
| Alonso Bezerra de Carvalho, Cláudio Roberto Brocanelli e Genivaldo de Souza Santos (Org.)
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Assim, no campo educacional em geral, nas reexões acadêmicas e em
qualquer ambiente que queira um pensamento reexivo, deve ser buscado,
primeiramente, o que há de próprio para, depois, caso necessário, também
pensar com o legado estrangeiro. Com isso, ao se promover reexões e
debates nesta linha visamos pensar uma ética situada como uma postura
do povo local latino-americano, que culturalmente foi educado com ideias
e pensamentos estrangeiros, em lugar de pensar o seu estar (do estar aqui).
Nesse sentido, acreditamos que reetir e articular a ética com
a educação pode nos dar a visibilidade e a compreensão necessárias para
o entendimento da realidade que nos circunda, ou seja, da situação
histórica da América Latina, repercutindo de alguma maneira nos desaos
e problemas que se enfrenta no interior da sala de aula.
Pensar em uma ética situada na educação é levar em consideração
o contexto, a história e as especicidades do ambiente que vivemos e de
como interagimos com ele e com as pessoas. Identicar-se e reproduzir
modelos, normas, ideias e práticas formados em tempo e espaço alheios
podem gerar, estar gerando ou ter gerado situações que dicultam uma
compreensão e um reconhecimento de nossas maneiras de ser. Poderíamos
dizer que a América Latina ou o povo latino-americano foi, losóca e
culturalmente, destituído de sua alteridade. Essa negação do Outro se
manifesta por meio de uma prática em que saberes, losoas, pensamentos,
pedagogias não são reconhecidas como válidas.
Pensar a educação e a ética a partir de um lugar situado, mas que
é inuenciado por outras ideias e concepções, implica e solicita um esforço
na busca de se pensar a partir de uma outra perspectiva, que contemple
outras vozes, outros protagonismos, outros “centros” de produção de
pensamento e ideias. Esse movimento não signica, em nenhum momento,
desconsiderar as produções clássicas que, secularmente, discutem
questões sobre a vida, o espírito, a natureza e o ser. Signica questionar
a visão ontológica da totalidade e, com isso, armar as particularidades,
reconhecendo a alteridade, no caso, homens e mulheres latino-americanos,
isto é, a própria América Latina, com seus problemas e desaos. Trata-se de
falar de lugares latinoamericanos e de suas realidades, movimento que não
é fácil, à medida que se contrapõe ao pensamento dominante dentro e fora
da América Latina, no qual a preocupação recai sobre o “ser”, a “essência”
e a “totalidade”.