Organizadoras:
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
BIBLIOTECAS
E HIBRIDEZ
A palavra híbrido signica o derivado
de duas exisncias diferentes, mas
similares - por exemplo, uma toranja,
que é o resultado de uma laranja com
um pomelo.
As primeiras imagens que me vêm à
mente quando penso em bibliotecas
híbridas são o ensino híbrido e a
biblioteca pública, pois são possibilidades
de combinações entre duas diferentes
instituições, mas com uma missão em
comum - o acesso democratizado à
informação. Voltemos à analogia da
toranja ... se pensarmos que tal derivado
foi feito intencionalmente, então a
polinização cruzada ocorreu para que
a árvore orescesse e produzisse frutos.
Se transpormos isso para as bibliotecas,
signica que a instituição híbrida precisa
ser continuamente cuidada e monitorada
para ocorrer a polinização cruzada de
ideias, a m de que ambas as partes
do brido, resultante desse processo,
possam orescer e se disseminar.
Ao falarmos de bibliotecas físicas-
online, ressaltamos que essas instituições
precisam investir em pessoal e
nanciamento para que não se tornem
uma junção confusa e decepcionante.
É claro que a maioria dos recursos
online são terceirizados e mantidos por
rmas terceirizadas, contabilizando um
alto custo para as organizações, o que
impacta nos fundos existentes para
os recursos físicos e com o pessoal da
biblioteca, mas, por enquanto, vamos
deixar isso de lado. O ponto principal é
que os bibliotecários devem ser criativos
para atender às necessidades de suas
comunidades. Às vezes isso signica criar
parcerias e, até mesmo, unir instituições.
Se a junção for pensativa e estratégica,
e ambas as instituições forem capazes
de prosperar no novo ambiente, todos
ganham. Você obtém frutas saborosas!
Jenny S. Bossaller
University of Missouri
(tradução de Rosângela Formentini Caldas
e Rafaela Carolina da Silva)
BIBLIOTECAS E HIBRIDEZ
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
BIBLIOTECAS E HIBRIDEZ
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
Marília/Ocina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2020
Copyright © 2020, Faculdade de Filosoa e Ciências
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - FFC
UNESP - Campus de Marília
Diretor
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Vice-Diretor
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Conselho Editorial
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Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Processo CAPES Nº 23038.007497/2017-11
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação
CONVÊNIO AUXPE/PROEX Nº 565/2017 CHAMADA Nº 02/2020
PUBLICAÇÃO DE LIVROS RESULTANTES DE PESQUISAS ACADÊMICO-CIENTÍFICAS
Lucinéia da Silva Batista | Bibliotecária
CRB SP 010373/O
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Ocina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Editora aliada:
Bibliotecas e Hibridez
B582 Bibliotecas e Hibridez / Rosângela Formentini Caldas ; Rafaela
Carolina da Silva. - Marília : Ocina Universitária ; São Paulo :
Cultura Acadêmica, 2020.
202 p. ; 23 cm.
Inclui Bibliograa.
ISBN 978-65-86546-88-0 (Digital)
ISBN 978-65-86546-74-3 (Impresso)
1. Biblioteca Híbrida. 2. Biblioteca e Comunidade.
3. Interoperabilidade. 4. Ciência da Informação. I. Título. II. Caldas,
Rosângela Formentini. III. Silva, Rafaela Carolina da.
CDD 020
Ficha catalográca
DOI: https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0
SUMÁRIO
Apresentação | 5
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
Prefácio | 9
Breve história e potencial futuro do conceito
de biblioteca híbrida
Charles Oppenheim
PARTE I
Capítulo 1 | 17
Bibliotecas híbridas: possibilidades de
estudos ao desenvolvimento
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
PARTE II
Capítulo 2 | 73
Bibliotecas híbridas: um olhar a partir das
bibliotecas alternativas
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
Sueli Bortolin
João Arlindo dos Santos Neto
Capítulo 3 | 93
Biblioteca escolar nos trilhos do século XXI
Cláudio Marcondes de Castro Filho
Capítulo 4 | 115
Biblioteca especializada, gibiteca e arquivo:
sentidos de poder e interdição
Soraya Maria Romano Pacíco
Capítulo 5 | 137
Biblioteca pública e sociedade: espaços de
interação social e empoderamento
Maria Cleide Rodrigues Bernardino
Capítulo 6 | 165
Participação de bibliotecas universitárias no
desenvolvimento de ciência,
tecnologia e inovação
Elaine da Silva
APRESENTAÇÃO
Rosângela Formentini Caldas
Rafaela Carolina da Silva
No ano de 2015 iniciamos reuniões de trabalho com
vistas à elaboração de pesquisas que pudessem apontar a
biblioteca como uma instituição ampla e capaz de abranger
propostas, ações e políticas conjuntas às suas comunidades,
em prol do auxílio no desenvolvimento sociocultural e
promoção
da qualidade de vida dos cidadãos. Idealizamos,
dessa maneira, a realização de um mapeamento de conceitos
que melhor se adequassem aos objetivos ora questionados.
No levantamento realizado, o que nos impressionou
foi a versatilidade demonstrada no contexto da hibridez
para bibliotecas, entretanto, também cou claro que as
pesquisas, nesse campo, haviam se estabelecido na década
de 1990, no contexto do Reino Unido e no âmbito brasileiro,
pois, encontramos algumas publicações isoladas em suas
especicidades regionais, com um espaçamento de cinco anos
desde a última publicação. Assim, continuamos a indagar
sobre a ausência de uma linha cronológica de publicações
para uma área tão expressiva e atual no tangente às
bibliotecas e às suas comunidades.
Como resultado, resolvemos iniciar um diálogo
entre aqueles pesquisadores partícipes do levantamento
anteriormente realizado. Observamos que o professor
da Universidade de Robert Gordon, na Escócia, Charles
Oppenheim, havia sido um dos pioneiros a trabalhar o conceito
de bibliotecas híbridas no Reino Unido e pensamos em lhe
escrever uma mensagem, a m de entender a reciprocidade
h
ttps://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p5-8
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
6
entre as partes, para futura aproximação de instituições
e pesquisas. Para nossa satisfação, o professor Charles
Oppenheim não apenas respondeu nossas indagações, como
também se entusiasmou ao ver que pesquisadores de outros
países estavam interessados em retomar as pesquisas no
campo das bibliotecas híbridas.
A partir do ano de 2016 ocorreu a retomada dos
diálogos com pesquisadores que haviam publicado acerca
das bibliotecas híbridas, para o convite de revisitarem este
objeto de estudo e de formarem uma rede de colaboradores
no pensamento da hibridez. Na continuidade das conversas,
destacou-se que o conceito inicialmente proposto para
bibliotecas híbridas enfocava a convergência de tecnologias
como forma de ação das bibliotecas perante as novas
demandas que surgiram no nal do século XX.
Com o decorrer do tempo, percebemos que os
processos traçados no ambiente da biblioteca incorporaram
a tecnologia como uma rotina dessas localidades, não
sendo mais, em alguns momentos, o seu foco principal de
atuação. Dito isso, as tecnologias passaram a ser vistas como
ferramentas estratégicas no desenvolvimento de produtos e
serviços para sua demanda institucional.
No crescimento dos diálogos rmados percebemos
a necessidade de permanência, como pesquisadoras, em
ambientes denominados híbridos, para a vivência numa
conjectura bem mais integrada na complexidade que se faz
presente na atualidade. Portanto, no Brasil foram exploradas
bibliotecas ditas híbridas nos Estados de São Paulo, Distrito
Federal e Bahia e, no Reino Unido, em localidades nas cidades
de Dundee, Aberdeen, Liverpool e Edimburgo.
A tecnologia nos pareceu fazer parte de um contexto
Bibliotecas e Hibridez
7
de ambiente que não apenas é determinado pelas estruturas
organizacionais, mas também pelo diálogo rmado com
as localidades externas à própria instituição. A reexão
sobre o termo biblioteca híbrida avançou e percebemos um
amadurecimento das ideias sobre a representatividade de tal
instituição nas regiões às quais ela se apresentava.
Entendemos que sua inuência perpassa o contexto
sociocultural, pois, visualizamos a sua plena possibilidade de
afetar os ambientes políticos e econômicos, o que claramente
transcreve o fator de representatividade da biblioteca
híbrida para o desenvolvimento local. Nessa perspectiva,
hoje, procuramos dialogar não apenas sobre conceitos e
as possibilidades de atuação das bibliotecas híbridas, mas
também em quais populações ela poderia atuar.
Isso posto, para entender como as bibliotecas impactam,
por meio de suas ações, os ambientes socioculturais aos quais
estão inseridas, zemos um levantamento de pesquisadores
que pudessem contribuir nos diferentes nichos de estudos
acerca da temática bibliotecas. Para tanto, no desenvolvimento
deste livro contatamos pesquisadores especialistas atuantes
em estudos sobre bibliotecas comunitárias, bibliotecas
escolares, bibliotecas especializadas, bibliotecas universitárias
e bibliotecas públicas, para além daqueles que trabalham
com o conceito da hibridez em bibliotecas.
Sendo assim, este livro é o resultado de um incessante
diálogo que se faz presente para destacar a biblioteca híbrida
enquanto cerne de innitas possibilidades de atuação e, desse
modo, pode estar presente nas mais variadas tipologias de
bibliotecas. Acreditamos que, ao atuarmos em segmentos
distintos de bibliotecas, com públicos e prossionais especícos,
poderemos alcançar a propagação rápida de um conceito
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
8
híbrido amplo, que agregue sua função sócio, político,
econômico e cultural, melhorando o cotidiano informacional
das populações.
BREVE HISTÓRIA E POTENCIAL FUTURO DO
CONCEITO DE BIBLIOTECA HÍBRIDA
1
O termo “híbrido” é frequentemente utilizado em
descrições de atividades e serviços que combinem dois ou mais
recursos reconhecidos. Por exemplo, o termo gestor híbrido”
estava em voga nos anos 1970 e 1980 para referenciar
os gestores de companhias de tecnologia da informação
(TI), que combinavam a TI com conhecimentos pessoais e
humanos. Garrod e Sidgreaves armaram, em 1997, que
havia a necessidade de os prossionais bibliotecários se
tornarem híbridos, uma vez que deveriam combinar técnicas
bibliotecárias às habilidades técnicas da computação.
Entretanto, contrariamente à alegação da Wikipédia (2019)
2
,
de que o termo foi cunhado pela primeira vez por Rusbridge,
em 1998, o primeiro uso da expressão biblioteca híbrida
ocorreu em 1996, por Sutton quase um quarto de século
atrás. Sutton considerou modelos de serviços, identicando
quatro tipos de bibliotecas, em uma sequência que vai do
tradicional ao digital: tradicionais, automatizadas, híbridas
e digitais. Sutton também destacou que houve, ou iria
haver, uma mudança inevitável ao longo dessa sequência,
1 Tradução de Rafaela Carolina da Silva e de Rosângela Formentini
Caldas.
2 O artigo da Wikipédia – ver referência – fornece uma visão geral
do entendimento atual do termo..
PREFÁCIO
Charles Oppenheim
https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p9-14
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
10
no decurso do tempo. A biblioteca tradicional é denida
por estar localizada em um local especíco, com coleções
nitas, informações tangíveis e geogracamente restritas. Na
biblioteca automatizada, ferramentas digitais apontam para
as mídias não digitais, enquanto o foco permanece na coleção
local. Na biblioteca híbrida, o equilíbrio entre a informação
impressa e a digital inclina-se cada vez mais para o digital.
Segundo a proposta de Sutton (1998), na biblioteca híbrida,
coleções tradicionais e digitais coexistem com a possibilidade
de acesso a fontes digitais em qualquer lugar do mundo para
o qual a biblioteca fornece acesso. Além disso, Sutton sugeriu
que os funcionários dessas bibliotecas deveriam auxiliar
seus usuários, mediando-os no uso de ferramentas digitais
em outras palavras, fornecendo orientações em forma de
treinamento, guias de usuários e demais tipos de assistência
no uso de tecnologias de pesquisa.
A Circular 3.97
3
do Comitê Conjunto de Sistemas de
Informação do Reino Unido (UK’s Joint Information Systems
Committee (JISC)), documento que regula a execução dos
projetos de bibliotecas híbridas eletrônicas, declarou, em 1997,
que existiam, na época, poucos (ou nenhum) exemplos de
práticas em bibliotecas híbridas. Na circunstância, Law (1997)
alegou que a circular foi a responsável pela disseminação
do conceito de bibliotecas híbridas para o mundo. E, como
alguém envolvido nas pesquisas sobre bibliotecas híbridas
da época, concordo com Law. Portanto, embora Rusbridge
não tenha sido o primeiro a pensar o conceito ou a usar o
termo, merece o crédito por popularizá-lo para bibliotecas e
prossionais da informação, devendo ser considerado o pai
do tema e de sua implementação prática.
3 Infelizmente, essa Circular algum tempo não está mais
disponível online.
Bibliotecas e Hibridez
11
As pesquisas que z na literatura da área da Ciência da
Informação mostram que o termo “híbrido” pode ter variados
signicados no contexto das bibliotecas, até mesmo diferentes
do descrito acima. O termo tem sido utilizado, por exemplo,
para descrever as práticas dos prossionais de bibliotecas
bibliotecários híbridos - (designando aqueles que possuem
conjuntos de habilidades adaptáveis a contextos diversicados),
bibliotecas que combinam objetivos acadêmicos e corporativos,
ou propostas de bibliotecas-museus, modos de referenciar a
informação (online e presencial), bibliotecas que combinam
espaços públicos e privados (a título de exemplicação, a
biblioteca-teatro) e acesso aberto à informação (cobrado
ou não). O que está claro é que o uso do termo híbrido”
para retomar a combinação de recursos analógicos e digitais
entrou em declínio.
Sem dúvida, a principal inuência no desenvolvimento
da ideia de bibliotecas híbridas ao redor do mundo
ocorreu com o JISC, órgão ocial criado para assessorar
instituições educacionais do Reino Unido em aspectos de TI e
nanciamento de programas de pesquisa. Dentre sua atuação,
está a criação do Programa de Bibliotecas Eletrônicas (eLib),
além da produção de uma série de projetos para acelerar
a evolução do desenvolvimento das bibliotecas digitais
4
. No
outono de 1997, o JISC, em conjunto com o seu programa
de nanciamento de bibliotecas eletrônicas, começou a
trabalhar com projetos de bibliotecas híbridas. O objetivo era
combinar serviços eletrônicos com as funções tradicionais das
bibliotecas. Ao mesmo tempo, Rusbridge (1998), diretor do
4 O JISLC se mantém ativo atualmente e provém inestimáveis serviços
para o ensino do Reino Unido, desde a educação básica, até ensino superior.
Uma visão geral dos serviços prestados pode ser observada no endereço
www.jisc.ac.uk. O órgão foi fundado em 1996, com um nome diferente
do atual. Em https://www.jisc.ac.uk/about/history é possível encontrar um
vídeo sobre a sua história, incluindo uma menção ao programa eLib.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
12
Programa eLib, expressou a necessidade de produção do que
ele chama de “propostas ousadas” para a aplicação efetiva do
conceito de bibliotecas híbridas. Dentre tais propostas, foram
bem-sucedidas as denominadas Agora, BUILDER, HEADLINE,
HYLIFE e MALIBU. Contudo, embora Rusbridge tenha descrito
tal sucesso em suas publicações da época, nenhuma avaliação
a longo prazo dessas propostas parece ter sido realizada.
O levantamento bibliográco que realizei
5
acerca
do uso do termo biblioteca híbrida na área da Ciência da
Informação revelou que grande parte das publicações
acadêmicas recuperadas se encontram entre os anos de
1998 e 2001 (mais da metade do total), tratando, em sua
maior parte, do projeto eLib. Desde então, houve um declínio
constante sobre o assunto, que cerca de 18% dos artigos
foram publicados nos últimos dez anos, e apenas dois nos
últimos dois anos. Quando o termo biblioteca híbrida foi
usado pela primeira vez, o mesmo se tornou moda, parecia
fascinante e era frequentemente usado nos títulos dos artigos.
Atualmente, praticamente todas as bibliotecas do mundo, de
alguma maneira, oferecem funcionalidades híbridas; logo, o
termo perdeu a sua exclusividade. Nesse sentido, é possível
armar que, como observado em outra pesquisa realizada
por mim, frequentemente os livros disponíveis nas bibliotecas,
ou em outros equipamentos informacionais, não possuem em
seus títulos a expressão biblioteca híbrida”, embora o livro
de Schopin (2014), faça menção ao papel dos bibliotecários
híbridos.
Assim, se faz necessário que o termo híbrido, quando no
5 A pesquisa foi realizada utilizando-se o termo hybrid library
nas seguintes bases de dados: Library Literature and Information Science
Abstracts e Library Information Science and Technology Abstracts. No
total, foram recuperados cerca de 100 documentos. No entanto, houve
considerável sobreposição de arquivos entre as duas bases de dados.
Bibliotecas e Hibridez
13
ambiente das bibliotecas, seja revisto, de modo que abranja
um contexto maior de atuação. Como mencionado acima,
hodiernamente, é esperado que as bibliotecas trabalhem
com a convergência de tecnologias analógicas e digitais.
Mas é preciso lembrar que algumas publicações, no passado,
se referiram ao conceito híbrido de outra maneira: como a
interação da instituição biblioteca com outras organizações
culturais, como teatros e museus. Essa ideia pode se estender
ainda mais; por que não considerar todas as atividades em
que as bibliotecas promovem interações com a sociedade
como exemplos de hibridez? É essa a premissa que este livro
procura promover. Logo, na sua primeira parte, são discutidos
o conceito, a trajetória, as funções e a atual conjuntura das
bibliotecas híbridas.
Na sua segunda parte, o livro traz capítulos que
descrevem estudos de pesquisadores e especialistas sobre
tipologias de bibliotecas e hibridez, evidenciando as atividades
realizadas por essas instituições, em colaboração com a
sociedade. Embora o foco deste livro seja o Brasil, o princípio
é capaz de ser estendido para as demais localidades do
mundo. As bibliotecas podem, e devem, estar mais próximas
da sociedade, o que é graticante para os prossionais
envolvidos nesse processo, bem como para os cidadãos
que se utilizam desses espaços. Existem diversos exemplos,
ao redor do mundo, de iniciativas como as descritas neste
livro, que apenas necessitam de um novo codinome - o que
é melhor para ser usado do que o termo híbrido”? Será,
então, hora de editar o artigo da Wikipédia aqui mencionado,
a m de atualizar a denição dada pelos autores à expressão
biblioteca híbrida”!
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
14
REFERÊNCIAS
GARROD, P.; SIDGREAVES, I. Skills for new information
professionals: the SKIP project (Joint Information Systems
Committee/Library Information Technology Centre. Londres:
Library Information Technology Centre, 1997.
HYBRID LIBRARY. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. 2019.
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Hybrid_library.
Acesso em: 03 out. 2019.
LAW, D. Parlour games: the real nature of the internet.
Serials, [s. l.], v. 10, n. 2, p. 195-201, 1997.
RUSBRIDGE, C. Towards the hybrid library. D-Lib
Magazine, [s. l.], v. 7, n. 2, jul./ago. 1998. Disponível em:
http://www.dlib.org/dlib/july98/rusbridge/07rusbridge.html.
Acesso em: 16 out. 2018.
SCHOPFLIN, K. A handbook for corporate information
professionals. Londres: Facet Publishing, 2014.
SUTTON, S. Future service models and the convergence
of functions: the reference librarian as technician, author
and consultant. In: LOW, K. (ed.). The roles of reference
librarians, today and tomorrow. Nova Iorque: Haworth
Press, 1996. p. 125-143.
PARTE I
BIBLIOTECAS HÍBRIDAS: POSSIBILIDADES DE
ESTUDOS AO DESENVOLVIMENTO
1 INTRODUÇÃO
As mudanças pelas quais a sociedade tem percorrido,
impactam o surgimento de novos costumes, histórias, leis,
hábitos e comportamentos cotidianos. Aprendemos a lidar
com constantes mudanças e podemos armar que, desde
a inserção da internet em nossas vidas, a tecnologia tem se
aprimorado, e a cada dia nos vemos imergidos em um mundo
com variadas possibilidades de atuação. A informação passou
a ser a base para a escolha de nossas ações, e o mundo
parece ter se tornado mais efêmero.
Nesse contexto, as instituições adotaram uma adaptação
cotidiana para lidar com as mudanças, observando variados
fatores como a relação com os funcionários, a vericação de
sua estrutura organizacional e física, e as formas de se fazer
presente em todas as instâncias comunicativas, aproximando
pessoas e informação, por meio das tecnologias.
As bibliotecas, enquanto instâncias institucionais,
também passaram por mudanças e sua interação estrutural
para com os seus usuários se alterou. Logo, entende-se que
as maneiras pelas quais uma biblioteca cria, organiza e
dissemina a informação se transformam de acordo com as
Rafaela Carolina da Silva
Rosângela Formentini Caldas
CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1
https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p17-69
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
18
mudanças culturais das comunidades que a frequenta.
As Tecnologias de Informação e Comunicação vêm
agregar valor às tecnologias analógicas de tratamento da
informação, dando início às discussões acerca do conceito de
bibliotecas híbridas. Tal conceito trabalha com a convergência
de tecnologias analógicas e digitais para melhor lidar com
as mudanças em sociedade e com as novas perspectivas que
essas mudanças trazem às bibliotecas.
Segundo Oppenheim e Smithson (1999), um jeito
simples de denir uma biblioteca híbrida é designando-a como
um espaço de integração entre as bibliotecas tradicionais
e as digitais. Dessa maneira, compreende-se que uma das
características das bibliotecas híbridas é a convergência
de tecnologias analógicas e digitais no ambiente de um
equipamento cultural.
De acordo com Pinto e Uribe Tirado (2012), a
biblioteca híbrida se constitui não somente por agregar
tecnologias analógicas e digitais de tratamento e divulgação
da informação, mas também por desenvolver atividades que
vão ao encontro de pers individuais dos múltiplos usuários
da instituição. Sendo assim, entende-se que o conceito de
bibliotecas híbridas vai além da justaposição de tecnologias,
trazendo uma visão de treinamento de usuários e funcionários,
que leva em conta seus diferentes contextos de vivência e
atuação, em prol de contribuir para a formação de indivíduos
informados e que sabem como utilizar as novas tecnologias
que surgem no dia a dia da sociedade.
Nesse cenário, uma vez que estão em contato com
treinamentos advindos da sua relação com a biblioteca, os
usuários de uma biblioteca híbrida (incluindo os funcionários,
que também se utilizam dos serviços da biblioteca) são
Bibliotecas e Hibridez
19
capazes de transformar informação em conhecimento de
uma maneira crítica e reexiva. Essa capacidade de reexão,
antes de aceitar uma informação como verdadeira e de
disseminá-la, proporciona a interação desses indivíduos em
sociedade, de modo que o mesmo contribua para a formação
de conhecimento em esfera pública e privada.
Considerando o exposto, este capítulo pretende
contribuir com aqueles que se dedicam ou pretendem se
debruçar sobre o conceito de bibliotecas híbridas, uma vez
que o material para esta área parece ser de acesso limitado
e divergente, por meio da apresentação de pesquisas
desenvolvidas no contexto nacional e internacional e da
sistematização dessa produção, ainda pouco divulgada e
que, certamente, traz não apenas signicativas contribuições
para o contexto da Ciência da Informação, mas também para
a sociedade.
Sendo assim, o objetivo deste estudo girou em torno
de entender os elementos-chave que constituem o conceito de
bibliotecas híbridas. Portanto, entende-se que as bibliotecas
híbridas podem ser conceituadas como equipamentos
culturais que partem de uma convergência entre aspectos
das bibliotecas tradicionais e das digitais, trabalhando não
somente com políticas institucionais, mas, com a interligação
dessas políticas para com as políticas que regem a cultura do
seu público-alvo.
Para tanto, a pesquisa caracterizou-se por ser de
natureza qualitativa, do tipo descritiva e exploratória que,
por meio de um levantamento bibliográco realizado na
Library and Information Science Abstracts (LISA) e na Base
de Dados de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI),
umas das mais famosas, atualizadas e conáveis bases de
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
20
dados especializadas na área da Biblioteconomia e Ciência
da Informação, buscou levantar os conceitos de diferentes
pesquisadores no âmbito das bibliotecas híbridas. A análise
dos artigos proporcionou delimitar as características que,
trabalhadas em conjunto, podem vir a criar um conceito mais
completo acerca dessas instituições.
Desse modo, ao trabalhar com as políticas inerentes
a cada cultura, percebe-se que o conceito de bibliotecas
híbridas traz uma proposta de interculturalidade dentro dos
equipamentos culturais. Assim, infere-se que a biblioteca
híbrida possui princípios institucionais exíveis que se
moldam de acordo com o enfoque dado por cada localidade
trabalhada.
Levando em consideração esses aspectos, percebe-
se que as bibliotecas híbridas partem da ideia de
interoperabilidade, ou seja, da capacidade de comunicação
entre os produtos e os serviços oferecidos pela biblioteca
e seus usuários, seja por meio de tecnologias analógicas
ou digitais. Pressupõe-se, então, 1) a interoperabilidade
técnica de padrões de transferência de informação por
diferentes canais de comunicação; 2) a interoperabilidade
semântica de desenvolvimento de dispositivos que estipulem
correspondências entre termos e sejam relevantes para
diferentes campos disciplinares; 3) a interoperabilidade
política/humana, ou a escolha consciente das instituições
para fazer disponibilizar seus recursos de informação; 4)
a interoperabilidade multidisciplinar, realizada por meio
de iniciativas de equipamentos culturais para identicar
problemas e objetivos comuns na realização de processos
comuns e; 5) a interoperabilidade internacional, considerando
problemas relacionados com o intercâmbio internacional de
Bibliotecas e Hibridez
21
dados, tendo em conta as barreiras linguística e diversidade
cultural.
De modo geral, três elementos devem ser levados em
conta quando se tratando do conceito de bibliotecas híbridas
ambiente interno, estrutura física e tecnologia -, que serão
discutidos nas seções que se seguem.
2 CONCEITO DE BIBLIOTECAS HÍBRIDAS
A literatura levantada recuperou 33 artigos nos períodos
de 1998 a 2012. Abaixo serão descritas as visões de cada
autor no que se refere ao que eles entendem por caracterizar
a hibridez em bibliotecas.
De acordo com Pinel et al. (1998), a biblioteca
híbrida trabalha com o desenvolvimento de mídias para o
nanciamento de softwares em bibliotecas. Dessa maneira,
para os autores, tal biblioteca volta seus serviços para o
desenvolvimento tecnológico e o consequente impacto
nanceiro desse desenvolvimento em sociedade, uma vez
que descrevem os projetos de bibliotecas híbridas nanciados
pelo Programa de Biblioteca Eletrônicas do Reino Unido,
investigando as maneiras pelas quais a biblioteca híbrida pode
ser implementada e os benefícios que essas trazem ao dia a
dia de seus usuários por meio das mudanças que as novas
tecnologias trazem à gestão da instituição.
Ao incluir os custos e os benefícios da implementação
de uma biblioteca híbrida em sociedade, os autores discutem
as questões gerenciais que emergem desses projetos. Nessa
perspectiva, as bibliotecas seriam constituídas híbridas quando
tratassem da convergência de mídias eletrônicas e analógicas
de informação em um mesmo ambiente.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
22
Hampson (1998) dene a biblioteca híbrida como
um tipo de biblioteca que se situa em um continuum entre as
bibliotecas tradicionais e as bibliotecas virtuais. Nesse sentido,
tal conceito ainda estaria sendo construído ao longo do tempo,
levando em conta que o virtual muda a todo instante.
Na visão de Hampson (1998), a biblioteca híbrida
estaria voltada tanto para o desenvolvimento tecnológico
quanto para o prossional, pois, ao implementarem novos
meios de trabalho em uma instituição, torna-se necessária a
capacitação de funcionários no uso dessas novas tecnologias.
Dessa maneira, compreende-se que a biblioteca híbrida
abrange os prossionais da informação e de bibliotecas,
o conceito de bibliotecas virtuais, a convergência entre o
analógico e o digital, o conceito de documento nas nuvens e
o conceito de mídias eletrônicas, a m de destacar o impacto
das bibliotecas nas funções de funcionários dessas localidades.
Segundo Pineld e McKenna (1998), a biblioteca híbrida
é uma instituição que tenta implementar tecnologias digitais aos
serviços diários de uma biblioteca. Logo, os autores trabalham
com os conceitos de desenvolvimento tecnológico, bibliotecas
eletrônicas, convergência de tecnologias e bibliotecas digitais.
Desse modo, o artigo trabalha o The Builder Project”,
ou “Projeto Construtor”, a base da criação do gerenciamento
das bibliotecas híbridas, iniciado por Pineld, em 1998, na
Universidade de Birmingham, Reino Unido. O conceito de
bibliotecas híbridas, no decorrer do projeto, foi de que a
hibridez se encontrava onde a biblioteca tradicional poderia
ser executada paralelamente à eletrônica e onde os serviços e
os recursos de cada uma se integravam.
O “The Builder Project” entende que a biblioteca híbrida
faz parte de uma cultura organizacional, em que participam
Bibliotecas e Hibridez
23
pessoas internas à instituição (funcionários) e externas (usuários
e entidades colaborativas), levando em conta que
A mudança cultural é importante para a
maioria dos grupos, se não todos, associados
à bibliotecas híbridas. Em primeiro
lugar, os prossionais da informação
precisam desenvolver novas habilidades
e novos conjuntos mentais no ambiente
híbrido. uma necessidade particular
de uma nova geração de prossionais de
informações híbridas que possam operar
entre a biblioteca tradicional e o serviço de
computação. (PINFIELD; MCKENNA, 1998,
p. 307, tradução nossa).
Pineld (1998) discute os desaos envolvidos na criação
e no gerenciamento das bibliotecas híbridas, considerando
até que ponto a biblioteca tradicional pode funcionar
paralelamente à biblioteca eletrônica. Assim, a melhor
alternativa estaria na integração desses dois mundos, sendo
a hibridez uma ponte entre esses dois modos de gestão, a m
de permitir que os usuários se movam entre os recursos de
informação impressos (analógicos) e eletrônicos tanto local,
como remotamente.
Oppenheim e Smithson (1999) destacam que o termo
biblioteca híbrida surgiu, no jargão dos prossionais da
informação, por volta de 1996, por Sutton, em seu capítulo
publicado no livro The roles of reference librarians, today
and tomorrow”, no Reino Unido, como um caminho que a
biblioteca tradicional percorre até se tornar totalmente digital.
Portanto, para os autores, as bibliotecas híbridas trabalham
com o desenvolvimento tecnológico por meio do entendimento
de como as tecnologias podem ser implementadas no dia a
dia das bibliotecas, do conceito de bibliotecas eletrônicas,
da convergência de tecnologias e do conceito de bibliotecas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
24
digitais.
De acordo com Oppenheim e Smithson (1999), o
desenvolvimento do conceito de biblioteca híbrida depende
mais das mudanças culturais do que do desenvolvimento
tecnológico, uma vez que se torna necessário que as
pessoas entendam a necessidade das tecnologias para sua
implementação. Para eles, a biblioteca híbrida é um modelo
útil de como todas as bibliotecas um dia irão se transformar
para outros tipos de bibliotecas e serviços de informação.
Leggate (1999) dene o conceito de biblioteca híbrida
como uma instituição que oferece ao usuário acesso a
recursos variados em formato de papel ou eletrônico, sob
uma perspectiva do desenvolvimento tecnológico. Sendo
assim, destaca que os elementos de bibliotecas que precisam
estar também em meio eletrônico são: catálogos, controles e
circulação de material, bases de dados, periódicos, além dos
serviços prestados pelos prossionais da informação, como
o serviço de referência, por exemplo dessa maneira, vê-
se a necessidade de desenvolvimento de softwares especícos
para essas bibliotecas.
Dent (2000) disserta que as bibliotecas híbridas
permeiam o uso de tecnologias em bibliotecas, o
desenvolvimento tecnológico, o desenvolvimento social dos
usuários, o conceito de bibliotecas eletrônicas e o conceito de
bibliotecas digitais. Para tanto, descreve o MALIBU, um dos
projetos pioneiros de bibliotecas híbridas, desenvolvido em
parceria com a Universidade de Oxford, a Universidade de
Southampton e o King’s College, em Londres.
O MALIBU investigou e testou como os recursos
eletrônicos, que podem ser extraídos de recursos locais,
nacionais ou internacionais, poderiam ser integrados com
Bibliotecas e Hibridez
25
impressão e outros tipos de recursos dentro dos serviços
prestados por bibliotecas tradicionais. O desenvolvimento
contínuo de tais serviços exige mudanças na organização e
na gestão dos serviços e sistemas de informação.
Segundo Guy (2000), as bibliotecas híbridas não
somente trabalham o desenvolvimento tecnológico, mas
também o desenvolvimento social, na medida em que
permeiam o uso de tecnologias em prol das necessidades
informacionais de seus usuários. Para defender seu ponto de
vista, o autor dene que as principais funções das bibliotecas
giram em torno da aquisição, retenção, preservação e
fornecimento de acesso a materiais que, no contexto híbrido,
estariam presentes em formatos impressos e eletrônicos.
Para Guy (2000, p. 46, tradução nossa), é importante
considerar em uma biblioteca híbrida “a infraestrutura, as
formas de aquisição de material, as formas de acesso à
informação, as formas de retenção do material e as formas
de preservação da informação em âmbitos interno e externo”.
Nesse sentido, para se construir uma biblioteca híbrida e
promover o desejo de cooperação entre bibliotecas, além
do acesso transparente à informação em fontes remotas,
é necessária uma seriação de construções de prédios de
bibliotecas que comportem essa informação em suporte
impresso ou digital, que isso inclui a infraestrutura técnica
redes de relacionamento e servidores capazes de armazenar
tais informações em conjunto com um software de acesso
controlado (GUY, 2000).
Dito isso, vê-se a necessidade de colaboração entre
instituições, contando que a obtenção de recursos e a
capacitação de prossionais pode ser facilitada quando
trabalhadas em parceria. Desse modo, assuntos como
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
26
bibliotecas tradicionais, mídias eletrônicas e bibliotecas
digitais são levantados.
Para Mark (2000), o conceito de bibliotecas híbridas está
intimamente relacionado com o empréstimo entre bibliotecas
e com o intercâmbio de dados entre elas, com vistas a um
desenvolvimento tecnológico, em prol do desenvolvimento
social de seus usuários (funcionários e comunidade externa).
O autor discute as tecnologias de informação e as novas
formas de tratamento da informação, tipos de materiais e
formas de publicação trazidas por elas, o que proporcionou
aos usuários realizarem novas demandas informacionais à
biblioteca, mudando o uso tradicional dessas localidades.
No entanto, na maior parte das bibliotecas não
houve diminuição do uso do tradicional, logo, elas tiveram
que lidar com uma situação de hibridez, em que os serviços
tradicionais se combinam com as funções da biblioteca virtual.
Nessa perspectiva, o autor questiona a monopolização de
documentos por instituições especícas, destacando a sua
fraca sobrevivência no futuro das bibliotecas eletrônicas.
Como dissertam Marcas et al. (2000), o conceito de
bibliotecas híbridas permeia o desenvolvimento tecnológico e
o desenvolvimento de softwares, uma vez que se relaciona com
o implemento de tecnologias da informação em equipamentos
culturais, com o conceito de bibliotecas eletrônicas e com
o conceito de bibliotecas digitais. Segundo os autores, as
bibliotecas híbridas integram diferentes recursos da biblioteca,
como os catálogos públicos online, os bancos de dados online
e os periódicos eletrônicos, em um sistema de intercâmbio de
dados entre instituições.
Para os autores, ao invés de terminais e estações de
trabalho separados, o acesso à biblioteca deve ser facilitado
Bibliotecas e Hibridez
27
por meio de uma interface de internet, possível de vincular os
catálogos de diferentes bibliotecas. Nesse sentido, entende-se
a necessidade de construção de softwares especícos para se
trabalhar com a interoperabilidade de dados entre instituições.
De acordo com Murray (2000), as bibliotecas híbridas
são, em primeira instância, instituições que voltam suas
atividades para o desenvolvimento prossional de seus
funcionários, já que, com o advento das TIC, surgiram novas
formas de gestão de bibliotecas e, consequentemente, o
bibliotecário necessitou aprender maneiras de tratamento e
divulgação da informação diferenciados do seu trabalho em
bibliotecas tradicionais. O autor defende que, praticamente
toda a ação do prossional da informação no século XXI vai
ao encontro das práticas das bibliotecas híbridas, ou seja,
bibliotecas convencionais modicadas pela inclusão das
bibliotecas virtuais que exigem o treinamento apropriado
para que os bibliotecários possam agir como intermediários
entre os usuários e as fontes de informação, assim como a
necessidade de adotar proativamente novas tecnologias,
enquanto usando conhecimentos e habilidades tradicionais.
Mlekus (2000) defende que o foco das bibliotecas
híbridas é o desenvolvimento de coleções, contando que as
novas demandas por recursos diferenciados dos usuários
exigem a avaliação das coleções existentes nas bibliotecas
em um contexto de convergência de tecnologias. Para ele,
em uma biblioteca híbrida, as coleções são compostas
por recursos de informação impressos e eletrônicos, sendo
necessária uma avaliação dos meios como esses recursos
serão disponibilizados ao público, a m de se alcançar uma
qualidade no desenvolvimento de coleções e no desempenho
dessas instituições.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
28
Gambles (2000) conclui que o conceito de bibliotecas
híbridas se refere ao desenvolvimento tecnológico, na medida
em que trata de assuntos como serviços de referência online,
uso da internet para o oferecimento de produtos e serviços,
além do intercâmbio de dados entre instituições, assim como
o uso de websites para concretizar a utilização de bibliotecas
digitais por meio de portais com interface amigável para a
pesquisa e acesso à informação. Nesse cenário, infere-se o
desenvolvimento de softwares como meio de customização
dessas interfaces de internet.
Sob a mesma perspectiva de Murray (2000),
Gambles (2000) entende o desenvolvimento prossional
e o desenvolvimento social dentro das bibliotecas híbridas,
destacando modelos virtuais de bibliotecas descritos sob o
ponto de vista dos usuários. No que se refere aos prossionais
da informação, compreende-se a necessidade de seu
treinamento para atingirem os objetivos dessas bibliotecas.
Price (2000), voltando sua visão para os
desenvolvimentos tecnológico, prossional e econômico,
examina os novos conhecimentos, habilidades e estratégias
de gestão necessários para o desenvolvimento de coleções
em bibliotecas híbridas. O autor compreende que a aquisição
de materiais digitais traz custos às bibliotecas, que devem
ser levados em conta em relação aos tipos de fornecedores,
hardware e software, destacando que o conceito de hibridez
está presente nas maneiras de gerir essas novas formas de
trabalho.
Price (2000) destaca que as bibliotecas híbridas trazem
uma complexidade de funcionamento, em que as mudanças,
muitas vezes, são difíceis e caras, sendo preciso levar em
conta a integração de recursos eletrônicos em um tráfego
Bibliotecas e Hibridez
29
de informações entre bancos de dados. Os usuários, nesse
contexto, exigem cada vez mais interfaces de bibliotecas que
forneçam ambientes integrados disponíveis remotamente,
enquanto tais instituições precisam continuar oferecendo
serviços de forma remota e, para tanto, a padronização do uso
de softwares, os mecanismos de autenticação da informação
e os tipos de contatos de licença, que podem abreviar o ônus
dessas bibliotecas.
Garrod (2001) sugere que o conceito de bibliotecas
híbridas permeia o treinamento de usuários e de funcionários,
fornecendo uma visão geral de habilidades relacionadas aos
problemas de uso de tecnologias e acesso à informação. Dessa
maneira, na interface das bibliotecas híbridas, é importante
considerar as auditorias de habilidades e a necessidade de
analisar os papéis dos prossionais, primando pelo usuário
nal.
Trata-se, portanto, de uma mudança no comportamento
de funcionários e de usuários para uma perspectiva de
convergência de afazeres em prol dos serviços e produtos
a serem oferecidos pela biblioteca. Logo, para o autor, a
biblioteca híbrida leva em conta a cultura organizacional
e a gestão de informações compartilhadas entre diferentes
instituições.
Pineld e Dempsey (2001) partem da ideia de que
o conceito de bibliotecas híbridas se relaciona com o
desenvolvimento tecnológico, uma vez que entende que
as suas palavras-chave são internet, websites, bibliotecas
digitais, redes e portais de compartilhamento de dados. Dessa
maneira, discute a relação entre as bibliotecas híbridas e a
construção de redes de bibliotecas para o compartilhamento
de informações, levando em conta os canais de comunicação
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
30
utilizados por essas instituições.
Desse modo, o conceito de hibridez estaria presente
nas formas pelas quais as informações são compartilhadas,
sejam elas em meios analógicos ou digitais. O ideal seria o
complemento de tecnologias impressas e eletrônicas, para que
a comunicação ocorresse presencialmente ou remotamente,
contudo, buscando o menor nível de ruído possível.
Breaks (2001) infere, contribuindo para a
complementação dos pensamentos de Pineld (1998) na
construção do The Builder Project”, que as bibliotecas híbridas
são instituições que trazem novas formas de trabalho e uso da
informação em seus ambientes, ou seja, além das bibliotecas
tradicionais, trabalham com as bibliotecas eletrônicas e com
as bibliotecas digitais em um sistema híbrido de tratamento
da informação. Dito isso, o conceito de bibliotecas híbridas
estaria intimamente ligado ao desenvolvimento tecnológico
de recursos de informação, visando o desenvolvimento social
de comunidades.
Para tanto, o autor investiga questões relacionadas com
a integração das bibliotecas digitais às tradicionais, visando
criar novos modelos de serviços aos quais os usuários podem
criar e sustentar espaços de informação pessoais, como a
história local da comunidade em questão, sob a perspectiva
de um fórum de guarda e acesso a documentos históricos que
relatem a história das comunidades de usuários da biblioteca.
Assim, as bibliotecas poderiam gerenciar novas maneiras de
trabalho como parte de seus serviços diários, uma visão muito
decorrente dos países da Europa, mas que, no Brasil ainda, é
dividida em órgãos especícos do governo para cuidar desses
documentos a ideia é a univocidade de acesso à diferentes
tipos de documentos para tornar a biblioteca em um centro
Bibliotecas e Hibridez
31
de informação.
Segundo Dent et al. (2001), as bibliotecas híbridas
trabalham com o desenvolvimento tecnológico, mais
especicamente com o desenvolvimento de softwares, porque
possuem características do armazenamento e da recuperação
de informações computadorizadas, além da engenharia
da informação, para atuarem em bibliotecas eletrônicas
e digitais. Sob esse ponto de vista, essas bibliotecas devem
fornecer várias maneiras de acesso à informação, por meio
de diferentes suportes informacionais, buscando uma hibridez
de tecnologias e de atuação prossional.
Brophy (2002) destaca que o conceito de bibliotecas
híbridas se pauta no desenvolvimento cultural, envolvendo
materiais impressos e eletrônicos, assim como as bibliotecas
tradicionais e as digitais, a m de criar sistemas híbridos e
redes de compartilhamento de dados entre bibliotecas. O
autor relaciona as bibliotecas híbridas com a aglomeração
de recursos de diversas instituições em um mesmo ambiente,
por meio da distribuição de informação proporcionada por
mecanismos de interoperabilidade de dados.
De acordo com Roberts (2002), o modelo de bibliotecas
híbridas é o mais provável para atender aos requisitos de todas
as partes interessadas de uma biblioteca, ou seja, de todas as
pessoas que se relacionam com a instituição, abrangendo os
níveis estratégico, tático e operacional. Sendo assim, torna-se
necessário o debate sobre o acesso versus propriedade, esse
último mais presente no conceito das bibliotecas tradicionais,
e o primeiro no das bibliotecas digitais, buscando uma ponte
entre os dois conceitos, para se chegar à ideia de ambientes
híbridos.
Isto posto, as bibliotecas híbridas trabalhariam com o
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
32
desenvolvimento tecnológico sob a ótica da acessibilidade e
da privacidade. Para tanto, as formas de aquisição e acesso
aos documentos passariam de uma perspectiva totalmente
impressa (no caso das bibliotecas tradicionais), ou totalmente
digital (nas bibliotecas digitais), para um cenário onde esses
dois pontos de vista trabalhariam em conjunto.
Weston (2002) traz a convergência de tecnologias
como principal objeto de estudo das bibliotecas híbridas,
destacando o desenvolvimento tecnológico como forma
de atuação entre catálogos online, bibliotecas digitais,
interoperabilidade e desenvolvimento de produtos e serviços,
visando futuras demandas de usuários, todos esses assuntos
tratados pelo conceito de bibliotecas híbridas. O termo
biblioteca híbrida”, então, se referiria aos serviços integrados
de informação, buscando a interoperabilidade de técnicas,
semântica e recursos humanos, de forma multidisciplinar, em
nível nacional e internacional.
Casserly (2002) vai ao encontro do pensamento de
que as bibliotecas híbridas desenvolvem coleções sobre o
prisma do desenvolvimento tecnológico, por trabalharem com
coleções tradicionais e digitais, tratando o desenvolvimento
prossional como necessário para a reexão de princípios,
valores e práticas institucionais a serem construídos nos
ambientes de equipamentos culturais. Assim como Hampson
(1998), Casserly (2002) entende que o conceito de hibridez
ainda se encontra em construção, transformando-se de
acordo com as mudanças advindas da sociedade.
Sob a concepção de Guy (2003), o conceito de hibridez
busca o desenvolvimento organizacional das bibliotecas, por
meio do desenvolvimento tecnológico, o que vai impactar no
âmbito político das instituições, uma vez que se entende que
Bibliotecas e Hibridez
33
os elementos-chave dessas localidades são os usuários, ou
seja, indivíduos que trazem consigo contextos diferenciados
e, portanto, valores e crenças a serem considerados quando
na prestação de produtos e serviços pelas bibliotecas. Nesse
ângulo, as bibliotecas híbridas trabalham em resposta aos
desaos sociais, e buscam não apenas o desenvolvimento de
soluções a imprevistos diários, mas mudanças organizacionais
para circunstâncias futuras.
Kolloffel e Kaandorp (2003) trabalham o conceito
de bibliotecas híbridas como um modelo de ambiente em
transição, pois, à medida que progridem, alguns serviços,
atividades e custos de bibliotecas diminuem, enquanto outros
aumentam. Dessa maneira, os autores indicam que os
participantes de bibliotecas precisam ter uma visão detalhada
dos custos da biblioteca antes e depois de se tornarem
híbridas, sob a circunstância de cooperação entre instituições.
Desse modo, o conceito de bibliotecas híbridas entende
o desenvolvimento tecnológico como parte do desenvolvimento
nanceiro dessas instituições. Nessa perspectiva, no processo
de adequação entre os procedimentos de uma biblioteca
tradicional e os de uma biblioteca digital, a hibridez se torna
um elemento de transição entre os modos de gestão da
informação.
Hamilton (2004) destaca que o conceito de bibliotecas
híbridas trabalha com o desenvolvimento tecnológico quando
lidando com ambientes digitais (as bibliotecas digitais), em
busca do desenvolvimento social (satisfação dos usuários e
das comunidades com quem a biblioteca trabalha), o que
infere um possível desenvolvimento econômico da instituição
(nos processos de trocas de produtos e serviços entre
instituições pelo intercâmbio de dados). Em meio a esses tipos
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
34
de desenvolvimento, discute-se o tema da sustentabilidade
econômica, que, antes mesmo de se adquirir novas tecnologias,
é preciso que o bibliotecário e os demais prossionais da
informação estejam preparados para trabalharem em rede,
além de cultivarem contatos úteis para futuros patrocínios e
manutenção dos objetivos nais da instituição.
Segundo Covi e Cragin (2004), as bibliotecas estão no
meio de uma mudança em direção às coleções híbridas, em
que o acesso à informação suporta uma natureza distribuída
de aprendizagem, pois, as possibilidades de pesquisa
trazidas por essa hibridez podem informar bibliotecários e
outros provedores de serviços de informação sobre práticas
de trabalho em pesquisa, ensino e extensão. Para se evitar
descontinuidades no desenvolvimento de coleções, uma vez
que elas se formam por informações advindas de diferentes
localidades, assim como por recursos impressos e eletrônicos,
uma estruturação sistemática é necessária para a avaliação
dos efeitos desses novos sistemas de gestão da informação,
tais como recursos eletrônicos agrupados.
Nesse sentido, ao trabalhar com o desenvolvimento de
coleções e com o desenvolvimento tecnológico, as bibliotecas
híbridas trazem novos modos de atuação, isto é, à medida que
as bibliotecas mudam da propriedade da coleção para um
modelo de acesso à informação, os sistemas de gerenciamento
de materiais são cada vez mais importantes para o suporte
dos serviços da biblioteca e das necessidades do usuário. O
aumento da dependência de recursos eletrônicos exige que os
desenvolvedores de sistemas e os tomadores de decisões de
coleções tenham acesso aos dados sobre o que seus clientes
estão fazendo com esses produtos, baseados em acesso,
além de entenderem outras implicações posteriores (COVI;
Bibliotecas e Hibridez
35
CRAGIN, 2004).
Para Pugh (2004), o conceito de bibliotecas híbridas
se relaciona com o desenvolvimento organizacional, pois é
uma forma de gestão de equipamentos culturais que preza
pelos prossionais da informação, antes mesmo de levarem
em conta questões tecnológicas. Nesse ponto de vista, mais
uma vez tem-se a ideia de treinamento de funcionários no uso
de novas tecnologias e sistemas de bibliotecas.
Keyser (2005) trabalha o desenvolvimento tecnológico
nas bibliotecas híbridas sob a visão da conabilidade das
informações na internet, assim como das diculdades de
recuperação da informação em sistemas computacionais não
sistematizados por softwares de bibliotecas. Dessa maneira, o
autor acredita que as bibliotecas digitais não substituirão as
bibliotecas tradicionais, mas que as bibliotecas do futuro se
caracterizarão por ser uma mistura de recursos informativos
impressos e online.
Logo, para Keyser (2005), as bibliotecas híbridas
se constituem como intermediárias entre as bibliotecas
tradicionais e as digitais, se transformando de acordo com
as necessidades informacionais de seus usuários. Portanto,
trabalha-se com os conceitos de bibliotecas digitais, sistemas
de recuperação da informação via internet e bibliotecas
tradicionais.
Em 2005, Pugh amplia seus estudos sobre o conceito de
bibliotecas híbridas e sua relação para com o desenvolvimento
organizacional, trazendo em pauta o papel dos bibliotecários
híbridos enquanto gerentes na implementação da hibridez
em bibliotecas. Assim, entende que as bibliotecas híbridas
trabalham com o conceito de design organizacional, em que
as estruturas organizacionais se complementam às formas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
36
de comunicação, gestão da informação, desenvolvimento de
competências, aprendizagem organizacional, desenvolvimento
de equipes, liderança e mudanças de papéis entre a alta, a
média e a gerência operacional.
Carr (2006) compreende que o conceito de bibliotecas
híbridas trabalha com as bibliotecas digitais e os repositórios
institucionais, sob uma abordagem centrada no usuário.
Tendo em conta a complexidade das bibliotecas no contexto
do estado híbrido”, conclui-se que o entendimento atual
do que os usuários realmente necessitam ainda precisa de
estudos mais sosticados, o que implica em uma abordagem
prossional especializada para o planejamento de serviços de
biblioteca (CARR, 2006).
É essencial distinguir entre as diferentes necessidades
de informação, levando em conta que cada usuário é um
indivíduo único e, portanto, carrega consigo diferentes
vivências e contextos especícos. Para tanto, todos os esforços
devem ser feitos para atender aos desejos expressos dos
usuários, visando uma abordagem aberta e imparcial.
Orera-Orera (2007) defende que o conceito de
bibliotecas deve ser constantemente revisado, que, por se
tratarem de equipamentos culturais, acompanham o processo
evolutivo das mudanças sociais. É nesse enfoque de transição
que a autora disserta sobre o conceito de bibliotecas híbridas,
ou seja, sistemas de bibliotecas baseados na globalização,
no uso das TIC e na cooperação entre diferentes instituições
para uma melhor qualidade dos serviços prestados, isto é,
trabalha-se os desenvolvimentos tecnológico, de softwares e
social.
Segundo Miranda, Leite e Suaiden (2009), as bibliotecas
híbridas desenvolvem infraestruturas baseadas no uso das TIC,
Bibliotecas e Hibridez
37
visando a promoção da acessibilidade documentária em rede
e, portanto, indo ao encontro do desenvolvimento tecnológico.
Nessa perspectiva, para os autores, a hibridez em ambientes
de bibliotecas faz com que o termo biblioteca deixe de
designar, como antigamente mencionava, uma instituição
encarregada de preservar os acervos, para conceituar um “[...]
substantivo comum e próprio para todo e qualquer conjunto
de acervos tangíveis ou virtuais” (MIRANDA; LEITE; SUAIDEN,
2009, p. 18).
Por m, Pinto e Uribe Tirado (2012) armam que o
conceito de bibliotecas híbridas permeia o desenvolvimento
tecnológico (ao apresentar uma reexão crítica sobre a
necessidade de as bibliotecas atenderem aos requisitos
tecnológicos no desenvolvimento de suas coleções e na
prestação de serviços), de desenvolvimento social (ao entender
que um dos papéis das bibliotecas híbridas é desenvolver
programas de alfabetização informacional capazes de integrar
diferentes usuários e seus contextos) e de desenvolvimento
cultural (porque leva em conta os valores e as crenças das
pessoas que utilizam a biblioteca para o desenvolvimento de
competências no uso da internet). Sendo assim, o conceito de
bibliotecas híbridas perpassa pelos desaos de formação de
indivíduos, além das necessidades tecnológicas decorrentes
das demandas sociais.
3 O AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO
DA HIBRIDEZ
Segundo Garcez e Rados (2002), os produtos e serviços
oferecidos pelas bibliotecas híbridas devem seguir uma
perspectiva de exibilidade, isto é, as bibliotecas precisam
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
38
oferecê-los de acordo com as necessidades individuais, ou
coletivas, de seus usuários. Dessa maneira, quanto maior
a habilidade de exibilização, maior será a satisfação do
cliente, uma vez que a biblioteca estará excedendo as suas
expectativas” (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 46).
No ambiente das bibliotecas híbridas, o conhecimento
dos usuários deve ser combinado com a exibilidade
operacional dos funcionários, com vistas a responder, com
agilidade, às necessidades informacionais dos usuários. Nesse
contexto, a convergência de tecnologias e recursos humanos
proposta por Silva e Caldas (2017) vem à tona, na medida
em que agregam valor ao acesso à informação a usuários
presenciais, off campus ou remotos.
Nesta seção são trabalhados os itens abrangência
de coleção e gerenciamento da informação de Silva (2017).
Segundo Russell, Gardner e Miller (1999), os requisitos básicos
de uma biblioteca híbrida são: 1) providência de serviços para
descoberta, localização, requisição, envio/entrega e utilização
dos recursos; 2) fornecimento de serviços consistentes, para
recursos locais ou remotos, independentemente do tipo de seu
suporte; 3) estrutura organizacional exível, proporcionando
o desenvolvimento de novos sistemas quando necessário; e 4)
sistemas baseados em normas internacionais, propiciando o
aumento do volume e o tráfego de recursos.
A natureza da coleção deve ser levada em conta,
assim como o seu compartilhamento, suportes informacionais
oferecidos, formas de aquisição e o acesso aberto às bases
de dados. Para tanto, o gerenciamento da informação, ao
trabalhar o comportamento informacional e com a competência
em informação, também lidam com estratégias de busca, que
devem ser bem elaboradas tanto pelos funcionários quanto
Bibliotecas e Hibridez
39
pelos usuários das bibliotecas.
As bibliotecas híbridas trabalham com a gestão viva
da informação, presente nas bibliotecas vivas, ou seja, em
instituições onde, além da leitura, as pessoas trocam ideias,
discutem temáticas, ouvem histórias, dentre outros. Trata-se de
implantar uma concepção de trabalho na qual usuários sejam
vistos como sujeitos ativos na construção de seu conhecimento
e como produtores de cultura (HARASAWA, 2004).
Dessa maneira, na prestação de produtos e serviços,
o maquinário das bibliotecas híbridas necessita contar com
diferentes recursos tecnológicos, dentre eles: computadores,
rede sem o de internet, terminais de autoatendimento,
equipamentos especiais para pessoas com deciência e
aparelhos de acessibilidade, como máquinas que aumentam
as letras dos livros para pessoas com baixa visão, por exemplo,
a m de disponibilizar diferentes tipos de mídias aos usuários.
Nesse contexto, as bases de dados são ferramentas possíveis
de serem acessadas tanto em formato impresso quanto digital,
oferecendo acesso a resumos, textos completos, dentre uma
variedade de itens, sejam eles artigos cientícos ou não.
A ideia básica é a de que os usuários saibam como
utilizar a tecnologia para realizar as atividades propostas
pelos prossionais da informação. Um exemplo a ser dado é o
empréstimo e a devolução de recursos por meio de máquinas
de auto empréstimo, para que os usuários tenham maior
disponibilidade de horário para realizarem o empréstimo ou
a devolução de um item, sem precisarem, necessariamente,
de um prossional auxiliando-os.
A título de exemplicação, a prestação de serviços pode
oferecer serviços de impressão para usuários que necessitem
da informação acessada em formato analógico (seja ela
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
40
impressa e/ou digital), além da fotocópia e da digitalização
de documentos. A participação da comunidade de usuários
no desenvolvimento de produtos e serviços da biblioteca
pode ser observada quando a instituição possui formulários
de pedidos de compra, além de sugestões em relação aos
serviços prestados. O aceite de doações de comunidades
externas também é uma forma de fazê-los sentirem parte do
acervo da instituição.
A prestação de serviços em parceria com outras
bibliotecas ou centros educacionais é um item sempre presente
quando se fala em bibliotecas híbridas, corroborando para
com as ações culturais, educacionais e de acolhimento das
comunidades de seu entorno. Almeida Júnior (2013) destaca
algumas atividades que são desenvolvidas pelas bibliotecas
vivas, conceito presente no ambiente das bibliotecas
híbridas, tanto em conjunto com outras instituições, como
individualmente: 1) hora do conto; 2) concursos e ocinas;
3) teatro; 4) shows; 5) sessões de cinema e televisão; 6) jogos
educativos e/ou recreativos; 7) exposições; 8) museu de rua; 8)
cursos; 9) jornais locais, gincanas culturais; 10) campeonatos; e
11) eventos relacionados com um determinado acontecimento
(eleições, por exemplo).
Silva (2017) infere que alguns dos serviços presentes
nas bibliotecas híbridas são 1) auto empréstimo; 2)
acessibilidade; 3) pesquisa a bancos de dados; 4) acesso à
internet; 5) cursos; 6) ocinas; 6) treinamento de usuários; 7)
treinamento de funcionários; 8) assistência social; 9) programas
permanentes; 10) cursos; 11) ocinas; e 12) eventos.
De acordo com Oberhofer (1983), produtos e serviços
que visem o acesso à informação pelos usuários devem ser
avaliados em termos de custos, que possuem duas dimensões:
Bibliotecas e Hibridez
41
1) em termos de gasto (tempo gasto pelo usuário na busca,
identicação e localização da informação) e 2) em termos de
atraso experimentado (o tempo de espera quanto à informação
solicitada). Dessa maneira, não é suciente que a biblioteca
satisfaça somente a demanda de seus usuários, mas, que
essa demanda seja satisfeita em tempo útil para que não
haja o desinteresse desses indivíduos no uso da informação
e/ou da instituição. Sendo assim, como destacam Garcez e
Rados (2002), as vantagens dos serviços e produtos prestados
pelas bibliotecas híbridas está 1) no acesso fácil e rápido à
informação; 2) na disponibilização da informação via internet;
3) na maior autonomia do usuário; 4) na possibilidade de
cobertura internacional, nacional, regional e local; 5) na
parceria com outros centros educativos, como arquivos e
museus para a disponibilização do acervo; 6) no trabalho
voltado aos diferentes pers de usuários e na adequação de
seus produtos às necessidades e expectativas dos mesmos; 7)
na exibilização de operações; e 8) na prestação de serviços
em tempo hábil.
4 INFRAESTRUTURA DAS BIBLIOTECAS E A INTER-
RELAÇÃO COM A HIBRIDEZ
Como destaca Silva (2017), ao se falar do ambiente
interno das bibliotecas híbridas, têm-se os seus designs
interno e externo. na estrutura física destacam-se o
mobiliário, a arquitetura, a sinalização e a localização da
biblioteca, além da acessibilidade advinda de rampas,
elevadores, espaços entre corredores e ambientes especiais
(confortáveis, estimulantes, de socialização ou individuais).
O design diferenciado das bibliotecas híbridas está no
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
42
fato de as mesmas convergirem o novo e o velho, o concreto e o
abstrato, a cidade e o campo, com vistas a trazer um ambiente
agradável e aconchegante aos usuários da instituição, para
que eles se sintam bem no local e passem a frequentá-lo. Um
exemplo a ser identicado é o uso sustentável da luz solar,
com vistas a dar um ar mais natural ao ambiente, além de
gerar economia para a instituição. Um outro exemplo são
as bibliotecas-parque, que disponibilizam, em sua estrutura,
parques para a promoção de atividades de desconcentração
e de estudo, além de possuírem convênio com hospitais e
escolas.
No design interno trabalham-se as possibilidades
de inclusão social, infraestrutura local, espaços especiais e
acessibilidade ao público. É o layout do design interno que
promove a acessibilidade e instiga o seu uso, uma vez que
possui setores diferentes, cada um com seu perl, interligados
através de diferentes departamentos, que mesclam o lazer
com o estudo.
A arquitetura interna das bibliotecas híbridas conta
com espaços amplos e retos, sem ou com poucas elevações
que impeçam a caminhada de idosos ou de decientes físicos,
com andares e repartições, assim como estantes entornadas,
que acompanham a arquitetura da instituição. O mobiliário
é diferenciado, colorido e aconchegante. A sinalização
conta com placas que explicam cada setor da biblioteca,
referenciando locais de silêncio e locais de bate papo, além
de piso tátil para demarcação de segurança.
No design externo, é enfatizada a arquitetura do local
em relação aos seus parceiros e comunidade. A projeção da
arquitetura externa da biblioteca híbrida geralmente instiga
uma visão futurística. Seus arredores fornecem o contraste
Bibliotecas e Hibridez
43
entre o velho e o novo e/ou entre a natureza e a tecnologia.
Por meio de sua estrutura física, as bibliotecas híbridas
incluem tecnologias analógicas e digitais, voltando-se ao
estudo de pessoas e criando uma gestão capaz de tornar os
sujeitos não mais usuários, mas, cooperantes e participantes
dos processos de desenvolvimento político, cultural, social
e tecnológico que envolvem o seu contexto institucional e
pessoal. Portanto, trata-se do uso independente, crítico e
produtivo da informação.
Nessa perspectiva, em relação à estrutura e
ambientação das bibliotecas híbridas, a hibridez ocorre por
meio: (1) de práticas internacionais; (2) da sintonia com as
ações governamentais; (3) dos espaços arrojados, possuindo
projeto inovador de inclusão social por meio da leitura (a
estrutura dessas instituições foi planejada para oferecer
conforto, autonomia e atenção aos frequentadores, que são
o elemento central da biblioteca); (4) da revitalização dos
prédios; (5) das informações disponíveis em variados tipos de
suporte e mídias; (6) da ambientação, que oferece ao público
um espaço acolhedor e aconchegante, como convite para a
leitura; 7) da sociedade, que pode contribuir na escolha de
itens a serem adquiridos para o acervo; e (8) dos acervos,
atualizados frequentemente. Dessa maneira, a estrutura física
e organizacional das bibliotecas híbridas deve enfatizar a
acessibilidade em ambientes analógicos e digitais, administrar
a instituição de modo a conciliar suas necessidades aos
interesses das pessoas envolvidas, desenvolver políticas em
prol da inclusão digital e organizar planilhas que discutam
acerca da sinalização, disposição de mobiliários, bem como
da existência de itens que se adequem aos objetivos da
instituição.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
44
O ambiente de uma biblioteca perante as novas
estruturas organizacionais constrói-se a partir do
desenvolvimento de uma informação coletiva, ou seja, de um
ambiente colaborativo onde, ao mesmo tempo em que uma
informação é apropriada, gera-se um novo conhecimento.
Logo, tem-se uma construção coletiva do conhecimento, que
carrega em si paradigmas das tecnologias da informação.
O conceito de estruturas organizacionais envolve
um conjunto de expectativas sobre a pessoa que ocupa
determinada posição social e designa, portanto, sua maneira
de agir em determinada situação, quando outras pessoas ou
objetos podem também estar envolvidos. Dessa forma, tanto
os indivíduos como a instituição estão incluídos nesse cenário,
de maneira que a dicotomia entre a pessoa e seu cargo
na instituição, bem como seus componentes psicológicos e
sociológicos são reconhecidos (MINTZBERG,1973).
Segundo Castells (2001), o paradigma das tecnologias
da informação passou por mudanças, chegando ao que o
autor chama de “Novo Paradigma”. Nesse contexto, onde a
convergência tecnológica refere-se a uma interdependência de
técnicas, contextos e métodos, as tecnologias de transmissão
e conexão do conhecimento diversicam-se e interligam-se ao
mesmo tempo.
Para o autor, o primeiro aspecto do novo paradigma é a
informação como matéria-prima, contando que as tecnologias
passam a agir nos processos de uso da informação, em que
não somente a informação age sob o uso das tecnologias,
como no paradigma anterior. A segunda característica refere-
se à inuência dos meios tecnológicos na existência individual
e coletiva de uma sociedade, pois, a partir do momento em
que a informação é vista como matéria-prima, as novas
Bibliotecas e Hibridez
45
tecnologias penetram no cotidiano social.
O terceiro ponto enfatiza os sistemas de informação
em redes de tecnologias da informação, onde a exibilidade
e a complexidade interagem ao mesmo tempo. Em quarto
lugar, essas redes são reestruturadas pela exibilidade dos
sistemas. Nada é estável, mas pode ser recongurado.
Como quinta e última característica, está a especicidade
das tecnologias convergentes em sistemas integrados, no
qual tecnologias antigas e atuais convergem entre si, que
uma não pode ser imaginada sem a outra. Assim, a estrutura
organizacional das bibliotecas sob o ponto de vista dos
ambientes híbridos insere, além da pesquisa, conservação,
tratamento documental e administração, a divisão cultural em
sua estrutura, de modo a difundir a informação por meio de
atividades sociais.
Meyer (1986) destaca as estruturas organizacionais
como processos sociais, ou seja, como uma estraticação de
uma sociedade globalizada, na qual a socialização, a ciência,
a religião, as leis e a educação permeiam as instituições. Desse
modo, as novas estruturas sociais propõem as chamadas
“Instituições Sociais”, em que não as máquinas e a alta
gerência são importantes, mas os funcionários também são
vistos sob o ponto de vista humanizado da execução de tarefas.
Nesse sentido, por meio do estudo dos paradigmas das
tecnologias em informação e comunicação, é possível que
o bibliotecário entrelace as necessidades dos indivíduos ao
seu auxílio prossional. Consequentemente, é essencial que
eles estudem tais fenômenos, pois é por meio deles que suas
relações prossionais para com as bibliotecas e os indivíduos
se transformam.
Estruturas organizacionais híbridas podem contribuir,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
46
desse modo, para um desenvolvimento mais conciso
dos serviços realizados, de forma que as necessidades
informacionais dos indivíduos possam ser melhor trabalhadas.
Neste contexto, o prossional da informação
deve ter um desempenho superior e está
dependendo de um aprendizado de
qualidade. Dentre os novos contextos de
informação o que se apresenta promissor é
o da inovação. (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2002,
p. 45).
Sendo assim, ao tratar da relação entre ambientes
colaborativos versus a exibilidade, Chartier (1999) traça
um paralelo que chega ao paradigma atual, no qual a
relação da sociedade para com os documentos remete à
descentralização do conhecimento. Nessa perspectiva, o
papel do bibliotecário perante os novos paradigmas sociais,
tecnológicos, econômicos e contextuais integra a visão de um
prossional exível, que muda seu comportamento de acordo
com as demandas coletivas e individuais da sociedade.
A inovação nas estruturas organizacionais, então, é
denida a partir de mudanças signicativas na estrutura e
métodos gerenciais da instituição, nos quais os pesquisadores
são estudados como parte da análise organizacional
(DAMANPOUR, 1991). Logo, não as tecnologias, mas as
informações pressupõem mudanças, pois a biblioteca torna-
se um sistema de redes, onde a convergência de tecnologias
e linguagens se faz presente.
5 A TECNOLOGIA
Entende-se que a biblioteca híbrida tem um impacto
direto na gestão das comunidades, proporcionando a
Bibliotecas e Hibridez
47
construção da cidadania, tanto para a ordem social quanto
para a cultura, tecnologia e economia. É nesse contexto que
se compreende a convergência de tecnologias como parte
integrante da terminologia de bibliotecas híbridas, juntamente
com a ideia de ambientes vivos, ou seja, as bibliotecas híbridas
seriam uma junção entre a concepção da convergência de
tecnologias analógicas e digitais, juntamente com a prestação
de produtos e serviços com foco nas necessidades e desejos
informacionais dos usuários.
Sendo assim, em sua estrutura física, os livros de
papel convivem com as novas tecnologias, como e-readers,
aparelhos que possibilitam a leitura de livros eletrônicos
e outras mídias digitais, sendo designada para agregar
diferentes tecnologias e fontes de informação. São sistemas
que criam um relacionamento entre seres humanos e
tecnologias, permeados pelas mídias e linguagens exíveis,
ou seja, a mistura da escrita, do som e da imagem.
A Declaração de Lyon (IFLA, 2014) destaca que as
TIC potencializam a divulgação das informações geridas nas
instituições. Nesse sentido,
O ambiente de uma biblioteca constrói-
se a partir do desenvolvimento de uma
informação coletiva, ou seja, de um ambiente
colaborativo em que, ao mesmo tempo em
que uma informação é apropriada, gera-se
um novo conhecimento. (SILVA, 2015, p. 73).
Nessa perspectiva, a biblioteca híbrida conecta-se
com o mundo através das tecnologias, que são ferramentas
estratégicas, analógicas ou digitais, que auxiliam no
desenvolvimento de produtos e serviços com foco no amplo
acesso à informação, esses voltados para atividades que
possam integrar o indivíduo, a comunidade e o conhecimento.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
48
Logo, as tecnologias colaborativas presentes nas bibliotecas
híbridas são a convergência dos meios tradicionais (focados
no espaço físico) com os digitais (mediados por ambientes
eletrônicos ou digitais), a m de gerenciar toda a informação
disponível no local (SILVA, 2017).
Surgem, nesse cenário, diferentes tipos sociais, na
medida em que o indivíduo e as tecnologias caminham em
conjunto com as transições sociais e tecnológicas, portanto,
as bibliotecas híbridas permitem uma maior proximidade
entre a população e as tecnologias. Dessa maneira, possuir
o melhor dos equipamentos tecnológicos não é o bastante,
sendo necessárias novas habilidades de gerenciamento da
informação, alcançadas por meio do estudo do comportamento
informacional.
Dito isso, pode-se dizer que as bibliotecas híbridas
propiciam o uso inteligente da informação, na medida em
que propiciam o acesso à informação e o pensar sobre a
informação acessada. Esse acesso é realizado por meio das
TIC, em consonância com a cultura da comunidade local. Para
tanto, no contexto dessas instituições percebe-se a presença
simultânea de diversos suportes de informação.
O Quadro 1 mostra a relação entre as tecnologias
presentes nas bibliotecas híbridas e o desenvolvimento de
pessoas competentes em informação:
Bibliotecas e Hibridez
49
Quadro 1 - Ações das bibliotecas públicas híbridas e o
desenvolvimento de competências e habilidades nas comunidades
BILIOTECAS
HÍBRIDAS
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
A SEREM ADQUIRIDAS PELAS
COMUNIDADES
Desenvolvimento da
leitura e uso de
tecnologias
tradicionais e digitais
A comunidade deve ser capaz de: identicar
diferentes fontes de informação; realizar a
interpretação e a produção de novas informações
para a construção de um novo conhecimento.
Utilização de
computador e de
dispositivos móveis
A comunidade deve ser capaz de: manusear os
livros em seus diferentes suportes; organizar e
utilizar as informações em diferentes programas;
articular as informações referentes à biblioteca.
Ocinas com
especialistas
Os prossionais da informação deve: abordar
estratégias de ação social; referenciar os
especialistas de áreas próximas à biblioteca; expor
para a comunidade as ações realizadas pela
localidade a de que exista uma participação
conjunta; promover a melhor utilização dos
espaços físicos da instituição.
Criação de fóruns de
discussão eletrônicos
Os prossionais da informação devem: investir no
diálogo entre biblioteca e a sociedade; levantar
temas estratégicos para a localidade e/ou mesmo
a biblioteca elaborar uma lista de participação.
Capacitação de
usuários no uso das
TIC
Os prossionais da informação devem: estimular a
capacidade de utilização de dispositivos
tecnológicos; promover a interação entre o usuário
e as TIC; preparar ambientes com interface
amigável ao público.
Estrutura física e
organizacional
A biblioteca como um todo deve: enfatizar a
acessibilidade em ambientes analógicos e digitais;
administrar a instituição de modo a conciliar suas
necessidades aos interesses das pessoas
envolvidas; desenvolver políticas em prol da
inclusão digital; organizar planilhas que discutam
acerca da sinalização, disposição de mobiliários,
bem como a existência de itens que se adequem
aos objetivos da instituição.
Fonte: Silva (2017, p. 46).
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
50
É possível observar, no quadro de Silva (2017), que
as tecnologias perpassam todos os níveis de desenvolvimento
de competências, permeando os diferentes itens de melhoria
contínua presentes nessas bibliotecas. Tais instituições
trabalham as tecnologias como ferramentas de inclusão
social, na medida em que as utilizam como instrumentos de
pesquisa, coletando dados e capacitando os funcionários e
usuários no uso dessas tecnologias.
Para Silva (2017), as tecnologias presentes nas
bibliotecas híbridas se complementam a todo instante, de
acordo as necessidades informacionais dos usuários, sendo,
basicamente, 1) coleções especiais; 2) coleções não-especiais;
3) itens digitais; 4) itens impressos; 6) bases de dados; 7)
softwares inovativos; e 8) softwares de acessibilidade, que,
quando esmiuçados, trazem uma ampla gama de tecnologias
presentes nessas instituições. Assim, os modos de tratamento
e obtenção de informação e tecnologias, em acervos híbridos,
devem acompanhar as mudanças que a sociedade impõe,
o que remodela o papel do bibliotecário e dos usuários,
denominados, aqui, como bibliotecários e usuários híbridos.
6 METODOLOGIA
Este estudo é de natureza qualitativa, do tipo descritivo
e exploratório, tipologias comuns nas pesquisas da área de
Ciência da Informação (KUHLTHAU, 2004). A pesquisa foi
construída por meio de uma revisão bibliográca sobre os
tópicos: bibliotecas, bibliotecas híbridas, conceito de bibliotecas
híbridas e hibridez em bibliotecas, o que contribuiu para a
construção de um referencial teórico seletivo e conciso, além
do oferecimento de discussões acerca da temática central e
Bibliotecas e Hibridez
51
dos temas relacionados.
Para se recuperar o maior número de referências
possível nas bases de dados internacionais, as palavras-chave
foram escritas em inglês, que as bases de dados utilizadas
recuperam, pelo inglês, textos em todos os idiomas indexados
nas plataformas. Contudo, o estudo delimitou-se às línguas
inglesa, portuguesa (do Brasil e de Portugal), espanhola e
francesa, idiomas de conhecimento das pesquisadoras, pois, a
base de dados também recuperou textos nos idiomas alemão,
italiano e chinês. Ressalta-se que o período de levantamento
de dados foi abril/maio de 2018.
A pesquisa se concentrou nas bases de dados LISA, em
contexto internacional, e BRAPCI, no cenário nacional, a m
de se realizar uma varredura do tema no campo especíco
da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. As palavras-
chaves usadas para a recuperação de dados foram hybrid
library e development (na LISA) e biblioteca híbrida e
desenvolvimento” (na BRAPCI), como assuntos principais.
Importante destacar que não se delimitou tempo para a busca
na base de dados, visto que o intuito era recuperar todo o
histórico presente acerca do conceito.
A palavra “desenvolvimento” foi caracterizada como uma
palavra-chave por compreender que as bibliotecas híbridas
trabalham com tipos de desenvolvimento em sociedade,
que desenvolvem, socialmente, seus funcionários e usuários
no uso de novas tecnologia. Portanto, para a construção de
um conceito, torna-se necessário levar em conta os principais
tipos de desenvolvimento com que as bibliotecas híbridas
trabalham; a saber: desenvolvimento cultural, social, político
e tecnológico (SILVA, 2017).
A escolha pela pesquisa bibliográca ocorreu porque,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
52
de acordo com Gil (2009), esse tipo de pesquisa compreende
materiais que servirão de base para desenvolvimento de uma
ou mais temáticas, sendo que sua principal vantagem é que
o investigador pode se apropriar de uma grande variedade
de fenômenos e informações que geralmente não conseguiria
realizar em sua pesquisa diretamente. Desse modo, o presente
estudo foi desenvolvido segundo o planejamento proposto
por esse autor.
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi possível perceber que, no início das considerações
acerca do conceito de bibliotecas híbridas, a maior parte dos
autores interligavam a terminologia com a implementação
de tecnologias digitais no âmbito das bibliotecas. Nessa
perspectiva, os autores buscavam entender como a gerência
da biblioteca deveria se comportar em relação à aquisição
das TIC, assim como os gastos, custos e benefícios que essas
novas tecnologias trariam ao contexto dessas bibliotecas.
Além disso, surgiram pesquisas voltadas ao
desenvolvimento econômico, na medida em que necessitava-se
estudar os custos de aquisição de novos softwares e hardwares,
entendendo os benefícios e malefícios dessa aquisição tanto
para a instituição quanto para o público. Dessa maneira, a
grande maioria dos estudos da época estavam interligados
ao desenvolvimento tecnológico pelo qual as bibliotecas
tradicionais passaram e ao desenvolvimento de softwares que
abrangessem a interoperabilidade de dados e os programas
de desenvolvimento de bibliotecas.
Com o entendimento dos melhores e mais adequados
softwares e hardwares necessários ao dia a dia da biblioteca,
Bibliotecas e Hibridez
53
além da aquisição e instalação dos mesmos no ambiente das
bibliotecas, passou-se a ter uma convergência tecnológica
nessas instituições, no entanto, de nada adiantaria essas
tecnologias sem prossionais capacitados para o seu uso
adequado, de acordo com a missão e com a visão da
organização. Nesse cenário, surgem os estudos sobre o
desenvolvimento prossional, ou seja, maneiras para tornar
os prossionais da informação aptos a fazerem melhor uso/
benefício da convergência de linguagens proporcionada pela
primeira etapa da Era Híbrida.
Em um terceiro momento, as pesquisas em torno das
bibliotecas híbridas voltaram-se para o desenvolvimento
de coleções, aproveitando-se das grandes possibilidades
de acesso à informação (da própria instituição ou de
outras instituições) que as tecnologias eletrônicas e digitais
trouxeram. Nessa visão de intercâmbio de dados, alguns
pesquisadores começam a analisar a questão da privacidade
versus acessibilidade da informação, com vistas a oferecer
uma ampla gama de informação aos usuários, contudo, sem
ferir os seus direitos de segurança física e/ou jurídica; trata-se
da contrapartida entre os ambientes tradicionais (focados na
privacidade) e os digitais (onde o acesso à informação é mais
enfatizado).
Em um quarto momento, agora com foco nos
usuários, não somente nas suas necessidades de informação,
como também nos seus desejos informacionais, o conceito
de bibliotecas híbridas passa a compreender o estudo
de usuários e de comunidades, a m de entender seus
contextos e desenvolver produtos e serviços de acordo com
as suas demandas. Sendo assim, a terminologia bibliotecas
híbridas’ passa a ser vista sob a ótica dos desenvolvimentos
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
54
social, político e cultural, que se expandia de acordo
com as políticas institucionais (da biblioteca) e culturais
(dos funcionários e da comunidade externa), incluindo uma
abordagem de estrutura da organização (ambiente interno)
e os contextos externos que a cercam (outras instituições,
políticas públicas e privadas, dentre outros).
Dito isso, os teóricos relacionados às bibliotecas híbridas
passaram a enfatizar o desenvolvimento organizacional
desses equipamentos culturais na medida em que inferiram
que os estudos organizacionais englobariam desde as
abordagens iniciais de compreensão do conceito de hibridez
em bibliotecas (desenvolvimento tecnológico e de softwares),
até os desenvolvimentos econômico, de coleções, político,
prossional e cultural, isto é, perpassariam pelos recursos
humanos, tecnológicos e nanceiros dessas organizações.
Nessa penúltima perspectiva, o foco dos processos das
bibliotecas híbridas está nos níveis operacional (o fazer da
biblioteca) e tático (a gerência das bibliotecas), uma vez que
se volta ao planejamento a curto e médio prazo, sempre
destacando o desenvolvimento social no tratamento dos
usuários e dos funcionários dessas organizações.
Por volta dos anos 2000, a biblioteca híbrida começa a
destacar-se na gerência de médio a longo prazo, perpassando
pelos níveis estratégico, tático e operacional. Nesse contexto,
o conceito de bibliotecas híbridas volta-se, essencialmente,
ao desenvolvimento social, tendo em vista que se entende
que os recursos humanos são os mais complexos a serem
trabalhados dentro de organizações, pois, são seres subjetivos
e que, assim como as tecnologias, estão se renovando a cada
instante.
Dessa maneira, o desenvolvimento social abarca os
Bibliotecas e Hibridez
55
meios pelos quais a biblioteca deve se planejar para que seus
produtos e serviços possam ir ao encontro das necessidades
informacionais do seu público, tornando-os seres autônomos
em pesquisa e capazes de gerar novos conhecimentos. Trata-
se de não esperar os usuários virem procurar os serviços da
biblioteca, mas, de levar a informação até eles por meio do
desenvolvimento de atividades e de ambientes atraentes, com
tecnologias convergentes e atendimento a todo o público da
instituição (independentemente de raça, idade, sexo etc.), ao
trabalhar com os desejos informacionais inerentes a essas
pessoas.
Um dos estudos mais recentes que compreendem essa
perspectiva é o de Silva (2017), que descreve que
o termo biblioteca híbrida refere-se tanto ao
amplo compartilhamento de recursos, em
entidades geogracamente dispersas, como
às relações humanas, tecnológicas e sociais
de uma determinada instituição. (SILVA,
2017, p. 163).
Portanto, uma convergência entre as ferramentas
tecnológicas, o fazer prossional diversicado e o usuário
enquanto sujeito, não mais utilitário da informação, mas
cooperante no seu uso, produção e acesso, o que promove a
inclusão social de toda a comunidade organizacional (SILVA,
2017).
A autora também descreve que a convergência, em
uma visão mais atualizada acerca do conceito de bibliotecas
híbridas, não se limita à tecnologia, mas, abrange, sobretudo,
os prossionais da informação e os usuários. Desse modo,
os elementos constitutivos desse conceito são 1) grupos de
trabalho; 2) abordagem sociocultural; 3) treinamento de
usuários; 4) softwares inovativos; 5) informação via eletrônica;
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
56
e 6) acesso remoto, com grande destaque para o item
abordagem sociocultural.
Silva (2017) disserta que o acesso remoto se refere às
formas de renovação de itens emprestados (por internet ou
pelo telefone), às formas de empréstimos de recursos (online,
via telefone ou pessoalmente) e aos processos de digitalização
do acervo analógico. A informação via eletrônica se refere
aos suportes informacionais existentes (bases de dados online,
e-books) e disponibilizados pelas bibliotecas; a promoção de
informações institucionais em sites e em redes sociais; e o
desenvolvimento de bibliotecas virtuais.
Os softwares inovativos são softwares de gerenciamento
de dados, softwares de acessibilidade para decientes visuais
(com vistas a promover novos meios de leitura), softwares
de gamecação, para entretenimento da população, e
softwares para impressão de materiais 3D e/ou lúdicos,
a m de estruturar a sinalização e o design da biblioteca.
O treinamento de usuários trata das formas pelas quais a
biblioteca integra os usuários aos serviços oferecidos pela
instituição: capacitação, plantão de dúvidas, atualização,
workshops, ocinas, palestras e atendimentos em grupo ou
individuais.
A abordagem sociocultural é o processo de acolhimento
do usuário pela biblioteca e a ressocialização do mesmo
em sociedade: reabilitação de usuários em situações de
riscos (moradores de rua, usuários de droga, dentre outros)
e encaminhamento desses usuários a órgãos públicos
que possam auxiliá-lo em sua ressocialização; projetos de
mediação da leitura, como contação de histórias, discussões
losócas, oferecimentos de cursos de escrita e redação,
ocinas culturais etc.; atividades de reconhecimento dos
Bibliotecas e Hibridez
57
espaços, dos recursos e dos serviços oferecidos pela biblioteca;
a participação da biblioteca nas atividades políticas locais;
assim como a participação da comunidade na tomada de
decisões da instituição. Os grupos de trabalho estão ligados à
divisão de atividades por categorias (infantil, infanto-juvenil,
jovens, adultos, idosos) e à participação de outras organizações
no desenvolvimento dos programas da instituição (parcerias
entre empresas públicas e privadas e a biblioteca).
Gráco 1 – Tipologia de desenvolvimento para bibliotecas
híbridas
Fonte: Elaborado pelas autoras.
O Gráco 1, demonstra que foram recuperados
32 artigos na LISA e um artigo na BRAPCI. Dos 33 artigos
analisados, 27 deles, ou seja, 35%, trabalharam o
desenvolvimento tecnológico na construção do conceito de
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
58
bibliotecas híbridas; 12 (17%), o desenvolvimento social; 12
(17%), o desenvolvimento político; seis (9%), o desenvolvimento
prossional; cinco (7%), o desenvolvimento de softwares;
quatro (6%), o desenvolvimento organizacional; três (4%), o
desenvolvimento econômico; dois (3%), o desenvolvimento
de coleções; um (1%), a acessibilidade versus a privacidade;
e 1 (1%), o desenvolvimento cultural. Percebeu-se, portanto,
que, mesmo com o maior índice de destaque sendo o
desenvolvimento tecnológico (35%), o desenvolvimento social
perpassa por todos os estudos de bibliotecas híbridas, pois,
entende-se que os demais desenvolvimentos não podem
ocorrer se o desenvolvimento humano não estiver sendo
realizado.
Assim, este estudo compreendeu que o desenvolvimento
social é o foco das bibliotecas híbridas, necessitando-se partir
dele quando se pretende entender seu conceito. Logo, a
ideia de interoperabilidade na troca de comunicações entre
bibliotecas pode ser descrita sob as seguintes alusões: 1) a
interoperabilidade técnica se refere ao acesso remoto; 2)
a interoperabilidade semântica está ligada aos softwares
inovativos; 3) a interoperabilidade política/humana
é a abordagem sociocultural; 4) a interoperabilidade
multidisciplinar está relacionada à informação via eletrônica
e ao treinamento de usuários; e 5) a interoperabilidade
internacional visa os grupos de trabalho internos e externos
às instituições, bem como as suas relações na troca de
informações.
Nesse contexto, as bibliotecas híbridas podem ser
consideradas instituições capazes de trabalhar, em um mesmo
ambiente, o nicho técnico (ou duro) da implementação de novas
tecnologias e o trabalho social em prol de tornar cidadãos
Bibliotecas e Hibridez
59
em seres pensantes, habilitados a lidar com as informações
recebidas no dia a dia, de modo a não as entenderem como
verdadeiras antes de reetirem sobre a sua veracidade. Dessa
maneira, tais bibliotecas podem desempenhar o seu papel
de ir até o usuário e de o trazer até a instituição, na medida
em que se constroem juntamente com os recursos humanos e
tecnológicos presentes em sociedade.
Para tanto, os formuladores de políticas e
administradores, nesse caso, os prossionais da informação,
precisam reconhecer o potencial da biblioteca híbrida e
considerar seu impacto nos desenvolvimentos institucionais
mais amplos no ensino e na pesquisa. Finalmente, os usuários
precisam ser auxiliados no desenvolvimento de novas
habilidades e novas formas de abordar as informações que
recebem.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo demonstrou que o elemento-chave
de designação do conceito de bibliotecas híbridas é a
interoperabilidade, sob o foco do desenvolvimento social.
Interoperabilidade essa percebida em todas as formas de troca
de dados e de comunicação, sejam elas em meio analógico
ou digital.
Nessa perspectiva, as bibliotecas híbridas, inicialmente
tratadas apenas pelo âmbito da convergência de tecnologias, ao
trabalharem com a comunicação e com a troca de informação
entre pessoas, equipamentos culturais, sistemas de computador,
dentre outros, destacam-se como instituições promotoras do
desenvolvimento social dos indivíduos. Para tanto, entende-se
que, para construir um conceito de hibridez em bibliotecas, é
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60
preciso levar em conta: 1) as formas de acessibilidade (remota
ou presencial), ou seja, de uma interoperabilidade técnica
entre sistemas de computador e de pessoas responsáveis
pela disseminação dos serviços e produtos prestados pela
biblioteca; 2) a utilização de tecnologias que vão ao encontro
das necessidades informacionais e siológicas dos usuários
(softwares inovadores), visando a interoperabilidade semântica
entre sistemas operacionais de instituições nacionais ou
internacionais, sejam elas públicas ou privadas; 3) o foco
na capacitação de funcionário de bibliotecas para que esses
sejam capazes de utilizar as tecnologias como ferramentas
estratégicas no auxílio aos usuários em suas buscas por
conhecimento, isto é, a interoperabilidade política e humana,
enfatizando a abordagem sociocultural; 4) o tratamento dos
processos técnicos de bibliotecas em conjunto com os aspectos
humanos, destacando que todos esses processos devem ser
desenvolvidos de acordo com as necessidades e os desejos
informacionais do público da instituição interoperabilidade
multidisciplinar; e 5) a parceria entre instituições, para evitar
trabalho redobrado e pensar em conjunto no estabelecimento
de atividades inovadoras (interoperabilidade internacional).
Todos esses tipos de interoperabilidade vão ao encontro
do desenvolvimento social na medida em que se constroem
em conjunto com as demandas sociais. Dito isso, a biblioteca
híbrida trabalha com as mudanças ocorridas em sociedade
para atenderem às necessidades e desejos dos seus usuários,
para não se estagnarem no tempo.
Nesse desejo de buscar o usuário e trazê-lo ao
ambiente da biblioteca, o desenvolvimento social é, mais uma
vez, enfatizado, uma vez que a instituição procura meios de
fazer com que a informação seja disseminada para todos,
Bibliotecas e Hibridez
61
entendendo que esses podem passar a se interessar pelas
suas atividades. Além disso, ao abarcar públicos de diferentes
idades, raça, sexo etc., o sentimento social é despertado.
No que se refere à capacitação de funcionários e
usuários no uso de tecnologias, mesmo sendo um aspecto
técnico de funcionamento dos produtos e serviços da biblioteca,
envolve o ser humano, seus contextos, crenças e valores, ou
seja, o social. Pode-se perceber, então, que, mesmo nos
aspectos mais técnicos de trabalho, o social sempre está
presente e deve ser levado em conta quando se tratando do
ambiente de uma biblioteca híbrida.
Nesse sentido, este estudo buscou uma convergência
dos pensamentos de todos os pesquisadores aqui analisados,
chegando-se à conclusão de que o conceito de bibliotecas
híbridas se designaria como um modelo de bibliotecas com
foco no desenvolvimento social, abrangendo em seu ambiente
a prática de prossionais da informação em prol de convergir
1) tecnologias, como ferramentas estratégicas no auxílio ao
desenvolvimento de processos; 2) pessoas, buscando uma
equipe de trabalho multidisciplinar, passível de entender
os diferentes indivíduos que fazem parte da comunidade
de usuários do local, bem como suas necessidades e
desejos informacionais; 3) sistemas de interoperabilidade
de dados, a m de trocar informação entre instituições e,
consequentemente, com a sociedade, buscando padrões de
intercâmbio de informações, para que falhas na comunicação
e incompatibilidades entre sistemas possam ser evitadas; e
4) o estudo organizacional, a m de entender os recursos
pertencentes à biblioteca, seu público, e quais recursos ainda
são necessários adquirir.
Dessa maneira, os produtos e serviços desenvolvidos
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
62
pelas bibliotecas híbridas promovem os desenvolvimentos
tecnológico, político, de softwares, econômico, da privacidade
versus acessibilidade, social, prossional, organizacional, de
coleções e cultural. Destaca-se, portanto, que o tratamento
técnico é necessário quando se deseja que uma informação
atinja, com qualidade, o maior número de públicos possível.
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2018.
PARTE II
BIBLIOTECAS HÍBRIDAS:
UM OLHAR A PARTIR DAS BIBLIOTECAS
ALTERNATIVAS
As bibliotecas comunitárias são, em verdade, uma
forma de designar as bibliotecas populares, mas esvaziando
os signicados mais contundentes que deixavam claras as
bases que lhe davam sustentação e determinavam quais os
usuários que as tinham como objeto, e como suas ações,
fazeres e serviços poderiam e podem alcançar seus objetivos.
O termo bibliotecas comunitárias surge como reação
e contraponto à denominação bibliotecas populares que,
por sua vez, trazia no bojo de sua concepção, ideias que se
vinculavam à defesa dos interesses populares, das classes
trabalhadoras e dominadas.
Convém assinalar que o termo é usado no Brasil,
com mais expressividade e constância, a partir da década
de 1960. Mário de Andrade e Rubens Borba de Moraes se
referiram à biblioteca popular na década de 1930, embora o
emprego dessa nomenclatura não tenha surgido na literatura
especializada até os anos em que uma reação de vários
segmentos da população, ou ao menos dos setores mais
organizados, em se antepor à sua exclusão das decisões sobre
o destino do país.
CAPÍTULO 2
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
Sueli Bortolin
João Arlindo dos Santos Neto
h
ttps://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p73-92
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
74
Acompanhando as ações e pensamentos dos
movimentos organizados da população, alguns pesquisadores
- do que poderíamos chamar de ala mais progressista da
área -, munidos de propostas emancipadoras que circulavam
na época, assumem tais propostas e tentam voltá-las para
as discussões no âmbito das bibliotecas públicas. Com forte
apelo social, os textos produzidos a partir de debates gerados
por essa ala, não foram bem aceitos pelos pesquisadores e
até mesmo por prossionais que defendiam um olhar mais
conservador da Biblioteconomia. Os textos oriundos deste
último grupo, não faziam uma oposição clara, aberta. Ao
contrário, propunha um novo termo, aparentando uma
concordância com as posições veiculadas por seus opositores.
Posições que estavam longe de aceitar. O termo apresentado,
bibliotecas comunitárias, foi aceito e passou a designar um
tipo especíco de biblioteca.
Um dado curioso é que, na busca por caracterizar
tipos de bibliotecas, o grupo mais conservador passou a
incluir, além dos tradicionais - bibliotecas públicas, escolares,
universitárias e especialidades -, um outro tipo: especial. Assim,
as bibliotecas populares - ou comunitárias como designadas
posteriormente - foram entendidas como algo à parte, que
não se enquadravam nas características necessárias para
serem incluídas como verdadeiramente “bibliotecas”.
Sobre a caracterização das bibliotecas e a inclusão
de um termo mais geral - convém discutirmos um pouco mais.
Uma das preocupações da área da Biblioteconomia é a
busca por estabelecer critérios que diferenciem os vários tipos
de bibliotecas. Tradicionalmente, quatro são os principais
tipos de bibliotecas: escolares, públicas, universitárias e
especializadas. As outras devem se enquadrar nesses quatro tipos.
Bibliotecas e Hibridez
75
Durante um breve período, alguns autores e prossionais
denominaram como “especiais” o que consideravam um
quinto tipo de bibliotecas. Esse termo tinha uma abrangência
muito ampla e nos reportava a ideia de “generalidades”,
“miscelânea”. Além disso, a concepção de “especiais” excluía
essas bibliotecas do próprio conceito de biblioteca, não as
incluindo dentro do rol tradicional.
No nal dos anos 1980, Neusa Dias de Macedo teve
a iniciativa de formular critérios para identicar as diferenças
entre alguns dos tipos de bibliotecas elencados acima. Em
cada tipo de biblioteca escolhido por ela, Neusa pesquisou,
estudou e, junto com outros autores, elaborou pequenos
artigos publicados na Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação, mantida pela FEBAB. Os artigos eram curtos,
não mais do que quatro páginas, mas em um formato diferente
dos artigos considerados cientícos (MACEDO; SIQUEIRA,
1987; MACEDO; SPINELLI, 1987).
Havia uma página explicativa seguida de um quadro
impresso no tamanho de três páginas que vinham dobradas
em sanfona e para consultar o conteúdo, era necessário
desdobrar. Os quadros presentes nos artigos, apresentavam
um tipo de biblioteca e identicavam características baseadas
em alguns tópicos, como: tipo de acervo, usuários, serviços
etc. A distinção entre os tipos de bibliotecas, assim, valia-se
da determinação de características que, embora presentes
em todos os tipos, possuíam especicidades que permitiam
diferenciá-las.
Vários termos surgiram para identicar, ou tentar
identicar tipos especícos de bibliotecas, mas não foram
assumidos pela literatura, pelas pesquisas e estudos da
área. Entre esses termos, podemos destacar: bibliotecas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
76
hospitalares, bibliotecas prisionais, bibliotecas populares,
bibliotecas comunitárias, bibliotecas alternativas e outras.
Atualmente, fala-se em biblioteca parque. E sobre esta última
falaremos mais adiante.
A exemplo do termo bibliotecas comunitárias -
empregadas no lugar de bibliotecas populares - também
foi apresentado o termo “informação utilitária para se
antepor aos termos “informação social” e “informação para a
cidadania”. Os mesmos comentários apostos acima, referentes
às bibliotecas comunitárias, valem também para esta e novas
investidas que vem sendo apresentadas nos últimos anos,
contra as ideias, no seio da Biblioteconomia, de cunho mais
social. Os signicados mais progressistas inerentes aos termos
“social” e “para a cidadania”, foram derrubados por uma
ideia meramente utilitarista que quando adjetiva a palavra
“informação”, a torna vazia, oca. Toda informação deve ser
útil, embora o próprio termo “útil” tem uma concepção ampla
que torna difícil um entendimento mais especíco.
Os equipamentos informacionais, nessa época, tiveram
várias designações: Centro de Documentação e Informação
Popular, Centro de Comunicação e Informação Popular,
Biblioteca Verdadeiramente Pública, Biblioteca Comunitária
Conjunta etc. Todas elas buscavam uma alternativa para a
biblioteca pública tradicional. Almeida Júnior (1997) designou
o termo bibliotecas alternativas” para esse conjunto de
propostas diferenciadas.
Podemos dizer, resumindo, que o conceito de bibliotecas
comunitárias”, apesar de, formal e explicitamente, designar
os espaços voltados para atender a parcela mais pobre da
população, em verdade se contrapõe a ideia de bibliotecas
populares” que está voltada para os segmentos populares
Bibliotecas e Hibridez
77
da sociedade, alijados dos direitos mínimos para o exercício
da cidadania. Madella e Silva (2014, p. 99) enfatizam que
“Sua existência é resultado da determinação de uma ou mais
pessoas para a disponibilização de espaços onde se possa
propagar cultura e conhecimento”.
Posteriormente, as discussões sobre os equipamentos
informacionais acima descritos (Centros de Documentação e
Informação Popular, Centros de Comunicação e Informação
Popular etc.) nos levaram a entendê-los como minimamente
diferenciados das bibliotecas públicas tradicionais. Essa
posição está baseada no fato de que aqueles equipamentos
oferecem serviços assemelhados aos destas bibliotecas,
embora com uma aparência diferenciada, e com uma
fundamentação apresentada em um discurso que sugere uma
real mudança, mas que pouco altera, modica e se difere das
propostas fundantes da biblioteca pública tradicional.
Por sua vez, as bibliotecas híbridas foram apresentadas
e conceituadas como aquelas que englobavam em seu acervo,
materiais físicos e virtuais. A hibridez dá-se no âmbito do
acervo, dos materiais armazenados.
Seguindo essa concepção, é possível ampliá-la
incluindo outras propostas, como a que Paulo Freire fez em um
evento realizado em 1982, na Paraíba, dentro do Congresso
Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação. Em uma
palestra, Paulo Freire propõe para as bibliotecas populares e
como característica e diferencial delas, a inclusão de materiais
produzidos pela população, pela comunidade atendida pela
biblioteca. Essa palestra foi publicada no livro A importância
do ato de ler: em três artigos que se completam (FREIRE,
1989).
Uma noção mais ampla de hibridez, em relação às
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
78
bibliotecas públicas, vem de Rafaela Carolina da Silva. Em
sua dissertação de mestrado, analisando esse mesmo tema,
ela entende a ideia de híbrido como apontada na citação
abaixo:
Para que uma biblioteca pública seja
conceituada híbrida, é necessário que ela
trabalhe os aspectos sociais das comunidades
que a rodeia, voltando sua gestão para
questões de âmbito informacional e cultural.
Desse modo, deve pautar-se no acesso
remoto, no treinamento de usuários, nas
possibilidades de informação via eletrônica,
nas abordagens socioculturais, no
desenvolvimento de um software inovativo
e na organização de grupos de trabalho.
(SILVA, 2017, p. 53).
A ideia do interesse das bibliotecas híbridas voltar-se
para a integração de acervos constituídos de documentos
físicos e eletrônicos ca evidente. No entanto, há, no conceito,
uma preocupação com o trabalho direcionado para aspectos
sociais, acompanhando as propostas existentes nas bibliotecas
populares e mesmo nas bibliotecas comunitárias.
Retornando ao texto de Paulo Freire (1989), citado
anteriormente, é possível também entender sua proposta
como contendo aspectos híbridos, uma vez que a sua defesa
era para que o acervo das bibliotecas populares fosse
construído com materiais proveniente de editoras comerciais,
governamentais etc., mas também com materiais produzidos
pela comunidade. Essa ideia permitiria que os coordenadores
daquelas bibliotecas pudessem conhecer os interesses,
necessidades e desejos da comunidade. Claro que estando
atentos a isso. Todos os serviços seriam constituídos do
entendimento que os materiais provenientes da comunidade
suscitariam nos dirigentes das bibliotecas.
Bibliotecas e Hibridez
79
É preciso destacar, entretanto, que uma concepção
de que popular é algo que está vinculado à ações realizadas
pelo povo e para o povo. Qualquer coisa fora dessa ideia
não poderia ser entendida como uma ação popular. Nossa
concepção advoga que muitas ações criadas a partir de
iniciativas do povo e voltadas para ele, veiculam e disseminam
concepções e interesses que não são do povo.
Semelhante ao exposto, o termo “comunidade” pode
ser utilizado em espaços que buscam caracterizar-se como
socialmente inclusivos, aconchegantes, confortáveis (MADELLA;
SILVA, 2014). Se reconhecemos que uma comunidade se
congura a partir de interesses e realidades comuns, quando
uma biblioteca inserida nela, acreditamos que “[...] a
biblioteca tenha voz na melhora da comunidade.” (LANKES,
2016, p. 115). No entanto, ela, a biblioteca, terá que ser um
espaço que permita a emissão de voz dos indivíduos de todas
as faixas etárias.
Não controlamos as informações que nos chegam, nem
aquelas que desejamos e procuramos, nem aquelas que não
queremos e não desejamos. Somos alvo de informações a
todo momento. Do mesmo modo, nossos desejos, interesses e
necessidades não são puros, não são exclusivamente nossos.
Aceitamos desejos provenientes de intenções meramente
econômicas, consumistas; e os aceitamos inconscientemente,
mesmo sem os querer.
Dentro dessa lógica, não necessariamente o que é
popular está contido em ações criadas pelo povo e dirigidas
para o povo. Tais ações podem veicular interesses que não
são do povo
Entendemos como popular tudo aquilo que veicula os
interesses das classes populares, quer a partir de iniciativas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
80
do povo ou não. No caso das bibliotecas públicas, populares,
comunitárias etc., os trabalhos e serviços oferecidos por esses
equipamentos podem e devem ser desenvolvidos, planejados e
implantados por prossionais com formação dentro das áreas
abrangidas pelos objetivos e pelo escopo desses dispositivos.
Não basta, desta forma, a inclusão de novos tipos de
documentos ao acervo das bibliotecas, mesmo que criados
pela comunidade que vive no entorno dessas bibliotecas. É
preciso que todos que atuam nesses equipamentos estejam
direcionados e norteiem suas ações para atender aos
interesses, necessidades e desejos da comunidade, mesmo
sabendo que eles não são puros e que recebem inuências
globalizadoras. No entanto, o localismo sobrevive e resiste às
inúmeras tentativas de minimizá-lo ou mesmo destruí-lo.
Mesmo que nosso discurso venha responsabilizar em
demasia o bibliotecário ou aqueles que coordenam esse
gênero de biblioteca, não como negar que em tempos de
tamanho desalento social, cabe a eles mediações diversicadas
que subsidiem mudanças, que ampliem o conhecimento de
si e do mundo por parte dos indivíduos que compõem uma
comunidade.
Ao apresentar os resultados de sua dissertação de
mestrado defendida na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Silva (2014) arrola alguns serviços sugeridos
por 13 líderes de bibliotecas comunitárias brasileiras. Sendo,
além do empréstimo de livros o:
[...] acesso à Internet, mediação de leitura,
contação de histórias, roda de poesia,
aula de capoeira, violão, canto, percussão,
reforço nos estudos, curso de teatro, espanhol
informática, pré-vestibular comunitário,
alfabetização de adultos, viabilização de
carteira de identidade, acesso a joguinhos,
Bibliotecas e Hibridez
81
gincana, sarau, evento cultural, festa,
exibição de vídeo, exposição, acesso a
diferentes linguagens artísticas, conversa
com escritores, apresentações musicais,
rodas de conversa, suporte para as escolas
municipais e capacitação de professores.
(SILVA, 2014, p. 85).
Compreendemos que algumas das atividades citadas,
são direcionadas aos usuários letrados e alfabetizados.
Assim sendo, essas ambiências não estariam contemplando
a diversidade de usuários sejam reais ou potenciais, ou
mesmo os não-usuários e menos ainda, não despertariam
o sentimento de pertença nos sujeitos. Em uma linguagem
gurativa seria possível ouvir dos leitores: “Esse espaço tem a
minha cara!”; “Esse espaço é meu, aqui eu gosto de car!”.
Ao considerar as bibliotecas como “lugares”, Lankes
(2016, p. 128) ressalta que A comunidade deve ver suas
bibliotecas físicas como representativas de seus mais elevados
ideais”. Segundo o autor, os bibliotecários têm demandado
cada vez menos espaço físico para desempenhar suas
atribuições diárias, devido às transformações tecnológicas
e dos recursos informacionais. Por outro lado, aparece a
comunidade e seus membros, que necessitam de espaço para
interagir e criar.
Reconhecemos que a noção de hibridez irá atingir este
patamar no momento em que as bibliotecas (comunitárias,
populares, híbridas) disponibilizem diferentes espaços à
comunidade; seja para ler, estudar, navegar na internet,
realizar pesquisa, comer, descansar, jogar, brincar, dançar
e até mesmo, conversar descontraidamente. Não basta, no
entanto, disponibilizar espaços. É preciso que as pessoas
se apropriem do que é veiculado, que sua cultura esteja
presente e seja a base de todo fazer daquele equipamento
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
82
informacional. É preciso que as informações representem,
dentro de limites, os interesses, necessidades e interesses da
comunidade.
A ampliação do conceito dado ao espaço das bibliotecas
pode fazer com que os sujeitos letrados ou não, alfabetizados
ou não, decientes ou não, sintam-se pertencidos à sua
ambiência e se apropriem não somente do espaço interno e
externo, mas que internalizem o signicado que ele representa
para sua vida na comunidade. Um local que possibilite aos
sujeitos reconhecerem-se naquela comunidade e tornar-se
conhecido naquele contexto. Isso se dá, também, quando
o equipamento informacional trabalhar com informações
provenientes dos vários segmentos da multimídia: escrita,
imagem xa, imagem em movimento e som.
O termo bibliotecas alternativas, englobando várias
denominações de equipamentos informacionais, tem como
proposta alterar o entendimento de bibliotecas públicas
tradicionais. Sua concepção pressupõe o emprego de
informações que possam fazer frente àquelas veiculadas pela
grande mídia, àquelas carregadas de interesses diferentes e
antagônicos aos da comunidade. As bibliotecas alternativas
são espaços de resistência informacional.
Nos anos da década de 1980, entre as discussões
presentes no seio das bibliotecas alternativas, uma delas
teve relativa força, mas cou restrita a alguns treinamentos
promovidos em determinados Centros de Documentação e
Informação Populares: Documentação Popular.
Uma pequena apostila, de 12 páginas, preparada
por um órgão latino-americano vinculado à Igreja Católica,
chamado CELADEC, traduzido pelo Centro Pastoral Vergueiro,
serviu de base para um treinamento realizado pelo SEDIPO –
Bibliotecas e Hibridez
83
Serviço de Documentação e Informação Popular, vinculado à
CNBB-NE II. Esse treinamento ocorreu entre 12 e 16 de março
de 1984, em Recife. Os três primeiros tópicos da apostila são
elucidativos do teor e da direção conceitual do documento:
1. A informação dos setores dominantes é
desinformação” para os setores populares.
2. A Documentação Popular: ferramenta
para a mudança social.
3. Metas da Documentação Popular.
(DEFINIÇÃO..., 1984, p. 1).
A preocupação com a “desinformação”, tópico que abria
as discussões propostas na apostila, e que hoje faz parte das
preocupações de todos que atuam com a informação e carece
de estudos e pesquisas urgentes, assim como a concepção de
que a documentação popular tinha como objetivo a mudança
social, deixava evidente a importância que a documentação
possuía no interior daqueles equipamentos informacionais.
As discussões sobre esse tema, infelizmente, caram
restritas aos treinamentos realizados da época. A área
da Biblioteconomia não levou avante estudos sobre a
Documentação Popular, talvez nem mesmo soube de iniciativas
implantadas como as do SEDIPO, acima comentado. Ou, quem
sabe, mesmo sabendo, não houve interesse em pesquisar
essa temática, uma vez que ela não lidava com informação
cientíca e tecnológica.
Uma proposta mais recente, que vem ocupando espaço
entre os estudos relacionados com as bibliotecas públicas,
são as chamadas bibliotecas parques”. Os que trabalham
especicamente nas bibliotecas públicas aceitam as ideias e
se propõem, alguns de maneira entusiástica, a implantá-las
em seus espaços, desde que haja condições para isso.
A proposta das bibliotecas parques é atrativa e
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
84
inovadora, pois defende espaços agradáveis, prazerosos,
bonitos. Oferecem um acervo diversicado, incluindo
documentos e materiais físicos e eletrônicos. A exemplo
disso, podemos mencionar o caso de Medelín, na Colômbia.
As bibliotecas parque por propagam a ideia de que em
sua ambiência informação, cultura e conhecimento, mas
também, lazer, conforto e entretenimento.
Dessa forma, elas se conguram, dentro de um
entendimento mais antigo, como bibliotecas híbridas.
Os serviços oferecidos também são diferenciados
daqueles disponibilizados pelas bibliotecas públicas
tradicionais, em especial por estarem claramente voltados para
atender uma gama de tipos de usuários. Os que gerenciam
tais bibliotecas, armam que estão preocupados com aspectos
sociais da comunidade atendida. Por exemplo, a biblioteca
parque da Rocinha no Rio de Janeiro “[...] possui CDteca,
DVDteca, cozinha escola, estúdios, cineteatro, Jardim de
Leitura e sala multiuso prevendo os encontros comunitários.”
(SILVA, 2016, p. 39).
Referindo-nos ainda às bibliotecas parques podemos
incluí-las entre as bibliotecas híbridas. No entanto, elas
possuem um invólucro, uma capa que atrai os usuários, mas,
quando desnudadas, elas apresentam as mesmas bases da
biblioteca pública tradicional.
Assim, a perspectiva social e econômica brasileira,
tão bem conhecida por nós, revela que ainda precisamos de
políticas públicas e projetos que venham propiciar um avanço
real no sentido de diminuir a distância entre as comunidades
ricas e a pobres economicamente. Sendo o segundo caso as
que apresentam um maior índice de analfabetismo funcional
e tecnológico.
Bibliotecas e Hibridez
85
Isso nos leva a crer que as diculdades quanto ao uso
e apropriação da informação por meio da biblioteca híbrida
é tão hercúlea quanto na biblioteca convencional.
Outra constatação é que, felizmente, as mediações
deagradas pelas bibliotecas comunitárias são muito mais
direcionadas à cultura que propriamente aos serviços de
tratamento e organização da informação (MACHADO, 2008).
A começar, por exemplo, pelo emprego dos mesmos
códigos, tabelas, instrumentos e ferramentas técnicas
empregadas em todos os vários tipos de bibliotecas. Como
ser diferente se a estrutura organizacional dos documentos
se vale de um antigo ferramental; como ser diferente se
o equipamento informacional continua utilizando uma
organização de acervo problematizada e questionada
como tendenciosa e discriminadora? Nosso entendimento
é que os espaços precisam exibilizar, adaptar as formas
de comunicação e tratamento da informação ao público
atendido. Qual a lógica de usar a tabela CDU ou a CDD em
que as classes carregam denominações que não atendem a
diversidade e, portanto, ferem questões como: estrato social,
racial, de gênero e religiosa.
De maneira idêntica, o material que constitui o acervo
desse tipo de biblioteca são os mesmos armazenados pelas
bibliotecas públicas. Essas, hoje, também utilizam materiais
eletrônicos e disponibilizam aos seus usuários o acesso
à internet. Assim, a biblioteca não ca restrita apenas aos
documentos presentes em seu acervo, mas permite que o
sujeito que apresenta uma questão possa se valer de qualquer
informação passível de recuperação.
Os materiais tangíveis cabe lembrar que os
materiais eletrônicos também são tangíveis, na medida em
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
86
que necessitam de equipamentos para serem utilizados –,
em especial os livros ou todos aqueles que se constituem
do texto escrito, possuem duas características que os fazem
carregar interesses próprios de uma classe que não é a dos
trabalhadores:
1 Os materiais publicados, quer livros ou revistas,
passam por uma análise das editoras e apenas são aceitos
aqueles que atendem aos critérios entendidos como de
qualidade ou como comercialmente viáveis. As editoras,
para sobreviver, precisam, claro, vender os livros que editam.
Assim, os candidatos a livros são avaliados em relação ao
seu potencial de vendas. Um manuscrito sobre um tema que
interessa apenas a um pequeno grupo, não será publicado,
mesmo que possua um conteúdo de boa qualidade. Entre
os critérios existentes nas avaliações de manuscritos, o de
qualidade se subordina ao de viabilidade de venda. Os livros
existentes nos acervos das bibliotecas passaram por um crivo
das editoras, crivo esse que tem como base um interesse
comercial.
Há, também, um outro crivo determinado pelo
reduzido em alguns casos, quase nulo orçamento das
bibliotecas. A seleção de materiais a serem adquiridos, mesmo
acompanhando uma política de desenvolvimento de coleções
preexistente, tem como limite o orçamento para compras de
materiais. Isso implica em tornar os critérios de seleção mais
rígidos e atender demandas, mais do que criar demandas.
Falamos do crivo nas publicações das editoras e do crivo
na aquisição de materiais nas bibliotecas. Falta um terceiro
elemento, talvez mais importante do que os anteriores: o crivo
da própria sociedade. Os materiais existentes nos acervos das
bibliotecas são escritos dentro de normas gramaticais, com
Bibliotecas e Hibridez
87
rigor linguístico e farão parte desses acervos se seguirem
a norma culta. Os materiais produzidos pelos sujeitos das
comunidades tendem a não seguir esse padrão e, assim, não
podem fazer parte do acervo.
A partir do exposto acima, precisamos incluir um
quarto elemento que não se apresenta como um crivo, mas
se esconde atrás da verdade da ciência, da história ocial,
da sabedoria, da erudição. Os materiais preservados nos
acervos das bibliotecas retratam um conhecimento, o dos
que venceram, subjugaram, dominaram, impuseram suas
vontades, seus valores e suas verdades. Por mais que se fale
de democratização do acervo, essa ideia se torna uma falácia
quando o acervo não reete todos os modos de pensar
existentes na sociedade. Ou pior, quando as bibliotecas
apresentam e reproduzem o material disponível como sendo
a única ou as únicas verdades possíveis.
Disseminar que a ciência é a única verdade possível,
que a oralidade carrega apenas um saber popular, fruto de
crendices, mitos e desprovido de um real conhecimento, é
propagar a impossibilidade da democracia nos espaços dos
equipamentos informacionais, das bibliotecas públicas, das
bibliotecas parques, das bibliotecas híbridas.
2 A discussão nalizada no parágrafo anterior nos
propicia abordar uma segunda característica que implica na
presença de interesses diferentes e destoantes dos das classes
trabalhadoras nas bibliotecas: a construção do acervo ser
voltada, em sua maioria, para materiais com texto escrito.
Os estudos de usuários, em boa parte das vezes, trabalham
com a ideia de que dois tipos de usuários, os reais e
os potenciais. Para os primeiros, são criados serviços que
procuram manter e atender os seus interesses, levando-os,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
88
portanto, a permanecerem como usuários. Para os segundos,
os serviços visam trazê-los para a biblioteca, transformando
os de usuários potenciais em usuários reais. No entanto,
tais estudos e pesquisas se esquecem de um terceiro grupo
de usuários, os não-usuários, que são aqueles que, mesmo
desejando, não podem se utilizar do acervo das bibliotecas.
Os analfabetos, se as bibliotecas trabalham apenas
com materiais de textos escritos, não podem fazer uso das
bibliotecas e devem ser considerados como não-usuários.
Tanto para os sujeitos analfabetos quanto para os cegos, as
fontes orais estudadas por Bortolin e Almeida Júnior (2015) e
Santos Neto (2018) são fundamentais no processo de leitura e
apropriação da informação e dos bens culturais. A deciência
visual possui vários níveis e graus, cada um demandando
um tipo de material especíco que atenda às necessidades
das pessoas. Estas recorrem às mídias que disponibilizam os
recursos de audiodescrição.
Decientes auditivos ou decientes da fala possuem
uma leitura e escrita diferenciada dos textos voltados para
aqueles que não têm deciência. Quando um equipamento
informacional não se preocupa em possuir em seu acervo
materiais que atendam a esses grupos de usuários, ela está
criando não-usuários. Nesse sentido, deverão ser adquiridas
obras que utilizam o sistema SignWriting
1
nas duas versões
papel e digital.
Uma biblioteca que não se preocupa com as
características descritas acima, certamente não tem um foco ou
interesse social e, acompanhando os conceitos de bibliotecas
alternativas e bibliotecas híbridas, não pode ser incluída entre
1 Signwriting é um sistema de escrita das línguas de sinais composto
por movimentos. Corradi (2011) aponta que o Brasil publica livros
infantis com essa estrutura.
Bibliotecas e Hibridez
89
essas. A ideia de uma biblioteca híbrida é incompatível com
a existência de não-usuários na comunidade de seu entorno.
Além disso, o conceito de bibliotecas híbridas precisa
ser aprofundado do ponto de vista teórico-conceitual. Seria o
conceito de biblioteca híbrida um sinônimo para os demais
existentes? Uma tendência na Biblioteconomia? Questionamos
anal, o que diferencia os conceitos de bibliotecas parque,
bibliotecas populares, bibliotecas comunitárias e bibliotecas
alternativas. Dissemos, anteriormente neste texto, que o
conceito de bibliotecas alternativas procura abarcar todas
as propostas que se colocam contrárias à biblioteca pública,
embora não consigam se dissociar inteiramente desta última.
Questionamos também, em que medida a compreensão
de tais conceitos estabelece relações de complementaridade
ou exclusão. Como o conceito de bibliotecas híbridas
reconguraria o cenário social das comunidades e direcionaria
as mediações?
Sumarizando: neste capítulo questionamos a hibridez
em diferentes gêneros de bibliotecas. Apontamos que, ao
classicar uma biblioteca como híbrida ou não-híbrida
não pode ser analisando apenas o aspecto dos recursos
informacionais; também que se pensar na gestão híbrida
da biblioteca, por meio de composição de comissões mistas
que permitam a representatividade da comunidade e que
ela seja ouvida. Para que uma gestão realmente acolha
os cidadãos, estes precisam opinar também em questões
administrativas e culturais/informacionais como: horário de
funcionamento, formas de empréstimo, arranjo do acervo,
prioridade nas aquisições de materiais e equipamentos,
mediações, atividades, disposição dos espaços entre outras.
O espaço necessita ser híbrido, com móveis que permitam
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
90
movimentação e propiciem reuniões para discussão de
temáticas coletivas. Há que se fazer um esforço para diminuir
as distâncias entre mediador e mediado. Sem isso, não se
constrói (ou reconstrói) uma Biblioteconomia social.
As bibliotecas podem ser consideradas diferenciadas
quando veiculam, disseminam e reproduzem os interesses,
necessidades e desejos da comunidade a que atendem.
podem ser consideradas diferenciadas quando se transformam
em espaços de resistência informacional.
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Bibliotecas e Hibridez
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contexto híbrido: um estudo comparativo de bibliotecas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
92
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(Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de
Filosoa e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília,
2017.
BIBLIOTECA ESCOLAR NOS TRILHOS DO
SÉCULO XXI
Ao longo dos séculos, a biblioteca manteve suas
portas fechadas para a maioria da população, instalando
uma divisão entre “letrados e iletrados, entre clérigos e
laicos, entre iniciados à palavra escrita e os não iniciados”
(MAROTO, 2012 p. 32); pois inseridas nos palácios ou nos
conventos, não era vista como órgão de acesso e difusão do
conhecimento. Essas relações de desigualdade de acesso às
bibliotecas e ao seu acervo perpetuam-se até hoje por meio
do distanciamento entre as bibliotecas escolares públicas,
as tecnologias de informação e comunicação e os leitores,
fazendo-nos duvidar de que em plena era do século XXI e
do desenvolvimento de uma sociedade de informação, da
qual todos deveriam participar do convívio do equipamento
cultural biblioteca escolar. De forma que esse descaso, a
qual chamamos de censura, da não participação de leitores
nas bibliotecas escolares, e de criação de ações equivocadas
e práticas intermitentes que circularam a biblioteca escolar,
deixaram cicatrizes que podem ser observadas no cotidiano
das escolas.
Nesse sentido, Pimenta (2018, p. 13) salienta que as
bibliotecas escolares, se apresentavam “como um espaço
alternativo de participação e pressão de militantes, impedidos
CAPÍTULO 3
Cláudio Marcondes de Castro Filho
https://doi.org/10.36311/2020.978-6
5-86546-88-0.p93-113
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
94
de atuar politicamente”, que hoje, mesmo com as políticas
públicas direcionadas ao avanço das bibliotecas escolares,
como a Lei 12.244/2010, que estabelece bibliotecários em
escolas públicas, não se concretiza a emancipação de leitores
na utilização do equipamento cultural-biblioteca escolar, pois
na maioria da administração pública municipal brasileira não
consta o cargo efetivo de bibliotecário, o que nos remete a
não concretizar e estabelecer ações diferenciadas ao acesso à
leitura, informação e conhecimento.
Em pleno século XXI, 2019, o Projeto de Lei 9484/2018,
que tramita na Câmara do Deputados do Congresso Nacional
do Brasil por meio da Deputada Federal Laura Carneiro e que
altera a Lei 12.244/2100, trata sobre uma nova denição
de biblioteca escolar e cria o Sistema Nacional de Bibliotecas
Escolares (SNBE), que tem alguns objetivos como : a) incentivar
a implantação de bibliotecas escolares em todas as instituições
de ensino do país; b) promover a melhoria do funcionamento
da atual rede de bibliotecas escolares, para que atuem
como centros de ação cultural e educacional permanentes;
c) favorecer a ação dos sistemas estaduais e municipais de
ensino para que os prossionais vinculados às bibliotecas
escolares atuem como agentes culturais em favor do livro e de
uma política de leitura nas escolas; d) estabelecer parâmetros
mínimos funcionais para a instalação física das bibliotecas no
âmbito das escolas, atendo-se ao princípio da acessibilidade,
a m de que as mesmas se constituam em espaços inclusivos,
entre outros (BRASIL, 2018).
Entendemos, portanto, que biblioteca escolar deve ser
reconhecida como um equipamento cultural e, ainda, como
uma instituição social, com intuito de integrar a sociedade da
informação, estabelecendo novos conceitos e se adequando
Bibliotecas e Hibridez
95
às realidades sociais, culturais, educativas e tecnológicas
da sociedade. Com a explosão informacional, a sociedade
contemporânea necessita de prossionais bibliotecários que
atuem em biblioteca escolar com competências que possam
atender às novas demandas de produtos e serviços de
informação.
Para Castro Filho (2018, p. 362) a biblioteca escolar é
a “primeira oportunidade concreta de acesso ao patrimônio
cientíco e cultural. É um espaço ativo de ação pedagógica,
com inserção de atividades lúdicas complementares ao
processo tradicional de ensino-aprendizagem”.
Nesse aspecto elaboramos a Figura 1, apresentando a
partir da década de 1970 algumas denições, características
e funções da biblioteca escolar.
Figura 1 - Denições, características e funções da biblioteca escolar
Fonte: Elaborado pelo autor.
Bibliotecas e Hibridez
97
Além disso, não podemos negar a ainda expressiva
falta de bibliotecas escolares apontada pelo último censo
da educação básica realizado no país. Com mais de 5.570
municípios, estima-se que o Brasil tenha 210 milhões de
habitantes, uma taxa de crescimento de 0,79% entre 2018 e
2019, e com 181,9 mil escolas de educação básica.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (2019, p. 2), no Censo Escolar
de 2018, as matrículas da educação básica foram de 48,5
milhões, encontradas majoritariamente na área urbana
(88,7%), sendo na rede pública, as escolas municipais a
maior responsável pelo número de matrículas. O Brasil conta,
em 2018, com 181.939 escolas de educação básica. Desse
total, a rede municipal é responsável por aproximadamente
dois terços das escolas (60,6%), seguida da rede privada
(22,3%). Das escolas da educação básica, percebe-se que as
etapas de ensino mais ofertadas são os anos iniciais do ensino
fundamental e a pré-escola, com 112.146 (61,6%) e 103.260
(56,8%) escolas, respectivamente. O ensino médio, por outro
lado, é ofertado por apenas 28.673 (15,8%) escolas.
Estes dados nos mostram a quantidade de alunos que
frequentam as escolas públicas no Brasil. Resumindo, existem
48.455.867 milhões de alunos em 140.093 escolas públicas
(77,7%); ou seja, a maioria dos alunos brasileiros frequentam
as escolas públicas.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (2019) aponta que as escolas de educação
básica possuem biblioteca e/ou sala de leitura, mas não
esclarece como são formadas ou organizadas as bibliotecas e
salas de leitura. A rede pública brasileira até tem bibliotecas,
mas circunscrita principalmente a capitais como São Paulo,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
98
Florianópolis, Belo Horizonte, Vitória, Fortaleza, e cidades
como Santos, São Bernardo do Campo, e nos Estados de
Santa Catarina e do Paraná que têm redes de bibliotecas.
Os dados são importantes para mostrar a inexistência
de bibliotecas escolares públicas brasileiras. O fato de que
a maioria dos alunos está em escola pública não seria
justamente um chamado para a construção de políticas
públicas de educação?
Para se ter uma biblioteca, no sentido de
instituição social, são necessários cinco pré-requisitos: a
intencionalidade política social; o acervo e os meios para
sua permanente renovação; o imperativo de organização e
sistematização; uma comunidade de usuários, efetivos ou
potenciais, com necessidade de informação conhecida ou
pressuposta; e, por último, mas não menos importante, o
local, o espaço físico onde se dará o encontro entre os leitores
e os serviços de biblioteca (LEMOS, 1998, p. 347).
Em relação às bibliotecas existentes, muitas delas
são confundidas com depósitos de livros, ou “armariotecas”
desconhecidos pelos sujeitos que circulam na escola (PAIVA;
BERENBLUM, 2009, p. 13), fazendo com que o silêncio as
atravesse de forma tão contumaz quanto os “imperativos da
ordem e do espaço” (MANGUEL, 2006, p. 99). Nesse contexto,
as bibliotecas serviriam como um local alternativo à sala de
aula, secundário, pouco frequentado, palco de atividades
isoladas e alheias ao projeto pedagógico, perdendo-se, assim,
excelentes oportunidades de enriquecimento do processo de
ensino-aprendizagem.
Em contraponto, na literatura cientíca, a biblioteca
escolar deixa de ser retratada como um depósito inerte de
livros e outros materiais para ser considerado um espaço
Bibliotecas e Hibridez
99
de ação pedagógica, um centro de informação e cultura
formado por vários tipos de documentos e diferentes suportes
informacionais ou, ainda, “um espaço de criação e de
compartilhamento de experiências, um espaço de produção
cultural em que crianças e jovens sejam criadoras e não
somente consumidoras de cultura(CAMPELLO et al., 2002,
p. 22).
Nessa concepção, as bibliotecas seriam centros
dinámicos, con un nuevo espacio-entorno y un innovador
concepto de servicios(CUEVAS CERVERÓ, 2007, p. 174) e
ainda, de acordo com Maroto (2012, p. 75),
como difusor do conhecimento produzido
pela coletividade, constituindo-se, dessa
forma, na primeira oportunidade concreta
de acesso ao patrimônio cientíco e cultural,
para as crianças brasileiras ao ingressarem
na escola pública.
Um dos objetivos básicos da biblioteca escolar, cuja
missão é fornecer informações vitais (no sentido de importantes
à vida) para a sociedade que, atualmente, estrutura-se sobre os
pilares do conhecimento e da informação. Por sua constituição,
a biblioteca escolar desenvolve nos alunos as competências
para a aprendizagem ao longo da vida, instigando a
imaginação, a criação e a curiosidade, contribuindo para o
desenvolvimento de cidadãos e ainda “os governos, através
de seus ministérios responsáveis pela educação, são instados
a desenvolver estratégias, políticas e planos que implementem
os princípios deste Manifesto” (IFLA, 2016, p. 15).
Mediante algumas denições de biblioteca escolar
podemos apontar que a biblioteca é um laboratório de
pesquisa escolar que permite a formação de leitores; é um
centro do fazer educativo, um espaço democrático, um local de
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
100
comunicação e de utilização de várias fontes de informação,
no suporte impresso ou analógico; é espaço de busca de
questionamentos e de solução de problemas, que precisa ser
ativo; é um local de entretenimento e que tem como missão
o desenvolvimento e à formação dos cidadãos; é um lugar
que ainda complementa a educação formal, a leitura, a
pesquisa, as atividades culturais, as diferentes apresentações
do conhecimento e que transpõe imensamente a visão míope
de qualquer lei.
Tais denições são importantes porque marcam um
ideário sonhado para a biblioteca escolar, que é distante da
realidade da maioria das atividades de visitação e de leitura
nas escolas brasileiras.
Nesse sentido, podemos demonstrar que, na prática,
a biblioteca escolar pública no Brasil ainda não possui um
lugar consolidado em nossa sociedade. O resultado desta
desvalorização se encontra fundado na falta de bibliotecários
nas escolas públicas. Mesmo assim, com a sociedade
da informação, com as tecnologias e com os suportes
tecnológicos, gera-se um grande desao às escolas públicas
brasileiras, em pleno século XXI: educar para a liberdade e
para a autonomia diante de um mundo bombardeado por
informações. Quais seriam os agentes responsáveis por
uma mudança desta situação precária? Apenas o governo?
Ou também os conselhos regionais de biblioteconomia, os
próprios bibliotecários, os professores, os pais de alunos, os
cidadãos?
Na verdade, essas bibliotecas das escolas públicas
estão muitas vezes localizadas em espaços inadequados,
de difícil acesso, em antigas salas de aula. Essas bibliotecas
possuem diversas diculdades no cumprimento de suas funções
Bibliotecas e Hibridez
101
necessárias e básicas como recursos disponíveis e estrutura
física, em relação ao sistema educacional deteriorado do país;
sistema que é arcaico quanto à utilização e aproveitamento do
acervo, pela inexistência da política de seleção e aquisição de
materiais. Perguntamos então, como organizar uma política
de desenvolvimento de coleções em um cenário de penúria?
Grande parte dessas bibliotecas escolares está sob
responsabilidade de prossionais desqualicados, como
professores esperando a aposentadoria, com licença
pedagógica, licença por invalidez, entre outros motivos. Tal
fato acontece devido ao descaso das autoridades e dirigentes
para com a nossa educação. Como os setores envolvidos
(conselhos de bibliotecários, associações de professores)
poderiam se mobilizar para cobrar das autoridades uma
diligência sobre a questão?
Com a situação delicada das bibliotecas brasileiras,
é preciso que se tenha uma reformulação em diversos
sentidos; a começar pela inclusão, de fato, do bibliotecário
no quadro de funcionários da escola pública, uma vez que a
Lei 12.244/2010, de direito, designa a inclusão na biblioteca
escolar do prossional bibliotecário. Supomos que esse
prossional seja qualicado, consciente, sensível e habilidoso
para adequar o acervo e o espaço físico às necessidades
estruturais e culturais das bibliotecas.
O bibliotecário faz parte do processo educacional e,
quando desempenha tarefas em conjunto com educadores, as
atividades se complementam, permitindo assim ao estudante
um maior envolvimento, entendimento e absorção das
informações. Apenas instrumentos legais (leis) são sucientes
para valorizar o bibliotecário? Um reconhecimento público
por parte da sociedade, sobre suas funções na educação,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
102
contribuiria para sua valorização? Portanto, alguns desaos
da biblioteca escolar no século XXI devem ser articulados e
considerados.
Nesse sentido, o bibliotecário escolar tem algumas
responsabilidades para garantir as ações e êxito da biblioteca,
conseguindo assim ser incluído como bibliotecário educador.
Portanto, espera-se que o prossional segundo IFLA (2006, p.
13):
analise os recursos e as necessidades de
informação da comunidade escolar;
formule e promova políticas para o
desenvolvimento dos serviços:
desenvolva políticas e sistemas de aquisição
para os recursos da biblioteca;
apoie alunos e professores na utilização de
recursos da biblioteca e de tecnologia da informação;
promova programas de leitura e eventos
culturais;
participe em atividades de planicação
relacionadas com a gestão do currículo;
participe na preparação, promoção e avaliação
de atividades de aprendizagem;
construa parcerias com organizações externas;
prepare e aplique orçamentos;
conceba planejamento estratégico;
faça a gestão e a formação da equipe da
biblioteca.
De tempos em tempos as tarefas mudam por causa
Bibliotecas e Hibridez
103
da tecnologia e de movimentos sociais, políticos ou culturais,
fazendo com que os ambientes informacionais e os próprios
prossionais também tenham que mudar.
Com os novos suportes de informação, advindo das
tecnologias de informação e comunicação, como Blogs,
Twitter, WhatsApp, Instagram, Pinterest e as redes sociais,
precisam surgir uma nova dinamização e novas práticas por
parte das bibliotecas escolares. Então, perguntamos: como
as bibliotecas escolares devem abordar as práticas de leitura,
atividades de extensão cultural, recreação e lazer, utilizando-se
dessas tecnologias?
Nesse sentido, alguns conceitos deverão precisam ser
reformulados com relação à biblioteca escolar. Esta deve
ser um centro dinâmico, como novo espaço de serviços,
que interaja com a escola, favorecendo a formação e a
aprendizagem estudantil. Inclusive nas áreas da inteligência
articial, Big Data, ciber-físicos e robotização, como também
um forte aliado no combate a disseminação das fake newse
distribuição deliberada de desinformação.
É necessário pensar além das fronteiras e o bibliotecário
deve propor atividades que estimulem o debate, a m
de que os alunos possam aprender uns com os outros, o
empreendedorismo, a internet das coisas, makerspaces,
estimular os estudantes a desenvolver habilidades voltadas
para tecnologias de informação e comunicação, ciências e
artes e fortalecer a utilização das mídias digitais.
A ação da biblioteca escolar é focar nos leitores e não
apenas no acervo, e, ainda, na realização de ações culturais
e de utilização de tecnologias para organizar, processar e
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
104
disseminar informações, como também promover a chamada
competência em informação (information literacy).
A competência em informação abrange desde os
processos de busca da informação para a construção do
conhecimento pelas habilidades em tecnologia da informação
e comunicação, passando pela retenção, recuperação,
interpretação e avaliação da informação, até o aprendizado
independente, com o objetivo de formar indivíduos para a
toda vida. Uma vez que se trata de um fator importante a ser
executado e desenvolvido no século XXI, como a biblioteca
escolar deve concretizar esse processo de competência de
informação?
Os suportes de informação tecnológicos lançam no
mercado uma avalanche de recursos de leitura, com conteúdo
informativo, cientíco, técnico, cultural e lúdico, e nos obrigam
a repensar a função da educação, o processo da aprendizagem
e, por excelência, a biblioteca escolar. Portanto, como a
biblioteca escolar pode organizar sua estrutura para utilizar
esses equipamentos para o ensino e para a aprendizagem?
Ou ainda: é o papel da biblioteca escolar se preocupar com
esse movimento dos suportes de informação tecnológicos?
A partir de tais mudanças, que abrangem a abertura às
novas tecnologias, a biblioteca poderia ingressar na chamada
sociedade da informação, conforme nos conta Fuentes Romero
(2006, p. 30): la biblioteca escolar es para los alumnos la
puerta de entrada a la sociedad del conocimiento y de la
información”.
Nessa perspectiva, a biblioteca teria a função de se
adequar a essa sociedade, inserindo crianças e jovens em
seu âmbito e também promover a chamada competência em
informação (information literacy - IL), que
Bibliotecas e Hibridez
105
abrange desde os processos de busca
da informação para construção do
conhecimento pelas habilidades em
tecnologia da informação até o aprendizado
independente, por meio da interação social
dos sujeitos. (FUENTES ROMERO, 2006, p.
30).
Nesse âmbito, a biblioteca escolar deseja se impor
como um lugar de disseminação cultural, de “encontro de
pessoas, pipocar de teclados de notebooks e dispersão de
livros” (ARENA, 2009, p. 162), de circulação de diferentes
sujeitos, sentidos, serviços e recursos (incluindo os eletrônicos).
E não se restringindo a um papel meramente didático-
pedagógico, a apoiar o programa do professor, devendo ir
além (PERROTTI, 2006), explorando sua multiplicidade, as
suas várias dimensões, citadas por Ely (2003), a saber: social,
informativa, criativa, pedagógica e recreativa; essas dimensões
signicam as funções que deveriam ser desempenhadas pelas
bibliotecas, de acordo com a International Association of
School Librarianship (1993).
Vários autores, como Fragoso (2002), Silva, Ferreira e
Scorsi (2009), retomam esses sentidos, apontando diferentes
ações a serem realizadas nas bibliotecas, como o atendimento
às necessidades dos alunos, professores e outros membros
da comunidade escolar, orientação nas consultas, leituras
e utilização da biblioteca, incentivo ao pensamento crítico
e reexivo, disponibilização de diversos recursos e serviços,
promoção da interação entre professores, bibliotecários e os
alunos, etc.
Pois de acordo com Ottonicar, Castro Filho e Sala
(2019, p. 19)
[...] o bibliotecário escolar deve conhecer
os documentos e os recursos disponíveis,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
106
disseminando as informações junto aos
usuários, atentando ao plágio e valorizando
as propriedades intelectuais. Portanto,
é importante que a biblioteca escolar
disponibilize um acervo que atenda aos
interesses e às necessidades de docentes
e discentes e, para isso, é necessário que
os serviços da biblioteca escolar estejam
integrados a um Projeto Político Pedagógico.
Dentre essas diversas funções, destacamos a mediação
da informação (do acervo), para que a biblioteca não seja
mais um lugar de imposição de leituras, fechado para sua
circulação, que impede diferentes experiências com as obras
e afeta o despertar do gosto pela leitura. Segundo Antonio e
Moraes (2008, p. 323),
o papel do prossional da informação, no
contexto da sociedade do conhecimento,
é o da mediação que favorece a interação
sujeito e objeto no desenvolvimento de
competências, mas também como facilitador
da apreensão do indivíduo.
E que de acordo com Silva (2018, p. 155) deve fortalecer
identidades e a cultura local, como legado de chegada, deve
ser instrumento de formação de cidadãos críticos”.
Assim sendo, consideramos que, lançando mão de uma
diversidade de obras, suportes informacionais e atividades
amparadas por uma nova concepção de leitura, escrita
e apreensão dos sentidos, o prossional da informação,
juntamente com os educadores, poderão fazer da biblioteca um
lugar privilegiado para um processo de ensino/aprendizagem
mais profícuo (FERRAREZI, 2010).
Nesse sentido, em relação às bibliotecas escolares,
algumas atitudes e funções deverão ser implementadas, como:
a) contribuir para fomentar a leitura e o acesso do
Bibliotecas e Hibridez
107
aluno à informação e à outros recursos para o aprendizado
das demais áreas e a formação no uso crítico dos mesmos;
b) capacidade para organizar e representar o
conhecimento expressado e difundido mediante diferentes
tipos de documentos educativos;
c) capacidade para organizar, administrar e fazer
possível o acesso aos recursos de informação;
d) amplitude para orientar, formar e informar a
comunidade educativa através de especialistas;
e) possibilidade de sustentar um novo modo de conhecer
através da alfabetização em informação;
f) capacidade para promover a leitura em suas distintas
dimensões.
Dentro dessa perspectiva, a biblioteca escolar
é essencial no sistema educacional, pois, como parte
integrante deste sistema, pode e deve colaborar de maneira
expressiva para que seus usuários possam potencializar seus
conhecimentos, ou seja, adquirir habilidades, obter, utilizar e
gerar esses saberes. Isso mostra a importância da biblioteca
no ambiente educativo. Quais atitudes e funções seriam
sucientes para demonstrar o valor da biblioteca escolar nesse
cenário delineado no século XXI, com suas novas demandas e
congurações sociais e tecnológicas?
Assim, é preciso que haja a presença de uma estrutura
adequada e com recursos humanos qualicados para que
se faça a mediação da busca da informação para todos os
leitores da biblioteca escolar. O fato é que a biblioteca escolar
pode e deve ser uma base notavelmente importante para a
escola, tanto auxiliando nas atividades culturais, de leitura,
de pesquisa, como nos serviços básicos de organização,
disseminação e acesso à informação pelos usuários. Portanto,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
108
a biblioteca escolar deve ser encarada como um centro
de recursos vivo, dinâmico e indispensável na escola e na
comunidade onde está inserida.
Para que isso se concretize, faz-se necessário
compreender a sua importância no panorama da educação e
do ensino; certamente veremos que a biblioteca escolar não é
apenas o acessório do ensino, mas sim o pilar de sustentação
daqueles que buscam potencializar seus conhecimentos na
busca pelo efetivo uso correto da informação. Que medidas
podem ser tomadas para que se reconheça, se compreenda
e se expanda com maior clareza a função de sustentação da
biblioteca escolar no sistema de ensino?
A biblioteca escolar é também um centro de produção
de textos, originais ou coletados pela rede, escritos pelos
alunos ou impressos pelos navegadores, para disseminação
pelos corredores e pelas salas de aula. Em vez de a sala de
aula invadir a biblioteca, a biblioteca escolar invade as salas
de aula. E, para isso acontecer, como a biblioteca escolar
deve proceder, que estratégias deve mobilizar?
Outro aspecto importante com que a biblioteca escolar
deve se preocupar é o desao de separar o joio do trigo.
Em que sentido? A dimensão e a circulação da informação
estão cada vez mais rápidas, é um mundo acelerado de
informação. Como a biblioteca escolar deve se preparar
para essa seleção? Não estamos falando de censura, mas
de informação necessária para o sucesso do ensino e da
aprendizagem. E o acervo das bibliotecas escolares? Como
organizá-lo e deixá-lo acessível em um mundo cada vez mais
exigente com conteúdo e cada vez mais saturado de teor?
Podemos destacar também que os projetos de biblioteca
escolar a denir terão de estar atravessados em cada caso
Bibliotecas e Hibridez
109
pelas características sociais, hábitos culturais, tradições que
fazem parte da vida da comunidade escolar e do entorno
mais imediato, rumo à atividade pedagógica e cultural que a
escola irradia. Neste cenário de projetos, devemos ter diversos
atores envolvidos, em diferentes posições e em construções
de projetos com modelos exíveis. Quem são esses atores? E
como trabalhar esse direcionamento de projetos na biblioteca
escolar, de forma que possamos envolver todos esses atores?
Por último, mas não menos importante, e o desempenho
do professor bibliotecário, ou do bibliotecário, diante de
todas essas questões? Pois, ao nosso ver, esse sujeito é um
dos que exerce o papel decisivo na amplitude de formação
das crianças e jovens estudantes. Como devemos tratar a
formação desse prossional? Aprimorar com novas técnicas
e metodologias? Ou simplesmente deixar essas iniciativas por
conta do próprio prossional? Indo mais longe, em que a
universidade tem contribuído nessa formação?
Os novos prossionais da biblioteconomia e da ciência
da informação são (e serão cada vez mais) fortemente
inuenciados pelas tecnologias digitais e sociais. A tecnologia
fará parte do dia a dia desses prossionais. A tecnologia será
sua mais forte aliada. Desde que saibamos utilizá-la com os
propósitos educacionais adequados e não deixemos que ela
seja um empecilho ou um inimigo do processo de ensino e
aprendizagem.
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Letras, 2009. p. 49-67.
SILVA, M. F. de. Desaos contemporâneos à biblioteca
escolar: as representações à edicação das identidades. In:
PIMENTA, J. S.; HUBNER, M. L. F.; HENRIQUES, H.; SILVA,
M. F. da. Biblioteca Escolar: memória, práticas e desaos.
Curitiba: CRV, 2018. p.156-167.
BIBLIOTECA ESPECIALIZADA, GIBITECA E ARQUIVO:
SENTIDOS DE PODER E INTERDIÇÃO
1
Não há dominação sem resistência:
primado prático da luta de classes, que
signica que é preciso “ousar se revoltar”.
(Michel Pêcheux. Semântica e Discurso:
uma crítica à armação do óbvio.)
Michel Pêcheux, no texto Ler o Arquivo hoje, discute
questões que envolvem a análise dos
discursos, textos e arquivos, interrogando
sobre as relações entre o aspecto histórico
e psicológico (“linguageiro” no sentido
amplo) ligado à leitura de arquivo [...].
(PÊCHEUX, 1997, p. 55).
Nesse texto, o autor problematiza o poder conferido
a alguns e negado a outros de realizar leituras e produzir
sentidos, criticando o modo como certos grupos, escolas
e até igrejinhas” (idem, p. 56) tomam para si os gestos de
leitura, práticas que têm origem desde a Idade Média, as quais
marcam uma divisão nos processos de leitura dos arquivos e,
consequentemente, nos modos da escritura, ou seja:
[...] a divisão começou no meio dos
clérigos, entre alguns deles, autorizados a
ler, falar e escrever em seus nomes (logo,
portadores de uma leitura e de uma obra
própria) e o conjunto de todos os outros,
cujos gestos incansavelmente repetidos (de
1 Agradeço a interlocução e as contribuições de Ludmila Ferrarezi
para a construção deste capítulo.
CAPÍTULO 4
Soraya Maria Romano Pacíco
https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p115-136
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
116
cópia, transcrição, extração, classicação,
indexação, codicação etc) constituem
também uma leitura, mas uma leitura
impondo ao sujeito-leitor seu apagamento
através da instituição que o emprega:[...]
sobre este apagamento de si na prática
silenciosa de uma leitura consagrada ao
serviço de uma Igreja, de um rei, de um
Estado, ou de uma empresa. (PÊCHEUX,
1997, p. 57).
A citação nos interessa, neste capítulo, para reetirmos
sobre o funcionamento das bibliotecas especializadas e
as gibitecas. As perguntas que nos movem, são: O que é
uma biblioteca especializada? Quem tem direito a produzir
discursos sobre o que pode (quais livros, quais autores) ou não
circular nesse lugar? Os gibis podem constituir uma biblioteca
especializada e ganharem lugar de prestígio nesse espaço
documental? Para responder, ou ao menos levantar a poeira
que paira sobre essas questões, temos como fundamentação
teórica a Análise do Discurso fundada por Pêcheux, em 1969,
autor que abre nosso texto e que concebe o discurso como
efeito de sentido produzido pelos interlocutores, conceito que
norteará nosso escrito.
Antes de prosseguirmos, faz-se pertinente anteciparmos
um ponto fundamental. É esperado que, pelo fato de estarmos
tratando de biblioteca, a nomeação arquivo seja muito usada;
contudo, precisamos destacar que, “arquivo”, aqui, não
se refere ao modo como os documentos são armazenados
e catalogados nas bibliotecas. Estamos nos referindo ao
arquivo, sob o ponto de vista da Análise do Discurso, tal qual
entendido por Pêcheux (1997, p. 57), “no sentido amplo
como um campo de documentos pertinentes e disponíveis
sobre uma questão”.
Bibliotecas e Hibridez
117
1 DISCURSOS SOBRE BIBLIOTECA ESPECIALIZADA
De acordo com Salasário (2000), no início do século
XXI ainda era difícil encontrar na literatura nacional algo
novo sobre conceituação de bibliotecas especializadas. Após
quase vinte anos, o cenário não mudou muito. A autora
(idem), ao escrever sobre os objetivos, funções e os conceitos
de informação das Bibliotecas Especializadas associados
ao trabalho desenvolvido na Biblioteca do Laboratório de
Mecânica de Precisão - LMP da Universidade Federal de
Santa Catarina, constatou que durante a década de noventa,
do século XX, houve pequena produção de estudos sobre
bibliotecas especializadas, com exceção dos estudos voltados
às bibliotecas eletrônicas. Segundo essa pesquisadora,
podemos encontrar três princípios teóricos relacionados ao
conceito de biblioteca especializada: “os que tratam do acervo
que a biblioteca possui e disponibiliza; os que falam do tipo
de usuário que a frequenta; os que colocam o tipo de acervo
associado ao tipo de usuário” (SALASÁRIO, 2000, p. 105).
No tocante ao acervo como fator principal da diferença
entre as bibliotecas especializadas e as demais, Salasário
(2000) cita Ashworth (1967, p. 632) que diz:
A biblioteca especializada é uma
biblioteca quase exclusivamente dedicada
a publicações sobre um assunto ou sobre
um grupo de assuntos em particular. Inclui
também coleções de uma espécie particular
de documentos.
Para Cezarino (1978, p. 238 apud SALASÁRIO, 2000,
p. 106):
As bibliotecas especializadas são unidades
pertencentes a instituições governamentais,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
118
particulares ou associações formalmente
organizadas com o objetivo de fornecer
ao usuário a informação relevante de que
ele necessita, em um campo especíco de
assunto.
Pêcheux e Gadet (2011), em La Langue introuvable,
criticam a ilusão de que os sentidos de um enunciado podem ser
controlados por meio do processo de enunciação, e escrevem:
“Contra o narcisismo da comunicação bem-sucedida, tentamos
armar o valor político e histórico da falha” (PÊCHEUX; GADET,
2011, p. 105). Os autores defendem que a língua é sujeita
à falha, ao equívoco; logo, os sentidos das palavras sempre
podem ser outros, a depender da posição discursiva ocupada
pelos interlocutores. Com base na equivocidade constitutiva da
linguagem, portanto, na sua não transparência, sustentamos
nossa interpretação em relação ao uso do adjetivo relevante”
na citação de Cezarino, em que se fornecer ao usuário a
informação relevante de que ele necessita”. O que signica
relevante? Em uma rápida consulta ao dicionário online da
Língua Portuguesa
2
encontramos: adjetivo de dois gêneros.
1. Que tem relevo, que tem importância; 2. Que se salienta,
que sobressai; 3. De grande valor ou interesse; 4. Substantivo
masculino: o essencial, o indispensável.
Se considerássemos a língua em sua transparência,
não sujeita a falhas, tampouco sujeita à posição que o
falante ocupa ao colocá-la em funcionamento, poderíamos
dizer que o acervo para as bibliotecas especializadas é
constituído, logicamente”, por um campo de documentos
muito importantes para o usuário. No entanto, com base na
Análise do Discurso, teoria que não se dobra às evidências
do sentido, posto que ela considera que a história, a luta
2 Disponível em: https://www.dicio.com.br/relevante/.
Bibliotecas e Hibridez
119
de classes e o funcionamento da ideologia afetam a língua,
não podemos deixar de trabalhar por entre a opacidade
das palavras e dos sentidos e, assim, duvidamos da lógica
ilusória da formulação de Cezarino e questionamos: Quem
tem o poder de dizer que as informações que circulam no
acervo da biblioteca especializada são relevantes? Quem
tem o poder de decidir quais sentidos eleger como sendo
de grande valor ou interesse” para o usuário? Quem tem o
poder de projetar a imagem do que seria um usuário de uma
biblioteca especializada e, a partir dessa projeção imaginária,
selecionar o que interessa a um usuário X?
Para Pêcheux (1993, p. 82),
O que funciona nos processos discursivos
é uma série de formações imaginárias que
designam o lugar que A e B se atribuem
cada um a si e ao outro, a imagem que eles
se fazem de seu próprio lugar e do lugar do
outro.
Esse jogo de formações imaginárias (PÊCHEUX, idem) e
de poder sustenta a construção das bibliotecas especializadas
e nos remete àquilo que Pêcheux anunciava em seu texto,
escrito no início da década de 1980, sobre o direito de uns
(poucos) a produzir sentidos. Segundo o fundador da Análise
do Discurso:
Por tradição, os prossionais da leitura
de arquivos são literatos” (historiadores,
lósofos, pessoas das letras) que têm o hábito
de contornar a própria questão da leitura
regulando-a num ímpeto, porque praticam
cada um deles sua própria leitura (singular
e solitária) construindo o seu mundo de
arquivos. (PÊCHEUX, 1997, p. 56).
Suscitar essas indagações faz-se pertinente porque, o
empreendimento da Análise do Discurso, segundo Pêcheux
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
120
(2011, p. 151, grifo nosso) é “Levar a sério a noção de
materialidade discursiva enquanto nível de existência sócio-
histórica”. A nosso ver, levar a sério” a construção de sentidos,
materializada em dada formação discursiva (que determina o
que pode e deve ser dito, em determinado contexto sócio-
histórico, conforme Pêcheux (1993) é responsabilidade dos
sujeitos que ocupam a posição de analistas do discurso, de
professores, de pesquisadores, de bibliotecários e de tantos
prossionais que têm o campo da língua(gem), do discurso,
da leitura e da escrita como objeto de estudo e pesquisa.
Esse percurso que estamos traçando não tem a
pretensão de dar respostas; ao contrário, pretende expor
o leitor à opacidade dos sentidos e provocar-lhe gestos de
interpretação, pois, se há uma divisão social da constituição e
da leitura do arquivo é porque alguém determina o que outrem
deve e pode ler. Isso implica, também, que alguém determina
quais áreas de estudo e pesquisa merecem uma biblioteca
especializada, cujo acesso não precisa ser para todos. Oliveira
(2013), ao pesquisar sobre bibliotecas especializadas jurídicas
assevera que a biblioteca especializada tem o acervo como
ponto nodal, pois,
[...] necessita estar sempre seletivo,
atualizado, personalizado, especializado
e não aberto ao público em geral, ao
contrário das bibliotecas públicas, escolares
e universitárias nas quais os acervos
encontram-se diversicados porque
atendem diferentes áreas do conhecimento.
(OLIVEIRA, 2013, p. 16).
A pesquisa de Oliveira nos antecipa que o campo
jurídico merece ter uma biblioteca especializada, considerando-
se o lugar de poder e de prestígio construído, socialmente,
para a área jurídica. Certamente, a área da Medicina
Bibliotecas e Hibridez
121
também deve ter sua biblioteca especializada. E na área da
Educação, qual literatura pode ser considerada “essencial”
para constituir uma biblioteca especializada? Quais autores?
Quais títulos? Qual o acervo? Quem é o usuário imaginado
para frequentar uma biblioteca especializada em Letras,
Letramento, Alfabetização, por exemplo? Podem, poderão,
ou poderiam, as gibitecas serem consideradas bibliotecas que
funcionam como agências de letramento para os sujeitos-
alunos da Escola Básica?
Sabemos que as escolhas lexicais não são neutras,
tampouco a direção argumentativa do discurso. Desse modo,
a história dos sentidos pode nos ajudar a interpretar as
questões que levantamos, muito mais, talvez, que nos ajudar
a encontrar respostas.
2 DISCURSOS SOBRE A GIBITECA
Em entrevistas com sujeitos-alunos que frequentam o
Ensino Fundamental, na região de Ribeirão Preto - SP, tivemos
acesso a sentidos que eles produziram sobre leitura. Ao
perguntarmos se eles preferem ler textos ou palavras isoladas,
eles responderam textos. Ao perguntarmos de qual tipo de
texto eles mais gostam, eles responderam gibi. Nosso foco,
no momento da pesquisa, não era reetir sobre o papel das
bibliotecas; reetíamos, na época, sobre a constituição do
sujeito-leitor nos anos iniciais de escolarização. Analisamos
sentidos sobre leitura construídos por sujeitos-alunos do
segundo ano do Ensino Fundamental (EF), a m de observar
se a formação discursiva dominante sobre leitura, qual seja, a
de que as crianças não gostam de ou não sabem ler e escrever,
nos anos iniciais de alfabetização, sustenta-se, ou não, na voz
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
122
desses sujeitos (ARAÚJO; PACÍFICO; ROMÃO, 2011).
Hoje, ao trazermos esses dados para este texto que
versa sobre biblioteca, objetivamos colocar em discurso uma
questão um tanto quanto polêmica, qual seja: poderiam as
gibitecas funcionar como bibliotecas tão valorizadas quanto
as especializadas, destinadas, especialmente, ao público
infantil que está aprendendo a ler e a escrever? Seriam esses
usuários, ou melhor, como preferimos nomeá-los, sujeitos-
leitores considerados importantes para as instituições, para
as empresas, para as políticas públicas, a ponto de haver
um reconhecimento desse público e, também, do gibi, ou se
preferirem, das Histórias em Quadrinhos (HQ) em comparação
ao que se entende por biblioteca especializada?
Segundo Vergueiro (2005), as histórias em quadrinhos
enfrentaram muitas diculdades para serem incluídas nos
acervos das bibliotecas devido à falta de reconhecimento
como leitura de qualidade e ao discurso que deixava esse
gênero discursivo à margem dos estudos cientícos. Essa
interdição deu-se no tocante às bibliotecas universitárias, bem
como às bibliotecas públicas e escolares.
Conforme estamos argumentando, sempre há vozes
autorizadas a dizer qual leitura e qual texto podem compor
o acervo de uma biblioteca. Nesse sentido, Vergueiro aponta
que:
Algumas vezes de maneira consciente, outras
por simples inércia, os bibliotecários se
recusaram a selecionar os quadrinhos para
suas bibliotecas por entenderem que eles
não se adequavam aos critérios de qualidade
que haviam denido para seus acervos. No
entanto, isto não aconteceu porque esses
prossionais eram mal intencionados:
a prática bibliotecária desenvolve-se no
Bibliotecas e Hibridez
123
emaranhado das relações sociais que
caracterizam um determinado agrupamento
humano e aqueles que atuam em serviços
de informação são tão inuenciados pelas
idéias dominantes na sociedade quanto as
pessoas a que servem. (VERGUEIRO, 2005,
s/p.).
Entretanto, esse cenário começou a ser recongurado,
segundo o autor, no início da década de 1980, quando uma
instituição pública de Curitiba decidiu fundar a primeira
gibiteca, um neologismo que mescla a forma como as revistas
de histórias em quadrinhos são tradicional e carinhosamente
referidas no país gibis -, com as unidades de informação -
bibliotecas (VERGUEIRO, 1994).
Com o surgimento da Gibiteca de
Curitiba, cunhava-se o termo genérico
para denominar qualquer biblioteca que
colocasse as histórias em quadrinhos
como o centro de sua prática de serviço de
informação e que seria então utilizado em
todo o país. (VERGUEIRO, 2005, s/p.).
Essa iniciativa teve sucesso e, devido à grande
frequência dos usuários, outras bibliotecas públicas, no Brasil,
também começaram a criar espaços especícos para as
gibitecas. Vergueiro (idem) destaca a Gibiteca Henl, órgão
do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria
de Cultura do município de São Paulo, inaugurada em 1991
e possuía, naquela época, o maior acervo do país, com mais
de 100 mil exemplares.
Retomando Pêcheux (1997), é importante ressaltar que
Ler o arquivo hoje foi escrito em uma época cujo prenúncio da
informática lançava seus lampejos pelo mundo, lampejos aos
quais Pêcheux não foi indiferente. Naquele momento, o teórico
que se inquietava com as questões da leitura e da interpretação,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
124
dedicou atenção especial ao fosso da incompreensão” criado
pelos cientistas em relação à reorganização do trabalho da
leitura com a chegada da linguagem articial, que se dá pelo
funcionamento das máquinas. Ao tratarmos, neste texto, de
biblioteca especializada e gibiteca, não nos propomos a reetir
sobre a divisão social do trabalho da leitura acentuada com o
aparecimento do computador, mas apoiamo-nos em Pêcheux
(idem) para observar a divisão social do trabalho da leitura
que separa os textos literários e cientícos ditos consagrados
das histórias em quadrinhos, consideradas, ainda hoje, como
uma leitura “menor”.
Apesar de ainda ser assim, as HQ estão ganhando
cada vez mais espaço na sociedade contemporânea, inclusive
os mangás têm atravessado o mundo e conquistado leitores
para além do oriente. Essa mudança de cenário também
foi constatada por Araújo; Costa; Costa (2008) que, ao
pesquisarem sobre as Histórias em Quadrinhos como recursos
didático-pedagógicos usados em sala de aula, observaram
que, apesar dos obstáculos ainda existentes em relação à
essa temática, muitos docentes, discentes e pesquisadores da
área de Comunicação e de Educação estão desenvolvendo
pesquisas em torno deste tema, contribuindo para a produção
de conhecimento.
Outro trabalho que merece ser destacado é o de
Suguimoto, Castilho e Asato (2015) que pesquisaram o
trabalho social da Gibiteca Espaço de Cultura como condutor
de desenvolvimento local para a comunidade do Jardim
Seminário, em Campo Grande MS. Com essa pesquisa, os
autores constataram que a Gibiteca funciona como “espaço
multicultural, de inclusão social e geradora de capital social”
e asseveram que:
Bibliotecas e Hibridez
125
Igualmente nota-se a inclusão de diversos
tipos de pessoas na Gibiteca, como
adultos, crianças e idosos que frequentam
o lugar, o qual oferece diversas atividades
socioculturais. Pessoas de outras regiões
da cidade se deslocam de carro, ônibus
ou moto para poder usufruir do acervo
cultural disponível à comunidade em geral.
A convivência de diferentes pessoas no
mesmo espaço faz com que as mesmas
sejam mais solidárias, criem ferramentas
ecientes para resoluções de conitos, o que
pode ser empregado em outros ambientes
de convivência e grupos diferentes.
Inclusão, segundo Oliveira (2004),
compreende um conceito de convidar a
que se aproximem aqueles que estiverem
historicamente excluídos ou deixados de
lado. (SUGUIMOTO; CASTILHO; ASATO,
2015, s/p.).
Deparamo-nos com um ponto que consideramos
primordial: as gibitecas como espaço de aprendizagem
frequentado, muitas vezes, por sujeitos que têm baixo grau de
escolaridade e/ou de letramento e buscam, nesses espaços,
eventos de letramento que lhes proporcionem desenvolvimento
em suas práticas de leitura e escrita.
A nosso ver, o contato, o manuseio e a leitura das HQ
feitos pelas crianças constroem eventos de letramento em que
valem as práticas sociais de leitura e escrita decorrentes dessa
relação leitor/texto. Todavia, não é novidade armar que a
voz das crianças nem sempre é considerada pelos adultos,
especialmente no interior de instituições conservadoras como
a escola, a biblioteca, a igreja, a família, dentre outras.
Com o objetivo de escutar o sujeito-criança, porque
defendemos a importância dessa escuta, apresentamos, a
seguir, um texto produzido por alunos do Ensino Fundamental,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
126
de uma escola pública de Ribeirão Preto. A produção escrita
ocorreu após a leitura de vários contos de fada, em sala de
aula, em que pesquisadora e alunos leram, interpretaram e
argumentaram sobre os efeitos de sentido construídos pelos
gestos de leitura (ORLANDI, 1997).
Figura 1 - Produção textual de crianças do Ensino Fundamental
Fonte: Elaborada pela autora.
Como podemos observar, neste texto, os sujeitos-
autores marcam a importância do livro para a Magali.
Queremos destacar que, após a leitura de muitos livros de
literatura infantil, os autores trazem a personagem “Magali”,
muito conhecida por fazer parte da Turma da Mônica, e a
própria “Mônica”, para defenderem a paixão pela biblioteca.
Para nós, essa escolha, dentre tantos contos de fada lidos,
indicia-nos uma identicação dos sujeitos-alunos, autores do
Bibliotecas e Hibridez
127
texto, com as HQ, identicação que não pode ser colocada
à margem pelos prossionais da Educação, professores
e bibliotecários. Isso, como estamos argumentando, tem
implicações para o reconhecimento das leituras que podem
ou não fazer parte de um acervo, da relevância, ou não, de
bibliotecas ou gibitecas. O que estamos problematizando,
desde o início deste texto é: quem tem o direito de legitimar,
ou não, determinadas leituras e autores?
Defendemos que, se os sujeitos-alunos se identicam
com as HQ, elas devem receber uma atenção das bibliotecas
escolares, das bibliotecas públicas e quiçá, serem as gibitecas
reconhecidas tal qual merecem reconhecimento as bibliotecas
especializadas. Os dados apresentados por Suguimoto,
Castilho e Asato (2015) mostram que a faixa etária dos
frequentadores da gibiteca que eles pesquisaram é de nove a
dez anos (26% e 22% respectivamente), seguidos da faixa de
seis e onze anos (13%), doze anos (9%) e, por último, quase
que se equivalem ao público das crianças de cinco anos (5%),
treze, catorze e dezenove anos (4%).
Esses dados comprovam nossa defesa de que as
bibliotecas devem investir em leituras apreciadas por crianças
a m de que esses espaços funcionem para o público infantil
como agências de letramento (KLEIMAN, 1995), do mesmo
modo que entendemos que as bibliotecas especializadas
funcionam como agências de letramento para aqueles que
buscam ampliar seus graus de letramento em relação à
Medicina, ao Direito, à História da Grécia, por exemplo, dentre
todos os campos de estudo possíveis. Isso porque, segundo
Kleiman (1995, p. 20), “outras agências de letramento, como
a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho, mostram
orientações de letramento muito diferentes”. A autora
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
128
contrapõe essas outras agências de letramento à instituição
escolar, que para ela é a principal agência de letramento
e preocupa-se apenas com a alfabetização e não com as
práticas sociais de letramento. Consideramos a função social
das bibliotecas, por isso argumentamos que elas devem
funcionar como agências de letramento que ampliem a
atuação dos sujeitos-leitores nas práticas sociais, que se dão,
na sociedade contemporânea, essencialmente, por meio da
leitura e da escrita.
Ferrarezi e Romão (2008) dão eco a sentidos que, não
raro, tendem a ser silenciados quando o tema é biblioteca,
pois elas tencionam a formação discursiva dominante que
sustenta a necessidade de investimentos para as bibliotecas,
a manutenção e atualização do acervo, a necessidade de
leituras prazerosas, no caso das bibliotecas escolares. Isso
está posto, é sabido e é indiscutível; no entanto, não são
esses critérios que garantirão a formação de leitores. Segundo
as autoras:
Inferimos que a biblioteca pode atuar
tanto estimulando a escola e os alunos a
adotarem uma prática diferente de leitura,
quanto se congurar como um espaço
repressor que agrava a situação de coerção
praticada na sala de aula, inuenciando,
assim, na relação que os alunos tem e terão
com as bibliotecas em geral, e nos sentidos
produzidos sobre ela ao longo de sua vida.
(FERRAREZI; ROMÃO, 2008, p. 141-142).
O ponto que deve ser tocado diz respeito ao modo
como a leitura e os leitores podem se constituir ou se
uma injunção que determina essa constituição. Voltamos ao
ponto de partida, isto é, a biblioteca, seja ela pública, escolar,
especializada, gibiteca, enm, poderá funcionar como
Bibliotecas e Hibridez
129
espaço discursivo não nos restringimos ao espaço físico-
para a formação de leitores se o jogo de projeção imaginária
sobre os sujeitos-leitores, autores e obras destinadas às
bibliotecas não se sustentar nessa relação desigual de poder,
como ocorre até hoje, que inclui e exclui leitores, autores e
obras de acordo com aqueles que ocupam os lugares de
poder dizer e silenciar.
Na pesquisa de Suguimoto, Castilho e Asato (2015),
a Gibiteca de Campo Grande foi construída e administrada
pelo gestor Ronilço Cruz de Oliveira, morador do bairro, e
gerenciada pela pedagoga Roseli Rodrigues de Almeida.
O grande objetivo do espaço, segundo
seu criador Ronilço Cruz de Oliveira, é
o de garantir a inclusão social para as
crianças por meios da leitura e resgatar sua
imaginação criativa. O lúdico faz parte da
educação infantil e o gibi passa a ser uma
fonte de incentivo para a aprendizagem e
inclusão social. (SUGUIMOTO, CASTILHO E
ASATO, 2015, s/p.).
Esse, provavelmente, seja o principal diferenciador que
promove a frequência dos leitores a essa gibiteca, isto é, ser
um espaço discursivo de inclusão social, no qual as práticas
de leitura e escrita, diretamente ligadas à inclusão social,
ocorrem sem as coerções citadas por Ferrarezi e Romão
(2008), proporcionando, portanto, aos sujeitos-leitores uma
relação prazerosa e signicativa com a leitura. Não uma
voz determinando o que pode e deve ser lido, mas sim, um
imaginário de sujeito-leitor que pode escolher, criar, brincar,
ler, escrever e participar das práticas sociais perpassadas pela
leitura e escrita. Importante destacar que segundo Suguimoto,
Castilho e Asato (2015), na época da pesquisa a gibiteca
contava com vinte mil gibis, livros e computadores à disposição
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
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130
dos frequentadores desse espaço.
3 BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS E GIBITECAS: ESPAÇO
DISCURSIVO DE SUJEITOS E SENTIDOS
Ao pensarmos o espaço constitutivo das bibliotecas,
concordamos com Branco (2019, p. 17) em que “a forma
histórica espaço é determinante da língua e dos sujeitos e, ao
mesmo tempo, determinada pela língua e pelos sujeitos de
cada espaço especíco”, o que nos permite argumentar que
os espaços das bibliotecas, sejam elas quais forem, incluindo-
se, aqui, as gibitecas, são regulados por questões ideológicas
e de poder, o que afeta a constituição dos sujeitos que nelas
circulam. Isso signica que as bibliotecas podem provocar nos
sujeitos-leitores o sentimento de pertença ou de exclusão à
língua, à leitura, à escrita.
Considerando o viés da exclusão, trazemos uma
interpretação muito interessante que Chartier (1999) faz ao
escrever sobre a Aventura do livro”, reetindo sobre os livros,
a leitura e as bibliotecas em tempos da era digital. O autor
aponta, criticamente, que:
Um bom leitor é alguém que evita um certo
número de livros, um bom bibliotecário é
um jardineiro que poda sua biblioteca, um
bom arquivista seleciona aquilo que se deve
refugar ao invés de armazenar. Eis aí temas
inéditos de nossa época. (CHARTIER, 1999,
p. 127).
Podemos interpretar que essa leitura de Chartier
encontra eco na formação ideológica dominante na
contemporaneidade, isto é, o descarte da informação, da
leitura, dos livros é naturalizado pelo efeito da ideologia, pois
Bibliotecas e Hibridez
131
vivemos na era da superprodução, do excesso de tudo e da
necessidade premente de seleção daquilo que pode e deve, ou
não, ser armazenado, posto que o novo está sempre à espera
para ocupar o espaço do que, de um dia para o outro, passa
a ser considerado velho, ultrapassado, obsoleto. Ao “podar
a biblioteca, o bibliotecário está selecionando aquilo que, a
partir de uma formação imaginária julga ser o que pode e
deve ser lido, naquele espaço institucional. Como fazer esse
recorte se não pela relação de forças que a alguns o poder
de selecionar e produzir sentidos e a outros a tarefa de repeti-
los?
Esse cenário pode contribuir para a criação de bibliotecas
especializadas, que Fonseca (2007, p. 53) argumenta
que elas surgiram com o extraordinário desenvolvimento da
ciência e da tecnologia. A partir do autor, podemos entender
que com a maior produção de conhecimento cientíco e
tecnológico, houve mais rápida forma de divulgação cientíca;
logo, um acúmulo de livros, revistas, folhetos e toda espécie
de material a ser catalogado, armazenado, distribuído ou
descartado, surgindo ou ampliando-se, assim, as bibliotecas
especializadas.
A respeito das Histórias em Quadrinhos, entendemos
que, se está havendo um aumento das gibitecas, ou de acervos
de gibis nas bibliotecas, isso deve-se, em parte, ao fato de
que, como assevera Vergueiro (2005, s/p.):
Muitos bibliotecários brasileiros estão,
aos poucos, descobrindo que, para
proporcionar melhor serviço aos amantes
dos quadrinhos nas gibitecas é necessário
conhecer a fundo tanto as características
do meio de comunicação de massa como
do próprio leitor de quadrinhos, de modo a
poder realizar de maneira adequada todas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
132
aquelas atividades que envolvem a seleção,
coleta, aquisição, tratamento, disseminação
e preservação desses materiais.
Queremos destacar, em consonância ao autor, a
necessidade que se impõe ao bibliotecário de conhecer o leitor
de quadrinhos, que permaneceu à margem dos espaços de
leitura por muito tempo. De modo similar ao que ocorre com
o bibliotecário responsável pelas bibliotecas especializadas,
que busca conhecer seu público-leitor, essa condição impõe-
se para todo bibliotecário, incluindo-se, com o mesmo grau de
relevância, os leitores de gibis. O ponto que voltamos a insistir
é: qual a imagem construída para e sobre esse ou aquele
leitor para que haja maior ou menor grau de importância em
relação às obras e autores que podem ou não compor uma
biblioteca?
Desde o início deste capítulo, marcamos nossa liação
teórica à Análise do Discurso, por isso, os sentidos sobre
biblioteca especializada, gibiteca e arquivo seguiram o curso
aqui construído. Segundo Pêcheux:
A análise de discurso não pretende se instituir
em especialista da interpretação, dominando
“o” sentido dos textos, mas somente construir
procedimentos expondo o olhar-leitor a
níveis opacos à ação estratégica de um
sujeito (tais como a relação discursiva entre
sintaxe e léxico no regime dos enunciados,
com o efeito do interdiscurso induzido nesse
regime, sob a forma do não-dito que
emerge, como discurso outro, discurso de
um outro ou discurso do outro). (PÊCHEUX,
1999, p. 14).
Por ser assim, defendemos que os sujeitos-leitores
têm o direito de sempre estarem expostos à opacidade
dos sentidos, ao discurso outro e ao discurso de um outro,
Bibliotecas e Hibridez
133
seja na escola, na biblioteca ou em qualquer agência de
letramento ou instância social. Defendemos, também, que
todas as leituras são possíveis e que os leitores tenham acesso
a uma multiplicidade de textos e sentidos, o que signica
problematizarmos a relação de forças que determina quem
pode dizer o que deve ou não ser lido, em determinada época
histórica, e em determinado espaço.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Coracini (2007), ao reetir sobre o modo como o ensino
de língua pode provocar o sentimento de estranhamento no
sujeito-aluno, fazendo com que o ensino da chamada língua
materna se transforme em língua madrasta, escreve:
[...] Apre(e)nder uma língua (estrangeira-
materna, materna-estrangeira), incluindo-
se a “língua da escola”...não signica
aprender formas, estruturas, repetir
palavras..., mas penetrar em discursividades,
...constituir-se do, pelo e no outro... E dessa
experiência “nasce” o sujeito, em constante
movimento, em constante mutação...
(CORACINI, 2007, p. 146).
Nosso objetivo, neste capítulo, não foi discursivizar
sobre ensino de língua, mas valemo-nos da citação de Coracini
para defender que o sujeito-leitor que frequenta todo tipo de
biblioteca deve “penetrar em discursividades” para poder
constituir-se como leitor. Se as bibliotecas têm uma função
social, a formação de leitores deve ser a principal, pois, a nosso
ver, é muito reducionista aceitar que as bibliotecas funcionem
somente como espaços geográcos que armazenam livros
selecionados por alguns e para alguns.
Defendemos que as bibliotecas devem funcionar como
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
134
espaços discursivos em que sujeitos e sentidos possam se
constituir, se (trans)formar e, assim, questionar, por exemplo,
por que ler ou não ler Paulo Freire e Marx, no Brasil do século
XXI. Esses autores, que circulam em bibliotecas do mundo
todo, podem constituir o arquivo de bibliotecas públicas,
universitárias, ou bibliotecas especializadas em Educação e
Ciências Sociais, ou não? Os gibis podem, ou não contribuir
para a alfabetização e as práticas de letramento de milhares
de crianças, jovens e adultos, funcionando como porta de
entrada para que esses sujeitos passem a frequentar outras
bibliotecas, futuramente? Quem pode dizer o que pode e
deve ser lido? Eis as questões que nos propusemos a lançar
em discurso, neste capítulo.
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BIBLIOTECA PÚBLICA E SOCIEDADE: ESPAÇOS DE
INTERAÇÃO SOCIAL E EMPODERAMENTO
1 INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a biblioteca é a instituição habilitada
para registrar, organizar, analisar, representar e disseminar
a informação de forma que permita a sua recuperação.
Quando se pensa no contexto da sociedade da informação,
essas características são potencializadas com as competências
tecnológicas condizentes com as demandas sociais.
A informação, nos últimos anos, em se tratando
de sociedade da informação, incorporou aspectos de
efemeridade e urgência permeados pelo paradigma da
tecnologia da informação (CASTELLS, 2009), que assume
algumas características fundamentais como: o entendimento
da informação como sua matéria-prima; a informação
como parte integrante de toda atividade humana; o
predomínio das redes de compartilhamento; a exibilidade
e o desenvolvimento tecnológico. Pensar esses aspectos
no contexto das bibliotecas públicas, mesmo com todas as
diculdades que essas enfrentam, que envolvem questões de
gestão e manutenção de serviços, dentre outras, é pensar um
ambiente informacional que precisa se reinventar perante as
demandas modernas.
CAPÍTULO 5
Maria Cleide Rodrigues Bernardino
h
ttps://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-88-0.p137-164
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
138
É importante ressaltar que, para a compreensão
dessas questões, é fundamental o entendimento da imagem
da biblioteca pública perante a sociedade. Essa imagem
é resultado de estereótipos, falta de investimentos, de
bibliotecários e de políticas públicas. Outro aspecto relevante é
o lugar que ocupa o usuário da informação nestas bibliotecas.
O usuário compõe a dimensão ambiental especíca, sendo
fundamental, o estudo de seu comportamento e percepções,
principalmente, a percepção que ele tem sobre a biblioteca
pública (BERNARDINO, 2013).
A discussão sobre a imagem organizacional da
biblioteca pública é um aspecto importante para se entender
questões voltadas para a atuação local desse equipamento,
principalmente no que diz respeito aos aspectos de interação
social e empoderamento da comunidade local e da biblioteca.
Esta imagem é construída a partir da percepção das pessoas
sobre a biblioteca pública e envolve todos os atores que
atuam diretamente com a organização e suas dimensões de
ambiente geral, como bibliotecários, auxiliares, funcionários
de um modo geral, usuários e comunidade não usuária.
Para se construir a imagem da organização da biblioteca, é
necessário, primeiramente, estudar os ambientes dimensionais
que a envolve e “[...] vericar seu estado corporativo no que
se refere às três variáveis corporativas” (VILLAFAÑE, 1998,
p. 43), são elas: a autoimagem, a imagem intencional e a
imagem funcional. Este estudo é previsto no planejamento da
unidade de informação que dene a orientação estratégica
da gestão da biblioteca pública.
A gestão estratégica de uma organização
como uma biblioteca pública começa
obrigatoriamente pela denição da melhor
estratégia para o cumprimento dos seus
objetivos. Ela deve se comunicar de forma
Bibliotecas e Hibridez
139
integrada com a política da instituição.
(BERNARDINO; SUAIDEN; CUEVAS-
CERVERÓ, 2015, p. 7).
A orientação estratégica deve focar na imagem
corporativa da biblioteca, que vai, por sua vez, envolver
questões voltadas à comunicação e o relacionamento da
instituição com a sua comunidade, que criará a reputação
corporativa da organização. Argenti e Forman (2002)
armam que a reputação corporativa é denida a partir dos
conceitos de identidade corporativa e de imagem corporativa.
Para os autores, a reputação de uma organização depende
da identidade dessa organização, da coerência estabelecida
entre as imagens percebidas pelos diferentes grupos que
se relacionam com a empresa nas diferentes dimensões
ambientais e pelo alinhamento entre a identidade e a imagem
percebida.
Para constituir a biblioteca como espaços de interação
social e empoderamento local é preciso, primeiramente,
realizar a auditoria da imagem corporativa da biblioteca.
Para Villafañe (1998, p. 48) a auditoria de imagem é “Um
procedimento para a identicação, análise e avaliação de
recursos de imagem de uma entidade, [...] melhorar os seus
resultados e fortalecer o valor de sua imagem pública”.
A auditoria auxilia no conhecimento e reconhecimento
dos fatores internos e externos da biblioteca, da comunidade
e de suas potencialidades para, por m, traçar estratégias de
atuação centrada no usuário. Sobre a auditoria, Bernardino,
Suaiden e Cuevas-Cerveró (2015, p. 8) armam que será
uma “[...] espécie de radiograa e facilitará o posicionamento
da organização no mercado. [...] determinará o seu
posicionamento perante a sociedade da informação”.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
140
Assim, de posse do relatório da auditoria, a gestão
construirá um documento norteador para os produtos e serviços
oferecidos, sem esquecer de incorporá-los ao dia-a-dia da sua
comunidade, ou seja, conhecer suas potencialidades e trazê-
los para junto da biblioteca não somente como consumidores,
mas como produtores de serviços e informação. Dessa
forma, estabelece-se conexões entre a comunidade usuária a
biblioteca e institui-se um relacionamento mais íntimo e forte,
produzindo, nesta comunidade, o sentimento de pertença.
E será o estado de pertencimento local da comunidade
usuária com a biblioteca pública que construirá as diretrizes
do empoderamento, tanto da comunidade, como da própria
biblioteca.
O entendimento de território dá-se a partir da
valorização do espaço, no caso a biblioteca pública, e do
reconhecimento deste ambiente como pertença da própria
comunidade. Como resultado, tem-se um equipamento público
empoderado, por estar legitimado pela sua comunidade, e,
por sua vez, essa mesma comunidade sente-se empoderada
por estar incorporada ao espaço.
Para lograr êxito é necessária a compreensão da
biblioteca como um espaço democrático de construção de
saberes, formado pelos diferentes atores sociais, uma gestão
participativa e em diálogo constante com a comunidade.
2 BIBLIOTECA PÚBLICA, PERTENCIMENTO E
EMPODERAMENTO LOCAL
Entende-se as bibliotecas públicas como espaços
democráticos voltados para o desenvolvimento de atividades
culturais, informacionais, educacionais e de interação com a
Bibliotecas e Hibridez
141
comunidade usuária. Como um espaço democrático, necessita
estar em contínuo diálogo com a comunidade.
É preciso também entendê-las como espaços híbridos.
Sobre espaços híbridos, Santos (2008, p. 192) arma que
esses se constroem a partir
[...] do entrelaçamento das instâncias
comunicacionais presenciais, estabelecidas
a partir da existência física, concreta, face-a-
face, e virtuais, instituídas em determinados
ambientes em redes de comunicação
digitais.
No caso das bibliotecas, o conceito está atrelado
à disponibilização de diferentes documentos em formatos
variados e a interface entre eles. Em se tratando das bibliotecas
públicas, além do acervo, essa diversidade também se observa
na comunidade usuária e nas relações entre a biblioteca e os
usuários. Silva (2017, p. 24) conclui que sob esse viés
[...] a hibridez, enquanto perspectiva de
inclusão sociocultural, participa de tal
transição na medida em que volta o trabalho
das bibliotecas públicas para a gestão da
informação baseada no desenvolvimento de
comunidades.
A autora arma que em ambientes assim possibilita-se
o exercício da democracia.
O empoderamento é um viés previsto dentro das
relações estabelecidas a partir das Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC). Gaved e Anderson (2006 apud SANTOS,
2008, p. 117),
[...] denem três estruturas chave
independentes para o estabelecimento e
sustentabilidade de iniciativas envolvendo
TIC: (1) recursos nanceiros, (2)
empoderamento comunitário e impacto
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
142
socioeconômico, e (3) operações ecientes e
sistemas de suporte.
Sobre o empoderamento comunitário, aspecto que
se aborda de maneira mais amiúde neste trabalho, envolve
tanto questões individuais quanto coletivas. Empoderar é
reconhecer as habilidades e conhecimentos da comunidade,
e é instrumentalizado pelas estratégias de interação e atuação
local. Costa (2000, p. 42) arma que o
Empoderamento é o mecanismo pelo qual as
pessoas, as organizações e as comunidades
tomam controle de seus próprios assuntos,
de sua própria vida, de seu destino, tomam
consciência da sua habilidade e competência
para produzir, criar e gerir.
Tomar controle, reconhecer-se como parte dessas
engrenagens, tomando consciência de suas potencialidades,
habilidades e conhecimentos. E como isso se no universo
das bibliotecas públicas? Tanto do ponto de vista individual
como coletivo, em que se incorporam movimentos sociais
ou instituições, os parâmetros para o empoderamento a
partir da construção, primeiramente, de uma autoimagem
positiva, que conduzirá a uma imagem corporativa, no caso
das organizações; no desenvolvimento de habilidades de
autorreexão crítica; parâmetros que levem à consciência e
coesão de grupo; e condições que fortaleçam a tomada de
decisões coletivas e uma ação estratégica.
Para as bibliotecas públicas, é o olhar para dentro e
para fora. Olhar suas condições, estrutura, autoconhecimento
e para o seu entorno. O empoderamento se dará alicerçado
aos aspectos de transformação social. Sobre como o
empoderamento pode se manifestar nas comunidades,
Oakley e Clayton (2003, p. 12, grifo meu) armam que,
Bibliotecas e Hibridez
143
De forma concreta, o empoderamento pode
se manifestar em três grandes áreas: o poder
como maior conança na capacidade
pessoal para levar adiante algumas
formas de ação; o poder como aumento
das relações efetivas que as pessoas
desprovidas de poder podem estabelecer
com outras organizações; o poder como
resultado da ampliação do acesso aos
recursos econômicos, tais como crédito e
insumos.
Tomando emprestado o pensamento de Oakley e
Clayton (2003), arma-se que, ao conhecer a comunidade e
suas potencialidades, gera-se maior conança na capacidade
individual e coletiva do grupo; que, com o aumento das
relações afetivas do grupo, estabelece-se relações da
biblioteca com a sua comunidade; e que isso leva à ampliação
do acesso aos recursos, incluindo os informacionais, que
levam a muitos outros. É a partir da construção de uma
política de territorialidade que se constrói os parâmetros de
empoderamento da biblioteca pública como organização e
da sua comunidade.
E isto será possível a partir do reconhecimento
das potencialidades e realidades locais
que contribua para a promoção humana,
integrando culturas e claro, promovendo o
empoderamento dos grupos que compõem
a comunidade usuária. Esta ação incentivará
o desenvolvimento econômico e social da
comunidade usuária. (BERNARDINO, 2017,
p. 120).
De posse das informações, constrói-se a política de
atuação local com o objetivo de empoderar o equipamento
público e a sua comunidade. Essa política não pode deixar
de lado os parâmetros de territorialidade social e, sobretudo,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
144
a incorporação de um novo conceito de biblioteca pública no
contexto da sociedade da informação.
Jaramillo e Montoya Ríos (2005) chamavam a
atenção para a revisão conceitual da biblioteca pública, mais
voltada para as demandas modernas da sociedade. Para as
autoras, este novo conceito deve englobar de forma articulada
a missão social e cultural da biblioteca pública. Jaramillo e
Montoya Ríos (2005) propõem que a biblioteca pública seja
espaço de formação da identidade individual, com suas
funções alicerçadas na criação de estratégias que possibilitem
aos usuários o exercício da cidadania, através do acesso à
informação, construção do conhecimento, participação social,
acesso à cultura e à educação, e participação colegiada.
Assim, pensa-se na biblioteca como um espaço amplo
e democrático, com um forte potencial para a realização de
intervenções sociais que possam contribuir de forma direta
ou indireta para a melhoria da qualidade de vida da sua
comunidade. Essa é uma concepção que coaduna fortemente
com os aspectos relativos ao estado de pertencimento da
comunidade usuária e de empoderamento.
Alicerçada na sociedade da informação, a biblioteca
pública está pautada no paradigma tecnológico e social.
Neste aspecto, Bernardino (2018, p. 2553) conclui que,
[...] é crucial que a sociedade, em seus
mais diversos segmentos de atuação,
possa consolidar uma política que garanta
ao cidadão o acesso à informação e ao
conhecimento. Neste sentido, a biblioteca
pública como uma instituição que produz,
processa, armazena e dissemina a
informação e que atua no contexto social,
político, econômico, comunicacional e
prossional, pode e deve construir uma
política de atuação local, voltada para
Bibliotecas e Hibridez
145
o estabelecimento de relações entre a
comunidade e a biblioteca. Essa relação
garantirá a interação entre o conhecimento
armazenado e disposto no acervo físico
ou não da biblioteca e a sua comunidade
usuária.
Esta é uma decisão da gestão da biblioteca pública.
Pensando nos aspectos de territorialidade e compreendendo
o moderno conceito de bibliotecas híbridas que, além da
relação direta com o suporte e tipo de acervo disponibilizado,
também seja alicerçado nas relações sociais com a sua
comunidade, que garanta que essa participe das decisões da
biblioteca como organização, que esta irá incidir sobre a
própria comunidade.
3 PARADIGMA TECNOLÓGICO E SOCIAL DA BIBLIOTECA
PÚBLICA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Suaiden (2000) observou que o processo de globalização
exige das bibliotecas públicas a adoção de um modelo de
desenvolvimento sustentável, pautado nos paradigmas
tecnológico e social. Dentre as estratégias, é preciso “[...] criar
uma interação adequada com a comunidade e implantar
produtos que de fato facilitem o acesso à Sociedade da
Informação” (SUAIDEN, 2000, p. 57).
A integração das práticas, serviços, relacionamento,
políticas e ações culturais alinhada às TIC e ao paradigma
social. Aliás, é importante ressaltar que, conforme pontua
Meneses-Tello (2013), a base teórica do paradigma social é a
relação existente entre biblioteca e sociedade.
Diferenciar uma biblioteca pública como
instituição ou agência com perspectiva
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
146
sociológica tem importância porque ambos
os conceitos denotam um nível no marco da
estrutura social. (MENESES-TELLO, 2013, p.
157).
O paradigma tecnológico em que se abriga a sociedade
da informação é elemento essencial para a sobrevivência das
bibliotecas públicas. Entretanto, é importante ressaltar que
não se pode ser ingênuo e acreditar que a tecnologia resolverá
todos os problemas das bibliotecas públicas brasileiras. Não
quando ainda uma distância muito grande, em se tratando
do panorama das bibliotecas públicas, entre essas instituições
e as condições ideais de atuação na sociedade.
Castells (2009) questionava a falta de controle técnico
ou político do uso da internet, e que a rede não substitui as
relações sociais da sociedade real. Outro aspecto que se
pontua aqui é o fato de que não uma universalização da
tecnologia nas bibliotecas públicas. Pelo contrário, uma
grande lacuna que, infelizmente, coloca as bibliotecas no que
se pode chamar de ostracismo.
Este ponto precisa ser levado em consideração.
uma necessidade veemente da biblioteca posicionar-
se politicamente, exigindo de seu mantenedor, recursos
imprescindíveis para a sua sobrevivência na sociedade da
informação. Machado, Elias Júnior e Achilles (2014, p. 119)
armam que,
[...] o termo qualicador ‘público’, aplicado
às bibliotecas é utilizado também na sua
concepção ampliada que desloca o ‘público’
de um espaço institucional e delimitado
ao Estado, para outro bem mais uido,
construído a partir de ações coletivas e
cotidianas.
Nesse sentido, os autores armam que esse termo
Bibliotecas e Hibridez
147
agrega valor de compartilhamento do espaço informacional.
O que signica que a biblioteca pode e deve congregar ações
integradas que envolvam educação, cultura, lazer, política
etc., com atividades feitas e voltadas para a sua comunidade.
[...] nesse caso a biblioteca pública não se
restringe a instituição estatal, propriedade
que faz parte integrante do Estado. Estas
bibliotecas se reconhecem como espaços
públicos de cultura e educação e são
criadas e mantidas por pessoas, coletivos
ou instituições privadas, sem ns lucrativos,
comprometidas com suas comunidades.
(MACHADO; ELIAS JÚNIOR; ACHILLES,
2014, p. 119).
Isto signica pensar a biblioteca em sua amplitude,
articulando sua missão, função, objetivo estratégico, imagem
organizacional, política de empoderamento local com os
elementos constituintes da conguração social moderna,
presentes nas suas funções social, educativa, cultural e política,
e a sociedade da informação e as TIC.
Para adaptar-se à realidade brasileira, as bibliotecas
públicas ou usam a criatividade, uma gestão próxima da
comunidade, construindo interrelações e pautadas nos
paradigmas social e tecnológico, ou estão fadadas ao
esquecimento. A facilidade com que a internet abre espaço
para a informação no ambiente doméstico e particular pode
ser um elemento preocupante para a sobrevivência das
bibliotecas públicas. Porém, estudos sobre o acesso à internet
apontam ainda para uma exclusão digital.
A expansão e a inevitabilidade da internet
tornam mais dramáticas as evidências,
recorrentemente destacadas em diversos
estudos, tanto em países desenvolvidos
quanto em desenvolvimento, indicando que
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
148
as desigualdades do acesso e dos diversos
tipos de usos da internet e das outras TICS
acompanham de perto as desigualdades
sociais. Exclusão social ou exclusão digital
passam a ser termos intercambiáveis,
pois estão altamente correlacionados,
constituindo aspectos de um mesmo
problema. (OLINTO, 2010, p. 79).
Segundo dados da Pesquisa TIC Domicílios de 2018
1
,
realizada pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br), 27% dos
brasileiros ainda não tem acesso à internet e esse percentual
é ainda maior entre as classes D e E, que chega a 50%. A
biblioteca pode ser o local de acesso para esses usuários,
desde que tenha um planejamento voltado para políticas de
territorialidade e empoderamento da comunidade usuária.
Figura 1 - Pesquisa TIC Domicílios 2018
Fonte: CETIC.BR, 2018.
1 Disponível em: http://data.cetic.br/cetic/explore?idPesquisa=TIC_
DOM Acesso em: 28 ago. 2019.
Bibliotecas e Hibridez
149
Apesar dos números, a gestão não deve centrar
esforços apenas nas questões relacionadas ao acesso à
internet. É preciso pensar estratégias que respondam às
funções educacional, cultural, política e social da biblioteca.
Essas estratégias devem estar descritas na política de atuação
local voltada para o pertencimento e empoderamento.
A biblioteca pública tem um compromisso social com a
sua comunidade. Compromisso esse que está em consonância
com a missão e função social da biblioteca pública, na oferta de
serviços e produtos informacionais de qualidade, na interação
com a sua comunidade usuária. Um espaço compartilhado
para a construção de saberes, um local de apropriação de
conhecimento.
Neste sentido, entender a biblioteca pública
como um espaço que é público, é mais
do que nunca, considerar que a mesma
é o resultado de um conjunto de relações
que convergem para a conformação desse
espaço. As bibliotecas públicas, não são
espaços vazios nos quais indivíduos e
coisas (registros grácos do conhecimento,
em particular) são alocados para atender
a determinadas funções que a elas são
atribuídas, mas o resultado de um conjunto
de relações entre elementos (sujeitos e
objetos) que conformam uma espécie de
conguração, repleta de conitos e tensões,
em que os papéis atribuídos a biblioteca
pública, enquanto uma instituição social,
e as apropriações que os diversos sujeitos
fazem desses espaços estão em constante
diálogo. (MACHADO; ELIAS JÚNIOR;
ACHILLES, 2014, p. 119, grifo meu).
Diálogo com a comunidade é a palavra de ordem.
E, como todo espaço democrático, deve ter suas atividades
pautadas nas demandas sociais da sua comunidade,
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
150
atendendo às funções que desempenha na sociedade. Ofertar
atividades voltadas à cultura, ao lazer, ao aprendizado
contínuo, ser um espaço político e de reexão, é o que se
espera da biblioteca pública do Século XXI. Ela atua como
uma extensão da própria sociedade.
4 O DESAFIO DA BIBLIOTECA PÚBLICA DO SÉCULO XXI
Valentim (2016, p. 19) chama a atenção que o atual
contexto econômico, social e tecnológico “[...] impõe mudanças
signicativas no modo de atuação das bibliotecas, por essa
razão” e que por isso “[...] é necessário ampliar os papéis e as
responsabilidades, inovando constantemente e promovendo
mudanças incrementais e/ou radicais”. Luís Milanesi (2013)
também reporta a necessidade de se ‘incrementara função
básica da biblioteca pública, que é prestar informações à
comunidade, com novos recursos.
A preocupação da biblioteca pública brasileira no
Século XXI vai além do seu acervo. É a apropriação dos
espaços, é a democratização do saber, é a interação com a
sua comunidade. O acervo é apenas um veículo que auxiliará
em todo esse processo. Porém, um coadjuvante neste cenário
que tem a própria biblioteca e a sua comunidade como atores
principais.
Existem três documentos que a biblioteca pode ter como
base para uma atuação efetiva na sociedade, o primeiro é o
‘Manifesto da UNESCO para bibliotecas públicas’ (1994); o
segundo são as ‘Diretrizes da IFLA para bibliotecas públicas’
(2012); e o terceiro a ‘Agenda 2030’ (2015) da Organização
das Nações Unidas (ONU).
O Manifesto traz, além da descrição da biblioteca
Bibliotecas e Hibridez
151
pública e seu papel na sociedade, a defesa do direito ao
acesso à informação para qualquer pessoa, sem qualquer
discriminação. Orienta quanto a missão, elencando 12
missões-chave, relacionadas diretamente com a informação,
a alfabetização, a educação e a cultura; quanto ao
nanciamento, legislação e redes de bibliotecas; e quanto ao
funcionamento e gestão. O documento reconhece a biblioteca
pública como
[...] porta de acesso local ao conhecimento
- fornece as condições básicas para
uma aprendizagem contínua, para uma
tomada de decisão independente e para
o desenvolvimento cultural dos indivíduos
e dos grupos sociais (FEDERAÇÃO
INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES
E INSTITUIÇÕES DE BIBLIOTECAS;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
1994, online).
É importante ressaltar que, a primeira versão do
Manifesto foi publicada em 1949 e que destacou a função
da biblioteca pública em relação ao ensino, caracterizando
como centro de educação popular. Em 1972, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), publica a segunda versão do Manifesto sintetizando
como suas funções educação, cultura, lazer e informação. A
terceira versão foi publicada em 1994 a partir das discussões
sobre a sociedade da informação e suas implicações para o
universo das bibliotecas públicas. Assim, o texto enfatiza o
compromisso da biblioteca pública para com a democratização
do acesso às novas tecnologias de informação (FUNDAÇÃO
BIBLIOTECA NACIONAL, 2010).
O segundo documento citado é uma revisão da edição
de 2001 do The public library service: IFLA/UNECO guidelines
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
152
for developmentda Federação Internacional de Associações
de Bibliotecários e Bibliotecas (IFLA). Traz a informação como
um direito e
A biblioteca pública é o ponto e acesso,
principal e dinâmico, da comunidade,
estruturada para responder de modo proativo
a uma multiplicidade de necessidades de
informação que estão sempre em mudança.
(KOONTZ; GUBBIN, 2012, p. ix).
Com relação ao terceiro documento citado - vale
ressaltar que a IFLA juntamente com diversas organizações da
sociedade civil auxiliou na criação e revisão do texto base do
documento -, e publicou, em 2015, um programa de ação da
IFLA para o desenvolvimento através das bibliotecas intitulado
As bibliotecas e a implementação da Agenda 2030 da ONU’.
Trata-se de um conjunto de estratégias que atualiza e substitui
o Toolkit: Libraries and the UN post-2015 development
agenda’ também de 2015 (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE
ASSOCIAÇÕES E INSTITUIÇÕES DE BIBLIOTECAS, 2015).
A Agenda 2030 da ONU conta com 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) para transformar o mundo,
e a biblioteca, como organização alicerçada nos paradigmas
social e tecnológico, está comprometida com essa pauta. No
quadro a seguir, elenca-se as recomendações da IFLA e da
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB)
para as bibliotecas trabalharem a Agenda 2030.
Quadro 1 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as
Bibliotecas
OBJETIVOS DESCRIÇÃO DA ODS
AS BIBLIOTECAS APOIAM ESSE
OBJETIVO MEDIANTE A
PROVISÃO DE
Acabar com a pobreza
em todas as formas,
em todos os lugares.
Acesso público à informação e recursos
que geram oportunidades para melhorar
a vida das pessoas; capacitação para ad-
quirir novas habilidades necessárias para
a educação e o emprego;
informação para apoiar o processo de
tomada de decisões para combater a
pobreza por parte dos governos,
sociedade civil e do setor empresarial.
Acabar com a fome,
alcançar a segurança
alimentar e melhoria
da nutrição e
promover a agricultura
sustentável.
Pesquisas e dados agrícolas para que os
cultivos sejam mais produtivos e
sustentáveis; Acesso público para
produtores agrícolas a recursos em rede,
como, por exemplo, preços de mercado
local, informes meteorológicos e novos
equipamentos.
Assegurar a vida
saldável e promover o
bem-estar para todos
em todas as idades.
Pesquisas disponíveis em bibliotecas
médicas e hospitalares que apoiem a
educação e melhorem a prática médica
dos provedores de cuidados médicos;
Acesso público a informação sobre saúde
e bem-estar nas bibliotecas públicas para
contribuir com que todas as pessoas e
famílias sejam saudáveis.
Assegurar a educação
inclusiva e equitativa
de qualidade, e
promover
oportunidades de
aprendizagem ao
longo da vida para
todos.
Equipes dedicadas que apoiem a
educação na primeira infância (educação
continuada); Acesso à informação e a
pesquisa para estudantes em todo o
mundo; Espaços inclusivos onde os custos
não sejam uma barreira para adquirir
novos conhecimentos e habilidades.
Alcançar a igualdade
de gênero e
empoderar todas as
mulheres e meninas
Espaços de encontro seguros e
agradáveis; Programas e serviços
pensados para satisfazer as necessidades
de mulheres e meninas como direito e
saúde; Acesso à informação e tecnologias
que permitam as mulheres desenvolver
habilidades no mundo dos negócios.
(Continua...)
Assegurar a
disponibilidade e
gestão sustentável da
água e saneamento
para todos
Acesso à informação de qualidade sobre
boas práticas que permitam desenvolver
projetos locais de gestão da água
e saneamento.
Assegurar o acesso
conável, sustentável,
moderno e a preço
acessível à energia
para todos.
Acesso livre e seguro a eletricidade e
iluminação para ler, estudar e trabalhar.
Promover o
crescimento
econômico sustentado,
inclusivo e sustentável,
emprego pleno e
produtivo e trabalho
decente para todos.
Acesso à informação e capacitação para
desenvolver habilidades que as pessoas
necessitem para encontrar melhores
postos de trabalhos, candidatar-se a eles
e ter sucesso em melhores empregos.
Construir infraestru-
turas resilientes,
promover a industri-
alização inclusiva e
sustentável e fomentar
a inovação.
Uma ampla estrutura de bibliotecas
públicas, especializadas e universitárias
e com prossionais qualicados; Espaços
agradáveis e inclusivos; Acesso a TI C,
como por exemplo, com internet de alta
velocidade que não se encontra disponível
em todo lugar.
Reduzir a
desigualdade dentro
dos países e entre eles
Espaços neutros e agradáveis que
permitam a aprendizagem para todos,
incluindo os grupos marginalizados, como
os imigrantes, os refugiados, as minorias,
os povos indígenas e pessoas com
deciência; Acesso equitativo à
informação que promova a inclusão
social, política e económica.
Tornar as cidades e
os assentamentos
humanos inclusivos,
seguros, resilientes e
sustentáveis
Instituições conáveis dedicadas a
promover a inclusão e o intercâmbio
cultural; Documentação e conservação
do património cultural para as futuras
gerações.
Assegurar padrões de
produção e de
consumo sustentáveis
Um sistema sustentável de intercâmbio
e circulação de materiais que reduza a
geração de resíduos.
(Continua...)
Tomar medidas
urgentes para
combater a mudança
do clima e seus
impactos
Registros históricos sobre mudanças
costeiras e utilização da terra; Pesquisa
e produção de dados necessários para
elaboração de políticas de mudanças
climáticas.
Conservação e uso
sustentável dos
oceanos, dos mares e
dos recursos marinhos
para o
desenvolvimento
sustentável
Acesso difundido para informações
necessárias para orientar os tomadores de
decisão por parte dos governos locais ou
nacionais sobre temas como: caça, pesca,
uso da terra e gestão da água.
Proteger, recuperar e
promover o uso
sustentável dos
ecossistemas
terrestres, gerir de
forma sustentável as
orestas, combater a
deserticação, deter e
reverter a degradação
da terra e deter a
perda de
biodiversidade
Promover sociedades
pacícas e inclusivas
para o
desenvolvimento
sustentável,
proporcionar o acesso
à justiça para todos e
construir instituições
ecazes, responsáveis
e inclusivas em todos
os níveis
Acesso público à informação sobre
governo, a sociedade civil e outras
instituições; Capacitação nas habilidades
necessárias para compreender e utilizar
esta informação; Espaços inclusivos e
politicamente neutros para que as pessoas
possam reunir-se e organizar-se.
Fortalecer os meios
de implementação e
revitalizar a parceria
global para o
desenvolvimento
sustentável
Uma rede de instituições baseadas nas
comunidades que formam os planos de
desenvolvimento locais.
Fonte: IFLA/FEBAB, 2015
2
.
2 Disponível em: https://www.ia.org/les/assets/hq/topics/
libraries-development/documents/sdgs-insert-pt.pdf Acesso em: 29 ago.
2019.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
156
Cada uma dessas recomendações coaduna com o
entendimento da biblioteca pública no Século XXI sobre as
suas responsabilidades perante as transformações sociais,
econômicas, políticas e tecnológicas dos últimos tempos.
A biblioteca pública é essencial para
fomentar a cidadania e, assim, consolidar a
democracia de um país. Ela se constitui em
um espaço democrático, cujas diferenças
sociais, econômicas e culturais são
amenizadas. Por essa razão, é um importante
aparelho cultural que deve ser fomentado,
apoiado e subsidiado por políticas públicas
fortes que a fortaleça. (VALENTIM, 2016, p.
23).
Entretanto, o desao é maior para as bibliotecas
públicas quando se pensa nas condições destas na sociedade.
Ainda muito o que avançar. Melhorar em infraestrutura, em
contratação de bibliotecários e, sobretudo, na implementação
de políticas públicas que favoreçam a manutenção das
bibliotecas públicas e a sua democratização.
A quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura
apresenta, entre outros aspectos, a motivação para se ler e
apresenta gráco em que aponta que apenas 8% dos leitores
encontram nas bibliotecas públicas o lugar ideal.
Bibliotecas e Hibridez
157
Figura 2 - Pesquisa Retratos da Leitura - Lugares para ler
Fonte: Failla (2016, p. 198).
Além da infraestrutura tecnológica com equipamentos
diversos para o acesso à informação a todas as pessoas, é
preciso que uma política de atuação que englobe todas as
funções da biblioteca, orientada pelos paradigmas social e
tecnológico. Essa política deve prever a participação efetiva
da comunidade usuária através de estratégias que aproximem
os ODS dos objetivos, missão e funções da biblioteca.
O perl das bibliotecas contemporâneas é apresentado
por Valentim (2016) como local de acesso à informação local
e remoto através de catálogos e bases de dados; espaço de
armazenamento de conteúdos eletrônicos e digitais; como um
ambiente híbrido composto por mídias, suportes e conteúdos
impressos, eletrônicos e digitais; local de preservação
de conteúdos através da digitalização; ambiente de
desenvolvimento de competência em informação com enfoque
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
158
na aprendizagem; espaço que valorize a interatividade e
ao uso da biblioteca; local de interação entre o usuário e a
informação e de produção de informação dentre outros.
A integração das atividades às necessidades da
comunidade usuária se dará a partir do conhecimento por
parte da gestão da biblioteca pública, da sua comunidade.
É traçar diretrizes que auxiliem no atendimento aos objetivos
e perl da biblioteca do século XXI, totalmente integrada às
TIC, aos paradigmas social e tecnológico e às funções da
biblioteca.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal, em se tratando das bibliotecas públicas
contemporâneas, é pensar em um modelo que atenda às
necessidades de sua comunidade usuária. Um espaço que
acolha seus mais diferentes usuários. Pensar um espaço
democrático de compartilhamento de saberes, de exercício
da cidadania plena de seus usuários. É pensar na biblioteca
pública como ambiente agradável que contemple expectativas
e que rearme diariamente que o acesso à informação é um
direito. Um espaço de cultura, de arte, de lazer, acessível a
todos, e que possa contribuir para a melhoria da qualidade
de vida das pessoas.
A biblioteca na sociedade da informação pressupõe
um conjunto de atividades que imbricadas às TIC e com
ações integradas e dinâmicas, a transforme em um espaço
agradável, de socialização e recongurado a partir de ações
coletivas.
Aliás, a palavra de ordem é coletividade. A biblioteca
pública carrega em seu nome uma conguração que lembra a
Bibliotecas e Hibridez
159
quem atende: todos. A todos, sem discriminação de qualquer
espécie. O mais interessante é que a biblioteca pública pode
ser um local representativo das potencialidades e habilidades
da sua comunidade.
A escolha da implementação da política de território
local de atuação é uma decisão estratégica, que com o
devido monitoramento se constitui em possibilidades de
pertencimento da comunidade usuária para com a biblioteca e
de empoderamento. A pergunta a se fazer é: como empoderar
uma biblioteca pública que, mesmo em pleno Século XXI,
ainda está aquém do que espera de uma biblioteca na era da
sociedade de informação? Sim, está longe de estar preparada
para o que a sociedade espera, pois, politicamente, ainda
depende da vontade de governantes e do entendimento
acerca de sua importância na sociedade.
Através do engajamento político, é possível a
implantação e a implementação de políticas públicas, além
da promoção do diálogo com a comunidade, sobretudo,
integrando a biblioteca ao seu público. A informação, principal
matéria-prima da biblioteca, é a base da ação da coletividade,
sendo, portanto, imprescindível que haja relacionamento
entre a biblioteca e a sua comunidade usuária, de forma que
contribua, efetivamente, para a apropriação, construção e
transmissão de conhecimentos.
É importante que a sociedade possa participar,
cobrar ações e interferir diretamente na gestão dos serviços
da biblioteca pública. A biblioteca pública tem em sua
concepção conceitual um entendimento de espaço de guarda
da memória e do patrimônio da humanidade, mas também
traz herança história de desigualdades sociais que favorece
ao seu esvaziamento e obsolescência. Com ínmas políticas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
160
públicas voltadas para a democratização da biblioteca e do
conhecimento, as bibliotecas públicas cam, muitas vezes,
com viés elitista e conservador, que mais afasta os leitores que
os congrega.
Porém, pode-se armar que é um espaço em constante
reexão, tanto do seu fazer como de sua existência na sociedade.
Esta reexão leva à adoção de políticas que envolvam a sua
comunidade usuária, os serviços, o espaço e os produtos. Que
possa contribuir, sobremaneira, para a melhoria da qualidade
de vida da comunidade a qual está inserida. Que contribua
de forma efetiva para o empoderamento, não apenas da
biblioteca como organização imprescindível à sociedade,
mas o empoderamento da própria comunidade. Que cada
um possa ser parte da biblioteca e que a biblioteca possa ser
parte de cada um. Que possam estabelecer um estado de
pertencimento e dizer: agora eu vou à minha biblioteca.
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Elaine da Silva
PARTICIPAÇÃO DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS NO
DESENVOLVIMENTO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA
E INOVAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento se constitui em elemento fundamental
para a geração de ciência, tecnologia e inovação (CT&I)
(NELSON, 1993; JOHNSON 1992; EDQUIST, 1997;
LUNDVALL et al., 2002; FREEMANN; SOETE, 2008; TIDD;
BESSANT; PAVITT, 2008). Esse pressuposto evidencia a
necessidade de que a gestão organizacional passe a enfocar a
aprendizagem como processo estratégico capaz de propiciar
a adaptabilidade em tempos de transformações constantes.
Ocorre que a aprendizagem organizacional é possível a
partir da ação dos sujeitos cognoscentes, capazes de gerar
um novo conhecimento que será amplicado em âmbito
organizacional. Assim, se faz necessário conhecer os caminhos
da geração de conhecimento.
O conhecimento é um fenômeno complexo
e multidimensional que se origina a partir da razão
(pensamento) e da experiência do sujeito cognoscente.
Devido à sua imaterialidade, é impossível mensurar e traduzir
o conhecimento em unidades simples de trabalho, como
quantidade de itens produzidos, horas homem trabalhadas
ou quantidade de atendimentos realizados, por exemplo.
CAPÍTULO 6
https://doi.org/10.36311/2020.978-6
5-86546-88-0.p165-193
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
166
Questões relacionadas à produção, ao
compartilhamento e à gestão do conhecimento, esse
elemento complexo e fundamental para o desenvolvimento
da CT&I passa a integrar os enfoques de toda organização
que deseja se manter e prosperar; a chamada ‘organização
do conhecimento’, que é capaz de agir com inteligência e
criatividade à medida que “[...] renova seu estoque de
conhecimentos e pratica um vigilante processamento da
informação com vistas à tomada de decisões” (CHOO, 2006,
p. 18).
Nessa conjuntura, a abordagem sistêmica da inovação
que “[...] enfatiza a importância da transferência e da difusão
de ideias, experiências, conhecimentos, informações e
sinais de vários tipos” (MANUAL..., 2005, p. 41) passa a ser
enfocada em âmbitos organizacionais e acadêmicos. Contexto
em que muitos países, inclusive o Brasil, estruturaram a partir
da segunda metade do Século XX os chamados ‘Sistemas
Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação’ ou simplesmente
‘Sistemas Nacionais de Inovação’ (SNI), que preconizam a
atuação integrada de diferentes agentes públicos e privados,
tais como: órgãos governamentais, agências de fomento,
universidades, institutos de pesquisa e empresas (SILVA,
2018). Os agentes de um SNI mantém objetivos comuns e
dedicam-se à geração de ciência, tecnologia e inovação com
vistas à promoção do desenvolvimento organizacional, social,
econômico, cientíco e político.
No contexto de SNI, a universidade, em especial a
universidade pública, se constitui em um agente fundamental
no que tange à produção de conhecimento. A produção
do conhecimento cientíco é apresentada a partir de dois
paradigmas: i) tradicional: o conhecimento cientíco é
Bibliotecas e Hibridez
167
produzido no contexto das universidades e depois aplicado em
contextos diversos; e ii) aplicado: a produção do conhecimento
cientíco envolve diferentes atores e enfoca a aplicabilidade.
O presente capítulo discorre sobre aspectos
fundamentais de cada um dos paradigmas e alerta para a
necessidade de promover a interdisciplinaridade característica
do paradigma aplicado, e manter a autonomia cientíca da
universidade, própria do paradigma tradicional. A partir
dessa perspectiva, objetiva suscitar reexões acerca da
importância da universidade para o desenvolvimento da CT&I
e, por conseguinte, sobre o papel da biblioteca universitária
em relação aos processos de produção, compartilhamento e
gestão do conhecimento cientíco no contexto de SNI.
O presente texto não tem o propósito de fornecer
respostas, modelos ou exemplos de casos bem-sucedidos;
na realidade a intenção é provocar inquietações que levem a
reetir acerca da atuação e do protagonismo de universidades
e bibliotecas universitárias no que tange a proporcionar a
produção, compartilhamento e gestão do conhecimento
cientíco, contribuindo para o desenvolvimento da ciência, da
tecnologia e da inovação.
2 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CT&I
Segundo Morin (1999, p. 26)
[...] o ato de conhecimento, ao mesmo
tempo biológico, linguístico, cultural, social,
histórico, faz com que o conhecimento não
possa ser dissociado da vida humana e da
relação social.
Nessa perspectiva, Corsatto e Hofmann (2016)
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
168
alertam para o fato de que nesse paradigma se alteram os
direcionamentos das questões da produção do conhecimento,
da aprendizagem e também da gestão organizacional;
segundo essas autoras, o locus da inovação é transmutado
para o conhecimento e para as pessoas detentoras de
conhecimento. Nesse contexto, a organização é percebida
como
um composto de especialistas que trabalham
em conjunto, com o propósito de tornar
produtivos os conhecimentos, uma vez
que são eles os geradores de inovação
(CORSATTO; HOFMANN, 2016, p.16).
As mesmas autoras consideram ainda que existem
lacunas no que tange à compreensão da maneira como a
produção de conhecimento e sua importância para a geração
de inovações são abordadas nas teorias organizacionais.
Acredita-se que as lacunas extrapolam o contexto de
produção de conhecimento no bojo das teorias organizacionais.
Muito se tem utilizado o termo conhecimento nas mais
diferentes abordagens e contextos sem, no entanto, uma
reexão acerca do que é o conhecimento. Considera-se que,
para propor estratégias, meios e ferramentas para gerar e gerir
este que é considerado o elemento fundamental à inovação
e ao desenvolvimento, é preciso antes de tudo compreender
minimamente o quão complexo é o conhecimento.
A esse respeito Morin (1999) arma que
[...] todo conhecimento comporta
necessariamente: a) uma competência
(aptidão para produzir conhecimentos);
b) uma atividade cognitiva (cognição),
realizando-se em função da competência;
c) um saber (resultante dessas atividades).
(MORIN, 1999, p. 19).
Bibliotecas e Hibridez
169
Sendo as competências e atividades cognitivas próprias
do sujeito cognoscente e desenvolvidas por meio da atividade
cerebral deste. Ao mesmo tempo, as competências “[...]
podem desenvolver-se no seio de uma cultura que produziu,
conservou, transmitiu uma linguagem, uma lógica, um capital
de saberes, [e] critérios de verdade” (MORIN, 1999, p. 19).
Assim, todo acontecimento cognitivo
necessita da conjunção de processos
energéticos, elétricos, químicos, siológicos,
cerebrais, existenciais, psicológicos,
culturais, linguísticos, lógicos, ideais,
individuais, coletivos, pessoais, transpessoais
e impessoais, que encaixam uns nos outros.
O conhecimento é, portanto, um fenômeno
multidimensional, de maneira inseparável,
simultaneamente físico, biológico, cerebral,
mental, psicológico, cultural, social. (MORIN,
1999, p. 18).
De acordo com Burke (2016), o conhecimento se
constitui em objeto e objetivo de diferentes disciplinas tais como
História, Sociologia, Antropologia, Arqueologia, Economia,
Geograa, Política, Direito, História da Ciência, Filosoa,
Ciências Cognitivas e, ainda, estudos de comunidades
que extrapolam disciplinas acadêmicas como arquivistas,
bibliotecários e curadores de museus. Burke (2003, p. 11)
arma que “[...] lósofos concordam com os economistas e
com os sociólogos em denir nosso próprio tempo em termos
de sua relação com o conhecimento”.
No que tange a perceber o impacto do fenômeno
multidimensional conhecimento no contexto de SNI e, de
modo mais genérico, de sistemas produtivos, Gorz (2005, p.
30) defende que
O conhecimento, diferentemente do trabalho
social geral, é impossível de traduzir e de
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
170
mensurar em unidades abstratas simples. Ele
não é redutível a uma quantidade de trabalho
abstrato de que ele seria o equivalente, o
resultado ou produto. Ele recobre e designa
uma grande diversidade de capacidades
heterogêneas, ou seja, sem medida comum,
entre as quais o julgamento, a intuição,
o senso estético, o nível de formação e
informação, a faculdade de aprender e
de se adaptar a situações imprevistas;
capacidades elas mesmas operadas por
atividades heterogêneas que vão do cálculo
matemático à retórica e à arte de convencer
o interlocutor; da pesquisa técnico-cientíca
à invenção de normas estéticas.
Partindo dos pressupostos de que o compartilhamento
do conhecimento, esse elemento complexo, multidimensional,
fruto da razão e da experiência, entre os diferentes agentes
de um SNI se constitui no cerne da abordagem sistêmica da
inovação e, de que o conhecimento produzido na universidade
ou conhecimento cientíco tem papel preponderante nesse
contexto, a próxima seção se dedica a questões relacionadas
aos paradigmas da produção do conhecimento cientíco.
3 CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A produção do conhecimento cientíco, ou simplesmente
a produção da ciência, não pode ser dissociada do contexto
histórico e social. Morin (2005) alerta que é preciso reconhecer
a complexidade da ciência. De acordo com este autor,
[...] mais do que nunca, se impõe a
necessidade de autoconhecimento do
conhecimento cientíco, que deve fazer
parte de toda política da ciência, como
da disciplina mental do cientista. (MORIN,
2005, p. 21).
Bibliotecas e Hibridez
171
De maneira geral, é possível reconhecer dois
paradigmas no que tange à produção do conhecimento
cientíco. O primeiro considera que o conhecimento cientíco
é produzido no contexto das universidades e depois aplicado
em contextos diversos, tal como o organizacional. Em
contrapartida, o segundo paradigma defende que a produção
do conhecimento cientíco envolve diferentes atores e tem
desde o momento de produção, foco em sua aplicabilidade.
3.1 Paradigma 1: modo tradicional de produção de
conhecimento
O modo tradicional de produção de conhecimento
cientíco, chamado de ‘Ciência Moderna’, ‘Ciência
Acadêmica’, ‘Ciência Básicaou ‘Ciência Disciplinar’, ‘Ciência
Autointeressada’, ‘Modo 1 de Produção de Conhecimento’ ou
‘Modelo Linear’, considera que a produção do conhecimento
cientíco ocorre pela ação da universidade. Nesse paradigma,
como salientam Perucchi e Mueller (2016), às instituições de
ensino cabe criar, às empresas aplicar o que foi criado nas
instituições de ensino, e ao governo estimular a criação nas
instituições de ensino e a aplicação nas empresas por meio de
políticas, legislações e nanciamentos.
Para Merton (1974) o modo tradicional ou ‘Ciência
Acadêmica é resultado do conhecimento produzido pelos
cientistas no contexto das universidades que, depois é
aplicado em outros contextos, como o empresarial. De
acordo com este autor a meta institucional da ciência é o
alargamento dos conhecimentos certicados, e o ‘ethos’ da
ciência, é alicerçado em quatro passos imperativos, quais
sejam: a) Comunismo considera que “[...] as descobertas
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
172
substantivas da ciência são produtos da colaboração social
e estão destinados à comunidade” (MERTON, 1974, p. 45),
esse imperativo é ligado à comunicação dos resultados de
pesquisas e incompatível com denição de tecnologia como
uma propriedade privada; b) Universalismo relativo ao
caráter internacional, impessoal e virtualmente anônimo da
ciência; c) Desinteresse ao considerar que a atividade do
cientista orienta-se pela curiosidade e paixão pelo saber em
benefício da humanidade; e d) Ceticismo Organizado
consiste na suspensão do julgamento até que a análise seja
nalizada por meio de critérios empíricos e lógicos.
Gibbons et al. (1994) identicam a abordagem
acerca da produção do conhecimento cientíco centralizada
na atuação das universidades como ‘Modo 1 de Produção
de Conhecimento’. Segundo esses autores, as questões
de produção do conhecimento são denidas e resolvidas
mormente no âmbito acadêmico, marcadamente disciplinar,
“[...] caracterizado como o modo de produção característico
da pesquisa disciplinar institucionalizada em grande parte das
universidades” (GIBBONS et al., 1994, p. 11, tradução nossa).
De acordo com esses autores, no ‘Modo 1’ os problemas são
denidos e resolvidos em contexto acadêmico com disciplinas
bem delimitadas. Em complemento, Santana (2009, p. 76)
pondera que
[...] os cientistas se mantinham
independentes, controlando seu campo de
trabalho, repartindo os recursos recebidos e
estabelecendo entre eles suas prioridades,
temas e metodologias.
Bibliotecas e Hibridez
173
3.2 Paradigma 2: modo aplicado de produção do
conhecimento
A partir da segunda metade do Século XX surgem
questionamentos acerca do modo tradicional de produção do
conhecimento, e com eles se apresentam os termos de ‘Ciência
Aplicada’, ‘Ciência Estratégica’, Tecnociência buscando
ressignicar as fronteiras entre a ciência e o mercado.
Nesse contexto, um novo paradigma se apresenta,
no qual o modo tradicional de produzir conhecimento
cientíco é considerado inadequado à dinâmica social
que se estabelece a partir do que Ziman (2000) denomina
‘Ciência Pós-Acadêmica’ que é condicionada pelos interesses
sociais e comerciais. Surge a concepção de que pesquisas
cientícas e tecnológicas resultam de “[...] uma complexa
conguração das relações entre universidades, indústrias,
governo e sociedade” (GIACOMAZZO, 2015, p. 335). Neste
paradigma, a produção de conhecimento cientíco depende
não apenas de fatores internos às organizações produtoras
de conhecimento tais como as universidades, mas também de
fatores externos a elas.
À essa perspectiva, alinha-se o conceito de Hélice Triple
proposto por Etzkowitz (2009), que preconiza as interações
entre universidade, empresa e governo como primordiais
para a geração de inovação na sociedade baseada no
conhecimento. De acordo com este autor, no que tange à
produção de conhecimento cientíco
A universidade é o princípio gerador das
sociedades fundadas no conhecimento,
assim como o governo e a indústria são
as instituições primárias na sociedade
industrial. A indústria permanece como o
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
174
ator-chave e lócus de produção, sendo o
governo a fonte de relações contratuais que
garantem interações estáveis e intercâmbio.
(ETZKOWITZ, 2009, p. 2).
Uma outra abordagem acerca da produção de
conhecimento cientíco a partir da atuação de agentes
externos à universidade foi a apresentada por Sabato (1975).
O modelo, que cou conhecido como Triângulo de Sabato’,
é considerado estratégico para países em desenvolvimento
cujos setores industriais não são fortalecidos o suciente para
terem autonomia. Porquanto o modelo
[...] preconizava um relacionamento
harmônico, em que ao governo caberia
adotar um papel de liderança na promoção
dos projetos de alta tecnologia, contribuindo
com os recursos. Às universidades
e aos centros de pesquisa caberia
apoiar, fornecendo prossionais para
trabalharem nos projetos e nas empresas
privadas e entidades públicas envolvidas.
(GIACOMAZZO, 2015, p. 340).
Com uma proposta complementar ao Triângulo de
Sabato’, Dagnino (2008) defende a inclusão dos Movimentos
Sociais como um quarto vértice necessário à produção do
conhecimento que, segundo este autor, teria a função de
promover a participação de segmentos não representados
nos três vértices do ‘Triângulo de Sabato’ – governo, empresa
e universidade – na produção do conhecimento cientíco.
Santos (2000) defende o conceito de ciência pós-
moderna, que contempla o diálogo entre diferentes modos de
conhecimento, incluindo o senso comum, que não se orienta
por métodos ou disciplinas, mas integra o cotidiano.
Como contraponto ao ‘Modo 1’, Gibbons et al.
(1994) denem o ‘Modo 2’, que se orienta para a produção
Bibliotecas e Hibridez
175
do conhecimento como foco na aplicação deste. No ‘Modo
2’, o conhecimento é gerado de acordo com sua utilidade,
seja para a indústria, para o governo ou para a sociedade
em geral, porquanto “[...] não será produzido a menos que
e até os interesses dos vários agentes sejam incluídos, [...]
este é o contexto da aplicação” (GIBBONS et al., 1994 p.
2). Estes autores entendem que, no ‘Modo 2’, a produção de
conhecimento se difunde por toda a sociedade e é produzido
num contexto de maior complexidade, moldado por um
conjunto diverso de demandas intelectuais e sociais.
Assim, segundo Gibbons et al. (1994), ao ‘Modo 2’
se relacionam aspectos próprios da transdisciplinaridade, à
medida que a produção do conhecimento ocorre, desde o
princípio orientada para a resolução de problemas, a partir
de componentes empíricos e teóricos (não necessariamente
disciplinares). Além disso, os resultados são comunicados
aos participantes durante todo o processo, diferente do
‘Modo 1’, em que os resultados são comunicados por canais
institucionais (periódicos cientícos, conferências etc.).
Uma outra característica do ‘Modo 2’ diz respeito a
grupos de trabalho menos institucionalizados. As pessoas
se unem para trabalhar em projetos especícos e a rede é
dissolvida assim que o problema é resolvido (GIBBONS et
al., 1994). As equipes de trabalho são formadas não apenas
por universidades, mas também por institutos de pesquisa,
agências governamentais, laboratórios industriais, think
tanks’
1
consultorias entre outros.
Gibbons et al. (1994) entendem que o ‘Modo 2’ é mais
eciente em promover a difusão do conhecimento entre os
diferentes agentes de SNI, e isso amplica as possibilidades
1
Termo em inglês que signica ‘grupos de reexão’.
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
176
de gerar inovações e por consequência o desenvolvimento. A
ideia é corroborada por Giacomazzo (2015), que defende que
o ‘Modo 2’ busca a ruptura da estrutura linear das instituições
e associa-se ao conceito de sociedade em rede, na qual
[…] a concepção de um novo modo de
produção do conhecimento cientíco
incorpora fortemente o livre uxo de
informações em que diferentes atores,
instituições, comunidades e organizações
colaboram entre si. (GIACOMAZZO, 2015,
p. 350).
3.3 Entre o modo tradicional e o modo aplicado de
produção do conhecimento
A distinção entre os modos tradicional e aplicado de
produção de conhecimento é bastante clara, no entanto,
a realidade revela aspectos que indicam a necessidade de
convivência de ambos os modos de produção de conhecimento
na atualidade.
As relações entre universidade e empresa são
primordiais e, de acordo com Santiago e Carvalho (2011),
essas vêm sendo estabelecidas desde o início do Século
XX. Porquanto a transferência de conhecimento e tecnologia
da universidade para a indústria é uma realidade. Contudo,
na produção de conhecimento cientíco deve prevalecer a
orientação ao benefício público sobre a lógica do interesse
privado.
A presente pesquisa alerta para o fato de que, embora
seja necessário que a produção cientíca esteja alinhada com
as demandas da sociedade, e, portanto, orientada à aplicação,
a concepção de utilitarismo econômico e mercadológico
pode deixar a ciência vulnerável a leis de oferta e procura e
Bibliotecas e Hibridez
177
em consequência “[...] afetar a autonomia prossional dos
acadêmicos e o seu controle sobre a natureza e a forma
como o conhecimento é produzido e difundido” (SANTIAGO;
CARVALHO, 2011, p. 2).
Nessa perspectiva, o desao que se apresenta é a
necessidade de estimular as relações entre universidade
e empresa, seja por meio da cooperação para o uso de
infraestrutura, para a produção integrada de conhecimento
e tecnologias, ou para o compartilhamento de conhecimento
cientíco, sem contudo subjugar a produção cientíca a
interesses econômicos e mercadológicos.
4 PAPEL DA UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO
DA CT&I
Como citado anteriormente, os SNI contemplam
diferentes agentes que, de acordo com a abordagem sistêmica
devem atuar de maneira integrada, especialmente por
meio do compartilhamento de informação e conhecimento.
Dentre esses agentes, o presente capítulo tem como foco as
universidades, que se constituem em importantes agentes
produtores de conhecimento.
Cabe ressaltar que a nalidade da universidade vem
se modicando ao longo da história. De acordo com Castro
Martínez e Vega Jurado (2009), no Século XIX, se observa uma
transformação chamada por Etzkowitz e Leydesdorff (2000)
de ‘primeira revolução acadêmicaem que a universidade
até então centrada em processos de ensino – assume o papel
de instituição geradora de conhecimento, reunindo as funções
de ensino e pesquisa, tendo como princípios fundamentais
a autonomia da universidade e o nanciamento público das
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
178
atividades cientícas. Essa conguração resulta num ‘contrato
social’ entre universidade e governo na maioria dos países
desenvolvidos até o período pós-guerra.
Este contrato social foi muito exitoso [...]
constituindo a base para a formulação de
políticas cientícas com uma participação
governamental muito ativa, e no caso de
vários países, especialmente nos Estados
Unidos, contribuiu para incrementar o
nanciamento público da ciência e aumentar
tanto o número de cientistas, como a
publicação dos resultados de pesquisas.
(CASTRO MARTÍNEZ; VEGA JURADO, 2009,
p. 72, tradução nossa).
Nesse contexto, a produção do conhecimento cientíco,
tecnológico e para a inovação se caracterizava primordialmente
como uma responsabilidade da universidade. Por conseguinte,
o conhecimento produzido em âmbito acadêmico seria
apropriado a posteriori pelos ambientes organizacionais e
aplicado em seus processos, no que se convencionou chamar
de modelo linear de inovação.
Com o passar do tempo, surgem questionamentos
acerca do modelo linear de inovação, sugerindo a pertinência
de a produção de conhecimento e geração de inovação
integrarem diferentes agentes além da universidade. Esta
abordagem vai ao encontro do ‘Modo 2’ de produção de
conhecimento preconizado por Gibbons et al. (1994), em que
a produção do conhecimento deve estar relacionada à sua
aplicação, implicando “[...] para a universidade um conjunto
de transformações organizacionais orientadas diretamente
a facilitar a produção de conhecimento no contexto da
aplicação” (CASTRO MARTÍNEZ; VEGA JURADO, 2009, p.
73, tradução nossa).
Essas transformações são consideradas por Etzkowitz
Bibliotecas e Hibridez
179
e Leydesdorff (2000) a ‘segunda revolução acadêmica’, que
introduz uma terceira nalidade para a universidade: em
complemento às atividades tradicionais de ensino e pesquisa,
a universidade passa a agregar a função de atender às
demandas de conhecimento do contexto em que está inserida.
Esta mudança no contexto das universidades
se manifestou em quase todos os países,
especialmente em países desenvolvidos,
ainda que com diferentes velocidades. Não
obstante, convém advertir que o referido
processo não foi automático nem isento de
críticas e barreira por parte da comunidade
universitária. Com efeito, a participação da
universidade no desenvolvimento econômico
regional, por meio da valorização de suas
capacidades e comercialização de resultados
de pesquisas, foi interpretada como uma
ameaça para a autonomia universitária
e para o desenvolvimento das atividades
tradicionais de docência e pesquisa. Nessa
linha, alguns pesquisadores assinalaram
que o desenvolvimento da ‘terceira missão’
pode restringir a agenda de pesquisa do
acadêmico em direção a atividades com
potencial uso econômico em detrimento do
desenvolvimento aberto da ciência, ao passo
que o ensino pode ser afetado pela ênfase
excessiva no desenvolvimento de habilidades
especícas a curto prazo e orientadas às
necessidades pontuais de algum agente
econômico. (CASTRO MARTÍNEZ; VEGA
JURADO, 2009, p. 57, tradução nossa).
É importante ressaltar que a terceira nalidade atribuída
à universidade assume diferentes enfoques de acordo com a
região em que está inserida a universidade. De acordo com
Castro Martínez e Vega Jurado (2009), enquanto em países
desenvolvidos como, por exemplo países da América do
Norte e Europa, essa missão implica na vinculação com o
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
180
setor produtivo e na participação direta no desenvolvimento
econômico da região; em países em desenvolvimento como
na América Latina, a terceira missão levou a universidade
a participar mais ativamente do desenvolvimento social das
comunidades, e é chamada de ‘extensão’, completando o
chamado tripé da missão da universidade, que consiste em
‘ensino, pesquisa e extensão’. Certamente o direcionamento
à função social que a universidade assume na América Latina
resulta da necessidade de suprir vazios deixados por um
Estado ineciente.
Independente do contexto considerado, seja o presente
em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a terceira
missão requer da universidade o estabelecimento de fortes
vínculos com os diferentes agentes de seu entorno, levando-
as a se converterem em um ator decisivo nos processos de
desenvolvimento social e econômico.
Essa centralidade da universidade no contexto dos
SNI se deve ao fato de serem as universidades as maiores
produtoras de conhecimento cientíco dos países (AROCENA;
SUTZ, 2001; CHIARINI; VIEIRA, 2012). Isso porque, como
relata Leite (2006, p. 22)
[…] na maioria dos países a produção
do conhecimento cientíco ocorre
principalmente nas universidades. São elas
que detêm uma grande concentração de
pesquisadores de alto nível, responsáveis
pela realização de pesquisas cientícas e
avanço do conhecimento [...] É importante
notar que o conceito das universidades
como protagonistas dentro do cenário de
produção do conhecimento parece constituir
uma questão global.
A assertiva se conrma no âmbito de Brasil, pois
Bibliotecas e Hibridez
181
[...] É nas universidades que se realiza a maior
parte da pesquisa do País, especialmente
nas públicas, o que signica que os
docentes são responsáveis por uma parcela
signicativa da produção cientíca nacional.
Em 2014 o País contava com quase 84
mil docentes lecionando em universidades
públicas e privadas. Cerca de 60% destes
estão vinculados a instituições federais,
27% a estaduais e 13% a particulares.
(MINISTÉRIO..., 2012, p. 31).
No contexto de países desenvolvidos é possível
observar uma maior participação de empresas privadas,
instituições governamentais, civis e militares no que tange ao
desenvolvimento de tecnologia e pesquisa. Entretanto, como
salienta Schwartzman (2008, p. 2),
[…] as universidades de pesquisa são únicas
em sua habilidade para atrair e educar
pesquisadores qualicados e trabalhar
na fronteira da pesquisa cientíca, e
uma tendência crescente das corporações
privadas desenvolverem parcerias
estratégicas com universidades.
Ocorre que o investimento em conhecimento de
fronteira e por consequência seu nanciamento é realizado
basicamente por instituições públicas, muitas vezes em parceria
com agências de fomento. Assim, um ponto importante é
reconhecer as diferenças entre a universidade pública e a
universidade privada.
[...] No Brasil, por exemplo, as universidades
não formam um grupo homogêneo de criação
de conhecimento, havendo universidades
mais intensivas na geração e produção
de conhecimento cientíco e tecnológico
que outras. No entanto, categoricamente,
pode-se armar que, no Brasil, instituições
privadas de ensino superior que se dedicam
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
182
à pesquisa cientíca são raras exceções,
cando a produção de conhecimento
cientíco a cargo principalmente das
universidades públicas. (CHIARINI; VIEIRA,
2012, p. 118).
Diante do exposto, observa-se que não restam
dúvidas com relação à importância da universidade pública
como produtora de conhecimento no âmbito dos SNI,
nem tampouco quanto às suas nalidades e / ou missões
para o desenvolvimento das nações em que se inserem.
Entretanto, autores como Castro Martínez e Vega Jurado
(2009) consideram que ainda são comumente encontradas
diculdades no que tange à promoção das relações da
universidade com seu entorno socioeconômico, em especial
na América Latina.
A intensicação das relações entre universidade
e empresa ou, assumindo um escopo mais amplo, entre
universidade e o entorno socioeconômico vem sendo com
frequência abordada em políticas públicas de CT&I (SILVA,
2018) com o intuito de promover essa aproximação.
Nessa perspectiva, considera-se pertinente lançar
luz sobre a atuação das bibliotecas universitárias,
por caracterizarem-se como instituições dedicadas ao
compartilhamento de conhecimento tanto junto aos clientes
internos (comunidade acadêmica), quanto a clientes externos
(demais agentes do SNI). Assim, reetir acerca da atuação das
bibliotecas universitárias para a produção, compartilhamento
e gestão do conhecimento cientíco é o foco da próxima
seção.
Bibliotecas e Hibridez
183
5 ATUAÇÃO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS JUNTO
À PRODUÇÃO, COMPARTILHAMENTO E GESTÃO DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Como observado, o conhecimento é objeto e objetivo de
diferentes áreas tais como Filosoa, Antropologia, Economia,
Política, Psicologia, Ciências Cognitivas, entre outras. A gestão
do conhecimento, por sua vez, assume um papel central no
âmbito das organizações dos mais diferentes segmentos,
pois se reconhece que o conhecimento é fundamental para
o desenvolvimento organizacional e, por consequência,
sua gestão se faz necessária. Certamente, a organização
conceituada por Choo (2006) como Organização do
Conhecimento’ e caracterizada por ser capaz de criar
signicado, construir conhecimento e tomar decisões terá mais
condições de compartilhar informações e conhecimentos com
os demais agentes do SNI, que constituem outras empresas,
clientes, fornecedores, universidades, centros de pesquisas,
órgãos regulamentadores e outros.
Gerir conhecimento e informação é pertinente e
apropriado a qualquer tipo de organização, entretanto, no
contexto do SNI, é possível identicar instituições cujo enfoque
de atuação está na gestão da informação e do conhecimento
(GIC), tais como as bibliotecas universitárias, que constituem
foco neste capítulo.
A Gestão do Conhecimento (GC) está cada
vez mais presente nas organizações, como
uma necessidade da sociedade atual, e as
bibliotecas estão incluídas neste espectro,
por serem espaços propícios à construção
do conhecimento o que acaba por gerar
novas nomenclaturas e funções da biblioteca
moderna. (BEM; AMBONI, 2013, p. 736).
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
184
Raticando o potencial da biblioteca universitária,
Belluzzo e Silva declaram que esta
[...] implanta-se como gestora do
conhecimento e disseminadora da
informação que visa realizar atendimentos
especícos apoiando às atividades de
ensino, pesquisa e extensão, dando ênfase
ao desenvolvimento da ciência, educação e
cultura. (BELLUZZO; SILVA, 2017, p. 8).
Na abordagem contemporânea da biblioteconomia
são destacadas três vertentes, sendo a primeira relacionada
à mediação enquanto interferência intencional do prossional
no sentido de propiciar a apropriação da informação.
[...] as bibliotecas, assim, deixam de
ser simples artifícios de transferência
de conteúdos informacionais para se
constituírem em verdadeiros dispositivos
produtores de sentidos, tendo os usuários
ou leitores como sujeitos ativos do processo.
(ARAÚJO, 2014, p. 89).
A segunda vertente trata da competência em
informação, inicialmente relacionada ao ambiente
empresarial como competência no uso da ampla variedade
de recursos informacionais para a resolução de problemas,
em seguida vinculada à cidadania, correlacionada à prática
de tomar decisões relativas à responsabilidade social, e
no campo da educação representando uma importante
mudança na atuação do bibliotecário que passa a agir como
um agente educacional, assim, “[...] a biblioteca se altera,
de repositório de informações e prestadora de serviços para
uma organização aprendente, provocadora de mudanças nas
instituições em que se situa” (ARAÚJO, 2014, p. 90).
A terceira vertente é a das bibliotecas eletrônicas ou
digitais, em que o “[...] papel da biblioteca deixa de ser o
Bibliotecas e Hibridez
185
de apenas disponibilizar as informações de seu acervo,
permitindo que todos participem na construção dos conteúdos
que todos vão usar” (ARAÚJO, 2014, p. 91).
Ao considerar a abordagem sistêmica da inovação e,
por conseguinte, a centralidade do conhecimento, o papel da
universidade no contexto do SNI e os possíveis enlaces com
a abordagem contemporânea da biblioteconomia, parece
apropriado reetir acerca da possibilidade e pertinência de
bibliotecas universitárias dedicarem-se a explorar as três
vertentes supracitadas tanto junto à comunidade acadêmica
quanto junto aos demais agentes do SNI.
Nessa perspectiva, o escopo de atuação das bibliotecas
universitárias deve favorecer a formação de redes de
comunicação e desenvolvimento das comunidades a partir
do uso de metadados, interoperabilidade, web semântica e
ontologias, promovendo um espaço dinâmico que se vale
de repositórios institucionais e temáticos para a promoção
da socialização do conhecimento, elementos que presentes
em bibliotecas híbridas (SARACEVIC, 1996; SILVA; CALDAS,
2017).
Faz-se necessário que as bibliotecas
se apropriem das ferramentas atuais
disponibilizadas na Web e não se limitem
apenas a tratar, armazenar e disseminar
a informação na forma tradicional. Ao
disseminar a informação, elas devem fornecer
suporte informacional aos usuários, exercer
um papel na geração do conhecimento e
contribuir para o desenvolvimento cientíco
e tecnológico. (MARCELINO, 2009, p. 88).
Ainda acerca da atuação das bibliotecas universitárias,
Belluzzo e Silva (2017) declaram que essas se constituem
em unidades de gestão do conhecimento e disseminação da
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
186
informação, que visam “[...] realizar atendimentos especícos
apoiando às atividades de ensino, pesquisa e extensão,
dando ênfase ao desenvolvimento da ciência, educação e
cultura(BELLUZZO; SILVA, 2017, p. 8). As mesmas autoras
prosseguem destacando a responsabilidade de bibliotecas
universitárias em garantir o acesso à informação, sendo essas,
assim como as universidades
[...] pontos de convergência de ideias e
distribuição dos saberes, onde todas as
formas de conhecimento podem dialogar,
desenvolvendo as peculiaridades de cada
região onde estiverem estabelecidas.
(BELLUZZO; SILVA, 2017, p. 8).
As bibliotecas universitárias, que sempre se dedicaram
a captar, armazenar e disponibilizar conhecimento registrado,
com os avanços de TIC ocorridos a partir das últimas
décadas do Século XX, vêm se congurando também como
espaços sem paredes bibliotecas virtuais, eletrônicas e
digitais -, agregando ainda mais valor aos seus serviços, e,
por consequência, às universidades em que estão inseridas
(VIANA; MESQUITA; MOURA, 2011).
A hibridez de coleções e tecnologias em bibliotecas
universitárias é uma realidade, assim como repositórios de
conhecimento; melhorias no acesso à informação; incremento
e valorização em ambientes de conhecimento e a gestão do
conhecimento como um ativo. Os elementos supracitados
foram os princípios considerados desejáveis às bibliotecas
universitárias do m do Século XX (DAVENPORT; LONG;
BEERS, 1998) e são, na atual segunda década do Século XXI,
elementos presentes em bibliotecas universitárias tanto em
países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento.
No que tange à hibridez em bibliotecas universitárias, é
Bibliotecas e Hibridez
187
preciso reetir se além de enfocar a interação de tecnologias
tradicionais e tecnologias de informação e comunicação (TIC),
é possível e viável também uma atuação híbridaque tenha
como foco atender à comunidade acadêmica em suas funções
tradicionais junto às atividades de ensino, pesquisa e extensão
da universidade, e também assumir maior protagonismo em
processos de interação e cooperação entre a universidade
e os demais agentes de SNI no que tange à geração,
compartilhamento e gestão de conhecimento cientíco.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem e o conhecimento sempre foram
responsáveis pelas transformações e desenvolvimentos
econômico, tecnológico, cultural e social. A sociedade, e,
respectivamente, a atual situação das nações é resultado dos
esforços e descobertas, da aprendizagem e do conhecimento
gerado pelas gerações que viveram em tempos passados (LIST
apud FREEMAN; SOETE, 2008).
O conhecimento é um fenômeno complexo e
multidimensional que se origina a partir da razão (pensamento)
e da experiência do sujeito cognoscente. E a universidade, em
especial a universidade pública, se constitui em um agente
fundamental no que tange à produção de conhecimento. A
produção do conhecimento cientíco é apresentada a partir
de dois paradigmas: i) tradicional: o conhecimento cientíco é
produzido no contexto das universidades e depois aplicado em
contextos diversos; e ii) aplicado: a produção do conhecimento
cientíco envolve diferentes atores e enfoca a aplicabilidade.
Considerando as nalidades da universidade, a
saber: ensino, pesquisa e extensão, e que esta se constitui
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
188
no principal agente produtor de conhecimento no âmbito dos
SNI, ressalta-se a importância de promover uxos formais
e informais de conhecimento tanto em âmbito acadêmico,
quanto em interação e cooperação com os demais agentes
de SNI, seja o conhecimento cientíco produzido por meio da
abordagem tradicional ou da abordagem aplicada.
Nesse contexto e, considerando o pressuposto de
que houve uma importante transformação nas bibliotecas
universitárias nas últimas décadas, é pertinente avaliar
se e como as bibliotecas universitárias podem ampliar seu
escopo de atuação, passando a ocupar maior protagonismo
em processos de produção, compartilhamento e gestão do
conhecimento cientíco enfocando todos os agentes de SNI.
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Charles Oppenheim
Professor visitante na Universidade de Robert Gordon, Aberdeen,
Escócia e consultor independente. Envolvido em pesquisas
sobre bibliotecas e prossionais da informação, bibliotecas
híbridas, políticas nacionais de informação, informação
industrial, Direitos de Propriedade Intelectual relacionados a
assuntos legais, proteção de dados, bibliometria, avaliação da
qualidade da pesquisa e tendências de publicação acadêmica.
Possui cerca de 650 publicações nesses temas, dentre elas,
artigos cientícos, artigos de conferência, relatórios cientícos,
livros e capítulos de livros. É membro honorário do Chartered
Institute of Library and Information Professionals.
E-mail: c.oppenheim@rgu.ac.uk.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8195-3572.
Cláudio Marcondes de Castro Filho
Professor Livre-Docente da Faculdade de Filosoa, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, e
do Programa de Ciência da Informação na Universidade
Estadual Júlio de Mesquita Filho Marília. Possui Mestrado
e Doutorado em Ciência da Informação pela Universidade
de São Paulo e Pós-Doutorado em Redes e Biblioteca Escolar
pela Universidade Aberta de Lisboa. Pesquisador na área da
Ciência da Informação e nas temáticas: Políticas Públicas do
Livro, Leitura e Biblioteca, Geração e Uso da Informação e
Biblioteca Escolar. Presidente da Comissão Brasileira de
SOBRE OS AUTORES
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
196
Bibliotecas Escolares da Federação Brasileira de Associações
de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições.
E-mail: claudiomarcondes54@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0889-4291.
Elaine da Silva
Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp) com realização de Doutorado
Sanduíche na Universidad de Salamanca (USAL), Espanha.
Graduada em Biblioteconomia (Unesp). Autora de artigos
e capítulos de livros contemplando temas como Gestão da
informação; Gestão do conhecimento; Geração e gestão
de inovação; Políticas públicas em Ciência, Tecnologia e
Inovação (CT&I); e Sistemas nacionais de inovação. Atuou
prossionalmente como bibliotecária e consultora por mais de
dezesseis anos. Atualmente é professora no Departamento de
Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar).
E-mail: elaine.silva1@unesp.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1449-354X.
João Arlindo dos Santos Neto
Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho’ (PPGCI/UNESP/Marília), na Linha de pesquisa
Gestão, Mediação e Uso da Informação; Professor Adjunto
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade
Estadual de Londrina - UEL; Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL); Pesquisador nos
Grupos de Pesquisa Interfaces: Informação e Conhecimento da
UEL e Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional
Bibliotecas e Hibridez
197
da UNESP/Marília, ambos credenciados ao CNPq.
E-mail: santosneto@uel.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1833-911X.
Maria Cleide Rodrigues Bernardino
Doutora em Ciência da Informação, pela Universidade de
Brasília (UnB); Mestrado em Linguística, pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB); Especialização em Gerenciamento
de Bibliotecas Públicas e Escolares pela Universidade de Brasília
(UnB) Especialização em Literatura Brasileira pela Universidade
Regional do Cariri (URCA); e Graduação em Biblioteconomia,
pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora do Curso
de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA)
e do Mestrado Prossional em Biblioteconomia da UFCA;
Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação (PPGCI) da UFPB. Atua, principalmente,
nos seguintes temas: bibliotecas públicas, escolares, leitura e
formação de leitores.
E-mail: cleide.rodrigues@ufca.edu.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3812-3167.
Oswaldo Francisco de Almeida Júnior
Doutor e Mestre em Ciências da Comunicação, pela ECA/
USP. Professor Associado do Departamento de Ciência da
Informação do CECA/Universidade Estadual de Londrina.
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Professor
colaborador no Mestrado Prossional em Biblioteconomia da
UFCA. Autor de livros, capítulos de livros e artigos publicados
em revistas nacionais e internacionais. É mantenedor do site
“Infohome” (www.ofaj.com.br). Presidente da ANCIB, gestão
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
198
2018-2020. Contato: ofaj@ofaj.com.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3629-7435.
Rafaela Carolina da Silva
Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da Unesp, na linha
de Pesquisa Gestão, Mediação e Uso da Informação.
Bolsista FAPESP. Membro do Grupo de Pesquisa Informação,
Conhecimento e Inteligência Organizacional. Fez estágio de
pesquisa na Universidade de Robert Gordon, Escócia, Reino
Unido. Especialista em Psicopedagogia Institucional pela
FUNDEPE. Graduada em Biblioteconomia pela Unesp. Autora
de livros, capítulos de livros e artigos publicados em revistas
nacionais e internacionais. Dedica-se à pesquisa cientíca,
trabalhando na interdisciplinaridade dos temas: Bibliotecas
híbridas; Conceito de hibridez em bibliotecas; Desenvolvimento
social; Gestão da informação; e Desenvolvimento de
comunidades.
E-mail: rafaela.c.silva@unesp.br.
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9684-0327.
Rosângela Formentini Caldas
Docente da UNESP - Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação e Departamento de Ciência da Informação.
É membro do Conselho departamental, da Comissão de
Ações Culturais (CAC) e do grupo de pesquisa “Informação,
Conhecimento e Inteligência Organizacional”. Participou da
proposta, estruturação e reestruturação de cursos da UNESP.
Com o apoio da Capes e da Fundação Gulbenkian, realizou
pesquisas na Escola de Engenharia da Universidade do Minho/
PT e em reconhecidas instituições culturais da França, Escócia,
Bibliotecas e Hibridez
199
Inglaterra e Portugal. Foi presidente de Conselho Municipal
de Cultura e representante titular do SISEM. Tem interesse em
temas como: Cidades Inteligentes, Estruturas Culturais Públicas
e Desenvolvimento de Comunidades.
E-mail: r.caldas@unesp.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6020-9197.
Soraya Maria Romano Pacíco
Professora associada do Departamento de Educação,
Informação e Comunicação da Faculdade de Filosoa,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP. Formada em Letras,
Mestre em Linguística e Língua Portuguesa - UNESP; Doutora
em Ciências -FFCLRP/USP; Pós-Doutorado pela UNESP-
Araraquara, em 2013. Docente no curso de graduação
em Pedagogia da FFCLRP/USP e dos Programas de Pós-
Graduação em Psicologia e de Pós-Graduação em Educação,
da FFCLRP/USP. Desenvolve pesquisas sobre Leitura, Escrita,
Argumentação e Autoria. Atualmente, dedica-se ao projeto
Argumentação e Subjetivação na Escola Básica: as práticas
discursivo-argumentativas no contexto escolar. Autora de livros
e capítulos de livro sobre essas temáticas.
E-mail: smrpacico@ffclrp.usp.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2973-3254.
Sueli Bortolin
Doutorado e Mestrado em Ciência da Informação pela Unesp/
Marília. Especialização em Gestão de Unidades de Informação
e graduação em Biblioteconomia na Universidade Estadual de
Londrina (UEL). É professora Senior na UEL colaborando na
Pós-graduação em Ciência da Informação, coordena o Grupo
de Pesquisa Interface Informação e Conhecimento que
Rosângela Formentini Caldas | Rafaela Carolina da Silva
(Organizadoras)
200
atualmente acolhe o Projeto Mediação Oral da Informação e
da Literatura em ambiente digital. Organizou o livro: Fazeres
Cotidianos na Biblioteca escolar (2006 edição impressa/Polis
Editora; 2018 edição digital/Abecin).
E-mail: bortolin@uel.br.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7411-2716.
SOBRE O LIVRO
Catalogação
Lucineia da Silva Batista
CRB SP 010373/O
Normalização
Stephanie Cerqueira Silva
Capa e Diagramação
Maria José Vicentini Jorente
Stephanie Cerqueira Silva
Imagem Capa
Rosângela Formentini Caldas
Produção Gráca
Stephanie Cerqueira Silva
Assessoria Técnica
Renato Giraldi
Ocina Universitária
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
Formato
16x23 cm
Tipologia
Futura Bk BT
Futura Md BT
Papel
Pólen Soft 80g (miolo)
Cartão 250g (capa)
Tiragem
100
Impressão e Acabamento
Type Digital
Editoração
OrganizadOras
Rosângela Formentini Caldas
Doutora em Tecnologias e Sistemas
de Informação, atua como docente
no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação e no
departamento de Ciência da
Informação da UNESP
email: r.caldas@unesp.br
Rafaela Carolina da Silva
Bolsista FAPESP é mestre e
doutoranda do Programa de
s-Graduação em Ciência da
Informação da UNESP, na linha de
pesquisa Geso, Mediação e Uso
da Informação
email: rafaela.c.silva@unesp.br
Processo CAPES
Nº 23038.007497/2017-11
Programa de Pós-graduação em
Ciência da Informação
CONVÊNIO AUXPE/PROEX
Nº 565/2017
CHAMADA Nº 02/2020 -
PUBLICAÇÃO DE LIVROS
RESULTANTES DE PESQUISAS
ACADÊMICO-CIENTÍFICAS
O termo hibridez em bibliotecas tornou-se popular entre os
anos de 1980 e 2000. Destacava-se, na ocasião, por tratar a
tecnologia como um meio de auxílio às atividades realizadas
no âmbito interno institucional. Com o passar do tempo, o
tema foi sendo cada vez menos explorado no contexto de tais
unidades. Entretanto, o conceito de hibridez em si continuou
a sua trajetória nas organizações, e a sua implementação
ultrapassou as estruturas internas, alcançando os mais
variados ambientes da sociedade. Assim, é notável a lacuna
existente de novos estudos que projetem as oportunidades e as
possibilidades de interlocução das bibliotecas e da hibridez.
Com a contribuição de especialistas nas tipologias das
bibliotecas comunitária, escolar, especializada, universitária e
pública, Rosângela Formentini Caldas e Rafaela Carolina da
Silva retomam o tema de hibridez e tecem aspectos conceituais,
relacionados aos ambientes de bibliotecas, conferindo
um diálogo que se destaca enquanto cerne de múltiplas
possibilidades de atuação.
Uma obra de leitura indispensável para os prossionais que
entendem a biblioteca para além de sua estrutura física. O texto
é provocativo e apresenta a inuência das bibliotecas híbridas
como fator de representatividade para o desenvolvimento
de comunidades, conferindo novos modos de se utilizar a
tecnologia a favor da constituição de um coletivo inteligente,
demonstrando que o conceito de hibridez abrange uma rede
complexa de saberes que podem se unir e promover um novo
olhar sobre o tema.