A dominante modalidade de relações de produção, dos homens com
a natureza, e entre eles próprios, se não estão esgotadas, encontram-se
no limite intransponível do seu potencial. Forças de desenvolvimento
social outrora, essas relações converteram-se em sua antítese, em proble-
ma social imenso que reclama sua superação histórica. Como os donos
do poder se encontram inexoravelmente comprometidos com a ordem
social, a empreitada cabe às classes trabalhadoras, que contam com uma
teleologia secular de revolução social.
Um fragmento dessa teleologia, protosocialista, foi com o que se de-
parou Laís Lima em seu estudo histórico-empírico realizado na Escola
Milton Santos, em Maringá, PR. A pesquisadora constatou que nela se
pratica uma pedagogia contraposta às antinomias supra referidas, e que
suas principais ferramentas são o ensino da agroecologia e a gestão de-
mocrática. A agroecologia promove uma relação não agressiva da so-
ciedade com a natureza, assim como o entendimento de que sua prática
é incompatível com as relações de trabalho dominantes. Esse é um dos
motivos pelo qual o seu incremento é indissociável do estabelecimento
de novas relações de produção pedagógicas. Estas se expressam na ges-
tão democrática da escola, cujo parentesco, no entanto, não é a demo-
cracia liberal, mas a democracia proletária aorada na Comuna de Paris.
O ótimo trabalho de Lima nos conduz com segurança pelos meandros
dessa prática escolar, o que facilita a consulta dos leitores, dentre os
quais, o movimento popular (MOP) é virtualmente o mais interessado.
Isto porque, o fenômeno examinado é uma sugestiva exemplicação de
como pode ser encaminhado, mutatis mutandis, o tão necessário reen-
contro do MOP com o clássico objetivo de reapropriação do trabalho
pelos trabalhadores, o qual, no antropoceno, não pode prescindir da luta
pela agroecologia.
CANDIDO G. VIEITEZ
GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPAÇÃO
NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
AGROECOLÓGICA DO MST (PR)
limites e possibilidades de uma
educação emancipatória
Laís Ribeiro dos Santos Lima
A auto-organização dos estu-
dantes, um dos princípios pedagógicos
da educação do MST, é compreendida
e praticada na Escola como um processo
que visa instaurar coletivos e formas de
organização do processo democrático.
Ao mesmo tempo, esse processo viabili-
za a inserção dos educandos em práticas
de autoformação e em experiências rele-
vantes para a conformação da coletivida-
de e da cooperação.
O referencial teórico adotado e
o material empírico analisado fazem da
obra de Laís Ribeiro dos Santos Lima
uma leitura fundamental para aqueles
que queiram estudar e aprender sobre a
educação do MST.
Programa PROEX/CAPES:
Auxílio Nº 0798/2018
Processo Nº 23038.000985/2018-89
Este livro aborda a participação e
a gestão democrática na educação agro-
ecológica do MST, trabalhando os li-
mites e possibilidades de uma educação
emancipatória na atualidade. Para tanto,
a autora buscou vericar e analisar a or-
ganização da gestão democrática (GD)
e os mecanismos de participação desen-
volvidos na educação prossional agroe-
cológica, a partir de práticas realizadas na
Escola Milton Santos do MST.
A autora identicou que a educação do
MST tem especicidades relacionadas à
sua gênese e aos objetivos denidos por
um movimento social que fez a opção
de organizar a produção, a educação e
a luta pela democratização da terra e da
sociedade.
A criação de escolas e cursos de
educação prossional pelo MST, nas
áreas de reforma agrária, bem como as
diretrizes desta educação denotam uma
perspectiva de construção, no campo
brasileiro, de um novo espaço de vida,
marcado pela tentativa de instauração
de novas relações de trabalho e de uma
sociabilidade que leve em conta a iden-
tidade política e cultural dos Sem Terra.
Em especial, a agroecologia coloca, não
apenas o desenvolvimento de novas rela-
ções com tentativa de des(alienação) do
trabalho, mas, sobretudo, uma relação de
intercâmbio e preservação da natureza e
uma nova sociabilidade.
No que diz respeito à gestão de-
mocrática na Escola Milton Santos, a
autora vericou que o seu desenvolvi-
mento se baseia em princípios e práticas,
que têm como cerne a sociabilidade co-
letiva e a autogestão, entendidas como
projeto de sociedade. Ainda que a GD
se desenvolva em sentido restrito, os seus
princípios permeiam os documentos e as
práticas educativas da escola.
GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPAÇÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL AGROECOLÓGICA DO MST (PR)
Laís Lima
NEUSA MARIA DAL RI - UNESP/MARÍLIA