ao desenvolvimento de sua aprendizagem. O projeto
preconiza, ainda, que os sistemas de ensino garantam aos professores
formação específica sobre a identificação e a abordagem pedagógica
das referidas disfunções, a fim de que os docentes possam convergir
e contribuir para a efetividade do trabalho realizado pela equipe
multidisciplinar (BRASIL, 2010b).
Como substitutivo ao PL 7081/2010 da Câmara dos
deputados, foi implantado pelo Senado o PL 3517/2019, que
continua em tramitação. Esse PL focaliza o diagnóstico precoce,
atendimento multidisciplinar e formação de professores para
atendimento às necessidades específicas desse estudante (BRASIL,
2019).
Percebe-se que há uma necessidade de se elaborar
alternativas para o manejo comportamental, atendimento e cautela
na identificação, e não simplesmente sustentar práticas de exclusão
dentro da própria escola, ao localizar na criança o motivo pela falta
de interesse, desatenção e excessiva agitação (ROHDE et al., 2000).
Rondini, Incau e Martins (2016) alertam para o fato de que
os relatórios escolares do estudante trazem apenas aspectos
relacionados à defasagem do estudante e nunca às defasagens da
própria instituição escolar, colocando-o como o único responsável
pelas suas dificuldades e neutralizando os problemas ligados ao
101
próprio sistema escolar, isto é, um ambiente geralmente normativo e
com dificuldade de acolhimento das diferenças.
Diante da complexidade da identificação do TDAH e
necessidade de contextualização, é preciso avaliar o índice de
confiabilidade das informações prestadas com respeito à criança,
pois uma criança pode ser caracterizada como hiperativa por um
informante e perfeitamente normal por outro (BARKLEY, 2002;
ROHDE; MATTOS, 2003). Esse viés pode ser diminuído,
coletando-se informações com mais de um informante, em cada
contexto.
No Subcapítulo 2.4, fazemos uma explanação sobre a
associação dos fenômenos discutidos: a dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH.
“Dupla vulnerabilidade": a dupla excepcionalidade
superdotação e TDAH
Ao se analisar os indicadores dos dois fenômenos, fica
evidenciado que exibem indicadores em comum e específicos de cada
fenômeno. As dificuldades, tanto na identificação do TDAH quanto
da Superdotação, se devem à ambiguidade, subjetividade e
heterogeneidade intrínseca aos fenômenos, de sorte que reconhecer
a coexistência dessas duas condições pode levar facilmente a uma
identificação imprecisa ou incompleta e, consequentemente,
dificuldade na atuação junto a esse público-alvo.
Hartnett, Nelson e Rinn (2004) realizaram o primeiro
estudo empírico que revelou o potencial para erro diagnóstico entre
os fenômenos da Superdotação e o TDAH; nessa investigação, um
102
estudo de caso hipotético de um estudante foi apresentado a
estudantes de Pós-Graduação em Psicologia, em sua forma A (sem
sugestão da Superdotação) e em sua forma B (com sugestão de
Superdotação). Os autores salientaram que a sugestão de
Superdotação influencia o diagnóstico de comportamentos que
podem ser típicos dessa dupla excepcionalidade. Esse estudo gerou
réplicas e tréplicas na literatura da área (MIKA, 2006; RINN;
NELSON, 2009).
A National Education Association (NEA) reconhece a
existência da dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH,
postulando que esses estudantes vivenciam discrepâncias em seus
potenciais e apontando dois obstáculos principais: a inadequada
identificação e a falta de acesso a experiências educacionais
significativas (NEA, 2006).
Associados a esses obstáculos, Kalbfleisch e Iguchi (2008)
inserem os aspectos ligados ao suporte emocional e social, e frisam
que estes devem permear o atendimento e as pesquisas sobre esses
estudantes.
Kaufmann, Kalbfleisch e Castellanos (2000) asseveram que
os estudantes com dupla excepcionalidade são mais prejudicados que
outros só com TDAH, devido à falta de identificação e problemas
socioemocionais.
Quanto à maturidade socioemocional, os estudantes com
TDAH tendem a estar dois ou três anos atrasados em relação aos seus
pares (BARKLEY, 1998, 2002). Moon (2002) assevera que isso não
é diferente, quando pensamos em estudantes com comportamento
superdotado que apresentam o transtorno, embora algumas
pesquisas, como a de Foley-Nicpon et al. (2012), o tenham
103
encontrado diferenças significantes no QI de estudantes com
comportamento superdotado com e sem o TDAH.
Para a última autora, os professores precisam estar cientes de
que o impacto socioemocional no desenvolvimento de estudantes
com comportamento superdotado e TDAH pode precisar de
facilitação, tanto quanto, ou mais, do que seu desenvolvimento
acadêmico.
A avaliação e a possibilidade da coexistência de Superdotação
e TDAH devem ser consideradas pelos profissionais que realizam
atendimento, quer de estudantes com comportamento superdotado,
quer de estudantes com TDAH (OUROFINO, 2006, 2007).
Porém, constata-se que não há consenso teórico nesse sentido.
Ourofino e Fleith (2005) e Ourofino (2006) ressaltam que,
de um lado, há autores que afirmam que a Superdotação e o TDAH
são condições que diferem, mas que podem coexistir: a dupla
excepcionalidade. Assim, não descartam a existência de dissincronia
ou de sobre- excitabilidades, porém, argumentam que a intensidade
desses comportamentos diferencia estudantes com comportamento
superdotado e estudantes com comportamento superdotado e
TDAH.
Em contraponto, há autores que sustentam que os
indicadores da Superdotação podem ser confundidos com os de
TDAH, todavia, são características dos estudantes com
comportamento superdotado, como, por exemplo, as sobre-
excitabilidades (OUROFINO; FLEITH, 2005; OUROFINO,
2006).
104
Assim, é necessário discutir o diagnóstico diferencial dos dois
fenômenos, quando isolados, e os indicadores da dupla
excepcionalidade, em específico.
O diagnóstico diferencial
Ao dar luz ao diagnóstico diferencial dos fenômenos,
constatamos que a hiperatividade está presente em ambos os grupos
(Superdotação e TDAH), mas se evidencia de maneiras diferentes.
No estudante com comportamento superdotado, o fenômeno se
relaciona a atividades pouco desafiadoras e currículo escolar
deficitário, enquanto, no estudante com TDAH, está associado aos
indicadores do transtorno: uma manifestação inadequada e
persistente de inquietação e falta de controle motor e psíquico
(WEBB; LATIMER, 1993; CHAE; KIM; NOH, 2003;
OUROFINO; FLEITH, 2005; WEBB et al., 2005; OUROFINO,
2006).
Para Ourofino e Fleith (2005) e Ourofino (2006), apesar de
os estudantes com comportamento superdotado serem altamente
ativos, suas atividades geralmente são focadas e dirigidas, o que vai
se diferenciar do comportamento do estudante com o transtorno.
Várias pesquisas indicam que, em muitos casos, os
estudantes com comportamento superdotado que reagem diante de
um plano de estudos inapropriado e se tornam excessivamente
agitados são identificados como estudantes com TDAH (WEBB;
LATIMER, 1993; CRAMOND, 1995; OUROFINO, 2007;
HOSDA; CAMARGO; NEGRINI, 2009; GARCÍA, 2015). Por
isso, a importância de atender ao critério de dois ou mais contextos,
105
na identificação, pois os estudantes que demonstram os
comportamentos de TDAH somente na escola estariam
respondendo a fatores contextuais (GARCÍA, 2015), além de ser
prudente atentar para o fato de que o alcance e/ou a extensão desses
aspectos podem variar significantemente, em cada contexto
(BARKLEY, 2002).
Um nível de atividade elevado pode igualmente ser
observado em sujeitos com comportamento superdotado, quando
estão muito curiosos e ficam eufóricos com algum assunto do seu
interesse, os quais podem levá-los a buscar, de diferentes formas, seu
objetivo (HOSDA; CAMARGO; NEGRINI, 2009).
Pérez e Rodrigues (2013) ressaltam que os comportamentos
hiperativos podem estar presentes em estudantes com habilidades
corporalcinestésicas, pois geralmente o tema e as atividades de sala
de aula não contemplam essa área. As autoras enfatizam que
indicadores de desatenção podem ser frequentes, não apenas quando
a atividade é desinteressante, mas também quando a pessoa está
realmente envolvida na atividade de seu interesse e esquece as
atividades diárias, as quais não considera importantes.
Além da hiperatividade, outras características do TDAH,
como falta de atenção e impulsividade, também são comuns aos
estudantes com comportamento superdotado (ORENDORF, 2009;
PÉREZ; RODRIGUES, 2013). A impulsividade se dá em
momentos quando o estudante domina o assunto em discussão e não
consegue esperar sua vez para falar e pode se intrometer em assuntos
de adultos, contudo, isso não ocorre em todos os contextos, como
nos acometidos pelo transtorno (PÉREZ; RODRIGUES, 2013).
106
Outras características em comum apontadas pela literatura
são a fala rápida, a alta sensibilidade a estímulos ambientais, a
curiosidade, a imaginação, os comportamentos exacerbados, a
dificuldade de ajustamento a ambientes novos e problemas de
comportamento (KAUFMANN; KALBFLEISCH; CASTELLA-
NOS, 2000).
Nesse sentido, Willard-Holt (1999) enfatiza a necessidade
de realizar alguns questionamentos para diferenciar o diagnóstico de
TDAH e Superdotação: podem os comportamentos ser reações a
uma educação inadequada, desafios insuficientes e falta de pares? O
estudante consegue se concentrar, quando gosta de uma atividade?
São feitas modificações no plano de estudo, com a intenção de
modificar os comportamentos inadequados? Já foi perguntado à
criança o que pensa sobre seus comportamentos? A criança se sente
fora do controle? Os pais sentem seus filhos fora do controle? Os
comportamentos acontecem em certos momentos, durante certas
atividades, com certos professores e em certos contextos?
Cramond (1995) listou alguns elementos que devemos ter
em vista, quando há suspeita de TDAH em um estudante, a saber:
tenha a mente aberta para a possibilidade de que comportamentos
difíceis podem ser indicativos de habilidades especiais; busque um
profissional que conheça as manifestações comportamentais do
TDAH e da criatividade, ao longo da vida; observe e registre em
quais condições os comportamentos são intensificados ou reduzidos;
pergunte à criança no que ela está pensando, depois de um período
“sonhando acordada”, e se certifique de que um teste de criatividade
ou lista de verificação seja utilizada no diagnóstico, além da lista de
indicadores do TDAH.
107
García (2015) entende que, se os estudantes com
comportamento superdotado forem estimulados com atividades
cognitivas adaptadas ao seu nível, tendem a não ter problemas de
comportamento. Acrescenta que os estudantes com TDAH,
normalmente, não sabem explicar a que devem seus
comportamentos e os estudantes com comportamento superdotado
se justificam, diante do contexto.
Se o estudante for diagnosticado com TDAH, é necessária
uma segunda opinião e cautela, quanto à utilização de metilfenidato
e às recomendações de um currículo pouco estimulante e muito
fracionado (CRAMOND, 1995).
Para essa autora, essas recomendações servem tanto para
professores quanto para pais, os quais devem trabalhar juntos, para
auxiliar o estudante a encontrar um modo de se expressar e aprender
a usar sua energia de maneira produtiva.
Um estudante que não cumpriu os critérios na testagem para
um programa de estudantes com comportamento superdotado e
posteriormente foi identificado com o TDAH deve ser novamente
testado, pois acabam ficando fora dos programas de atendimento,
por não apresentarem todas as características do fenômeno (BAUM,
1990; BAUM; OLENCHACK; OWEN, 1998; MOON et al.,
2001; MOON, 2002).
Conforme Winner (1998), os estudantes com
comportamento superdotado são difíceis de manejar na sala de aula,
se recusam a se submeter a atividades pouco engajadoras e, como
resultado, acabam diagnosticados com o transtorno. A autora ressalta
que esses são verdadeiros buscadores de estímulos e, se não forem
108
estimulados, procurarão estímulos por si mesmos, exibindo o alto
nível de atividade.
Willard-Holt (1999) assevera que a chave para distinguir os
dois fenômenos é a difusão dos comportamentos de acting out
(comportamentos impulsivos, passionais e impacientes). Se a
representação é específica para determinadas situações, o
comportamento da criança é mais provavelmente relacionado à
Superdotação, mas, se o comportamento é consistente em todas as
situações, o comportamento é mais provavelmente associado ao
TDAH.
Seguindo os pressupostos de Webb e Latimer (1993) e
Willard-Hold (1999), elaboramos o Quadro 5.
Quadro 5- Comparativo entre características de estudantes com DAH e
estudantes com comportamento superdotado que estão entediados
Fonte: Adaptado de Webb e Latimer (1993) e Willard-Holt (1999).
109
Os autores enfatizam também que os dois grupos são
altamente sensíveis e podem apresentar comportamentos não
condizentes com o esperado, quando criticados.
Wiener et al. (2011) constataram que profissionais, mesmo
os mais experientes, diagnosticam e tratam transtornos em
estudantes com comportamento superdotado que simplesmente
exibiam comportamentos típicos da Superdotação e que, por outro
lado, desordens genuínas estão sendo negligenciadas e atribuídas à
sensibilidade, intensidade ou estranheza das pessoas com
comportamento superdotado. Alertam também para o não
reconhecimento de diagnósticos duplos, quando a alta inteligência
obscurecia as dificuldades do indivíduo ou quando a alta
inteligência e as dificuldades se mascaravam mutuamente. Os
autores frisam sobre a considerável sobreposição entre indicadores
de Superdotação e de certos transtornos e que certos indivíduos são
propensos a determinados diagnósticos, sociologicamente falando.
Para Orendorf (2009), os principais fatores que levam a erros
diagnósticos são a alta inteligência, o currículo inadequado e as
características comportamentais comuns, mas também o fato de, em
muitos casos, estudantes com comportamento superdotado e
TDAH usarem a própria inteligência para mascarar as características
do TDAH.
Com a finalidade de avaliar as concepções e lacunas na
formação de profissionais da área da saúde que atendem estudantes
encaminhados por meio da escola, Rondini, Incau e Martins (2016),
a partir das concepções de três médicas, discutem as implicações
desses resultados na área da educação. Tais resultados revelam que,
embora as profissionais afirmem conhecer os indicadores de
110
Superdotação e do TDAH, relacionam algumas características,
como desatenção e inquietação, como pertencentes somente ao
TDAH. Quanto à origem dos fenômenos, o TDAH é atribuído a
causas orgânicas e ambientais, enquanto, da Superdotação, as
médicas praticamente não conhecem as características. Quanto à
terapêutica, verificaram que há um predomínio da medicalização,
em detrimento de outras alternativas. Finalizam sublinhando que se
observa, na escola, uma frustração, ao se idealizar um perfil de
estudante e uma busca na área da saúde, para sua ineficácia; em
contrapartida, a saúde procura solucionar, à luz de uma
patologização, problemas que, na verdade, são de ordem pedagógica
e metodológica.
A possibilidade de sobreposição dos comportamentos
superdotados e TDAH foi reconhecida no DSM-IV TM, no qual é
destacado que a “[...] desatenção em sala de aula também pode
ocorrer quando as crianças com alta inteligência são colocados em
ambientes academicamente pouco estimulantes” e que estudantes
com TDAH deveriam ser testados para a Superdotação (APA, 1994,
p. 160). Com efeito, no DSM-V, esse diagnóstico diferencial foi
excluído, restando apenas a discussão do diagnóstico de deficiência
intelectual e transtorno de espectro autista (APA, 2014).
Após essa explanação, podemos afirmar que a avaliação
diferencial de TDAH e Superdotação é bastante complexa e deve
contemplar o sujeito, de modo holístico, levando-se em conta
características cognitivas, sociais, emocionais e comportamentais.
111
A dupla excepcionalidade
Quanto à associação das duas condições, a aqui denominada
“dupla excepcionalidade”, vemos como necessário esclarecer o uso
do termo “excepcionalidade”. No Dicionário Aurélio, o termo
“excepcionalidade” é relativo à exceção, no que há exceção. Ademais,
pode ser utilizado como algo “excêntrico”, “anormal”, adjetivando o
“[...] que ou quem apresenta deformação física ou insuficiência de
uma função física ou mental” ou mesmo “o que ou quem apresenta
uma deficiência.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2018, n.p).
Massuda e Rangni (2017) identificaram, na literatura, uma
ambiguidade do termo: ao mesmo tempo que pode ser usado para
quem está acima da média, também o pode ser para quem está
aquém. As autoras destacam que, na legislação brasileira, até 1971,
o termo foi empregado para versar sobre aqueles que estão fora da
média (tanto para mais, quanto para menos), mas é observado que,
após a LDB desse ano, essa nomenclatura começa a cair em desuso.
Nesse contexto, ressaltam que o termo deve usado no sentido de
exceção e que este não é adotado entre os educadores brasileiros,
atualmente, devido ao estigma que carrega.
A partir da PNEE (BRASIL, 2008a), torna-se frequente o
emprego do termo público- alvo da Educação Especial (PAEE), o que
não especifica essa dupla excepcionalidade e faz com que
pesquisadores nacionais busquem na literatura internacional uma
expressão que contemple melhor esse fenômeno; assim, foi
identificado o termo twice exceptional (dupla excepcionalidade), para
se referir a estudantes com comportamento superdotado que tenham
concomitantemente alguma deficiência, síndrome, transtorno ou
distúrbio (MASSUDA; RANGNI, 2017).
112
No Quadro 6, temos um breve histórico, o qual evidencia
alguns marcos da dupla excepcionalidade.
Quadro 6- Breve histórico da dupla excepcionalidade
ANO
FATO
IMPORTÂNCIA PARA A
DUPLA
EXCEPCIONALIDADE
1923
Letta Hollingworth publicou o
livro:
Special Talents and Defects:
Their Significance
for
Education.
Define o termo “superdotado” e
aponta que alguns estudantes desse
grupo
apresentam
dificuldades de aprendizagem.
1947
Strauss e Lehtinen publicaram
Psychology and Education of the
Brain
-Injured Child.
Os déficits de aprendizado podem
ser
atribuídos a danos mínimos no
cérebro ocorridos no pré, peri ou
pós
-natal, que podem resultar em
defeitos no sistema neuromotor.
Crianças diagnosticadas co
m lesão
cerebral demonstraram problemas
em áreas de percepção,
perseverança, concepção
ou
comportamento. As dificuldades
de
aprendizagem não estão
associadas à baixa inteligência
9
.
1961
-
1973
Cruickshank, Bentzen, Ratzeburg
e Tannhauser
publicaram A
Teaching Method for Brain
-
Injured and Hyperactive Children:
A Demonstration
-Pilot Study.
Em 1966, Gallagher publicou
Children
with Developmental
Imbalances:
A Psychoeducational
Definition
.
As Altas Habilidades dos
estudantes foram aprimoradas pela
sua atenção a tudo no
ambiente.
Discutiram
-se as ondulações que
mostram padrões
de forças e
fraquezas
para estudantes com
dificuldades de aprendizagem.
Introduziu
-
se a ideia de estudantes
superdotados com dificuldades de
aprendizagem.
9
Vale ressaltar que lesão cerebral mínima” foi umas das nomenclaturas utilizadas para descrever o
estudante com comportamentos que hoje expressam o TDAH.
Continua
113
Em 1973, Elkind publicou The
Gifted
Child with Learning
Disabilities
.
1975
James Gallaguer utiliza pela
primeira vez o termo
twice
exceptional.
Fato que delimita uma
terminologia
padrão - apud
Coleman
et al. (2005); NEA
(2006);
Prior (2013);
Pfeiffer (2015).
1977
O Conselho para Crianças
Excepcionais
publicou Providing
Programs for the
Gifted
Handicapped
.
Primeiro livro a abordar as
implicações do programa
para
estudantes
que apresentam a dupla
excepcionalidade.
1978
Meisgeier, Meisgeier e Warblo
publicaram
Factors Compounding
the Handicapping of Some Gifted
Children
.
Afirmam que estudantes com
dificuldades de aprendizagem e
habilidades superiores precisavam
de remediação, enriquecimento e
aconselhamento especial, para
lidar
unicamente com problemas
emocionais. A gravidade dos
problemas emocionais resultava da
discrepância entre forças e
fraquezas.
Renzulli definiu o conceito
multidimensional
de
Superdotação (habilidade acima
da média, envolvimento com a
tarefa e criatividade).
O comportamento superdotado
ocorre em certas pessoas,
momentos e
circunstâncias.
Continua
114
1980-
1999
Publicação de pesquisas focadas
em estudantes com
comportamento
superdotado e
dificuldades de aprendizagem:
Whitmore (1980); Whitmore e
Maker (1985); Fox, Brody e
Tobin (1983); Daniels (1983);
Dixon (1983);
Gallagher
(1986); Baum (1991).
Publicações que relacionam
Superdotação e dificuldades,
revelando suas
características
únicas e necessidades
individuais.
Foram desenvolvidos programas
para estudantes superdotados
com dificuldade de aprendizado
em Westchester County, NY;
Montgomery County, MD;
Prince George’s County, MD;
Albuquerque, NM.
Aumento do atendimento dos
estudantes com dupla
excepcionalidade em escolas
públicas.
Formação de grupos organizados.
Publicação do capítulo intitulado
Gifted handicapped: A duality
desultory,
escrito por Yewchuck e
Lupart (1988).
Foram formadas as associações
Asso
ciation for Education of Gifted
Underachieving Students
e a
Special populations division of the
National Association for Gifted
Children.
Continua
115
2004
-
2015
Modificação de leis e políticas
integradas, bem como subsídios
para
estudantes superdotados.
Reconhece que estudantes com
dificuldades de aprendizagem
também podem ser superdotados e
encoraja o uso de uma equipe
multidisciplinar.
Vários estados americanos
publicaram guias de políticas para
identificar e atender os estudantes
com dupla excepcionalidade. O
Departamento de Educação de
Iowa e o Centro Belin
Blank da
Universidade de Iowa para
Educação Superdotada dirigiram
-
se a estudant
es com
comportamento superdotado com
dificuldades de
aprendizagem.
São desenvolvidas mais pesquisas
na área, que começam a ser
publicadas nas principais revistas
direcionadas aos estudantes com
comportamento superdotado,
bem como boletins informativos
p
ara pais e professores.
Silverman
(2002); Lovecky (2004); Webb
et
al
.
(2005);
Trail (2010); Weinfeld,
Jeweler,
Barnes, Robinson e
Shevitz (2013);
Twice-
Exceptional
Evolução do conhecimento
científico.
Continua
116
(2e) Newsletter; Smart Kids with
Learning
Disabilities.
2014
É formada a National Twice-
Exceptional
Community of Practice.
Colaboração de profissionais com
conhecimento
e interesse na dupla
-
excepcionalidade.
Fonte: Adaptado de Baldwin et al. (2015).
O Quadro 6 indica que a temática vem se constituindo desde
1923, perpassando por diversos momentos, que oscilam entre
publicações acadêmicas, mudanças nas políticas públicas e
organização de grupos de interesse na temática.
A primeira autora a adotar o termo “dupla
excepcionalidade”, no Brasil, foi Cristina Delou, no âmbito do
projeto intitulado “Dupla excepcionalidade: Altas Habilidades com
Transtorno de Asperger um modo próprio de ser autista”, iniciado
em 2001.
No ano de 2003, a pesquisadora realizou o primeiro
diagnóstico diferencial e atendimento específico da dupla
excepcionalidade (DELOU, 2013 apud PINHO, 2016).
Massuda e Rangni (2017, p. 94), mostrando concordância
com a NEA (2006), compreendem a dupla excepcionalidade como
[...] um alto potencial intelectual, acadêmico, artístico, criativo,
de liderança ou psicomotricidade, associado a dificuldades e/ou
limitações que poderiam ser consideradas até mesmo
incompatíveis à primeira condição.
117
Também foi encontrada na literatura a utilização dos termos
“dupla necessidade educacional especial” (COSTA; RAGNI, 2010),
“dupla condição” (ROCHA, 2015) e “duplo estigma” (RANGNI;
COSTA, 2014), porém, observa-se que o termo “dupla
excepcionalidade” tem maior nível de aceitação e é adotado por um
maior número de pesquisadores.
Neihart (2008) aponta três grupos de estudantes duas vezes
excepcionais, cada grupo com seus desafios de identificação e
intervenção. No primeiro grupo se inserem aqueles cujas fortes
habilidades linguísticas permitem que eles obtenham boas notas,
durante os anos iniciais, mas cujos níveis de realização caem, à
medida do aumento das demandas curriculares, principalmente na
área de baixa realização.
No segundo grupo, estão os estudantes cujas dificuldades de
aprendizagem são identificadas precocemente, porém, a
Superdotação passa despercebida e não é estimulada. Esses, muitas
vezes, são encaminhados para serviços educacionais especiais, de
maneira a receber estratégias de remediação e compensação, todavia,
não são ofertadas oportunidades de aprendizagem avançadas. Por
fim, no último grupo elencado pela autora, estão aqueles estudantes
que parecem ser medianos, porque suas dificuldades mascaram suas
habilidades e suas habilidades mascaram suas dificuldades
(NEIHART, 2008).
Convergindo-se com esses pressupostos, Baum (1990) e a
NEA (2006) advertem que estudantes com o diagnóstico de
Superdotação podem estar mascarando comportamentos de TDAH;
estudantes diagnosticados com TDAH podem estar mascarando a
Superdotação ou os componentes dos dois fenômenos podem estar
118
se mascarando simultaneamente, fazendo com que esse estudante
não seja identificado com nenhuma das duas especificidades.
Seguindo os pressupostos teóricos expostos nesta pesquisa,
temos que a dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH pode ser
caracterizada como inerente aos sujeitos que exibem um padrão
persistente (por mais de seis meses) de hiperatividade/impulsividade
ou desatenção, o qual interfere de maneira negativa no
funcionamento, em pelo menos dois contextos, e que,
concomitantemente, apresentam precocidade, envolvimento com a
tarefa, habilidade acima da média, criatividade e/ou comportamento
de liderança, em uma ou mais áreas do desenvolvimento humano.
Quando se adota o Modelo dos Três Anéis de Renzulli, o anel
envolvimento com a tarefa deve ser colocado em segundo plano, pois
este acaba não sendo tão decisivo na avaliação da dupla
excepcionalidade aqui discutida (OUROFINO, 2006, 2007).
Na concepção de Leroux e Levitt-Pearlman (2000), essa
dupla excepcionalidade se origina de fatores emocionais e sociais de
ambas as condições, no entanto, o padrão individual de
comportamento pode ser diferenciado, alternando-se entre a
avaliação de indicadores de Superdotação e do transtorno.
Estudantes com dupla excepcionalidade correm o risco de
subentendimento, nos ambientes escolares, pois suas capacidades e
habilidades podem ser mal-interpretadas, causando frustrações no
convívio com pares (LEROUX; LEVITT-PEARLMAN, 2000;
GARCÍA, 2015).
Segundo a literatura, seriam exemplos de pessoas com
altíssima capacidade e TDAH bem-sucedidas Albert Einsten, Bill
119
Gates, Michael Phelps, o empresário Steve Jobs e Nikola Tesla
(NEA, 2006; GARCÍA, 2015; MASSUDA; RANGNI, 2017).
Para Cramond (1995), Leonardo da Vinci apresentava
indicadores de TDAH e era comum que abandonasse suas obras
antes de concluí-las; o autor cita ainda Albert Einstein e Tomas
Edison como casos de estudantes com um desempenho escolar
irregular, apontado como um dos indicadores da dupla
excepcionalidade.
Ourofino (2007, p. 61) elaborou uma síntese comparativa
entre os fenômenos da Superdotação, TDAH e dupla
excepcionalidade, conforme se verifica no Quadro 7.
Quadro 7 - Comparativo entre Superdotação, TDAH e dupla excepcionalidade
Fonte: Adaptado de Ourofino (2007, p. 61).
120
Reis, Baum e Burke (2014) abordam as características de
estudantes com dupla excepcionalidade, no âmbito acadêmico.
Pontuam que estes em dificuldade de começar, ouvir ou completar
tarefas, bem como de expressar ideias de maneira escrita. Com
relação a problemas organizacionais, têm dificuldades com o
trabalho linear. Como pontos fortes, são apontados o pensamento
crítico e criativo. Ressaltam também a preferência por tarefas espaciais
e o fato de o estudante poder apresentar inquietações, contorções,
dificuldade de permanecer sentado e tendência em distrair-se
facilmente.
Lee e Olenchak (2015) identificaram que os estudantes com
dupla excepcionalidade o mais propensos a repetir de ano e a ser
colocados em serviços de educação especial do que estudantes com
características de apenas um dos fenômenos. Constataram que estes
não gostam ou odeiam o dever de casa, têm preferência em trabalhar
com os outros e preferem desafios, pressão e competição.
Alves e Nakano (2015) realçam como indicador o
desempenho acadêmico inconstante, o que normalmente não ocorre
com a Superdotação, e prejuízo nas habilidades motoras finas, como
em estudantes com TDAH.
Essa falta de habilidades motoras finas não pode ser
confundida, no superdotado, com o problema recorrente da
caligrafia. Esses estudantes geralmente exibem dificuldades nesse
aspecto, devido ao fato de pensarem mais rápido que podem escrever
(WINNER, 1998; WEBB et al., 2005; SABATELLA, 2012).
Segundo Germani (2006), os estudantes com dupla
excepcionalidade obtiveram menor desempenho em aprendizagem,
organização e planejamento, atenção e memória, assim como em
121
regras e comunicação, quando comparados aos estudantes com
comportamento superdotado.
Esses estudantes são um desafio para a escola, pois, além de
exigirem um nível apropriado de desafio intelectual, precisam
igualmente de suporte para o desenvolvimento da maturidade social
e emocional (NEIHART, 2003; OUROFINO, 2006).
Quanto aos aspectos socioemocionais, Lee e Olenchak
(2015) frisam que esses estudantes preferem emoções mais intensas,
têm uma autoestima positiva autorrelatada e bom autoconceito,
maiores taxas de humor, ansiedade e distúrbios disruptivos. Além
disso, os estudantes com dupla excepcionalidade revelam taxas mais
altas de depressão e transtorno obsessivo-compulsivo, felicidade
geral inferior e menor qualidade de vida, em múltiplos domínios da
vida. Isso se correlaciona com maiores prejuízos nos relacionamentos
com colegas, sexo oposto e pais, e problemas de comportamento,
tanto na escola quanto no tempo livre.
Demonstram dificuldade em entender os contextos e “dicas
sociais, e frequentemente interrompem ou interferem em atividades
dos outros. Já com respeito aos aspectos de impulsividade, em geral
se envolvem fisicamente em atividades perigosas, sem considerar
possíveis consequências (LEROUX; LEVITT-PEARLMAN, 2000;
WHITAKER et al., 2015; COLLINS, 2016).
Chae, Kim e Noh (2003) e García (2015) identificaram que
o repertório de habilidades sociais de estudantes com
comportamento superdotado e TDAH era menor do que nos
estudantes sem o diagnóstico comórbido.
122
Antshel et al. (2011) argumentam que o que pode qualificar
uma pessoa com alto QI para diagnóstico de TDAH tem maior
relação com a extensão do prejuízo relativo aos aspectos
socioemocionais e acadêmicos do que propriamente com o QI.
Conforme alguns autores, o que marca a diferença de
estudantes com um dos fenômenos e a dupla excepcionalidade é o
desempenho criativo e o pensamento divergente, os quais parecem
estar mais desenvolvidos quando nas condições associadas, de sorte
que estes devem ser levados em conta, no processo de identificação e
avaliação (GERMANI, 2006; BUDDING; CHIDEKEL, 2012;
ALVES; NAKANO, 2015).
Renzulli participou, como coautor (TAYLOR et al., 2018),
de uma pesquisa ligando funções executivas de adultos com TDAH
à criatividade e ao pensamento divergente. Os autores ressaltam,
nesse artigo, publicado no Journal of Creative Behavior, que, embora
a relação entre criatividade e TDAH seja incerta, estudos recentes
em adultos sugerem uma relação linear positiva ocasional entre os
construtos.
Em contraponto, Ourofino e Fleith (2005), ao comparar
medidas de criatividade nos estudantes dos três grupos, não
encontraram diferenças significativas.
Paek, Abdulla e Cramond (2016) realizaram uma meta-
análise de 89 estudos, a fim de elucidar as relações entre as três
psicopatologias mais comuns, na atualidade, e a pouca criatividade.
Tais estudos envolveram 35.271 participantes com TDAH,
ansiedade ou depressão. Como resultado, foi encontrada correlação
negativa com a criatividade.
123
Taylor et al. (2018) fazem uma crítica e destacam que essa
meta-análise incluiu estudos tanto com crianças quanto com adultos
e que, nos estudos efetuados somente com crianças e adolescentes,
esses resultados não são conclusivos.
Com relação à frequência de estudantes com dupla
excepcionalidade, Ourofino e Fleith (2005) verificaram que 12% dos
estudantes com comportamento superdotado estudados tinham
indicadores de TDAH e, nos estudantes com TDAH, 22% dos
sujeitos tinham indicadores de Superdotação.
Já Chae, Kim e Noh (2003) identificaram uma incidência
de 9,4% de estudantes com TDAH, em um grupo de superdotados,
enquanto Antshel et al. (2008) sugeriram que 10% dos indivíduos
com TDAH são também superdotados.
Jarosewich e Stocking (2002) encontraram uma taxa de
3,1% de TDAH na população superdotada, mas advertem que,
nessa estimativa, falta generalidade, porque foi baseada em uma
amostra de estudantes superdotados matriculados em um programa
de enriquecimento residencial de verão.
Devido à carência de estudos nacionais sobre a dupla
excepcionalidade (no caso, Superdotação e TDAH), principalmente
sobre sua identificação, ainda é desconhecida sua prevalência, na
população brasileira (GERMANI, 2006; MASSUDA, 2019). Nos
Estados Unidos, Foley-Nicpon et al. (2012) indicam que esse
número está em torno de 300.000 estudantes em idade escolar.
A escassez de estudos na área contribui para que educadores
e familiares desconheçam a possibilidade de dupla excepcionalidade.
À medida que profissionais envolvidos se conscientizem da
124
existência do TDAH associado à Superdotação, essa correlação será
considerada na avaliação de uma criança, visto que o objetivo da
avaliação, no âmbito educacional, é fornecer um currículo adequado
para cada estudante (ORENDORF, 2009; COSTA; RANGNI,
2010; MASSUDA, 2016).
Concordando com Willard-Holt (1999), Wiener et al.
(2011) ressaltam que especial atenção deve ser dada ao
comportamento da criança em ambientes diferentes. Afirmam que,
uma vez que as necessidades e os pontos fortes da criança ou do
adulto sejam compreendidos, a recomendação pode ser
simplesmente para educá-la sobre suas habilidades e como isso se
relaciona com ela. Recomendam ainda incluir grupos de apoio aos
pais e consultas periódicas com um psicólogo. Em casos de
transtornos mais graves, reconhecem que a medicação pode ser
necessária, porém, sempre levando em conta a Superdotação.
Pesquisas evidenciam que a medicalização de estudantes com
comportamento superdotado e TDAH deve ser questionada,
devendo-se focalizar em estimular mais as potencialidades que
remediar as características do transtorno (BAUM, 1990;
CRAMOND, 1995; BAUM; OLENCHACK, 2002; MOON,
2002; NEIHART, 2003; OUROFINO, 2006; HUA; SHORE;
MAKAROVA, 2014).
Uma grande parcela de profissionais, tanto da educação
quanto da saúde, não tem preparo teórico e/ou clínico adequado
para o reconhecimento de que sujeitos com algum tipo de déficit
possam apresentar melhores habilidades do que aqueles com
desenvolvimento considerado típico, sendo que estes vêm sendo
125
identificados bem mais por suas dificuldades que por suas
habilidades (ALVES; NAKANO, 2015).
García (2015) assinala, como dificuldades na identificação e
avaliação desse alunato: dificuldade para mostrar suas habilidades
cognitivas em sala de aula, baixa autoestima, frustração, isolamento
e baixo repertório de habilidades sociais.
Ademais, corroborando as investigações de Alves e Nakano
(2015), destaca o fato de o professor geralmente centrar suas
atenções nas dificuldades que o estudante exibe e em compensá-las,
propondo atividades pedagógicas direcionadas a amenizar o déficit e
conseguir objetivos mínimos, e nunca a potencializar habilidades
cognitivas específicas. Um atendimento adequado para esse
estudante deve levar em conta tanto suas potencialidades quanto
suas dificuldades (WEBB et al., 2005; PRIOR, 2013; MOODY,
2014; REIS; BAUM; BURKE, 2014).
Os programas que atendem estudantes com comportamento
superdotado tendem a deixar de fora aqueles com dupla
excepcionalidade, pois a maioria está baseada em instrumentos
estandardizados, voltados para uma população normalizada e sem
barreiras sensoriais de acesso às avaliações (BAUM; OLENCHACK;
OWEN, 1998; LEROUX; LEVITT-PEARLMAN, 2000;
GARCÍA, 2015).
A propósito das práticas educacionais mais recomendadas,
autores assinalam que as utilizadas para estudantes com TDAH não
são adequadas aos com dupla excepcionalidade (BAUM, 1990;
MOON, 2002; NEIHART, 2003; OUROFINO, 2006; HOSDA;
CAMARGO; NEGRINI, 2009; HOSDA; ROMANOWSKI,
2012).
126
Neihart (2003) exemplifica com o fato de que, para o
estudante com TDAH, é indicada a diminuição do tempo e
complexidade das tarefas e a presença de poucos estímulos na sala de
aula, enquanto, para os estudantes com a dupla excepcionalidade,
isso não é apropriado, porque eles necessitam de mais tempo para
concluir suas atividades, com vistas à realização de um trabalho com
mais qualidade, e preferem atividades mais desafiadoras e um
ambiente estimulante, porque têm tendência ao tédio (GOMEZ-
ARIZAGA et al., 2016).
Na visão de Moon (2002), algumas das intervenções
comumente usadas para estudantes com TDAH podem até piorar os
problemas relacionados à dupla excepcionalidade.
Zentall et al. (2001) concluíram que a Superdotação confere
benefícios ligados a habilidades específicas, mas não oferece proteção
contra os resultados negativos do TDAH, nos sujeitos. Em sua
pesquisa, os autores mencionaram atrasos sociais e emocionais em
estudantes com comportamento superdotado com TDAH, quanto
às suas próprias forças intelectuais e imaginativas.
Moon et al. (2001) concordam com esses pressupostos e
afirmam que a Superdotação parece exacerbar as dificuldades
socioemocionais, quando associadas ao TDAH, ao invés de servir
como função protetiva.
Nesse aspecto, Katusic et al. (2011) enfatizam que, embora
a forte capacidade cognitiva possa amortecer os impactos negativos
do TDAH, na escola, não impede alguns dos resultados psicossociais
mais preocupantes, como o abuso de substâncias, o que indica uma
importância de diagnosticar e tratar precocemente o transtorno, em
todo o espectro de habilidades cognitivas.
127
Constata-se que a temática da dupla excepcionalidade vem
se consolidando cada vez mais como uma área de grande interesse
científico, mesmo que nacionalmente haja escassez de estudos.
Verifica-se que pesquisas as quais iniciam a discussão dessa
problemática, de forma mais sistemática, entretanto, esta ainda
necessita de maior exploração no contexto da Educação Especial e
merece atenção, em função de sua complexidade, tanto no processo
de identificação quanto no atendimento.
Germani (2006) ressalva que, quando as características dos
estudantes com dupla excepcionalidade não são reconhecidas, são
preditoras de prejuízos que virão a afetar o estudante em seu
desempenho cognitivo, social e emocional, em todos os seus
contextos escolar, familiar e com os pares.
Quanto à legislação, os documentos que orientam a
identificação e definem os educandos com comportamento
superdotado (BRASIL, 2008a, 2009b, 2014) não mencionam os
estudantes com dupla excepcionalidade.
Queixas de hiperatividade e desatenção vêm sendo
apresentadas com elevada frequência pelos professores e pais, como
definição de alguns comportamentos. Observa-se que muitos
estudantes com essas queixas, com comportamento superdotado ou
não, têm problemas, também, nas relações sociais e emocionais, o
que prejudica seu desenvolvimento qualitativo na escola ou fora dela.
A identificação de estudantes com essa dupla
excepcionalidade é extremamente complexa, “por não possuir um
modelo com critérios pré-estabelecidos.” A forma mais adequada de
identificação é a utilização de múltiplas intervenções, as quais têm
128
em vista as tantas variáveis envolvidas (GUIMARÃES;
OUROFINO, 2007, p. 61).
Alves e Nakano (2015) e Rommelse (2016) salientam que o
reconhecimento dessa dupla excepcionalidade é, sobretudo,
resultado de observações clínicas mais do que de estudos empíricos.
Deve ser considerada uma avaliação multidimensional e
abrangente, com múltiplos instrumentos e fontes de informação,
levando-se em conta os fatores e demandas dos diferentes ambientes.
Essa identificação precisa ser fundamentada em um diagnóstico
médico e na avaliação psicológica e pedagógica, cruzando-se os
dados e os comparando com as características dos três fenômenos:
Superdotação, TDAH e dupla excepcionalidade (COLEMAN et al.,
2005; OUROFINO; FLEITH, 2005; PRIOR, 2013; MASSUDA,
2019).
Quanto à necessidade da participação de diversos agentes no
processo de avaliação e atendimento desses estudantes, nota-se uma
dificuldade na colaboração de pais, professores e amigos, dado o
caráter aversivo que esses comportamentos têm sobre eles, tornando
ainda mais importante esse tipo de intervenção (DESIDÉRIO;
MIYAZAKI, 2007). Ademais, para Ourofino (2007), a participação
dos membros da família é imprescindível, devido ao fato de que são
esses que percebem, em primeira instância, os reflexos do paradoxo
entre a Superdotação e o TDAH no comportamento dos filhos, e os
pais devem garantir que o comportamento superdotado do
estudante foi levado em conta, quando as avaliações são conduzidas
(NEIHART, 2003).
Após a apresentação das pesquisas da área, na revisão
sistemática e no quadro conceitual, procedemos à comparação dos
129
indicadores da dupla excepcionalidade em relação aos fenômenos
estudados. Considerando-se a multiplicidade de fatores envolvidos
em todas as dimensões pesquisadas, procurou-se comparar os
achados das pesquisas da área da dupla excepcionalidade com os
indicadores dos fenômenos, quando não associados. Desse modo,
elencamos os indicadores comuns à Superdotação e à dupla
excepcionalidade, indicadores comuns ao TDAH e à dupla
excepcionalidade, indicadores comuns aos três fenômenos e
indicadores específicos da dupla excepcionalidade,
complementando o realizado por Massuda (2016).
Esse levantamento foi realizado com base em: Webb e
Latimer (1993); Lovecky (1999); Kaufmann, Kalbfleisch e
Castellanos (2000); Leroux e Levitt-Pearlman (2000); Moon et al.
(2001); Zentall et al. (2001); Moon (2002); Chae, Kim e Noh
(2003); Ourofino e Fleith (2005);
Germani (2006); NEA (2006); Ourofino (2006, 2007);
Antshel et al. (2008, 2011); Simões Loureiro et al. (2009); Foley-
Nicpon et al. (2012); Fugate, Zentall e Gentry (2013); Hua, Shore e
Makarova (2014); Alves e Nakano (2015); García (2015); Lee e
Olenchack (2015); Mullet e Rinn (2015); Whitaker et al. (2015);
Collins (2016); Gomez-Arizaga et al. (2016) e, finalmente, Luque-
Parra, Luque-Rojas e Diaz (2017).
Indicadores comuns à Superdotação e à dupla excepcionalidade
1)
Tédio com a rotina.
2)
Baixa tolerância, em atividades que julgam sem
importância.
130
3)
Motivação para aprendizagem de assuntos de seu interesse.
4)
Facilidade de aprendizagem de assuntos de seu interesse.
5)
Alto nível nas atividades de interesse.
6)
Paixão por hobbies.
7)
Preferência por desafios, pressão e competição.
8)
Interesses pouco comuns, quando comparados aos pares.
9)
Pensamento crítico e criativo.
10)
Uso da memória no processo de aprendizagem.
11)
Uso da criatividade para evitar as tarefas mais tediosas.
12)
Perspicácia.
13)
Intuitividade.
14)
Tendência ao transtorno obsessivo-compulsivo.
15)
Dissincronia interna.
16)
Sobre-excitabilidade emocional.
17)
Compreensão mais avançada de regras, jogos e estratégias.
18)
Maiores taxas de humor.
Indicadores comuns ao TDAH e à dupla excepcionalidade
1)
Dificuldade de se concentrar, em focar a atenção.
2)
Dificuldade com organização e planejamento.
3)
Dificuldade em seguir instruções ou orientações.
131
4)
Dificuldade de expressar as ideias de maneira escrita ou
editar o já escrito.
5)
Dificuldade para iniciar e completar uma tarefa.
6)
Déficit nas funções executivas e memória.
7)
Prejuízos em memória verbal estratégica, com potencial
melhora do uso de “dicas” organizacionais (que podem
ser removidas posteriormente).
8)
Dificuldade de gerenciamento de tempo.
9)
Dificuldades em monitorar projetos em longo prazo.
10)
Dificuldades em atividades com múltiplos objetivos ou
múltiplas ideias.
11)
Dificuldades em seguir uma linha de pensamento.
12)
Dificuldades de aprendizagem, principalmente em
domínios específicos, como dificuldade com
Matemática, com exercícios longos, fáceis ou
repetitivos.
13)
Prejuízo nas habilidades motoras finas.
14)
Dificuldades para mostrar suas habilidades cognitivas em
sala de aula.
15)
Podem precisar de tutores acadêmicos.
16)
Maiores chances de repetir de ano.
17)
Dificuldades em cumprir rotinas.
18)
Dificuldades com a tarefa de casa.
132
19)
Dificuldade com autocontrole e automonitoramento do
comportamento.
20)
Dificuldade de lidar com a autonomia.
21)
Dificuldades com regulação do afeto.
22)
Pouca persistência e mudança constante de atividade.
23)
Trabalho linear.
24)
Fala contínua.
25)
Inquietações, contorções e dificuldade de permanecer
sentado.
26)
Menor capacidade de prever causa-efeito de seus
comportamentos.
27)
Fazem as atividades rapidamente e muitas vezes, de forma
descuidada.
28)
Podem ser vistos como estudantes de baixo rendimento.
29)
Tendem ao fracasso escolar.
30)
Tendem ao isolamento.
31)
Tendem a interações mais pobres com outros.
32)
Má utilização do tempo livre.
33)
Imaturidade emocional.
34)
Irritação.
35)
Comportamento agressivo.
36)
Comportamento opositor.
37)
Comportamento disruptivo.
133
38)
Maiores índices de transtorno de humor.
39)
Déficits em habilidades sociais, incluindo-se
dificuldades de entendimento de “dicas” sociais.
40)
Rejeição e frustração com os pares.
41)
Apesar de tenderem ao isolamento, apresentam preferência
por trabalhar em grupos.
42)
Falta de compreensão dos objetivos e da dinâmica do grupo.
43)
Maior risco de envolvimento em atividades perigosas.
44)
Preferem emoções mais intensas.
45)
Quadros de estresse familiar.
46)
Prejuízos nas relações sociais dentro e fora do ambiente
escolar.
Indicadores comuns aos três fenômenos: Superdotação, TDAH e
dupla excepcionalidade
1)
Questionamento de regras.
2)
Alto nível de atividade.
3)
Aprendem melhor com a ajuda de materiais mais
estruturados como guias de estudo,
checklists, “dicas”, planos e problemas-exemplo.
4)
Preferência por responder de forma prática/ativa, por
meio de desenhos, quadros, uso de computador,
encenação e fala, e têm predileção por tarefas espaciais.
134
5)
Alto interesse por conteúdos relativos aos estudos sociais e
ao espaço.
6)
Aversão a caligrafia.
7)
“Sonham acordados”.
8)
Baixa tolerância à frustração.
9)
Hiperfoco nas atividades de interesse.
10)
Ansiedade.
11)
Frequentemente interrompem ou interferem no trabalho de
outros.
12)
Respondem precipitadamente aos questionamentos.
13)
Problemas de comportamento na escola.
14)
Bagunceiros com os próprios pertences.
Indicadores específicos da dupla excepcionalidade
1)
Maior esforço para manter avaliações acadêmicas positivas.
2)
Mascaram suas dificuldades de aprendizagem.
3)
Disfarçam a baixa autoestima.
4)
Desempenho acadêmico irregular.
5)
Autoestima e autoconceito oscilantes.
10
10
Embora o autoconceito e a autoestima tenham sido apontados como baixos, por muitos autores
(LEROUX; LEVITT-PEARLMAN, 2000; WEBB et al., 2005; FOLEY-NICPON et al., 2012;
GARCÍA, 2015), Ourofino (2007) argumenta que os estudantes com dupla excepcionalidade
apresentam um autoconceito e autoestima muitas vezes considerado oscilante, enquanto Lee e
Olenchack (2015) assinalam que eles têm uma autoestima positiva autorrelatada e bom autoconceito,
o que parece variar de acordo com o atendimento de suas necessidades emocionais e acadêmicas e suas
habilidades cognitivas e socioemocionais.
135
6)
Oscilam entre momentos de atenção concentrada e difusa.
7)
Têm noção de suas discrepâncias e percepção mais
aguçada das características do transtorno.
8)
Dificuldade de evoluir, quando as tarefas não são
desafiadoras.
9)
Dificuldades emocionais graves.
10)
Fortes reações emocionais.
11)
Maiores taxas de depressão.
12)
Felicidade geral inferior.
13)
Menor qualidade de vida em múltiplos domínios da
vida, como em casa, no trabalho e nas áreas sociais.
Constata-se que um mascaramento de mão dupla dos
indicadores e também oscilação entre as características de um ou de
outro transtorno. Observa-se, também, que a manifestação de
indicadores comuns ao TDAH, na dupla excepcionalidade, é bem
maior do que os indicadores comuns ao fenômeno da Superdotação,
corroborando os achados de Massuda e Mani (2014) e Massuda
(2016).
Neihart (2003) afirma que devemos ter cuidado, ao rejeitar
a hipótese de TDAH, nos estudantes superdotados, pois eles
necessitam de identificação, a fim de que sejam delineadas
intervenções para enfrentar a imaturidade social e emocional.
Concordando com Moon et al. (2001), Antshel et al. (2011)
e García (2015), sustentamos que as habilidades sociais desses
136
estudantes precisam ser investigadas, pois parecem ser os aspectos de
maior fragilidade, nesse grupo.
No Subcapítulo 2.5, dissertaremos sobre esse campo teórico
e suas implicações no desenvolvimento do ser humano.
Habilidades sociais
O conjunto de comportamentos sociais do repertório de um
indivíduo, capazes de favorecer relacionamentos saudáveis e
produtivos com as demais pessoas, é denominado, na literatura,
como habilidades sociais (GRESHAM; ELLIOTT, 1990; DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2002; ELLIOTT; GRESHAM, 2008).
Os autores conceituam habilidades sociais como classes de
comportamentos específicas que um indivíduo apresenta, com o
objetivo de completar determinada tarefa social.
Essa temática foi inserida nos estudos científicos da área da
Psicologia, desde 1930, por pesquisadores dos EUA e da Inglaterra,
e sua importância passa também a ser reconhecida por
profissionais
de outras áreas, como Educação, Filosofia, Antropologia etc.
(MARTINS, 2019).
Entre esses comportamentos estão os de empatia, afetividade,
cooperação, desenvoltura social, assertividade, responsabilidade,
civilidade e autocontrole (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2002).
Segundo os autores, essas habilidades, quando desenvolvidas,
são comportamentos com uma alta probabilidade de maximizar
reforçadores e diminuir a estimulação aversiva para com o indivíduo.
As habilidades sociais descrevem e identificam componentes
comportamentais, cognitivos, afetivos e fisiológicos que podem
137
colaborar para a competência social e avaliam se há coerência e
funcionalidade no desempenho social.
Esses autores afirmam ainda que um repertório elaborado de
habilidades sociais tem-se mostrado preditor importante de
trajetórias acadêmicas positivas e de diversos indicadores de
funcionamento adaptativo, como relações saudáveis com pares e
adultos, bom desempenho acadêmico, status social positivo no grupo
e menor frequência de problemas de comportamento, quer
internalizantes, quer externalizantes.
É observada uma amplitude e falta de definição do termo
“problemas de comportamento”, mas, geralmente, os problemas de
comportamento são classificados em hiperatividade, agressividade e
comportamentos antissociais (BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE,
2003).
Para melhor entendimento da área, definiremos os principais
conceitos presentes no campo teórico das habilidades sociais.
Primeiramente, vemos como necessário diferenciar os
termos “desempenho social” e “competência social”, para que não
sejam equivocadamente vistos como sinônimos. Na sequência,
definiremos o que aqui são considerados “problemas de
comportamento” e “competência acadêmica”.
Para Gresham e Elliott (1990), Bandeira et al. (2009) e Del
Prette et al. (2016), desempenho social é um termo que se refere à
sequência de comportamentos que ocorre em determinada interação
social, podendo ser caracterizado como competente ou não, e inclui
tanto os comportamentos que favorecem quanto os que interferem
negativamente na qualidade dos relacionamentos. Já a competência
138
social deve ser tomada como um atributo avaliativo do desempenho,
com base em sua funcionalidade e na coerência com os pensamentos
e sentimentos do indivíduo. Esta requer habilidades sociais e marca
o desempenho que produz o melhor efeito, no sentido de atingir os
objetivos da interação.
Os problemas de comportamento são aqueles
comportamentos que interferem negativamente na aprendizagem e
no desempenho das habilidades sociais. Podem ser classificados
como padrões internalizantes e externalizantes. Os padrões
internalizantes concernem aos problemas de comportamento
caracterizados por ansiedade, depressão, isolamento social, entre
outros, e os padrões externalizantes envolvem comportamento
agressivo, opositor, coercitivo etc. Entende-se que, quando o
estudante apresenta esses problemas de comportamento, em
situações sociais, pode o ter a oportunidade de aprender a se
relacionar de maneira habilidosa com outros (GRESHAM;
ELLIOTT, 1990; BANDEIRA et al., 2009; DEL PRETTE et al.,
2016).
A competência acadêmica, outro construto associado com as
habilidades sociais, se refere ao funcionamento acadêmico geral da
criança, de acordo com o julgamento do professor (GRESHAM;
ELLIOTT, 1990; BANDEIRA et al., 2009; DEL PRETTE et al.,
2016).
Existem também, segundo Del Prette et al. (2016), algumas
premissas no campo dos estudos das habilidades sociais, as quais
devem estar claras nos momentos de avaliação:
-
Habilidades sociais são designações atinentes a
desempenhos ou classes de comportamentos interpessoais.
139
-
São aprendidas e, no caso de dificuldades, pode-
se recorrer a serviços terapêuticos e educacionais conduzidos
por profissionais qualificados.
-
São determinadas culturalmente, levando-se em
conta características sociodemográficas.
-
São situacionais, ou seja, desempenhos
semelhantes podem contribuir em uma situação e em outras,
não.
-
Um elaborado repertório de habilidades sociais
pode ser considerado como condição necessária, mas não
suficiente para a competência social.
Del Prette e Del Prette (2003) defendem o investimento em
programas de treinamento de habilidades sociais desde a infância e
pensam que estes devem acontecer como alternativa de prevenção,
por meio da ação integrada entre escola e família e, também, ligada
a intervenções clínicas, visando a superar as dificuldades
interpessoais e os problemas a elas associados.
Ademais, Del Prette e Del Prette (2009) destacam a
importância da avaliação para a condução de pesquisas e programas
de intervenção, nesse campo. Segundo esses autores, a avaliação das
habilidades sociais pode ser utilizada para desenvolver instrumentos
e procedimentos de avaliação confiáveis; caracterizar e comparar
amostras e populações, estabelecendo normas de referência
psicométrica; efetuar um diagnóstico diferencial e funcional;
identificar variáveis ligadas a déficits e recursos de habilidades sociais
e analisar a efetividade de intervenções.
140
Os princípios que orientam as intervenções e o treinamento
dessas habilidades estão ancorados em abordagens como a teoria da
aprendizagem social, a análise do comportamento aplicada e as
abordagens cognitivo-comportamentais (DEL PRETTE et al.,
2016).
Com respeito à circunstância de os diferentes diagnósticos
serem dificultadores ou facilitadores no processo de aprendizagem
das habilidades sociais, Freitas e Del Prette (2014) identificaram o
TDAH, problemas de comportamento misto, autismo, problemas
de comportamento externalizantes e internalizantes e dificuldades de
aprendizagem como as necessidades especiais mais fortemente
preditoras para déficits, nas habilidades sociais. Em contraponto, os
estudantes com comportamento superdotado foram os que
revelaram melhor repertório dessas habilidades, neste estudo.
Oliveira (2016) aponta a necessidade de mais investigações
que avaliem habilidades sociais de estudantes com comportamento
superdotado, pois muitos estudos efetuados sobre os aspectos
emocionais mostram que estes podem ser emocionalmente instáveis.
Com relação aos estudantes com dupla excepcionalidade, há
pesquisas que ressaltam que, devido aos comportamentos de
mascarar as dificuldades acadêmicas, disfarçar a baixa autoestima,
atrasos e assincronia, no desenvolvimento global, os estudantes com
a dupla excepcionalidade se encontram em risco social e emocional
(OUROFINO; FLEITH, 2005; NEA, 2006; OUROFINO, 2006).
Porém, há indícios de que a capacidade intelectual e o
desenvolvimento de certas habilidades podem agir como fatores
protetivos, em relação aos problemas socioemocionais (NEIHART,
1999; BARKLEY, 2002; WHITAKER et al., 2015) e também que
141
a vulnerabilidade a esses problemas estaria associada a habilidades
extremas e aos efeitos do bullying, acarretando ansiedade, depressão
e ideação suicida (NEIHART, 2008).
A infância é tomada como um período propício para o
ensino e a aquisição de habilidades sociais (BANDEIRA et al.,
2009), portanto, esse quadro tem potencial de melhora, quando
identificado nessa fase. Del Prette e Del Prette (2003) advertem ainda
que, quando esses problemas de comportamento persistem, na
adolescência, são mais resistentes a intervenções, necessitando de
programas individualizados.
Mendaglio (2005) salienta que, durante muito tempo, a
maioria dos encaminhamentos de estudantes para programas de
atendimento a estudantes com comportamento superdotado era
provocada por preocupações relativas ao desempenho acadêmico,
sendo uma proporção bem menor por dificuldades de adaptação
social e/ou emocional, todavia, assevera que vem se constatando uma
mudança, nesse perfil.
A ausência dessas habilidades é tida como fator de risco,
podendo levar a criança a dificuldades de aprendizagem e problemas
comportamentais ou emocionais (OLIVEIRA, 2016), de modo que
não só as escolas, mas também as famílias devem buscar aprimorar o
repertório das habilidades sociais dos estudantes, porque esse núcleo
permanecerá longitudinalmente na vida do estudante e irá
influenciar o seu desenvolvimento qualitativo geral. Toda criança
com comportamento superdotado, TDAH ou que não apresenta
indicadores de nenhum dos fenômenos deve ser vista e estudada
como parte de um sistema maior, o qual deve incluir a família e a
escola, sem nunca descartar seu mundo interior.
143
Objetivos
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ______
Objetivo geral
Identificar indicadores de Superdotação e TDAH em
estudantes precoces com comportamento superdotado e em
estudantes com a hipótese diagnóstica de TDAH.
Objetivos específicos
- Identificar indicadores de Superdotação, pela avaliação dos
pais/responsáveis.
-
Identificar indicadores de TDAH, por meio da avaliação dos
pais/responsáveis.
-
Avaliar o repertório de Habilidades Sociais, por meio da avaliação
dos pais/responsáveis e do protocolo de autoavaliação.
-
Realizar uma identificação preliminar de casos de dupla
excepcionalidade.
-
Investigar a percepção dos pais/responsáveis sobre os estudantes
inseridos nos fenômenos investigados.
-
Analisar comparativamente similitudes e diferenças nos
indicadores encontrados em cada um dos grupos.
-
Avaliar a relação dos dados com os indicadores da dupla
excepcionalidade.
145
Percurso metodológico do estudo empírico
_______ ____________ ____________ ________________________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ______________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ _______________ ___
Esta pesquisa será abordada de maneira quanti-qualitativa,
avaliativa e comparativa.
A pesquisa quanti-qualitativa é necessária, nesse caso, pois a
escolha de uma única abordagem (quanti ou quali) seria insuficiente
para compreender a realidade estudada, portanto, essas serão vistas
como complementares e, juntas, nos auxiliam a vislumbrar as
peculiaridades dos fenômenos investigados (SOUZA; KERBAUY,
2017). A opção pelo termo quanti- qualitativa é justificada pelo fato
de que, primeiramente, os dados precisam ser quantificados, para
ser, em seguida, qualificados.
É considerada uma pesquisa avaliativa, porque foram
realizadas análises dos objetos de estudo, preservando-se o caráter
unitário de cada sujeito e de cada fenômeno. Segundo Silva (2010,
p. 40), “[...] na avaliação, compara-se uma medida com um
padrão e é emitido um julgamento sobre essa comparação. Ou seja,
a avaliação inclui o uso da medida, mas não se limita a ela.
As variáveis dependentes avaliadas foram: déficit de atenção,
hiperatividade/impulsividade, indicadores de Superdotação,
habilidades sociais e percepção dos pais/responsáveis.
As variáveis descritivas selecionadas foram gênero, idade,
escolaridade, posição do estudante na família e o uso de
medicamentos.
146
Participantes
Nesta pesquisa, estudaremos, de forma individual e coletiva,
uma amostra de conveniência de doze estudantes de seis a 13 anos,
a fim de investigar os fenômenos da Superdotação e do TDAH, à
luz da dupla excepcionalidade. Esses serão divididos em dois grupos:
G1 - Seis estudantes precoces com comportamento
superdotado, participantes do Programa de Atenção ao Aluno
Precoce com Comportamento Superdotado (PAPCS) e seus
respectivos pais/responsáveis.
G2 - Seis estudantes com a hipótese diagnóstica de TDAH,
frequentadores do Centro de Atenção Psicossocial Infantil
(CAPSi
11
), e seus respectivos pais/responsáveis.
Quadro 8- Quantidade de participantes do estudo
G1 G2
Estudantes (E)
6
6
Pais (P)
6
3
Mães (M)
6
6
Avós (A)
-
3
Total 18 18
Fonte: Elaboração própria.
11
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições destinadas a acolher pacientes com
transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar e apo-los na busca da autonomia,
oferecendo-lhes atendimento médico e psicossocial (APDM, 2015). Assim, são disponibilizados
tratamentos específicos para cada sujeito, com um plano de trabalho determinado por uma equipe
multidisciplinar da área da saúde. Além das consultas, são implementadas oficinas terapêuticas e
culturais, rodas de conversa e orientações individuais ou em grupo, para os estudantes e suas famílias.
147
Os critérios iniciais de inclusão no estudo foram: o estudante
ter entre 6 e 13 anos, não ter comorbidades associadas ao diagnóstico
e contar com dois familiares que aceitassem participar da pesquisa.
Assim, foi providenciado o contato com os participantes do
PAPCS que atendiam aos critérios de inclusão, convidando-os a
participar da pesquisa.
Em seguida, fez-se o contato com o CAPSi de Marília, para
o levantamento dos estudantes com a hipótese diagnóstica de
TDAH.
Foram indicadas, pela coordenadora da unidade, 24
estudantes, em tratamento psicoterápico. As idades variaram de
quatro a 15 anos. A partir desse levantamento, foi efetuada a triagem
dos participantes que atendiam aos critérios de inclusão da pesquisa.
Nesse caso, demos prioridade à participação da mãe e do pai do
estudante, mas, diante da impossibilidade da participação de algum
deles, avós que coabitam e são corresponsáveis na criação dos netos
também foram admitidos.
Coelho e Dias (2017) ressaltam que, na atualidade, ampliou-
se o número de lares em que várias gerações convivem juntas, como
os avós e netos, que podem criá-los integralmente ou não, sendo
diversas as situações e motivações que levam os avós a participarem
ativamente na vida dos netos, assumindo assim papel de relevância.
As autoras alegam que são motivos frequentes o divórcio dos pais, a
gravidez na adolescência, pais que trabalham fora ou são incapazes.
De posse da definição dos possíveis participantes, foi feito
um contato inicial com os mesmos, a fim de convidá-los a participar
148
da pesquisa, explicar a finalidade e relevância da mesma, e ressaltar
a importância de sua colaboração.
As Tabelas 1 e 2 apresentam a caracterização dos sujeitos da
pesquisa. Para a elaboração da Tabela 1, que traz a caracterização dos
estudantes, as variáveis descritivas determinadas a priori foram:
gênero, idade, escolaridade, posição na família e uso de
medicamento.
Tabela 1- Caracterização dos estudantes
Fonte: Elaboração própria.
149
Como observado na Tabela 1, a maior parte dos estudantes
participantes é do gênero masculino, havendo somente uma menina,
no G1, e duas, no G2.
Quanto à identificação de estudantes meninas com
comportamento superdotado, Ogeda, Pedro e Chacon (2017)
enfatizam que, embora não exista razão biológica e esse fenômeno
possa se manifestar em ambos os gêneros, as pesquisas demonstram
que o número de meninos identificados é bastante superior ao de
meninas. Isso se deve muito provavelmente a variáveis sociais e
culturais, as quais agem como barreiras na identificação.
No que diz respeito a esses fatores, que se configuram como
barreiras na identificação de meninas, esses podem ser divididos
como de ordem interna e externa. Como exemplos de barreiras de
ordem externa temos a falta de disponibilidade de modelos bem-
sucedidos de mulheres com comportamento superdotado,
estereótipos de gênero, expectativas sobre o desempenho dos papéis
femininos, conflito família/trabalho e divisão não igualitária dos
afazeres domésticos. As barreiras de ordem interna são os
estereótipos que, muitas vezes, são internalizados e passam a
atravancar a expressão do potencial dessas meninas. Como exemplos,
temos vários conjuntos de comportamentos, as chamadas Síndrome
do medo do sucesso, por receio de ser considerada menos feminina;
Síndrome do impostor, por dificuldade de internalizar seus próprios
feitos; e a Síndrome da abelha rainha, na qual a mulher desenvolve
sobrecarga psíquica, em decorrência da busca pela perfeição, em
todos seus âmbitos (COLMENARES, 1997; REIS, 2008; PRADO;
FLEITH; GONÇALVES, 2011; PÉREZ; FREITAS, 2012).
150
Quanto ao maior número de meninos também no grupo dos
estudantes com hipótese diagnóstica de TDAH, está de acordo com
os dados da APA (2014), para os quais há uma prevalência de 2:1; a
despeito de termos encontrado na literatura considerável variação, a
grande maioria das investigações relata maior quantidade de
meninos (BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS, 2003).
Acerca da idade, o G1 é composto por estudantes de oito a
11 anos, sendo que metade da amostra tem 11 anos. o G2 é
composto por estudantes de seis a 10 anos, metade da amostra com
sete anos.
Quanto à escolaridade, no G1, temos estudantes do terceiro
ao sétimo ano, exceto no quarto, sendo que um dos estudantes foi
acelerado um ano na idade/série. No G2, temos estudantes do
primeiro ao sexto ano, exceto no quinto.
A literatura ressalta que, muitas vezes, os estudantes com
comportamento superdotado são iniciados no processo de
identificação logo na Educação Infantil, quando os indicadores de
precocidade começam a ficar evidentes (PEDRO, 2016). No caso
do TDAH, esses comportamentos aparecem desde a infância,
principalmente os de hiperatividade, mas são mais fortemente
identificados nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando a
atenção focada e o controle motor são imprescindíveis (ROHDE;
MATTOS, 2003; APA, 2014).
No G1, quatro dos estudantes são filhos primogênitos, um
deles é unigênito e um é o filho caçula. Esse fato corrobora uma das
generalizações de Winner (1998), segundo a qual esses estudantes
são geralmente os primogênitos ou unigênitos. Para ela, os
primogênitos desfrutam de uma posição privilegiada na família, que
151
deixa de existir quando o irmão nasce, o que faz com que se sintam
estimulados a recuperar a posição perdida.
O fato de esse grupo também ser composto por muitos filhos
únicos é justificado pela autora com o pressuposto de que esse
estudante, apesar de não ter perdido sua posição privilegiada,
convive mais tempo com adultos, porque os filhos primogênitos e
unigênitos recebem mais estímulos que os irmãos mais novos,
conduzindo-os a alguma vantagem cognitiva.
No G2, três dos seis estudantes são unigênitos e três são os
filhos caçulas. Dos unigênitos, duas mães estavam gestantes, no
momento da coleta. Como na Superdotação, alguns pesquisadores
atestam que os estudantes com TDAH também são geralmente os
primogênitos ou unigênitos (PREKOP; SHWEIZER; 2005).
Portanto, nesta investigação, constata-se, nos dois grupos, a
prevalência de estudantes primogênitos ou unigênitos, aspecto que
está de acordo com os achados de pesquisa de Ourofino e Fleith
(2005).
Quanto à variável uso de medicamento, verifica-se que, para
a metade dos estudantes, já foi indicado algum tipo de medicamento
para controle de comportamento, porém, este não chegou a ser
administrado. Até a data da coleta de dados, um estudante, no G1,
encontrava-se em tratamento farmacológico e dois estudantes, no
G2, faziam uso de algum tipo de fármaco para controle de
comportamento, o que aponta para um baixo número de estudantes
medicados, embora essa sugestão tenha sido frequente nos dois
grupos.
152
Segundo a literatura, o medicamento é bastante eficaz para
os estudantes com TDAH (DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007;
FONSECA; MUSZKAT; RIZUTTI, 2012), porém, quando
versamos sobre a dupla excepcionalidade, algumas pesquisas
indicam (MOON, 2002; NEIHART, 2003; OUROFINO, 2006)
que isso deve ser questionado e é imperioso focalizar mais em
estimular as potencialidades que remediar as características do
transtorno. Cramond (1995), Baum, Olenchak e Owen (1998) e
Baum e Olenchack (2002) entendem que a medicação controla os
comportamentos disruptivos, mas inibe o processo criativo dos
estudantes.
Quanto à Superdotação, sabe-se que as intervenções devem
ser pedagógicas e não medicamentosas, havendo autores que alertam
para o fato de que os medicamentos não auxiliam no
desenvolvimento do potencial do estudante e, pior que isso, podem
ser prejudiciais em longo prazo (BAUM; OLENCHAK; OWEN,
1998; CHAE; KIM; NOH, 2003; MASSUDA; MANI, 2015;
MASSUDA, 2019).
Na Tabela 2, temos a caracterização dos pais/responsáveis.
Nessa tabela, as variáveis descritivas foram gênero, grau de
parentesco, idade, escolaridade e renda familiar.
153
Tabela 2- Caracterização dos pais/responsáveis
Fonte: Elaboração própria.
A amostra do G1 foi formada por mães e pais, enquanto a
amostra do G2 foi constituída por mães, pais e também avós.
No G1, seis participantes têm entre 30 e 40 anos, ao passo
que, no G2, quatro desses têm entre 40 e 50 anos.
Com respeito à escolarização, no G1, todos os participantes
têm Ensino Médio ou Ensino Superior, enquanto, no G2, nove têm
154
o Ensino Fundamental Incompleto ou o Ensino Médio; apenas três
participantes nesse grupo possuem Ensino Superior.
A renda mensal de quatro das famílias no G1 está entre R$
3.000,00 e R$ 6.000,00, sendo que a de metade das famílias no G2,
está entre R$ 1.500,00 e R$ 3.000,00.
Conforme Delou (2007), em todos os ambientes familiares
é possível encontrar estudantes com comportamento superdotado,
inclusive famílias com baixa renda e baixa escolaridade. Apesar de
não ser empecilho para a existência desse estudante, a situação
econômica pode interferir na manifestação dos indicadores
(RENZULLI, 1986) e, como ressalta Winner (1998), a
Superdotação pode se desenvolver em famílias de baixa renda,
contanto que essas valorizem a educação.
A situação socioeconômica não é uma causa do TDAH, mas,
devido ao fato de se interligar aos fatores sociais, pode gerar
desajustes no ambiente, como situação de vulnerabilidade, não
atendimento às necessidades, desemprego e insegurança, o que pode
potencializar os indicadores (BARKLEY, 2002; ROHDE;
MATTOS, 2003).
A respeito do estado civil, todos os participantes no G1 são
casados formalmente e, no G2, temos dois casados formalmente, um
está em uma união estável e três dessas mães são separadas. Das avós,
duas são viúvas e uma é casada formalmente.
Nesta pesquisa, foi adotada uma concepção sistêmica de
família, do ponto de vista do desenvolvimento. Para Dessen (1997,
2007), a necessidade de se adotar essa perspectiva começa a ser
amplamente difundida em meados de 1980 e implica considerar que
155
o sistema familiar é composto por vários subsistemas e as relações
desenvolvidas entre eles são únicas.
Os valores, crenças, estilos e práticas parentais influenciam a
dinâmica familiar e na distribuição de recursos, como tempo,
atenção, dinheiro e oportunidades.
Nessa perspectiva, esses subsistemas são interdependentes e,
para compreendê-los, vale ter em vista todos os subsistemas, porque
as transições no desenvolvimento de qualquer membro da família
constituem desafio para o sistema inteiro. Por certo, a família não
pode ser vista como um sistema de díades separadas, nem seu
processo de desenvolvimento ser concebido como a aquisição de
padrões sociais do ambiente externo. Isso requer dar foco a como o
sistema familiar acomoda a criança e como afeta e altera o sistema
como um todo (DESSEN, 1997).
Essa mesma autora assinala que foi somente nos anos 1980
que os pesquisadores começaram a incluir, nas pesquisas, outros
subsistemas, além da díade mãe-criança, expandindo o conhecimento
nesse sentido, todavia, ainda prevalência de estudos sobre as
interações mãe- criança, pai-criança e criança-irmão como
subsistemas separados (DESSEN, 1997, 2007).
Concordamos com Delou (2007, p. 131), quando assevera:
Embora a hereditariedade seja um importante fator para a
constituição biológica e psicológica do ser humano, é na
família, aqui entendida como o conjunto de sujeitos que vivem
e convivem com a criança no dia-a-dia, provendo-lhes as
necessidades básicas de manutenção e sobrevivência, servindo-
lhe de modelo de imitação e inspiração, que acontecerão as
primeiras relações sociais. É na família que se inicia a construção
156
da nova personalidade, calcada em parâmetros éticos-morais
subjetivos, base das subjetividades que as crianças mostrarão
quando passarem a atores sociais.
Nesta pesquisa, concebemos a criança como parte de um
sistema familiar, para além das díades supracitadas, e damos luz ao
fato de que outros atores, na maioria das vezes, também participam
efetivamente da vida dessas crianças.
A adoção de mais de um informante do mesmo contexto
também é justificada, porque consideramos que cada sujeito avalia o
estudante de uma perspectiva diferente, conforme o conjunto de
informações e concepções de cada um, o que possibilita a
triangulação dos dados (HOSDA; ROMANOWSKI, 2012). Assim,
ao utilizar diferentes avaliadores, indicadores e procedimentos,
podemos caracterizar essa como uma avaliação multimodal
(BANDEIRA et al., 2009; DEL PRETTE et al., 2016).
Aspectos éticos
Todos os aspectos éticos foram respeitados. A submissão do
projeto desta investigação ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Secretaria de Saúde de Marília (COMAP) foi realizada, bem como
ao Comitê de Ética em Pesquisa da FFC/UNESP, obtendo-se o
parecer favorável liberado em 18/04/2018, sob o número
2.611.286. A assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e do Termo de Assentimento, para os estudantes, foi
devidamente coletada, de acordo com a Resolução 466, de 12 de
dezembro de 2012, do CONEP (BRASIL, 2013b).
157
Materiais
Instrumentos
Nesta investigação, foram empregados instrumentos
quantitativos e qualitativos. O uso de instrumentos validados
tende a aumentar a credibilidade de um estudo, mas, muitas vezes, o
instrumento adequado ao objetivo ou às múltiplas questões do
estudo não existe, o que leva o autor a elaborar o próprio
instrumento.
Tanto o roteiro de entrevista quanto o questionário passaram
por processos de avaliação por juízes. Como critério, foi usada a
análise de concordância com as questões (Concordo, Discordo), de
modo que, para as vistas como inadequadas, por uma das juízas,
foram pedidas sugestões de reformulação e, assim, reestruturadas,
para, enfim, serem validadas novamente, atingindo-se uma
concordância de 100%. Essas juízas, duas Doutoras e uma Mestre
em Educação e Especialista em TDAH, avaliaram os instrumentos
quanto aos aspectos técnicos e de conteúdo.
Instrumento para avaliação sociodemográfica e socioemocional
O instrumento usado para avaliação sociodemográfica e
socioemocional foi um questionário de questões fechadas, a partir
do qual o respondente escolhe a opção que melhor representa sua
situação ou seu ponto de vista; este foi alicerçado no arcabouço
teórico da pesquisa. É dividido em duas partes: a primeira, a qual
pretende coletar dados do perfil sociodemográfico das famílias, e a
158
segunda, que investiga indicadores socioemocionais dos fenômenos
estudados (APÊNDICE A).
Segundo Elliott (2012, p. 27),
[...] questionários podem ser definidos como uma técnica de
investigação que inclui um número mais ou menos elevado de
questões que, apresentadas às pessoas, objetivam, dentre outros
aspectos, o conhecimento de fatos, comportamentos, opiniões,
crenças, sentimentos, atitudes, interesses, expectativas,
motivações, preferências e situações vivenciadas.
Dentre as vantagens do uso do questionário, nesta pesquisa,
estão uma reunião de larga variedade de dados em um único
instrumento e a possibilidade de realizar diversas análises que
enriqueceram o estudo e ampliaram a interpretação dos resultados.
O questionário foi construído em duas etapas:
1-
A primeira versão, elaborada pela pesquisadora.
2-
A versão final, que considerou a opinião das juízas. Esse
instrumento foi respondido pelos pais/responsáveis.
Instrumento para identificação do comportamento superdotado
Para identificação do comportamento superdotado, foi
empregado o Checklist de Características Associadas à Superdotação
- CCAS (ANEXO B), uma versão traduzida e adaptada
transculturalmente da Stand up for your gifted child (SMUTNY,
2001), por Barbosa et al. (2008). Esse instrumento descreve
características comportamentais de crianças e adolescentes com
159
comportamento superdotado e deve ser coletado junto aos pais e/ou
responsáveis.
É composto por 42 afirmações de características de
estudantes com comportamento superdotado, com respostas
dicotômicas e duas alternativas: Sim e Não. Dez questões
correspondem ao domínio capacidade intelectual, vinte e quatro ao
domínio criatividade, e oito ao domínio emocional. A pontuação
total da escala pode variar de zero a 42 pontos.
Instrumento de identificação de indicadores de TDAH
Para identificação dos indicadores de TDAH, foi utilizado o
Questionário de Swanson, Nolan e Pelham-IV (MTA-SNAP IV)
Crianças e adolescentes (ANEXO A).
Para Rohde e Mattos (2003), o uso de escalas para
identificação de indicadores permite a homogeneização das
informações, a quantificação de indicadores, estabelecimento de
perfis estereotipados, economia financeira e de tempo, e é de fácil
manejo, podendo a princípio identificar estudantes “prováveis
positivos”, o que facilita a avaliação diagnóstica feita por um
especialista, mediante cuidadosa avaliação da história clínica. Estes
não podem ser considerados instrumentos de diagnóstico, por
sofrerem de baixa especificidade e sensibilidade, mas são úteis para as
pesquisas de porcentagem da sintomatologia e no rastreio
diagnóstico dos indicadores do transtorno, tratando-se, portanto, de
um instrumento de screening.
Esse instrumento foi construído com base nos indicadores
que constam no Manual de Diagnóstico e Estatística - IV Edição
160
(DSM-IV) da APA, tendo sido antecedido pelas versões SNAP-III e
SNAP-IIIR, esses dois últimos formulados a partir da terceira versão
do DSM e sua revisão, respectivamente. No estudo de validação,
efetivado nos Estados Unidos, o MTA-SNAP IV teve suas
propriedades psicométricas consideradas sólidas (MATTOS et al.,
2006).
O SNAP-IV teve sua tradução e adaptação transcultural
validadas pelo Grupo de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e pelo Serviço de Pesquisa e
Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (MATTOS et al., 2006), primeiro passo para
que a validação ocorra.
É composto por 18 questões, as quais indicam
comportamentos que devem ser assinalados numa escala de
frequência de quatro pontos: Nem um pouco, Só um pouco,
Bastante e Demais. As nove primeiras se baseiam em indicadores de
desatenção e as nove seguintes avaliam hiperatividade/
impulsividade. É tido como o principal instrumento para avaliação
preliminar do TDAH e um dos critérios mais aceitos pela
comunidade científica (MATTOS et al., 2006).
Esse instrumento foi respondido pelos pais/responsáveis.
Instrumento para avaliação das habilidades sociais
Para proceder à avaliação das habilidades sociais do
estudantes, usamos o Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais
(SSRS). Esse instrumento foi produzido originalmente nos EUA
(GRESHAM; ELLIOTT, 1990), traduzido e adaptado
161
transculturalmente por Del Prette e Del Prette (2003) e novamente
adaptado, para, enfim, ser validado nacionalmente por Bandeira et
al. (2009).
Os componentes do SSRS incluem três formulários de
avaliação (versões para pais, para professores e para a criança) que
podem ser usados de modo combinado ou separadamente, para
avaliação de crianças de seis a 13 anos (BANDEIRA et al., 2009;
DEL PRETTE et al., 2016). Para esta investigação, adotamos os
formulários para pais e o formulário de autoavaliação.
Quanto às propriedades psicométricas, a validação e a
adaptação para o contexto brasileiro demonstraram que o SSRS-BR
tem uma satisfatória consistência interna, aferida pelo alfa de
Cronbach, nas escalas de habilidades sociais (criança α = 0,73; pais α
= 0,84) e de comportamentos problemáticos (pais α = 0,85) (DEL
PRETTE et al., 2016).
O alfa é uma forma de estimar a confiabilidade interna de
um questionário; mede a correlação entre as respostas, por meio da
análise de um perfil, e é calculado a partir da variância dos itens
individuais e da variância da soma dos itens de cada avaliador
(HORA; MONTEIRO; ARICA, 2010).
Além disso, o estudo de validação mostrou correlações
positivas e significativas no teste-reteste, evidenciando estabilidade
temporal (DEL PRETTE et al., 2016).
O instrumento é composto por escalas padronizadas, com
referência normativa, tendo obtido parecer favorável do Conselho
Federal de Psicologia, em 2014; foi aplicado e corrigido por uma
psicóloga, por ser de uso restrito.
162
Os resultados foram liberados sem prejuízos aos
participantes, com base no Art. 13 da Lei nº 4.119/62, que
regulamenta a profiso do psicólogo, a qual determina, em seu
Parágrafo 2º: “É da competência do Psicólogo a colaboração em
assuntos psicológicos ligados a outras ciências (BRASIL, 1962, n.p)
– e no Código de Ética Profissional do Psicólogo, que versa, em seu
Art. 9º: “É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de
proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas,
grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício
profissional.” No Art. 10, explicita: “Nas situações em que se
configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no Art.
9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código,
excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir
pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor
prejuízo.” (CFP, 2005, p. 20).
Para Gresham e Elliott (1990), autores do instrumento
original, muitos aspectos diferem esse instrumento das demais
escalas que avaliam comportamento infantil, entre os quais o fato de
enfatizar comportamentos positivos ou prossociais.
Del Prette et al. (2016) afirmam que o uso do SSRS auxilia
os profissionais a identificar e classificar crianças com déficits em
habilidades sociais e problemas de comportamento e a desenvolver
intervenções apropriadas. Além disso, ressaltam que suas
informações são confiáveis para categorizar dificuldades de
comportamento, em termos de déficits de desempenho ou de
aquisição em habilidades sociais, e identificar os recursos
comportamentais, nessa área. São caracterizados como déficits de
aquisição, quando o indivíduo tem desconhecimento sobre como
163
desempenhar uma dada habilidade social em determinada tarefa, e
déficit de desempenho, quando a pessoa apresenta falha no mesmo,
ainda que saiba desempenhá-lo.
A avaliação também é usada para selecionar comporta-
mentos que deveriam ser alvo de intervenções clínicas e/ou
psicoeducativas, nortear a seleção de estratégias gerais de intervenção
e viabilizar uma avaliação de seguimento de habilidades sociais em
situações e ambientes específicos. Tal instrumento é muito
empregado para crianças com risco de desenvolver dificuldades
interpessoais, as quais possam vir a dificultar o processo de
socialização e aprendizagem (GRESHAM; ELLIOTT, 1990; DEL
PRETTE et al., 2016).
A versão para pais contém 37 itens e avalia as habilidades
sociais de “responsabilidade”, “autocontrole”, “afetividade/
cooperação”, “desenvoltura social” e “civilidade”. Examina ainda os
“comportamentos problemáticos”, que competem ou interferem na
aprendizagem e no desempenho dessas habilidades sociais. Os
comportamentos problemáticos são classificados como padrões
externalizantes e/ou como padrões internalizantes. Trata-se do único
instrumento disponível nacionalmente que integra esses indicadores.
A versão para crianças contém 20 questões e mensura as
habilidades sociais de “empatia/afetividade”, “responsabilidade”,
“autocontrole/civilidade” e “assertividade”.
Tanto a versão para pais quanto a versão para crianças são
compostas por uma escala ordinal de frequência; deve ser assinalado
um dos três pontos: Nunca, Algumas Vezes ou Muito Frequente.
164
Para definir e clarificar os aspectos que serão mensurados
pelas escalas, descreveremos brevemente, a seguir, os
comportamentos que aparecem nos diferentes fatores que as
compõem, definição que está de acordo com Del Prette e Del Prette
(2002) e Del Prette et al. (2016).
Na subescala “Habilidades Sociais”, os construtos
mensurados são:
A “empatia”, que é determinada pelos comportamentos
capazes de demonstrar interesse e respeito pelos sentimentos e pontos
de vista de outros, como observar, prestar atenção, mostrar respeito às
diferenças, oferecer ajuda e compartilhar.
Alguns exemplos encontrados no instrumento de
autoavaliação, para caracterizar “empatia”, são: “Eu tento entender
como meus amigos se sentem, quando estão zangados, aborrecidos
ou tristes” e “Eu demonstro que gosto de elogios e cumprimentos de
amigos”.
A “afetividade” é mensurada pelos comportamentos de
expressão de sentimentos positivos, por exemplo: “Eu demonstro ou
digo aos amigos que gosto deles” (autoavaliação); e “Faz elogios para
amigos e outras crianças na família” (avaliação por pais/
responsáveis).
O fator “responsabilidade” se refere aos comportamentos
atinentes a compromisso com tarefas e regras preestabelecidas para
atividades, como, por exemplo, na autoavaliação: “Faço minhas
tarefas de casa no tempo estabelecido” e “Eu sigo as instruções do
professor”.
165
O “autocontrole” é avaliado por meio dos comportamentos
emitidos em situações conflituosas e que requerem restringir os
próprios comportamentos, como reconhecer e nomear suas emoções
e de outros, controlar a ansiedade, acalmar-se, controlar o humor,
tolerar frustrações, mostrar espírito esportivo etc. No instrumento,
temos: “Controla sua irritação, quando discute com os outros”
(avaliação por pais/responsáveis), “Eu ignoro os colegas de classe que
ficam fazendo palhaçada” (autoavaliação).
A “civilidade” concerne aos comportamentos minimamente
adequados às normas de convívio social, como cumprimentar
pessoas, aguardar a vez para falar, fazer e aceitar elogios, seguir regras
e instruções, despedir-se e usar locuções, como “por favor”,
“obrigado”, “com licença”. No tocante ao instrumento, temos
como exemplo: “Pede permissão para usar coisas de outras pessoas
da família” (avaliação por pais/responsáveis) e “Eu evito fazer coisas
com outras pessoas que podem me trazer problemas com os adultos”
(autoavaliação).
Como “cooperação”, são referidos os comportamentos que
contribuem para o fluir de uma atividade e/ou atendem a
necessidades de outros, como, por exemplo, na avaliação por
pais/responsáveis: “Coopera com membros da família sem ser
solicitado” e “Usa apropriadamente o tempo enquanto espera sua
ajuda para tarefa escolar ou outra tarefa”.
Comportamentos de “assertividade” são as atitudes que
envolvem risco de reação indesejável do outro, como expressar
sentimentos negativos, falar sobre suas qualidades ou defeitos e
negociar interesses, lidar com críticas e gozações, fazer e recusar
pedidos e resistir à pressão de colegas, por exemplo, na autoavaliação:
166
“Eu digo para os outros quando estou chateado com eles” e “Eu peço
aos meus amigos para me ajudarem com os meus problemas”.
A “desenvoltura social” é mensurada pelos comportamentos
que expressam traquejo nas relações interpessoais, como, por
exemplo, no instrumento para avaliação por pais/responsáveis:
“Inicia uma conversação, em vez de ficar esperando que outros o
façam’’ e “Junta-se a grupo de atividade sem ser mandado”.
A subescala “Problemas de Comportamento (PC)” é
dividida em dois fatores: PC internalizantes e PC externalizantes.
Os “PC externalizantes” são aqueles que envolvem agressão
física ou verbal e baixo controle de humor. Por exemplo, na avaliação
por pais/responsáveis, há os itens: “Perturba as atividades em
andamento” e “Discute com os outros”. Já os “PC internalizantes
são os comportamentos indicativos de ansiedade, tristeza, solidão e
baixa autoestima, como “Parece solitário” e “Mostra-se triste ou
deprimido”.
A necessidade de avaliação dos fatores está associada ao
auxílio no planejamento das intervenções, no qual se têm os déficits
enquanto aspectos a superar, e os recursos, como ponto de apoio no
processo (BANDEIRA et al., 2009; DEL PRETTE et al., 2016).
Instrumento utilizado para entrevista
Para realização da entrevista com os pais/responsáveis, foi
elaborado um roteiro semiestruturado (APÊNDICE B), construído
em três versões:
167
1)
A primeira versão, formulada pela pesquisadora, com base em
Manzini (2003) e nos referenciais sobre os fenômenos investigados.
2)
A segunda versão, que considerou as opiniões das juízas.
3)
A terceira e última versão, realizada durante a disciplina “Coleta
de dados por meio de entrevistas e diálogos”. Ministrada na
FFC/UNESP de Marília pelo Prof. Dr. Eduardo José Manzini.
Na disciplina, foi feita uma análise coletiva do roteiro, o qual
se mostrou adequado, sendo consenso essa opinião em uma turma
de 17 estudantes de pós-graduação stricto sensu. As questões foram
avaliadas uma a uma, e discutidos aspectos como clareza, forma
gramatical, relevância, tamanho, ambiguidades, ordenação, vieses
manipulativos, entre outros. Estas foram ordenadas, de modo que as
respostas tivessem um encaminhamento minimamente lógico e as
questões mais delicadas fossem deixadas para o final, como sugerido
por Manzini (2003).
A entrevista foi usada para dar qualidade a aspectos avaliados
nos outros instrumentos e também para investigar a percepção dos
pais/responsáveis em relação aos estudantes, pois estes possuem
informações que não podem ser acessadas por meio de instrumentos
quantitativos.
[...] a entrevista pode ser concebida como um processo de
interação social, verbal e não verbal, que ocorre face a face, entre
um pesquisador, que tem um objetivo previamente definido, e
um entrevistado que, supostamente, possui a informação que
possibilita estudar o fenômeno em pauta, e cuja mediação
ocorre, principalmente, por meio da linguagem. (MANZINI,
2004, p. 09).
168
Assim, é necessário que atentemos para o caráter de interação
que permeia a entrevista, porque há uma atmosfera de influência
recíproca entre quem pergunta e quem responde.
Minayo (1996) assevera que o respondente deixa de ser um
indivíduo passivo, tomado como mero informante, e passa a
pertencer ao mundo real, dos conflitos, das relações e das interações.
Manzini (2004) divide com Minayo a visão de que o objeto das
Ciências Humanas é um sujeito interativo, motivado e intencional,
e não alguém que simplesmente fornece informações, alertando que
a investigação sobre esse sujeito não pode ignorar essas características
gerais, já que a interação social e a intersubjetividade são inevitáveis,
quando ocorre o ato de conversar.
Bourdieu (1999) assinala que há certa desigualdade, que
hierarquiza as posições de entrevistador e entrevistado, e permeia o
caráter da entrevista em pesquisas. Desse modo, propõe algumas
estratégias para minimizar a interferência, nesse aspecto. Como
primordial, é destacada a importância de o entrevistador “falar a
mesma língua” do entrevistado, a fim de evitar constrangimentos e
ensejar o estabelecimento de um clima amistoso.
A partir da visão dos autores citados, fica evidente que a
interação humana permeia toda e qualquer entrevista, desvela as
expectativas, os sentimentos, as preocupações dos atores envolvidos,
ou seja, o entrevistador e o entrevistado. Dessa maneira, o
entrevistador precisa garantir o máximo de credibilidade, firmando
uma relação de confiança, para que o entrevistado coopere com o
processo e lhe traga informações importantes.
169
Equipamentos
Como equipamentos, foram usados um gravador de voz
digital, para captação do som, e um notebook, para anotações sobre
comportamentos e posturas dos respondentes, nos momentos de
coleta de instrumentos autoaplicáveis e também para registro de
observações sobre expressões não verbais.
Procedimentos
Procedimentos de coleta dos dados
Os dados foram coletados nos meses de junho e julho de
2018, no G1, e nos meses de dezembro de 2018 e janeiro de 2019,
no G2, no Laboratório de Educação Especial da FFC/UNESP,
campus de Marília. A pesquisa foi desenvolvida em dois momentos:
1. Realização de um procedimento-piloto em cada grupo,
com a finalidade de adequação sociocultural, de
linguagem, de postura e dos próprios instrumentos. Os
participantes dos estudos-piloto não foram
contabilizados como sujeitos do estudo.
Após os estudos-piloto, foram feitas as adequações que
julgamos necessárias nos instrumentos não padronizados. Nesse
momento, foi excluído um questionamento da entrevista (“Você
pode me contar alguma história marcante sobre seu filho/neto?”) por
julgar que esse elemento seria naturalmente respondido em outros
momentos na entrevista; e também um questionamento foi
transformado em questão fechada, com vistas a alcançar maior
170
objetividade (“Já foi indicado para seu filho/neto algum
medicamento para controle de comportamento?”).
No G2, optamos por realizar primeiro a autoavaliação, a fim
de diminuir os aspectos ligados à ansiedade dos estudantes.
2. Aplicação dos instrumentos junto aos participantes.
Primeiramente, foi solicitado que os pais/responsáveis
respondessem aos instrumentos autoaplicáveis, sem especificar de
que fenômeno se tratava cada um deles.
A pesquisadora esteve presente no ambiente de aplicação, de
maneira discreta, durante esse tempo, para sanar possíveis dúvidas.
Caso fosse detectada alguma dificuldade, era dada assistência
individual, na qual era lido cada item e indicado onde e como o
respondente deveria anotar sua resposta.
Em um segundo momento, a pesquisadora retirava um deles
da sala, para proceder à coleta dos dados, com a entrevista, enquanto
uma psicóloga auxiliar da pesquisa aplicava o instrumento
psicométrico. Após isso, o processo foi realizado inversamente.
A autoavaliação do estudante foi feita depois da avaliação dos
pais/responsáveis no G1 e antes no G2.
Procedimentos de alise dos dados
Foram empregados procedimentos quantitativos e
qualitativos para a análise.
Os dados do questionário foram apresentados em tabelas e
dialogados com base na literatura e nos resultados dos outros
instrumentos.
171
O escore geral obtido por meio do CCAS foi computado e
discutido, em função de seus domínios: capacidade intelectual,
criatividade e domínio emocional. Quanto maior o escore, mais
presentes estão os comportamentos superdotados no estudante
(BARBOSA et al., 2008). O resultado é a soma de todos os itens,
atribuindo-se um ponto a cada resposta afirmativa e zero pontos a
cada resposta negativa.
A nota de corte do instrumento, para este estudo, foi
determinada no estudo-piloto do G1 (69,04%), posto que, na
literatura, é encontrada variação de 50 a 70%.
Nesse instrumento, foi considerado o escore total dos
estudantes, mas não desprezamos o fato de que algum domínio pode
apresentar menor número de indicadores que outro e fazer com que
o estudante não atinja o critério estabelecido.
Com relação ao instrumento de identificação de indicadores
de TDAH (MTA-SNAP IV), seguiremos o proposto por Mattos et
al. (2006) e pela APA (2014): a utilização do ponto de corte de seis
indicadores de desatenção e/ou seis de hiperatividade-impulsividade,
assinalados com bastante ou demais.
Os dados do SSRS foram analisados pela psicóloga, na
companhia da pesquisadora, com amparo na amostra normativa do
instrumento. Assim, foi possível descrever, avaliar, comparar e
correlacionar o repertório de habilidades sociais em cada um dos
fenômenos. A análise estatística dos resultados dos grupos foi
realizada com auxílio do programa Excel.
Os itens constantes no instrumento não serão divulgados em
sua totalidade, conforme as normas da Declaração do International
172
Test Commission (ITC), no uso de testes e outros instrumentos de
avaliação para fins de investigação científica (WECHSLER et al.,
2014) e no próprio manual (DEL PRETTE et al., 2016).
A escala de avaliação de habilidades sociais por
pais/responsáveis possui cinco fatores, e a escala de autoavaliação,
quatro. Cada fator contém de quatro a seis itens a serem
respondidos.
As classificações do instrumento, a partir dos percentis
calculados para a escala de habilidades sociais, são:
1-25: repertório abaixo da média inferior, com indicativo de
necessidade de intervenção;
26-35: repertório médio inferior, com resultados abaixo da média e
indicativo de necessidade de intervenção;
36-65: bom repertório, com resultados dentro da média;
66-75: repertório elaborado, com resultados acima da média; e
76-100: repertório altamente elaborado, com resultados acima da
média.
Na escala de avaliação de problemas de comportamento
por pais/responsáveis, são dois os fatores de avaliação, um com dez
itens e outro com cinco.
As classificações em função dos percentis para a escala de
problemas de comportamento são:
1-25: repertório muito baixo, com resultados abaixo da média;
26-35: repertório baixo, com resultados abaixo da média;
173
36-65: repertório mediano, com resultados dentro da média e
indicativo de atenção preventiva;
66-75: repertório médio, com resultados acima da média e
indicativo de necessidade de intervenção; e
76-100: repertório acima da média superior e indicativo de
necessidade de intervenção.
Vale ressaltar que a transformação dos dados em percentis é
guiada por parâmetros diferenciados para meninos e meninas, sendo
atribuídos zero pontos para a resposta “Nunca”, um ponto para
“Algumas vezes” e dois pontos para a resposta “Muito frequente”, a
fim de, posteriormente, calcular os escores de acordo com o manual
e a amostra normativa do instrumento.
Quanto à entrevista, a transcrição das falas foi feita
adequando-as às normas ortográficas e, para a montagem do corpus
de análise, foram utilizadas as normas elencadas por Marcuschi
(1986).
Quadro 9- Resumo explicativo das normas de Marcuschi
Fonte: Marcuschi (1986).
174
Além das normas de Marcuschi (1986), elencadas no
Quadro 9, e das normas ortográficas, foi necessário acrescentar o
parênteses simples, para indicar uma fala dentro da própria fala do
entrevistado e também o texto sublinhado, dando destaque dentro
do excerto.
A transcrição das falas foi iniciada no dia seguinte ao da
entrevista e retomada uma semana depois de sua finalização, para
uma segunda leitura, juntamente com a escuta do áudio e correção
do que julgamos necessário. Esse processo deixa a transcrição mais
fidedigna e é denominado, na literatura científica, por concordância
intrajuízes (DUARTE, 2004).
A análise de conteúdo das entrevistas foi efetuada
separadamente, nos dois grupos, levando-se em conta os
pressupostos de Bardin (2016). Essa autora torna possível uma
técnica de análise, por meio de procedimentos sistemáticos e
objetivos. Desse modo, foi permitido ingresso da pesquisadora em
questões mais subjetivas presentes nos participantes e inferências, de
acordo com os resultados dos instrumentos quantitativos.
Na primeira etapa, distinguida pela autora como pré-análise,
foi realizada a “leitura flutuante” (BARDIN, 2016, p. 126) das
transcrições das entrevistas e, assim, foi constituído o corpus a ser
submetido à análise. Para sua construção, foram respeitadas as regras
de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência.
Assim, buscamos, com várias leituras das transcrições, os elementos
necessários para complementar os dados obtidos nos instrumentos
quantitativos e responder aos questionamentos da pesquisa.
Na segunda etapa, chamada pela autora de “exploração do
material”, foram feitas novas leituras e identificados os temas
175
levantados, com base no roteiro da entrevista e na literatura pré-
existente.
Foram recortados, como unidade de análise, alguns dos
temas previstos no roteiro, mas também os que não haviam sido,
porém, surgiram na fala dos entrevistados. Seguindo os pressupostos
da autora, essas unidades de análise são agrupadas por critério
semântico, ou seja, categorias temáticas, e não em nível linguístico
(como palavras ou frases). A autora critica os critérios rigorosos e
objetivos de análise, mas argumenta que, em muitos casos, essa
correspondência acaba existindo, como “palavra-tema” e “frase e
unidade significante” (BARDIN, 2016, p. 134).
A categorização tem como objetivo fornecer uma “[...]
representação simplificada dos dados brutos.” (BARDIN, 2016, p.
149). A autora ressalta que essa categorização pode ser realizada de
duas maneiras diferentes: uma, na qual essas categorias existem
previamente e repartem os elementos, à medida que vão sendo
levantados, o chamado “procedimento por caixas”, e outra, na qual
o sistema de categorias é feito a posteriori e é resultante da
classificação progressiva dos elementos. É denominado
“procedimento por acervo”.
Na análise empreendida nesta pesquisa, foi usada uma
combinação dos dois processos supracitados, posto que, como já
frisado, as unidades de análise foram formadas a partir de alguns dos
temas previstos no roteiro, contudo, sem ignorar os que não estavam
previstos e surgiram na fala dos entrevistados.
Aqui, utilizaremos também a verificação da presença ou
ausência de determinadas categorias em cada grupo.
176
Para a determinação das categorias, foram consideradas a
exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade,
fidelidade e produtividade, respeitando-se os pressupostos de Bardin
(2016).
Embora tenhamos objetivado contemplar todos os
entrevistados em pelo menos um excerto, o número de categorias e
o número de excertos por participante acabam refletindo aspectos
como número de indicadores presente no estudante, vocabulário,
fluência verbal, predisposição para compartilhar as informações e
tempo de duração da entrevista.
Vale ressaltar que, ao adotar a técnica da análise de conteúdo,
muitas vezes não se tem relação do dado levantado e analisado com
o questionamento que incita a fala do entrevistado.
Procedemos, assim, à terceira etapa, de tratamento e
interpretação dos resultados obtidos. Os quadros de análise foram
montados separadamente, nos dois grupos (Quadros 11 e 12).
Pelas análises efetuadas em cada instrumento, foram traçadas
interpretações e inferências baseadas nas pesquisas anteriores na área,
com vistas à realização da triangulação dos resultados.
No capítulo seguinte, são apresentados e discutidos os
resultados obtidos com os procedimentos descritos anteriormente.
177
Resultados e discussão
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ ____________ _______________ _________
Procederemos, eno, à avaliação dos dois grupos. Além da
avaliação dos grupos, foram promovidas avaliações individuais dos
estudantes, quanto à desatenção, hiperatividade/impulsividade,
indicadores de Superdotação e habilidades sociais (APÊNDICE C e
APÊNDICE D).
Para melhor compreensão e preservação de sua identidade,
nessas avaliações, os estudantes foram identificados por nomes
fictícios. Estes estão expostos no Quadro 10.
Quadro 10 - Nomes fictícios dos estudantes nas avaliações individuais
G1 G2
E1
Augusto Adriano
E2
Emanuel Marcus
E3
Mateus Vinícius
E4
Douglas José
E5
Miguel Alice
E6
Eva Elisa
Fonte: Elaboração própria.
178
Estudo intragrupo - O Grupo 1
No estudo intragrupo, primeiramente será focalizada a
avaliação dos indicadores de Superdotação, seguida pela avaliação
dos indicadores de TDAH, da avaliação das habilidades sociais e
problemas de comportamento, e, por último a percepção dos
pais/responsáveis dos estudantes do G1.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Os resultados da avaliação dos indicadores de Superdotação
no G1 estão expostos na Tabela 3.
Tabela 3- Número e porcentagem de indicadores de Superdotação assinalados
pelos pais/responsáveis no G1
Participante
Número de
características
Porcentagem
(%)
M1
38
90,47
P1
27
64,28
M2
31
73,80
P2
29
69,04
M3
35
83,33
P3
38
90,47
M4
33
78,57
P4
34
80,95
M5
27
64,28
P5
35
83,33
M6
37
88,09
P6
34
80,95
Fonte: Elaboração própria.
No CCAS, foi notado que os pais dos estudantes E2, E3, E4
e E6 relataram, como representativos de Superdotação, um conjunto
179
de características acima do estabelecido neste estudo. Nos estudantes
E1 e E5, somente um dos responsáveis identificou um conjunto de
características que, aqui, definiria Superdotação, mas, quando
retiradas as médias das pontuações obtidas por cada estudante, esses
acabam atendendo ao critério do valor mínimo, que é de 69,04%.
A maioria dos respondentes avaliou o estudante com o tipo
misto de Superdotação, exceto M2, que avalia E2 com o tipo
acadêmico e P6, que avalia E6 com o tipo produtivo- criativo.
Portanto, no CCAS, foi constatado que, no grupo dos
estudantes precoces com comportamento superdotado, todos os
estudantes atingiram o critério estabelecido pelo instrumento.
Dois estudos, em âmbito nacional, os quais empregaram esse
mesmo instrumento foram o de Mendonça (2015) e Soares (2019).
O estudo de Mendonça (2015) identificou que, dos onze
estudantes com a hipótese de comportamento superdotado
avaliados, sete obtiveram escores acima do estabelecido como nota
de corte pela autora, que foi de 70%. A pesquisadora utilizou apenas
um dos pais/responsáveis como informante, complementando a
avaliação com as informações fornecidas pelos pares e professores.
Já Soares (2019), com vistas à avaliação de estudantes de uma
turma de ensino regular, verificou que dois, de dezessete estudantes,
cumpriam a nota de corte fixada pela autora, que foi de 50%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
O resultado das avaliações dos indicadores de TDAH no G1
está exposto na Tabela 4.
180
Tabela 4- Número de indicadores de TDAH identificados pelos
pais/responsáveis no G1
Participante
Número de
indicadores de
desatenção
assinalados com
“bastante” ou
“demais
Número de indicadores de
hiperatividade/impulsividade
assinalados com bastante” ou “demais
M1
0
0
P1
3
3
M2
5
8
P2
5
6
M3
4
2
P3
3
0
M4
0
0
P4
1
0
M5
3
4
P5
6
7
M6
4
5
P6
8
7
Fonte: Elaboração própria.
Como observado na Tabela 4, que contabiliza os dados
coletados por meio do SNAP- IV, um dos estudantes do G1 (E2)
exibe um indicativo considerável de TDAH de apresentação
hiperativa/impulsiva. Os estudantes E5 e E6 foram avaliados como
hiperativos do tipo misto, por somente um dos respondentes.
Quando consideradas as duas avaliações, E5 não cumpre os
critérios do instrumento para avaliação inicial do transtorno e E6
atinge o critério para a apresentação combinada do TDAH.
Na avaliação de indicadores de TDAH, constatou-se que os
pais tenderam a avaliar mais negativamente os estudantes do que as
181
mães, no que tange aos indicadores de desatenção, com a média das
mães de 2,7 e a média dos pais, de 4,3.
Por conseguinte, no grupo de estudantes precoces com
comportamento superdotado, E2 e E6 atingem os critérios
necessários à avaliação inicial de TDAH, ou seja, uma proporção de
3:1.
Na literatura, foi encontrada considerável variação na
identificação do TDAH em estudantes com comportamento
superdotado: de 3,1% (JAROSEWICH; STOCKING, 2002) a
66,7% (CORDEIRO et al., 2011) dos estudantes com
comportamento superdotado avaliados exibiram indicadores
suficientes para o diagnóstico inicial do transtorno. Essa variação nos
resultados se deve ao fato de não haver um critério único em todas
essas investigações, sendo que foram adotadas diferentes amostras e
informantes.
Entre os estudos, temos o de Chae, Kim e Noh (2003), para
quem essa incidência foi de 9,4%; Ourofino e Fleith (2005), que
identificaram 12%, e Niusha, Ganji e Sotodeh (2012), que
revelaram que 8% dos estudantes com comportamento superdotado
apresentava indicadores de TDAH. Com efeito, esses últimos
autores alertam para o fato de que o diagnóstico precoce desses
indicadores é imprescindível, pois podem afetar o rendimento desses
estudantes em todos os âmbitos.
Cramond (1994) indica que 26% dos estudantes altamente
criativos pesquisados atendiam aos critérios iniciais de avaliação do
TDAH.
182
A pesquisa de Cordeiro et al. (2011) obteve maiores índices,
salientando que dez dos quinze estudantes com comportamento
superdotado pesquisados atendiam aos critérios de avaliação inicial
do TDAH.
Avaliação de habilidades sociais e problemas de comportamento
no G1
Os resultados em escores da avaliação das habilidades sociais
no G1 estão expostos na Tabela 5.
Tabela 5- Escores geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na avaliação
por pais/responsáveis no G1
M1
P1
M2
P2
M3
P3
M4
P4
M5
P5
M6
P6
Escore Geral
80
85
85
85
45
60
35
30
50
55
25
20
Escore F1-
Responsabilidade
65
80
65
80
15
25
15
25
15
05
10
30
Escore F2- Autocontrole
90
90
70
55
85
85
55
50
70
85
30
01
Escore F3-
Afetividade/Cooperação
80
80
90
90
65
65
50
50
50
50
60
60
Escore F4- Desenvoltura
Social
40
40
100
85
10
40
55
25
75
85
85
85
Escore F5- Civilidade
100
100
70
100
100
100
70
45
100
70
10
20
Fonte: Elaboração própria.
Na Tabela 5, temos que dois estudantes apresentaram
repertório altamente elaborado de habilidades sociais (E1 e E2) e dois
(E3 e E5), repertório dentro da média da amostra normativa do
instrumento, avaliado como bom. Um estudante (E4) foi avaliado
com um repertório médio inferior em habilidades sociais e um (E6),
com um repertório abaixo da média inferior.
183
Na Tabela 6, temos as medidas de dispersão e de tendência
central dos escores geral e fatoriais na avaliação por pais/responsáveis
do G1.
Tabela 6- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na avaliação por pais/responsáveis
no G1
Fonte: Elaboração própria.
A Tabela 6 indica que G1 mostra um bom repertório de
habilidades sociais, com resultados dentro da média para a maior
parte dos itens ou equilíbrio entre os recursos e déficits, o que atende
às demandas básicas de interação com pares e adultos.
Corroborando nossos achados, Lehman e Erdwins (2004)
examinaram as habilidades sociais de uma amostra de 16 estudantes
com comportamento superdotado, tendo constatado que os
estudantes apresentavam boas habilidades sociais, sentimentos mais
positivos a respeito de si e maior maturidade nas interações, o que
revela que esses estudantes não seriam tão mal ajustados socialmente,
conforme muitos afirmam.
Vale ressaltar que pesquisas (HOLLINGWORTH, 1942;
GROSS, 2002; ALENCAR, 2007; NEIHART, 2008) para as quais
desajustes socioemocionais são mais passíveis de ser identificados em
184
estudantes com inteligência extremamente elevada, por exemplo,
com QI acima de 160, que pode impactar negativamente no seu
desenvolvimento socioemocional.
Evidencia-se também que maior mediana dos dados foi
identificada em civilidade. Na avaliação feita pelos pais/responsáveis,
G1 foi avaliado como tendo repertório altamente elaborado nesse
fator, indicativo de recursos interpessoais bastante satisfatórios,
indicando que apresentam comportamentos adequados às normas
de convívio social.
O autocontrole foi avaliado como elaborado e a
“afetividade/cooperação”, bem como a desenvoltura social foram
consideradas boas, com resultados dentro da média da amostra
normativa do instrumento.
Por sua vez, menor mediana foi encontrada nos dados sobre
a responsabilidade, com repertório abaixo da média inferior,
portanto, de modo geral, o grupo não exibe adequadamente
comportamentos que demonstram compromisso com tarefas e
regras preestabelecidas para atividades, segundo a avaliação dos
pais/responsáveis, necessitando de intervenção nesse item. As
avaliações com menor dispersão dos dados são as que dizem
respeito à “afetividade/cooperação” (Q3-Q1 = 30) e, com maior
dispersão, o fator responsabilidade (Q3-Q1 = 50).
É relevante enfatizar que a avaliação dessas habilidades está
intrinsecamente relacionada com o ambiente, porque cada sujeito
tem uma percepção diferenciada enquanto fonte de informação,
imbricada pelas subjetividades individuais, grau de exigência etc.
185
Na Tabela 7, temos os escores geral e fatoriais da escala de
habilidades sociais na autoavaliação do G1.
Tabela 7- Escores geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na
autoavaliação no G1
Fonte: Elaboração própria.
Segundo a Tabela 7, três estudantes se autoavaliaram com
um repertório altamente elaborado (E2, E3 e E4) e somente E1 se
autoavaliou com um repertório dentro da média da amostra
normativa do instrumento (bom). Um deles (E5) se autoavaliou
com um repertório médio inferior em habilidades sociais, ao passo
que E6 se autoavaliou com um repertório abaixo da média inferior.
Na Tabela 8, temos as medidas de dispersão e de tendência
central dos escores geral e fatoriais, na autoavaliação do G1.
Tabela 8- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na autoavaliação no G1
Fonte: Elaboração própria.
186
A Tabela 8 indica que, na autoavaliação, o G1 apresentou
um repertório geral avaliado como elaborado, com resultados acima
da média para a maior parte dos itens.
Evidencia-se, também, maior mediana dos dados em
“autocontrole/civilidade”, autoavaliada como elaborada.
Por sua vez, menor mediana foi encontrada no fator
“empatia/afetividade”, mas, ainda assim, avaliada com um bom
repertório.
As avaliações com menor variação dos dados são as que
dizem respeito à assertividade (Q3-Q1 = 20) e, com maior variação
dos dados, tem-se o fator responsabilidade (Q3-Q1 = 66). Tanto na
avaliação por pais/responsáveis quanto na autoavaliação, maior
variação foi identificada no fator responsabilidade, revelando que é
essa a habilidade que aparece como mais
heterogênea, quando
comparada às outras; por sua vez, a assertividade é o ponto com
maior converncia dos resultados.
Concordando com nossos resultados temos França-Freitas,
Del Prette e Del Prette (2014) e Loos-Sant’Ana e Trancoso (2014),
que encontraram no autorrelato dos estudantes, em sua maioria,
referências a boas habilidades sociais.
França-Freitas, Del Prette e Del Prette (2014) avaliaram 394
estudantes, de oito a doze anos, sendo 269 com comportamento
superdotado. Verificaram que os estudantes com comportamento
superdotado exibiram, no autorrelato, um repertório mais elaborado
que os sem comportamento superdotado. Com base nesse resultado,
os autores concluem que o desajustamento social e emocional, como
característica da Superdotação, é um mito.
187
Loos-Sant’Ana e Trancoso (2014) observaram 45
estudantes, de oito a 12 anos com comportamento superdotado,
sendo que apenas quatro deles relataram repertório abaixo da média
da amostra normativa do instrumento.
Ao comparar as avaliações de pais/responsáveis e estudantes,
quanto ao escore geral, o grupo foi avaliado com um bom repertório
pelos pais/responsáveis, e elaborado pelos estudantes.
A responsabilidade foi considerada abaixo da média inferior
pelos pais/responsáveis; em contraponto, os estudantes se
autoavaliaram com um bom repertório, nessa habilidade.
Com relação ao autocontrole e civilidade, esses são
mensurados separadamente, na avaliação dos pais/responsáveis, e
juntos, na autoavaliação. Na avaliação dos pais, o autocontrole foi
avaliado como elaborado, e a civilidade como altamente elaborada,
enquanto o fator autocontrole/civilidade foi autoavaliado como
altamente elaborado.
Procedemos ainda à avaliação dos problemas de
comportamento. Os resultados em termos de escores geral e fatoriais
estão expostos na Tabela 9.
Tabela 9- Escores geral e fatoriais da escala de problemas de comportamento no
G1.
Fonte: Elaboração própria.
188
Segundo a Tabela 9, E2 e E4 obtiveram escores dentro dos
resultados da amostra normativa e apresentaram um repertório
mediano. E3 demonstrou um repertório baixo para problemas de
comportamento e, em E1, esse foi considerado muito baixo.
E5 revelou repertório médio superior e E6, acima da média
superior, nos dois casos indicativo de necessidade de intervenção.
Na Tabela 10, estão expostas as medidas de dispersão e de
tendência central dos escores geral e fatoriais, da escala de problemas
de comportamento do G1.
Tabela 10- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de problemas de comportamento no G1
Fonte: Elaboração própria.
Com respeito a tais problemas, o grupo foi avaliado como
tendo um repertório mediano, com resultados dentro da média para
boa parte dos itens e equilíbrio entre recursos e déficits, um
indicativo de necessidade de atenção apenas preventiva.
Corroborando nossos achados, temos Gauck e Trommsdorff
(2009), que, ao comparar problemas de comportamento de 30
estudantes com comportamento superdotado e 24 sem, por meio da
autoavaliação, avaliação por pais e professores do mesmo
instrumento utilizado nesta pesquisa, concluíram que os resultados
189
não diferiram entre os dois grupos, com resultados na média da
amostra normativa do instrumento.
Examinando a Tabela 10, constata-se que a mediana dos
resultados que evidenciou maior resultado foi o escore geral. O fator
com menor mediana dos dados é o que diz respeito aos PC
externalizantes.
Com a análise dos dados desse grupo, é possível verificar um
perfil bastante heterogêneo, no que tange às habilidades sociais e
problemas de comportamento. Tanto na avaliação por pais quanto
na autoavaliação, há estudantes em todas as faixas, os quais exibem
desde um repertório altamente elaborado até um repertório abaixo
da média inferior.
Esses achados concordam com Neihart (1999), quando
ressalta que, enquanto estudos apontam os estudantes com
comportamento superdotado como mais avançados em seu ajuste
social, há os que relatam que certos subgrupos indicam mais
dificuldades sociais, desmitificando a ideia de que os estudantes com
comportamento superdotados são muito bem ou muito mal
ajustados socialmente.
O estudo comparativo de Borges Del Rosal, Hernández-
Jorge e Rodrigues-Naveiras (2011), desenvolvido com uma amostra
de 2374 estudantes, revelou que, embora os estudantes com
comportamento superdotado difiram significativamente em
competência acadêmica, não apresentaram diferenças significativas
em adaptação pessoal, social e escolar, o que levou os autores à
conclusão de que desajustes socioemocionais e inteligência são
variáveis independentes.
190
A percepção dos pais/responsáveis sobre os
fenômenos nos estudantes
A fim de investigar a percepção dos pais com relação ao
fenômeno nos estudantes, procederemos à análise da transcrição das
falas das entrevistas.
O tempo total das entrevistas do grupo foi de 5 horas e 12
minutos, sendo uma média de 26 minutos por participante. A
entrevista com menor tempo de duração foi a de P5, com 8,4
minutos, enquanto a de maior tempo foi a de M3, com 1 hora e 9
minutos.
Para a análise, foram construídas primeiramente três grandes
categorias: “Nível psicológico”, “Ensino-aprendizagem” e “Nível
social”, cada uma delas com suas subcategorias, conforme exposto no
Quadro 11.
Quadro 11- Quadro de análise do G1
12
NÍVEL PSICOLÓGICO
Precocidade
Memória
Criatividade e curiosidade
Senso crítico e de justiça
Perfeccionismo
Autocontrole
Ansiedade
Somatização
Perceptividade
Impulsividade
Desatenção
Sobre-excitabilidade psicomotora
Agressividade
Autonomia
Competitividade
Desorganização
12
Quadro de análise apresentado e discutido, durante a disciplina “Análise de dados por meio de
entrevistas e diálogos”, ministrada pelo Prof. Dr. Eduardo José Manzini, na FFC/UNESP de Marília.
continua
191
Sobre-excitabilidade emocional
Dissincronia
Preferências e envolvimento com as tarefas
Resiliência
ENSINO-
APRENDIZAGEM
Relacionamento com a escola
Facilidade na aprendizagem
Autodidatismo
NÍVEL
SOCIAL
Preferências quanto à idade
Empatia
Status social positivo
Ajustamento social
Bullying
Seletividade
Fonte: Elaboração própria
A categoria “Nível psicológico” foi suscitada principalmente
pelo questionamento 4.1 (“No seu ponto de vista, em que seu
filho/neto se diferencia das crianças da mesma idade?”) e subdividida
em “Precocidade”, “Memória”, “Criatividade e curiosidade”, “Senso
crítico e de justiça”, “Perfeccionismo”, “Autocontrole”,
“Ansiedade”, “Somatização”, “Perceptividade”, “Impulsividade”,
“Desatenção”, “Sobre-excitabilidade psicomotora”, “Agressividade”,
“Autonomia”, “Competitividade”, “Desorganização”, “Sobre-
excitabilidade emocional”, “Dissincronia”, “Preferências e
envolvimento com as tarefas” e “Resiliência”.
Aspectos relacionados à “Precocidade” no estudante foram
citados por 10 entrevistados. Dessas explanações, nove estão
associados à precocidade intelectual, como no caso de P2:
[...] a leitura dele (+) O jeito dele falar (3,0) /.../ a gente assiste
bastante Animal Planet, assim, ele::: Vai além das ideias, entendeu?
/.../ E ele começou a falar a respeito de animais híbridos (+) Aí eu
192
falei (Rapaz, onde você vai chegar?) O conhecimento da gente é
pouco, né” /.../ Ele se diferencia pelo vocabulário também /.../ Com
um aninho, um aninho e alguma coisa, ele já falava bem, bem
certinho. (P2)
Delou (2007) destaca que a expressão das habilidades desses
estudantes muitas vezes surpreende até os próprios pais, pois essas
não são treinadas e frequentemente não estão de acordo com a
cultura familiar mais próxima.
Também podemos dar destaque à fala de M3:
[...] na questão, é::: intelectual, ele sempre esteve à frente das
crianças da idade dele. Ele sempre aprendeu antes do tempo, é:::
da média, que a gente é::: considera a média /.../ ele tinha uma
situação que não conseguia compreender que ele estava adiantado.
Ele achava que os amigos estavam atrasados. Então, na educação
infantil, por exemplo, ele já estava alfabetizado e ele ficou
indignado que os colegas não sabiam escrever o próprio nome. E ele
se indignava e às vezes ele externalizava isso na sala, a indignação
dele. E isso incomodava, LÓGICO, os colegas (3,0) Aí nós tivemos
que explicar pra ele que ele é que estava sabendo algumas coisas que
ele ainda não deveria estar sabendo pela idade dele. (M3)
Constata-se, nessa fala, que a precocidade é preditora de
desajustes sociais e incompreensão da sua condição, quando
comparada aos pares.
Guimarães e Ourofino (2007) elencam o inconformismo
como um dos indicadores de criatividade.
Porém, a precocidade motora e biológica também foi
acrescentada em três casos, como no exemplo de P6:
193
Ah, desde sempre, né” /.../ Andando e falando, logo de início, né”
com 9, 10 meses. Foi muito precoce (2,0) Tanto que assustou,
porque, eu que já tenho dois meninos, eu tinha uma referência /.../
É:::, eu acho que ela estava com 1 pra 2 anos (+) que tirou fralda
/.../ Então foi tudo muito rápido /.../ nós estamos dando uma
injeção pra segurar a menstruação dela /.../ porque ela era pra
menstruar com 8 (++) faz 2 anos que ela está tomando injeção
mensal. Nós fomos na endocrinologista. (P6)
Sobre os estudantes com comportamento superdotado,
Winner (1998) ressalta que o desenvolvimento precoce perpassa não
somente os aspectos intelectivos dos estudantes, mas também os
biológicos e motores, acrescentando que a precocidade não é
garantia de Superdotação. Embora não haja consenso, a precocidade
é reconhecida como um indicador da Superdotação por muitos
pesquisadores (WINNER, 1998; GAMA, 2006; EXTREMIANA,
2000; MARTINS, 2013).
Para Delou (2007), crianças precoces na fala apresentam
vocabulário considerável em torno dos 12 meses. Formam frases
completas e dialogam claramente, impressionando as pessoas com
quem convivem. Também no andar sem ajuda de outros, há
registros de crianças que o fazem com oito, nove meses.
Essas habilidades desenvolvidas precocemente podem ser a
expressão de um potencial superior, ou não, podendo ser
simplesmente a prematuridade no desenvolvimento, estabilizando-
se com o passar do tempo e igualando-se aos estudantes da mesma
faixa etária. Contudo, independentemente e mais importante que
isso, essas características demandam um atendimento educacional
diferenciado (MARTINS, 2013).
194
Aspectos de “Memória” foram relatados por três
entrevistados, a exemplo de M2 e M5:
[...] muitas coisas (+) até quando a gente passava por um caminho,
depois você passava de novo, ele bem pequeno, falava (Olha, isso
aqui! Nós viemos tal dia (++) fizemos tal coisa), sabe? Ele lembra
(2,0) onde a gente passou, o que nós fizemos, como que foi, ele
lembra de::: de detalhes, de tudo. (M2)
Na memória (++) Lembra muito fácil das coisas (+) lembra
muito. (M5)
A memória muito destacada e capaz de reter muitas
informações sobre os temas de interesse é um dos indicadores da
Superdotação (RENZULLI; REIS, 1997; EXTREMIANA, 2000;
BRASIL, 2006; DELOU, 2007; SABATELLA, 2012). Segundo
Guimarães e Ourofino (2007), é manifestada pelo anel “habilidade
acima da média” do modelo teórico proposto por Renzulli (1986,
2004, 2014, 2018), de maneira que os estudantes do tipo acadêmico
são os que mais a apresentam e fazem uso no processo de
aprendizagem (RENZULLI; REIS, 1997; DELOU, 2010).
Muitos estudos investigam a relação entre medidas de
inteligência e memória. Ackerman, Beier e Boyle (2005), ao
realizarem um amplo estudo de meta-análise do período de 1872 a
2002, revelaram uma correlação positiva entre as medidas de
memória e capacidade geral.
Leikin, Paz-Baruch e Leikin (2013) corroboram esses
achados, pois, ao avaliar a memória de estudantes com
comportamento superdotado, frisam que estes demonstram maiores
195
medidas de memória de trabalho, quando comparados aos pares sem
esses comportamentos.
A “Criatividade e curiosidade” também estiveram presentes
nas falas; quatro entrevistados destacaram esses aspectos:
[...] ele é criativo, ele é curioso /.../ Aquela imaginação, assim (++)
Ele tem essa coisa de ficar imaginando as coisas, buscando sabe?
Muita coisa que não existe, ele fica imaginando. (Mãe a gente
poderia fazer isso, aquilo). (M2)
[...] (Mãe, você sabe porque que inventaram tal coisa? Mãe, você
sabe quem inventou? Mãe, você sabia? Vo sabia?) Entã:::o assim,
eu vou andando (+) fazendo minhas coisas e ele vai atrás falando.
E aí eu fico (Han, é! Uh, nossa!). Então (+) assim / coisas assim
que me surpreendem. (M3)
Para Renzulli (1986, 2014, 2018), a criatividade é uma das
características necessárias ao sujeito com comportamento
superdotado, sendo também tida como um indicador por outros
autores (RENZULLI; REIS, 1997; WINNER, 1998; DELOU,
2001; BRASIL, 2006; GUIMARÃES; OUROFINO, 2007;
OUROFINO, 2007; BRASIL, 2008a; SÃO PAULO, 2012). Com
efeito, há pesquisadores que concebem a curiosidade como
intrinsecamente relacionada à Superdotação e à criatividade, sendo
necessária ao desenvolvimento desse construto (TORRANCE,
1998; SMUTNY, 2001; BARBOSA et al., 2008) e uma das molas
propulsoras para o conhecimento.
Delou (2007), com relação às famílias de estudantes com
comportamento superdotado, salienta que há aquelas que vivem a
196
rotina de modo natural, o que permite a expressão espontânea de
pensamentos, emoções e potencialidades, que alimentam na criança a
busca pelas respostas às suas questões.
Sobre os estudos da área da criatividade associada à
Superdotação, Remoli e Capellini (2017), em uma revisão de
literatura de artigos de 2005 a 2015, concluíram que a maioria das
pesquisas sobre a temática são empíricas e visam a comparar a
criatividade de estudantes com comportamento superdotado e sem,
sublinhando que pouco tem sido feito no sentido de estimular a
capacidade criativa nesses estudantes, embora o parecer do
CNE/CBE 17/2001 (BRASIL, 2001b) garanta, em seu artigo 5º:
[...] professores capacitados para o atendimento às necessidades
educacionais especiais dos alunos e atividades de
aprofundamento e enriquecimento curriculares que favoreçam
aos alunos com AH/SD o desenvolvimento de suas
potencialidades criativas. (BRASIL, 2001b, n.p).
As autoras versam, também, que são muitas as formas de se
mensurar a criatividade, decorrendo em diferentes resultados;
ademais, alertam para a necessidade de padronização das medidas,
por meio de discussões e desenvolvimento de novos instrumentos.
O “Senso crítico e de justiça” foi uma das características mais
citadas no grupo, com oito entrevistados dando ênfase a esse aspecto.
Como exemplos, temos os trechos das transcrições das falas de M1
e M6:
[...] até hoje quando desenha ele é crítico. É como se fosse um
chargista (+) Rico em detalhes e sempre muito crítico. (P3)
197
[...] ela questiona tudo o que vê (+) ao mesmo tempo que::: às vezes
ela é::: de deixar a gente louca, ela é tão sensível (+) Assim, sabe?
Uma criança sensível. Justa (++) Que não gosta de injustiça,
sempre que aparece alguém na porta da minha casa pra pedir
alguma coisa assim, ela tem uma preocupação (+) (Não, mãe.
Vamos arrumar lá uma marmita. Vamos fazer alguma coisa. Mas
por que tem gente assim, por que acontece isso) /.../ esses dias
mesmo, ela me falou, pra mim e pro pai (Eu queria muito, muito)
achei tão bonito (sair e dar marmita para as pessoas à noite /.../
porque eles dormem no frio, né”) Que ao mesmo tempo que ela:::
(++) Ela é tão (++) Ela é tão intensa (++) Ela é tão intensa. (M6)
A literatura revela que os estudantes com comportamento
superdotado têm maior consciência de si mesmos, mostram senso de
justiça e desenvolvimento moral mais avançado que seus pares
(RENZULLI; REIS, 1997; ALENCAR, 2007; OUROFINO;
GUIMARÃES, 2007; MARTINS, 2013).
Segundo Silverman (2011), valores como honestidade,
justiça, questionamentos morais, preocupações globais e
sensibilidade são relatos comuns entre os estudantes com
comportamento superdotado. A despeito de existirem exceções, a
grande maioria dos 1800 estudantes avaliados em um centro para
estudantes com comportamento superdotado mostrou um alto grau
de sensibilidade moral, o qual contribui para a sua vulnerabilidade
no ambiente escolar, sendo muitas vezes vitimados pelo bullying e
nomeados como nerd, cdf etc., por terem maior senso de obrigação
com as tarefas acadêmicas.
Strip e Hirch (2000 apud PÉREZ; RODRIGUES, 2013)
assinalam que o que diferencia um estudante inteligente de um
estudante com comportamento superdotado é que o segundo se
198
preocupa com a justiça e equidade de uma forma mais global e
compreende a sutileza de questões morais e éticas mais facilmente.
O senso crítico, a capacidade de pensar e questionar
racionalmente o que se observa, também é amplamente reconhecido
como um indicador da Superdotação (DELOU, 2001; BRASIL,
2006; GAMA, 2006; MARTINS, 2013).
Fabio (2010) investigou as diferenças com relação ao
pensamento crítico, entre 24 estudantes, divididos em dois grupos:
com e sem comportamento superdotado. Para tal, analisou como os
grupos de estudantes se comportam, quando precisam fazer escolhas,
desvelando duas situações diferentes. Foram analisados fatores como
esclarecimento, análise, avaliação, inferência, entre outros. Os
resultados revelaram melhores resultados, em favor dos estudantes
com comportamento superdotado, no pensamento crítico, em
particular.
O “Perfeccionismo” foi relatado por três participantes, entre
eles M1 e M3.
Esse indicador foi identificado no relato dos
pais/responsáveis, sobretudo nos aspectos linguísticos, embora
também tenha aparecido nas produções artísticas.
[...] nunca foi de falar nada errado. E ele também não gosta que
fala errado (+) que se você falar errado, ele corrige. (M1)
[...] ele sofre muito quando alguém fala errado. Ele, é um
sofrimento pra ele mesmo, é como se ele tivesse sendo ferido. Então
já aconteceu muito comigo (++) dele me corrigir na frente das
pessoas e com outras pessoas (+) Às vezes eu encontrava um colega,
199
tudo, e começava a conversar com a pessoa (+) daqui a pouco a
pessoa falava uma palavra errada, e ele ((pigarro)) (É que não é
assim que fala. É assado). E eu (Filho FICA QUIETO!) E ele
(Mãe! Mas ele está falando errado! Como é que pode?) Então assim,
isso me causou muita vergonha. E até que ele foi crescendo (++) e
eu fui explicando que ele não podia ficar corrigindo todo mundo,
que era deselegante, né”. Quando eu encontrava alguém com ele,
eu procurava ou não dar muita conversa, e eu começava a falar,
falar, pra não deixar a pessoa falar muito, mas às vezes eu também
errava e ele me corrigia (++) aí a pessoa falava (Ó, que bonitinho!)
E eu pensava comigo (Bonitinho, até você falar alguma coisa
errada. Você vai ver, bonitinho!) ((risadas)). (M3)
É ampla a gama de pesquisadores que ressalta que o
perfeccionismo é um comportamento geralmente presente em
estudantes com comportamento superdotado, devido aos seus altos
níveis de autoexigência (RENZULLI; REIS, 1997;
EXTREMIANA, 2000; ALENCAR, 2007, GUIMARÃES;
OUROFINO, 2007; OUROFINO; GUIMARÃES, 2007;
SABATELLA, 2012; MARTINS, 2013). Salientam ainda
que essa tendência obstinada em fazer as coisas com perfeição,
quando excessiva, pode ser um preditor de frustração e ansiedade.
Para Schuler (2002, p. 71), o perfeccionismo diz respeito a “[...]
uma combinação de pensamentos e comportamentos geralmente
associados a altos padrões ou expectativas relacionadas ao
desempenho” e varia de normal ou saudável a neurótico ou não-
saudável.
Alencar (2007) afirma que, apesar de esse traço ser bastante
comum entre os estudantes com comportamento superdotado, a
maioria deles se autoavalia com o perfeccionismo saudável.
200
Aspectos relacionados ao “Autocontrole” foram destacados
por quatro entrevistados. Esse autocontrole é identificado tanto no
domínio das emoções, como no caso de M1, quanto no controle de
comportamentos, como em M5:
[...] tinha o ((nome de outro estudante do PAPCS)) no projeto que
irritava todo mundo (2,0) menos ele ((risadas)) menos ele, ele se
controla, fica na dele. (M1)
[...] (Ó, você está de castigo, você não vai pegar o celular agora) O
celular fica do lado dele, ele não pega, ele não põe a mão. Não
precisa esconder nada. Se tirar as coisas dele, não precisa esconder,
não precisa tirar da vista, porque ele não vai fazer escondido. Ele
se controla. (M5)
Segundo Oliveira, Barbosa e Alencar (2015), na Teoria da
Desintegração Positiva de Dabrowski, o autocontrole é considerado
um valor elevado de desintegração (nível IV). Durante o
desenvolvimento desse nível, o processo de crescimento torna-se
cada vez mais complexo e autônomo, de sorte que o conflito interno
diminui, à medida que a pessoa se torna mais autêntica.
Na avaliação das habilidades sociais, no G1, a maior
mediana dos resultados foi identificada nesse construto na
autoavaliação, quando comparado às outras habilidades avaliadas,
tendo o grupo evidenciado um repertório elaborado em
autocontrole, tanto na autoavaliação quanto na avaliação por
pais/responsáveis.
Em contraponto, Muammar (2015), em sua investigação
sobre inteligência e autocontrole em estudantes com
201
comportamento superdotado, verificou que essas variáveis não se
correlacionaram estatisticamente; com base nesse fato, o autor
afirma que esses são dois construtos independentes.
A “Ansiedade” foi citada na fala de dois entrevistados,
pais/responsáveis do mesmo estudante: M3 e P3.
[...] ele já teve problema de ansiedade, porque sempre queria
aprender mais e mais e mais e, aquilo que vinha nunca era
suficiente /.../ o que ele tinha acesso não conseguia saciar isso (++)
entã:::o a gente teve que tratar para se curar, ajudar ele segurar um
pouco a onda, né” /.../ Aí ele foi ficando tão ansioso, que de sentado
ele ajoelhou, de ajoelhado, ele foi se levantando. Ele queria que o
braço dele chegasse na frente pra falar pra ela (eu, PELO
AMOR DE DEUS! Eu!) Eu percebia a agitação dele, ele queria
falar na frente dos outros. (M3)
[...] ele tinha umas ansiedades quando ele tinha, acho que 5 (+)
um pouquinho mais (+) 6 anos (+) Ele teve uma dor no peito.
nós fomos no cardiologista (Vamos descartar?) (Vamos!) A gente
sabia que não era cardíaco /.../ Era ansiedade. E a psicóloga
ajudou a gente a trabalhar nessa ansiedade /.../ Era ansioso demais
(+) Agora está mais contido. (P3)
Para Terrassier (1999), a dissincronia entre o
desenvolvimento intelectual e a maturidade afetiva, comum nos
estudantes com comportamento superdotado, pode desencadear
ansiedade. Segundo o autor, isso acontece devido às reflexões sobre
os problemas enfrentados pela sociedade ou a partir de temas
geradores, com os quais ele ainda não sabe lidar, o que é corroborado
pelos achados de Webb et al. (2005).
202
Guignard, Jacquet e Lubart (2012) ressaltam que, apesar de
inúmeros autores relatarem perfeccionismo e ansiedade em
estudantes com comportamento superdotado, sua pesquisa, com 132
estudantes com comportamento superdotado e sem, por meio do
autorrelato, apontou para um paradoxo: o grupo dos estudantes com
comportamento superdotado obteve maiores escores
de
perfeccionismo, mas o mesmo vel de ansiedade, em estudantes da
sexta série. No entanto, em estudantes da quinta série, revelou o
mesmo grau de perfeccionismo e maiores níveis de ansiedade.
Assim, os autores concluem que a interação entre perfeccionismo e
ansiedade é mais complexa que uma relação linear, e outras variáveis
provavelmente intervêm nesses construtos.
Tordjman et al. (2018) partindo de suas experiências
clínicas, realizaram uma revisão de literatura e constataram que os
transtornos de ansiedade foram os mais significativos em estudantes
com comportamento superdotado, sendo que esses foram associados
ao alto potencial verbal, embora esse resultado não seja conclusivo,
nem se sabe se essa relação é mesmo causal, pois, ao mesmo tempo
que o alto potencial verbal pode desencadear ansiedade, a ansiedade
pode embotar a linguagem verbal. Concluindo, os autores afirmam
que mais importante é identificar as habilidades do estudante, com a
finalidade de utili-las como ponto de apoio ao processo
educacional ou terapêutico, que maiores avanços serão alcançados.
A “Somatização” foi relatada por dois participantes,
pais/responsáveis pelo mesmo estudante. São eles M3 e P3:
[...] e o TOC ele desenvolveu também por que ele pesquisava muito
/.../ sobre doença, bactérias /.../ ele descobriu, por exemplo, que
203
maçaneta e corrimão é algo muito contaminado (++) então ele não
queria mais tocar na maçaneta, no corrimão, ele abria porta com o
bumbum, com o cotovelo. E começou a lavar muito, muito as mãos
/.../ Ele desenvolve uns tique. Por exemplo, agora, ele está com um
que ele dá umas balançada assim ((balançando o corpo de um lado
para outro)), ele se aperta. Teve uma época que ele ficava assim, que
nem um ganso ((fazendo movimento com o pescoço pra frente e
para trás)). Agora ele tem esse tique de, como ele está aqui assim
((beliscando o próprio braço)) às vezes ele deixa de fazer as coisas
porque ele não consegue tirar a mão /.../ já conversamos com ele
sobre isso. Ele fala que não percebe, né”. (M3)
[...] eu tenho notado que ele transpira muito e mão (3,0) E::: E
fica, eu não sei se vocês perceberam no grupo, ele fica ((beliscando
o próprio braço direito)) Se toca (+) Aí, para o outro lado
((beliscando o braço esquerdo)). E fica assim, fica feio (++) se
perder o foco, ele está fazendo. Ele está lendo aqui, e ele tá::: Nós
já brigamos, já brigamos, aí o médico falou (Ah, deixa, se você:::,
se você apertar muito e ele vai continuar fazendo). (P3)
Tendo como base os pressupostos de Terrassier (1999) e
Webb et al. (2005), podemos constatar que, em E3, um dos temas
geradores de ansiedade relatados pelos pais, que culminou em
comportamentos somatizantes, foi o contato com imagens e
informações acerca da temática dos micro-organismos, conforme a
fala de M3.
Martins (2013) aponta, com base em uma revisão
bibliográfica, que a tendência à somatização é uma característica
recorrente nos estudantes com comportamento superdotado,
concordando com os achados de Vanmeerbeek et al. (2006), os quais
afirmam que esses estudantes são hipersensíveis e frequentemente
aparecem como candidatos a comportamentos somatizantes.
204
Para Sabatella (2012), os comportamentos somatizantes e as
alergias precisam ser investigados nos estudantes com
comportamento superdotado, pois ser muito inteligente pode
desencadear altos níveis de tensão e estresse.
A “Perceptividade”, capacidade de perceber ou de
compreender as coisas com facilidade, foi ressaltada por três
participantes. Para exemplificar, temos as falas de M4 e M6:
[...] eu acho que os gostos (++) A:: a visão que ele tem de mundo
(+) A percepção que ele tem das coisas. Eu acho que isso é o diferente
dos outros, das outras crianças. (M4)
[...] ela::: Também parava pra observar muito, sabe? Ela tem um
olhar observador diferente para as coisas /.../ E a forma de::: de
pensar. Eu acho que a visão que ela tem de mundo, hoje, é diferente
da nossa (++) Eu acho que ela o mundo de uma forma diferente.
Então, a::: a percepção de mundo dessas crianças é diferente da
nossa. Elas são especiais. (M6)
A perceptividade aguçada é uma característica recorrente em
estudantes com comportamento superdotado (RENZULLI; REIS,
1997; LANDAU, 2002; MARTINS, 2013). De acordo com Landau
(2002), essa perceptividade estaria relacionada à capacidade de
observar o mundo de modo livre de influências ou preconceitos,
examinar situações peculiares e identificar relação entre os fatos.
As explanações ligadas a comportamentos de
“Impulsividade”, “Desatenção” e “Sobre- excitabilidade
psicomotora” foram suscitadas, em sua totalidade, em resposta à
questão 1.1 (“Seu filho/neto já enfrentou ou enfrenta problemas na
205
escola? Se sim, quais?”), o que nos revela que comportamentos
impulsivos, desatentos e inquietos são preditores de desajustes, nesse
ambiente.
A “Impulsividade” foi relatada por três sujeitos
entrevistados, como no caso de P2 e M3:
[...] interrompe (Não! EU SEI!) (2,0) Às vezes, ele discorda da
professora (++) A gente teve bastante problema com isso (+) Ele
discordava do que a professora estava explicando (++) Ele tem o
ponto de vista dele e ele quer ir naquilo (++) Aconteceu bastante.
(P2)
[...] inscrevi ele e fomos pra essa semana de férias na biblioteca e
no dia de contação de histórias (++) e a moça contava envolvendo
as crianças na história. Entã:::o ela narrava um fato e daqui a
pouco, lá na frente, ela perguntava alguma coisa sobre aquele fato
que ela havia narrado, algum detalhe (2,0) Tipo::: (Ah, a princesa
foi encontrar um príncipe, linda, usava um anel, com uma pedra
não sei que cor) ela ia contando a história (+) Aí lá na frente
ela perguntava por exemplo que cor era, queria saber (lembra
daquele anel, crianças? Da cor da pedra do anel (++) que cor que
era mesmo?) Sabe? Aí toda vez que ela soltava uma pergunta (+)
ele puf respondia! Puf, respondia! Aí as crianças começaram a ficar
irritadas, porque as crianças levantavam a mão (EU, EU, EU!),
mas ele não esperava. Mal acabava a pergunta, ele, puf, aí ele. Aí
os meninos começaram (Ah, moleque chato! Deixa a gente falar
também! Ah professora! Esse moleque aqui, só ele que quer falar,
ele é muito chato!). (M3)
A impulsividade é um dos comportamentos considerados
comuns aos estudantes com comportamento superdotado e TDAH,
contudo, não ocorre em todos os contextos, dando-se
206
principalmente em momentos quando a criança domina o assunto e
não consegue esperar sua vez para falar, podendo ser considerada
intrometida pelos adultos e pelos pares (ALENCAR, 2007;
GUIMARÃES; OUROFINO, 2007; ORENDORF, 2009;
PÉREZ; RODRIGUES, 2013).
Desse modo, toda a intensidade presente nos estudantes com
comportamento superdotado não é canalizada positivamente, no
ambiente escolar, o qual, por sua vez, não atende às suas
necessidades, o que faz com que muitos estudantes desse público-
alvo não se adequem a esse ambiente.
A “Desatenção” apareceu na fala de um dos entrevistados
(P5). Este relata que a falta de atenção do estudante não é impeditiva
para a captação do conteúdo em sala de aula, mas que causava
problemas com a escola, o que fica claro em:
[...] Mesmo não prestando atenção. É::: Você acha que ele não está
prestando atenção (+) porque parece que ele não liga pra aula (++)
mas ele te dá a resposta. Entã:::o (+) Nesse sentido dele não prestar
atenção, foi chamado muito a atenção em escola. (P5)
Esses achados são corroborados por Pérez e Rodrigues
(2013), que enfatizam que comportamentos de desatenção podem
estrar presentes em estudantes com comportamento superdotado,
quando a atividade não é interessante para eles, mas também quando
a pessoa está muito envolvida na atividade de seu interesse e não se
atenta a atividades que não julga como importantes. A desatenção
também pode estar associada com a sobre-excitabilidade
207
imaginativa, comumente identificada nesses estudantes
(DABROWSKI, 1964).
Falas que aludem à “Sobre-excitabilidade psicomotora”
estiveram amplamente presentes nas entrevistas; assim, seis
entrevistados mencionam esses comportamentos. Podemos destacar
os excertos das transcrições das falas de P3 e P5. Constata-se, nessas
falas, que os comportamentos hiperativos aumentam de frequência,
em situações de desinteresse:
[...] ele começava a ir na mesa de um (+) na mesa de outro (+)
porque era pouco aquilo (++) Não entretia, não segurava ele. (P3)
A inquietude é o principal problema dele (3,0) Entã:::o isso a gente
sempre teve assim lá atrás algumas reclamações quanto a isso, né”.
Que ele não para, que ele vai brincar com o amiguinho na hora
que a professora tá explicando (++) Esse tipo de coisa. (P5)
A sobre-excitabilidade psicomotora é frequentemente
identificada nos estudantes com comportamento superdotado
(DABROWSKI, 1964, 1970; OUROFINO, 2006, 2007;
OLIVEIRA; BARBOSA; ALENCAR, 2015), bem como o alto nível
de energia, também considerado um indicador comum nesses
estudantes (BRASIL, 2006; OUROFINO, 2007; SABATELLA,
2012).
Para Lind (2011), essa excitabilidade exacerbada do sistema
neuromuscular pode ser evidenciada pela capacidade de ser ativo e
energético, amor ao movimento por si só, excedente energético
revelado pela fala rápida, entusiasmo, atividade física intensa e
necessidade de ação. Esse parece ser o indicador com maior potencial
208
de confundir os profissionais, durante o processo de identificação
diferencial da Superdotação e do TDAH.
Algumas estratégias de manejo recomendadas pela mesma
autora são: reserve tempo para atividades físicas ou verbais, antes,
durante e depois dos afazeres escolares, certificando-se de que essas
não perturbem ou atrapalhem as pessoas ao redor, e proporcione
tempo para espontaneidade, como atividades abertas e de roda livre.
A “Agressividade” foi um aspecto destacado por quatro
entrevistados. Essas respostas foram suscitadas por dois
questionamentos 1.1 (“Seu filho/neto já enfrentou ou enfrenta
problemas na escola? Se sim, quais?”) e 1.2 (“Como é o
relacionamento do seu filho/neto com os colegas de escola?”).
Esses comportamentos agressivos são principalmente
atribuídos a uma dificuldade de lidar com as frustrações e acontecem
sobretudo no âmbito da escola, como no caso de M3 e M6:
[...] chamavam ele de chato, o que deixava ele extremamente
irritado, a ponto até de agressão. Teve uma vez que ele agrediu a
melhor amiga com um tapa no rosto (2,0) e uma outra vez, ele
agrediu uma outra amiguinha também, é::: com (3,0) porque é:::
eles foram brincar na atividade de forca e ele sabia todas as
palavras e as meninas começaram a falar pra ele que ele não podia
mais falar, que ele era um chato (+) que ele que brincava desse
jeito /.../ E aí ele esbofeteou uma lá e enforcou a outra. (M3)
[...] desde o maternal. Muito. É::: Problema de comportamento.
É::: Eu acho que ela não era compreendida muitas vezes pelas
outras crianças, ficava frustrada, irritavam ela e ela batia. Daí,
daí a gente começou com terapia e ela entendeu que ela não
precisava bater (+) Que, que ela podia falar (Ah, eu estou com
209
raiva. Eu estou tananã) então começou a demonstrar o sentimento
através da fala. (M6)
Autores como Martins e Chacon (2016) e Câmara (1999)
assinalam que a baixa tolerância à frustração é uma característica de
indivíduos com comportamento superdotado, o que pode resultar
em comportamentos agressivos.
Segundo Landau (2002), a agressividade é uma característica
do indivíduo criativo. Conforme a autora, para compreender a
agressividade
13
, geralmente vista como uma resposta destrutiva ao
sentimento de frustração, é preciso buscar uma opção mais acertada
para cada situação, pois muitas vezes reprimir essa agressividade
(entendida por ela como potência necessária ao agir), pode significar
levar o indivíduo a uma sensação de fraqueza e impotência, perante
os desafios da vida, fato que pode provocar um estado paranoide ou
neurótico, que se expressa no seu relacionamento interno e externo.
Assim, devemos ensinar os estudantes com comportamento
superdotado a reagir de modo construtivo diante de um problema,
com vistas à superação dos obstáculos, que suas reações não precisem
terminar necessariamente em frustração, mas também não evoluam
para um comportamento destrutivo.
A “Autonomia” foi destacada por dois participantes: no caso
de P1, em resposta à questão 4.1 (“No seu ponto de vista, em que
seu filho/neto se diferencia das crianças da mesma idade?”).
13
Aqui caracterizada como comportamento inato ou aprendido, ação ou reação, força impulsiva ou
violência condicionada (LANDAU, 2002).
210
[...] e o fato de estudar de manhã é uma escolha dele também.
Porque ele não aceita estudar à tarde. Aí ele fala (Não, eu prefiro
já ir cumprir minha obrigação) /.../ eu acho que ele tem essa
responsabilidade. (P1)
E, em M4, trata-se de resposta ao questionamento 3.2 (“Em quais
atividades ele se envolve com a família?”).
[...] é::: A tarefa, ele faz sozinho, sempre fez sozinho. Nunca pede
ajuda (++) a não ser, assim, quando tem que comprar algum
material, né” /.../ a gente não fica nem sabendo como que é feito,
como que não é::: Porque ele não pede ajuda da gente pra nada. E
também está naquela fase, né, tipo (Pai e mãe não sabe de nada).
Se antes, ele já fazia isso com 3, 4 aninhos, agora, com 11
((risadas)) Agora que pai e mãe não sabe nada mesmo. (M4)
A independência e a autonomia, tanto no pensar quanto no
agir, são salientadas como indicadores da Superdotação por uma
ampla gama de pesquisadores da área (EXTREMIANA, 2000;
BRASIL, 2006; PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SAN’ANA-
LOOS, 2014).
Esses estudantes geralmente buscam sua autonomia e
independência e gostam de poder executar as tarefas propostas por si
mesmos e ter suas ideias valorizadas. Um plano de ensino
individualizado e o trabalho por meio de pesquisas possibilitam ao
estudante, no exercício de sua autonomia, organização do tempo e
amadurecimento de metas e ideias (BRASIL, 2006).
As falas que aludem à “Competitividade” foram encontradas
em duas entrevistas e suscitadas pela questão 1.3 (“Seu filho/neto
gosta de ir à escola?”).
211
[...] porque, principalmente por ele ser competitivo, muitas vezes
ele::: ele vai perceber quando ele for ficando pra trás /.../ ele vai
desesperar (++) e falar (Não, eu acho que chegou a hora de eu
estudar). (P1)
[...] agora os professores são mais descolados, pra adolescente, então
desafiam eles, fazem competições. Então ele vai ((para a escola)) ele
gosta muito, ele não gosta de faltar. (M3)
Muitas pesquisas demonstram que esse é um
comportamento recorrente nos estudantes com comportamento
superdotado (OUROFINO; GUIMARÃES, 2007; MARTINS,
2013). Ourofino e Guimarães (2007) versam que o excesso de
competitividade é preditor de desajustes, no ambiente escolar e com
os pares.
Li e Adamson (1992) realizaram uma investigação sobre os
estilos de aprendizagem preferidos de 169 estudantes do Ensino
Médio com comportamento superdotado. Esses estudantes foram
avaliados nas disciplinas de Ciências, Matemática e Inglês, e, com
base nos resultados de instrumentos padronizados, os autores
afirmam que o estilo cooperativo não foi o preferido nem pelos
meninos, nem pelas meninas. Em Matemática, os meninos são mais
individualistas e competitivos, e as meninas preferem o estilo
individualista. Em função desses resultados, concluem que os
meninos parecem ser mais competitivos que as meninas.
A “Desorganização” teve a mesma representatividade da
competitividade, nas falas, e tendo sido destacada por dois
participantes. Essas falas foram suscitadas pelo questionamento 3.1
(“Como é o relacionamento com os familiares com quem convive
diariamente?”).
212
[...] ele é extremamente desorganizado. Ele não dá a menor
importância pra aquilo que não é de interesse dele, não quer saber,
ele::: Por exemplo (2,0) o quarto dele, se ele pude:::sse (++) é que
eu não deixo, mas era tudo um amontoado de coisa lá, sabe aqueles
acumuladores? (M3)
[...] deixa tudo bagunçado e vai pra outra coisa (+) bagunceira,
ela é até hoje. (P6)
Contrariando o senso comum, os estudantes com
comportamento superdotado não são nem um pouco caprichosos, e
a desorganização é um comportamento frequente neles.
Confirmando esse fato, temos os achados de Martins (2013) e
Guimarães e Ourofino (2007). Esses últimos versam que, para além
de serem esses desorganizados, são acumuladores e colecionadores,
mas são capazes de saber se alguma coisa for removida. para Webb
e Latimer (1993) e Willard-Holt (1999), esse comportamento
aparece mais destacado em momentos nos quais o estudante está
desmotivado.
As falas que remetem à “Sobre-excitabilidade emocional”
apareceram em três entrevistas. Essas foram suscitadas pelo
questionamento 1.2 (“Como é o relacionamento do seu filho/neto
com os colegas de escola?”). Destacamos aqui as falas de M4 e P6:
[...] ele é muito sentimental. Muito. Acho que ele tem (++) Ele é
muito imaturo emocionalmente. Isso, eu vejo que ele tá::: Não
sei se abaixo do nível das crianças, porque eu não convivo com os
outros, né”. Não sei se é porque ele tá::: (2,0) Mas, mas isso, eu
sempre via nele, que ele tem o emocional muito::: Não sei dizer se
é::: abalado, mas ele (++) Ele se magoa muito fácil (+) Ele guarda
muito fácil. Tem coisa que ele o abre mão (Não, fulano falou
213
aquilo, então (++) Pra mim, não ) (Filho, mas não é assim!). Eu
acho também, que é porque passou, ele passou por muitas
experiências que adulto não passou (+) mas tem coisas que a vida
precisa ainda, né” (2,0) precisa aprender a lidar com a dor. (M4)
[...] porque::: Tipo::: (Ninguém gosta de mim) tal, vira e mexe,
partia pra isso (+) entendeu? Então os últimos problemas foram
esses /.../ Principalmente, na escola, a gente não percebe tanto ((a
Superdotação no âmbito acadêmico)) porque ela foi acelerada.
Entã:::o (2,0) mas só que é o negócio, o emocional não, né”. Então
surta, né”. Tanto que nós temos grandes problemas (++) vira e
mexe tem, principalmente nesse grupo de crianças, que são 80
crianças da igreja, né”, então não conta. Vira e mexe, tem um
entrevero. (P6)
Esses dados nos revelam comportamentos de intensidade e
sobre-excitabilidade emocional (DABROWSKI, 1964, 1970;
RENZULLI; REIS, 1997; OUROFINO, 2006, 2007; OLIVEIRA;
BARBOSA; ALENCAR, 2015), também denominados super-
reatividade e sensibilidade, por outros autores (WINNER, 1998;
PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SAN’ANA-LOOS, 2014).
Segundo os últimos, a Superdotação está intrinsecamente ligada à
esfera emocional, de sorte que compreender melhor essa afetividade
pode nos oferecer pistas sobre o que vem a ser, de fato, esse
fenômeno.
Strip e Hirch (2000 apud PÉREZ; RODRIGUES, 2013)
asseveram que o aspecto emocional do estudante com
comportamento superdotado se diferencia dos sem comportamento
superdotado, justamente por esses experimentarem os sentimentos
de forma mais profunda, por vezes excessiva, causando prejuízos.
214
De acordo com Lind (2011), essa sobre-excitabilidade é
expressa como um experiência intensificada positiva ou negativa,
oriunda de um dos cinco sentidos (paladar, olfato, visão, audição e
tato), o que proporciona experiências mais expansivas. Essa sobre-
excitabilidade decorre de apreciação precoce de prazeres estéticos,
como música, perfumaria, arte, gastronomia etc.; geralmente, são
crianças que retiram as etiquetas das roupas e que reclamam de
odores estranhos, por exemplo.
Como estratégia de manejo, a mesma autora ressalta a
necessidade de limitar o ambiente de estímulos ofensivos, oferecer
oportunidade para que o estudante ocupe o centro das atenções, com
criações e apresentações dramáticas, reservar um tempo para que o
estudante aproveite seus sentidos mais apurados, de maneira positiva
e relaxante.
A “Dissincronia” apresentada pelo estudante foi relatada por
um entrevistado (P4). Essa foi suscitada pelo questionamento 4.2
(“Para você o que significa ser uma criança superdotada?”).
Ahhh eu acho que ele se destaca em muitas coisas (2,0) mas (+) o
tudo (+) Não sei. Acho que, 90% se destacaria, né” Entendeu? De
um que sabe fazer uma coisa, e outro que não (++). Por exemplo
(2,0) ele não (++) ele aprendeu a pular com o irmão dele ((que é
mais novo)). Ele não sabia pular. Ele pulava com um pé só, não
tirava o outro pé do chão. Daí eu olhava e falava (Esse aí que é o
super inteligente? Não sabe nem pular?). (P4)
Essa fala reflete claramente uma defasagem entre o
desenvolvimento intelectual e o psicomotor, comum nos estudantes
com comportamento superdotado, a dissincronia interna
investigada por Terrassier (1999) e nomeada por assincronia por
215
Winner (1998) e Silverman (2002). Ourofino e Guimarães (2007)
definem o fenômeno da Superdotação justamente por essa
dissincronia, enquanto Silverman (2002) alerta que, quanto maior o
grau de assincronia, maior a probabilidade de desajustamento social
e emocional do estudante.
Alencar (2007) afirma que é comum a família esperar
comportamentos típicos de uma criança mais velha, por causa das
capacidades intelectuais, o que muitas vezes pode não ocorrer,
gerando subentendimento, tanto por parte dos pais/responsáveis
quanto por parte do próprio indivíduo com comportamento
superdotado.
Nove entrevistados mencionaram as “Preferências e
envolvimento com as tarefas” do estudante. Esses aspectos foram
desencadeados pelos questionamentos 3.2 (“Em quais atividades ele
se envolve com a família?”) e 3.3 (“Em quais atividades ele se envolve
sozinho?”). Atividades de leitura e jogos que exigem certo esforço
cognitivo foram fortemente presentes e relatadas por sete deles. Para
exemplificar, temos o trecho da transcrição da fala de M3:
[...] ele gosta muito de jogar xadrez (++) então sempre ele está com
o tabuleiro debaixo do braço, procurando alguém pra jogar com
ele. Mas o único que joga é o pai, porque é o único que sabe /.../ ele
gosta muito às vezes de ler e ficar perguntando pra gente, por
exemplo, invenções, criações. Então, assim, é, eu acho que seria mais
sozinho é ler e se fechar no mundinho dele (++) tocar o teclado
de:::le (2,0) E pesquisa, né”. Quando ele está muito quieto (2,0)
está no computador, ele está pesquisando alguma coisa. (M3)
O interesse por livros e outras fontes de conhecimento é
considerado um indicador de Superdotação por muitos referenciais
216
(RENZULLI; REIS, 1997; EXTREMIANA, 2000; BRASIL, 2006;
BARBOSA et al., 2008; DANIELS, 2009), assim como o estudante
demonstrar prazer em planejar e montar quebra-cabeças e
problemas, em forma de jogos, é um dos indicadores apontados por
Delou (2001) e Martins (2013).
As atividades artísticas foram citadas em quatro casos, como
no excerto de M6:
[...] ela faz tudo que for manual. Então ela pinta (+) ela desenha.
Desenha bem. Ela (+) Gosta de mexer com tinta (+) Ela gosta de
biscuit (+) de massinha, de tudo que::: / de costurar. Eu comprei
uma máquina de costura pra ela. Pra ela. Porque::: Ah (+) se ela
gosta, né”. Ela não é::: Uma menina que para pra ler livros assim,
não.o (+) Não. Então, eu acho que ela não (+) Ela não vai ser
aquela pessoa que fica lendo livros, dentro de casa. (M6)
Para Delou (2007), encorajar o desenvolvimento da
Superdotação nas artes é uma forma de investir no capital social.
Quando as famílias agem dessa maneira, estão contribuindo para
uma sociedade melhor, pois essas habilidades aparecem primeiro no
seio familiar, e não se deve esperar que a sociedade primeiro
reconheça sua importância para, enfim, estimulá-las.
Apesar de essas habilidades terem sido valorizadas,
historicamente, antes mesmo que as habilidades acadêmicas, nos dias
de hoje, aquelas não estão sendo valorizadas e estimuladas no
currículo escolar como deveriam (GAMA, 2006).
A “Resiliência” toma parte na fala de dois entrevistados.
Essas falas foram desencadeadas pelo questionamento 2.4 (“Você
217
acredita que seu filho/neto já sofreu, ou sofre, preconceito devido ao
fato de ser diferente em suas características?”).
[...] ele não liga (++) acontece ali na hora, mas ele tira de letra.
(P1)
[...] ele não se preocupa, mas ele::: Eu acho que isso é duro (++)
Mas, ele não se apega muito a isso, sabe? Ele sabe que ele é diferente
(+) mas ele não se apega muito. (M2)
Paludo, Loos-Sant’Ana e San’Ana-Loos (2014) ressaltam
que, durante o percurso de vida, acontecem variadas experiências
com o ser humano, inclusive as consideradas desagradáveis, das quais
as pessoas tendem a se esquivar, devido às consequências. Para os
autores, esse tipo de experiência, apesar de negativo, é extremamente
necessário ao amadurecimento e desenvolvimento. Segundo eles,
pessoas que vivenciam esse tipo de situação e se fortalecem, gerando
novas possibilidades de ajustamento, são as chamadas resilientes.
Também afirmam que muitas características indicadoras da
Superdotação são também promotoras de maior resiliência, como
autonomia, flexibilidade, empatia, criatividade, capacidade
intelectual, senso de humor, motivação, habilidade para resolver
problemas etc. Isso pressupõe que esses sejam mais resilientes.
Complementarmente a isso, Ourofino e Guimarães (2007)
salientam que os estudantes com comportamento superdotado
podem, com certeza, ser mais resilientes, mas, por outro lado, quando
suas necessidades não são atendidas, eles podem se apresentar
descontentes, frustrados e ansiosos.
218
Explanados os aspectos de “Nível psicológico” do estudante,
presentes nas falas dos pais, vamos à segunda categoria, que é
relacionada aos aspectos de “Ensino-aprendizagem”. Primeiramente,
dissertaremos sobre o “Relacionamento com a escola”, depois,
comentaremos a “Facilidade de aprendizagem” e o
“Autodidatismo”.
No tocante ao “Relacionamento com a escola”, foram
destacados, praticamente na mesma proporção, aspectos positivos
(seis participantes) e negativos (sete participantes). Os aspectos
positivos foram suscitados principalmente pelo questionamento 1.3
(“Seu filho/neto gosta de ir à escola?”) e os negativos, pelo 1.1 (“Seu
filho/neto já enfrentou ou enfrenta problemas na escola? Se sim,
quais?”).
Dos aspectos positivos, temos as transcrições de trechos das
falas de P5 e P6:
[...] sim (+) No contexto geral, sim (+) sem dúvida, ele adora ir à
escola. Que nessa faixa etária, pra eles, a escola é até uma parte pra
poder brincar, vamos dizer assim, né. (P5)
[...] gosta sim (++) Principalmente eu, estou gostando muito da
escola dela agora, é o melhor/ é o último ano, inclusive, que é o
quinto ano. É::: porque nós tínhamos uma sintonia (+) Faz aqui
que eu faço em casa, vamos tutorando. (P6)
A fala de P6 acrescenta ao sentimento positivo, em relação à
escola, a necessidade de um trabalho colaborativo, entre a escola e a
família, para que esta se sinta amparada e apoiada no processo de
desenvolvimento acadêmico e socioemocional do estudante,
219
necessidade corroborada pela literatura da área (FLEITH, 2007;
DELOU, 2007).
Quanto aos aspectos negativos, destacamos as falas de M4 e
M5:
[...] então assim (2,0) eu era sempre chamada na escola nesse
sentido (O que está acontecendo com ele, mãe? O que ele está
assistindo? Por que ele faz essas perguntas?) né”. Então era sempre
nesse sentido /.../ Quando ele foi pro primeiro ano (++) pro ensino
fundamental (+) da rede pública (++) Ahhh nas primeiras
semanas, ele já começou a::: / Prime:::ira semana, ele não queria
ir pra escola. E aí, depois de, no primeiro semestre (+) acho que
uns dois ou três meses, a professora dele me ligava direto pra ir buscar
/.../ porque está passando mal, porque está com ânsia de vômito,
porque está com dor de barriga (2,0) To:::do dia ele tinha um
motivo pra não ir pra escola. E aí insistimos, insistimos (++) ele
falava que a escola era chata (+) que ele já sabia de tudo que tinha
pra saber e nananã. (M4)
Contata-se que a dissincronia social é um dos motivos de
desajustes na escola, de acordo com os achados de Terrassier (1999).
O fato de o estudante apresentar interesses diferentes dos pares
etários era motivo de estranhamento, por parte dos professores,
como relata a mãe, posto que essas dificuldades encontradas faziam
com que o estudante desenvolvesse estratégias de fuga e
comportamentos de resistência àquele ambiente.
Já em M5, os pontos negativos, atribuídos à escola, são
relacionados principalmente a problemas de ajustamento e punições
aos comportamentos inadequados e ao alto nível de atividade do
estudante.
220
[...] teve bastante problema em relação à bagunça, né” Porque:::
ele não para / assim / no primeiro ano, quase toda semana, eu era
chamada na escola por conta de::: Bagunça mesmo. Ia tomar o
lanche na coordenação todo dia (3,0) Complicado. (M5)
De modo geral, um dos fatores que pode impedir um bom
relacionamento desses estudantes com a escola é o atendimento de
suas necessidades educativas especiais, o que promoveria a
diminuição dos comportamentos inadequados. Apesar de os pontos
negativos e positivos da escola terem sido enfocados nas falas, na
mesma proporção, no questionário fechado, oito respondentes do
grupo afirmaram que o estudante gosta muito de ir à escola e quatro
que não se anima muito, mas sabe que deve ir. Nenhum dos
informantes assinalou a opção “não gosta”. Trata-se de fato
constatado por outras pesquisas, as quais destacam que, apesar dos
muitos desajustes que podem estar presentes nesse ambiente, os
estudantes com comportamento superdotado gostam de ir à escola
(MARTINS, 2013; MARTINS, CHACON, 2016).
No que tange à “Facilidade na aprendizagem”, verificou-se
que esta foi citada por nove dos 12 entrevistados. Os pais revelam
que, devido à facilidade de aprendizagem, os estudantes ficam
muitas vezes ociosos, como é explanado na fala de P1.
Ele capta as coisas com mais facilidade. E ele muitas vezes termina
de fazer a::: a obrigação da classe e fica ocioso. E aguardando os
outros. Aí nesse período, ele dormia, ele ficava lá com sono. (P1)
221
A fala de alguns pais também nos revela que essa facilidade
de aprendizagem muitas vezes só ocorre quando está na área de
interesse, conforme o caso de P2:
Ele aprende mais rápido, ele::: / Mas assim, coisa que é do interesse
dele, né” Uma coisa que você vai explicar pra ele, que você vai falar
pra ele, que não é do interesse dele, da cabeça dele, ele não dá muita
atenção (2,0) ele não tem intenção de aprender (+) Mas você entra
no assunto que ele curte, onde ele tem interesse, ele vai (++).
Conversa de ((fazendo sinal de vai e vem com as mãos)) com você,
como se tivesse um adulto conversando. (P2)
É consenso na literatura que a facilidade de aprendizagem é
um dos indicadores da Superdotação (EXTREMIANA, 2000;
ALENCAR, 2007; OUROFINO; GUIMARÃES, 2007; BRASIL,
2006; BRASIL, 2008b; MARTINS, 2013), embora tenhamos de ter
consciência que há casos nos quais o rendimento escolar pode se
apresentar abaixo do esperado, em razão de questões ambientais ou
da dupla excepcionalidade.
O “Autodidatismo” esteve presente nas falas de quatro
entrevistados., segundo se no caso de M3 e P4:
[...] ele é autodidata (+) eu penso que se não existisse escola, ele
aprenderia do mesmo jeito, porque hoje têm muitas fontes (+)
mesmo antes da internet, ele ainda muito pequeno, ele já gostava
de frequentar biblioteca (+) ele já usava os livros para pesquisar,
ele gosta muito de ler (++) Entã:::o, assim (3,0) eu vejo a escola
como algo que ele precisa para se socializar, ele tem que passar por
aquilo (+) mas como sendo uma criança superdotada (+) talvez ele
nem precisasse da escola para poder, é::: aprender, para poder se
profissionalizar pra esse futuro, né”. (M3)
222
[...] e assim, eu estou admirado porque o violão, o professor dele
morreu, né”, no ano passado. E::: Aí, ficou um tempo sem (Ah,
violão, acho que::: não vai mais) Aí agora ele pega e está começando
a tirar as música sozinho, sem professor (+) sem nada (Poxa, que
legal, cara). É diferente. (P4)
Para Winner (1998), o estudante com comportamento
superdotado, em grande parte do tempo, é um buscador de
estímulos, sendo capaz de ensinar a si mesmo; todavia, é necessário
esclarecer que o autodidatismo não é sinônimo de Superdotação e
que muitos estudantes, se não forem estimulados em suas
habilidades, podem vir a malograr, fato que se relaciona com o mito
de que esses estudantes não precisam de mediação, pois já nasceram
agraciados com um potencial superior (WINNER, 1998; RECH;
FREITAS, 2006).
Explanados os aspectos relacionados ao “Ensino-
aprendizagem”, passamos à análise dos aspectos de “Nível social”.
Essa categoria foi subdividida em seis subcategorias: “Preferências
quanto à idade”, “Empatia”, “Status social positivo”, “Ajustamento
social”, “Bullying” e “Seletividade”.
As “Preferências quanto à idade” apareceram na fala de sete
pais. Essas falas foram suscitadas pelo questionamento 2.2 (“Você
acha que ele prefere crianças mais novas, mais velhas ou da idade
dele?”).
Constata-se que, para a maioria dos entrevistados, os
estudantes preferem crianças mais velhas ou adultos. No
questionário, onze pais reafirmaram essa preferência, todavia, o
223
cuidado e o comportamento de liderança são fortemente presentes
nas interações com crianças mais novas. Por exemplo em M1 e P6.
Ele é fácil de se relacionar (++) assim / só que ele gosta de::: gosta
mais de se relacionar com (2,0) assim / com crianças um
pouquinho maiores do que ele ”. Mas com as crianças pequenas
também, ele gosta, gosta de cuidar. (M1)
[...] o lado dela dominar, ela prefere os pequenos (++) porque ela
domina a brincadeira. Aí é a liderança (+) Então (++) ela gosta
de ser desafiada, brincar, que nem (2,0) na igreja, tem os Adolas,
os adolescentes. Ela gosta de ficar com eles (+) ouvindo as conversas
e tatatá, mas na hora de brincar (+) se ela pegar os pequenininhos,
aí (Ó, vamos fazer assim (++) Vamos mudar a regra assim e assim,
assim) /.../ Ela gosta de brincar com os mais novos pra dominar,
mas ela gosta de ficar com os mais velhos pra captar. (P6)
Corroborando nossos achados, a preferência pela companhia
de crianças mais velhas é recorrente na literatura (WINNER, 1998;
BRASIL, 2006), devido a uma maior semelhança cognitiva e de
ideias.
Embora haja essa preferência, muitas vezes, o estudante
acaba recorrendo às crianças mais novas, com a finalidade de exercer
sua autoridade, influência e liderança (EXTREMIANA, 2000).
Três entrevistados ressaltam como diferencial a “Empatia” do
estudante. Entre eles, M1 e P3. Essa característica foi suscitada pelos
questionamentos 4.1 (“No seu ponto de vista, em que seu filho/neto
se diferencia das crianças da mesma idade?”) e 1.2 (“Como é o
relacionamento do seu filho/neto com os colegas de escola?”):
224
[...] ele é considerado na escola como o anjo da guarda das crianças
(++) Pergunta se está tudo bem (++) ele tenta ajudar, sabe? Tem
um menino que tem bastante transtorno, que às vezes ele surta lá
e as crianças tem que sair da classe, tudo, mas ele é o ÚNICO aluno
que::: / ele não tem medo dessas crianças, não tem. Ele sabe que o
menino não tem culpa. (M1)
Ahhh eu vejo nele / assim (++) ele tem uma empatia muito grande.
(P3)
A empatia é uma das habilidades sociais destacadas na
Operação Houndstooth, desenvolvida por Renzulli (2014, 2018).
Essa característica está relacionada com a sensibilidade às questões
humanas necessárias à formação de uma liderança ética e
comprometida com o futuro.
A Teoria da Desintegração Positiva de Dabrowski também
versa sobre essa habilidade, concebida como um valor elevado de
desintegração (nível IV). Para o autor, é nesse nível que há um
crescimento acentuado de sentimentos de empatia e
autoconhecimento (OLIVEIRA; BARBOSA; ALENCAR, 2015).
Na autoavaliação dos estudantes, menor mediana dos dados
foi identificada no fator “empatia/afetividade”, mas ainda assim,
avaliado com um bom repertório.
O “Status social positivo” também esteve bastante presente
na fala dos pais. Esse aspecto foi destacado por cinco deles e
desencadeado pelo questionamento 1.2 (“Como é o relacionamento
do seu filho/neto com os colegas de escola?”). Como exemplo, temos
as transcrições de dois trechos das falas de P2 e P3:
225
[...] pelo que a gente (++) ele tem amizade com todos e com todo
mundo da escola inteira, não só com a turma dele (2,0) porque ele
é convidado pra todos os aniversário da turma dele, até de outras
turmas, chamam ele. Entendeu? (P2)
[...] sempre falam (Procura ele...), (Fala com o, é::: o
Googlezinho). Aí a gente só vai observando (++) Aí vem um e fala
e coloca no::: no texto ((das mensagens no celular)) (Eu, hein! Eu
acho que ele sabe mais até que o professor). (P3)
Martins (2013) elencou a popularidade como uma das
características gerais indicadoras da Superdotação.
Reforçando esse dado e diante da circunstância de o grupo
ter sido avaliado como tendo boas habilidades sociais, alguns autores
afirmam que um repertório elaborado de habilidades sociais se tem
mostrado preditor de status social positivo (BANDEIRA et al.; 2009;
DEL PRETTE et al., 2016).
Nossos achados são ainda corroborados pelo estudo de
Luftig e Nichols (1990), que investigaram o status social de
estudantes com comportamento superdotado ou não. Por meio de
um instrumento de nomeação sociométrica, constataram que
meninos com comportamento superdotado eram mais populares,
enquanto meninas com comportamento superdotado eram menos
populares. Os estudantes sem comportamento superdotado foram
mais rejeitados, quando comparados aos que apresentam esse
comportamento, tendo os meninos sido mais rejeitados que as
meninas.
226
O “Ajustamento social” também esteve presente na fala de
cinco pais. Essas foram desencadeadas pelo questionamento 2.1
(“Seu filho/neto tem facilidade para fazer amigos?”).
[...] ele não se::: se encaixa (++) ele não se vê nesse perfil de NERD,
que se junta com outro NERD. Não / ele tem (2,0) ele tem amizade
com todos (+) todos os padrões que possam existir, NERD, não-
NERD, com dificuldade, com os malas ((risadas)) com uns
coleguinha mala aí, ele consegue filtrar também. (P3)
[...] ele se bem com todo mundo. Independente da, da::: da faixa
etária de idade, ele procura sempre fazer amizades (++) alguma
coisa assim (+) tem facilidade pra isso /.../ Tem Bastante facilidade.
Eu acho que sim. É::: muitas vezes, assim (+) lá::: no começo (+) a
gente falava (Vai brincar, né”. Vai fazer amizade). Então assim,
com o tempo (++) sei lá, uns 4, 5, 6 anos, toda vez que ele sai, ele
chega em algum lugar, ele fala assim (Ô pai, eu vou ali fazer
amizade) Então ele se relaciona fácil. (P5)
Alencar (2007) alerta sobre a preocupação com o
ajustamento social desses indivíduos, asseverando que, mesmo que
não haja consenso sobre a predisposição ou não para problemas
sociais, medidas de apoio a esses estudantes são necessárias, de
maneira que os auxiliem, ao lidar com suas peculiaridades.
Nossos resultados do SSRS chamam atenção para o fato de
que esses estudantes podem ser muito bem ou muito mal ajustados,
visto que outras variáveis intervêm nesses fatores, além das
habilidades sociais.
Sete pais abordaram o Bullying direcionado ao estudante.
Esses foram suscitados pelo questionamento 2.4 (“Você acredita que
227
seu filho/neto já sofreu, ou sofre, preconceito devido ao fato de ser
diferente em suas características?”):
Ah, com certeza sofreu sim (++) Principalmente na sala dela (++)
por isso que eu te falo, em notas, na parte acadêmica, ela está no
nível, na média de todas, mas em perceber relacionamento, induzir
a professora, induzir amigos, ela sempre passa na frente de todo
mundo. Entã:::o, tem o pessoal que faz bullying com ela mesmo.
(Você não!), entendeu? Então ela sofre (2,0) Mesmo ela não se
destacando nas questões acadêmicas (2,0) Por isso que eu te falo é
aquela coisa (+) tem gente que brilha (+) e brilha por brilhar,
entendeu? Então às vezes ofusca as pessoas e tem gente que não
gosta, entendeu? Carisma, papapá, entendeu? Então, ela tem disso,
tanto que às vezes ofendem ela, ela é adotiva, né” (++) Tem isso
também, né”. Então têm uns que dão umas tacada dessa. Aí ela
murcha. (P6)
Bullying (+) por ele ser uma criança que::: / Adiantada (2,0)
Principalmente::: logo que ele entrou na escola. Os amigos (+)
tratavam ele mal (++) Às vezes tinha que ir buscar ele na saída,
porque as crianças queriam bater nele (+) porque ele era o melhor
da sala (+) então eles achavam que isso era::: que eles saíam
perdendo (2,0) por isso que a gente até mudou ele de escola.
Procurou uma escola um pouco melhor /.../ ele sempre, a professora
perguntava alguma coisa (+) ou (+) na::: na parte da leitura,
colocava ele pra ler, e as outras crianças não, porque::: Ele era mais
desenvolvido nessa parte (2,0) E acho que as criança ficaram com
raiva (++) Sei lá, coisa de criança. (P4)
O bullying é um tipo de violência que, apesar de não ser
exclusiva do ambiente escolar, é crescente nesse âmbito, o que vem
causando preocupação. O fenômeno é caracterizado como um
comportamento negativo, de ordem verbal ou física, agressivo,
228
intencional e repetitivo. Esse fenômeno mundial tem cunho
psicológico e pode causar problemas emocionais e psíquicos
naqueles que são vitimados (PETERSON; RAY, 2006).
Esses mesmos autores realizaram uma pesquisa acerca do
envolvimento de 432 estudantes com comportamento superdotado
no fenômeno do bullying e constataram que 67% desses estudantes
foram vitimados, enquanto 28% já assumiram o papel de agressores,
em algum momento, no processo de escolarização.
Além disso, não só a criança, mas também a família sofre,
quando toma consciência de que a sociedade cultiva muitos
preconceitos quanto à Superdotação, o que pode levar ao desperdício
de um grande número de estudantes extremamente habilidosos, os
quais poderiam contribuir significativamente para os avanços
coletivos (ALENCAR, 2007; DELOU, 2007).
Quatro entrevistados explanaram certa “Seletividade” nos
relacionamentos do estudante. Essas falas foram desencadeadas pelo
questionamento 2.1 (“Seu filho/neto tem facilidade para fazer
amigos?”). A exemplo, temos os excertos das transcrições das falas de
M1 e P6:
[...] ele procura (++) ele escolhe a pessoa certa. (Então, esse vai ser
meu amigo), que é mais ou menos assim do jeito dele (2,0) Ele é
bem sele::: sele::: ele é bem selecionado ((seletivo)). (M1)
[...] entã:::o (3,0) Ela tem (++) é o que eu te falei, ela dá uma
escaneada antes, entendeu? Tipo (+) (Não vai me levar a lugar
nenhum, eu nem chego perto) Ela tem disso /.../ ela entra no
mundinho dela e nem tchum. Mas, ago:::ra, se desperta alguma
coisa, que pode sair algo que (+) sei lá (+) que interessa, AÍ tudo
bem. Então ela é bem por aí, ela dá uma sapeada (+) Porque tem
229
vez que ela não / E eu sei porque eu atendo muito cliente em casa,
né”. E às vezes, os clientes vêm com criança, né”. Então ela vem na
escada (++) dá uma olhada (++) ou fica ou sobe. Então quando
vê que::: nãnãnã (+) Você não vê mais ela. (P6)
Esse dado revela que, apesar de os estudantes desse grupo
apresentarem boas
habilidades sociais, alguns podem ser seletivos
quanto a esse aspecto. Isso ocorre, possivelmente, devido aos
interesses mais restritos e incomuns aos estudantes da mesma idade.
Constata-se, na literatura, que essa seletividade é encontrada
mais fortemente associada a estudantes excepcionalmente
inteligentes, os quais parecem diferir radicalmente dos estudantes
com comportamento superdotado, em níveis mais moderados. Gross
(1993) assinala que essas diferenças vão além do plano cognitivo,
articulando-se igualmente com o desenvolvimento afetivo, moral,
interesses em atividades de lazer e leitura, escolha das amizades,
atitudes e também valores.
Por isso, estudantes com inteligência extrema correm o risco
de maiores desajustes socioemocionais e rejeição pelos pares
(HOLLINGWORTH, 1942; GROSS, 1993; 2002; ALENCAR,
2007; NEIHART, 2008), a menos que o sistema educacional e a
sociedade acomodem seus interesses, habilidades e nível de
desenvolvimento, evitando que esses estudantes permaneçam em
situação de vulnerabilidade educacional e social.
Estudo intragrupo - O Grupo 2
Como no G1, no estudo intragrupo, primeiramente será
apresentada a avaliação dos indicadores de Superdotação, seguida
230
pela avaliação dos indicadores de TDAH, das habilidades sociais e
problemas de comportamento, e, por último, da percepção dos
pais/responsáveis dos estudantes do G2.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Os resultados da avaliação dos indicadores de Superdotação
no G2 estão expostos na Tabela 11.
Tabela 11- Número e porcentagem de indicadores de Superdotação assinalados
pelos pais/responsáveis no G2
Participante
Número de características
Porcentagem (%)
M1
28
66,66
P1
18
42,85
M2
37
88,09
P2
34
80,95
M3
15
35,71
P3
21
50,00
M4
25
59,52
A4
28
66,66
M5
28
66,66
A5
25
59,52
M6
28
66,66
P6
22
52,38
Fonte: Elaboração própria.
No grupo dos estudantes com a hipótese diagnóstica de
TDAH, os pais/responsáveis de cinco estudantes não relataram um
conjunto de características que, neste estudo, definiria a
Superdotação.
231
Os dois informantes do estudante E2 assinalam um
conjunto de características bastante significativo e acima do
estabelecido como nota de corte, nesta pesquisa, avaliando o
estudante com o tipo misto de Superdotação.
Portanto, no grupo de estudantes com a hipótese diagnóstica
de TDAH, um estudante que apresenta indicadores de
Superdotação, ou seja, uma proporção de 6:1.
Quanto à prevalência da Superdotação em estudantes com
TDAH, foi identificada variação de 10% (ANTSHEL et al., 2008)
a 22% (OUROFINO; FLEITH, 2005). Por sua vez, Massuda
(2016) identificou, em sua pesquisa, que dois, dos três estudantes
participantes com TDAH, mostravam indicadores de Superdotação.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Os resultados da avaliação dos indicadores de TDAH no G2
estão focalizados na Tabela 12.
Tabela 12- Número de indicadores de TDAH identificados pelos
pais/responsáveis no G2
Participante
Número de indicadores de
desatenção assinalados com
“bastante” ou “demais
Número de indicadores de
hiperatividade/impulsividade assinalados
com “bastante” ou “demais”
M1
2
3
P1
4
6
M2
7
9
P2
2
4
M3
0
2
P3
3
3
M4
7
5
A4
3
4
M5
3
6 continua
232
A5
7
8
M6
4
8
P6
4
4
Fonte: Elaboração própria.
Constata-se que três estudantes atingiram o critério proposto
pelo autor do instrumento: E2, E5 e E6.
Com relação a E1 e E6, um dos informantes avalia que os
estudantes demonstram um número de indicadores de TDAH do
tipo hiperativo/impulsivo, mas, quando consideradas as duas
avaliações, E1 não cumpre o critério preestabelecido; em
contraponto, E6 atinge o critério proposto pelo autor para a
apresentação hiperativa/impulsiva do transtorno.
E2 também foi avaliado com a apresentação mista do
TDAH por somente um dos respondentes, todavia, diferentemente
de E1, quando levadas em conta as duas avaliações, o estudante
atinge a nota de corte deste estudo.
E4 foi avaliado com o tipo desatento por um dos
informantes, porém, não atinge o critério aqui firmado.
Por seu turno, o estudante E5 revela um indicativo
considerável de TDAH de apresentação hiperativa/impulsiva.
Por conseguinte, quando utilizados pais/responsáveis como
informantes sobre os indicadores do transtorno, metade dos
estudantes sob a hipótese diagnóstica de TDAH cumpriram o
critério inicial de avaliação do DSM-V. Todavia, é importante
ressaltar, que todos os estudantes foram encaminhados com queixas
de desatenção e/ou hiperatividade, o que sugere que há prejuízo
funcional no dia a dia do estudante, em um ou mais contextos.
233
O estudo de Büttow e Figueiredo (2019), o qual também
adotou pais/responsáveis como informantes, refuta esses achados,
pois, ao se avaliar, usando o SNAP-IV, 40 estudantes em
atendimento clínico e psicoterápico, sob a hipótese diagnóstica de
TDAH, todos cumpriram os critérios de avaliação inicial. Os
resultados revelaram que 57,5% dos estudantes foram avaliados com
o tipo combinado, 27,5% com o tipo desatento e 15% apenas com
indicadores de hiperatividade/impulsividade.
Avaliação de habilidades sociais e problemas de comportamento
Com respeito à avaliação das habilidades sociais, os escores
do grupo estão reunidos na Tabela 13.
Tabela 13- Escores geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na avaliação
por pais/responsáveis no G2
M1
P1
M2
P2
M3
A3
M4
A4
M5
A5
M6
P6
Escore Geral
50
10
10
10
15
50
03
25
05
40
01
30
Escore F1-
Responsabilidade
65
65
35
35
25
35
25
65
80
80
05
15
Escore F2-
Autocontrole
30
10
01
01
30
55
15
30
10
10
01
50
Escore F3-
Afetividade/Cooperação
50
25
35
05
25
80
10
25
03
75
03
75
Escore F4-
Desenvoltura Social
85
10
05
25
40
55
25
55
10
35
35
35
Escore F5- Civilidade
45
03
45
70
10
45
01
20
01
40
40
20
Fonte: Elaboração própria.
234
Na Tabela 13, temos que quatro estudantes (E2, E4, E5 e
E6) apresentaram um repertório abaixo da média inferior e dois
deles (E1 e E3), um repertório médio inferior.
na Tabela 14, na sequência, temos as medidas de dispersão
e de tendência central dos escores geral e fatoriais, na avaliação das
habilidades sociais por pais/responsáveis do G2.
Tabela 14- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na avaliação por pais/responsáveis
no G2
Fonte: Elaboração própria.
Ao se analisar a Tabela 14, observa-se que G2 apresenta um
repertório abaixo da média inferior de habilidades sociais, indicativo
de necessidade de intervenção, especialmente nas escalas e itens mais
críticos para o ajustamento social e acadêmico dos estudantes.
Os fatores “autocontrole” e “afetividade/cooperação” foram
avaliados com repertório abaixo da média inferior e os fatores
responsabilidade, desenvoltura social e civilidade foram avaliados
pelos pais/responsáveis com repertório médio inferior, com
indicativo de necessidade de intervenção em todos esses.
O autocontrole foi identificado como fator com menor
mediana, ou seja, o ponto mais crítico, portanto, de modo geral,
esses estudantes não respondem adequadamente a situações
235
conflituosas, as quais requerem restrição do próprio
comportamento.
A maior mediana dos resultados foi verificada no fator
responsabilidade e desenvoltura social.
Nesse ponto, é importante esclarecer que as avós
participantes do estudo tenderam a avaliar melhor essas habilidades
do que as mães, o que influenciou esse resultado. Enquanto A3 e A5
avaliam o estudante com um bom repertório, M3 e M5 o avaliam
com um repertório abaixo da média inferior. Especificamente sobre
o item responsabilidade, isso também acontece em A4, que o avalia
como bom, enquanto M4 avalia a responsabilidade do estudante
como abaixo da média inferior, posto que essas habilidades são
determinadas e avaliadas de acordo com a cultura e valores de cada
um (DEL PRETTE et al., 2016).
Segundo Edwards e Daire (2006), os dados de pesquisas
disponíveis sugerem que crianças criadas por avós são mais
propensas a problemas comportamentais, emocionais e acadêmicos,
de sorte que podem precisar de auxílio psicológico. Isso acontece
devido às variáveis que envolvem a situação.
Não encontramos na literatura nenhuma pesquisa que nos
levasse ao esclarecimento desse ponto; o que temoso referências
que nos embasam, no sentido de que os vínculos formados entre os
sujeitos das famílias são diferentes. Uma hipótese aqui aventada é de
que esses avós entrem mais facilmente em situação de impotência
aprendida e passem a relevar muito mais os comportamentos dos
netos, em função da quantidade de eventos estressores vividos
(BARKLEY, 2002).
236
O fator com menor variação dos dados diz respeito ao
autocontrole do estudante (Q3- Q1 = 22,25), enquanto a maior
variação dos dados é atinente à “afetividade/cooperação” (Q3- Q1 =
47,2).
Na Tabela 15, tem-se a apresentação dos escores geral e
fatoriais da escala de habilidades sociais, autoavaliadas pelos
estudantes do G2.
Tabela 15- Escores geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na
autoavaliação no G2
Fonte: Elaboração própria.
Na Tabela 15, percebe-se que dois estudantes se
autoavaliaram com um repertório médio inferior (E3 e E4),
enquanto três deles se autoavaliaram com um repertório abaixo da
média inferior (E1, E2 e E5). Somente E6 se autoavaliou com um
bom repertório, na média da amostra normativa.
A seguir, na Tabela 16, temos as medidas de dispersão e de
tendência central dos escores geral e fatoriais, na autoavaliação no
G2.
237
Tabela 16- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de habilidades sociais na autoavaliação no G2
Fonte: Elaboração própria.
Tem-se, na Tabela 16, que, na autoavaliação, o G2
demonstrou um repertório geral abaixo da média inferior de
habilidades sociais, indicativo de necessidade de intervenção,
especialmente nas escalas e itens mais críticos para o ajustamento
social e acadêmico dos estudantes.
A maior mediana dos dados é observada no fator
assertividade, único item autoavaliado como bom. Por isso, de modo
geral, na autoavaliação, o grupo não apresentou dificuldades em
expressar atitudes que envolvem risco de reação indesejável do outro,
expressão de sentimentos negativos, negociação de interesses e na
lida com as críticas.
O fator de menor mediana é a “empatia/afetividade”,
portanto, o ponto mais crítico. Esse fato desvela a dificuldade desses
estudantes em respeitar os sentimentos e pontos de vista de outros e
também de expressar sentimentos positivos em relação ao outro.
As avaliações com menor variação dos dados são as que
dizem respeito à assertividade e responsabilidade (Q3-Q1 = 25), e,
com maior variação dos dados, tem-se o fator
autocontrole/civilidade (Q3-Q1 = 54,25).
238
Nota-se que a autoavaliação convergiu com a avaliação por
pais/responsáveis, e o grupo exibiu um repertório abaixo da média
inferior, indicativo de necessidade de intervenção, nos itens
“empatia/afetividade”, responsabilidade e “autocontrole/civilidade”,
os quais foram considerados como no nível médio inferior.
A responsabilidade foi considerada na média inferior, não
somente pelos pais/responsáveis, mas também pelos estudantes.
O autocontrole e a civilidade foram mensurados
separadamente na avaliação dos pais/responsáveis e juntos na
autoavaliação. Na avaliação dos pais, o autocontrole foi avaliado
como abaixo da média inferior e a civilidade, como médio inferior;
o fator autocontrole/civilidade foi autoavaliado como médio
inferior.
Nesse grupo, foram igualmente avaliados os problemas de
comportamento, e os escores geral e fatoriais estão concentrados na
Tabela 17.
Tabela 17- Escores geral e fatoriais da escala de problemas de comportamento no
G2
Fonte: Elaboração própria.
Quatro estudantes (E2, E4, E5 e E6) exibiram repertório
acima da média superior para problemas de comportamento,
enquanto dois (E1 e E3) apresentaram um repertório mediano, com
resultados na média da amostra de referência do instrumento.
239
Na Tabela 18, temos as medidas de dispersão e de tendência
central dos escores geral e fatoriais, na avaliação de problemas de
comportamento por pais/responsáveis do G2:
Tabela 18- Quartis, Intervalo Interquartílico (Q3-Q1) e Mediana dos escores
geral e fatoriais da escala de problemas de comportamento no G2
Fonte: Elaboração própria.
Com respeito aos problemas de comportamento, G2 foi
avaliado como apresentando um repertório médio superior, nesse
quesito, com resultados acima da média, em grande parte dos itens.
Isso é indicativo de necessidade de intervenção, principalmente no
que concerne aos problemas de comportamento externalizantes, nos
quais é identificada a maior mediana das avaliações. Nessa tabela,
podemos constatar que a menor mediana dos dados foi identificada
nos PC internalizantes, portanto, o grupo tende a ter mais
facilmente problemas de comportamento externalizantes.
De acordo com os dados expostos, verifica-se, nesse grupo,
uma necessidade de intervenção tanto em habilidades sociais quanto
em problemas de comportamento, confirmada pelas avaliações dos
pais/responsáveis e pela autoavaliação dos estudantes.
Apesar de esse grupo revelar um perfil bastante homogêneo
com relação às habilidades sociais, com a grande maioria dos
estudantes com um repertório médio inferior ou abaixo da média
inferior, tanto na avaliação por pais/responsáveis quanto na
240
autoavaliação, E6 foi a única exceção, sendo avaliado pelos
pais/responsáveis como na média da amostra normativa do
instrumento; também é constatada certa discrepância entre as
avaliações de pais e mães e também mães e avós.
Como já realçado, a avaliação das habilidades sociais é
estritamente relacionada ao contexto em que o estudante, bem como
a família, estão inseridos, portanto, cada participante avalia o
estudante de acordo com seus próprios valores e perspectivas.
Esses dados convergem com os achados de Freitas e Del
Prette (2013, 2014) e Freitas (2013), para quem esses estudantes
apresentam déficits em habilidades sociais, por sua vez, preditores de
problemas de comportamento, sendo que, quando comparados a
outras 12 categorias de estudantes com NEE, foram os que
obtiveram menores escores.
Nossos achados confirmam, também, o estudo de Guidolim,
Ferreira e Ciasca (2013) que, ao avaliar 28 estudantes com queixas
de TDAH, concluíram que todos os estudantes estavam abaixo da
média normativa do instrumento utilizado para avaliação das
habilidades sociais, no caso, o Inventário Multimídia de Habilidades
Sociais de Crianças (IMHSC).
Mais um estudo que corrobora com os já expostos é o de
Fernández-Jaén et al. (2011). Partindo do pressuposto que
estudantes com TDAH apresentam déficits em Habilidades Sociais,
os autores comparam a intensidade dos indicadores de TDAH em
relação as Habilidades Sociais e de liderança, segundo relato dos pais.
Foram retrospectivamente analisados 170 pacientes com o
diagnóstico de TDAH de 2007 a 2010 e identificada uma relação
241
inversamente proporcional entre o grau de hiperatividade e as
Habilidades Sociais, bem como de liderança.
A percepção dos pais/responsáveis sobre os fenômenos nos
estudantes
A fim de investigar a percepção dos pais quanto ao fenômeno
do TDAH, nos estudantes, procederemos à análise da transcrição das
falas das entrevistas dos pais, mães e avós participantes desse grupo.
O tempo total das entrevistas do grupo foi de 3 horas e 12
minutos, sendo uma média de 16 minutos por participante. A
entrevista com menor tempo de duração foi a de A5, com 8,2
minutos, e a de maior tempo foi a M6, com 34,8 minutos.
Para a análise, assim como no G1, foram delimitadas
primeiramente três categorias: “Nível psicológico”, “Ensino-
aprendizagem” e “Nível social”, como exposto no Quadro 12.
Quadro 12- Quadro de análise do G2
NÍVE
L PSICOGICO
Imaturidade
Criatividade e curiosidade
Autocontrole
Desatenção
Agressividade
Autonomia
Medos
Necessidade de atenção
Instabilidade emocional
Preferências e envolvimento com as tarefas
Resiliência
Hiperatividade
Dificuldade no adiamento de recompensas
continua
242
ENSINO
-
APRENDIZAGEM
Relacionamento com a escola
Necessidade de mediação
Dificuldades de aprendizagem
NÍVEL SOCIAL
Preferências quanto à idade
Bullying e preconceito
Ajustamento social
Fonte: Elaboração própria.
A categoria “Nível psicológico” foi ainda subdividida em
treze subcategorias: “Imaturidade”, “Criatividade e curiosidade”,
“Autocontrole”, “Desatenção”, “Agressividade”, “Autonomia”,
“Medos”, “Necessidade de atenção”, “Instabilidade emocional”,
“Preferências e envolvimento com as tarefas”, “Resiliência”,
“Hiperatividade” e “Dificuldade no adiamento de recompensas”.
As subcategorias “Imaturidade” e “Criatividade e
curiosidade” foram desencadeadas pelo questionamento 4.1 (“No
seu ponto de vista, em que seu filho/neto se diferencia das crianças
da mesma idade?”).
A subcategoria “Imaturidade” foi representada pela fala de
três participantes, entre os quais estão M3 e A4:
Ele tem algumas limitações (++) Assim, ele é um pouquinho (++)
Em algumas coisas, mais infantilizado. (M3)
Ah, ele é infantil, assim, vamos dizer (+) Ele vai fazer 11 anos em
maio, e ele acredita em Papai Noel (2,0) acredita em Coelhinho
da Páscoa. Entendeu? Ele é mais ingênuo. Eu acho ele bem criança
pra a idade. (A4)
243
A literatura revela que existem evidências de que o TDAH
esteja associado a uma permanência da imaturidade, ou melhor, a
ilhas de imaturidade, em um curso maturacional normal e
progressivo, mas um pouco mais lento em determinados aspectos;
atesta também que muitos casos de imaturidade são confundidos
com o transtorno (BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS, 2003;
HOOGMAN et al., 2017).
Ressalta-se que as entrevistadas que aludiram à imaturidade
são responsáveis por estudantes cujas dificuldades de aprendizagem
também foram mencionadas.
Duas das entrevistadas destacaram, em suas falas, a
“Criatividade e curiosidade” do estudante. Trata-se de falas da mãe
e da avó do mesmo estudante:
[...] ele vem (+) inventa um negócio (+) inventa outro (++) Ele fez
uma moto, mostrou pra a gente e tal (+) Ele tem essa criatividade,
então (++) de inventar, de procurar o que fazer. Ele fez um::: (++)
um estilingue de tacar feijão, com a bexiga (+) E ele desenhou um
alvo e colocou com o pregador de roupa no varal (2,0) Ele fazia eu
ficar andando nos mercados pra catar caixa de papelão pra ele (++).
Eu ficava pedindo nos mercados. Vinha aquele mo:::nte de caixote
no carro (++) Trazia, aí catava um monte de canetinha (+)
Tesoura /.../ Aí ele desenha o que ele vai fazer, ele recorta (+) Ele
fez um caminhão com um caixote de tomate. Fez um capacete /.../
A criatividade que ele tem, né” Que as crianças (+) hoje (+) ficam
todas pregadas em celular. Ele, não (2,0) Ele gosta de inventar as
coisas. (M4)
[...] esses dias ele foi tomar banho / que é o que eu falo: ele é muito
curioso. Ele foi tomar banho e levou ((o slime)) pra baixo do
244
chuveiro (+) Ninguém viu (++) De repente ele gritou que nem um
louco (VÓ:::) Eu fui (O que que foi?) e ele veio com o negócio
todo grudado na toalha /.../ (E o que que eu faço agora? eu quis ver
o que acontecia se molhasse) (Então (++) o curioso se ferra)
((risadas)). (A4)
Por meio das falas de M4 e A4, verifica-se que esse estudante
apresenta uma capacidade de planejamento, com comportamentos
direcionados a metas e objetivos.
Na verdade, na literatura, há controvérsias quanto à relação
entre criatividade e TDAH. Enquanto Ourofino e Fleith (2005), ao
comparar medidas de criatividade, nos estudantes dos três grupos,
não encontraram diferenças significativas, Ourofino (2007)
argumenta ser essa uma característica compartilhada por muitos
estudantes com o transtorno.
Cramond (1994), ao examinar a incidência de criatividade
em estudantes com TDAH, verificou que os 34 estudantes avaliados,
os quais exibiam o transtorno, obtiveram escores dentro das médias
no Teste Torrance Creative Scholars Program em praticamente todos
seus componentes, exceto em elaboração, a qual é a medida de um
estilo de resposta criativa que dá atenção aos detalhes e ao
aperfeiçoamento das ideias, de sorte que o grupo apresentou
resultados mais de um desvio-padrão acima da média do teste nesse
item. Segundo a autora, 32% dos estudantes com TDAH obtiveram
uma pontuação necessária para se qualificar para programas de
desenvolvimento criativo.
Aspectos relacionados ao “Autocontrole” apareceram nas
falas de três entrevistados. Essa subdivisão foi originada por meio das
respostas à questão 3.1 (“Como é o relacionamento do seu filho/neto
245
com os familiares com quem convive diariamente?”), como se
observa nas falas de M4 e M5:
[...] ele senta (+) se você pedir pra sentar aqui e ficar, ele vai ficar
(++) ele se controla (+) coisa que uma criança hiperativa não faz.
Ela não senta, ela não para. (M4)
[...] ela fica muito nervosa (+) com qualquer coisinha ela está se
irritando (++) Isso daí é o que me preocupa mais (+) É::: É o
nervoso dela (+) Isso me deixa preocupada (+) Perde o controle.
Você não pode falar um (a) pra ela. (M5)
Segundo Barkley (2002), o transtorno tem relação com a
falta de controle inibitório, o que prejudica o autocontrole. Assim,
para ele, o TDAH se configura como um “[...] um transtorno de
desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com
os períodos de atenção, com o controle do impulso e com o nível de
atividade.” (BARKLEY, 2002, p. 35).
M4 relata que o estudante, apesar de estar sob a hipótese de
TDAH, apresenta determinado nível de autocontrole, o que o difere
das crianças consideradas pela entrevistada como hiperativas.
Ressalta-se aqui que E4 foi avaliado no CCAS, pela mãe, com o tipo
desatento do transtorno.
Quatro participantes sobressaltaram a “Desatenção” no
estudante. Esses foram suscitados por dois questionamentos 1.1
(“Seu filho/neto enfrentou ou enfrenta problemas na escola? Se
sim, quais?”) e 4.1 (“No seu ponto de vista, em que seu filho/neto
se diferencia das crianças da mesma idade?”).
246
Nesse aspecto, esses comportamentos desatentos parecem
estar ligados principalmente à manutenção da atenção, como no
excerto da fala de P1:
[...] o único probleminha dele é que ele não presta atenção na aula,
fala que demora muito (++) nunca presta atenção. Então, esse é o
único probleminha dele. (P1)
Barkley (2002) afirma que os comportamentos desatentos
ocorrem sobretudo relacionados à manutenção da atenção por longos
períodos de tempo, contudo, ressalva que não há consenso sobre se
estudantes com o transtorno se distraiam mais frequentemente que
outros não acometidos pelo transtorno.
Nas entrevistas, foi ainda mencionada a desatenção associada
à distração com as tarefas da rotina, como em M4:
[...] E ele esquecia coisas (+) assim (+) que era da rotina, né” Tipo
assim (++) se ele leva o caderno pra a escola todos os dias (+) ele
tem que trazer pra levar (+) não voltava (+) esquecia lá. Ele
levantava da mesa, o caderno estava na mesa e lá::: ficava (++) E
a bolsa quando a gente colocava no sofá né” A gente saía (Vamos
pra a escola, vamos) Ele ia (++) a bolsa ficava. (M4)
Com relação às dificuldade de atenção nas tarefas rotineiras,
Rohde e Mattos (2003) sublinham que um cronograma e checklist
de atividades pode agir como um apoio para o estudante e para a
família, os quais, com as atividades estruturadas de maneira mais
concreta, podem dinamizar melhor o andamento da rotina.
247
A “Agressividade” esteve frequentemente presente e foi
destacada nas falas de oito participantes, suscitadas por três
questionamentos 1.1 (“Seu filho/neto já enfrentou ou enfrenta
problemas na escola? Se sim, quais?”), 1.2 (“Como é o
relacionamento do seu filho/neto com os colegas de escola?”) e 2.3
(“Você já enfrentou ou enfrenta problemas em outros contextos que
não os escolares devido as características do seu filho/neto? Se sim,
quais?”).
A maioria dos pais/avós que trata da agressividade assegura
que o estudante não gosta de ser contrariado, vindo a apresentar a
agressividade nesses momentos.
[...] ela bateu numa menina (++) pegou no pescoço da menina /.../
Ela é brava. Se você::: / ela é brava. Você começa a gritar (++)
quebrou o guarda-roupa de nervosa (+) Ela fica nervosa, qualquer
coisa ela quebra (+) Ela começa a tacar as coisas no chão /.../ Teve
um dia que ela ficou tão nervosa que ela se arranhou toda (++)
Porque ela queria ir pra a escola num domingo e não tinha aula
(+) Aí ela ficou brava (+) Pegou a unha dela e arranhou toda (+)
Ela foi para a escola na segunda-feira e a diretora me chamou /.../
pra saber o que tinha acontecido (2,0) Pensando que era eu que
tinha batido (++) Mas não era. (M5)
[...] Briga e bate nas criancinhas (+) Não sempre (++) mas várias
vezes né” /.../ Então isso aí já é bem dela. Assim (++) de ser
autoritária e ter aquele gênio forte e fazer as coisas do jeito dela.
(P6)
Os estudantes com o TDAH geralmente demonstram baixa
tolerância à frustração, de modo que episódios de agressividade são
relatos bastante comuns nesses momentos (BARKLEY, 2002;
248
ROHDE; MATTOS, 2003; APA, 2014). Para esses autores, o
comportamento agressivo se associa mais fortemente aos estudantes
com o tipo hiperativo/impulsivo.
Essa espécie de agressividade pode ser caracterizada como
instrumental, pois geralmente apresenta uma função no local em que
acontece, a função de controle do ambiente (FARIZ et al., 2005).
Também Del Prette e Del Prette (2003) afirmam que déficits nas
habilidades empáticas se relacionam intimamente com
manifestações agressivas, revelando que, ao manifestar esse tipo de
comportamento, o agressor não se sensibiliza ou não reconhece os
sentimentos alheios.
Barkley (2002) sustenta que o TDAH não é sinônimo de
conduta agressiva, advertindo para o fato de que a presença desse
comportamento está mais vinculada às condutas parentais do que
necessariamente ao transtorno. Pais de crianças com TDAH e
comportamentos agressivos apresentavam maiores índices de
problemas psiquiátricos do que pais de crianças sem manifestações
de agressividade. Isso significa que, em tese, familiares em desajuste
psicológico podem desencadear comportamentos agressivos e
antissociais em estudantes com TDAH.
Um participante destacou a “Autonomia” do estudante
(M4):
[...] Tem coisas que é muito adulto pra a idade dele. Então, ele
sabe o que é bom, o que é ruim ou o que não agrada ele. Isso aí não
precisa::: ele tem opinião própria. Isso aí ninguém precisa falar com
ele /.../ as vezes ele está fazendo alguma coisa, não gosta que põe a
mão (não, não, não). Você fala (Deixa eu ajudar você?) (Não, não.
Você vai quebrar isso aqui. Deixa que eu faço). (M4)
249
Nossos achados são refutados por Barkley (2002), para quem
a autonomia é prejudicada devido ao déficit nas funções executivas
presentes nos estudantes com TDAH, mas, segundo esse mesmo
autor, estudantes que apresentam o TDAH do tipo
predominantemente desatento, como é o caso de E4, podem
evidenciar essa habilidade, quando envolvidos em suas atividades de
interesse.
Alguns “Medos” também foram identificados na fala de duas
entrevistadas, mãe e avó do mesmo estudante. No caso de M3, essa
resposta foi desencadeada pelo questionamento 4.1 (“No seu ponto
de vista, em que seu filho/neto se diferencia das crianças da mesma
idade?”):
[...] ele tem medos, que ele trava (2,0) Ele não chega a ter episódios
de euforia (+) de agitação (+) de bater (++) Só que ele tem medos
(+) que daí ele trava, senta no chão, começa a gritar e não tem
como você re-lar nele quando acontece. (M3)
Em A3, a fala sobre os “Medos” foi desencadeada pela
resposta à questão 2.3 (“Você já enfrentou ou enfrenta problemas em
outros contextos que não os escolares, devido as características do
seu filho/neto? Se sim, quais?”).
Ah, ele tinha muito medo. Ele tinha::: / Saía na rua, assim (+) ele
agarrava nela ((na mãe)), travava e não conseguia andar. E
chorava e ficava travado (+) não ia (+) Então eu falei: (Nossa, tem
alguma coisa errada aí) (++) na frente da escola. Sabe? Então, teve
isso daí. Teve e era::: / Nossa, eu falava (Mas o que será isso?). (A3)
250
Esse dado não encontra respaldo na literatura da área, pois
frequentemente esses estudantes são destemidos e não medem as
consequências de seus próprios atos (BARKLEY, 2002; ROHDE;
MATTOS, 2003). A hipótese aqui levantada é de que esses medos e
fobias podem estar ocorrendo devido a alguma comorbidade, não
identificada, ao transtorno, como, por exemplo, o Transtorno de
Ansiedade ou Transtorno Obsessivo Compulsivo, nos quais esses
comportamentos seriam mais justificáveis.
A “Necessidade de atenção também esteve presente nas
falas, tomando parte de quatro entrevistas. Os excertos alocados
nessa subdivisão foram de falas desencadeadas pelo questionamento
3.3 (“Em quais atividades ele se envolve sozinho?”).
[...] ele sempre pede atenção (++) Ele não gosta de NÃO ser o
centro das atenções. (M3)
Ela gosta mais de brincar, porque lá em casa a gente brinca com
ela. Aí quando eu não tenho tempo no dia de semana, porque eu
trabalho, ela grita (VEM BRINCA:::R, NINGUÉM QUER
BRINCAR COMIGO:::) parece que quer chamar atenção o tempo
todo. (M5)
Corroborando esses achados, temos um dos mais importantes
estudos de observação das interações de mães e filhos com TDAH,
realizado por Susan Campbell, da University of Pittsburgh. Como
resultados, a pesquisadora constatou que estudantes que
apresentavam a hiperatividade iniciaram interações em maior
número de vezes, conversavam mais e também solicitaram mais
ajuda que outros sem o transtorno (BENCZIK; CASELLA, 2015).
251
O aspecto “Instabilidade emocional” foi contemplado em
seis entrevistas. Essas explanações foram suscitadas pelo
questionamento 3.1 (“Como é o relacionamento do seu filho/neto
com os familiares com quem convive diariamente?”). Nesse aspecto,
constata-se que, para a maioria dos entrevistados, o filho/neto é
carinhoso e exibe comportamentos considerados de aproximação, no
entanto, quando contrariados, podem exibir comportamentos
agressivos e dificuldades de lidar com as emoções. Como exemplo,
temos os trechos das transcrições das falas de P1 e A4:
Ele é um menino muito carinhoso (++) Ele chega (+) se tem
quatro, cinco pessoas ele cumprimenta todo mundo (++) abraça
(++) É um menino muito carinhoso, muito doce (2,0) Mas só que
não pode tirar ele do sério, se não o bicho pega. (P1)
Ele é muito carinhoso, tudo (++) Ao mesmo tempo que ele é
carinhoso ele se estressa por qualquer coisa (++) Qualquer coisa (+)
Chora (+) É tipo assim (+) ele é muito estourado /.../ Aí, você
chama a atenção / Atenção, assim, a gente fala (Não, não é assim)
(Ah, então está bom). Aí é onde ele::: explode (+) Você entendeu?
E assim (+) ele é muito chorão, muito chorão. Reclamam direto no
CAPS. É muito chorão pra tudo (++) Eu acredito que é o emocional
dele. (A4)
Conforme Barkley (2002), esses estudantes têm dificuldades
de se adaptar a situações que exigem maior racionalidade e são mais
emocionais, devido à dificuldade de controlar as primeiras emoções
e reações frente a determinadas situações.
As “Preferências e envolvimento com as tarefas” foram
encontradas nas falas de oito participantes. Essas falas foram
252
suscitadas em resposta às questões 3.2 (“Em quais atividades ele se
envolve com a família?”) e 3.3 (“Em quais atividades ele se envolve
sozinho?”). Em três casos, os pais/avós afirmam que o estudante tem
preferência por equipamentos eletrônicos, como videogame e
celular, segundo assinalam, por exemplo, M1 e A5:
[...] ele gosta mesmo é de videogame, se deixar fica o dia todo. (M1)
Ela gosta de ficar no joguinho no celular. (A5)
Foram presentes em três entrevistas as preferências por
atividades que exigem movimento, como andar de bicicleta ou jogar
futebol. Para ilustrar, temos os excertos das falas de P1 e M2:
Ah, ele gosta de ficar andando de bicicleta. Então ele gosta mais,
assim, de ficar com os colegas dele, sabe? (P1)
Jogar bola. Porque ele não consegue ficar parado /.../ ele gosta de ir
na piscina, gosta de bola. Nada que fica parado. Tudo tem que
correr, de correr pra lá e pra cá, no parquinho. Só movimento /.../
Ele não faz nada sozinho, né” Porque ele sempre quer (++) (Mãe,
vem. Pai, vem). É sempre assim. (M2)
Esses achados são confirmados pela literatura, na qual se
verifica que esses estudantes preferem atividades relacionadas à
tecnologia ou atividades que exigem movimento (BARKLEY, 2002;
ROHDE; MATTOS, 2003).
Confirmando esse fato, temos a pesquisa de Effgem e
Rossetti (2017), os quais investigaram a representação que
estudantes com TDAH fazem de suas vivências. Os autores
253
constataram que todos os vinte entrevistados tinham preferências
por atividades ao ar livre, no entanto, sete deles destacam que, além
dessas, também gostam de utilizar jogos eletrônicos.
Em contraponto, temos a fala de M4, que ressalta que o
estudante prefere atividades mais solitárias e calmas:
É::: ele é bem sozinho (2,0) Ele gosta de ficar sozinho (+) É o
mundo dele. É o mundinho dele, ele gosta de inventar as coisas o
tempo todo. (M4)
Em E4, esse comportamento é observado, porque o mesmo
revela um comportamento dirigido a metas específicas e o perfil
desatento do transtorno, o que é corroborado pelos achados de
Barkley (2002) e Rohde e Mattos (2003).
A “Resiliência” apareceu nas falas da mãe e da avó do mesmo
estudante. Em M4, a fala foi suscitada pelo questionamento 2.4
(“Você acredita que seu filho/neto já sofreu (ou sofre) preconceito
devido ao fato de ser diferente em suas características?”):
[...] porque ele não sabe::: os colegas tiram sarro dele não saber as
coisas. Mas aqui, pra ele, acho que foi mais pesado. Teve vez dele
reclamar mais, mas eu acho que ele não leva tão (+) tão a sério não.
Ele reclama que alguém falou, mas no outro dia, pra ele, é vida
que segue. No outro dia volta ao normal. Tudo ao normal. Ele não
leva a sério. Não fica com aquela raiva, aquele ódio. (M4)
254
E, em A4, em resposta à questão 3.1 (“Como é o
relacionamento do seu filho/neto com os familiares com quem
convive diariamente?”):
[...] agora ele está bem até (++) Está ótimo (++) Posso falar que
ele está perfeito, né”. Devido a uma separação dos pais, ele aceitou
tranquilamente. (A4)
Embora essa não seja uma característica comum no grupo,
esse dado confirma os achados de Mikami e Hinshaw (2006), que
investigaram fatores associados à resiliência em estudantes de 6 a 12
anos, com ou sem TDAH, que eram rejeitados pelos pares, tendo
apontado que possuir a capacidade de brincar sozinhos, envolvidos
com metas, parece contribuir para que sejam mais resilientes,
conforme acontece com E4.
A “Hiperatividade” esteve presente na fala de seis
participantes. Essas falas decorreram dos questionamentos 2.3
(“Você já enfrentou ou enfrenta problemas em outros contextos que
não os escolares devido as características do seu filho/neto? Se sim,
quais?”) e 4.1 (“No seu ponto de vista, em que seu filho/neto se
diferencia das crianças da mesma idade?”). A exemplo, temos os
excertos das transcrições das falas de P1 e M2:
Ele é diferente porque ele é mais agitado né” Ele é mais agitado
(++) Pode ver que ele não para /.../ É o dia in-teiro fazendo
alguma coisa (++) É::: Arrumando. Vai andar de bicicleta pra um
lado, vem, vai jogar bola (++) É um moleque mais agitado /.../
Fora (da escola) já teve alguns probleminhas também (++) dele
ficar jogando as coisas na casa do vizinho, não para (2,0) Ele é um
menino, assim, agitado, sabe? (P1)
255
[...] todo inquieto (+) Em todos os lugares ele dá problema de não
parar (+) Ele não para (+) Não para. O tempo todo correndo,
pulando, gritando e brigando (++) O tempo todo. (M2)
O comportamento excessivo parece ser um dos pontos de
consenso na literatura, constituindo um indicador característico
desses estudantes e necessário à identificação (GOLDSTEIN;
GOLDSTEIN, 2000; BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS,
2003).
Há achados que dão conta de que esses estudantes se movem
cerca de oito vezes mais que um estudante da mesma faixa etária,
não acometido pelo transtorno. O fato de não controlarem esse nível
de atividade, dificultando o ajustamento do comportamento, de
acordo com a demanda do ambiente, é o que causa mais problemas,
tanto dentro quanto fora do ambiente escolar (BARKLEY, 2002).
Quatro entrevistados relatam “Dificuldade no adiamento de
recompensas”, entre eles A3 e M5. Essas falas foram desencadeadas
pelo questionamento 3.1 (“Como é o relacionamento do seu
filho/neto com os familiares com quem convive diariamente?”):
[...] Ele bate o pé e eu falo (NÃO, ES-PE-RA (+) Você não sabe
esperar as coisas. Deixa eu acabar de falar que eu pego) e ele não
quer esperar eu acabar de::: / ele é muito de bater o pé e fazer
escândalo (+) Sabe”? E meio que gritar e coisa assim. (A3)
[...] é só sair (+) assim (+) com ela, deixar ela esperando, que ela
fica estressada, começa (+) não aguenta ficar esperando, não
entende que tem coisas que tem que esperar pra ter. (M5)
256
Para Barkley (2002), os estudantes com TDAH possuem
dificuldade no adiamento de recompensas e desejam realizar
pequenos trabalhos para receber a recompensa de imediato, devido
à dificuldade nas funções executivas. Segundo o autor, esses
estudantes também têm problemas com a automotivação, o que faz
com que haja necessidade de recompensas externas mais frequentes.
Rohde e Mattos (2003) e Barkley (2002) ressaltam que uma
estratégia para lidar com a dificuldade de esperar é reforçar
ativamente os intervalos de espera, aumentando esse período
gradativamente até um período mais prolongado. Quando essa
inabilidade se manifestar em comportamentos agressivos, é
necessário que se tome a liderança, mas sem reagir como o estudante
(com comportamentos agressivos e impulsivos).
Após a explanação dos aspectos da subcategoria “Nível
psicológico”, procederemos à análise e interpretação da segunda
subcategoria “Ensino-aprendizagem”. Essa foi subdividida em
percepções sobre o “Relacionamento com a escola”, sobre a
“Necessidade de mediação” e as “Dificuldades de aprendizagem”.
Nos aspectos ligados ao “Relacionamento com a escola”,
foram citados tanto os positivos quanto os negativos.
Os aspectos positivos apareceram nas falas de cinco sujeitos,
suscitados pelo questionamento 1.2 (“Seu filho/neto gosta de ir à
escola?”). Esses podem ser constatados nos trechos da transcrição das
falas de M1 e M5:
Agora ele gosta ((de ir para a escola)). Mas antes (+) não. Tinha
dia da semana que ele até queria ir (++) que era dia que tinha
educação física (+) Fora esses dias (+) ele não queria ir não. Agora
257
ele vai (2,0) Agora ele não reclama, não, é difícil ele reclamar.
(M1)
Ela gosta ((de ir na escola)) se deixar vai até domingo (++) Ama
(+) Ela não vê a hora. (O quê? Vai começar amanhã?) ela não vê
a hora. (M5)
Os aspectos negativos foram citados por oito sujeitos,
provenientes das respostas às questões 1.1 (“Seu filho/neto já
enfrentou ou enfrenta problemas na escola? Se sim, quais?”) e 1.2
(“Seu filho/neto gosta de ir à escola?”). Como exemplo, temos as falas
de M2 e P6, as quais demonstram desajustes no ambiente escolar
causados por problemas de comportamento:
[...] problemas na escola eu tive desde sempre (++) Ele não para (+)
não obedece (+) briga, não faz atividade (++) A escola que pediu
pra eu ir atrás de uma ajuda porque não estava conseguindo lá (+)
e aí eu fui no posto e eles encaminharam para o CAPS. (M2)
[...] tinha vezes que ela emburrava e não fazia nada, o queria
fazer nada. Saía da sala de aula, ia por conta própria, sem
autorização. Entendeu? Aí não pode né.(P6)
Os estudantes com TDAH têm uma incapacidade de seguir
completamente as regras ou instruções, algo visto como
problemático na escola. Enquanto os estudantes não acometidos
pelo transtorno são guiados mais por direções e instruções, os
estudantes com TDAH acabam regidos mais pelo ambiente e muitas
vezes se engajam em outra atividade, não solicitada e sem relação com
as instruções fornecidas (BARKLEY, 2002).
258
Como agravante, segundo esse mesmo autor, a escola atual
muitas vezes desconsidera as diferenças individuais e está pouco
aberta à diversidade, negligenciando a necessidade de adequação de
recursos e metodologias para os estudantes que necessitam,
transitória ou permanentemente, como assegurado pela legislação.
Além disso, as características do transtorno são intensificadas em
situações de grupo, como em sala de aula, o que dificulta ainda mais
a percepção seletiva dos estímulos e coloca o estudante em risco, tanto
na esfera acadêmica quanto social.
Alguns demonstram uma relação negativa com a escola, em
função da dificuldade de aprendizagem. Para ilustrar, temos o excerto
da transcrição da fala de A4, suscitada pela questão 1.2 (“Seu
filho/neto gosta de ir à escola?”):
Ele não gosta de ir na escola não (+) devido à dificuldade que ele
tem na leitura (++) Ele compreende, mas na hora de pôr no papel
(+) aí vem a dificuldade grande, que é onde ele fala que ele odeia
a escola, que ele não gosta. Só que ele vai, ele não recusa. Você
chama, ele vai numa boa /.../ A gente sempre procurou saber (++)
na cidade que eu morava, a gente era muito comunicativo (++) a
escola também correspondia sempre (+) Agora, aqui, não /.../
Parece que pra ele / assim (+) a escola não tinha fim (2,0) 2018 não
tinha fim. (A4)
Conforme a APA (2014), o tipo desatento se correlaciona
com uma maior taxa de prejuízo acadêmico, como é o caso de E4.
Para Rohde e Mattos (2003), a família e a escola devem agir
como parceiras e lutar juntas, com vistas ao desenvolvimento não só
desses estudantes, mas em especial deles. Nesse sentido, é
imprescindível manter abertas as redes de comunicação no dia a dia
259
do estudante, pois somente por meio desse diálogo é possível
verificar se os comportamentos acontecem em determinados
ambientes e situações ou se acontecem em todos os locais e
momentos, de modo a pensar em melhores estratégias para o
manejo.
Uma técnica citada por Baum (1990), para auxiliar em
estudantes que apresentam dificuldades em colocar as ideias no
papel, é a utilização do brainstorming
14
, o qual serviria para iniciar a
organização do pensamento e das ideias.
No questionário fechado, cinco investigados responderam
que o estudante gosta muito de ir à escola, e sete que ele não se anima
muito, mas sabe que deve ir. Nenhum deles afirma que o estudante
não gosta de ir à escola.
Constata-se, com as entrevistas, que os estudantes com
dificuldades de aprendizagem fazem parte dos que não se animam
muito a ir para a escola, apontando, em sua maioria, os seus aspectos
negativos.
As relações positivas com o professor e a escola são favoráveis
para todos os estudantes, entretanto, para o estudante com TDAH,
elas são fundamentais para que o processo de aprendizagem ocorra.
Esses estudantes necessitam de estímulos mais positivos, adequações
e muitas vezes reabilitações, por meio de recuperação. Os professores
precisam buscar conhecimento para avaliar não só o mau
comportamento e as dificuldades, mas também para melhor delinear
14
Tradução usual em português, “tempestade de ideias”, é uma dinâmica de grupo ou atividade
individual na qual, a partir de temas geradores, é desencadeado o processo criativo de livre
associação, com vistas à avaliação da criatividade e/ou, organização das ideias.
260
sua prática em sala de aula (FONSECA; MUSZKAT; RIZUTTI,
2012).
Pesquisas indicam que não as famílias se sentem frustradas
em seus papéis parentais, mas também os professores, que chegam a
questionar a própria autoeficácia, havendo necessidade, assim, de
estabelecer objetivos realistas, levando em consideração as
potencialidades e dificuldades do estudante (ROHDE; MATTOS,
2003).
É essencial que o professor ressalte essas potencialidades
nesses estudantes, todavia, observa-se que muitas vezes o inverso é o
verdadeiro; isso ocorre devido ao caráter aversivo relacionado ao
comportamento e às dificuldades apresentadas por esses estudantes
(DESIDÉRIO; MIYAZAKI, 2007).
Falas que aludem à “Necessidade de mediação” estiveram
presentes em cinco entrevistas. Essas foram desencadeadas pelos
questionamentos 1.1 (“Seu filho/neto enfrentou ou enfrenta
problemas na escola? Se sim, quais?”) e também 3.3 (“Em quais
atividades ele se envolve sozinho?”). Para exemplificar, temos o
excerto da transcrição das falas de M3 e A4:
[...] ele tem o jogo de Lego (+) ele pega e quer (++) aí fica (++) Ele
está jogando no computador o jogo do Lego, ele quer que eu sente
com ele pra poder fazer junto com ele, pra poder ajudar ele no que
ele não consegue (Ah, eu vou montar (+) Eu monto sozinho (+)
Mas eu vou lá e chamo a mamãe e o irmão pra ajudar porque isso
daqui eu não consigo desencaixar) /.../ Ele vai estudar em uma
escola que tem sala de reforço /.../ Depois de toda a avaliação, eu
vou dar entrada junto com o CAPS na documentação pra ele
conseguir ir pra a sala de reforço, ele precisa. (M3)
261
Essa fala confirma os achados de Barkley (2002) e revela que
os estudantes com TDAH não avaliam nem exploram tão bem os
objetos quanto os que não apresentam o transtorno. Isso se em
razão da falta de persistência e dificuldades de se manter em uma
tarefa, desencadeadas pelo baixo controle inibitório.
Alloway et al. (2016) asseveram que há pesquisas as quais
demonstraram uma diminuição das respostas impulsivas, quando os
estudantes estão envolvidos com jogos de computador de que
gostam. Isso sugere que esses estudantes, quando estão bastante
envolvidos com as tarefas, tendem a apresentar maior controle
inibitório e necessitar de menor mediação externa.
As investigações de Desidério e Miyazaki (2007) amparam
nossos dados, alertando que o estudante com TDAH pode requerer
atenção especial, quer na escola, quer em casa e no convívio social.
A fala de A4 exprime a necessidade de mediação, no contexto
de sala de aula:
[...] ele tinha uma::: Como que eu vou falar o nome? Um estagiário
(++) E aqui ele não teve nada disso (+) Eu entendo que uma hora
ou outra ele vai ter que desligar (++) só que eu acho que ainda não
era a hora, principalmente a situação que ele está passando agora
((separação dos pais)) /.../ Ela mandou a documentação pra a
delegacia de ensino e não aprovaram /.../ Ficou por isso mesmo (+)
Agora foi pro sexto ano (+) Então (+) já levei as cartas novamente.
Ele precisa desse acompanhamento /.../ ele fala (Ô::: vó, nossa (++)
agora são 50 minutos de aula. Nossa, né” Será que eu vou dar
conta?) a gente sempre apoia que sim. E nós estamos, na nossa
mente já estamos esperando. (A4)
262
Rohde e Mattos (2003) frisam que, em casos de dificuldades
mais acentuadas, é necessária a atuação de um tutor que acompanhe
o processo de ensino-aprendizagem mais de perto, como no caso
supracitado. Esse age como um intermediário entre o que o professor
propõe, para os estudantes da sala, e o estudante com maiores
dificuldades, orientando-o em suas necessidades ou adequando as
atividades a seu ritmo e estilo de aprendizagem.
Sousa (2015) reforça que a mediação pedagógica para
estudantes com TDAH é extremamente positiva no processo de
avaliação da aprendizagem, a depender das estratégias utilizadas;
como estratégias positivas são citadas, por exemplo: releitura de
textos e questões pelo mediador, solicitação de revisão das respostas
fornecidas pelo estudante, orientação para observar ações e detalhes
nos questionamentos e também adaptações nos próprios
instrumentos de avaliação.
Falas que aludem a “Dificuldades de aprendizagem”
estiveram presentes em três entrevistas. Essas foram suscitadas pelo
questionamento 1.1 (“Seu filho/neto já enfrentou ou enfrenta
problemas na escola? Se sim, quais?”).
Tais dificuldades estão relacionadas à aprendizagem de
conteúdos acadêmicos e causam desajustes no contexto escolar,
desestímulo e constrangimento, fato destacado por A3 e
corroborado por M4:
Agora, ele::: Ele::: assim / às vezes ele reclama e fica sentido porque
os amiguinhos (+) todos (+) já sabem escrever e ler, e ele não (3,0)
Aí ele fala (Será que eu não vou aprender?), não sei o quê /.../ Olha
(++) eu acho ele um menino inteligente (+) sabe das coisas né” (+)
263
o que eu vejo é assim, de escola, que a gente acha que ele já poderia
(+) assim (+) ter aprendido a ler (++) e ele não consegue. O duro
é na aprendizagem de escola. É isso que eu acho, que eu fico
pensando (+) Então, porque::: (++) Ele mesmo, ele fica (++) (Ah,
mãe, mas eu não sei ler, eu não sei escrever) ele tem dificuldade
(++) Não tem jeito /.../ E ele fica assim (+) fala que todos já sabem
(+) e ele não. (A3)
[...] por causa da dificuldade que ele tem de aprendizagem ” Eu
acho que::: principalmente esse ano (+) quem acompanha a turma,
vai (+) Que não é o caso dele (2,0) Aí ele acabava ficando mais de
lado (++) Entã:::o (+) foi difícil pra ele (+) porque acabava que
ele não queria ir (++) Por quê? Ele vai lá pra quê? Pra ele não é
significante, ir lá aprender o que ele não está aprendendo? /.../ Ele
sente (+) às vezes (++) até meio assim (+) com vergonha, porque
às vezes mandam ele ler (++) Como ele tem dificuldade de ler, ele
lê meio gaguejando, ele fica naquela (++) porque ele não quer ir
lá porque ele acha que os outros vão rir dele (++) Algumas vezes
ele já chegou a falar que ele não gosta de ir ((na escola)) porque os
outros amiguinhos sabem e ele não. (M4)
O TDAH frequentemente compromete o rendimento
escolar, já que é imprescindível, nesse ambiente, selecionar os
estímulos relevantes e ignorar os estímulos concorrentes. Essas
dificuldades de aprendizagem são também causadas pela inabilidade
de se concentrar por muito tempo em uma mesma atividade
(ROHDE; MATTOS, 2003).
É relevante realçar que nem todo estudante com TDAH
apresenta dificuldades na aprendizagem, pois essas dificuldades
muitas vezes são compensadas pelo bom potencial intelectual e
interesse pelo conhecimento, bem como por condições didáticas
adequadas (ROHDE; MATTOS, 2003), porém, essas dificuldades,
264
quando associadas ao TDAH, podem ser uma característica
temporalmente estável (BARKLEY, 2002).
O fato de alguns estudantes do grupo exibirem graves
dificuldades na aprendizagem também pode estar ligado a um
transtorno de aprendizagem ainda não diagnosticado (ROHDE et
al., 2000; ROHDE; MATTOS, 2003; PERES, 2013; APA, 2014).
Após a discussão dos aspectos relacionados ao processo de
“Ensino-aprendizagem”, procederemos à discussão das falas alocadas
na subcategoria “Nível social”. Esta foi subdividida em “Preferências
quanto à idade”, Bullying e preconceito” e “Ajustamento social”.
As “Preferências quanto à idade” apareceram nas falas de seis
pais/avós, suscitadas pelo questionamento 2.2 (“Você acha que ele
prefere crianças mais novas, mais velhas ou da idade dele?”). No
questionamento fechado, quatro pais/avós afirmam que o estudante
prefere colegas mais velhos, seis têm preferência por colegas da
mesma idade e dois preferem brincar sozinhos, o que destaca que esse
é um comportamento bastante variável, no grupo. Assim, alguns
desajustes são revelados, sobretudo associados à diferença em relação
aos pares, como em M1 e M3:
Com crianças mais novas agora ele se dá (+) assim (+) Se dá bem.
Ou até pra ajudar, fazer alguma coisa, ele até ajuda /.../ Mas /
assim (++) pra conversar com os adultos, né” (+) não é que eu ache
que ele se destaque de outras crianças (++) mas assim (+)
comparando (+) acho que com os adultos, ele conversa::: (+) parece
que ele já tem mais facilidade pra conversar (++) Ele não fica com
vergonha, igual fica com as crianças da idade dele (+) O que eu
acho diferente nele. Acho que ai o tem competição. (M1)
265
É assim (++) ele não é uma criança introvertida (+) Bem pelo
contrário (+) ele é bem extrovertido, falante (+) ele não tem
vergonha (+) Só que quando são as crianças da mesma idade que
ele, ele não consegue (+) Tanto que quando a gente vai em alguma
festa, alguma coisa, se tem crianças da mesma idade, mais novas ou
mais velhas, ele se identifica com as mais novas. Que::: Na verdade
só sai correndo (+) brincando (+) Não tem relacionamento (Eu
não sei fazer o que eles fazem) Isso gera uma desvantagem, né”.
(M3)
Atrasos leves no desenvolvimento social, quando
comparado aos pares, não são indicadores de TDAH, mas podem
aparecer em comorbidade com esse transtorno (APA, 2014). Esses
estudantes, apesar das dificuldades interpessoais, preferem a
socialização ao trabalho solitário, entretanto, geralmente são
crianças que se envolvem em atividades
consideradas mais
improdutivas e aleatórias, quando comparados aos colegas da mesma
idade (WEBB; LATIMER, 1993; LEROUX; LEVITT-
PEARLMAN, 2000; BARKLEY, 2002; ROHDE; MATTOS,
2003), embora os indivíduos do tipo predominantemente desatento
tendam a atividades mais solitárias, segundo Barkley (2002).
O “Bullying e preconceito” tomaram parte das falas de sete
dos sujeitos entrevistados. Essas falas foram decorrentes do
questionamento 2.4 (“Você acredita que seu filho/neto já sofreu (ou
sofre) preconceito devido ao fato de ser diferente em suas
características?”). Na maioria das vezes, estão associados aos desvios
de comportamento e à dificuldade de aprendizagem, embora
também as características físicas tenham sido citadas como
motivadoras desse tipo de violência. Para exemplificar, temos as falas
de M1 e A3:
266
Já::: (++) sim (+) Você chegar na casa de alguém e alguém
olhar meio torto pra ele né” (++) Principalmente casa que tinham
outras crianças (++) Já aconteceu de festinha de aniversario a gente
perceber que não convidou mesmo por causa do comportamento
dele (2,0) Outras crianças falarem que não chamou porque não
gostava dele (+) não queria chamar. Ele já::: / Ah, assim (+) Numa
rodinha, né” várias crianças e ele chegar (+) aí as crianças saírem
do lugar e deixar ele lá /.../ os adultos também (+) a gente já ouviu
comentário assim, né” (Ai, que ele briga demais) (Ai, ele é ruim)
(Ele é agressivo) (Ai, mas ele bagunça demais). Principalmente da
família a gente já ouviu /.../ Às vezes a gente está em festa de
aniversário e pessoas estranhas (+) fazendo cara feia (+) chamar os
filhos pra perto, pra sair de perto dele (2,0) A gente já passou por
isso sim, muitas vezes. (M1)
Olha, ele reclama (+) ele é bastante peludo (++) Entã:::o, teve já
com isso daí (+) você está entendendo? Teve também de ficarem
fazendo brincadeira de mau gosto com ele porque ele não aprende
(++) Eu não lembro agora o que é que eles falavam pra ele, mas
ele::: às vezes ele reclama /.../ porque ficavam falando::: (+) Eu não
lembro agora o quê (+) Mas aí eu falei (Ah, deixa pra lá, eles estão
com inveja de você). (A3)
Uma pesquisa bastante relevante sobre a temática bullying
associado ao TDAH é a de Unnever e Cornell (2003). Esses autores
investigaram a influência do baixo autocontrole e do TDAH na
vitimização desse último pelo bullying. Foram participantes da
pesquisa 1.315 estudantes do Ensino Médio e foi encontrada
correlação positiva entre a medicação para TDAH e bullying. Isso nos
revela que esses estudantes estão em um grupo de risco e tendem a
267
ser vítimas desse tipo de violência mais vezes, quando comparados
aos estudantes não acometidos pelo transtorno.
Situações mais extremas de bullying e preconceito podem
ocasionar a Síndrome da Desmoralização. Esta é resultado de um
estado de perturbação decorrente de uma incapacidade de enfrentar
situações adversas, dificuldade na criação de estratégias de adaptação
aos problemas do meio, ocasionando desespero e perca do sentido
da vida. A Síndrome da Desmoralização é frequentemente associada
ao TDAH e pode evoluir em desejo de morte (WILENS et al.,
2000).
Quanto ao “Ajustamento social” do estudante, foram
identificadas as falas de oito sujeitos. Estas foram desencadeadas por
dois questionamentos: 1.2 (“Como é o relacionamento do seu
filho/neto com os colegas de escola?”) e 2.1 (“Seu filho/neto tem
facilidade para fazer amigos?”). Os estudantes, em sua totalidade,
apresentam dificuldades nos relacionamentos sociais, as quais
parecem estar mais fortemente associadas ao comportamento
agressivo, como no caso de M1 e A5:
[...] briga (3,0) Ele brigava bastante (+) O convívio com os
amiguinhos era difícil (+) Era muito difícil com os colegas /.../
Ahhh não ter (+) assim (+) como fazer amizade com os outros
colegas (+) tinha muito esse problema, sabe” Ninguém queria
brincar com ele, porque se falasse alguma coisinha errada, ele já
batia. (M1)
Ahhh ela fala que não consegue (+) Diz que tem uma menina só
(+) colega dela (+) ela fala que as colegas dela não gostam dela /.../
268
Ahhh ela é muito agitada, ela grita muito com os outros, bate né”
Acho que ela acaba ficando sem amizade. (A5)
Para Barkley (2002), os problemas de relacionamento
costumam ser os mais difíceis que o estudante com TDAH pode
enfrentar, pois os comportamentos agressivos são aversivos para
outros. De acordo com o autor, esses estudantes têm dificuldade de
separar fatos de sentimentos, devido a suas respostas impulsivas, o
que causa punição e rejeição por parte dos outros, especialmente
quando versamos sobre a apresentação “hiperativa/impulsiva”, que,
segundo a APA (2014), se correlaciona fortemente com
impopularidade e rejeição pelos pares.
Estudo intergrupos
No estudo intergrupos, primeiramente serão focalizados os
resultados comparativos do questionário fechado, seguidos pelos dos
dados coletados nos instrumentos padronizados, nas entrevistas e,
por último, será feita a discussão sobre os estudantes que atenderam
ao critério para avaliação inicial de TDAH e Superdotação.
Resultado comparativo do questionário
Na Tabela 19, temos o resultado comparativo do
questionário.
269
Tabela 19- Resultado comparativo dos dados coletados por meio do
questionário
Fonte: Elaboração própria.
270
A respeito do questionamento de regras, a maior parte dos
respondentes do G1 (10) declara que o estudante questiona as regras
e tenta modificá-las, opção assinalada pela metade dos informantes
do G2 (6).
Esses dados corroboram os achados de Webb e Latimer
(1993) e Guimarães e Ourofino (2007) de que os estudantes com
comportamento superdotado normalmente questionam as regras,
costumes e tradições, sendo que alguns se envolvem em lutas pelo
poder. Para Alencar (2007) e Ourofino e Guimarães (2007), esses
geralmente são mais intensos em seus posicionamentos, devido à
complexidade intelectual e à sensibilidade emocional.
Barkley (2002) e Rohde e Halpern (2004) aludem à
dificuldade dos estudantes com TDAH de seguir regulamentos e
controlar os impulsos, comportamentos os quais podem ser
desconfortáveis no convívio com pais, professores e colegas. Segundo
Cramond (1995) e Lovecky (1999), esses comportamentos não
comprometem o autocontrole nos estudantes com comportamento
superdotado e diferem, em intensidade, daqueles que têm TDAH.
Com relação ao comportamento de liderança, dez
respondentes do G1 informaram que o estudante tenta liderar os
demais, resultado também maior no G2 (6), grupo no qual quatro
afirmam que o estudante se comporta como os demais.
O comportamento de liderança é amplamente reconhecido
como um indicador de comportamento superdotado (BRASIL,
2006, 2008a).
Quanto ao TDAH, há achados que revelam que o déficit nas
funções executivas pode acarretar dificuldades nos aspectos
271
necessários à liderança; existem igualmente pesquisas que
evidenciam que, devido à dificuldade de seguir regras, muitos
estudantes acabam exercendo uma liderança negativa em sala de aula
e se sobressaem em função dos comportamentos considerados
problemáticos (ROHDE; MATTOS, 2003).
Quando questionados sobre o nível de atividade no
estudante, a maioria dos sujeitos (7 no G1 e 11 no G2) respondeu
que o considera agitado.
Um alto nível de atividade é tomado como um indicador
comum aos dois fenômenos: Superdotação e TDAH (WEBB;
LATIMER, 1993; WINNER, 1998; WILLARD-HOLT, 1999;
KAUFMANN; KALBFLEISCH; CASTELLANOS, 2000;
BARKLEY, 2002; OUROFINO, 2007; MASSUDA, 2016).
Acerca da variável curiosidade do estudante no G1, a maior
parte dos respondentes (10) considera o estudante muito curioso, em
contraponto à maioria dos respondentes, no G2 (8), para quem o
filho tem uma curiosidade normal.
Com efeito, a curiosidade é um dos aspectos cocognitivos
apontados na Operação Houndstooth (RENZULLI, 2014, 2018),
atribuídos à energia física/mental do estudante com comportamento
superdotado, a qual é igualmente enfatizada pela legislação como
uma característica recorrente, nesses estudantes (BRASIL, 2006).
Torrance (1998) afirma que a curiosidade é um aspecto inerente à
criatividade, estando comumente presente nos dois grupos
(KAUFMANN; KALBFLEISCH; CASTELLANOS, 2000), no
entanto, nossos resultados apontam diferenças no nível de
curiosidade relatado pelos pais, de maneira que os estudantes do G1
foram considerados mais curiosos.
272
Na variável ritmo de realização de diversas tarefas, dez
participantes do G1 declaram que o estudante é mais rápido que os
pares, opção assinalada por quatro participantes do G2. Seis
informantes nesse último grupo sustentam que este normalmente é
mais lento que os pares e realiza suas atividades sem pressa.
Rohde e Mattos (2003) e Ourofino (2007) enfatizam que
pessoas que apresentam o TDAH têm dificuldade de monitorar o
tempo em suas atividades, sendo que o primeiro relata que esses
estudantes podem demandar de três a quatro vezes mais tempo no
dever de casa, quando comparados a outros, não acometidos pelo
transtorno.
Em contraponto, Webb e Latimer (1993) e Willard-Holt
(1999) destacam que há variabilidade no desempenho e também no
tempo utilizado para realizar as tarefas, nesse grupo de estudantes.
Quanto à criatividade, os dois grupos obtiveram os mesmos
resultados, com a maioria dos respondentes (9) afirmando que, na
percepção dos pais/responsáveis, o estudante exibe uma criatividade
normal.
Quando questionados sobre a variável envolvimento com a
tarefa, no G1, oito respondentes apontam que o estudante se envolve
normalmente, enquanto o envolvimento intenso é identificado por
quatro respondentes. No G2, sete respondentes assinalam que o
envolvimento dos estudantes é intenso, e cinco o consideram
normal.
Níveis elevados de envolvimento com a tarefa constituem
uma característica compartilhada por muitos estudantes com
comportamento superdotado, correspondendo a um dos anéis
273
apontados no Modelo dos Três Anéis de Renzulli (1986, 1988,
2014, 2018), para identificar a Superdotação. A propósito dos
estudantes com TDAH, mostram indicadores de hiperfoco,
sobretudo associados a atividades no âmbito criativo, uma
característica que vem sendo identificada também em estudantes
com comportamento superdotado (OUROFINO, 2007;
MASSUDA, 2016).
Quanto à atenção e impulsividade, no G1, dez respondentes
afirmam que o estudante se antecipa às explicações, o que foi
reiterado por seis respondentes do G2, sendo também maioria. Esse
aspecto pode ser explicado pelo alto nível de impulsividade, comum
aos dois grupos (KAUFMANN; KALBFLEISCH;
CASTELLANOS 2000; ORENDORF, 2009; PÉREZ;
RODRIGUES, 2013) e também à dupla excepcionalidade (REIS;
BAUM; BURKE, 2014). Para Webb et al. (2005), os estudantes com
comportamento superdotado raramente têm problemas com a
atenção ou impulsividade, quando estão interessados.
Com relação à variável problemas na escola, sejam eles
acadêmicos, sejam comportamentais, praticamente a totalidade dos
participantes (11, no G1, e dez, no G2) ressalta que o estudante já
vivenciou esse tipo de problema. Já com respeito à variável
problemas em contextos extraescolares, no G1, dez participantes
frisam ter enfrentado problemas em outros contextos, em
contraponto, no G2, metade assevera que sim, e metade responde
que nunca enfrentou problemas em outros contextos.
Isso pode ser explicado pelo fato de os dois fenômenos aqui
investigados (e a dupla excepcionalidade) serem passíveis de
desajustes em diferentes contextos, principalmente na escola, em
274
função do alto nível de atividade (WEBB; LATIMER, 1993;
WINNER, 1998; WILLARD-HOLT, 1999; KAUFMANN;
KALBFLEISCH; CASTELLANOS, 2000; BARKLEY, 2002;
OUROFINO, 2007; MASSUDA, 2016).
Resultado comparativo dos dados coletados por meio dos
instrumentos padronizados
Na Tabela 20, temos o resultado comparativo dos dados
coletados por intermédio dos instrumentos padronizados.
As variáveis dependentes avaliadas foram: déficit de atenção,
hiperatividade/impulsividade, indicadores de Superdotação,
habilidades sociais e problemas de comportamento.
275
Tabela 20- Resultado comparativo das medidas de desatenção,
hiperatividade/impulsividade, indicadores de Superdotação, habilidades sociais e
problemas de comportamento
Fonte: Elaboração própria.
Com a análise da Tabela 20, constata-se que o grupo dos
estudantes com hipótese diagnóstica de TDAH obteve maiores
escores com relação às medidas de desatenção e hiperatividade/
impulsividade, embora, na primeira, a média dos resultados tenha se
assemelhado (M G1 = 3,5 < M G2 = 3,8).
Acerca desses fatores, Lovecky (1999) e Ourofino e Fleith
(2005) encontraram que estudantes com dupla excepcionalidade são
os mais desatentos, quando comparados aos grupos de diagnóstico
276
isolado, ao passo que o grupo de estudantes com TDAH é mais
hiperativo que os outros dois.
Com respeito aos indicadores de Superdotação, os
estudantes precoces com comportamento superdotado tiveram
escores mais altos que os estudantes com a hipótese diagnóstica de
TDAH. Vale ressaltar que a média das avaliações do G2 foi 61,90%,
não muito aquém da nota de corte estabelecida pelo instrumento, o
que reforça a circunstância de que muitos dos indicadores de
Superdotação estão presentes nos estudantes com TDAH.
Na avaliação das habilidades sociais, seja na avaliação por
pais/responsáveis, seja na autoavaliação, o grupo de estudantes com
comportamento superdotado obteve maiores escores em
praticamente todos os itens, exceto no item responsabilidade,
avaliado pelos pais/avós.
Na escala de problemas de comportamento, os estudantes do
G2 evidenciaram maiores escores, tanto nos problemas de
comportamento generalizados quanto nos fatores isolados.
Esses resultados confirmam os achados de Freitas (2011) e
Freitas e Del Prette (2013, 2014), os quais realçam o TDAH
preditor de déficits em habilidades sociais, correlacionando- se
positivamente com os problemas de comportamento. Em
contraponto, os mesmos autores identificaram que o grupo de
estudantes com comportamento superdotado obteve melhores
escores que as outras onze categorias de necessidades educacionais
especiais investigadas.
Um repertório elaborado de habilidades sociais tem-se
mostrado preditor de menor frequência de problemas de
277
comportamento internalizantes e externalizantes (GRESHAM;
ELLIOTT, 1990; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2002, 2003,
2009; ELLIOTT; GRESHAM, 2008).
Resultado comparativo dos dados coletados por meio das
entrevistas
Nas entrevistas, de maneira geral, foram identificados vários
aspectos ligados ao alto nível de atividade, impulsividade e
agressividade, em ambos os grupos. São comportamentos, que, pelo
senso comum, podem ser atribuídos somente ao TDAH.
Enquanto, no primeiro grupo, foram apontadas facilidade
de aprendizagem, precocidade, boa memória e autodidatismo, os
participantes do G2 aludem mais à dificuldades
de aprendizagem,
imaturidade, instabilidade emocional e à necessidade de mediação e
atenção. Nos dois grupos, há relatos sobre vivências de situações de
bullying e preconceito. Na verdade, os estudantes do G1, embora
seletivos, parecem ser mais competentes, socialmente falando,
quando comparados aos estudantes do G2, cuja totalidade
demonstra enfrentar dificuldades de socialização.
Ademais, foi constatado que a presença de professores mais
compreensivos, os quais dominem os conhecimentos a respeito das
especificidades dos estudantes com TDAH e/ou Superdotação, a
colaboração da escola como um todo e a oportunidade de se engajar
em atividades adaptadas ao seu nível e interesse são imprescindíveis
no processo de ensino- aprendizagem desses estudantes, sendo
levantada a necessidade de flexibilização curricular nos dois grupos.
278
Quanto aos indicadores de dupla excepcionalidade,
observou-se que, no G1, os indicadores apontados, que podem ser
considerados comuns à dupla excepcionalidade, foram sete:
criatividade, pensamento crítico, somatização, competitividade,
sobre-excitabilidade emocional, dissincronia e facilidade na
aprendizagem. Enquanto isso, foram apontados seis considerados
comuns aos três fenômenos: ansiedade, impulsividade, alto nível de
atividade, agressividade (foi encontrada no grupo, mas é mais
comum aos estudantes com TDAH e dupla excepcionalidade),
desorganização com os pertences e o fato de serem vitimados pelo
bullying. Por isso, 13 indicadores dos 29 indicadores (44%),
levantados nas entrevistas, poderiam ser indicativos de casos de
dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH.
Com relação ao G2, foram nove os indicadores destacados
pelos entrevistados que seriam comuns ao TDAH e à dupla
excepcionalidade: imaturidade, baixo autocontrole, desatenção,
criatividade (foi encontrada no grupo, porém, não há consenso sobre
a relação TDAH e criatividade, podendo essa também ser
considerada um indicador comum aos três fenômenos),
agressividade, instabilidade emocional, necessidade de mediação,
dificuldade de aprendizagem e baixo ajustamento social. Nesse
grupo, foram ainda identificados casos de bullying e alto nível de
atividade, que podem ser tomados como indicadores dos três
fenômenos. Em suma, foram levantados 11 indicadores, em um total
de 21 (52%) que podem indicar a dupla excepcionalidade.
279
Estudantes que atenderam ao critério para avaliação inicial de
TDAH e Superdotação
Neste estudo, foi verificado que dois dos seis estudantes, no
G1, cumprem os critérios necessários da avaliação inicial de TDAH,
ou seja, apresentam indicativos do transtorno. Já no G2, um dos
estudantes tem indicadores de Superdotação.
Por conseguinte, é constatada falta de consenso quanto à
prevalência dos estudantes nos grupos de diagnóstico diferenciado,
a qual pode ser explicada pelas diferenças metodológicas adotadas e
também pelas amostras de estudo.
O estudante E2, do G1, não apresenta déficits acentuados
nas habilidades sociais, mas foi avaliado por um dos informantes
como tendo um repertório médio superior para problemas de
comportamento.
Dos três estudantes que atenderam ao critério para avaliação
inicial de TDAH e Superdotação, dois (E6, no G1, e E2, no G2)
mostram déficits generalizados nas habilidades sociais e igualmente
problemas de comportamento.
Seguindo os pressupostos da literatura, consideraremos o
déficit nas habilidades sociais como um atributo necessário à
identificação (CHAE; KIM; NOH, 2003; KALBFLEISCH;
IGUCHI, 2008; REED, 2013; GARCÍA, 2015; LUQUE-
PARRA; LUQUE-ROJAS; DIAZ, 2017), de sorte que
identificamos dois estudantes com indicativos de dupla
excepcionalidade Superdotação e TDAH (E6, no G1, e E2, no G2).
Vale ressaltar que a identificação desses indicadores não
garante que os estudantes apresentem a dupla excepcionalidade,
280
mas, esta deve ser levada em conta, em avaliações posteriores, pois,
conforme já frisado, é necessária uma identificação precisa com
vistas à adoção de estratégias pedagógicas eficientes, para que esses
estudantes se sintam aceitos e seguros para manifestarem suas
características de alta potencialidade, bem como superar suas
dificuldades, sem que haja a necessidade de medicali-las.
Os dois estudantes identificados por este estudo têm
comportamentos de agressividade, relatados pelos pais/responsáveis
durante a entrevista. Com respeito a esse aspecto, Moon (2002)
sustenta que é comum estudantes com comportamento superdotado
e TDAH desenvolverem a agressividade, em resposta às rejeições
sociais vivenciadas.
A estudante do G1, com indicadores de dupla
excepcionalidade, apesar de no instrumento CCAS ter sido
identificada com o tipo misto de Superdotação pela mãe e com o
tipo produtivo-criativo pelo pai, revela habilidades produtivo-
criativas (costura e modelagem), evidenciadas pela fala dos dois
informantes.
Por sua vez, o estudante do G2, identificado também com o
tipo misto do fenômeno, apresenta habilidades cinestésico-corporais
(futebol), que foram relatadas nas falas dos pais/responsáveis.
Baum e Olenchack (2002) assinalam que muitos estudantes
com habilidades cinestésico-corporais podem ser erroneamente
identificados com dificuldades de aprendizagem, TDAH e
desordem do processamento auditivo.
Concordando, Rohde e Mattos (2003) afirmam que os
conteúdos trabalhados em sala de aula privilegiam os do tipo
281
acadêmico, negligenciando áreas afetivas, motoras e sociais, uma das
possíveis causas de desajustes dos estudantes com TDAH, no
ambiente escolar.
Esse fato também vale para os estudantes com comporta-
mento superdotado, de acordo com Renzulli (1986, 1988, 2014),
para quem os estudantes produtivo-criativos são pouco reconhecidos
no ambiente escolar, pois geralmente não têm suas habilidades
contempladas no currículo. Pérez e Rodrigues (2013) ressaltam que
os comportamentos hiperativos podem estar presentes em estudantes
com habilidades corporalcinestésicas. Diante desse contexto,
verificamos que a coleta de informações sobre os estudantes fora do
ambiente escolar é crucial para acomodar suas necessidades únicas de
aprendizado.
Moon et al. (2001) afirmam que mais pesquisas na área são
necessárias, também para verificar se existem variáveis interve-
nientes, como gênero, tipo e nível de TDAH, tipo e nível de
Superdotação e presença ou ausência de atributos, como
criatividade, agressividade, características relacionadas a etnia,
personalidade, posicionamento escolar e estilos parentais. Enfatizam
que a abordagem de casos múltiplos continuará a ser uma maneira
eficaz de investigar as características dessa população, alertando
sobre a necessidade de estudos longitudinais com esses estudantes, a
fim de verificar se a inteligência se tornará um fator protetivo com
relação aos seus problemas socioemocionais, na vida adulta.
Leroux e Levitt-Pearlman (2000) acrescentam que é
necessário determinar os indicadores, conceber medidas para
identificar, avaliar as implicações no processo de ensino-
aprendizagem, identificar estratégias de intervenção bem-sucedidas,
282
estratégias de manejo de comportamento e de apoio emocional e
avaliar os resultados em longo prazo. Os autores recomendam o
treinamento em habilidades sociais para os três fenômenos:
Superdotação, TDAH e dupla excepcionalidade.
Também outros referenciais afirmam que os
comportamentos inadequados desses estudantes diminuem e,
muitas vezes, até desaparecem, quando são utilizadas as estratégias
mais adequadas, e esses estudantes participam de programas de
desenvolvimento engajados no desenvolvimento das habilidades e
interesses individuais (BAUM; OLENCHACK; OWEN, 1998;
BAUM; OLENCHACK, 2002).
Para Massuda (2019), os professores precisam estar
suficientemente preparados para identificar um desempenho acima
da média, entre os estudantes que apresentam dificuldades, e
também identificar dificuldades nos estudantes com
comportamento superdotado, o que seria dar foco aos pontos fortes,
contudo, sem negligenciar as dificuldades e atuar tanto no ensino
complementar quanto suplementar.
Segundo essa mesma autora, oferecer condições para que
esses estudantes expressem suas habilidades e reconheçam seus
potenciais é determinante para melhor compreensão e entendimento
quanto à natureza, intensidade e frequência de ocorrência dos
comportamentos. Por conseguinte, não se trata de avaliar para
rotular, mas para melhor entender e agir, porque essas características
podem se manifestar de maneiras distintas, e o objetivo da
identificação deve ser, sempre, no sentido da inclusão do estudante,
independentemente de suas especificidades.
283
Conclusões
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ___________ ____________ _
Pudemos constatar que os problemas interpessoais,
emocionais e comportamentais dos estudantes com essa dupla
excepcionalidade são considerados seus aspectos mais salientes e
preocupantes.
Por meio da revisão sistemática da literatura e do
delineamento do quadro conceitual, foi possível traçar o estado do
conhecimento sobre a temática da dupla excepcionalidade
Superdotação e TDAH. Assim, verificamos a incipiência nos estudos
da área, tanto empíricos quanto metodológicos, e a falta de políticas
públicas que apoiem a identificação e o atendimento a esses
estudantes, posto que esse é um sistema que se retroalimenta. Muitos
dos estudos que relatam a possibilidade de dupla excepcionalidade
são resultados de observações clínicas ou estudos de caso, o que
reafirma a necessidade de sistematização de propostas de
identificação para esses estudantes, como a do estudo aqui
desenvolvido.
No G1, constatamos que as habilidades sociais foram
consideradas boas, porém, o grupo se revelou bastante heterogêneo
nesse aspecto, com estudantes que apresentam desde repertório
altamente elaborado até repertório abaixo da média inferior. Diante
disso, destacamos que o desenvolvimento das habilidades sociais se
mostra mais intimamente relacionado ao ambiente no qual o
estudante está inserido e ao atendimento às necessidades específicas
do que propriamente à presença da Superdotação.
284
Já o G2 evidenciou repertório abaixo da média inferior em
habilidades sociais e um grupo mais homogêneo, com todos os
estudantes com déficit nessas habilidades e necessidade de
intervenção, conforme corroborado por vários referenciais.
Dos estudantes com comportamento superdotado aqui
avaliados, dois exibem indicadores de TDAH, enquanto, dos
estudantes com TDAH, um deles apresenta indicadores de
Superdotação. Seguindo o pressuposto de que os estudantes com
dupla excepcionalidade possuem déficits em habilidades sociais,
foram identificados dois estudantes como prováveis positivos para
dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH, um em cada grupo.
285
Considerações finais
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ ___________ ____________ ____________ ____________ ____________ __________
Vale ressaltar aqui a necessidade de um olhar
multidisciplinar na avaliação dessa dupla excepcionalidade, a qual
deve ser procedida por modificações curriculares e de instrução, o que
amplia o diálogo sobre esses estudantes. Essas modificações
envolvem necessariamente a família e a equipe escolar, nos processos
educativos, e estes devem se empenhar conjuntamente para o
crescimento desses estudantes, seja nos aspectos intelectuais, seja nos
aspectos socioemocionais.
Podemos afirmar também que todos os agentes implicados
no processo precisam estar cientes da possibilidade de existência
dessa dupla excepcionalidade, de sorte que essas discussões devem
entrar em pauta, para que estes obtenham informações sobre os
fenômenos e melhorem sua relação psicológica com o estudante.
Concordando com Fugate (2016), é essencial que os pais
compreendam que são os maiores defensores dos direitos dos
estudantes com comportamento superdotado e TDAH, porque são
eles os primeiros a verificar as discrepâncias no seu desenvolvimento.
Deve-se incentivar, ainda, o autoconhecimento desses estudantes, a
fim de que possam realizar as melhores escolhas e acomodar seus
pontos e fracos, mesmo que muitas vezes não correspondam às
expectativas dos pais/responsáveis ou dos professores.
Atender às necessidades desses estudantes exige não apenas
que atentemos a suas habilidades, mas que também sejam levados
em conta o ambiente e o aconselhamento, com vistas a um melhor
286
encaminhamento em suas distintas esferas: social, emocional e
comportamental.
As percepções de professores, pais/responsáveis e pares e o
inconsciente coletivo afetam a vida desses indivíduos e,
consequentemente, toda a sociedade, pois são capazes igualmente de
determinar o que é possível ou impossível para cada um.
Nesse sentido, devemos sensibilizar nosso olhar e criar
condições para a tomada de consciência do estudante, atuando como
promotores da autorregulação de aprendizagens e comportamentos,
valendo-nos também de estratégias afetivas e motivacionais,
encorajando esses estudantes na busca autônoma pelo conhecimento
e desenvolvimento e intervindo de modo a favorecer seu
empoderamento enquanto sujeitos históricos, sociais e capazes,
porém, inseridos em uma realidade extremamente paradoxal.
Acredita-se que o presente estudo atingiu seus objetivos,
contudo, não pretendeu e está longe de esgotar as possibilidades para
esse assunto. Como limitações da pesquisa, podemos apontar, entre
outros aspectos, a impossibilidade de pareamento dos grupos, por se
tratar de uma amostra de conveniência e o número reduzido de
participantes.
Almejamos que cada vez mais estejamos cientes de que
transtornos, como o TDAH, não são capazes de impedir que a
Superdotação exista; ademais, é imperioso perceber que estudantes
com comportamento superdotado estão sendo negligenciados pela
falta de identificação do transtorno, bem como estudantes com
TDAH negligenciados pela falta de identificação da Superdotação.
287
Dessa maneira, esperamos que ele sirva de motivação,
catalisador e suporte teórico para pesquisas futuras na área, pois
insistir na ideia de promover o desenvolvimento acadêmico, sem
negligenciar o aspecto socioemocional, é lutar por uma convivência
mais harmoniosa e pelo desenvolvimento holístico dos nossos
estudantes, aumentando suas chances de sucesso, posto que a
verdadeira educação pressupõe humanização e democratização.
Devemos nos preocupar com as dificuldades
socioemocionais dos estudantes, não com vistas à homogeneização,
entretanto, pelo contrário, buscando a diferenciação positiva,
concedendo o atendimento e a atenuação de suas dificuldades.
Por fim, deixo um questionamento nem tão fácil de
responder quanto parece: “Que tipo de sujeito, bem como
sociedade, queremos formar? O que almejamos?”
Que nós saibamos, humildemente, nos unir na luta pela
quebra de paradigmas instaurados historicamente; faço um apelo
para não que deixemos de lado os que de nós mais precisam, os
marginalizados, os desviantes, os estranhos, os enigmáticos, os
indecifráveis... Aqueles que nos desafiam, deixando mais perguntas
que respostas e que, por muito tempo, foram excluídos, em
oportunidades, do sistema educacional e sabotados enquanto
sujeitos.
289
Referências
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________ ____________ _________-
ACKERMAN, P. L.; BEIER, M. E.; BOYLE, M. O. Working
memory and intelligence: The same or different constructs?
Psychological Bulletin, v. 131, n. 1, p. 30–60, 2005.
AKOBENG, A. K. Understanding systematic reviews and meta-
analysis. Archives of Disease in Childhood, v. 90, n. 08, p. 845-848,
2005.
ALENCAR, E. M. L. S. Características sócio-emocionais do
superdotado: Questões atuais. Psicologia em estudo, Maringá, v. 12,
n. 2, p. 371-378. 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a18.pdf. Acesso em: 27
de mai. 2019.
ALLOWAY, T. P. et al. Computer use and behavior problems in
twice-exceptional students. Gifted Education International, v. 32, n.
2, p. 113-122, 2016.
ALLOWAY, T. P.; ELSWORTH, M. An Investigation of
Cognitive Skills and Behavior in High Ability Students. Learning
and Individual Differences, v. 22, n. 6, p. 891-895, 2012.
Disponível em:
https://www.potentialplusuk.org/wp-
content/uploads/2016/08/cognitive- skills-and-behaviour.pdf.
Acesso em: 26 mar. 2018.
ALVES, R. J. R.; NAKANO, T. C. A dupla-excepcionalidade:
relações entre Altas Habilidades/Superdotação com a síndrome de
Asperger, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e
Transtornos de Aprendizagem. Revista de psicopedagogia, São
Paulo, v. 32, n. 99, p. 346-360, 2015. Disponível em:
290
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
- 84862015000300008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 18 dez.
2018.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição
(DSM-IV TM). Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed,
1994.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição
(DSM-V). Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto
Alegre: Artmed, 2014.
ANTSHEL, K. M. et al. Disorder Versus Disability: The
Challenge of ADHD in the Context of a High IQ. The ADHD
Report, v.19, n. 2, p. 4-8, 2011.
ANTSHEL, K. M. et al. Temporal stability of ADHD in the high-
IQ population: Results from the MGH Longitudinal Family
Studies of ADHD. Journal of the American Academy of Child &
Adolescent Psychiatry, v. 47, n. 7, p. 817-825, 2008.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
(ABDA). Questionário SNAP-
IV para avaliação de sintomas de TDAH, 2017. Disponível em:
https://tdah.org.br/diagnostico-criancas/. Acesso em: 13 fev. 2018.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO
DA MEDICINA (APDM).
CAPS Centro de Atenção Psicossocial, 2015. Disponível em:
https://www.spdm.org.br/onde-estamos/ambulatorios-e-
291
centros/centro-de-atencao- psicossocial-caps. Acesso em: 12 nov.
2018.
BALDWIN, L. et al. Twice-Exceptional Learners: The Journey
Toward a Shared Vision.
Gifted Child Today, v. 38, n. 4, p. 206-2014, 2015. Disponível em:
<http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.822.21
72&rep=rep1&type=pdf>. Acesso em: 13 nov. 2019.
BANDEIRA, M. et al. Validação das Escalas de Habilidades
sociais, Comportamentos problemáticos e Competência Acadêmica
(SSRS-BR) para o ensino Fundamental. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, v. 25, n. 2, p. 271-282, 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a16v25n2. Acesso em: 12 fev.
2019.
BARBOSA, A. J. G. et al. Identificação de sobredotação
intelectual: uso de testes e nomeação parental. In: XIII Actas de
Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga: Psiquilibrios,
2008.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4 ed. Lisboa: Edições 70, 2016.
BARKLEY, R. A. Attention-deficit hyperactivity disorder.
Scientific American, v. 279, n. 3, p. 66-71, 1998.
BARKLEY, R. A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
(TDAH). Guia completo para pais, professores e profissionais da
saúde. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BAUM, S. Gifted but learning disabled: a puzzling paradox. ERIC
Clearinghouse on Handicapped and Gifted Children Reston VA.
1990. Disponível em:
292
https://www.ericdigests.org/1994/paradox.htm. Acesso em: 07
mai. 2019.
BAUM, S. M.; OLENCHAK, F. R. The alphabet: GT, ADHD
and more. Exceptionality: A Special Education Journal, v. 10, n. 2,
p. 1077-1091, 2002.
BAUM, S. M.; OLENCHAK, F. R.; OWEN, S. V. Gifted
students with attention deficits: fact or fiction? Or, can we see the
forest for the threes? Gifted Child Quarterly, v. 42, n. 2, p. 96- 104,
1998.
BENCZIK, E. B. P.; CASELLA, E. B. Compreendendo o impacto
do TDAH na dinâmica familiar e as possibilidades de intervenção.
Revista Psicopedagia, v. 32, n. 97, 2015.
BOLSONI-SILVA, A. T.; DEL PRETTE, A. Problemas de
comportamento: um panorama da área. Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 91–103, 2003.
Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbtcc/v5n2/v5n2a02.pdf. Acesso em:
25 nov. 25 nov. 2019.
BORGES DEL ROSAL, A.; HERNÁNDEZ-JORGE, C.;
RODRIGUES-NAVEIRAS, E. Evidências contra el mito de la
inadaptación de las personas com altas capacidades intelectuales.
Psicothema, v. 23, n. 3, p. 362-367, 2011.
BOURDIEU, P. A miséria do mundo. 3. Petrópolis: Vozes, 1999.
BRASIL. Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os
cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de
psicólogo. Brasília, DF, 1962. Disponível em:
293
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4119.htm.
Acesso em: 29 ago. 2019.
BRASIL. Lei nº 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Fixa as
Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus e dá outras
providências. Brasília, DF: MEC, 1971. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/reben/v25n1-2/0034-7167-reben-25-02-
0158.pdf. Acesso em: 14 dez. 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.
Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-
5-outubro-1988-322142-
publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em:
21 jan. 2019.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Câmara, 1996.
BRASIL. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação
básica. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2001a.
BRASIL. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação
básica. Parecer nº 17/2001. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2001b.
BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo
competências para o atendimento às necessidades educacionais
especiais de alunos com Altas Habilidades/Superdotação. Brasília,
DF: MEC/SEESP, 2006.
294
BRASIL. Políticas Nacionais de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2008a.
BRASIL. Resolução SE Nº 11, de 31 de janeiro de 2008. Brasília,
DF: MEC/SEESP, 2008b.
BRASIL. Decreto legislativo nº 186, de 2008. Aprova o texto da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu
protocolo facultativo. DF: MEC/SEE, 2008c.
BRASIL. Resolução 4/2009. Brasília, DF: MEC/SECADI. 2009a.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação
Básica. Resolução n.º 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Básica, modalidade Educação Especial. Diário Oficial da
União, 2009b.
BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE,
2010a. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv49230.pdf.
Acesso em: 29 jan. 2019.
BRASIL. Projeto de Lei (PL) 7081 de 2010. Dispõe sobre
diagnóstico e tratamento do TDAH e Dislexia na Rede Pública de
Educação Básica, Brasília, DF, 2010b.
BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe
sobre a Educação Especial, o Atendimento Educacional
Especializado. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2011.
295
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Câmara dos
Deputados, Edições Câmara, 2013a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato20112014/2013/Lei
/L12796.htm. Acesso em: 30 jan. 2019.
BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do CONEP.
Brasília, DF. 2013b.
BRASIL. Nota Técnica n.º 4, de 23 de janeiro de 2014. Orientação
quanto a documentos comprobatórios de alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e Altas
Habilidades/Superdotação no Censo Escolar. Brasília, DF:
MEC/SECADI, 2014. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=15898-nott04-secadi-dpee-
23012014&category_slug=julho2014-pdf&Itemid=30192. Acesso
em: 16 dez. 2018.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio
Teixeira. Sinopses estatísticas da Educação Básica. Portal Inep.
2017a.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a
Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017b. Disponível
em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 26 mar.
2019.
BRASIL. IBGE. Censo escolar 2018. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.
Disponível em: http://portal.inep.gov.br/censo-escolar. Acesso em:
15 fev. 2018.
296
BRASIL. Projeto de Lei (PL) 3517 de 2019. Dispõe sobre o
acompanhamento integral para educandos com dislexia ou
Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
ou outro transtorno de aprendizagem, Brasília, DF, 2019.
BUDDING, D.; CHIDEKEL, D. ADHD and giftedness: a
neurocognitive consideration of twice exceptionality. Applied
Neuropsychol Child, v. 1, n. 2, p. 145-51, 2012.
BÜTTOW, C. S., FIGUEIREDO, V. L. M. O Índice de
Memória Operacional do WISC-IV na Avaliação do TDAH,
Revista de Psicologia da USF, v. 24, n. 1, p. 109-117, 2019.
CÂMARA, C. G. Auto-alfabetização precoce: indícios de
Superdotação ou resposta a um ambiente rico em estímulos. 1999.
Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1999. Disponível em:
https://bdpi.usp.br/item/001030325. Acesso em: 28 mai. 2019.
CHAE, P. K.; KIM, J. H.; NOH, K. S. Diagnosis of ADHD
among gifted children in relation to KEDI-WISC and T.O.V.A.
performance. Gifted Child Quartely, v. 47, n. 03, p. 192-201,
2003.
COELHO, M. T. B. F.; DIAS, C. M. S. B. Avós Guardiões: Uma
Revisão Sistemática de Literatura do Período de 2004 a 2014.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 32, n. 4. 2017.
COLEMAN, M. R et al. Meeting the Needs of Students Who are
Twice Exceptional. Teaching Exceptional Children, v. 38, n. 1, p. 5-
6, 2005.
COLLINS, L. Take a Byte: Technology for 2e Students. Parenting
for High Potential, v. 5, n. 2, p. 16-19, 2016. Disponível em:
297
https://eric.ed.gov/?id=EJ1094010. Acesso em: 27 dez. 2018.
COLMENARES, G. C. Género y superdotación: las mujeres
superdotadas. In: BRAVO, C. M. Superdotados: problemáticas e
intervención. Valladolid: Servicio de Apoyo a la Enseñanza, 1997.
p. 117-140.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Código de
Ética Profissional dos Psicólogos. Brasília, 2005. Disponível em:
https://www.crpsp.org/uploads/pagina/2748/FqJiBOp0ak8vpmieR
mZe554FCn901Zkx.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
CORDEIRO, M. L. et al. Co-Occurrence of ADHD and High
IQ: A Case Series Empirical Study. Journal of Attention Disorders,
v. 15, n. 06, p. 485- 490, 2010.
COSTA, A. B.; ZOLTOWSKI, A. P. Como escrever um artigo de
revisão sistemática. In: KOLLER, S. H.; COUTO, M. C. P.;
HOHENDORF, J. Manual de Produção Científica. Porto Alegre:
Penso, 2014. p. 55-70.
COSTA, M. P. R.; RANGNI, R. A. Altas
Habilidades/Superdotação e deficiência: dupla necessidade
educacional especial. Revista Ibero-americana de estudos em
educação, v. 5, n. 2, 2010. Disponível em:
https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/3484.
Acesso em: 15 dez. 2018.
CRAMOND, B. The Relationship Between Attention-Deficit
Hyperactivity Disorder and Creativity. The University of Georgia
Department of Educational Psychology Athens, Georgia, 1994.
298
CRAMOND, B. The Coincidence of Attention Deficit Hyperactivity
Disorder and Creativity. Attention Deficit Disorder Research-Based
Decision Making Series 9508. National Research Center on the
Gifted and Talented, University of Connecticut, 1995.
CUPERTINO, C. M. B. (org.). Um olhar para as Altas
Habilidades: construindo caminhos. 2. ed. São Paulo:
CENP/CAPE/FDE, 2012. Disponível em:
http://cape.edunet.sp.gov.br/cape_arquivos/Um_Olhar_Para_As_Altas
_habilidades_2%C2%B
0_Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em
15 fev. 2019.
DABROWSKI, K. Positive disintegration. Boston: Little Brown,
1964.
DABROWSKI, K. Outline of the theory of positive disintegration.
In: DABROWSKI, A. K.; PIECHOWSKI, M. M. (eds.). Mental
growth through positive disintegration. London: Gryf, 1970. p. 17-
26.
DANIELS, S. Under construction: Continued applications of
Dabrowski's theory of positive disintegration with the gifted. In:
DANIELS, S.; PIECHOWSKI, M. M. (eds.). Living with
intensity. Scottscale, AZ: Great Potential, 2009. p. 261-265.
DEL PRETTE, et al. Inventário de Habilidades sociais, problemas de
comportamento e competência acadêmica para crianças-SSRS: manual
de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo, SP: Casa do
Psicólogo, 2016.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das
Habilidades sociais: terapia e educação. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.
299
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Habilidades sociais e
dificuldades de aprendizagem: teoria e pesquisa sob um enfoque
multimodal. In: DEL PRETTE; Z. A. P.; DEL PRETTE (org.).
Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: questões
conceituais, avaliação e intervenção. Campinas: Alínea, 2003. p.
167-206.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Avaliação de
habilidades sociais: Bases conceituais, instrumentos e
procedimentos. In: DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A.
(org.). Psicologia das habilidades sociais: Diversidade teórica e suas
implicações. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 189-231.
DELOU, C. M. C. Lista base de indicadores de Superdotação -
parâmetros para observação de alunos em sala de aula. 2001.
Disponível em: http://www.sed.sc.gov.br/documentos/seminario-
educacao-inclusiva-para-gestor-professor-434/andreia-fcee-
435/2038-lista-basica-de-indicadores-ahs-cristina-delou-
3786/file#:~:text=A%20Lista%20Base%20de%20Indicadores,de%
20intelig%C3%AAncia%2C%20nem%20de%20personalidade.
Acesso em 28 mai. 2019.
DELOU, C. M. C. O Papel da Família no Desenvolvimento de
Altas Habilidades/ Superdotação. In: FLEITH, D. S. (org.). A
construção de práticas educacionais para alunos com Altas
Habilidades/Superdotação: volume 3: o aluno e a família. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. 2007. p.
49-59.
DELOU, C. M. C. Desafio de educar: lidando com os problemas
na aprendizagem e no comportamento. Revista Sinpro-Rio, Rio de
Janeiro, v. 4, n. 5, p. 92-103. 2010. Disponível em:
300
https://www.passeidireto.com/arquivo/21322539/o-desafio-de-
educar-lidando-com- problemas-na-aprendizagem-e-no-
comportamento. Acesso em 05 jun. 2019.
DELOU, C. M. C. Transtorno de Asperger com Altas
Habilidades/Superdotação: a Dupla Excepcionalidade no Ensino
Superior. In: FLEITH, D.; ALENCAR, E. M. L. S. Superdotados
trajetórias de desenvolvimento e realizações. Editora Juruá: Curitiba,
2013. p. 95-108.
DEMONTIS, D. et al. Discovery of the first genome-wide
significant risk loci for attention deficit/hyperactivity disorder.
Nature Genetics, v. 51, p. 63-75, 2019.
DESIDÉRIO, R. C. S.; MIYAZAKI, M. C. O. S. Transtorno de
Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH): Orientações para a
Família. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia
Escolar e Educacional (ABRAPEE), v. 11, n. 1, p. 165-178, 2007.
DESSEN, M. A. Desenvolvimento familiar: transição de um
sistema triádico para poliádico. Temas em Psicologia, v. 5, n. 3, p.
51-61, 1997.
DESSEN, M. A. A família como contexto de desenvolvimento. In:
FLEITH, D. S. (org). A construção de práticas educacionais para
alunos com Altas Habilidades/Superdotação. V. 3: O aluno e a
família. Brasília: MEC/Seesp, 2007. p. 13-29.
DICIONÁRIO AURÉLIO. Excepcionalidade. Disponível em:
https://dicionáriodoaurélio.com/excepcional. Acesso em: 28 mar.
2019.
301
DUARTE, R. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar em
Revista, v. 20, n. 24, p. 213- 225, 2004.
EDWARDS, O. W.; DAIRE, A. P. Crianças em idade escolar
criadas pelos avós: problemas e soluções. Jornal de Psicologia
Instrucional, v. 33, n. 2, p. 113-119, 2006.
EFFGEM, V.; ROSSETTI, C. B. Representação de TDAH em
meninos diagnosticados com o transtorno. Psicologia em Revista.
São Paulo, v. 26, n. 2, p. 255-280, 2017.
ELLIOTT, L. G. (ed.). Instrumentos de avaliação e pesquisa:
caminhos para a construção e validação. Rio de Janeiro: Wak
Editora, 2012.
ELLIOTT, S. N.; GRESHAM, F. M. Social Skills improvement
system: intervention guide. Minneapolis, MN: Pearson
Assessments, 2008.
EXTREMIANA, A. A. Niños superdotados. Madrid: Pirâmide,
2000.
FABIO, R. A. Gifted students and critical thinking. Conference:
Proceedings of the ECHA, European Council For High Ability
Conference Paris, France At: Paris, France. 2010.
FARIZ, M. et al. Comportamento agressivo e terapia cognitivo-
comportamental na infância. In: CABALLO, V. E.; SIMON, M.
(orgs.). Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente:
Transtornos específicos. São Paulo: Santos Editora, 2005, p. 57-79.
302
FERNÁNDEZ-JAÉN, A. et al. Trastorno por déficit de atención/
hiperactividad y su relación con las habilidades sociales y de
liderazgo evaluadas a través de un sistema de evaluación de la
conducta de niños y adolescentes (BASC). Actas Españolas de
Psiquiatría, v. 39, n. 6, p. 339-348, 2011.
FERREIRA, J. A. O. Inclusão escolar? O aluno com Altas
Habilidades/Superdotação em escola ribeirinha na Amazônia. 2018.
Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências
e Letras, Araraquara, 2018. Disponível em:
http://wwws.fclar.unesp.br/agendapos/educacao_escolar/4561.pdf.
Acesso em: 08 de mai. de 2019.
FLEITH, D. S. A construção de práticas educacionais para alunos
com Altas Habilidades/Superdotação. V. 3: O aluno e a família.
Brasília: MEC/Seesp, 2007. p. 9-11.
FOLEY-NICPON, M. et al. Self- Esteem and Self-Concept
Examination among Gifted Students with ADHD. Journal for the
Education of the Gifted, v. 35, n. 3, p. 220-240, 2012.
FONSECA, M. F. B. C.; MUSZKAT, M.; RIZUTTI, S.
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade na escola:
mediação psicopedagógica. Revista Psicopedagogia, v. 29, n. 90,
2012. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
- 84862012000300007. Acesso em: 02 jan. 2019.
FRANÇA-FREITAS, M. L. P.; DEL PRETTE, A.; DEL
PRETTE, Z. A. P. Social skills of gifted and talented children.
Estudos de psicologia, Natal, v. 19, n. 4, p. 288-295, 2014.
Disponível em:
303
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v19n4/a06v19n4.pdf. Acesso em:
17 set. 2019.
FREITAS, L. C. Habilidades sociais de crianças com diferentes
necessidades educacionais especiais: comparações múltiplas. 2011.
Tese (Doutorado em Educação Especial) Universidade Federal
de São Carlos, São Carlos, 2011. Disponível em:
https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/2883. Acesso em: 12
jan. 2019.
FREITAS, L. C.; DEL PRETTE, Z. A. P. Habilidades sociais de
crianças com diferentes necessidades educacionais especiais:
Avaliação e implicações para intervenção. Avances en Psicología
Latinoamericana, v. 31, n. 2, p. 344-362, 2013. Disponível em:
https://revistas.urosario.edu.co/index.php/apl/article/viewFile/214
4/2102. Acesso em: 17 dez. 2018.
FREITAS, L. C.; DEL PRETTE, Z. A. P. Categorias de
necessidades educacionais especiais enquanto preditoras de déficits
em Habilidades sociais na infância. Periódico Psicologia, Reflexão e
Crítica, v. 27, n. 4, p. 658-669, 2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/prc/v27n4/0102-7972-prc-27-04-
00658.pdf. Acesso em: 17 dez. 2018.
FUGATE, C. M. Are ADHD Kids More Creative? Parenting for
High Potential, v. 5, n. 2, p. 14-15, 2016.
FUGATE, C. M.; GENTRY, M. Understanding Adolescent
Gifted Girls with ADHD: Motivated and Achieving. High Ability
Studies, v. 27, n. 1, p. 83-109, 2016.
FUGATE, C. M.; ZENTALL, S. S.; GENTRY, M. Creativity and
Working Memory in Gifted Students with and without
304
Characteristics of Attention Deficit Hyperactive Disorder: Lifting
the Mask. Gifted Child Quarterly, v. 57, n. 4, p. 234-246, 2013.
GAMA, M. C. S. S. Educação de superdotados: teoria e prática. São
Paulo: EPU, 2006.
GARCÍA, I. I. I. Doble excepcionalidad y diagnósticos asociados.
In: REJANO, E. I. (coord.). Manual SHINNING de atención a las
altas capacidades intectuales. Aconcágua, 2015. p. 199-218.
GARRIDO, J.; MOYSÉS, M. A. A. Um panorama nacional dos
estudos sobre a medicalizaçãoda aprendizagem de crianças em
idade escolar. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA
DE SÃO PAULO; GRUPO INTERINSTITUICIONAL
QUEIXA ESCOLAR. (org.). Medicalização de crianças e
adolescentes: conflitos silenciados pela resolução de questões sociais
a doenças de indivíduos. o Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
GAUCK, L.; TROMMSDORFF, G. Probleme hochbegabter
Kinder aus Sicht von Kindern, Eltern und Lehrern. Psychologie in
Erziehung und Unterricht, v. 56, n. 1, p. 27-37, 2009.
GERMANI, L. M. B. Características de Altas
Habilidades/Superdotação e de déficit de atenção/ hiperatividade: uma
contribuição à família e à escola. 2006. Dissertação (Mestrado em
Educação) Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. Disponível
em: Acesso em: 20 fev. 2019.
GOLDSTEIN, S.; GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: como
desenvolver a capacidade de atenção da criança. 6 ed. São Paulo:
Papirus, 2000.
305
GOLEMAN, D. Emotional Inteligence. New York: Bantam, 1995.
GOMEZ-ARIZAGA, M. P. et al. Doble excepcionalidad: análisis
exploratorio de experiencias y autoimagen en estudiantes chilenos.
Revista de Psicología, v. 34, n. 1, p. 5-37, 2016.
GRESHAM, F. M.; ELLIOTT, S. N. Social skills rating system:
Manual. Circle Pines, MN: American Guidance Service, 1990.
GRIZENKO, N. et al. Efficacy of Methylphenidate in ADHD
Children across the Normal and the Gifted Intellectual Spectrum.
Journal of the Canadian Academy of Child and Adolescent Psychiatry,
v. 21, n. 4, p. 282-8, 2012. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3490529/.
Acesso em 05 jan. 2019.
GROSS, M. U. M. Nurturing the talents of exceptionally gifted
individuals. In: Heller, K. A.; MÖNKS, F. J.; PASSOW, A. H.
(eds.). International handbook of research and development of
giftedness and talento. Oxford: Pergamon. 1993. p. 473-490.
GROSS, M. U. M. Social and emotional issues for exceptionally
intellectually gifted students. In: NEIHART, M.; REIS, S. M.;
ROBINSON, N. M.; MOON, S. M. (eds.). The social and
emotional development of gifted children. Waco: Pufrock. 2002. p.
19-30.
GUIDOLIM, K.; FERREIRA, T. L.; CIASCA, S. M. Habilidades
Sociais em crianças com queixa de hiperatividade e desatenção.
Revista Psicopedagogia, v. 30, n. 93, 2013. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
-84862013000300002. Acesso em: 17 set. 2019.
306
GUIGNARD, J. H.; JACQUET, A. Y.; LUBART, T. I.
Perfectionism and Anxiety: A Paradox in Intellectual Giftedness?
PLOS ONE, v. 7, n. 7, 2012.
GUIMARÃES, T. G.; OUROFINO, V. T. A. T. Estratégias de
identificação do Aluno com Altas Habilidades/Superdotação. In:
FLEITH, D. S. (org.). A construção de práticas educacionais para
alunos com Altas Habilidades/Superdotação: volume 1: orientação a
professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Especial, 2007. p. 53- 65.
HARTNETT, D. N.; NELSON, J. M.; RINN, A. N. Gifted or
ADHD? The Possibilities of Misdiagnosis. Roeper Review Winter,
v. 26, n. 2, p. 73-76, 2004.
HOLLINGWORTH, L. Children above 180 IQ: Origin and
development. New York: World Books. 1942.
HOOGMAN, M. et al. Subcortical brain volume diferences in
participants with attention déficit hyperactivity disorder in
children and adults: a cross-sectional mega-analysis. The Lancet
Psychiatry, v. 4, n. 4, p. 310-319, 2017.
HORA, H. R. M.; MONTEIRO, G. T. R. M.; ARICA, J.
Confiabilidade em Questionários para Qualidade: um estudo com
o Coeficiente Alfa de Cronbach. Produto & Produção, v. 11, n.2,
p.85-103, 2010. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/index.php/ProdutoProducao/article/viewFile/9
321/8252. Acesso em: 26 ago. 2019.
HOSDA, C. B. K.; CAMARGO, R. G.; NEGRINI, T. Altas
Habilidades/Superdotação e Hiperatividade: possíveis relações que
307
podem geram alguns equívocos. In: IX CONGRESSO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO EDUCERE; III ENCONTRO
SUL BRASILEIRO DE
PSICOPEDAGOGIA DA PUC-PR, 2009. Curitiba/PR, Anais
[...] 2009. Disponível em:
http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/2539_1700.pdf.
Acesso em 18 dez. 2018.
HOSDA, C. B. K.; ROMANOWSKI, C. L. As aprendizagens de
um sujeito com características de Altas Habilidades/Superdotação
associadas ao transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. In:
ANPED SUL; SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO
DA REGIÃO SUL, 2012, Anais [...] 2012. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul
/paper/view/143/642. Acesso em 18 dez. 2018.
HUA, O.; SHORE, B. M.; MAKAROVA, E. Inquiry-based
instruction within a community of practice for gifted–ADHD
college students. Gifted Education International, v. 30, n. 1, p. 74-
86, 2014.
IRUESTE, P. G. Capacidades Intelectuales Diferenciales en niños
designados por sus docentes como dispersos e hiperactivos. Tese
(Doutorado em Ciências da Saúde) Universidad Nacional de
Córdoba. Facultad de Ciencias Médicas Secretaría de Graduados
en Ciencias de la Salud. Córdoba, Argentina, 2012. Disponível
em:
http://lildbi.fcm.unc.edu.ar/lildbi/tesis/Irueste_paula_gabriela.pdf.
Acesso em: 02 mai. 2019.
JAROSEWICH, T.; STOCKING, V. B. Medication and
counseling histories of gifted students in a summer residential
program. The Journal of Secondary Gifted Education, v. 14, n. 2, p.
91-99, 2002.
308
KALBFLEISCH, M. L.; IGUCHI, C.M. Twice-exceptional
learners. In: PLUCKER, J. ALLAHAN, C. M. (org.). Critical issues
and practices in gifted education. Waco: Prufrock Press; 2008.
KATUSIC, M. Z. et al. Attention deficit hyperactivity disorder in
children with high intelligence quotient: Results from a
population-based study. Journal of Developmental and Behavioral
Pediatrics, v. 32, n. 2, p. 103-109, 2011.
KAUFMANN, F. A.; KALBFLEISCH, M. L.; CASTELLANOS,
F. X. Attention Deficit Disorders and gifted students: What do we
really know? Storrs, CT: The National Research Center on the
Gifted and Talented, University of Connecticut, 2000.
LANDAU, E. A coragem de ser superdotado. 2 ed. São Paulo: Arte e
Ciência, 2002.
LEE, K. M.; OLENCHAK, F. R. Individuals with a
Gifted/Attention Deficit/Hyperactivity Disorder Diagnosis. Gifted
Education International, v. 31, n. 3, p. 185-199, 2015.
LEHMAN, E. B.; ERDWINS, C. J. The social and emotional
adjustment of young intellectually gifted children. In: MOON, S.
M. (ed.). Social/emotional issues, underachievement and counseling of
gifted and talented students. Thousand Oaks: Corwin. 2004, p. 1-8.
LEIKIN, M.; PAZ-BARUCH, N.; LEIKIN, R. Memory abilities
in generally gifted and excelling-in-mathematics adolescentes.
Intelligence, v. 41, p. 566–578, 2013.
LEITE, H. A. et al. A desatenção medicalizada: uma questão a ser
enfrentada pela psicologia e educação. In: BARROCO, S. M. S.;
309
LEONARDO, N. S. T.; SILVA, T. S. A. (org.). Educação Especial
e Teoria Histórico-Cultural. Maringá: UEM, 2012. p. 139-166.
LEROUX, J. A.; LEVITT-PERLMAN, M. The gifted child with
attention deficit disorder: identification and intervention
challenge. Roeper Review, v. 22, p. 171-181, 2000.
LI, A. K. F.; ADAMSON, G. Estilo de aprendizado preferido dos
alunos do ensino médio superdotado: cooperativo, competitivo ou
individualista? Jornal para a Educação dos Superdotados, v. 16, n. 1,
p. 46–54, 1992.
LIND, S. Overexcitability and the Gifted. SENG- Supporting
emotional needs of the gifted. 2011. Disponível em:
https://www.sengifted.org/post/overexcitability-and-the-gifted.
Acesso em: 24 set. 2019.
LOOS-SANT’ANA, H.; TRANCOSO, B. S. Socio-Emotional
Development of Brazilian Gifted Children: SelfBeliefs, Social
Skills, and Academic Performance, Journal of Latino/Latin
American Studies, v. 6, n. 1, p. 54-65, 2014.
LOVECKY, D. V. Gifted children with AD/HD. Providence:
Gifted Resource Center of New England, 1999. Disponível em:
http://www.grcne.com/giftedADHD.html. Acesso em: 05 fev.
2019.
LUFTIG, R. L.; NICHOLS, M. L. Assessing the Social Status of
Gifted Students by Their Age. Gifted Child Quarterly, v. 34, n. 3,
p. 111-115, 1990.
LUQUE-PARRA, D. J.; LUQUE-ROJAS, M. J.; DIAZ, R. H.
Altas capacidades intelectuales y trastorno de déficit de atención
310
con hiperactividad: a propósito de un caso. Perspectiva Educacional:
formación de professores, v. 56, n. 1, p. 164-182, 2017.
MANZINI, E, J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para
entrevista semi-estruturada. In: MARQUEZINI, M. C.;
ALMEIDA, M. A.; OMOTE, S. (org.). Colóquios sobre pesquisa em
educação especial. Londrina: Eduel, 2003. p. 11-25.
MANZINI, E, J. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos e
de roteiros. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE
PESQUISAS E ESTUDOS QUALITATIVOS, 2, 2004,
Bauru/SP. A pesquisa qualitativa em debate. Anais [...] Bauru:
USC, 2004. Disponível em:
https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/Eduard
oManzini/Manzini_2004_ent revista_semi-estruturada.pdf. Acesso
em: 31 mai. 2019.
MARCUSCHI, L. A. Análise da conversação. São Paulo: Ática,
1986. (Série Princípios).
MARLAND, S. P. Education of the gifted and talented: Report to
the Congress of the United States by the U.S. Commissioner of
Education. Washington, DC: U.S. Government Printing Office,
1972.
MARTINS, B. A. Alunos precoces com indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação no Ensino Fundamental I: identificação e
situações (des)favorecedoras em sala de aula. 2013. Dissertação
(Mestrado em Educação) Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2013. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/91210. Acesso em 10 jun. 2019.
311
MARTINS, B. A. et al. Altas Habilidades/Superdotação: estudos
no Brasil. Journal of Research in Special Education Needs, v. 16, n.
1, p. 135-139, 2016. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1471-
3802.12275. Acesso em: 07 jan. 2019.
MARTINS, B. A.; CHACON, M. C. Crianças precoces com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação: as características
que contrariam a imagem de aluno “ideal”. Educação Unisinos, v.
20, n. 1, p. 96-105, 2016. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/viewFile/edu
.2016.201.10/5236. Acesso em: 28 de mai. 2019.
MARTINS, C. S. R. Desempenho social de adolescentes com
indicadores de Superdotação. In: RANGNI. R A. (org.). Altas
Habilidades: sugestões para pesquisadores e educadores. São Carlos:
EDUFSCAR, 2019. p. 73-99.
MASSUDA, M. B. Indicadores de dotação em educandos
diagnosticados com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.
2016. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) –
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2016. Disponível
em:
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/7923/DissMB
M.pdf?sequence=1&isAllo wed=y. Acesso em: 20 fev. 2019.
MASSUDA, M. B. Desatentas, hiperativas ou com Altas
Habilidades? A medicalização de crianças brilhantes. In: RANGNI.
R A. (org.). Altas Habilidades: sugestões para pesquisadores e
educadores. São Carlos: EDUFSCAR, 2019. p. 145-162.
MASSUDA, M. B.; MANI, E. M. J. A identificação de alunos
com Altas Habilidades ou Superdotação e transtorno de déficit da
312
atenção com hiperatividade. In: II CONGRESSO
INTERNACIONAL SOBRE ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO, X CONGRESO
IBEROAMERICANO DE SUPERDOTACIÓN TALENTO Y
CREATIVIDAD, VI ENCONTRO NACIONAL DO
CONBRASD, Anais [...] 2014. Disponível em:
http://conbrasd.org/wp/wp-
content/uploads/2015/01/Anais_VI_Enco_20141.pdf. Acesso em:
23 jun. 2019.
MASSUDA, M. B.; RANGNI, R. A. Altas Habilidades ou
Superdotação e dupla excepcionalidade: definições e reflexões. In:
RANGNI, R. A.; MASSUDA, M. B.; COSTA, M. P. R. Altas
Habilidades/Superdotação: temas para pesquisa e discussão. São
Carlos: EdUFSCar, 2017. p. 89-125.
MATTOS, P. et al. Apresentação de uma versão em português
para uso no Brasil do instrumento MTA-SNAP-IV de avaliação de
sintomas de transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade e
sintomas de transtorno desafiador e de oposição. Revista de
Psiquiatria, Rio Grande do Sul, v. 28, n. 3, p. 290-297, 2006.
MENDAGLIO, S. Dabrowski's theory of positive disintegration:
Some implications for teachers of gifted students. AGATE, v. 15,
n. 2, p. 14-22, 2002.
MENDAGLIO, S. Counseling gifted persons: Taking giftedness
into account. Gifted Education International, v. 19, n. 3, p. 204-
212, 2005.
MENDAGLIO, S. Dabrowski's theory of positive disintegration:
A personality theory for the 21st century. In: S. MENDAGLIO
313
(ed.). Dabrowski's theory of positive disintegration. Scottsdale, AZ:
Great Potential Press, 2008. p. 13-40.
MENDONÇA. L. D. Identificação de alunos com Altas Habilidades
ou Superdotação a partir de uma avaliação multimodal. 2015.
Dissertação (Mestrado)Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Ciências, Bauru, 2015.
MIKA, E. Research Commentary Point- Counterpoint: diagnosis
of giftedness and ADHD. Roeper Review, v. 28, n. 4, p. 237-248,
2006.
MIKAMI, A. Y.; HINSHAW, S. P. Resilient adolescent
adjustment among girls: buffers of childhood peer rejection and
attention deficit/hyperactivity disorder. Journal Abnormal Child
Psychology, v. 34, p. 825-39, 2006.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. 4 ed. São Paulo, 1996.
MONTGOMERY, D. Able, gifted and talented underachievers.
London: Wiley Blackwell, 2009.
MOODY, C. J. Expert-Recommended Strategies for Teaching the
Twice-Exceptional Student in the General Education Classroom.
2014. Dissertação (Mestrado) Universidade de La Verne, La
Verne, 2014.
MOON, S. et al. Emotional and Social Characteristics of Boys
with AD/HD and Giftedness: A Comparative Case Study. Journal
for the Education of the Gifted, v. 24, n. 3, p. 207-247 2001.
Disponível em:
314
http://www.iun.edu/~edujag/01EmotionalMoon.pdf. Acesso em:
12 dez. 2018.
MOON, S. Gifted children with attention-deficit/hyperactivity
disorder. In: NEIHART, M.; REIS, S. M. R.; ROBINSON, N.
M.; MOON, S. M. (org.). The Social and Emotional Development
of Gifted Children: What Do We Know? Waco, TX: Purfrock
Press, 2002. p. 193-201.
MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. Dislexia e TDAH:
uma análise a partir da ciência médica. In: CONSELHO
REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; GRUPO
INTERISTITUCIONAL (org.). Medicalização de crianças e
adolescentes. Conflitos silenciosos pela redução de questões sociais a
doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 71-
110.
MUAMMAR, O. M. Intelligence and Self-Control Predict
Academic Performance of Gifted and Non-gifted Students.
Turkish Journal of Giftedness and Education, v. 5, n. 1, p. 67-81.
2015.
MULLET, D.; RINN, A. N. Giftedness and ADHD:
Identification, Misdiagnosis, and Dual Diagnosis. Roeper Review, v.
37, n. 4, p. 195-207, 2015.
MULLET, D.; RINN, A. N. What Parents Should Know about
AH/G. Parenting for High Potential, v. 5, n. 2, p. 10-13, 2016.
NATIONAL EDUCATIONAL ASSOCIATION (NEA). The
twice-exceptional dilema. Washington. DC: NEA, 2006. Disponível
em: http://www.nea.org/assets/docs/twiceexceptional.pdf. Acesso
em: 28 jan. 2019.
315
NEIHART, M. The impact of giftedness on psychological well-
being: What does the empirical literature say? Roeper Review, v. 22,
n. 1, p. 10-17, 1999. Disponível em:
https://positivedisintegration.com/Neihart1999.pdf. Acesso em: 05
mai. 2019.
NEIHART, M. Gifted Children with Attention Deficit
Hyperactivity Disorder (ADHD). ERIC Digest 482344. 2003.
Disponível em: https://www.ericdigests.org/2005-1/gifted.htm.
Acesso em: 15 jan. 2019.
NEIHART, M. Identifying and providing services to twice
exceptional children. In: PFEIFFER, S. I. (ed.). Handbook of
giftedness in children: Psychological theory, research and best
practices. New York: Springer, 2008. p. 115-137. Disponível em:
file:///C:/Users/clari/Downloads/Identifying%20providing%20ser
vices%202E%20to%20shar e[1628]%20(1).pdf. Acesso em: 12
fev. 2018.
NIUSHA, B.; GANJI, K.; SOTODEH, M. Prevalence of
Attention Deficit / Hyperactivity Disorder (ADHD) Symptoms in
Middle School Gifted Students of Kohgiluyeh & Boyer- Ahmad
Province in 2010–2011. Ravānshināsī-i Afrād-i Istis nāyī, v. 2, n. 6,
p. 61-94, 2012.
OGEDA, C. M. M.; PEDRO, K. M.; CHACON. M. C. M.
Gênero e Superdotação: um olhar para a representação feminina.
Revista Educação e Linguagens, Campo Mourão, v. 6, n. 10, p. 217-
231. 2017.
OLIVEIRA, A. P. de. Habilidades sociais e problemas de
comportamento de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação:
caracterização, aplicação e avaliação de um programa de
316
intervenção. 2016. Dissertação (Mestrado em Psicologia do
desenvolvimento e aprendizagem)Faculdade de Ciências,
Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2016. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/144433. Acesso em: 20
fev. 2019.
OLIVEIRA, J. C.; BARBOSA, A. J. G.; ALENCAR, E. M. L. S.
Contribuições da Teoria da Desintegração Positiva para a Área de
Superdotação. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 33, p. 1-9. 2015.
ORENDORF, K. A. The Relationship Between ADHD and
Giftedness. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação)
School of Education Dominican University of California, San
Rafael, 2009. Disponível em:
https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED505127.pdf. Acesso em 15 dez.
2018.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação
Internacional de Doenças- CID-11. 2018. Disponível em:
https://icd.who.int/browse11/l-m/en. Acesso em: 12 fev. 2019.
OUROFINO, V. T. A. T. Indivíduos superdotados baixo
realizadores: O paradoxo da dupla excepcionalidade. Conferência
apresentada em Mesa Redonda no II Encontro Nacional do
Conselho Brasileiro para Superdotação ConBraSD. Pirenópolis,
GO - 6 a 10 de novembro 2006.
OUROFINO, V. T. A. T. Altas Habilidades e hiperatividade: a
dupla excepcionalidade. In: FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L.
S. (org.). Desenvolvimento de talentos e Altas Habilidades: orientação
a pais e professores. Porto Alegre: Grupo A, 2007. p. 51-66.
OUROFINO, V. T. A. T.; FLEITH, D. S. Um estudo
comparativo sobre a dupla personalidade
317
Superdotação/hiperatividade. Revista Avaliação Psicológica, Porto
Alegre, v. 4, n. 2, p. 165-182, 2005. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677
- 04712005000200008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 08 mar.
2019.
OUROFINO, V. T. A. T.; GUIMARÃES, T. G. Características
intelectuais, emocionais e sociais do aluno com Altas
Habilidades/Superdotação. In: FLEITH, D. S. (org.). A construção
de práticas educacionais para alunos com Altas
Habilidades/Superdotação. V.1: Orientação a professores. Brasília:
MEC/Seesp, 2007, p. 41-52.
PAEK, S. H.; ABDULLA, A. M.; CRAMOND, B. A Meta-
Analysis of the Relationship between Three Common
Psychopathologies--ADHD, Anxiety, and Depression--and
Indicators of Little-c Creativity. Gifted Child Quarterly, v. 60, n. 2,
p. 117-133, 2016.
PALUDO, K. I., LOOS-SANT’ANA, H., SANT’ANA-LOOS, R.
S. (coord.). Altas Habilidades/Superdotação: Identidade e
Resiliência. Editora Juruá: Curitiba, 2014.
PEDRO, K. M. Estudo comparativo entre nativos digitais com e sem
precocidade e comportamento dotado. Tese (Doutorado em
Educação) Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade
Estadual Paulista- UNESP, 2016. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/143469/pedr
o_km_dr_mar.pdf?sequence=3. Acesso em: 01 mar. 2019.
PEDRO, K. M.; OGEDA, C. M. M. O.; CHACON, M. C. M.
Iniciativas de atenção ao estudante com Altas
318
Habilidades/Superdotação: levantamento e análise. Crítica
Educativa, Sorocaba/SP, v. 1, n. 2, p. 200-217, 2015.
PERES, C. TDA-H (Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade) da teoria à prática: manual de estratégias no âmbito
familiar, escolar e da saúde. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
PÉREZ, S. G. P. B. Gasparzinho vai à Escola: um estudo sobre as
características do aluno com Altas Habilidades produtivo-criativa.
2004. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação da PUC,
Porto Alegre, 2004.
PÉREZ, S. G. P. B.; FREITAS, S. N. A mulher com Altas
Habilidades/Superdotação: à procura de uma identidade. Revista
brasileira de Educação Especial [online]. v.18, n.4, p. 677-694.
2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
65382012000400010.
PÉREZ, S. G. P. B.; RODRIGUES, S. T. Das confusões e outros
entreveros. Revista Brasileira de Altas Habilidades/Superdotação, v.
1, n. 1, p. 21-30, 2013.
PETERSON, J. S.; RAY, K. E. Bullying and the gifted:
perpetrators, prevalence and effects. Gifted Child Quarterly, v. 50,
n. 2, p. 148-168, 2006.
PFEIFFER, S. I. Gifted students with a coexisting disability: the
twice exceptional. Revista Estudos de Psicologia, v. 32, n. 4, p. 717-
727, 2015.
PINHO, A. C. Dupla excepcionalidade: lista base de características
observáveis em estudantes com Altas Habilidades ou Superdotação
319
e síndrome de Asperger ferramenta para uso na escola. 2016.
Dissertação (Mestrado em Diversidade e Inclusão) Universidade
Federal Fluminense, 2016.
PRADO, R. M.; FLEITH, D. S.; GONÇALVES, F. C. O
desenvolvimento do talento em uma perspectiva feminina.
Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, vol. 31, n. 01, 2011.
PREKOP, J.; SCHWEIZER, C. Crianças Hiperactivas: porque é
que uma criança é irrequieta e agitada? Biblioteca dos Pais. Porto:
Ambar. 2005.
PRIOR, S. Transition and students with twice exceptionality.
Australasian Journal of Special Education, v. 37, n. 1, p. 19-27,
2013.
RANGNI, R. A.; COSTA, M. P. R. Altas
Habilidades/Superdotação e deficiência: reflexões sobre o duplo
estigma. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 53, p. 187-199,
jul./set. 2014.
RECH, A. J. D.; FREITAS, S. N. Uma revisão bibliográfica sobre
os mitos que envolvem as pessoas com Altas Habilidades. In:
FREITAS, S. N. (org.). Educação e Altas Habilidades/Superdotação:
a ousadia de rever conceitos e práticas. Santa Maria/RS: Editora da
UFSM, 2006. p. 61-88.
REED, W. S. Anxiety and Social Skills in Children with High
Intellectual Ability and AttentionDeficit/Hyperactivity Disorder.
Dissertação (Mestrado em Ciências) University of Calgary,
CALGARY, 2013. Disponível em:
320
https://prism.ucalgary.ca/bitstream/handle/11023/1155/ucalgary_
2013_reed_whitney.pdf?seq uence=2&isAllowed=y. Acesso em 02
mai. 2019.
REIS, A. P. P. Z. Representação feminina em um programa de
atendimento às Altas Habilidades/Superdotação. 2008. 102 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Brasília,
Brasília, 2008. Disponível em:
http://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=
831.
REIS, S. M.; BAUM, S. M.; BURKE, E. An Operational
Definition of Twice-Exceptional Learners: Implications and
Applications. Gifted Child Quarterly, v. 58, n. 3, p. 217-230, 2014.
REMOLI, T. C., CAPELLINI, V. M. F. Relação entre
Criatividade e Altas Habilidades/Superdotação: uma Análise
Crítica das Produções de 2005 a 2015. Revista Brasileira de
Educação Especial, v. 23, n. 03, p. 2017.
RENZULLI, J. S. The three-ring conception of giftedness: a
developmental model for creative productivity. In: RENZULLI, J.
S.; REIS, S. M. (ed.). The triad reader. Mansfield Center: Creative
Learning, 1986. p. 2-19.
RENZULLI. J. S. Technical report of research studies related to the
enrichment triad/revolving door model. 3. ed. Storrs, CT: University
of Connecticut, Teaching the Talented Program, 1988.
RENZULLI, J. S. Desarrollo del talento en las escuelas. Programa
práctico para el total rendimiento escolar mediante el modelo de
enriquecimiento escolar. In: BENITO, Y. Intervención e
321
investigación psicoeducativas en alumnos superdotados. Salamanca:
Amarú Ediciones, 2000, p.175-217.
RENZULLI, J. S. O que é esta coisa chamada Superdotação, e
como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos.
Revista Educação. Tradução de Susana Graciela Pérez Barrera Pérez.
Porto Alegre, ano XXVII, n. 1, p. 75-121, 2004.
RENZULLI, J. S. A concepção de Superdotação no modelo dos
três anéis: um modelo de desenvolvimento para a promoção da
produtividade criativa. In: VIRGOLIM, A. (org.). Altas
Habilidades/Superdotação, inteligência e criatividade: uma visão
multidisciplinar. Campinas, 2014. p. 219-264.
RENZULLI, J. S. Reexaminando o papel da educação para
superdotados e o desenvolvimento de talentos para o Século XXI:
uma abordagem teórica em quatro partes. In: VIRGOLIM, A.
(org.). Altas Habilidades/Superdotação: processos criativos, afetivos e
desenvolvimento de potenciais. Curitiba: Juruá, 2018. p. 19-42.
RENZULLI, J. S.; REID, B. D.; GUBBINS, E. J. Settings an
agenda: research priorities for the gifted and talented through the
year 2000. Storrs: The National Research Center on the Gifted
and Talent, University of Connecticut, 1992.
RENZULLI, J. S.; REIS, S. M. The Schoolwide Enrichment Model:
a how-to guide for educational excellence. Mansfield Center, CT:
Creative Learning Press, 1997.
RINN, A. N.; NELSON, J. M. Preservice Teacher’s Perceptions of
Behaviors Characteristic of ADHD and Giftedness. Roeper Review,
v. 31, n. 1, p. 18-26, 2009.
322
RINN, A. N.; REYNOLDS, M. J. Overexcitabilities and ADHD
in the Gifted: an examination. Roeper Review, v. 34, n. 1, p. 38-45,
2012.
ROBERT, G. et al. Signes d’appel et troubles associés chez les
enfants à haut potentiel. Archives de Pédiatrie, v. 17, n. 9, p. 1363-
1367, 2010.
ROCHA, A. L. C. Altas Habilidades/Superdotação e surdez:
identificação e reconhecimento da dupla condição. 2015.
Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Católica de
Brasilia, Brasília, 2015.
ROHDE, L. A.; MATTOS, P. Princípios e práticas em TDAH.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
ROHDE, L. A. et al. Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 22,
n. 2, p. 7-11, 2000.
ROHDE, L. A.; HALPERN, R. Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade: atualização. Jornal de Pediatria, v. 80, n.
2, p. 61-70, 2004.
ROMMELSE, N. An evidenced-based perspective on the validity
of attention- deficit/hyperactivity disorder in the context of high
intelligence. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 71, p. 21-
47, 2016.
RONDINI, C.; INCAU, C.; MARTINS, R. A. Concepções de
profissionais da saúde sobre Altas Habilidades e transtornos de
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças. Educação
e Cultura Contemporânea, v. 13, n. 32, 2016.
323
SABATELLA, M. L. P. Expandir Horizontes para Compreender
Alunos Superdotados. In: MOREIRA, L. C; STOLTZ, T. (orgs.).
Altas Habilidades/Superdotação, Talento, Dotação e Educação.
Curitiba: Juruá, p. 113-128, 2012.
SANTOS, L. F.; VASCONCELOS, L. A. Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade em crianças: uma revisão
interdisciplinar. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 26, n. 4,
p. 717-724, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Deliberação CEE nº 68/2007. Fixa normas
para a educação de alunos que apresentam necessidades
educacionais especiais, no sistema estadual de ensino. Brasília, DF:
MEC/SEESP, 2007.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE-81, de 7 de agosto de 2012.
Dispõe sobre o processo de aceleração de estudos para alunos com
Altas Habilidades/Superdotação na rede estadual de ensino.
Brasília, DF: MEC/SEESP, 2012.
SCHULER, P. Perfectionism in gifted children and adolescents.
In: NEIHART, M; REIS, S. M.; ROBINSON, N. M.; MOON,
S. M. (eds.). The social and emotional development of gifted children.
Waco: Pufrock. p. 31-40. 2002.
SHIVE, L. Attention Deficit Hyperactivity Disorder, Sensory
Processing Disorder, and Overexcitabilities: Similar Behaviors,
Different Diagnoses. Parenting for High Potential, v. 2 n. 4, p. 4-6,
2013.
SILVA, C. M. T. da. Afinal o que é avaliação? In: SILVA, A. C.
da. (org.). Avaliação & pesquisa: conceitos e reflexões. Rio de
Janeiro: Multifoco, 2010.
324
SILVA, D. M. A. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
em superdotados: um estudo de frequência de sintomas e alterações
físicas menores. 2013. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria)
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo,
2013. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-01042014-
092229/pt- br.php. Acesso em: 20 fev. 2019.
SILVA, D. M. A.; ROHDE, L. A. Transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade e Superdotação intelectual: um estudo de
frequência de sintomas e anomalias físicas menores. Revista
Brasileira de Psiquiatria, v. 37, n. 4, p. 289-295, 2015. Disponível
em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
44462015000400004&lang=pt. Acesso em 12 jan. 2019.
SILVERMAN, L. K. Counseling needs and programs for the
gifted. In: HELLER, K. A.; MÖNKS, F. J.; PASSOW, A. H.
(eds.). International handbook of research and development of
giftedness and talento. Oxford: Pergamon. p. 631-647. 1993.
SILVERMAN, L. K. Asynchronous development. In: NEIHART,
M.; REIS, S. M.; ROBINSON, N. M.; MOON, S. M. (eds.). The
social and emotional development of gifted children. Waco: Pufrock.
p. 31-40. 2002.
SILVERMAN, L. K. The moral sensitivity of gifted children and the
evolution of society. SENG- Supporting emotional needs of the
gifted. 2011. Disponível em:
https://www.sengifted.org/post/silverman-moralsensitivity. Acesso
em: 23 set. 2019.
325
SIMÕES LOUREIRO, I. et al. Le trouble déficitaire de l’attention
chez l’enfant à haut potentiel: étude exploratoire. Approche
Neuropsychologique des Apprentissages chez l'Enfant, n. 102, p. 188-
194. 2009. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/236168481_Le_trouble
_deficitaire_de_lattention_c
hez_l'enfant_a_haut_potentiel_etude_exploratoire. Acesso em: 15
dez. 2018.
SMUTNY, J. F. Stand up for your gifted child: how to make the
most of kid’s strengths at school and at home. Minneapolis: Free
Spirit Publishing Inc., 2001.
SOARES, A. A. S. Identificação de estudantes precoces com
comportamento de Superdotação: desafios para a formação de
professores em serviço. Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e
Ciências, Marília, 2019. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/180849/soare
s_aas_dr_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 19 nov.
2019.
SOUSA, D. C. S. Mediação pedagógica no processo de avaliação da
aprendizagem: possibilidades na inclusão escolar de estudantes com
diagnóstico de TDAH. Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2015.
Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18409.
Acesso em: 26 set. 2019.
SOUZA, K. R.; KERBAUY, M. T. M. Abordagem quanti-
qualitativa: superação da dicotomia quantitativa-qualitativa na
pesquisa em educação. Revista Educação e Filosofia, v. 31, n. 61, p.
21-44, 2017.
326
SUMIDA, M. Identifying Twice‐Exceptional Children and Three
Gifted Styles in the Japanese Primary Science Classroom.
International Journal of Science Education, v. 32, n. 15, p. 2097-
2111, 2010. Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09500690903402
018. Acesso em: 17 dez. 2018.
TARRIDA, A. C. Problemática escolar de las personas
superdotadas y talentosas. In: BRAVO, C. M. (org.). Superdotados,
problemática e intervención. Valladolid (España): Servicio de Apoyo
a la Enseñanza, Universidad de Valladolid, 1997.
TAYLOR, C. et al. Characteristics of ADHD Related to Executive
Function: Differential Predictions for Creativity-Related Traits.
The Journal of Creative Behavior, v. 0, n. 0, p. 1-13. 2018.
TENTES, V. T. A. Superdotados e superdotados underachievers: um
estudo comparativo das características pessoais, familiares e
escolares. 2011. Tese (Doutorado em Processos de
Desenvolvimento Humano e Saúde) Universidade de Brasília,
Brasília, 2011. Disponível em:
http://repositorio.unb.br/handle/10482/8825. Acesso em: 18 dez.
2018.
TERRASSIER, J. C. Les Enfants surdoues ou la precocite
embarrassante. Paris: ESF. 1999.
TORDJMAN, S. et al. Les enfants à haut potentiel en difficulté:
apports de la recherche clinique. Encéphale, v. 44, n. 5, p. 446-456,
2018.
327
TORRANCE, E. P. The nature of criativity as manifestin its
testing. In: STERBERG, R. J. (ed.). The nature of creativity:
contemporary psychological perspectives. New York: Cambridge
University Press, 1998. p. 43-75.
TROCONIS, G. V. El déficit de atencion sin fármacos. Una guia
para padres y docentes. Madrid: Psimática, 2008.
UNESCO. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e
Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Brasília,
DF: UNESCO, 1994. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso
em: 21 jan. 2019.
UNNEVER, J. D.; CORNELL, D. G. Bullying, Self-Control, and
Adhd. Journal of Interpersonal Violence, v. 18, n. 2, p. 129–147,
2003. Disponível em:
https://doi.org/10.1177/0886260502238731. Acesso em 27 jun.
2019.
VANMEERBEEK, M. et al. Enfants à haut potentiel: attitude du
médecin traitant. La Presse Médicale, v. 35, n. 1, p. 86–90. 2006.
WEBB, J. T. et al. Misdiagnosis and dual diagnosis of gifted children
and adults: ADHD, bipolar, OCD, Asperger's, depression, and
other disorders. Scottsdale, AZ: Great Potential Press. 2005.
WEBB, J. T.; LATIMER, D. ADHD and children who are gifted.
ERIC Clearinghouse on Disabilities and Gifted Education Reston VA,
1993.
WECHSLER, S. M. et al. (trad.). International Test Commission
(ITC) Declaração do ITC no uso de testes e outros instrumentos de
328
avaliação para fins de investigação científica, v. 1. 2, 2014, p. 1-9.
Disponível em:
https://www.intestcom.org/files/statement_using_tests_for_researc
h_portuguese.pdf. Acesso em: 08 ago. 2019.
WHITAKER, A. M. et al. Neurodevelopmental Approach to
Understanding Memory Processes Among Intellectually Gifted
Youth With Attention-Deficit Hyperactivity Disorder. Applied
Neuropsychology: Child, v. 4, n. 1, p. 31- 40, 2015.
WIENER, J. et al. Misdiagnosis and Dual Diagnoses of Gifted
Children and Adults: ADHD, Bipolar, OCD, Asperger’s,
Depression, and Other Disorders. Gifted and Talented
International, v. 26, n. 1-2, p. 173-174. 2011.
WILENS, T. et al. Attention déficit/hiperativity disorder with
substance disorder. In: BROWN, E. Attention déficit disorders and
comorbidities in children, adolescents and adults. American
Psychiatric Press, London, 2000.
WILLARD-HOLT, C. Dual Exceptionalities. ERIC Digest E574,
p. 1-14, 1999. Disponível em:
https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED430344.pdf. Acesso em: 02 jan.
2019.
WINNER, E. Crianças Superdotadas: mitos e realidades. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1998.
WOOD, S. C. Examining Parent and Teacher Perceptions of
Behaviors Exhibited by Gifted Students Referred for ADHD
Diagnosis Using the Conners 3. Roeper Review, v. 34, n. 3, p. 194-
204. 2012.
329
YEWCHUK, C.; LUPART, J. L. Gifted handicapped: A desultory
duality. In: K. A. HELLER, K. A.; MÖNKS, F. J.; PASSOW, A.
H. (eds.). International handbook of research and development of
giftedness and talento. London: Pergamon Press, 1988. p.709-725.
ZENTALL, S. S. et al. Learning and Motivational Characteristics
of Boys with AD/HD and/or Giftedness. The Council for
Exceptional Children, v. 67, n. 4, p. 499-519, 2001. Disponível
em:
https://pdfs.semanticscholar.org/de4d/2333269476dee74284bf93c
fa5f9aa861d91.pdf. Acesso em: 18 dez 2018.
331
Apêndices
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ___________
Apêndice A Questionário de avaliação sociodemográfica e
socioemocional
Data do Preenchimento: / / .
Este instrumento de pesquisa tem por finalidade obter informações
sobre características familiares e específicas de seu(a) filho(a). Por
não ser um teste não pressupõe que existam respostas certas ou
erradas. Para isto, solicitamos sua colaboração e informamos que as
informações serão utilizadas somente em publicações científicas,
preservando-se o sigilo da identificação dos participantes. O tempo
para preenchimento deste instrumento é de aproximadamente 15
minutos.
Instrução:
Preencha as lacunas, registre as informações ou assinale com um X
a melhor resposta para você.
1.
IDENTIFICÃO FAMILIAR
1.1
Dados Paternos (devem ser respondidos somente pelo pai)
1.1.1 Nome:
1.1.2 Data de Nascimento: / /19
( anos).
1.1.3 Profissão:
1.1.4 Marque a alternativa que corresponde à sua escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Completo.
( ) Ensino Fundamental Incompleto.
332
( ) Ensino Médio Completo.
( ) Ensino Médio Incompleto.
( ) Ensino Superior Completo.
( ) Ensino Superior Incompleto.
( ) Pós-Graduação.
1.2
Dados Maternos (devem ser respondidos somente pela mãe)
1.2.1 Nome: ___________
1.2.2 Data de Nascimento: / /19
( anos).
1.2.3 Profissão: ________
1.2.4 Marque a alternativa que corresponde à sua escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Completo.
( ) Ensino Fundamental Incompleto.
( ) Ensino Médio Completo.
( ) Ensino Médio Incompleto.
( ) Ensino Superior Completo.
( ) Ensino Superior Incompleto.
( ) Pós-Graduação
.
1.3
Dados do Casal (devem ser respondidos pelo pai e mãe do
estudante)
1.3.1 Número de filhos do casal:
1.3.2 Número de filhos do Pai:
1.3.3 Número de filhos da Mãe:
1.3.4 Condição civil dos pais:
( ) Solteiros
( ) Casados formalmente
333
( ) União estável
( ) Separados
1.4
Renda familiar
( ) Até R$ 1.500,00.
( ) De R$ 1.500,00 a 3.000,00.
( ) De R$ 3.000,00 a 6.000,00.
( ) De R$ 6.000,00 a 12.000,00.
( ) Mais de R$ 12.000,00.
1.5
Dados do estudante
1.5.1 Nome: .
1.5.2 Data de nascimento: / /19 .
1.5.3 Idade atual: anos.
1.5.4 Posição na família
( ) Primogênito ( ) Intermediário ( ) Caçula
1.5.5 Escolaridade: .
Assinale abaixo com um X o que você observa no comportamento
de seu/sua filho(a): Por favor, responda a todas as questões. Se
você não tem certeza em que resposta assinalar, peça
esclarecimentos a pesquisadora ou escolha, entre as alternativas, a
que lhe parece mais adequada.
1.
Prefere brincar/realizar suas atividades de lazer junto a:
a.
( ) colegas mais velhos(as).
b.
( ) colegas da mesma idade.
c.
( ) colegas mais novos.
d.
( ) sozinho(a).
334
2.
Nas brincadeiras:
a.
( ) aceita as regras sem questionar.
b.
( ) questiona as regras e tenta modificá-las.
c.
( ) prefere não brincar/jogar se não for conforme suas regras.
3.
Quando em grupo:
a.
( ) tenta liderar os(as) demais.
b.
( ) se comporta como os(as) demais.
c.
( ) sempre causa problemas em grupo.
4.
Você considera seu filho(a):
a.
( ) calmo(a).
b.
( ) lento(a).
c.
( ) agitado(a).
5.
Você considera seu filho(a):
a.
( ) muito curioso(a).
b.
( ) de curiosidade normal.
c.
( ) pouco curioso(a).
6.
Ao realizar atividades diversas:
a.
( ) é mais rápido(a) que outros(as) da mesma faixa etária.
b.
( ) as realiza no mesmo tempo que os(as) de sua faixa etária.
c.
( ) normalmente é mais lento(a) e realiza suas atividades sem
pressa.
7.
Em seu tempo livre apresenta:
a.
( ) elevados níveis de criatividade.
b.
( ) criatividade normal.
c.
( ) baixos níveis de criatividade.
8.
De maneira geral se envolve nas atividades:
a.
( ) intensamente.
b.
( ) normalmente.
c.
( ) pouco.
335
9.
Seu filho(a):
a.
( ) se antecipa às explicações.
b.
( ) aguarda às explicações atentamente.
c.
( ) não presta muita atenção às explicações.
10.
Seu filho(a) gosta de ir à escola?
a.
( ) Gosta.
b.
( ) Não se anima muito, mais sabe que deve ir.
c.
( ) Não gosta.
11.
Você já enfrentou problemas na escola devido as
características do seu filho(a)?
a.
( ) Sim.
b.
( ) Não.
12.
Você já enfrentou problemas em outros contextos, fora da
escola?
a.
( ) Sim.
b.
( ) Não.
13.
Já foi indicado para seu filho algum tratamento com
medicamentos que alteram o comportamento?
a.
( ) Sim, mas não chegou a ser administrado.
b.
( ) Sim, ele chegou a ser medicado.
c.
( ) Sim, ele está em tratamento farmacológico.
d.
( ) Não.
Agradeço muito sua colaboração!
336
Apêndice B Roteiro semiestruturado
para realização de entrevista
Estamos realizando uma pesquisa que tem como objetivo identificar
a presença de indicadores de TDAH em estudantes precoces com
comportamento superdotado e a presença de comportamento
superdotado em estudantes com a hipótese diagnóstica de TDAH.
Acreditamos que pelas suas experiências, possa muito nos auxiliar.
Para isto, solicitamos sua colaboração, pedindo autorização para que
a entrevista seja gravada e informamos que os dados serão utilizados
somente em publicações científicas, preservando-se o sigilo da
identificação dos participantes e das instituições que possam vir a ser
mencionadas.
1.
Contexto escolar.
1.1
Seu filho/neto já enfrentou ou enfrenta problemas na escola? Se
sim, quais?
1.1
Como é o relacionamento do seu filho/neto com os colegas de
escola?
1.2
Seu filho/neto gosta de ir à escola?
2.
Relacionamento interpessoal.
2.1
Seu filho/neto tem facilidade para fazer amigos?
2.2
Você acha que ele prefere crianças mais novas, mais velhas ou da
idade dele?
337
2.3
Você já enfrentou ou enfrenta problemas em outros contextos
que não os escolares devido as características do seu filho/neto? Se
sim, quais?
2.4
Você acredita que seu filho/neto já sofreu (ou sofre)
preconceito devido ao fato de ser diferente em suas características?
3.
Contexto familiar.
3.1
Como é o relacionamento do seu filho/neto com os familiares
com quem convive diariamente?
3.2
Em quais atividades ele se envolve com a família?
3.3
Em quais atividades ele se envolve sozinho?
4.
Indicadores.
4.1
No seu ponto de vista, em que seu filho/neto se diferencia das
crianças da mesma idade?
4.2
Para você o que significa ser uma criança superdotada/com
TDAH?
5.
A identificação e o processo de construção de identidade.
5.1
Como foi realizado o encaminhamento do seu filho/neto para o
Programa/Centro de Atenção?
5.2
Como é, para você, ser mãe/pai/avó de uma criança superdotada/
com TDAH?
338
5.3
Gostaria de deixar alguma mensagem àqueles que passam pelas
mesmas situações que as suas?
6.
Há algum comentário a acrescentar?
Vou ouvir a gravação e transcrever os dados. Se tiver algum
problema nessa fase, precisarei entrar em contato com você
novamente, tudo bem?
Agradecemos a colaboração e estamos disponíveis para qualquer
esclarecimento!
339
Apêndice C
Avaliação individual dos estudantes do G1
E1- AUGUSTO
Caracterização do estudante
Um estudante de 11 anos, que está cursando o 6º ano do Ensino
Fundamental. Filho caçula de uma família com mais um filho, cujos
pais são casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Na avaliação dos indicadores de Superdotação, de acordo com os
dados coletados por meio do CCAS, a mãe do estudante assinalou
um maior número de indicadores que o pai. As avaliações
convergiram em 88% e divergiram em 12%.
Na avaliação feita pela mãe, o estudante atingiria a nota de corte
necessária, o que não acontece na avaliação do pai. Quando retirada
a média das duas avaliações, o estudante atinge o critério de 69,04%
e são identificados indicadores do tipo misto de Superdotação.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Quanto aos indicadores de TDAH, segundo os dados do instrumento
SNAP-IV, Augusto não apresenta indicativos de TDAH, com um
número de indicadores muito abaixo do necessário para
cumprimento do Critério A.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Na avaliação efetuada pelos pais, o estudante apresenta um
repertório altamente elaborado de habilidades sociais, com
resultados acima da média para praticamente todos os itens e
subescalas. Isso é indicativo de recursos interpessoais altamente
340
satisfatórios nesses itens, com destaque para o autocontrole e a
civilidade. Nas duas avaliações, a desenvoltura social é o ponto de
maior fragilidade, mas, ainda assim, esta é considerada mediana
(bom repertório).
Na autoavaliação, Augusto obtém uma boa pontuação geral, o que
indica um bom repertório de habilidades sociais, todavia, com
resultado dentro da média normativa, pois foi verificado um
equilíbrio entre os recursos e os déficits. Com relação à
responsabilidade e ao “autocontrole/civilidade”, o estudante se
encontra acima da média, mas, quanto à “empatia/afetividade”, está
abaixo da média, enquanto sua assertividade foi considerada
mediana, apresentando resultados semelhantes a seus pares.
Com respeito aos problemas de comportamento avaliados pelos
pais/responsáveis, tanto o pai quanto a mãe avaliam que Augusto
apresenta um escore geral de problemas de comportamento muito
abaixo da média de outros meninos, com resultados abaixo da
média para praticamente todos os itens e subescalas, o que é
indicativo de recursos interpessoais altamente satisfatórios. Sua
dificuldade comportamental é bastante específica, concentrada em
problemas de comportamento internalizantes, mas, ainda assim, é
considerado mediano, se comparado aos pares.
Resumindo, a avaliação do estudante evidencia que o estudante não
apresenta déficits acentuados nas habilidades sociais, entretanto,
pode melhorar seus problemas de comportamento internalizantes e
aprimorar sua “empatia/afetividade” e desenvoltura social
empregando como base seus pontos fortes, no caso, a
responsabilidade e o “autocontrole/civilidade”.
341
E2- EMANUEL
Caracterização do estudante
Um estudante de oito anos, que está cursando o 3º ano do Ensino
Fundamental I. Filho primogênito de uma família com mais um
filho, cujos pais são casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Quanto aos indicadores de Superdotação, os dois informantes
indicaram um conjunto de características que alcança os critérios
estabelecidos no instrumento. As avaliações convergiram em 88% e
divergiram em 12%.
A mãe avalia que o estudante apresenta o tipo acadêmico de
Superdotação e o pai avalia o estudante com o tipo misto.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Emanuel contempla os critérios de avaliação do SNAP-IV,
apresentando um número de indicadores considerável da
apresentação hiperativa/impulsiva, cumprindo o Critério A de
avaliação.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Na avaliação de habilidades sociais realizada pelos pais, o estudante
mostra um repertório altamente elaborado de habilidades sociais,
com resultados acima da média em mais da metade dos itens e
subescalas, indicativo de recursos interpessoais altamente
satisfatórios, com destaque para a desenvoltura social e a
“afetividade/cooperação”. A responsabilidade e a civilidade foram
consideradas medianas, na avaliação da mãe. Ao considerar as duas
avaliações, o autocontrole é o ponto de maior fragilidade, mas, ainda
assim, é tido como mediano (bom), se comparado a outros meninos.
342
Na autoavaliação, Emanuel também revelou um repertório
altamente elaborado em habilidades sociais, com resultados acima da
média em praticamente todos os itens e subescalas em que aparecem,
indicativo de recursos interpessoais altamente satisfatórios. Com
relação à “assertividade”, o estudante está na média normativa, no
entanto, obteve um escore acima do percentil mediano.
Com relação aos problemas de comportamento avaliados pelos
pais/responsáveis, a mãe avalia que o estudante apresenta um
repertório mediano para problemas de comportamento, já o pai
avalia que Emanuel tem um repertório dio superior para
problemas de comportamento,
o que é indicativo de necessidade de intervenção, especialmente no
que se refere a problemas de comportamento externalizantes.
Em suma, a avaliação do estudante conta de que ele não apresenta
déficits acentuados nas habilidades sociais, mas pode melhorar seus
problemas de comportamento externalizantes e aprimorar seu
autocontrole e assertividade, utilizando como base seus pontos
fortes, no caso, a desenvoltura social e “afetividade/cooperação”.
E3- MATEUS
Caracterização do estudante
Um estudante de 12 anos, que está cursando o ano. Filho
primogênito de uma família com mais um filho, cujos pais são
casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
No que tange aos indicadores de Superdotação, avaliados pelo
CCAS, os dois informantes assinalaram um conjunto de
características que, quantitativamente, cumpre os critérios do
343
instrumento para avaliação do tipo misto de Superdotação. As
avaliações convergiram em 88% e divergiram em 12%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
O estudante não apresenta um número de indicadores de TDAH
que cumpra o Critério A na avaliação em nenhuma das duas
avaliações.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Na avaliação de habilidades sociais feita pelos pais/responsáveis, o
estudante apresenta um bom repertório de habilidades sociais, com
resultados dentro da média, com equilíbrio entre os recursos e
déficits, com destaque positivo para o autocontrole e a civilidade. A
“afetividade/cooperação” foram consideradas na média, mas acima
do percentil mediano; o pai avalia a desenvoltura social do estudante
como mediana, enquanto a mãe a avalia como abaixo da média. Os
dois informantes avaliam a responsabilidade do estudante como
abaixo da média de seus pares.
Ao considerar as duas avaliações, a responsabilidade e a desenvoltura
social são os pontos de maior fragilidade, nos quais o estudante fica
abaixo da média normativa.
Na autoavaliação, Mateus também assinala um repertório altamente
elaborado em habilidades sociais, com resultados acima da média em
praticamente todos os itens e subescalas em que aparecem, o que é
indicativo de recursos interpessoais altamente satisfatórios. Com
relação à “empatia/afetividade”, o estudante se encontra dentro da
média normativa, mas acima do percentil mediano, enquanto, no
que diz respeito à responsabilidade, ele está exatamente no escore
mediano.
344
Sobre os problemas de comportamento avaliados pelos pais, a mãe
avalia que Mateus apresenta um repertório mediano para problemas
de comportamento, com resultados dentro da média na maioria dos
itens, o que seria um indicativo de atenção apenas preventiva por
parte dos responsáveis, principalmente quanto a problemas de
comportamento internalizantes.
Já o pai avaliou Mateus como tendo um repertório muito baixo para
problemas de comportamento, com resultados abaixo da média em
praticamente todos os itens e subescalas, indicativo de recursos
pessoais altamente satisfatórios.
Em suma, a avaliação do estudante nos mostra que o estudante não
apresenta déficits acentuados nas habilidades sociais, porém, pode
melhorar seus problemas de comportamento internalizantes e
aprimorar sua responsabilidade e desenvoltura social, tendo como
base seus pontos fortes, no caso, a civilidade e o autocontrole.
E4- DOUGLAS
Caracterização do estudante
Um estudante de 11 anos, que está cursando o ano. Filho
primogênito de uma família com mais um filho, cujos pais são
casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Constatou-se, nessa avaliação, que o estudante apresenta um número
de indicadores que, quantitativamente, alcança a nota de corte
proposta para o instrumento, sendo que os dois informantes avaliam
que o estudante apresenta o tipo misto de Superdotação.
As avaliações convergiram em 74% e divergiram em 26%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
345
Na avaliação efetuada por meio do SNAP-IV, o estudante não
apresenta um número de indicadores significativos de TDAH,
portanto, não cumpre o Critério A de avaliação.
Avaliação de habilidades sociais e problemas de
comportamento
Com respeito à avaliação das habilidades sociais, na avaliação por
pais/responsáveis, o estudante apresenta um repertório médio
inferior de habilidades sociais, com resultados abaixo da média em
grande parte dos itens, indicativo de necessidade de intervenção.
O autocontrole, a civilidade e a “afetividade/cooperação foram
considerados na média, sendo esse último no percentil mediano da
amostra normativa. O pai avalia a desenvoltura social de Douglas
num percentil abaixo da média, enquanto a mãe a avalia como
mediana. Ao se levar em conta as duas avaliações, a responsabilidade
é o ponto de maior fragilidade.
Na autoavaliação, apresenta um repertório altamente elaborado em
habilidades sociais, com resultados acima da média em praticamente
todos os itens e subescalas, indicativo de recursos interpessoais
altamente satisfatórios. Com relação à “empatia/afetividade” e
assertividade, o estudante se encontra dentro da média normativa,
contudo, abaixo do percentil mediano. No que se refere à
responsabilidade e autocontrole/civilidade, estes foram identificados
pelo estudante como seus pontos mais fortes.
Quanto aos problemas de comportamento avaliados pelos
pais/responsáveis, os dois respondentes avaliam o estudante com um
repertório mediano para problemas de comportamento, com
resultados dentro da média na maioria dos itens, o que seria
indicativo de atenção apenas preventiva, por parte dos responsáveis,
346
sobretudo no que diz respeito a Problemas de Comportamento
Internalizantes.
Em suma, a avaliação do estudante nos mostra que ele não tem
déficits acentuados nas habilidades sociais, mas pode melhorar seus
problemas de comportamento internalizantes e aprimorar sua
responsabilidade e desenvoltura social, com base em seus pontos
fortes, no caso, seu autocontrole e civilidade.
E5- MIGUEL
Caracterização do estudante
Um estudante de oito anos, que está cursando o ano do Ensino
Fundamental I. Filho único de um casal, cujos pais são casados
formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Na avaliação dos indicadores da Superdotação, o resultado da
avaliação realizada pelos dois informantes também não
convergiu. As avaliações
convergiram em 76% dos questionamentos e divergiram em 24%.
Na avaliação da mãe, o estudante não atinge a nota de corte, em
contraponto, na avaliação do pai, isso acontece. Quando é retirada
a média das duas avaliações, o estudante atinge a pontuação
estabelecida para o estudo e apresenta indicadores do tipo misto de
Superdotação. Na avaliação da mãe, o estudante revelou um número
bastante abaixo do estabelecido nos indicadores relacionados ao
domínio emocional.
Avaliação dos indicadores do TDAH
Na avaliação feita por meio do SNAP-IV, na avaliação da mãe o
estudante não preenche o critério inicial, mas, na avaliação efetuada
pelo pai, o estudante apresenta um número de indicadores
347
considerável, evidenciando indicadores da apresentação combinada
de TDAH.
Quando consideradas as duas avaliações, o estudante não cumpre os
critérios do instrumento para avaliação inicial do transtorno.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Com relação às habilidades sociais, na avaliação realizada pelos pais,
o estudante apresenta um bom repertório de habilidades sociais, com
resultados dentro da média em grande parte dos itens, e equilíbrio
entre recursos e déficits.
A afetividade/cooperação” foi considerada na média, por ambos. A
desenvoltura social foi tida como acima da média, em ambas as
avaliações. A mãe avalia o autocontrole como mediano e o pai, como
superior à média normativa.
Quando consideradas as duas avaliações, a responsabilidade é o
ponto de maior fragilidade e os pontos de destaque são civilidade e
desenvoltura social.
Na autoavaliação, o estudante também indica um repertório médio
inferior de habilidades sociais, com resultados abaixo da média em
grande parte dos itens, o que é indicativo de necessidade de
intervenção, especialmente nas escalas responsabilidade e
autocontrole/civilidade. Quanto à “empatia/afetividade”, o
estudante está acima da média normativa.
Com respeito aos problemas de comportamento, a mãe avaliou o
estudante como tendo um repertório mediano para problemas de
comportamento, com resultados dentro da média, na maioria dos
itens, o que seria um indicativo de atenção apenas preventiva, por
parte dos responsáveis, sobretudo no que concerne a problemas de
comportamento externalizantes. Já o pai avalia o estudante como
348
detentor de um repertório acima da média superior, indicativo de
necessidade de intervenção e também de atenção ao manejo de
contingências por parte dos significantes, no caso, os pais.
Em suma, a avaliação do estudante nos mostra que ele demonstra
déficits nas habilidades sociais, podendo melhorar seus problemas de
comportamento, tanto internalizantes quanto externalizantes, e
aprimorar sua responsabilidade, utilizando como base sua
“empatia/afetividade”, civilidade e desenvoltura social.
E6- EVA
Caracterização do estudante
Uma estudante de nove anos, que está cursando o 5º ano do Ensino
Fundamental I. Filha primogênita de uma família com mais um
filho, cujos pais são casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Na avaliação dos indicadores de Superdotação, realizada por meio
do CCAS, os dois informantes identificam um número de
características que alcança a nota de corte proposta para o
instrumento neste estudo. Para a mãe, a estudante denota indicadores
de Superdotação do tipo misto e para o pai, os indicadoreso
predominantemente do tipo criativo.
As avaliações convergiram em 79% e divergiram em 21%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
A avaliação feita pelos pais, por meio do SNAP-IV, não convergiu.
A mãe indica um número de indicadores menor que o pai. Na
avaliação realizada pelo pai, a estudante atinge os critérios
necessários para o TDAH de apresentação combinada, mas, na
avaliação da mãe, não atinge o necessário para cumprir o Critério A.
Quando consideradas as duas avaliações, a estudante atinge o critério
349
proposto pelo instrumento para a apresentação combinada do
TDAH.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Com relação à avaliação das habilidades sociais, na avaliação por
pais, Eva apresenta um repertório abaixo da média inferior de
habilidades sociais, indicativo de necessidade de intervenção,
especialmente nos itens que se referem à responsabilidade,
autocontrole e civilidade.
A desenvoltura social foi considerada na média por ambos, e a
“afetividade/cooperação” ficou na média da amostra normativa,
porém, acima do percentil mediano.
Na autoavaliação, Eva também apresenta um repertório abaixo da
média inferior de habilidades sociais, indicativo de necessidade de
intervenção, sobretudo nos itens mais críticos, no caso, a
“empatia/afetividade”, a responsabilidade e o “autocontrole/
civilidade”. A assertividade está dentro da média, mas abaixo do
percentil mediano.
Segundo os dois informantes, a estudante tem um repertório acima
da média superior para problemas de comportamento, o que é
indicativo de necessidade de intervenção, em especial em itens mais
críticos ao ajustamento social e acadêmico e também de atenção ao
manejo de contingências, por parte dos pais e professores.
Em suma, a avaliação de Eva revela que ela apresenta déficits nas
habilidades sociais, podendo melhorar seus problemas de
comportamento, tanto internalizantes quanto externalizantes, e
aprimorar sua responsabilidade, “empatia/afetividade” e
“autocontrole/civilidade”, tendo como base sua assertividade.
350
Diante do fato de a estudante ter cumprido os critérios de avaliação
inicial, tanto do comportamento superdotado quanto do TDAH,
bem como apresentar déficit acentuado nas habilidades sociais, deve
ser levada em conta, em avaliações próximas, a suspeita de uma dupla
excepcionalidade Superdotação e TDAH.
351
Apêndice D
Avaliação individual dos estudantes do G2
E1- ADRIANO
Caracterização do estudante
Um estudante de oito anos, que está cursando o 4º ano do Ensino
Fundamental I. Filho caçula de uma família cujos pais constituem
uma união estável.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Na avaliação de características associadas à Superdotação, o
estudante apresenta um número de características não
representativo, desse modo, não atinge o critério estabelecido no
instrumento, em nenhuma das duas avaliações.
As avaliações convergiram em 57% e divergiram em 43%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Sobre a avaliação dos indicadores de TDAH feita por meio do
SNAP-IV, a avaliação dos dois informantes não convergiu. Segundo
a avaliação da mãe, o estudante não cumpre com o Critério A de
avaliação. na avaliação do pai, o estudante mostraria indícios de
apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva do
transtorno.
Quando consideradas as duas avaliações, o estudante não atinge os
critérios estabelecidos pelo autor do instrumento.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
A mãe avaliou Adriano com um bom repertório de habilidades
sociais, com resultados
dentro da dia, para a maior parte dos itens,
com destaque positivo para a desenvoltura social. Já o pai avaliou o
352
estudante como tendo um repertório abaixo da média inferior de
habilidades sociais, com resultados abaixo da média normativa em
praticamente todos os itens.
Isso é indicativo de necessidade de
intervenção, especialmente naquelas escalas e itens mais críticos
para o ajustamento social e acadêmico, no caso, civilidade,
autocontrole e desenvoltura social. A responsabilidade significou um
destaque positivo, sendo avaliada na média normativa. O estudante
se autoavaliou com um repertório abaixo da média inferior de
habilidades
sociais, com resultados abaixo da média normativa em
praticamente todos os itens, o que é indicativo de necessidade de
intervenção, sobretudo nos itens “autocontrole/civilidade” e
“empatia/afetividade”. A assertividade significou um destaque
positivo e foi avaliada como na
média dos pares.
Considerando as três avaliações, Adriano exibe déficit acentuado nas
habilidades sociais, principalmente de autocontrole, avaliado como
abaixo da média normativa nas três avaliações.
Quanto aos problemas de comportamento, os dois respondentes
avaliaram o estudante como tendo um repertório mediano para
problemas de comportamento, com resultados dentro da média para
todos os itens, indicativo de atenção apenas preventiva, por parte dos
significantes.
E2- MARCUS
Caracterização do estudante
Um estudante de seis anos, que está cursando o 1º ano do Ensino
Fundamental I. Filho primogênito de uma família que, na data da
coleta esperava mais um filho, e cujos pais são casados formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
353
Com relação aos indicadores de Superdotação, avaliados pelos pais,
o estudante apresenta um número de características que cumpre com
o critério de 69,04%, estabelecido neste estudo, e apresenta o tipo
misto de Superdotação nas duas avaliações.
As avaliações convergiram em 79% e divergiram em 21%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Na avaliação dos indicadores de TDAH, as avaliações da mãe e do pai
não convergiram, sendo que a mãe identifica um maior número de
indicadores que o pai. Na avaliação da mãe, o estudante revela
indicadores de TDAH de apresentação combinada e, na avaliação
do pai, o estudante não cumpre o critério A de avaliação. Quando
consideradas as duas avaliações, o estudante atende aos critérios para
a apresentação da manifestação predominantemente
hiperativa/impulsiva do transtorno.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Segundo a avaliação por pais, nas duas avaliações, o estudante
apresenta um repertório abaixo da média inferior de habilidades
sociais, indicativo de necessidade de intervenção, especialmente nos
itens autocontrole e desenvoltura social.
A responsabilidade e a civilidade foram considerados dentro da
média normativa pelos dois informantes, a responsabilidade abaixo
do percentil mediano e a civilidade acima. Na avaliação efetuada
pelo pai, a “afetividade/cooperação” foi considerada abaixo da média
inferior, enquanto a mãe avalia o mesmo fator como médio inferior.
A autoavaliação do estudante convergiu com a avaliação por pais,
tendo o estudante apresentado um repertório abaixo da média
inferior de habilidades sociais, indicativo de necessidade de
intervenção, especialmente nos itens “empatia/afetividade” e
354
“autocontrole/civilidade”. A responsabilidade do estudante é o
único fator autoavaliado no percentil mediano.
A respeito dos problemas de comportamento avaliados pelos pais, os
dois respondentes avaliam o estudante como tendo um repertório
acima da média superior para problemas de comportamento,
indicativo de necessidade de intervenção, sobretudo naquelas escalas
e itens mais críticos para o ajustamento social e acadêmico e também
atenção ao manejo de contingências, por parte dos significantes.
Em resumo, a avaliação efetuada mostrou que Marcus apresenta
déficits generalizados nas habilidades sociais e necessita melhorar seus
problemas de comportamento, principalmente os externalizantes.
Pode-se dar destaque positivo à responsabilidade do estudante,
avaliada na média pelos três informantes, sendo que o ponto mais
crítico na avaliação foi o autocontrole, tido como muito abaixo da
média pelos três informantes.
Diante do fato de esse estudante ter cumprido os critérios de
avaliação inicial, tanto do comportamento superdotado quanto do
TDAH, bem como apresentar déficit acentuado nas habilidades
sociais, deve ser levada em conta, em avaliações próximas, a suspeita
de uma dupla excepcionalidade Superdotação e TDAH.
E3- VINÍCIUS
Caracterização do estudante
Um estudante de sete anos, que está cursando o 3º ano do Ensino
Fundamental I. Filho caçula de uma família, cujos pais são casados
formalmente.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
355
Com relação à avaliação dos indicadores da Superdotação, Vinícius
não apresenta um conjunto de características representativas em
nenhuma das duas avaliações.
As avaliações convergiram em 64% e divergiram em 36%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Na avaliação realizada por meio do SNAP-IV, o estudante não
cumpre com os critérios do instrumento para diagnóstico de
TDAH, em nenhuma das duas avaliações.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Considerando a avaliação de habilidades sociais realizada pelos
pais/responsáveis, a mãe avalia que Vinícius apresenta um repertório
abaixo da média inferior de habilidades sociais, indicativo de
necessidade de intervenção, especialmente nos itens
responsabilidade, “afetividade/cooperação” e civilidade. Já para a
avó, o estudante revela um bom repertório de habilidades sociais,
com resultados dentro da média para a maior parte dos itens e
destaque positivo para “afetividade/cooperação”.
A desenvoltura social foi considerada na média, por ambas. O
autocontrole foi avaliado como abaixo da média.
Vinícius se autoavaliou como tendo um repertório médio inferior de
habilidades sociais, com resultados abaixo da média em grande parte
dos itens, o que é indicativo de necessidade de intervenção,
principalmente no que se refere a “empatia/afetividade”. A
responsabilidade e o “autocontrole/civilidade” foram os construtos
avaliados mais positivamente pelo estudante, como médio superior,
acima do percentil mediano.
Com relação aos problemas de comportamento avaliados pelos
pais/responsáveis, segundo as duas informantes, Vinícius mostra um
356
repertório mediano para problemas de comportamento, com
resultados dentro da média para todos os itens, indicativos de
atenção apenas preventiva por parte dos significantes.
E4- JOSÉ
Caracterização do estudante
Um estudante de dez anos, que está cursando o 6º ano do Ensino
Fundamental I. Filho primogênito de uma família cujos pais são
separados.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Quanto aos indicadores da Superdotação, o estudante não evidencia
um número de características que atinja a nota de corte, estabelecida
para este estudo, em nenhuma das duas avaliações.
As avaliações convergiram em 64% e divergiram em 36%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
A avaliação de indicadores de TDAH realizada pela mãe e a avó, por
meio do SNAP- IV, não convergiu, sendo que a mãe avaliou o
estudante com um número superior de indicadores que a avó.
Segundo a avaliação da mãe, José apresenta um número significativo
de indicadores, e seria avaliado como tendo uma manifestação do
TDAH do tipo desatento. Já na avaliação da avó, o estudante não
cumpre o critério A de diagnóstico. Tendo em vista as duas
avaliações, o estudante não cumpre o critério estabelecido pelo
instrumento, embora, na avaliação da mãe, tenha alcançado a nota
de corte no domínio intelectual e, na da avó, no domínio criativo, o
que nos revela que os indicadores menos presentes na estudante são
os relacionados ao domínio emocional.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
357
Na avaliação de habilidades sociais por pais/responsáveis, segundo as
duas informantes, José mostra um repertório abaixo da média
inferior de habilidades sociais, indicativo de necessidade de
intervenção, especialmente nos itens mais críticos para o
ajustamento social e acadêmico, no caso, a civilidade, o autocontrole
e a “afetividade/cooperação”.
A avó avaliou a responsabilidade e a desenvoltura social do estudante
na média normativa, porém, acima do percentil mediano, enquanto
a mãe o fez como abaixo da média inferior.
Quando consideradas as duas avaliações, o estudante apresenta
responsabilidade e desenvoltura social semelhante aos meninos da
faixa etária.
Na avaliação realizada pela própria criança, José se autoavaliou como
tendo um repertório médio inferior de habilidades sociais, com
resultados abaixo da média em grande parte dos itens, indicativo de
necessidade de intervenção, sobretudo nos itens
“autocontrole/civilidade” e assertividade.
Na autoavaliação, pode-se dar destaque positivo para a
“empatia/afetividade”, que foram consideradas como um repertório
elaborado, com resultados acima da média, o que é indicativo de
recursos pessoais bastante satisfatórios.
No que tange aos problemas de comportamento, na avaliação
realizada pela mãe, o estudante apresenta um repertório acima da
média superior para problemas de comportamento, indicativo de
necessidade de intervenção, especialmente relacionados aos
problemas de comportamento internalizantes. Na avaliação feita
pela avó, o estudante demonstra um repertório médio superior, com
resultados acima da média em grande parte dos itens, indicativo de
358
necessidade de intervenção, especialmente no que concerne a
problemas de comportamento externalizantes.
E5- ALICE
Caracterização do estudante
Uma estudante de sete anos, que está cursando o ano do Ensino
Fundamental I. Filha primogênita de uma família que, na data da
coleta, esperava mais um filho, e cujos pais são separados.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
Com relação à avaliação dos indicadores de Superdotação, a
estudante não apresenta um conjunto de características
representativo em nenhuma das duas avaliações. Embora não tenha
sido cumprido o critério do instrumento, na avaliação da avó, a nota
de corte para o domínio criativo é atingida.
As avaliações convergiram em 64% e divergiram em 36% das
respostas.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Na avaliação efetuada por meio do SNAP-IV, a estudante cumpre o
critério A, evidenciando indicativos de TDAH de manifestação
hiperativa/impulsiva, nas avaliações das duas informantes.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Com relação à avaliação das habilidades sociais, a mãe avaliou a
estudante como tendo um repertório abaixo da média inferior de
habilidades sociais, indicativo de necessidade de intervenção. Todos
os fatores foram tidos como críticos, exceto a responsabilidade.
Na avaliação realizada pela avó, Alice foi vista como tendo um bom
repertório de habilidades sociais, com resultados dentro da média
359
para a maior parte dos itens e equilíbrio entre seus recursos e déficits;
o ponto mais crítico apontado foi o autocontrole.
A responsabilidade foi o ponto de destaque positivo, avaliada como
altamente elaborada, em ambas as avaliações, sendo que, na
avaliação da avó, também se pode dar destaque positivo à
“afetividade/cooperação”, avaliadas como um repertório elaborado,
com um resultado acima da média de outras meninas da faixa etária.
Quando consideradas as duas avaliações, a “afetividade/ cooperação”
fica na média da amostra normativa.
A estudante se autoavaliou com um repertório abaixo da média
inferior de habilidades sociais, indicativo de necessidade de
intervenção, sobretudo nos quesitos “empatia/afetividade” e
responsabilidade. O “autocontrole/civilidade” e a assertividade
foram considerados na média normativa das meninas da faixa etária.
Quanto aos problemas de comportamento, Alice apresentou um
repertório acima da média superior para problemas de
comportamento, indicativo de necessidade de intervenção.
Especialmente naquelas escalas e itens mais críticos, na avaliação da
avó, os problemas de comportamento sinalizados são do tipo
externalizantes e, na avaliação da mãe, os problemas de
comportamento são generalizados. Também deve ser dada atenção ao
manejo de contingências, por parte dos significantes.
E6- ELISA
Caracterização do estudante
Uma estudante de sete anos, que está cursando oano do Ensino
Fundamental I. Filha caçula de uma família cujos pais são separados.
Avaliação dos indicadores de Superdotação
360
Quanto à avaliação dos indicadores da Superdotação, Elisa não
apresenta um conjunto significativo de comportamentos de
Superdotação e não atinge os critérios que, neste estudo, seria um
indicativo de comportamento superdotado. Na avaliação da mãe, a
estudante, apesar de não cumprir o critério de avaliação do
instrumento, alcança a nota de corte nos domínios intelectual e
criativo, sendo que um menor número de indicadores foi assinalado
no domínio emocional.
As avaliações convergiram em 48% e divergiram em 52%.
Avaliação dos indicadores de TDAH
Na avaliação dos indicadores de TDAH, as informações prestadas
pelos dois informantes não convergiram. Na avaliação feita pela
mãe, a estudante atinge o critério estabelecido pelo autor do
instrumento para o TDAH de apresentação hiperativa/ impulsiva,
ao passo que, na avaliação do pai, esse critério não é atingido, mas, ao
considerar a média das duas avaliações, a estudante atinge o Critério
A para o diagnóstico do transtorno.
Avaliação das habilidades sociais e problemas de
comportamento
Na avaliação das habilidades sociais, a mãe avaliou a estudante como
tendo um repertório abaixo da média inferior, indicativo de
necessidade de intervenção, especialmente nos itens mais críticos, no
caso, a responsabilidade, o autocontrole e a “afetividade/
cooperação”.
O pai avaliou a estudante como tendo um repertório médio inferior
de habilidades sociais, com resultados abaixo da média, em grande
parte dos itens. Isso é indicativo de necessidade de intervenção,
sobretudo nos itens relacionados à responsabilidade e à civilidade.
Na avaliação do pai, as habilidades de “afetividade/ cooperação”
361
foram consideradas elaboradas e avaliadas como sendo o ponto forte
da estudante. O autocontrole foi tido como bom, com resultados
dentro da média normativa das meninas da faixa etária.
Quando consideradas as duas avaliações, a “afetividade/ cooperação”
apresenta um resultado dentro da média e o autocontrole revela um
repertório abaixo da média inferior.
Com respeito à autoavaliação, Elisa se autoavaliou como tendo um
bom repertório de habilidades sociais, com resultados dentro da
média para a maior parte dos itens e equilíbrio entre recursos e
déficits. No caso, a responsabilidade foi avaliada como abaixo da
média inferior e a assertividade e o “autocontrole/ civilidade” foram
tomadas como acima da média.
Em suma, Elisa apresenta déficits acentuados nas habilidades sociais,
tendo como aspecto mais crítico a responsabilidade, avaliada pelos
três informantes como muito abaixo da média normativa do
instrumento.
Com relação aos problemas de comportamento avaliados pelos pais,
na avaliação realizada pela mãe, Elisa exibe um repertório acima da
média superior para problemas de comportamento, enquanto, na
avaliação feita pelo pai, a estudante apresenta um repertório médio
superior. O resultado das duas avaliações é indicativo de necessidade
de intervenção e também de atenção ao manejo de contingências,
por parte dos significantes.
363
Anexos
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _____
Anexo A
MTA-SNAP IV
Para cada item, escolha a coluna que melhor descreve o(a) aluno(a)
(MARQUE UM X):
NEM UM POUCO
UM POUCO
BASTANTE
DEMAIS
1. Não consegue prestar muita
atenção a detalhes ou
comete erros por descuido nos trabalhos de
escola ou tarefas.
2. Tem dificuldade de manter a
atenção em tarefas ou
atividades de lazer.
3. Parece não estar ouvindo quando se
fala diretamente com ele.
4. Não segue instruções até o fim e não
termina deveres de escola, tarefas ou
obrigações.
5. Tem dificuldade para organizar
tarefas e atividades.
6. Evita, não gosta ou não se envolve
contra a vontade em
tarefas que exigem esforço mental prolongado.
7. Perde coisas necessárias
para atividades (ex:
brinquedos, deveres da escola, lápis ou
livros).
364
8. Distrai-se com estímulos externos.
9. É esquecido em atividades do dia-a-
dia.
10. Mexe com as mãos ou os pés ou se
remexe na cadeira.
11. Sai do lugar na sala de aula ou em
outras situações em
que se espera que fique sentado.
12. Corre de um lado para outro ou
sobe demais nas coisas em situações em que
isso é inapropriado.
13. Tem dificuldade em brincar ou
envolver-se em
atividades de forma calma.
14. Não para ou frequentemente está a
“mil por hora”.
15. Fala em excesso.
16. Responde as perguntas de forma
precipitada antes delas terem sido
terminadas.
17. Tem dificuldade de esperar sua vez.
18. Interrompe os outros ou se
intromete (por exemplo: intromete-se nas
conversas, jogos, etc.)
Fonte: Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA, 2017).
365
Anexo B
Checklist de Características Associadas à Superdotação (CCAS)
Assinale os itens que você percebe frequentemente no(a) seu(ua)
filho(a).
1. Gosta ou prefere trabalhar e brincar
independentemente.
SIM
NÃO
2. Consegue se concentrar em duas ou três
atividades ao mesmo tempo.
SIM
NÃO
3. Prefere a companhia de crianças mais velhas e de
adultos.
SIM
NÃO
4. Lê livros e revistas direcionadas a crianças mais velhas
e adultos.
SIM
NÃO
5. Interessa-se por relações de causa e efeito, isto e,
entender o porquê das “coisas”.
SIM
NÃO
6. Aprende rapidamente e aplica o conhecimento com
facilidade.
SIM
NÃO
7. Apresenta uma capacidade incomum de raciocínio
lógico.
SIM
NÃO
8. Tem um vocabulário avançado para a idade.
SIM
NÃO
9. Gosta de fazer descobertas de uma maneira própria e
resolver problemas de seu modo.
SIM
NÃO
10. Gosta de “brincar com palavras”, isto é, inventar
novas palavras
e/ou expressões, usar palavras com duplo sentido.
SIM
NÃO
11. Apresenta um descompasso no desenvolvimento
(Por exemplo: com seis anos compreendia e tentava
explicar o papel da clorofila no processo da
fotossíntese, porém tinha dificuldade de se vestir
pela manhã e/ou para amarrar os sapatos).
SIM
NÃO
12. Gosta muito de jogos de matemática, “brincando”
com conceitos numéricos e desenvolvendo formas
próprias para resolver problemas
matemáticos.
SIM
NÃO
13. Quer saber as razões para as regras e as
razões por atrás das razões.
SIM
NÃO
366
14. Discute ou elabora ideias de forma complexa e
incomum.
SIM
NÃO
15. Tem muitas respostas para perguntas ou soluções
para os problemas.
SIM
NÃO
16. É extremamente curioso, faz muitas perguntas e
questiona as
respostas.
SIM
NÃO
17. Apresenta liderança na organização de
jogos, atividades e na resolução de conflitos.
SIM
NÃO
18. Fica muito tempo atento as coisas que lhe
interessam.
SIM
NÃO
19. Fica tão envolvido com o que tem interesse que não
percebe mais
nada.
SIM
NÃO
20. Tem muitos passatempos ou interesses incomuns.
SIM
NÃO
21. Tem coleções elaboradas e é dedicado a elas.
SIM
NÃO
22. Demonstra uma imaginação vívida.
SIM
NÃO
23. Inventa jogos, brinquedos e outros dispositivos.
SIM
NÃO
24. Pensa novas maneiras de fazer as coisas.
SIM
NÃO
25. Gosta de criar, desenhando, pintando,
escrevendo, construindo, experimentando,
contando histórias e inventando.
SIM
NÃO
26. Gosta de cantar, tocar um instrumento, dançar ou
mover-se
ritmicamente.
SIM
NÃO
27. É sensível a música e é hábil para compor canções
ou improvisar tons e ritmos.
SIM
NÃO
28. Percebe padrões e conexões que outros não veem,
mesmo entre
coisas que aparentemente não se relacionam.
SIM
NÃO
29. Argumenta ou debate sobre a lógica das ideias,
das regras ou das ações.
SIM
NÃO
30. Tende a se rebelar contra o que é rotineiro ou
previsível.
SIM
NÃO
31. Tem um senso de humor bem desenvolvido.
SIM
NÃO
32. Aprende padrões do discurso e do vocabulário
dos diferentes povos, isto é, sotaques, forma de falar,
etc. e imita-os em suas histórias, piadas, músicas ou
jogos.
SIM
NÃO
33. É muito ativo e não consegue ficar quieto por muito
tempo.
SIM
NÃO
367
34. Gosta de discutir ideias abstratas, tais como Deus, o
amor, a
justiça e a igualdade.
SIM
NÃO
35. Tem uma sensibilidade incomum para o
que e visto, ouvido, tocado, provado e
cheirado.
SIM
NÃO
36. Mostra sensibilidade em relação aos sentimentos
dos outros e
empatia (“compreensão”) para com os problemas dos
outros.
SIM
NÃO
37. Interessa-se pelos problemas do mundo, tais
como, animais em extinção, racismo, poluição e
pobreza.
SIM
NÃO
38. Mostra disposição para seguir sua intuição,
mesmo se ela não puder ser imediatamente
justificada.
SIM
NÃO
39. Demonstra energia elevada, foco e empenho.
SIM
NÃO
40. Frustra-se com a própria imperfeição ou
imperfeição dos outros.
SIM
NÃO
41. É muito sensível as críticas.
SIM
NÃO
42. Demonstra sensibilidade em relação aos valores e
crenças
espirituais e às reflexões filosóficas.
SIM
NÃO
Fonte: Barbosa et al. (2008).
Pareceristas
_______ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ _______________ ____________
Este livro foi submetido ao Edital 01/2020 do Programa de Pós-
graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP,
câmpus de Marília e financiado pelo auxílio nº 0798/2018, Processo Nº
23038.000985/2018-89, Programa PROEX/CAPES. Contamos com o
apoio dos seguintes pareceristas que avaliaram as propostas recomendando
a publicação. Agradecemos a cada um pelo trabalho realizado:
Adriana Pastorello Buim Arena
Alessandra Arce Hai
Alexandre Filordi de Carvalho
Amanda Valiengo
Ana Crelia Dias
Ana Maria Esteves Bortolanza
Ana Maria Klein
Angélica Pall Oriani
Eliana Marques Zanata
Eliane Maria Vani Ortega
Fabiana de Cássia Rodrigues
Fernando Rodrigues de Oliveira
Francisco José Brabo Bezerra
Genivaldo de Souza Santos
Igor de Moraes Paim
Irineu Aliprando Tuim Viotto Filho
José Deribaldo Gomes dos Santos
Jussara Cristina Barboza Tortella
Lenir Maristela Silva
Livia Maria Turra Bassetto
Luciana Aparecida Nogueira da Cruz
Márcia Lopes Reis
Maria Rosa Rodrigues Martins de
Camargo
Marilene Proença Rebello de Souza
Mauro Castilho Gonçalves
Monica Abrantes Galindo
Nadja Hermann
Pedro Laudinor Goergen
Tânia Barbosa Martins
Tony Honorato
Comissão de Publicação de Livros do Edital 001/2020 do
Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília
Graziela Zambão Abdian, Patricia Unger Raphael Bataglia,
Eduardo José Manzini e Rodrigo Pelloso Gelamo
SOBRE O LIVRO
Catalogação
André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211
Normalização
Nathanael da Cruz e Silva Neto
Desenho da capa
Carolina Ito
Capa e diagramação
Mariana da Rocha Corrêa Silva
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Oficina Universitária Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 80g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Acabamento
Grampeado e colado
Tiragem
100
O livro apresenta aos seus leitores novos
caminhos para compreender os fenôme-
nos da Superdotação e do Transtorno do
Décit de Atenção/Hiperatividade. Por
meio de um rigoroso delineamento me-
todológico, a autora investiga o diagnós-
tico do TDAH em sujeitos com com-
portamento superdotado, bem como a
Superdotação em sujeitos com TDAH e
amplia as discussões sobre a manifestação
da dupla excepcionalidade com base em
referenciais teóricos nacionais e interna-
cionais.
Mãe do Mateus. Mestra em Educação pelo
Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da Faculdade de Filosoa e Ciências
da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Campus
de Marília, na linha de pesquisa com
foco em Educação Especial. Graduada
em Pedagogia pela mesma universidade.
Teve pesquisas nanciadas pela Funda-
ção de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientí-
co e Tecnológico (CNPq). Atuou como
educadora do Programa de Atenção ao
Estudante Precoce com Comportamen-
to de Superdotação (PAPCS) – UNESP/
Marília, por cinco anos. Membro do
Grupo de Pesquisa “Diferença, desvio e
estigma” (UNESP/Marília). Desenvolve
pesquisas cientícas na área da Educação
Inclusiva, Educação Especial, Superdota-
ção e Dupla Excepcionalidade.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
O livro apresenta uma discussão extremamente necessária ao século XXI
e traz reexões sobre os fenômenos da Superdotação e do Transtor-
no do Décit de Atenção/Hiperatividade, delineando, desmiticando
e alertando sobre a possibilidade de sua coocorrência a denominada
Dupla Excepcionalidade –, que se manifesta em indicadores de um e de
outro fenômeno, mas, como todo encontro, se transforma e apresenta
indicadores especícos. A complexidade e a heterogeneidade intrínseca
aos grupos podem dicultar o diagnóstico e a atuação com esses estu-
dantes, nos diferentes âmbitos: família, escola e sociedade. Compreen-
dê-los e atendê-los em suas necessidades é necessário a quem se dedica
ao ofício de ensinar, pois eles podem se tornar líderes mais empáticos
com as necessidades humanas e promover o desenvolvimento cultural e
tecnológico da nossa sociedade.
Com uma abordagem multidisciplinar e de caráter multimodal, são
investigados os indicadores dos fenômenos e suas habilidades sociais,
apontando pontos fortes e fracos, o que pode oportunizar o entendi-
mento diante de uma realidade tão paradoxal, dinâmica e com traços
aparentemente contraditórios.
SUPERDOTAÇÃO, TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO /
HIPERATIVIDADE E DUPLA EXCEPCIONALIDADE
KETILIN MAYRA PEDRO
Clarissa Ogeda
SUPERDOTAÇÃO, TRANSTORNO DE DÉFICIT
DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE E DUPLA
EXCEPCIONALIDADE
Clarissa Maria Marques Ogeda
um estudo de indicadores e habilidades sociais