O
s modelos de leitura documentá-
ria para indexação atualmente são estuda-
dos nas perspectivas de diferentes tipolo-
gias documentais, o que motivou o interes-
se da elaboração desta obra. As contribui-
ções oriundas das reflexões científicas,
teóricas e práticas sobre este tema consti-
tuem avanço para a área de Ciência da
Informação. A preocupação dos pesquisa-
dores, Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Carlos Cândido de Almeida do Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Informa-
ção (PPGCI), da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquista Filho”,
Campus de Marília, e Roberta Caroline
Vesu Alves, Pós-Doutoranda em Ciência
da Informação do PPGCI, também da
Unesp de Marília e financiamento CNPq,
está em demonstrar os avanços científicos
relacionados com os modelos de leitura
documentária para diferentes documen-
tos, que necessitam de indexação e
elaboração de resumos.
O resultado desta obra proporciona ao
leitor uma reflexão profícua acerca do
tema e um modo de atualização aos
profissionais, pesquisadores, professores e
estudantes da área de Ciência da Informa-
ção sobre aspectos teóricos e práticos da
indexação e, principalmente, os modelos
de leitura documentária para diferentes
documentos.
Os estudos relacionados com o proces-
so de leitura pelo indexador foram aborda-
dos e indicaram as bases teóricas e metodo-
lógicas da leitura documentária para
identificação e seleção de conceitos, diante
de variáveis sobre leitor, texto e contexto.
Também, apontam a expertise do indexa-
dor na leitura profissional.
A leitura documentária para indexa-
ção e resumos, bem como suas abordagens
teóricas interdisciplinares foram explora-
das para demonstrar os subsídios teóricos
necessários na fundamentação dos
modelos de leitura documentária. Os
aportes
teóricos e metodológicos voltados
para da Análise Documentária, que foram
abordados de modo mais contundente
abrangeram: o aboutness, conhecido
também como tematicidade, em relação
aos textos narrativos ficcionais; o conceito
de texto, seus tipos e estruturas que
permitiram a representação e recuperação
em indexação e resumos; a Semântica
Discursiva e Linguística para a indexação e
recuperação de informação; o apoio da
leitura documentária, indexação e aborda-
gens sobre conceitos na conversão de
textos em hipertextos na Web; o processo
de leitura documentária e a influência da
área de Saúde para tratamento de
documentos desta área; aspectos da temati-
cidade para o indexador; e elementos da
Semiótica peirceana na identificação e
representação de assuntos da música.
Os modelos de leitura documentária
apresentados nesta obra elucidam princi-
palmente as metodologias que fundamen-
tam procedimentos de indexação e
resumos de diferentes tipos documentos,
consequentemente, apresentam aspectos
teóricos e aplicados para identificação,
seleção de conceitos e representação. Os
procedimentos de leitura documentária
para diferentes tipos de documentos, que
foram esmiuçados, analisados e descritos
em procedimentos metodológicos de
modelos de leitura documentária estão
relacionados com aspectos da: indexação
de texto científico; indexação de Doutrina
jurídica; indexação de textos narrativos de
ficção; indexação de artigos de jornal;
elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil em prosa; análise de
assunto de acórdãos de Tribunais de
Contas; indexação dos documentos
populares de arquivo; e indexação de
fotografias apoiada por modelo semiótico.
O
s modelos de leitura documentária
para indexação, tema desta obra,
ganham diferentes enfoques em face
aos diversos documentos que necessi-
tam de representação temática. Os estu-
dos apresentados nesta obra contem-
plam abordagens teóricas e interdiscipli-
nares no âmbito da leitura documentária
e indexação, bem como as aplicações de
modelos de leitura em diferentes tipos de
documentos. Por isso, mostram a preo-
cupação atual de pesquisadores da área
de Ciência da Informação no Brasil nos
aspectos voltados para o processo de
indexação e modelos de leitura documen-
tária. A indexação inicia-se com a análise
do documento por meio da leitura docu-
mentária. Assim, se apresenta complexa
e dependente de variáveis que expres-
sam um fazer profissional e seu contexto,
além de influenciar os resultados na
recuperação da informação. Os modelos
de leitura documentária ganham notorie-
dade no âmbito da indexação, porque
orientam e clareiam seus processos
validados por teorias e práticas relacio-
nadas aos diferentes documentos
indexados, aspectos esses importantes
na identificação e seleção de assuntos
para fins de representação e recupera-
ção da informação.
Roberta Caroline Vesu Alves.
Modelos de Leitura
Documentária para Indexação:
abordagens teóricas interdisciplinares e aplicações em
diferentes �pos de documentos
Mariângela Spotti Lopes Fujita
Roberta Caroline Vesu Alves
Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
Modelos de leitura Documentária para Indexação:
abordagens teóricas interdisciplinares e aplicações
em diferentes tipos de documentos
Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Roberta Caroline Vesu Alves &
Carlos Cândido de Almeida
(Org.)
Modelos de leitura
docuMentária para indexação
Modelos de leitura
docuMentária para indexação:
abordagens teóricas
interdisciplinares e aplicações eM
diferentes tipos de docuMentos
Marília/Ocina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2020
M S L F
R C V A
C C  A
(O)
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - FFC
UNESP - campus de Marília
Diretor
Prof. Dr. Marcelo Tavella Navega
Vice-Diretor
Dr. Pedro Geraldo Aparecido Novelli
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Andrey Ivanov
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Marcelo Fernandes de Oliveira
Neusa Maria Dal Ri
Renato Geraldi (Assessor Técnico)
Rosane Michelli de Castro
Parecerista
Dr.ª Rosali Fernandez de Souza
Pesquisadora Titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Professora do
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação IBICT-UFRJ.
Ficha catalográca
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
Editora aliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Ocina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2020, Faculdade de Filosoa e Ciências
M689 Modelos de leitura documentária para indexação : abordagens teóricas interdisciplinares
e aplicações em diferentes tipos de documentos / Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Roberta Caroline Vesu Alves, Carlos Cândido de Almeida (organizadores). –
Marília : Ocina Universitária ; São Paulo : Cultura Acadêmica, 2020.
460 p. : il.
Inclui bibliograa
ISBN 978-65-86546-04-0 (Impresso)
ISBN 978-65-86546-07-1 (Digital)
1. Análise documentária. 2. Análise de conteúdo (Comunicação). 3. Indexação. 4.
Leitura - Metodologia. 5. Abordagem interdisciplinar do conhecimento. I. Fujita, Mariângela
Spotti Lopes. II. Alves, Roberta Caroline Vesu. III. Almeida, Carlos Cândido de.
CDD 025.4
DOI https://doi.org/10.36311/2020.978-65-86546-07-1
S
ApresentAção
Roberta Caroline Vesu Alves; Mariângela Spotti Lopes Fujita;
Carlos Cândido de Almeida .................................................................... 09
Introdução – o processo de leIturA pelo IndexAdor
1. A leitura em análise de assunto para identicação e seleção de
conceitos: orientações a todos leitores com objetivo de indexação
Mariângela Spotti Lopes Fujita ............................................................... 17
2. O leitor indexador: expert e prossional
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Carlos Cândido de Almeida .................... 43
pArte 1 – leIturA documentárIA pArA IndexAção: AbordAgens
InterdIscIplInAres
3. Análise documental de textos narrativos ccionais: aportes teóricos de
aboutness para identicação de temas
João Batista Ernesto de Moraes; Larissa de Mello Lima;
Mariana da Silva Caprioli ..................................................................... 69
4. Tipos e estruturas de textos na ótica da organização e recepção de
informações
Nair Yumiko Kobashi ............................................................................ 93
5. Análise documentária e semântica discursiva: contributos para o
tratamento temático de objetos informacionais
Raimunda Fernanda dos Santos; Dulce Amélia de Brito Neves;
Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque
................................... 117
6. A leitura documentária e as perspectivas de aplicação em
contexto da Web
Gercina Ângela de Lima ......................................................................... 139
7. A leitura documentária e a indexação de documentos da área de saúde
Maria Cristiane Barbosa Galvão ............................................................ 173
8. A tematicidade textual na análise de assunto da indexação: aspectos
inerentes à atuação prossional do indexador
Roberta Cristina Dal’Evedove Tartarotti .................................................. 195
9. Abordagem teórica da semiótica peirceana para identicação de
assuntos em música e suas representações
Camila Monteiro de Barros; Lígia Maria Arruda Café ............................ 217
pArte 2 – modelos de leIturA documentárIA pArA IndexAção de
dIferentes tIpos de documentos
10. Processo de leitura para análise documental: proposição metodológica
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Milena Polsinelli Rubi ........................... 243
11. Procedimentos de leitura documentária para indexação de
doutrina: um estudo com base em estruturas textuais
Daniela Majorie Akama dos Reis ............................................................ 271
12. Modelo de leitura documentária para indexação de textos narrativos
de cção
Deise Maria Antonio Sabbag .................................................................. 295
13. Modelo de leitura documentária para indexação de artigos de jornal
Silvana Aparecida Fagundes ................................................................... 323
14. Modelo de leitura documentária para elaboração de resumos da
literatura infantojuvenil em prosa
Roberta Caroline Vesu Alves .................................................................... 347
15 Modelo de leitura técnica para a análise de assunto de acórdãos dos
tribunais de contas
Ana Carolina Ferreira; Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan ........ 383
16. Arquivos de Movimentos Sociais: indexando documentos populares
Jean Marcel Caum Camoleze; Sonia Troitiño .......................................... 405
17. Modelo semiótico de leitura documentária para indexação de
fotograas
Ana Clara Gatto; Carlos Cândido de Almeida .......................................... 425
sobre os Autores .............................................................................. 445
| 9
A
Roberta Caroline Vesu ALVES
Mariângela Spotti Lopes FUJITA
Carlos Cândido de ALMEIDA
A motivação para a elaboração deste livro surgiu da observação
da necessidade de reunir novas pesquisas no cenário da área de Ciência
da Informação, que mostram perspectivas inovadoras para a Análise
Documentária ou Documental, leitura documentária e modelo de leitura
documentária, já que são fatores determinantes para um bom desempenho
do trabalho do indexador com diferentes tipos de documentos.
O tema deste livro consiste nos estudos sobre a elaboração
de modelos de leitura documentária ou documental para indexação,
principalmente, no que tange aos seus aspectos de abordagens teóricas
interdisciplinares e aplicações dos modelos em diferentes tipos de
documentos. Portanto, tem o objetivo de enfatizar os aspectos das teorias
interdisciplinares que fundamentam a elaboração do modelo de leitura
documentária e as aplicações possíveis em diferentes documentos, estas
que permeiam pesquisas de diferentes autores da atualidade.
Este livro se destina aos prossionais da informação, arquivistas,
bibliotecários, estudantes de arquivologia e biblioteconomia, professores
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
10 |
da área de Ciência de Informação que buscam compreender e aplicar os
fundamentos dos procedimentos de leitura documentária para indexação
e resumos, especialmente os modelos que direcionam e facilitam a
representação dos diferentes tipos de documentos.
Os modelos de leitura documentária têm um papel fundamental
para a indexação, pois contribuem para o direcionamento da leitura
documentária, análise de assunto, identicação e seleção de conceitos, além
de orientar a metacognição do indexador nas variadas tipologias textuais,
segundo suas estruturas e temáticas especícas.
A leitura documentária, além disso, consiste na primeira etapa
para a realização da análise documentária em processos de indexação e
elaboração de resumos. Portanto, está relacionada com diferentes tipos de
representação sobre o conteúdo dos documentos, tendo em vista o auxílio
da linguagem de indexação ou, de modo diferente, de acordo com a
elaboração do resumo. Estes aspectos ocorrem para facilitar a comunicação
entre sistemas de informação e usuários no momento da busca e recuperação
de informações temáticas.
Vale ressaltar que os princípios teóricos e aplicações da
leitura documentária, especialmente, com o uso de modelos de leitura
documentária, são muito importantes para que todo o restante do processo
de indexação e elaboração de resumos se realize.
Em especial, o indexador é enfatizado nesta obra, pois
tradicionalmente a leitura documentária e os modelos de leitura foram
desenvolvidos para atividade de indexação de diferentes documentos.
Esse prossional com suas capacidades e em meio a seus propósitos
institucionais precisa considerar a temática e estrutura de diferentes
tipos de documentos, além de considerar as necessidades de informação
dos usuários para a indexação, o que torna a leitura documentária uma
atividade direcionada e complexa. O resumidor inicia sua atividade de
elaboração de resumos com a leitura documentária sobre documentos
diversos, que pode estar direcionada por modelo de leitura documentária,
além de outros aspectos. Diante disso, e principalmente em face aos
diferentes tipos de documentos que necessitam de indexação para ns
de recuperação da informação temática, o desenvolvimento do tema
sobre modelo de leitura documentária merece ser revisitado, ampliado e
atualizado por meio deste livro.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 11
A organização do livro está dividida em introdução com dois
capítulos iniciais, também apresenta mais duas partes, com todos os
capítulos numerados sequencialmente para demonstrar a quantidade de
capítulos desta obra.
A introdução, “O processo de leitura pelo indexador”, expõe
as bases teóricas e metodológicas do processo de leitura documentária
para o prossional indexador. Assim, no primeiro capítulo da introdução,
A leitura em análise de assunto para identicação e seleção de conceitos:
orientações a todos leitores com objetivo de indexação”, de Mariângela Spotti
Lopes Fujita, as concepções das temáticas da leitura documentária e modelo
de leitura são examinadas diante das variáveis sobre leitor, texto e contexto.
O segundo capítulo introdutório, “O leitor indexador: expert e
prossional”, elaborado por Mariângela Spotti Lopes Fujita e Carlos Cândido
de Almeida, aborda a expertise do indexador, diante das características do
leitor prossional que realiza a leitura documentária com alto desempenho.
A parte 1 do livro “Leitura documentária para indexação:
abordagens teóricas interdisciplinares” apresenta capítulos sob o ponto
de vista da leitura documentária e seus subsídios teóricos interdisciplinares
necessários, principalmente, para a fundamentação dos modelos de
leitura documentária.
O primeiro capítulo da primeira parte, o de número três, “Análise
documental de textos narrativos ccionais: aportes teóricos de aboutness para
identicação de temas”, de João Batista Ernesto de Moraes, Larissa de
Mello Lima e Mariana da Silva Caprioli, enfatiza como a questão do
aboutness se insere na Análise Documentária e auxilia a análise de textos
narrativos de cção.
O capítulo quatro, “Tipos e estruturas de textos na ótica da
organização e recepção de informações”, de Nair Yumiko Kobashi,
demonstra especialmente o conceito de texto, a tipologia em que o texto
pode ser classicado, a compreensão, a interpretação e as operações para
condensação e representação na elaboração de resumos e indexação.
O próximo capítulo, “Análise documentária e semântica discursiva:
contributos para o tratamento temático de objetos informacionais”, de
Raimunda Fernanda dos Santos, Dulce Amélia de Brito Neves e Maria
Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque, discute aspectos da Semântica
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
12 |
Discursiva e Linguística para a produção de metadados semânticos no
processo de análise documentária e indexação para recuperação, acesso
de uso da informação de recursos informacionais.
O capítulo seis, “A leitura documentária na conversão de textos
em hipertextos no contexto da Web”, de Gercina Ângela de Lima, mostra a
contribuição da leitura documentária e indexação na conversão de textos
em hipertextos na Web, também para a estruturação desses hipertextos ao
considerar suas partes conceituais.
O sétimo capítulo, “A leitura documentária e a indexação de
documentos da área da saúde” de Maria Cristiane Barbosa Galvão, apresenta
os processos de leitura documentária necessários aos documentos da área
de Saúde, que primordialmente devem estar conectados com os contextos
de trabalho dessa área, por exemplo, ao considerar a saúde do indivíduo
em suas dimensões física, mental e social.
O oitavo capítulo, “A tematicidade textual na análise de assunto da
indexação: aspectos inerentes à atuação prossional do indexador”, de Roberta
Cristina Dal’Evedove Tartarotti, aborda aspectos teóricos da tematicidade
em momentos distintos da indexação, ou seja, na análise de assuntos e
identicação de conceitos apresenta a tematicidade intrínseca e na seleção
de conceitos, a tematicidade extrínseca.
Em seguida, o nono capítulo, “Abordagem teórica da semiótica
peirceana para identicação de assuntos em música e suas representações”,
de Camila Monteiro de Barros e Lígia Maria Arruda Café, debate as
possibilidades dos interpretantes para indexação em âmbito emocional,
energético e lógico como potenciais descritores, também propõe uma matriz
conceitual semiótica como modelo de leitura para a informação musical.
A parte 2 do livro denominada “Modelos de leitura documentária
para indexação de diferentes tipos de documentos”, expõe, portanto, os
aspectos teóricos e aplicados sobre os modelos de leitura documentária,
isso conforme os diferentes tipos de documentos.
O décimo capítulo, “Processo de leitura para análise documental:
proposição metodológica”, de Mariângela Spotti Lopes Fujita e Milena
Polsinelli Rubi aborda de modo atual as questões da leitura e do modelo
de leitura documentária, importantes para a indexação de texto cientíco.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 13
O décimo primeiro capítulo, “Procedimentos de leitura
documentária para indexação de doutrina: um estudo com base em estruturas
textuais”, de Daniela Majorie Akama dos Reis, enfoca os procedimentos
de leitura documentária realizados durante a análise de assuntos para a
indexação de documentos da Doutrina jurídica.
O próximo capítulo, “Modelo de leitura documentária para
indexação de textos narrativos de cção”, de Deise Maria Antonio Sabbag,
demonstra o modelo de leitura documentária denominado pelo acrônimo
MENTIF, que permite a indexação de textos narrativos de cção.
O décimo terceiro capítulo, “Modelo de leitura documentária para
indexação de artigos de jornal”, de Silvana Aparecida Fagundes, elucida o
modelo de leitura documentária elaborado para artigos de jornal, segundo
o estudo de caso que observou os indexadores do Arquivo do jornal “O
Estado de S. Paulo” e do “Departamento de Documentação da Editora
Abril (DEDOC)”.
O capítulo de número catorze, “Modelo de leitura documentária
para elaboração de resumos da literatura infantojuvenil em prosa”, de Roberta
Caroline Vesu Alves, aborda a elaboração de resumos com base em modelo
de leitura documentária para representação da literatura infantojuvenil em
prosa, segundo subsídios teóricos e metodológicos, bem como apresenta a
aplicação do modelo para elucidar esse processo.
O capítulo seguinte, “Modelo de leitura técnica para a análise
de assunto de acórdãos dos tribunais de contas”, de Ana Carolina Ferreira
e Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan, apresenta o modelo de
leitura documentária para indexação de acórdãos e a generalização do
modelo com as devidas adaptações para diferentes tribunais de contas.
O décimo sexto capítulo, “Arquivos de Movimentos Sociais:
indexando documentos populares”, de Jean Marcel Caum Camoleze e
Sonia Troitiño, enfoca a metodologia do modelo de leitura documentária
para indexação de documentos de arquivos do “Fundo do Movimento
dos trabalhadores Rurais Sem Terras” (MST), que compõem o acervo
do “Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual
Paulista” (CEDEM), a m de promover a recuperação da informação
desses documentos.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
14 |
O último capítulo, de número dezessete, “Modelo semiótico de
leitura documentária para indexação de fotograas”, de Ana Clara Gatto
e Carlos Cândido de Almeida, mostra uma proposta metodológica de
leitura documentária para indexação de fotograas com base em estudos
semióticos.
Em face ao exposto, esta obra reúne aspectos importantes
para o estudo do modelo de leitura documentária, que é destacado
aqui como o elemento principal para a análise documentária, leitura
documentária, indexação e elaboração de resumos. O conteúdo deste livro
apresenta diferentes perspectivas para o modelo de leitura documentária,
principalmente, no âmbito da indexação de diferentes tipos de documentos,
pois as metodologias apresentadas obtêm seus fundamentos em aspectos
teóricos interdisciplinares.
Introdução
O     
| 17
1
A leIturA em AnálIse de Assunto pArA
IdentIfIcAção e seleção de conceItos:
orIentAções A todos leItores com objetIvo de
IndexAção
Mariângela Spotti Lopes FUJITA
resumo: A leitura em Análise Documental e indexação apresentam processos de certa
forma similares para análise de assunto com a nalidade de identicação de seleção
de conceitos representativos do documento e de modo a satisfazer as necessidades de
informações dos usuários. A identicação e seleção de conceitos e os modelos de leitura
que apoiam esse processo para a análise de assunto são inuenciados pelas variáveis de
leitor, texto e contexto. Na leitura documental, o exame da estrutura e tipologia do
documento, a busca compreensão e identicação de conceitos, obtém o como resultado
da leitura a seleção dos conceitos. O indexador torna-se um leitor interativo com o texto
a partir de estratégias para facilitar a compreensão, é consciente da política e objetivos
institucionais que interfere na seleção de conceitos e realização da representação de
necessidades informacionais dos usuários.
pAlAvrAs-chAve: Leitura documental. Análise de assunto. Modelo de leitura. Análise
Documental. Indexação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
18 |
AbstrAct: e reading in Documentary Analysis and Indexing presents some similar
processes for subject analysis with purpose of identifying the selection of representative
concepts of document and in order to satisfy information needs of users. e identication
and selection of concepts and reading models that support this process for subject analysis
are inuenced by variables of reader, text and context. In documentary reading, the
examination of structure and typology of document, the search for understanding and
identication of concepts, presents the result of reading is selection of concepts. e
indexer is an interactive reader with text from strategies to facilitate understanding, is
aware of policy and institutional objectives that interferes in selection of concepts and
realization of representation of information needs of users.
Keywords: Documentary reading. Subject analysis. Reading model. Documentary
Analysis. Indexing.
1 Introdução
A existência de diferentes correntes teóricas explica o uso de
termos como “análise de assuntos”, “análise de conteúdos documentais” e
análise documental”. Observa-se que os termos “Indexação”, “Indexador
e “Análise de assunto” aparecem com mais frequência do que “Análise
documental” e “Documentalista”. Nas buscas por assunto em bases de
dados os termos “Indexing” e “Indexer” tem mais revocação de conteúdos
informacionais e documentais do que os termos “Documentary analysis
ou “Documentalist”, o que justica uma boa quantidade de publicações
utilizando aquela nomenclatura.
A expressão “Análise documental” veio da linha teórica francesa
cujo idealizador é Jean-Claude Gardin. Gardin (1981, p. 29), conceituou a
Análise Documental como “[...] um conjunto de procedimentos efetuados
com a nalidade de expressar o conteúdo de documentos cientícos, sob
formas destinadas a facilitar a recuperação da informação.”.
Segundo essa concepção, a Análise documental realiza a
descrição do conteúdo documental para um tratamento temático.
No Figura 1 é possível visualizar a existência de vertentes teóricas da
Análise Documental que tiveram origens em países de línguas latina e
anglo-saxônica. Na vertente teórica espanhola, a Análise Documental,
representada por Pinto Molina (1993), comporta, além da descrição
do conteúdo, a descrição física. Na vertente teórica francesa a Análise
documental (GARDIN, 1981) refere-se somente ao tratamento do
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 19
conteúdo do documento, não adotando a divisão em forma e conteúdo,
ou descrição física e temática do documento.
A vertente teórica inglesa, representada por autores como Foskett
(1996), Lancaster (1993), Van Slype (1991), Farrow (1991), entre outros,
faz uso da expressão indexação, entendendo-a como um processo.
Figura 1 - Vertentes teóricas da Análise Documental
Fonte: Elaborado pela autora.
Consideramos que, análise documental e indexação compreendem
processos similares, incluindo-se a análise de assuntos como etapa inicial
da indexação. A análise de assuntos é um processo de organização do
conhecimento (HJØRLAND, 2016) que necessita ser realizado mediante
leitura, seja humana ou por máquina.
Em estudo de Guimarães (2008) sobre correntes teóricas, o
Tratamento Temático da Informação (TTI) é considerado um campo
conceitual articulado à Organização do Conhecimento (GUIMARÃES;
FERREIRA; FREITAS, 2012) que abarca três linhas teóricas: a da
catalogação de assunto (subject cataloguing), de inuência norte-americana,
a da indexação (indexing), de inuência inglesa e a da análise documental
(analyse documentaire), de inuência francesa (Figura 2). Portanto, no
campo conceitual do Tratamento temático convivem, com autonomia
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
20 |
teórica e metodológica, tanto a Indexação (linha teórica inglesa), quanto a
Análise Documental (linha teórica francesa).
Figura 2 -Linhas teóricas do Tratamento Temático
Fonte: Elaborado pela autora com base em Guimarães (2008).
No Tratamento Temático se realizam os processos de descrição
de conteúdos documentais. A análise documental, assim como a
indexação e a catalogação de assuntos, são processos realizados mediante
operacionalização de duas etapas fundamentais: a análise e a representação
(ou tradução) (CHAUMIER, 1986; LANCASTER,1993; MAI, 2000).
A primeira etapa, a análise, compreende a leitura e segmentação do texto
para identicação e seleção de conceitos (vide Figura 3).
Figura 3 - Operações da análise documental e indexação
Fonte: Elaborado pela autora.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 21
Conscientes da importância da leitura e de suas variáveis para
o desenvolvimento do potencial do leitor documentalista passaremos a
analisar as operações de identicação e seleção de conceitos realizada na
primeira etapa da análise. Essas operações são fundamentais na análise e se
realizam por meio da leitura do documentalista.
2 IdentIfIcAção e seleção de conceItos
Vamos agora nos deter nessa primeira etapa da análise porque
existem procedimentos muito especícos para realizar a identicação
e seleção de conceitos que resultam em representações documentárias
cuja importância impactam os resultados dos processos de indexação,
classicação e elaboração de resumos.
Antes, porém, de explicarmos essas duas operações, precisaremos
entender o que é conceito e qual a sua importância.
A explicação mais simples para conceito é, a formulação de uma
ideia por palavras. O conceito ação é denido mais especicamente como:
processo sofrido por algo ou alguém. A proposta é que o conceito ação, por
ser universal, pode identicar palavras que o representem em qualquer
texto. Isso signica que o conceito ação poderá ser identicado por uma
palavra no texto, que dependerá do contexto para identicá-la com a ideia
de ação. Mas, vamos ver um exemplo para que possamos entender mais
diretamente.
Examinemos o resumo abaixo e veremos que o conceito ação
no texto 1 será identicado pela palavra Ensino conforme proposição do
resumo (Quadro 1):
Quadro 1 - Resumo de artigo cientíco - 1
Texto 1:
CORREIA, Marisa, FREIRE, Ana. Trabalho laboratorial e práticas de avaliação de
professores de ciências físico-químicas do ensino básico. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc.
(Belo Horizonte) [online]. 2009, vol.11, n.1, p.160-191. ISSN 1415-2150. http://
dx.doi.org/10.1590/1983-21172009110110.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
22 |
Na última década em Portugal, tem-se assistido a uma mudança nos currículos
de ciências e nas orientações curriculares dirigidas à avaliação. Neste contexto,
pretendeu-se caracterizar as perspectivas de ensino e aprendizagem de professores
de Ciências Físico- Químicas do Ensino Básico, analisando o trabalho laboratorial
que desenvolvem e as formas de o avaliar. Este estudo envolveu três professores em
início de carreira. Para a recolha de dados recorreu-se a entrevistas, a observação
de aulas e a documentos. Os resultados sugerem que o trabalho laboratorial não é
frequente nas aulas dos participantes e quando implementado apresenta um carácter
vericativo e demonstrativo. Os professores demonstraram diculdades na avaliação
das aprendizagens dos alunos, o que é coerente com uma perspectiva de ensino e
aprendizagem tradicional.
pAlAvrAs-chAve: Trabalho laboratorial; avaliação; perspectivas de ensino e aprendizagem.
Fonte: Scielo periódicos.
Mas, no texto 2, o conceito ação será identicado pela palavra
Política Pública conforme objetivo do artigo presente no resumo (Quadro 2):
Quadro 2 - Resumo de artigo cientíco - 2
Texto 2:
FIGUEIREDO, Jacqueline de Sousa Batista, LOPES, Jairo de Araujo. Políticas
educacionais de formação continuada e o programa de desenvolvimento
prossional de Minas Gerais. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte) [online].
2009, vol.11, n.1, p. 119-139. ISSN 1415-2150. http://dx.doi.org/10.1590/1983-
21172009110108.
Este trabalho tem por objetivo analisar a implementação de uma política pública
mineira do Projeto Escolas-Referência com o Programa de Desenvolvimento
Prossional de Educadores - PDP - desenvolvido na jurisdição da Superintendência
Regional de Ensino de Poços de Caldas-MG no contexto das políticas públicas, nos
âmbitos federal e estadual, de capacitação continuada. O Programa tem a pretensão
de inserir o professor como construtor e reconstrutor de seu percurso formativo e
prossional por meio do desenvolvimento de atividades, do acompanhamento e suporte
pedagógico para a implementação das novas propostas curriculares - a conjectura
do Currículo Básico Comum. Mediante análise bibliográca e documental, e de
depoimento de quatro docentes participantes ativos do processo, reetiu-se, a partir
de referências teóricas referentes a políticas públicas, sobre inquietações decorrentes da
implementação da nova proposta no meio escolar, buscando conhecer os pontos que
representam avanços e obstáculos do PDP.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 23
pAlAvrAs-chAve: Políticas públicas; formação continuada; currículo escolar.
Fonte: Scielo periódicos
Vejamos, então, que o conceito ação pode ser identicado tanto
no texto 1 quanto no 2, todavia, com palavras diferentes. Com a análise
por conceitos asseguramos uniformidade de identicação de conceitos em
qualquer texto e de compreensão global do texto que, de outra forma,
não seria possível, por não termos parâmetros de compreensão em áreas
de assunto especializadas e diversas. Mais do que isso, o conceito ação é
universal, ou seja, o leitor poderá compreender seu signicado aplicado a
qualquer texto.
Outra proposta interessante do uso de conceitos é utilizar um
questionamento durante a leitura do texto para identicação de palavras
representativas.
A identicação de conceitos, segundo a norma (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 2), é realizada após
o exame do documento e de suas partes, quando, então, o leitor indexador
deverá seguir uma abordagem sistemática para a identicação daqueles
conceitos que são elementos essenciais na análise do assunto. A abordagem
sistemática é um questionamento para melhor extrair conceitos enquanto
estiver fazendo a leitura das partes do texto:
a) O documento possui em seu contexto um objeto sob efeito de
uma atividade?
b) O assunto contém um conceito ativo (por exemplo, uma ação,
uma operação, um processo, etc)?
c) O objeto é inuenciado pela atividade identicada?
d) O documento possui um agente que praticou esta ação?
e) Este agente refere-se a modos especícos para realizar a ação
(por exemplo, instrumentos especiais, técnicas ou métodos)?
f)Todos estes fatores são considerados no contexto de um lugar
especíco ou ambiente?
g) São identicadas algumas variáveis dependentes ou indepen-
dentes?
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
24 |
h) O assunto foi considerado de um ponto de vista, normalmente
não associado com o campo de estudo (por exemplo, um estudo
sociológico ou religioso)?
(Associação brasileira de normas técnicas, 1992, p. 2).
A primeira questão, por exemplo, deverá identicar no texto
a presença do conceito objeto; a segunda, a ação; a terceira, se o objeto
identicado sofre inuência da ação; a quarta, o agente que praticou a ação
e assim por diante...
Os conceitos ação, objeto e agente são conceitos essenciais que,
juntos, representam o tema de um texto. É possível que um texto tenha os
três conceitos juntos, como no enunciado abaixo, mas, nem sempre existe
um agente. Entretanto, os conceitos ação e objeto são obrigatoriamente
identicados:
Exemplo: Destruição da lavoura de café pela geada
Ação: Destruição; Objeto: lavoura de café; Agente: geada
Existem outras propostas de questionamentos para identicação
de conceitos, como por exemplo o do sistema de indexação PRECIS
(PREserved in Context Indexing System), idealizado por Derek Austin na
década de 70.
Trabalhando em torno de “conceitos universais”, o sistema
PRECIS recomenda, para a etapa de identicação de conceitos da análise
de assunto, uma análise conceitual baseada na interrogação do texto
(Quadro 3):
Quadro 3 - Análise conceitual do PRECIS
O QUE ACONTECEU? (AÇÃO)
A QUE OU A QUEM ISTO ACONTECEU? (OBJETO DA AÇÃO -
SISTEMA CHAVE)
O QUE OU QUEM FEZ ISTO? (AGENTE DA AÇÃO)
ONDE ACONTECEU? (LOCAL)
Fonte: Fujita (1999).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 25
Com base em utilização instrumental do sistema de indexação
PRECIS como recurso didático operatório Fujita (1999) elaborou
modelo para análise e compreensão literal de leitura. A explicação desses
procedimentos aos alunos, informantes da experiência, foi realizada
mediante formulário contendo descrição e uso da metodologia PRECIS.
Leia os procedimentos abaixo e realize os procedimentos com um texto de
jornal:
Procedimentos para análise conceitual do PRECIS:
Esta atividade que você desenvolverá, a partir de agora, será uma
experiência para observar seu desempenho após ter analisado o texto que
você tem em mãos.
TEXTO: TEIXEIRA, Francisco M. P., DANTAS, J. História do Brasil da colônia
à república. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1979. p. 141.
COMPARAÇÃO DA ECONOMIA MINEIRA E AÇUCAREIRA
(...) Se bem que a renda média da economia mineira haja estado por baixo da que
conhecera a região do açúcar, seu mercado apresentava potencialidades muito maiores.
Suas dimensões absolutas eram superiores, pois as importações representavam menor
proporção do dispêndio total. Por outro lado - e isto constituiu o aspecto principal
do problema - a renda estava muito menos concentrada, porquanto a proporção da
população livre era muito maior. A estrutura do mercado teria que ser necessariamente
diversa, ocupando um espaço muito mais signicativo os bens de consumo corrente e
ocorrendo o contrário aos artigos de luxo. Demais, a população, se bem que dispersa
num território grande, estava em grande parte reunida em grupos urbanos e semi-
urbanos. Por último, a grande distância existente entre a região mineira e os portos
contribuía para encarecer relativamente os artigos importados. Esse conjunto de
circunstâncias tornava a região mineira muito mais propícia ao desenvolvimento de
atividades ligadas ao mercado interno do que havia sido até então a região açucareira.
Contudo, o desenvolvimento endógeno - isto é, com base no seu próprio mercado -
da região mineira foi praticamente nulo. É fácil compreender que a atividade
mineratória haja absorvido todos os recursos disponíveis na etapa inicial. É menos
fácil explicar, entretanto, que, uma vez estabelecidos os centros urbanos, não se hajam
desenvolvido sucientemente atividades manufatureiras de grau inferior, as quais
poderiam expandir-se na etapa subseqüente de diculdades de importação. Tem-se
buscado explicação para esse fato na política portuguesa, uma de cujas preocupações
era dicultar o desenvolvimento manufatureiro da colônia. Entretanto, o decreto de
1785 proibindo qualquer atividade manufatureira não parece haver suscitado grande
reação, sendo mais ou menos evidente que o desenvolvimento manufatureiro havia
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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sido praticamente nulo em todo o período anterior de prosperidade e decadência da
economia mineira. A causa principal possivelmente foi a própria incapacidade técnica
dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras numa escala ponderável.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Fundo de
Cultura, 1965. p. 98-99.
Para que você possa fazer esta experiência será preciso observar as seguintes
instruções para a leitura de cada texto:
1. Faça uma leitura do texto;
2. Sublinhe palavras ou conjunto de palavras que você considera
importantes para expressar a ideia do texto;
3. Tente expressar a ideia principal do texto com uma frase;
4. Identique os conceitos do texto fazendo um questionamento
com as seguintes perguntas:
QUE ACONTECEU? (AÇÃO)
A QUE OU A QUEM ISTO ACONTECEU? (OBJETO DA AÇÃO -
SISTEMA CHAVE)
QUE OU QUEM FEZ ISTO? (AGENTE DA AÇÃO)
ONDE ACONTECEU? (LOCAL)
Se considerarmos como exemplo o texto “Comparação da
economia mineira e açucareira”, veremos que seguindo as etapas de análise
de assunto e identicação de conceitos, procederemos da seguinte forma:
a) assunto: economia mineira no período colonial brasileiro
b) identicação de conceitos por questionamento:
O QUE ACONTECEU? ˗ Análise da Economia (AÇÃO)
A QUE ACONTECEU, OU, ECONOMIA DO QUE? ˗ Mercado interno
(OBJETO DA AÇÃO)
DE QUE? ˗ Atividades manufatureiras (PARTE DO OBJETO DA AÇÃO)
QUANDO? ˗ Período colonial (TEMPO/DATA)
ONDE? ˗ Minas Gerais, Brasil (LOCALIDADE GEOGRÁFICA)
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 27
5. Escreva uma frase unindo todos os conceitos na mesma ordem
que você os retirou do texto por meio das perguntas respondidas acima.
Por exemplo:
Seguindo a ordem dos conceitos retirados do texto, obtenho a
seguinte sequência:
Análise da economia de atividades manufatureiras do mercado interno do
período colonial de Minas Gerais no Brasil”
Tal como o Sistema de Indexação PRECIS, é possível pensarmos
em conceitos relacionados às questões da Norma ABNT 12676 (1992)
conforme Quadro 1.13:
Quadro 4 - Conceitos relacionados ao questionamento
QuestIonAmento normA Abnt 12676 (1992)
conceItos
unIversAIs
relAcIonAdos
O documento possui em seu contexto um objeto sob efeito
de uma atividade?
Objeto
O assunto contém um conceito ativo (por exemplo, uma
ação, uma operação, um processo, etc?)
Ação
O objeto é inuenciado pela atividade identicada? Ação + Objeto
O documento possui um agente que praticou esta ação? Agente
Este agente refere-se a modos especícos para realizar a ação
(por exemplo, instrumentos especiais, técnicas ou métodos?)
Métodos,
instrumentos, técnicas
Todos estes fatores são considerados no contexto de um
lugar especíco ou ambiente?
Local ou Ambiente
São identicadas algumas variáveis dependentes ou
independentes?
Causa e efeito
O assunto foi considerado de um ponto de vista,
normalmente não associado com o campo de estudo (por
exemplo, um estudo sociológico ou religioso?)
Ponto de vista do
autor
Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1992).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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A leitura realizada para realizar a análise assunto de um texto tem
a nalidade de representa-lo por palavras signicativas que serão acessadas
por um usuário e para isso utiliza o processo de identicação de conceitos.
Entretanto, necessita conhecer a localização dos conceitos na estrutura
textual para questionar e identicar. A localização dos conceitos é realizada
pela exploração da estrutura textual, estratégia metacognitiva que o leitor
documentalista pode utilizar para acelerar a leitura documentária e atingir
seu objetivo de identicação de conceitos.
Ainda que, a Norma ABNT 12.676 não explicite quais questões
seriam mais indicadas para cada parte do texto é possível prever a localização
de cada conceito.
Dentro do item Identicação de conceitos já referida, a norma
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 3)
inclui a seleção de termos, recomendando que o
Indexador não precisa, necessariamente, representar como termos
de indexação, todos os conceitos identicados durante o exame do
documento. Os conceitos deverão ser selecionados ou rejeitados
de acordo com os propósitos para os quais os termos serão usados.
É necessário esclarecer que a seleção de conceitos deve ser
realizada durante a leitura documentária. Isso porque o leitor indexador
tem em mente qual palavra identicadora de conceito é mais signicativa
ou não para a comunidade usuária. Ao mesmo tempo em que identica
conceitos com base na compreensão do texto (garantia literária), seleciona
os conceitos identicados com base no uso que terão para a comunidade
usuária (garantia de uso)
A leitura documentária deve ser bem estruturada para realizar
a “identicação de conceitos”, signicando que a denição dos termos
escolhidos para representar o documento deve satisfazer a necessidade da
demanda da comunidade usuária.
Um dos pontos mais importantes dessa seção está na explicitação
de que existem duas operações distintas utilizadas pelos leitores durante
a leitura documentária: Identicação de conceitos e Seleção de conceitos. É
muito importante saber que são realizadas durante e não após a leitura.
Portanto, a tradução das palavras que representam conceitos em
descritores da linguagem do sistema deve ser feita após a leitura e não durante
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 29
a leitura, para que a análise seja conceitual e compreensiva. É preciso car
claro que as linguagens documentais utilizadas na etapa de representação
não podem ser utilizadas na etapa de análise, na qual é realizada a leitura
documentária. A preservação do conteúdo do documento é uma garantia
de relevância de recuperação, objetivo da boa análise de assuntos.
Acreditamos que estudos sobre leitura poderão causar importante
inuência sobre o desempenho de leitores que realizam Análise Documental
e contribuir para a formação de leitores e melhorar o uso de metodologias
de análise documental. Por isso, é necessário compreender o processo de
leitura para atingir objetivos prossionais.
Segundo Kleiman (2000), a leitura é um ato individual realizado
por um leitor apenas, porém é também um ato social porque existe um
processo de comunicação entre o leitor e o autor do texto, ambos com
objetivos estabelecidos anteriormente dentro do contexto de cada um.
O estudo sobre leitura documentária leva em consideração a
análise de suas variáveis na perspectiva do contexto prossional de Indexação
visando compreender as diculdades de análise de assunto de textos.
3 o processo InterAtIvo entre As vArIáveIs dA leIturA: texto,
leItor e contexto
A compreensão envolve três importantes componentes que
interagem entre si: o leitor, o texto e o contexto:
Figura 3- Modelo contemporâneo da compreensão na leitura
leItor
- estruturas
- processos
texto
- intenção do
autor
-forma
- conteúdo
contexto
-psicológico
-social
Fonte: Giasson (1993, p. 21).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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A gura 3 demonstra a interação entre as três variáveis no processo
de compreensão de leitura:
O leitor, no processo de compreensão, corresponde às estruturas
(esquemas) do sujeito e os processos (estratégias) de leitura que ele
utiliza.
O texto corresponde ao material a ser lido e apresenta os seguintes
aspectos: a intenção do autor, a estrutura e o conteúdo.
O contexto corresponde aos elementos extratexto, que podem
inuenciar na compreensão da leitura: o contexto psicológico
(intenção de leitura, interesse pelo texto...), o contexto social
(por exemplo, as intervenções dos professores e dos colegas...) e o
contexto físico (o tempo disponível, o barulho...).
Nessa proposta da leitura como comunicação (Figura 3),
Cavalcanti (1989) e Giasson (1993) acreditam em um processo interativo
entre três variáveis: o leitor, o texto contendo as ideias do autor e o contexto.
Como processo interativo, realiza-se a partir do relacionamento entre os
componentes e deverá variar de acordo com o grau de relação entre eles.
Os componentes, então, durante o processo interativo, tornam-se variáveis
e, quanto mais interligadas estiverem durante a leitura, melhor será o nível
de compreensão.
A leitura documentária será examinada a partir da visão
interacionista, direcionando seu enfoque para cada uma das três variáveis:
Texto: estrutura textual na leitura documentária;
Leitor: o analista documental (indexador, resumidor, classicador)
como leitor prossional;
Contexto: a análise documental em sistemas de informação.
3.1 A vArIável texto
O conceito de texto pode ser entendido sob dois aspectos
(KOCH, 2002):
˗ Cognitivo: é a representação mental do autor a ser captada pelo leitor;
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 31
˗ Língua como código: instrumento de comunicação codicado
pelo emissor (autor) para decodicação pelo receptor (leitor) com
conhecimento do código
O texto pode inuenciar na compreensão do leitor quando utiliza
recursos apelativos que mexem com seu emocional, omite informações
relevantes sobre o assunto, quando o texto está impresso em letras pequenas
demais que dicultam a leitura, ou a escrita apresenta problemas como
orações muito complexas ou curtas demais, ou ainda, incoerentes.
Em função da leitura como processo comunicativo é preciso
destacar o princípio cooperativo de Grice (1982), considerado como
base de toda comunicação humana. Segundo esse princípio, o autor no
momento da escrita deve ter em mente o princípio cooperativo para que
o leitor possa compreender suas ideias, que estão representadas no texto, a
m de garantir que a leitura seja um ato comunicativo coerente.
Vale ressaltar que o conhecimento linguístico e textual deverá
facilitar sobremaneira a escrita, para o autor, e a leitura, para o leitor.
3.1.1 descobrIndo A IdeIA prIncIpAl do texto
O objetivo mais importante do processo de Análise Documental
é descobrir a ideia principal. Segundo Van Dijk (1992), o que o leitor
procura durante a leitura é a informação importante, podendo esta variar
de um leitor para outro. Em vista disso, são consideradas duas categorias
de informação importantes, a saber:
˗ Informação textualmente importante considerada pelo autor;
˗ Informação contextualmente importante considerada pelo leitor
mediante a sua intenção de leitura.
Cavalcanti (1989), ao descrever a importância do princípio de
relevância na comunicação entre o autor e o leitor, chama isso de saliência-
autor/relevância-leitor:
Saliência-autor: ideias que o autor salienta no texto e à
Relevância-leitor: as ideias que o leitor escolhe para interagir durante
a leitura.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Para Giasson (1993), a informação importante pode ser tanto a
ideia principal apresentada no texto pelo autor, como também o assunto
tratado de forma global.
A ideia principal varia de acordo com a estrutura textual, por
exemplo: num texto narrativo a ideia principal pode ser um acontecimento
ou a sua interpretação; num texto informativo pode ser uma regra, um
conceito, ou uma generalização.
Quando a ideia principal aparece implícita, o leitor deve inferi-la
com base nas informações fornecidas pelo texto e no seu conhecimento
prévio sobre o assunto. Pelo exposto, observando-se a variável texto do
processo de leitura, numa perspectiva macro, é possível notar que os textos
apresentam uma estrutura com as partes informacionais que os compõem
organizadas numa sequência lógica diferenciada de uma tipologia textual
para outra. No texto técnico-cientíco, Tálamo (1987) reconhece a
identicação do tema no “objetivo” do trabalho, o que equivale à ideia
principal do texto.
Esse tipo de conhecimento prévio pelo leitor (de estruturas textuais)
possibilita-lhe identicar a parte do texto que traz a ideia principal, fato que
o auxilia a compreender, de forma global, o texto e a realizar uma leitura
mais objetiva, pois já conhece as partes que tem a explorar e os conceitos
pertencentes a cada parte, chegando, dessa forma, ao tema do texto.
Uma dica importante para identicação do tema é fazer o
questionamento por categorias temáticas visto na seção 2:
Categoria essencial: o que?;
Categorias acessórias: quando? onde? como?
A organização do texto é também uma dica valiosa para leitores
que realizam análise de assunto. Para Kobashi (1994), a extração de
informação documentária para produzir resumos e índices pode ser eciente
se o indexador conhecer a superestrutura textual, ou seja, como o texto está
organizado. E, enquanto paradigma de organização textual, o esquema, ou
superestrutura, fornece uma base para a interpretação do texto.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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Kato (1986) salienta que a superestrutura textual é fundamento
para a compreensão da leitura e que, em vista disso, tanto o leitor quanto
o autor devem conhecer o formato de texto:
* o leitor, para buscar a compreensão, identicando assim, o tipo de
informação que deverá encontrar;
* o autor, para optar por esta ou aquela estrutura textual na exposição de
suas ideias.
3.1.2 o texto cIentífIco: tIpologIA e estruturA textuAl
Na leitura existe um forte componente cognitivo e um dos
suportes essenciais à compreensão é, portanto, o conhecimento textual:
sua tipologia e estrutura.
O texto, além de uma estrutura linguística, possui uma estrutura
de signicado que somente “aparece” quando o leitor faz uma leitura
compreensiva.
Cada texto possui suas próprias convenções de apresentação,
tipograa e estilo que os torna distinto de outros. Assim, livros-textos não
possuem os mesmos esquemas que os artigos de jornais, poemas, cartas etc.
Essas distintas características de estruturas para a organização do
conteúdo textual fornecem importantes subsídios ao conhecimento de
leitores e escritores, facilitando a previsão.
I ˗ Quanto mais o leitor se familiariza com diferentes tipos de texto, mais
experiente e hábil se torna para ler variadas espécies de textos.
Desse modo, a leitura pode ocorrer num romance, no texto
cientíco, na receita culinária e numa consulta à lista telefônica, uma vez
que todos são caracterizados como textos.
Kato (1986) classica os tipos de estrutura textual como (Quadro 5):
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(Organizadores)
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Quadro 5 - Estruturas textuais: formatos e tipos
formAto dA estruturA textuAl tIpos de estruturA textuAl
- Forma Piramidal: Estrutura do texto jornalístico: começa com a
ideia principal e geral, para depois ir dando os
detalhes e os particulares.
- Forma Argumentativa: Estrutura de argumentos cientícos e legais:
começa com uma introdução, denição do
problema, solução proposta, argumentos
a favor e contra, refutação de argumentos
contrários, conclusão.
- Formato de Eliminação: Estrutura do texto cientíco: monta um
argumento, eliminando sucessivamente várias
propostas até chegar à sua ou descreve vários
acontecimentos para justicá-los no conjunto
somente no m.
- Formato de uma Narrativa: Estrutura de textos de estórias: “privilegiado
por estruturar estórias, é usado para descrever
o que foi pensado e feito em uma sequência
temporal, como uma narrativa típica.
Fonte: Elaborado pela autora.
Quanto ao texto cientíco, em especíco, Pinto e Gálvez ([1996],
p. 23), estabelecem sua caracterização a partir de:
uma estrutura esquemática estereotipada, que contém objetivo,
metodologia, resultados e conclusões;
um estilo cuidadoso e altamente formalizado;
objetividade do conteúdo, de acordo com a realidade cientíca;
emprego de um linguagem cientíca diferente da linguagem
habitual;
prioridade ao implícito, ao conhecido, à informação acumulada
durante o desenvolvimento da humanidade e,
a própria essência como criação humana.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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Kobashi (1994, p. 114-116) classica os textos mediante suas
estruturas esquemáticas e apresenta a seguinte organização básica para o
texto cientíco (Quadro 6):
Quadro 6 - Organização do texto cientíco
cAtegorIAs nAturezA de cAdA cAtegorIA
Problema Indagação
Hipótese Conjetura
Metodologia Observação
Resultado Interpretação
Conclusão
Fonte: Elaborado pela autora.
Vejamos agora um texto cientíco no formato de resumo de um
artigo cientíco e a ideia principal (Quadro 7) comparado ao formato de
um artigo de jornal (Quadro 8):
Quadro 7 - Resumo estruturado de artigo cientíco
Acta Paulista de Enfermagem
versão On-line ISSN 1982-0194
Resumo
OLIVEIRA, Josiana Araujo de et al. Impacto do monitoramento telefônico em pacientes
com insuciência cardíaca: ensaio clínico randomizado. Acta paul. enferm. [online].
2017, vol.30, n.4, pp.333-342. ISSN 1982-0194. http://dx.doi.org/10.1590/1982-
0194201700050.
Objetivo - IDÉIA PRINCIPAL
Analisar o autocuidado e o conhecimento em pacientes com insuciência cardíaca
monitorados por contato telefônico e analisar a correlação do conhecimento com o
autocuidado.
Métodos
Ensaio clínico randomizado, realizado em uma clínica especializada, no período de abril
de 2015 a dezembro de 2015. Foram monitorados e randomizados 36 pacientes no
Grupo Controle (17) ou no Grupo Intervenção (19). Ambos os grupos participaram do
monitoramento convencional, compreendendo três atendimentos (Basal; 2° mês; 4° mês);
no Grupo Intervenção houve associação do monitoramento telefônico por
meio de um
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(Organizadores)
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guia padronizado. Foram utilizados os Questionários de Conhecimento e de Autocuidado
para avaliação dos desfechos primários e secundários.
Resultados
Houve diferença no conhecimento (12,7±1,7 vs. 10,8±2,2; p=0,009) e autocuidado
(25,4±6,6 vs. 29,5±4,8; p=0,04) no 4° mês; correlação negativa entre os escores do
conhecimento e autocuidado no 2° mês (r=-0,48; p=0,03).
Conclusão
O monitoramento convencional combinado ao monitoramento telefônico mostra-
se ecaz no 4° mês com a melhoria do conhecimento e autocuidado de pacientes com
insuciência cardíaca e correlação signicativa desses desfechos no 2° mês.
Palavras-chave: Insuciência cardíaca; Monitoramento; Telefone; Continuidade da
assistência ao paciente.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de Oliveira et. al. (2017).
Quadro 8 - Estrutura de artigo de jornal
Voto religioso só guia 2 entre 10 brasileiros, diz Datafolha
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
EDUARDO MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
23/10/2017 02h00
[IDÉIA PRINCIPAL E GERAL] A maioria dos brasileiros –8 em cada 10– diz que não
costuma levar em conta a opinião de seus líderes religiosos quando eles fazem campanha
por algum candidato, mostra pesquisa Datafolha (que não computou os 8% que declaram
não ter religião).
Entre os 19% que consideram as recomendações de seus guias de fé, 4% o fazem apenas
se o pleiteante ao cargo for ligado à sua igreja.
A parcela evangélica que dá ouvidos a seus pastores é um pouco mais alta do que a média
–26%, taxa que sobe para 31% entre éis neopentecostais (fatia que abrange igrejas como
Universal e Renascer).
Isso na teoria. Na prática, 9% disseram já ter votado em alguém indicado por sua liderança
religiosa, número similar aos 8% vericados em sondagem de quatro anos atrás.
Novamente, evangélicos (16%), sobretudo os neopentecostais (28%), se revelam mais
suscetíveis à recomendação de suas congregações. Ainda sim, uma minoria dentro desse
universo religioso.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1929305-voto-religioso-so-guia-2-entre-
10-brasileiros-diz-datafolha.shtml.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 37
3.2 A vArIável contexto
Contexto é uma palavra muito utilizada por todos nós. Mas,
se pararmos para pensar nela, veremos que recomenda uma análise mais
aprofundada de seu conceito. De forma mais genérica, o contexto é ligado
à um fato ou ação. Por exemplo, quando vamos analisar um determinado
fato, ocorrência, problema ou mesmo uma situação ou processo sempre
começamos por questionar a existência de um contexto que propiciou
condições para o desenvolvimento das ações.
Mas, o contexto explica-se melhor no âmbito da Linguística
Textual para situar, não só a produção de um texto, mas sua compreensão
por leitores. As concepções de contexto referem-se especialmente ao texto
e, num âmbito que ultrapassa a Linguística, às condições sob as quais a
língua é falada.
Para os nossos propósitos e conscientes da abordagem
interacionista assumida para a leitura documentária, o contexto, como
anteriormente enunciado por Giasson (1993, p.40), “[...] constitui a
terceira variável do modelo de compreensão, engloba todas as condições
nas quais se encontra o leitor (com as suas estruturas e processos) quando
entra em contato com um texto [...]”
Por isso, o contexto não tem somente uma dimensão, mas três
dimensões em que é possível distinguir os contextos psicológico, social
e físico. Conforme Giasson (1993, p.40) o contexto psicológico está
relacionado com o leitor e seu interesse pelo texto, motivação e intenção
de leitura; no social, estão as formas de interação que podem produzir-se
no decurso da atividade; e, no físico as condições materiais em que se
realiza a leitura.
3.2.1 contexto psIcológIco
O contexto psicológico será entendido pelos objetivos de leitura
documentária do indexador, condição pela qual se realizará a leitura e
determinante das intenções de leitura por inuenciar os procedimentos.
Os objetivos são relacionados ao trabalho a ser desenvolvido pelo
documentalista durante a análise documental e são pertinentes aos objetivos
do sistema de informação. Dessa forma, o leitor passa a ser considerado
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
38 |
um leitor prossional quando os objetivos prossionais se sobrepõem aos
objetivos pessoais. No caso da leitura documentária, o propósito consiste
em extrair a informação relevante do texto, tendo em vista a sua posterior
recuperação por um leitor interessado.
Dentre os aspectos cognitivos envolvidos no processo de
compreensão da leitura, tais como interesse, tarefa, objetivo, conhecimento,
normas, opiniões ou atitudes. Beghtol (1986), arma que o objetivo no
processo de leitura representa o mais forte argumento na compreensão,
pois sobrepõe-se a qualquer tipo de estrutura textual.
Dessa forma, se existe a denição de objetivos para a leitura
documentária, estes serão facilitadores da compreensão e determinação do
assunto do documento.
Em síntese, a leitura do indexador durante a análise de assuntos
é guiada pelos seus objetivos e, dependendo de suas habilidades de leitor e
dos conhecimentos prévios necessários à atividade de indexação, terá êxito.
3.2.2 contexto físIco
Um dos aspectos importantes que afetam o desempenho do
documentalista na análise documental é o contexto físico dos leitores
documentalistas que atuam em sistemas de organização e representação
informação onde se realizam os serviços de análise documental. É preciso
vericar as condições físicas oferecidas para esse trabalho que exige
concentração, silêncio e acesso físico a variadas fontes de informação.
3.2.3 contexto socIocognItIvo
O contexto sociocognitivo é uma variável peculiar porque não é
visto em sentido físico ou dimensional. Partindo do princípio de que a
leitura é um processo comunicativo entre leitor e texto, o contexto é uma
representação mental do leitor.
O contexto, então, refere-se ao modelo mental do leitor
documentalista que contém o processo de análise de assunto, a linguagem
documental do sistema de informação, a política de organização e
representação da informação e seu manual.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 39
Entretanto, para Koch (2002, p. 24) o contexto é sociocognitivo,
engloba as três dimensões e está armazenado na memória do leitor. Na
variável leitor vimos que a memória do leitor é seu conhecimento prévio
ou cognição. Dessa forma, o contexto sociocognitivo do leitor contém:
conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico, conhecimento
da situação comunicativa e de suas regras, conhecimento superestrutural,
conhecimento estilístico, conhecimento de outros textos (intertextualidade).
O uso desse conhecimento prévio, como já foi apresentado, se realizará
através de estratégias.
No ambiente prossional em que é realizada a análise de
assuntos é possível vericar que o conhecimento da situação comunicativa
e de suas regras, por exemplo, está implícito no contexto do trabalho
desenvolvido por documentalistas a partir dos objetivos, da política
organização e representação documental, regras e procedimentos, a
linguagem documental para representação e mediação da linguagem do
usuário, e os interesses de busca do usuário. Portanto, o contexto social
será explicado pelo contexto sociocognitivo que mais se aproxima da
realidade dos sistemas de informação que realizam a análise documental
para representação da informação.
4 consIderAções fInAIs
O esclarecimento de cada variável, portanto, nos assegura que a
leitura compreende um processo de várias etapas: o exame da estrutura e
da tipologia do documento, a busca por pistas perceptuais, o momento
da tentativa de compreensão seguida da identicação de conceitos, o
rastreamento nal para conrmação da compreensão e o resultado da
leitura - a seleção dos conceitos.
Em uma formação mais voltada para o conteúdo do documento,
o indexador torna-se um leitor que interage com o texto. A análise para
identicação de conceitos vai depender de estratégias que facilitem
a compreensão. Também, é necessário ter consciência da política de
organização da informação e dos objetivos institucionais para que a seleção
de conceitos realize a representação das necessidades de informação do
usuário do sistema.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
40 |
referêncIAs
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Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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| 43
2
o leItor IndexAdor: expert e profIssIonAl
Mariângela Spotti Lopes FUJITA
Carlos Cândido de ALMEIDA
resumo: O indexador é considerado um leitor prossional que realiza a leitura
documentária com alto desempenho. O objetivo deste capítulo consiste em trazer os
elementos da leitura prossional e estratégias metacognitivas, como também discutir
o conceito de expert para depois analisar as características de um indexador ou leitor
prossional de alto desempenho. A leitura de um prossional especialista ou expertise difere
de um indexador comum, porque vigia constantemente e identica falhas de raciocínio. A
agilidade em que o indexador realiza a leitura e representação vale menos para qualicá-
lo como excelente e para obter a qualidade dos resultados na indexação. Estudos futuros
sobre leitura e estratégias mentais adotadas por experts, que se autocorrigem e expandem
seus próprios limites são importantes para a área e vericar situações concretas de leitura
documental por experts para conrmar como realmente ocorrem.
pAlAvrAs-chAve: Leitura documental. Leitor prossional. Prossional expert. Alto
desempenho prossional.
AbstrAct: e indexer is considered a professional reader who makes documentary
reading with high performance. e purpose of this chapter is to discuss elements of
professional reading and metacognitive strategies, as well as to discuss the expert concept
and then analyze characteristics of indexer or professional reader of high performance.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
44 |
e reading of a professional expert or expertise diers from a common indexer, because
it constantly watches and identies reasoning failed. e agility in which indexer performs
reading and representation is worth less to qualify it as excellent and to obtain the quality
of results in indexing. Future studies on reading and mental strategies adopted by experts
who self-correct and expand their own limits are important to the area and see concrete
situations of documentary reading by experts to conrm how they actually occur.
Keywords: Documentary reading. Professional reader. Professional expert. High
professional performance.
1 Introdução
Por muito tempo se entendia que algumas pessoas nasciam para
fazer determinadas coisas. Seria quase como um traço genético, uma
informação já registrada no DNA. Alguns nasciam para a genialidade, seja
para matemática, línguas, física, química, artes, música, losoa, esportes
etc., e tantos outros para o anonimato e rotinas degradantes. Contudo,
pesquisas realizadas no campo da expertise, isto é, do desempenho superior,
têm demonstrado que “dom” não existe de fato, e, olhando bem de perto
o comportamento dos reconhecidos como “gênios” nas diversas áreas
do conhecimento ou da atividade humana, encontraremos caracteres de
comportamento psicológico que podem ser trabalhados conscientemente e
que nada tem a ver com informação genética transmitida pelos antepassados.
Segundo Ericsson, Prietula e Cokely (2007), “No imaginário
popular, a genialidade é um traço inato, não adquirido. Já a ciência mostra
que a verdadeira expertise é fruto, sobretudo, de anos de prática intensa e
orientação dedicada.”. Em outras palavras, a ideia de um sujeito nascer
preparado para o desempenho superior ou de excelência é mais mito que
uma realidade fática. Isso abre portas para uma nova linha de investigação
sobre a formação superior e o papel fundamental das estratégias
metacognitivas. De acordo com Ericsson, Roring e Nandagopal (2007,
p. 43) “Não encontramos evidências reprodutíveis rigorosas de que as
habilidades inatas, com exceção da altura e do corpo, impedem indivíduos
saudáveis de atingir níveis de desempenho superior.” .
O objetivo deste capítulo será, em primeiro lugar, trazer
elementos para pensar a leitura prossional e as estratégias metacognitivas,
e em segundo, discutir o conceito de expert para explicar as características
de um indexador ou leitor prossional de alto desempenho.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 45
2 leIturA e leIturA profIssIonAl
A leitura é uma das ações mais importantes da cognição humana.
Imagine se não houvesse leitura, se não fossemos leitores. Esta seção é
sobre essa ação que possibilita a compreensão do mundo à nossa volta.
Mas, o curioso é que não lemos letra por letra, palavra por palavra, lemos
antecipando e prevendo o que vem depois.
Quando os estudos sobre leitura se iniciaram, a concepção
era de que quando lemos, fazemos um processamento linear, ou seja,
simplesmente uma xação ocular que se movimenta da direita para a
esquerda. Porém, à medida que as pesquisas avançaram evoluiu para uma
visão de leitura como processo de comunicação que inclui outros aspectos
psicolinguísticos como demonstram Fujita, Nardi e Santos (1998, p. 13-
17) no Quadro 1:
Quadro 1 - Evolução das concepções teóricas sobre leitura
Modelo Serial de Gough (1972): o ato de ler envolve um processamento serial que
começa com uma xação ocular sobre o texto, prosseguindo da esquerda para a
direita de forma linear.
Modelo Psicolinguístico de Goodman (1967): dene leitura como um “jogo
psicolinguístico de adivinhação, um processo seletivo em que o leitor seleciona
pistas apresentadas no texto, como pontos de partida para predições.
Modelo Interativo de Rumelhart (1977): O leitor, em cada nível, apoia-se em
esquemas de conhecimento que possui. Durante a leitura de um texto, são ativados
esquemas variados, desde conhecimento de vocabulário, conhecimento da estrutura
textual, do assunto, até conhecimento de mundo.
Processo comunicativo entre leitor-texto de Cavalcanti (1989): compreende que
o leitor traz consigo seu conhecimento prévio, experiências acumuladas e valores, e
utiliza essa bagagem para interagir com o texto (os pontos de vista, as intenções do
autor e as ideias implícitas no texto).
Modelo Interativo de Giasson (1993) apresenta visão semelhante à de Cavalcanti,
por acreditar na interação texto-leitor-contexto e na integração das habilidades
em que o leitor cria sentido, apoiando-se simultaneamente no texto, nos seus
conhecimentos prévios e na intenção da leitura.
Fonte: Elaborado com base em Fujita, Nardi e Santos (1998, p. 13-17).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Cada uma dessas concepções sobre leitura traz um avanço que
nos levam a compreende-la melhor, como por exemplo, as predições do
modelo psicolinguístico de Goodman, a teoria de esquemas de Rumelhart
e o processo comunicativo entre o leitor e o texto, no qual o leitor interage
com seu conhecimento prévio quando lê.
Esses conhecimentos serão muito úteis para entender como é possível tornar-se um
leitor prossional em Análise Documental para realizar Indexação, Elaboração de
resumos e Classicação com mais facilidade, menos subjetivismo e, principalmente,
com procedimentos que tem fundamento na cognição humana, ou seja, no modo como
nossa mente aprende utilizando habilidades e estratégias cognitivas e metacognitivas.
Não é difícil, é preciso aprender a aprender!
Vamos, primeiro, entender como funcionam os esquemas e a
predição e, qual a utilidade deles para a leitura.
Todos nós somos dotados neurologicamente com memória
(Figura 1) que, por questões de funcionamento, é dividida em memória
sensorial-motora, memória de curto prazo e memória de longo prazo com
função especíca para cada uma.
Figura 1 - Memória humana
Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150408_vert_
fut_capacidade_cerebro_ml
A memória a longo prazo é um arquivo que mantém nosso
conhecimento consolidado organizado conforme nosso desenvolvimento
cognitivo para que possamos recuperá-lo para tudo o que fazemos ou
aprendemos. A aquisição de novos conhecimentos implica em seleção de
acordo com essa estrutura de conhecimento já existente na memória a longo
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 47
prazo. Quanto mais atividades temos e mais conhecimentos adquirimos,
mais seletiva e organizada será a memória de longo prazo. Portanto, nossa
cognição depende da memória de longo prazo.
A diferença entre a leitura realizada por processamento sequencial
e a do modelo psicolinguístico realizada com predições é a existência do
conhecimento prévio. O conhecimento prévio para a compreensão em
leitura depende do conhecimento existente na memória de longo prazo.
Portanto, a leitura sem compreensão equivale à ausência de leitura.
Mesmo que não se tenha conhecimento especializado por
áreas de assunto, cujos conhecimentos não foram aprendidos, existe
o conhecimento de mundo e saberes fundamentais integrantes do
conhecimento prévio capazes de realizar a leitura compreensiva, como
por exemplo, o conhecimento linguístico que permite a compreensão de
frases, o conhecimento matemático que permite a compreensão numérica,
o conhecimento iconográco, que garante a apropriação das imagens e
assim por diante.
Para entender como funciona o conhecimento prévio, faça, a
seguir, a leitura de um texto de uma área especializada em língua estrangeira
e veja como funciona seu conhecimento prévio tomando como exemplo
o Quadro 2:
Quadro 2 - Resumo de artigo cientíco em inglês em área de
conhecimento especializada
COLONOSCOPY: RANDOMIZED COMPARATIVE STUDY OF
INSUFFLATION WITH CARBON DIOXIDE VERSUS AIR
1
ABSTRACT
Background:
In Brazil, an increasing number of people are submitted to colonoscopy, either for
screening or for therapeutic purposes.
Aim:
To evaluate whether there are advantages of using carbon dioxide (CO2) over air for
insuation.
Methods:
Two hundred and ten of 219 patients were considered eligible for this study and were
1
DE-QUADROS, Luiz Gustavo et al. Colonoscopy: Randomized Comparative Study Of Insuation With
Carbon Dioxide Versus Air. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo, v. 30, n. 3, p. 177-181, set. 2017. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202017000300177&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 05 nov. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/0102-6720201700030004.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
48 |
randomized into two groups according to the gas insuation used: Air Group (n=104)
and CO2 Group (n=97). e study employed a double-blind design.
Results:
e Air and CO2 Groups were similar in respect to bowel preparation evaluated
using the Boston scale, age, gender, previous surgery, maneuvers necessary for the
advancement of the device, and presence of polyps, tumors or signs of diverticulitis.
However, “waking up with pain” and “pain at discharge” were more prevalent in the Air
Group, albeit not statistically signicant, with post-exam bloating seen only in the Air
Group. e responses to a questionnaire, applied to analyze the late post-exam period,
showed more comfort with the use of CO2.
Conclusions:
e use of CO2 is better than air as it avoids post-examination bloating, thereby
providing greater comfort to patients.
HEADINGS Colonoscopy; Insuation; Patient satisfaction; Clinical protocols
Fonte: Scielo Periódicos. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-202017000300177&lng=pt&nrm=iso&tlng=en.
Observe que sua primeira leitura foi um rápido “rastreamento
que detectou as partes do texto em realces, tais como, título,
“background”, “aim”, “methods”, “results”, “conclusions” e “headings”.
As partes do texto correspondem ao conhecimento textual de outros tipos
de textos aos quais sempre existe uma estrutura que os divide em seções
e podem ser considerados importantes marcações do texto. Depois, você
passou a observar com mais atenção alguns símbolos que são universais,
tais como CO2 ou n=97 e outros símbolos numéricos. O CO2, por
exemplo, depende de seu conhecimento de mundo para reconhecê-lo
como símbolo que signica gás carbônico ou dióxido de carbono. Este
símbolo não está no título, mas está presente seu signicado, “carbon
dioxide”. Com mais atenção ainda seu conhecimento prévio consegue
predizer alguns outros termos importantes que podem fazer a diferença
na compreensão do texto. O termo “colonoscopy” é facilmente ligado ao
exame médico “colonoscopia”.
Muito bem! Esse pequeno exercício demonstra muitas
possibilidades que nossa memória possui para a compreensão leitora
que parece um jogo de adivinhação porque a mente está acostumada a
realizar predições.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 49
Essas predições dependem fundamentalmente dos “esquemas
que a memória de longo prazo possui para categorizar, classicar e relacionar
semanticamente as informações que armazena para futura recuperação.
Para se realizar o processo de compreensão é preciso que a
memória a longo prazo tenha “esquemas” ou representações generalizadas
de ambientes, situações familiares, modelos e informações para que se
construa associação com tudo aquilo que se está vendo, ouvindo e lendo.
Esquemas são “[...] estruturas abstratas, construídas pelo próprio indivíduo,
para representar a sua teoria do mundo. Na interação com o meio, o
indivíduo vai percebendo que determinadas experiências apresentam
características comuns com outras.” (LEFFA, 1996, p. 35).
Isso signica que o esquema existe em razão de nosso
conhecimento prévio e nos dá condições de prever ou de antecipar
atividades, acontecimentos, ações e informações ao considerar o certamente
provável e não o improvável. Por isso, é que podemos realizar predições.
O estudo de Rumelhart (1977) propõe um modelo interativo, a
partir do uxo de informação, para explicar o funcionamento de esquemas
na compreensão em leitura como um ato duplo: de recepção ou percepção
visual e de compreensão ou atividade mental (PINTO MOLINA, 1993).
Isso signica que ao ler, o leitor realiza dois movimentos inversos e, ao
mesmo tempo, complementares: “bottom-up, ascendente ou indutivo e
top-down, descendente ou dedutivo. Os processos inferenciais indutivos
e dedutivos são fundamentais no processo de leitura.
De outra forma, os movimentos ascendentes e descendentes do
processo de leitura, a partir do modelo de Rumelhart, são diretamente
relacionados a duas denições opostas que esclarecem melhor a função de
cada movimento na leitura (LEFFA, 1996, p. 11):
Ler é extrair signicado do texto; è BOTTOM-UP (ascendente)
Ler é atribuir signicado ao texto. è TOP-DOWN (descendente)
Na primeira armação “Ler é extrair signicado do texto”,
o movimento é bottom-up e a leitura é um processo ascendente. A
compreensão “sobe” do texto ao leitor na medida exata em que o leitor vai
avançando no texto (seta azul na Figura 2).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
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Na segunda armação “Ler é atribuir signicado ao texto”, o
movimento é top-down e a leitura é um processo descendente, pois “desce
do leitor ao texto (seta vermelha na Figura). Enquanto prossegue a leitura,
o leitor prevê hipóteses sobre o que irá tratar o documento e, no decorrer
da leitura, suas hipóteses podem ou não ser conrmadas. As hipóteses
serão elaboradas de acordo com o conhecimento prévio do leitor (LEFFA,
1996). Nesse sentido, os processos lógicos criação de hipóteses, dedução
e indução exercem papel fundamental no processo de leitura, tal como já
discutimos em outro trabalho (ALMEIDA; FUJITA; REIS, 2013).
Kato (1985) considera leitor experiente aquele que utiliza os
dois tipos de estratégias, as ascendentes (dependentes do texto, da análise
cuidadosa do Input visual) e as descendentes (baseadas no conhecimento
prévio do leitor e na sua capacidade de inferência, de predição), relacionando
ora um tipo, ora outro, de maneira consciente, no momento em que cada
uma delas se zer necessária.
Pinto e Gálvez ([1996], p. 45) consideram o modelo interativo
de Rumelhart (1977) o que melhor representa a atuação do sujeito
documentalista
2
porque:
[...] quando está lendo um texto cujo assunto lhe seja desconhecido,
procederá dos níveis mais inferiores aos superiores, fará uma leitura
lenta, detalhada, ascendente ou bottom-up. Ao contrário, quando o
texto for familiar realizará uma leitura “entre linhas” - descendente
ou top-down -, antecipando informações e dirigindo-se a uma
representação do conteúdo global do texto.
A diferença entre as duas concepções de leitura está justamente na
interação, pois no processo ascendente não existirá uma interação entre o
leitor e o texto, o leitor lê o texto linearmente, palavra por palavra, extraindo
o seu signicado de acordo com a sequência linguística apresentada pela
estrutura do texto, enquanto que, no processo descendente, a obtenção
do signicado do texto se dá por meio da contribuição do leitor com suas
hipóteses e previsões.
Tais modelos de compreensão, baseados no conhecimento
prévio, são considerados interativos no que diz respeito à interação entre
Documentalista para os teóricos espanhóis signica o mesmo que indexador em ciência da informação no Brasil.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 51
os processos bottom-up e top-down, bem como do leitor com o texto, mas
não à interação do leitor com o autor (KLEIMAN, 1989).
Ao avançarmos na concepção de esquemas, podemos inferir que
o prossional leitor que realiza a análise documental terá o conhecimento
linguístico prévio, implícito e importante para a compreensão da
organização textual.
Para o indexador, por exemplo, o domínio da tipologia
documental e da estrutura textual são dois tipos de conhecimentos prévios
que poderão aumentar sua compreensão durante o processo descendente
de leitura. Segundo Lara (1994, p. 55), “[...] envolve, portanto, tanto o
reconhecimento da tipologia textual, como a identicação dos elementos
referenciais para uma interpretação apropriada.”.
Cintra (1987, p. 31), baseada em pesquisas que demonstram a
facilidade de leitura para leitores com conhecimento de estruturas textuais,
considera que “[...] o leitor que domina as superestruturas textuais capta
com mais facilidade as ideias centrais do texto, pois tem como parâmetro
a identicação dos constituintes básicos.”.
Esse tipo de conhecimento prévio constitui-se como uma
vantagem do prossional que realiza a análise documental tendo em vista
que não possui conhecimento prévio especializado em nenhuma área
do conhecimento e precisa realizar a análise documental de diferentes
tipologias documentais em diferentes áreas do conhecimento.
Isso signica que o leitor prossional em análise documental, de
acordo com seus objetivos e contexto, é também um leitor que compreende
o texto para interpretação e produção de uma representação condensada de
seu signicado.
3 leIturA, plAnejAmento, metAcognIção e estrAtégIAs
Quando lemos um texto interessante do ponto de vista do
nosso conhecimento prévio parece que entramos em um outro ambiente
em que é possível imaginar e vivenciar aquilo que o autor descreve
como se estivéssemos vivendo aquele momento de modo real em nossa
mente. Isso faz com que aquele momento de leitura tenha a capacidade
de nos transportar para outro lugar tal o nosso nível de abstração da
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
52 |
realidade e do ambiente à nossa volta. De repente, alguma palavra que
não entendemos nos traz de volta à realidade e voltamos a ler com mais
atenção aquela determinada frase ou voltamos uma página atrás e lemos
até o ponto onde paramos para recuperar a informação necessária para
a nossa compreensão. Depois, mais à frente, continuamos a leitura, mas
sem prestar mais atenção ao que o autor está descrevendo e nossa mente
começa a pensar em algum outro momento já vivido por nós em futuro
recente e, de repente, voltamos à leitura e vemos que já lemos duas
páginas e não sabemos o conteúdo.
Todos nós conhecemos esses comportamentos porque somos
leitores. O primeiro e segundo comportamento ativam estratégias de
acompanhamento do processo de compreensão e a retomada de atenção quando
não compreendemos alguma palavra ou frase (primeiro comportamento) ou
mesmo quando fazemos digressões (segundo comportamento).
Este acompanhamento do processo de compreensão durante a
leitura com uso de estratégias realiza a interação entre o texto e o leitor.
São estratégias mentais denidas para cada uso durante o decorrer da
leitura. Porém, nem todas as estratégias podem ser observadas. Para Nardi
(1993), as estratégias não podem ser prontamente observáveis e sim as
ações comportamentais do leitor (como, por exemplo, o virar de páginas,
ou a procura de uma palavra no dicionário), mas as ações mentais como
associações e deduções durante a leitura não podem ser vistas.
As estratégias de leitura, ou as ações que o leitor realiza no ato de
ler, têm sido denidas por vários autores. Essas estratégias, segundo Faerch
e Kasper (1980), citados por Nardi, (1993), são planos potencialmente
conscientes do leitor para resolver algo que se apresenta como um problema
na compreensão.
Kato (1985) distingue dois tipos de estratégias que denem o
comportamento do leitor:
Estratégias cognitivas: automáticas e subconscientes, utilizadas
durante a leitura uida, sem obstáculos, e
Estratégias metacognitivas: são ações conscientes do leitor frente a
um problema.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 53
A metacognição em leitura permite ao leitor uma compreensão
de sua própria compreensão, ou melhor, o acompanhamento e avaliação de
seu processo de compreensão durante a leitura de um texto e, além disso,
a tomada de providências quando a compreensão falha (LEFFA, 1996).
Cavalcanti (1989) considera que as estratégias se tornam mais
observáveis quando ocorre algum tipo de ruptura ou parada durante o
processo de compreensão, momento em que o leitor desacelera a leitura e
torna-se metacognitivo.
Essa suspensão pode ser causada por falta de conhecimento
em algum dos componentes linguísticos da competência comunicativa.
São justamente essas interrupções que possibilitam a observação do
processo de leitura porque o leitor para e faz perguntas para si mesmo
na tentativa de resolver o problema. Se pedirmos para o leitor “pensar
em voz alta” durante a leitura, essa verbalização poderá ser gravada
e transcritas por meio de Protocolo Verbal. Essas transcrições de
protocolos verbais darão acesso ao conhecimento processual do leitor
enquanto ele faz a leitura.
A metacognição é, portanto, muito importante na compreensão
de leitura e da aprendizagem de modo geral. Mas, como distinguir uma
estratégia cognitiva de outra metacognitiva? Como observamos a estratégia
metacognitiva?
Para conferir natureza metacognitiva às ações mentais, Brown
(1980, p. 456) indica atividades que passamos a descrever com exemplos
de leitura retirados de trechos de transcrições de protocolos verbais de
leitores durante a leitura de textos para indexação (Quadro 3):
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Quadro 3 - Exemplos descritivos de ações mentais de natureza metacognitiva durante a leitura
trAnscrIções de protocolo verbAl de leItor durAnte leIturA pArA IndexAção
3
Bem... primeiro eu estou olhando é... lendo o título que é [Avaliação da importância da
coloração de Perls na rotina de mielogramas de pacientes com anemia associada a uma
ou mais citopenias em sangue periférico]
...aí tem o título em inglês... pelo título eu percebi que é sobre hematologia... do que se trata
o texto.
...[As síndromes mielodisplásicas são um grupo heterogêneo de doenças malignas das
células-tronco hematopoéticas, classicadas segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS) em: anemia refratária, anemia refratária com sideroblastos em anel, citopenia
refratária com displasia de multilinhagens, anemia refratária com excesso de blastos,
síndrome mielodisplásica inclassicável e síndrome mielodisplásica associada com
anormalidade isolada do cromossomo 5q (del)] Então... eu entendi que fala sobre tipos de
anemia e sobre hematologia... e sobre diculdades... não sei bem se é diculdades, mas é... nas
células-tronco hematopoéticas... então é uma anemia... é algo relacionado a essas células.
eu to lendo agora um pedaço da introdução que diz que foi a Organização Mundial da Saúde
que fala de anemia refratária e sobre também blastos que também é um dos componentes do
sangue... é... que eles usaram como método...
As Figs. 2 e 3 apresentam a micrograa e a distribuição do tamanho de grãos da amostra]
eu vou pular a página agora eu não to entendendo muito do texto não é da área ((FR)) é
muito difícil eu vou pular vou ver o que tem na conclusão sei lá depois talvez eu volte
Na análise morfológica destas 20 amostras observou-se que todas apresentavam
hiperplasia da linhagem eritróide e displasia de uma única linhagem ou associada a
displasias de multilinhagens conforme demonstrado...] eu entendi que é alguma coisa
dentro do sangue...de...da... na hemoglobina que é onde... vê anemia tal...
Ações mentAIs de nAturezA metAcognItIvA
Explicitação dos objetivos da leitura e/ou
manutenção dos objetivos na mente;
Identicação de aspectos importantes da
mensagem;
Alocação de atenção a áreas importantes;
- Exploração da estrutura textual
Monitoração do comportamento para ver se está
ocorrendo compreensão, por meio de:
- Engajamento em revisão e auto-indagação
para ver se o objetivo está sendo atingido;
- Tomada de ações corretivas quando são
detectadas falhas na compreensão;
- Recobramento de atenção quando a mente se
distrai ou faz digressões
Fonte: Adequado pelos autores com base em Fujita (2003, p. 78).
Extraídos de Fujita (2007).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 55
Essas ações mentais são importantes para o leitor prossional que
realiza análise documental com objetivos denidos e tarefas especícas da
indexação, classicação e elaboração de resumos, sobretudo considerando-
se que é necessário ter o objetivo em mente para a realização da tarefa de análise
documental com textos especializados em diferentes áreas de assunto como
podemos observar pelos exemplos das transcrições de protocolos verbais.
Outro motivo importante é a exploração da estrutura textual para alocar a
áreas importantes do texto onde se pode identicar aspectos importantes da
mensagem com termos representativos do conteúdo do texto
Com relação às estratégias cognitivas, Kato (1985) considera que
são regidas pelos princípios da Canonicidade e Coerência. O princípio da
Canonicidade signica que o leitor possui conhecimento da ordem natural
sintática e semântica permitindo-lhe predizer, por exemplo, a categoria
gramatical de uma palavra desconhecida e assim facilitando a inferência
de seu signicado. No princípio da Coerência, o leitor espera e cria uma
expectativa em torno da coerência do texto de forma global e também local.
Para a tarefa do indexador esses princípios são importantes,
considerando-se que um texto sob a forma de artigo cientíco, por
exemplo, possui uma estrutura de tópicos e parágrafos já conhecida e o
indexador possua habilidade em indexação de uma determinada área de
assunto, a legibilidade do referido texto aumenta, assim como o uso de
estratégias cognitivas.
Sabemos também que, na leitura para ns de análise documental,
não é necessário nem aconselhável uma leitura linear, letra por letra, palavra
por palavra; o leitor avança no texto à medida que consegue predizer o que
vem a seguir.
Esse leitor deve, então, buscar detectar a estrutura do texto, pois
o reconhecimento da estrutura favorece a captação das ideias principais
do texto e o questionamento sobre os signicados dos termos mais
representativos do conteúdo principal. Esse apoio na estrutura textual
permite ao leitor ser seletivo, pular pedaços do texto e prestar atenção
a trechos importantes onde estão os termos que melhor representam o
conteúdo do texto. Vemos assim que o signicado do texto depende de
uma de suas principais variáveis, o leitor.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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4 A vArIável leItor
Considerando-se os conteúdos dos itens anteriores sobre leitura é
possível armar que o documentalista, o prossional que realiza a análise
documental, é um leitor apto à compreensão pela sua própria estrutura
cognitiva inata e construída. Conra abaixo:
possui conhecimento prévio, constituído de conhecimento
linguístico, textual, e conhecimento de mundo;
utiliza seu conhecimento prévio por meio de esquemas acionados
pelos movimentos bottom-up e top-down; e
realiza processos de compreensão, principalmente os metacognitivos.
Para efeito de análise do documentalista enquanto leitor, Lara
(1994, p. 63) sintetizou as seguintes características que demonstram o
potencial do leitor documentalista (Quadro 4):
Quadro 4 - Características do leitor documentalista
- o perl do leitor documentalista é particular, não dispõe de “enciclopédia” para
interpretar as instruções textuais;
- o documentalista não é previsto pelo autor como leitor, ou seja, o conhecimento
prévio do documentalista não é necessariamente o mesmo do especialista;
- a leitura do documentalista deve se desenvolver com o auxílio de regras adicionais
que permitam a “identicação” daqueles referenciais que normalmente possibilitam
ao leitor previsto pelo texto proceder à sua interpretação;
- identicação não implica interpretação, mas localização de ocorrências típicas e
atípicas num dado universo discursivo;
- as ocorrências típicas são quadro de tipologias textuais, organização de textos e
discurso dentro dessa tipologias, terminologia de domínios e quadros de sistematização
conceitual;
- o leitor documentalista pode estar capacitado a realizar adequadamente a leitura a
partir do uso equilibrado das estratégias cognitivas e metacognitivas;
- essas estratégias dependem de seu conhecimento prévio e de seu quadro de referência
básico;
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 57
- a interpretação dos textos supõe necessariamente a intervenção de componentes
ideológicos: o leitor documentalista não é imune a essas intervenções, principalmente,
pertinentes aos do contexto onde se insere.
Fonte: Elaborado com base em Lara (1994, p. 63).
Com essas características e, sendo um leitor inato segundo
a perspectiva cognitiva, o documentalista ao ler um texto cujo assunto
não está familiarizado, realizará uma leitura lenta, detalhada, acionando
movimento bottom-up para chegar ao movimento top-down. Porém, se
está familiarizado com assunto do texto que lê, realizará uma leitura mais
uente, realizando movimento top-down em direção ao conteúdo global
para chegar ao movimento bottom-up.
Neste rol de características, acrescentamos, a existência do objetivo
de leitura do documentalista voltado para a produção de representações
condensadas do conteúdo, diferente do objetivo de um leitor que busca a
compreensão de um texto para aprendizagem, informação ou fruição. Com
este objetivo, o documentalista não tem compromisso com a compreensão
do texto, mas tão somente com sua representação condensada.
O leitor prossional tem objetivos denidos para a leitura,
conhecimentos de procedimentos de análise, de estratégias de análise e,
sobretudo, de políticas de organização da informação e de demanda do
usuário do sistema de informação.
Mesmo sem conhecimento prévio especíco sobre áreas de
conhecimento especializado, o documentalista poderá desenvolver a
compreensão do texto e realizar a identicação de conceitos de forma
compreensiva.
Aqui vão, então, recomendações básicas e importantes para o
documentalista que queira aprimorar sua atividade de análise documental:
desenvolver habilidades e estratégias de compreensão de leitura;
aprofundar seu conhecimento prévio linguístico e textual;
desenvolver experiências de análise documental em área
especializada para conseguir familiaridade com o assunto; e
ter formação sobre análise conceitual que o torne consciente de
suas habilidades cognitivas inatas e construídas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Com relação à última recomendação, esclarecemos que a falta
de conhecimento prévio sobre áreas de conhecimento especializadas não é
impedimento para que o documentalista realize os objetivos de suas tarefas
de análise documental.
É preciso, então, que o indexador agregue ao seu conhecimento
prévio conhecimentos especícos para a atividade de leitura documental
em análise documental.
A partir das concepções de análise documental, o documentalista
é considerado um leitor prossional dotado de estratégias próprias –
desenvolvidas em sua formação - quando assume os objetivos prossionais
e o contexto institucional para o qual trabalha. Contudo, não é apenas
a formação que exerce papel substancial no desenvolvimento das
competências leitoras. Para conhecer a leitura documental realizada com
maestria devemos tomar nota do papel que a prática deliberada exerce
neste processo.
5 A expertIse, A prátIcA IntencIonAl e A leIturA profIssIonAl
O desempenho adequado ou alta performance depende da prática,
isto é, fundamental para entendermos a leitura prossional sobre outro
âmbito. A prática isolada ou o acúmulo de experiências e atividades rotineiras
não tem a ver necessariamente com boa performance. Praticar sem o uso
de recursos metacognitivos, ou autoconsciência, pode levar o prossional
muitas vezes a repetição de decisões passadas, não evoluindo cognitivamente,
apenas agilizando o processo, automatizando-o sem criticidade.
Nas palavras de Ericsson e Pool, “A prática intencional é, como
seu nome indica, muito mais intencional, ponderada e focada do que
essa espécie de prática ingênua.” (ERICSSON; POOL, 2017, p. 37). A
prática ingênua é a rotina, por mais que se pareça com um alto grau de
experiência, é apenas uma repetição quando o indivíduo não estabelece um
tipo de vigilância cognitiva ou busque questionar os erros e continuamente
avançar no aprimoramento da ação.
A prática intencional, focada ou deliberada, com base em Ericsson
e Pool (2017), possui as seguintes características:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 59
tem objetivos especícos bem denidos: uma forma de detectar
é estabelecer metas bem claras, tais como: quantos dígitos devo
memorizar esta semana? Qual o menor tempo para encontrar o
assunto principal de um livro? Quantos termos tenho que utilizar
para representar o assunto?
é uma atividade focada: toda ação deve ser observada
cuidadosamente.
envolve o recebimento de um retorno sobre a ecácia da ação
(feedback): é preciso saber se está certo ou errado, correto ou não,
para continuar melhorando.
exige que indivíduo saia de sua zona de conforto: ir além do familiar
e conhecido. Segundo os autores “Essa é uma verdade fundamental
em relação a qualquer tipo de prática: se você nunca se pressiona
para ir além de sua zona de conforto, você nunca se aperfeiçoará.
(ERICSSON; POOL, 2017, p. 40).
Um aspecto fundamental na formação de prossionais em nível
de expertise, é contar com um professor ou instrutor que avalie o percurso,
identique as barreiras e incentive a superá-los.
Essa tese é fundamental para superar a ideia simplicada de que
podemos a qualquer tempo aprender qualquer coisa sem a ajuda de outras
pessoas ou dispensar um contexto de aprendizagem. Certamente uma série
de atividades e conhecimentos genéricos podemos alcançar sem ajuda
alheia, mas isso não é suciente para obter um desempenho excelente em
uma área especializada, seja em medicina, engenharia ou indexação
Contudo, em um nível excelente de desempenho em qualquer
área, precisamos de um instrutor, modelo, mentor ou professor que aponte
os erros e exija a melhoria contínua, até o momento que o sujeito possa
incorporar o comportamento autocorretivo e se autoavaliar constantemente,
tornando-se o professor de si mesmo.
A participação do contexto e dos sujeitos mais experientes para
formar um leitor prossional competente é de extrema importância.
No contexto da leitura prossional para ns documentários devemos
reconhecer o papel da formação durante o serviço que tem a função de
assegurar que a aplicação da política de indexação de uma unidade de
informação esteja adequada.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Uma pergunta impertinente merece ser feita a esse respeito: será
que podemos assegurar que um determinado tempo de serviço e prática
em leitura documental é suciente para alcançar um desempenho superior?
Com base na teoria da expertise desenvolvida por Ericsson e colaboradores
podemos responder da seguinte maneira: a experiência contada a partir de
anos de serviço e dedicação não seria suciente para garantir a qualidade
da indexação.
Embora o leitor prossional localize o assunto mais rapidamente,
quando submetido a uma literatura cuja terminologia é conhecida, isso não
signica que a atividade se realize em níveis ótimos. A comparação com
padrões e o confronto com certos consensos a respeito dos assuntos devem
servir para demonstrar a diferença entre um leitor prossional experiente
e um leitor prossional expert. De certa forma, há uma ilusão quando
concluímos que o tempo como indexador é o único fator a determinar a
qualidade do produto da leitura documental.
Há evidências particularmente sólidas desse fenômeno, na medida
em que ele se aplica aos médicos. As pesquisas feitas em várias
especialidades mostram que os médicos que já praticam a medicina
há 20 ou 30 anos se saem pior em certas medidas objetivas de
desempenho do que aqueles que saíram da faculdade há somente
dois ou três anos. Acontece que as tarefas que a maioria dos médicos
realiza na sua prática cotidiana não ajudam em nada a melhorar ou
mesmo manter as suas capacidades; poucas de suas atividades os
desaam ou os impulsionam para fora de suas zonas de conforto
(ERICSSON; POOL, 2017, p. 40).
Nesse sentido, o leitor prossional deve ter seu trabalho
confrontado constantemente de modo a conseguir demonstrar que a
experiência (enquanto acúmulo de eventos e rotinas) inclui a ideia de
experimentação, isto é, a continua habilidade do leitor fazer testes sobre
a ecácia de suas representações, a qualidade do assuntos representados, o
grau de adequação das palavras-chaves com as expectativas da comunidade
etc. A experimentação, alinhada à perspectiva da prática intencional, é que
garantirá resultados mais consistentes no que tange a leitura do indexador.
Em suma, a expertise do leitor prossional está mais relacionada
à capacidade de realizar experimentações constantes e suas correções que
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 61
contar com a experiência acumulada que responde apenas a uma parte
dos problemas. Um dos desaos para compreender o leitor e o processo
de leitura prossional é realizar investigações sobre como os leitores
de desempenho superior – o que nem sempre está condicionado ao
tempo de atuação – adotam estratégias metacognitivas e cognitivas para
produzir representações mais adequadas. Seria um enfoque diferente
que deveríamos dar às nossas pesquisas, não mais olhar indexadores
aleatoriamente, ou descriminando-os por tempo de experiência, ou
faixa etária, mas examinando as estratégias adotadas pelos melhores
prossionais. Desse modo, os resultados poderiam retroalimentar a
formação prossional de uma nova geração de indexadores, especialmente
no que tange a leitura documental.
6 o leItor profIssIonAl expert
O leitor prossional, como visto, realiza as atividades de
indexação, resumo e classicação, mas depende de estratégias cognitivas
e metacognitivas. As estratégias metacognitivas estão alinhadas com a
descoberta dos comportamentos dos grandes especialistas em várias áreas.
Esta seção tem como propósito mencionar alguns aspectos do indexador
especialista, isto é, expert. Temos trabalhado com a noção de especialista
como expert, contudo, aqui devemos notar que especialista no contexto
da Ciência da Informação refere-se à especialização das atividades e nem
sempre se refere ao desempenho superior.
A leitura de um prossional especialista ou expert difere
claramente de um indexador comum. Entre as diferenças está a reexão
sobre os passos que realiza e principalmente, os erros que comete. É um
processo de vigilância constante para, a cada momento, identicar falhas
de raciocínio, assuntos ocultos que não aparecem na primeira análise,
palavras utilizadas que não representam adequadamente um documento,
tempo dispendido para análise do documento, entre outras inúmeras
ações mentais e pequenas decisões, de idas e voltas, que caracterizam um
indexador prossional.
Aqui a ideia de prossional não deve estar relacionada ao fato
dele possuir nível superior, formação em Biblioteconomia ou formação em
uma área do conhecimento e conhecimentos de Ciência da informação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Um bom indexador deve, além de conhecer tecnicamente o processo de
leitura e o campo do conhecimento como mencionado anteriormente,
reetir constantemente sobre a sua própria prática, as decisões que toma e
as representações que produz.
Nesse caso, a quantidade de termos que indica, a agilidade na
leitura do material e a rapidez com que elabora a representação valem
menos para identicar um indexador de nível excelente.
A formação em serviço seria, como observado, um meio
disponível para se produzir um indexador competente, um expert, de
modo a incentivá-lo a aprimorar as capacidades apreendidas genericamente
na universidade. Infelizmente, a capacitação ou o treinamento em muitos
espaços de trabalho e unidades de informação acaba sendo mais para
informar o prossional sobre as regras dos locais de trabalho e explicação
sobre o funcionamento e os manuais existente, do que uma identicação
de competências especiais para formar indexadores especialistas.
Devemos mencionar claramente que as disciplinas acadêmicas
em cursos universitários de Biblioteconomia não formam completamente
um prossional, um indexador ou catalogador de assunto. O desempenho
excepcional tal como a abordagem de Ericsson preconiza não é de
competência única de cursos universitários.
Muito pelo contrário, há limites tangíveis que impedem que a
universidade atue para formar um prossional excepcional e altamente
especializado, a saber: carga horária das disciplinas, programa de ensino,
atividades e trabalhos acadêmicos que destacam as rotinas de trabalho e na
repetição para ganho de produtividade, ênfase nos roteiros ou nas receitas
prontas e menos nas habilidades metacognitivas do aluno as quais serão
fundamentais para o desempenho futuro do prossional etc.
De modo geral, os cursos não formam a expertise em leitura
documental, apenas familiarizam o alunado a algumas regras, padrões e
recomendações das boas práticas. Nem mesmo os estágios prossionais são
pensados para formar ou estimular o desenvolvimento de comportamentos
ótimos, embora o ideário educativo aluda a isso constantemente.
Sendo assim, o tempo e os anos de atuação como indexação,
classicador ou catalogador não são sucientes para determinar que um
prossional é mais competente. Conforme as referências aos médicos, é
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 63
bem provável que, em alguns casos, a rotina e a execução de tarefas comuns
realizadas reiteradamente por indexadores, como a leitura e a indexação
de documentos de uma área profundamente conhecida, prejudiquem o
desenvolvimento de competências desejáveis para alcançar um nível de
excepcionalidade na representação dos assuntos.
Seguindo esta linha de raciocínio, é razoável pensar que os anos de
prática mais prejudicam que aumentam a qualidade do trabalho prestado
pelo leitor prossional, caso as técnicas metacognitivas e a prática consciente
e intencional não tenham sido incorporadas pelo indexador. Para tanto,
deveríamos comparar os resultados das investigações e as representações
dos prossionais, para entender melhor as estratégias metacognitivas desses
prossionais de êxito elevado.
Acreditamos ser importante abrir uma nova linha de investigação
e pesquisar o comportamento do leitor indexador com desempenho
excepcional, tal como mencionado. Nesse caso, o estudo de qualquer
indexador, ou do mais experiente em termos de tempo de atuação, ou do
recém-formado, trariam menos contribuições que o estudo das estratégias
mentais adotadas pelos verdadeiros experts, aqueles que se autocorrigem,
expandem seus próprios limites, detectam incongruências e propõem
hipóteses, pois atuam como seus próprios professores no processo de
representação.
7 consIderAções fInAIs
O desao para a Ciência da Informação é desenvolver técnicas
de pesquisa para se chegar aos melhores indexadores, pois a variável tempo
de atuação já não é suciente. Sobretudo, devemos substituir a noção
de experiência do indexador por experimentação guiada por uma prática
deliberada ou intencional, e tentar conhecer os melhores prossionais a
partir do nível de prática consciente associada ao êxito das tarefas realizadas.
As estratégias cognitivas e metacognitivas devem ser o foco dos estudos
futuros aliados a teoria da expertise.
Para tanto, devemos pensar que o tempo de execução de uma
atividade vale menos que a qualidade dos resultados, pois, ao m e ao
cabo, é isso que se espera dos futuros prossionais, isto é, conjugar tempo
de realização da tarefa e qualidade da representação. Devemos questionar o
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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pressuposto que sustenta que a qualidade de uma representação, do assunto
de um documento, depende unicamente do tempo disponível para leitura
e representação, resumido pela máxima: quanto mais tempo de atuação e
experiência, melhor a qualidade da representação.
Acreditamos que os estudos futuros sobre a prática consciente do
prossional expert em situações concretas de leitura documental, aliados
ao conhecimento da leitura documental com base na metodologia do
Protocolo Verbal, poderão conrmar e esclarecer as questões aqui lançadas.
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RUMELHART, D. E. Toward an interactive model of reading. In: DORMICI, S. (org).
Attention and performance XL. [S. l.]: Lawrence Esrlbaum Associates, 1977. p. 719-747.
pArte 1
Leitura documentária para
indexação: abordagens
interdisciplinares
| 69
3
AnálIse documentAl de textos nArrAtIvos
fIccIonAIs: Aportes teórIcos de aboutness pArA
IdentIfIcAção de temAs
João Batista Ernesto de MORAES
Larissa de Mello LIMA
Mariana da Silva CAPRIOLI
resumo: Este trabalho tem o objetivo de avaliar o Percurso Gerativo de Sentido enquanto
metodologia para os textos narrativos de cção, para tanto caracteriza-se a questão do
aboutness em relação à Análise Documental mostrando formas de interlocução entre as
mesmas. Explica-se que no processo de análise documental focam-se nos pormenores
dos processos; a análise, pois esta representa a decomposição do todo para a extração dos
elementos abstratos constitutivos do texto, de maneira semelhante aos procedimentos do
Percurso Gerativo de Sentido.No que tange especicamente no terreno da identicação
de conteúdo dos textos narrativos de cção, como subsídio, principalmente, às atividades
de indexação, surge a proposta de se analisar de que maneira a questão do aboutness
se articula em textos dessa natureza. Para tanto, apresenta-se a proposta de se utilizar
os parâmetros do Percurso Gerativo de Sentido, como elemento instrumental que pode
auxiliar nesse processo.
pAlAvrAs-chAve: Percurso Gerativo de Sentido. Textos narrativos de cção. Análise
Documental. Aboutness.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
70 |
AbstrAct: is work has the objective of evaluating the Gerative Direction of Sense as a
methodology for the ctional narrative texts, for both characterizing the issue of aboutness
in relation to the Documentary Analysis showing forms of interlocution between them.
It is explained that in the process of documentary analysis they focus on the details of
the processes; to be analyzed, since this represents the decomposition of the whole for
the extraction of the abstract constitutive elements of the text, in a similar way to the
procedures of the Gerotivo Direction of Direction. In what specically refers to the eld
of content identication of narrative ction texts, as mainly to indexing activities, the
idea arises of analyzing how the question of aboutness is articulated in texts of this nature.
In order to do so, we present the proposal of using the parameters of the Generative Path
of Sense, as an instrumental element that can help in this process.
Keywords: Gerativo Direction of Direction. Narrative texts of ction. Documental
analysis. Aboutness.
Introdução
Este capítulo surgiu com o propósito de se caracterizar a Análise
Documental
4
e, principalmente, como a questão do aboutness se insere no
processo de AD, tendo em vista que a intenção primeira deste estudo é
o de se avaliar o Percurso Gerativo de Sentido enquanto metodologia de
análise de textos narrativos de cção.
Assim, num primeiro momento, observar-se-á a inserção da AD
na Ciência da Informação para em seguida, observar-se seus elementos
constitutivos, as perspectivas epistemológicas, bem com as suas relações
interdisciplinares, especialmente com a Linguística.
Por m, trata-se da questão do aboutness, seu uso na literatura
nacional, e alguns conceitos cunhados por vários autores, até centrar-se
na concepção apresentada por Beghtol, uma vez que esta última vem ao
encontro das propostas deste estudo, ou seja, de se propor ferramentas de
análise dos textos narrativos de cção.
2 cIêncIA dA InformAção e AnálIse documentAl
Parece ser consensual que a denominação Ciência da Informação
surgiu como resultado dos trabalhos realizados no quadro das conferências
do Georgia Institute of Technology (abreviadamente ‘Georgia Tech), realizadas
Doravante denominada AD.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 71
em 1961 e 1962 (ROBREDO; BRÄSCHER 2010, p. 24). Como fruto
destas conferências, é comumente destacado o trabalho publicado por
Shera e Cleveland (1967), no qual os autores formulam uma das primeiras
denições de Ciência da Informação, na seguinte conformidade:
Ciência da Informação é a que investiga as propriedades e
comportamento da informação, as forças que regem o uxo da
informação e os meios de processamento da informação para
um máximo de acessibilidade e uso. O processo inclui a origem,
disseminação, coleta, organização, armazenamento, recuperação,
interpretação e uso da informação. (SHERA; CLEVELAND,
1967, p. 265, tradução nossa).
Ainda na década de 1960, Borko (1968) elabora a seguinte
denição de Ciência da Informação, segundo o autor, baseado em artigo
de Robert S. Taylor
5
:
Information science is a discipline that investigates the properties
and behavior of information, the forces governing the ow
of information, and the means of processing information for
optimum accessibility and usability. It is concerned with that body
of knowledge relating to the origination, collection, organization,
storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and
utilization of information. (BORKO, 1968, p. 3).
Pode-se observar claramente uma anidade nos discursos de
Borko e de Shera e Cleveland, ambas focando a informação e seus processos
internos e externos. Porém, o primeiro, em seu artigo, além da denição,
também faz uma caracterização do que seria a Ciência da Informação:
“It has both a pure science component, which inquires into the subject
without regard to its application, and an applied science component,
which develops services and products.” (BORKO, 1968, p. 3).
Desta forma, Borko (1968) destaca que a Ciência da Informação
tem tanto uma dimensão teórica quanto aplicada. Para Guimarães (2008,
p. 39):
TAYLOR, R.S. Professional aspects of Information Science and Technology. In: CUADRA, C.A. (ed.). Annual
Review of Information Science and Technology. New York: John Wiley & Sons, 1966. v. 1.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
72 |
Reconhece-se uma relação orgânica entre o saber da Ciência da
Informação, caracterizador de uma base conceitual especíca, e os
fazeres que se materializam nas distintas atividades prossionais
da área de informação: os primeiros, aqueles norteando teórica
e metodologicamente os segundos (e oferecendo elementos para
explicar seus fenômenos) e, em sentido oposto, os fazeres prossionais
oferecendo espaço de experimentação e de efetivação social dos
saberes cientícos da área. Em outras palavras, pode-se dizer que
a Ciência da Informação nutre teórica e metodologicamente, os
fazeres arquivístico e bibliotecário enquanto a Arquivologia e a
Biblioteconomia atuam como campos de aplicação e de validação
das teorias e metodologias oriundas da Ciência da Informação.
Desta forma, pode-se pensar a AD como um elemento que
se insere no trânsito entre o fazer e o teórico, pois faz parte da prática
biblioteconômica, e arquivístico possivelmente, ao mesmo tempo em que,
enquanto metodologia de análise, apresenta aspectos de um processo de
análise embasado em aspectos teóricos, principalmente a partir de aspectos
teóricos da Linguística
6
, dentro do que se denomina Tratamento Temático
da Informação.
Assim, considerando que a Ciência da Informação se articula
primordialmente no trinômio produção, organização e uso da informação,
(GUIMARÃES, 2008, p. 40) tem-se a AD como um recurso para
a organização, já que esta apresenta um conjunto de procedimentos
metodológicos voltados à denição do conteúdo temático de documentos
de modo a permitir a recuperação, o acesso e o uso da informação neles
contida. Conforme observa Guimarães (2009, p. 105):
Observa-se que um conhecimento registrado (informação
socializada) requer que sobre ele se desenvolvam processos
especícos de organização que propiciem sua passagem da
dimensão pública para a dimensão privada, ou seja, a construção
do conhecimento individual (...) que, por sua vez gerará uma nova
informação registrada para ser socializada, caracterizando um
verdadeiro helicóide informacional.
 A este respeito veja-se, dentre outros: SMIT (1978); CINTRA (1983).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 73
Deve-se destacar que o autor instaura um novo paradigma, pois
até então se falava em círculo informacional, uma imagem inadequada
uma vez que o nal do círculo ca no seu começo, diferente do helicóide,
cujo início e m tendem ao innito.
Como destacam Guimarães, Moraes e Guarido (2007, p. 94) a AD
insere-se como uma das vertentes de um universo epistemológico do TTI,
ao lado da indexação (de tradição inglesa, com ênfase nos instrumentos de
tratamento temático) e da catalogação de assunto (de tradição norte-america,
cuja ênfase recai sobre o catálogo enquanto produto desse tratamento).
Em sentido mais estrito, e considerando que a AD abriga, em
seu bojo, e paradoxalmente, como já destacou Guimarães (2003, p. 112),
etapas de análise e de síntese, pode-se dizer que os maiores esforços devem
centrar-se nos procedimentos metodológicos que visam a desconstruir ou
decompor o conteúdo temático do documento para que se possa, assim,
posteriormente, reconstruí-lo por meio de representações documentais,
como o resumo ou o índice.
A concepção de AD provém, principalmente, dos estudos de
Jean-Claude Gardin, a partir de suas experiências nas décadas de 60 e de
70. Para Gardin (1969) na AD é essencial a linguagem documentária para
converter o conteúdo dos textos em informação e, para tanto, foi proposto
um modelo de linguagem, constituída por um conjunto de termos (o
léxico), por relações entre as unidades lexicais, determinadas a priori (o
eixo paradigmático) e por uma sintaxe que articula os encadeamentos
entre os termos da linguagem, em face de um documento especíco (o
eixo sintagmático (GARDIN, 1973). Nota-se claramente nesta denição a
inuência de uma das dicotomias saussurianas (Sintagma X Paradigma
7
),
o que evidencia, também, que a base das teorias gardinianas sobre AD
repousa em teorias linguísticas.
A partir de uma análise seletiva da literatura internacional acerca
das denições de AD, tem-se
8
:
Por um lado, no discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de seu encadeamento, relações baseadas
no caráter linear da língua. [...] Tais combinações, que se apóiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas.
[...] Por outro lado, fora do discurso, as palavras que oferecem algo de comum se associam na memória e assim
se formam grupos dentro dos quais imperam relações muito diversas. [...] Chamá-la-emos relações associativas.
(SAUSSURE, 1999, p. 142-143).
Na Espanha, a AD é denominada como análise documental de conteúdo.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
74 |
Quadro 1 - Denições de Análise Documental
Autor(es) defInIções
RUIZ PEREZ
9
Conjunto de operações necesrias para a extração da
informação contida nas fontes primárias de modo a prepará-la
para sua posterior recuperação e utilização.
CHAUMIER
10
Operação ou conjunto de operações visando a representar o
conteúdo de um documento sob uma forma distinta de seu
estado original, com o m de facilitar a consulta ou a posterior
localização
GARDIN et
alli
11
Toda operação ou grupo de operações que buscam a
representação de um documento sob uma forma distinta da
original, seja por tradução, resumo ou indexação, de modo a
facilitar a recuperação por especialistas interessados
GARCÍA
GUTIÉRREZ
12
Técnica documental que permite, mediante uma operação
intelectual objetiva, a identicação e transformação dos
documentos em produtos que facilitem a consulta aos originais,
em áreas de controle documental, e com o objetivo último de
servir à comunidade cientíca
PINTO;
GALVEZ
13
Processo duplo de identicação e representação do texto /
documento
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Guimarães, Moraes, Guarido (2007, p. 98).
Analisando-se as distintas denições de análise documental
apresentadas pela literatura internacional, observam-se que os aspectos
de identicação, extração e representação da informação predominam nas
denições, havendo mesmo autores que consideram os dois aspectos,
identicação e representação.
Em suma, pode-se dizer que a área de análise documental de
conteúdo pode ser denida como um conjunto de procedimentos de
 RUIZ PEREZ, 1992, p. 51.
10
CHAUMIER, 1988, p. 17.
11
GARDIN et al. 1981, p. 29.
12
García Gutierrez Apud RUIZ PEREZ, 1992, p. 59.
13
PINTO; GALVEZ, 1999, p. 31.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 75
natureza analítico/sintética, que envolve os processos de análise do conteúdo
temático dos documentos, e sua síntese, por meio da condensação ou da
representação em linguagens documentárias.
Dessa concepção alguns elementos merecem destaque:
Quadro 2 - Análise documental de Conteúdo
procedImentos cArActerístIcAs
Processos o conteúdo da área se dá por meio de uma sequência
lógica de procedimentos
Análise a decomposição de um todo em seus elementos
constitutivos, buscando um sentido informativo
Conteúdo temático o conjunto de elementos documentais que reetem a
dimensão informativa (a função original) do documento
Representação o conteúdo temático passa a ser expresso de maneira
padronizada conforme parâmetros previamente
estabelecidos
Fonte: Guimarães; Moraes; Guarido (2007, p. 94).
Para ns deste estudo, focam-se as questões dos processos, pois estes
envolvem uma operação mental de abstração; a análise, pois esta representa a
decomposição do todo para a extração dos elementos abstratos constitutivos
do texto, de maneira semelhante aos procedimentos do Percurso Gerativo
de Sentido que têm por objetivo chegar ao conteúdo temático dos textos
narrativos de cção, para que se possa fazer a representação dos conteúdos a
partir dos conteúdos extraídos.
Por m, deve-se ressaltar que a ênfase da AD quanto à análise
do documento cientíco como o paradigma documental para o
tratamento de conteúdo se encontra amplamente difundida na tradição da
Biblioteconomia, da Documentação e da Ciência da Informação enquanto
fundamentação de seus procedimentos técnicos. Neste sentido, não apenas
a tradição francesa de AD, mas também os estudos de classicação e de
indexação têm seu foco no texto cientíco, visualizando-o como paradigma
de suporte de informação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
76 |
Contudo, García-Marco et al. (2010) chamam a atenção para
outros aspectos que começam a se fazer presentes.
e revolution of today is about multimedia information, and
a great deal of such information does not suit into the frame of
traditional scientic reports and articles. ey are much nearer
to ction and narrative documents. In fact, narrative-based
communications are gaining considerable room in disciplines like
education—with multimedia and video as increasing important
tools in face-to-face, blended and virtual education—, psychology
and even in elds like business and management in general, where
the “story-telling” movement is gaining importance in marketing,
corporative culture management and political communication.
(GARCÍA-MARCO et al., 2010, p. 395).
Com relação à armação que os estudos tradicionais sempre
enfocaram os documentos cientícos, entretanto, Eriksson (2005) faz a
seguinte ressalva:
Although it often may seem so, the classication and indexing of
imaginative literature and ction in particular is not an issue that
has only been discussed in the last few decades. Presumably the rst
serious article on the subject appeared in 1898, when the noteworthy
British librarian Ernest Baker wrote about the classication of
ction in the Library World (Baker, 1898), and in the beginning
of the 20
th
century a prolonged discussion concerning the same
issue took place in the American Library Association (ALA) after
John omson had initiated a major ction classication project
at the Wagner Institute Branch of the Free Library of Philadelphia.
(ERIKSSON, 2005, p. 1).
A rigor, nos últimos trinta anos, a questão dos textos literários
parece ter voltado à tona, pois podem ser encontrados os estudos de
Pejtersen (1978, 1979, 1983, 1984, 1998), Beghtol (1986, 1992, 1994,
1995, 1997), dentre outros. Porém, deve-se observar que tais estudos
concentram seu foco nas questões de indexação, classicação ou recuperação
da informação, ou seja, as preocupações recaem antes sobre a questão dos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 77
produtos documentais, do que sobre a questão da análise do documento,
tal como preconizado pela AD.
Deve-se acrescentar, ainda, que tais produtos documentais, em
sua maioria, focam a questão do gênero (romance, poesia, drama), da
nacionalidade (Romance Inglês, Romance Brasileiro), ou mesmo rotulado
sob o genérico “cção”.
Como exemplo, vejam-se os critérios propostos por Veiga e
Martha (1986) para a classicação de obras literárias:
Na classicação de uma obra literária, no sentido estrito, devemos
considerar os seguintes elementos:
- Língua em que foi escrita a obra
- Gênero ou forma
- Tema ou assunto
- Nacionalidade do escritor
- Local e data da publicação
- Teoria, ciência e técnica literária (VEIGA; MARTHA, 1986, p. 13)
Porém, no desenvolvimento do trabalho, as autoras desenvolvem
a questão do tema ou assunto em conjunto com a questão Gênero ou forma,
servindo-se para tal de uma citação do trabalho de Afrânio Coutinho, na
seguinte conformidade:
Um gênero é, no princípio, uma tendência do espírito humano. A
tendência do espírito humano tornou-se um gênero, e um gênero cria
suas leis; mas no fundo ele ca sempre uma tendência do espírito. Em
muitos casos, a diculdade é grande em introduzir distinções entre
uns e outros gêneros, de modo a torná-los nitidamente classicáveis
sob uma qualquer categoria. (COUTINHO, 1978, p. 46).
Como sugestão de categorias de análise, García-Marco (2006, p.
395) sugere:
With the multimedia revolution, a growing percentage of content is
leaving the relatively unambiguous path of scientic and journalistic
genres and approaching the semantic jungles of creative literature.
is kind of material requires the complex kind of content analysis
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
78 |
that is characteristic of artistic disciplines, that can be summarized
in the simplied model that was proposed by the Art historian
Panofsky (1955) —also applicable analogically to the analysis of
ction—: description of common subjects; identication of the
specic names and exemplars of these common subjects; and
interpretation of the abstracts subjects that are being represented
through the former..
A classicação de Panofsky
14
, referida por García-Marco, é
utilizada principalmente para a indexação de imagens, como pode ser visto
em Layne (2002), e conta com as seguintes categorias:
Tabela 1 - Classicação de Panofsky
objeto dA InterpretAção Ato dA InterpretAção
I. Tema primário ou natural
- (A) fatual, (B) expressional –
constituindo o mundo dos motivos
artísticos.
Descrição pré-iconográca
(e análise pseudoformal)
II. Tema secundário ou convencional,
constituindo o mundo das imagens,
estórias e alegorias.
Análise iconográca.
III. Signicado intrínseco ou conteúdo,
constituindo o mundo dos valores
simbólicos”.
Interpretação iconológica.
Fonte: Panofsky (2002).
E é exatamente o foco no documento e em seu processo de análise
que interessa particularmente a este estudo, uma vez que se pretende
privilegiar o estudo do próprio documento literário como forma de se
obter o conteúdo temático dos documentos.
Além disso, deve-se observar que o documento que é objeto da
AD, notadamente em bibliotecas, não é apenas o documento cientíco,
pois em algumas dessas unidades de informação, tais como Bibliotecas
Públicas e Bibliotecas Escolares, o texto narrativo é objeto de especial
14
A princípio, a classicação de Panofsky não será utilizada neste estudo.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 79
atenção, seja no desenvolvimento de coleções, seja na organização das
mesmas para atender ao usuário. Além destas bibliotecas, deve-se ter em
mente, também, as Bibliotecas Universitárias, notadamente da área de
Letras, as quais abrigam um grande acervo de textos narrativos que, por sua
vez, necessita ser precisa e objetivamente tratado como suporte ao ensino e
à pesquisa em seus cursos de Graduação e Pós-Graduação.
Porém, no momento em que a “matéria prima” da AD consiste em
textos narrativos de cção, a complexidade aumenta consideravelmente,
pois o modelo metodológico de identicação de conceitos elaborado para
textos cientícos, pautado na leitura documental de partes canônicas do
texto, tais como título, subtítulo, resumo, etc. (CHAUMIER, 1988), não
se aplica a textos narrativos, pois a estrutura destes textos assume outras
formas de evidenciar seu conteúdo.
2.1 Aboutness
Em artigo publicado no de 2006, Moraes e Guimarães (2006)
davam os primeiros passos no sentido de estabelecer ligações entre o
aboutness/meaning e Percurso Gerativo de Sentido. Segundo os autores, o
texto partia do resgate teórico das concepções de aboutness como suporte
à análise documental em documentos cientícos e, em seguida, buscava-se
caracterizar o texto narrativo em sua estrutura de conteúdo, privilegiando-
se os percursos temático e gurativo.
Com base em tais elementos, foi desenvolvida uma análise
comparativa das dimensões de aboutness e meaning previstas por Beghtol,
com os percursos temático e gurativo abordados por Greimas, de modo
a estabelecer o cotejo entre os traços distintivos de ambas as teorias. Por
m, chegou-se à conclusão que um ponto em comum unia estas duas
concepções teóricas: a delimitação especíca do conteúdo do documento
(MORAES; GUIMARÃES, 2006, p. 74).
Desta forma, pretende-se discutir neste seção a questão do
aboutness, principiando pela discussão do uso do termo em Português,
passando pelo surgimento e estudos sobre o conceito, e nalizando com
algumas considerações que envolvem a proposta deste estudo, ou seja, a de
se propor uma metodologia para a análise documental de textos narrativos
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
80 |
de cção, principalmente levando em conta as conclusões de Moraes e
Guimarães, (2006).
2.2 consIderAções sobre o uso do termo Aboutness em línguA
portuguesA
Nas publicações em Língua Portuguesa sobre aboutness, uma
questão precede às discussões sobre o conceito: a exata tradução do termo.
Analisando-se a literatura publicada no Brasil, parece não haver um
consenso sobre a utilização do termo.
Desta forma, podem ser encontradas as seguintes traduções para o
Português: “atinência” (ALVARENGA, 2001); “tematicidade” (MEDEIROS,
1986; FUJITA, 2003, 2004; MORAES; GUIMARÃES, 2006). Pode-se até
mesmo encontrar o termo sendo usado como um sinônimo para “assunto”,
embora se deva ressaltar que este último termo também apresenta divergências
teóricas e conceituais na área de Ciência da Informação.
Em uma das primeiras publicações em Língua Portuguesa na qual
aparece o termo aboutness, Baranow (1983) faz a seguinte consideração:
[...] o primeiro passo na indexação é determinar do que trata
um determinado documento. É o que poderíamos chamar de
concernência’ (do verbo concernir, adj. concernente), termo mais
adequado ao vernáculo do que o esdrúxulo anglicismo ‘sobrecidade’
(aboutness). (BARANOW, 1983, p. 25).
Em estudo sobre questões terminológicas em Ciência da
Informação, Medeiros (1986, p.140) recomenda a tradução por
tematicidade, observando ser esta a tradução mais indicada, pois, apesar de
ser um neologismo, “[...] foi criado observando-se os padrões gramaticais
da língua portuguesa (derivação do adjetivo temático com o suxo — (d)
ade)”. A autora descarta o uso do termo sobrecidade, pois
[...] constitui-se num neologismo por tradução de morfemas
erroneamente combinados em vernáculo, uma vez que, de acordo
com as regras gramaticais de derivação, as preposições em português
(ex. sobre) não são passíveis de derivação lexical (ingl. aboutness).
(MEDEIROS, 1986, p. 140).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 81
Dias e Naves (2010) optam pelo termo atinência, a mesma
opção adotada por Briquet de Lemos ao traduzir para o Português a obra
Indexação e Resumos: teoria e prática, de Lancaster (2004). Na página 13
da referida obra, o tradutor faz a seguinte observação: O autor emprega
os termos ingleses about e aboutness. O primeiro traduzimos por ‘trata de’ e
o segundo por ‘atinência’. Outros traduzem aboutness por ‘tematicidade’,
temática’, ‘acerca-de’, ‘ser acerca-de’, ‘ser sobre-algo’, etc.
2.2.3 Questões sobre o Aboutness
Ao abordar a questão das perspectivas de utilização em bibliotecas
universitárias do Percurso Gerativo de Sentido, Antonio (2008, p. 119) faz
a seguinte sugestão:
A criação de uma base beta que insira obras de cção indexadas
não apenas pelos grandes assuntos obtidos no Bibliodata, mas dos
assuntos que tratam realmente da obra. Assim, poderá realizar uma
avaliação da revocação e precisão na recuperação da informação
dessas obras, bem sua utilização.
A pesquisadora chegou a tal conclusão ao observar que os
bibliotecários da Rede Unesp de Bibliotecas não dispõem de ferramental
especíco para a Análise Documental de Conteúdo de obras narrativas de
cção. Desta forma, uma base já existente não apenas facilitaria o trabalho
de Análise Documental, mas também diminuiria em muito a possibilidade
de certas inadequações no processo de representação de obras de cção.
A rigor, a questão das incompletudes ou desvios na representação
não é privilegio apenas das obras de cção, pois como ressalta Castañon
Moreno (1992, p. 5, grifo nosso), entre os fatores de erro, omissão ou
inconsistência na análise e posterior representação temática de um
documento está o fato de que “[...] o bibliotecário se preocupar mais em
ajustar-se a um sistema de classicação ou de indexação do que em desenvolver
uma análise documental que lhe permita compreender o tema exposto no texto
de uma obra.”.
Esta preocupação também pode ser observada em Beghtol (1986,
1992, 1994, 1995, 1997), quando trata especicamente das obras de cção.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
82 |
Tratando-se de textos cientícos, ou textos de cção, o problema
fundamental reside na denição – e consequentemente – na identicação
do tema do documento, como forma de evitar eventuais incompletudes
ou desvios caso o analista venha a desenvolver seu processo interpretativo
sem a adoção de determinados parâmetros pré-denidos (MORAES;
GUIMARÃES, 2006, p. 74).
Para Brown (1976), o tema do documento é a forma intelectual
do conhecimento expresso no documento que, segundo o autor, engloba
os seguintes itens:
- Forma de conhecimento (o que é)
- Conceitos temáticos (sobre o que é)
- Formas de apresentação (como é).
Essa discussão remete à questão do aboutness, que já há algumas
décadas vem sendo objeto de estudo e de preocupação para os teóricos da
análise documental de conteúdo (MORAES; GUIMARÃES, 2006, p. 74).
Cumpre ressaltar que a questão do aboutness foi pela primeira vez
discutida, na área de Ciência da Informação, por John Hutchins, em 1977 (tal
como ressaltado por Cao, 1988, p. 24), ao armar que o problema crucial
da área reside em identicar “what documents are about”. Na concepção de
Hutchins (1977, p. 17) a primeira pergunta a ser feita é “what is meant by the
topic of a document in the context of an information system?
Para o autor, uma resposta supercial seria que o tema é o assunto
descrito no índice ou vocabulário relacionado ao documento e admite,
no entanto, que raramente há uma verdadeira relação entre a entrada no
vocabulário controlado e o que de fato o documento trata, e dá como
exemplo os sistemas de indexação pós-coordenados, cuja entrada pode
representar somente uma parte do conteúdo do documento, ou seja, a
descrição do assunto é apenas uma forma de expressão de parte do tema
de um documento.
Uma segunda questão abordada por Hutchins (1977, p. 17) é
“What do we mean by the content of a document?” e arma que para
respondermos a isto devemos estar certos quanto à distinção entre o ‘sense
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 83
de uma expressão linguística e a ‘reference’ com o objeto, indivíduo que esta
expressão representa.
Em outras palavras, pode-se armar que uma expressão só pode
fazer sentido e ser encarada como conteúdo relevante, se se toma como
ponto de partida o relacionamento existente entre um termo e os outros
termos que compõem o texto, sendo que esse sistema de relacionamento é
o que de fato pode determinar o seu sentido e a sua relevância.
Não se pode armar que Hutchins tenha bebido, ou não, nas
fontes da linguística, mas o fato é que tal constatação em muito lembra
o conceito de valor do signo linguístico, ou seja, o conteúdo de um signo
só é verdadeiramente determinado pelo concurso do que existe fora dela
(SAUSSURE, 1999, p. 134). Há ainda, certa conexão com o conceito de
isotopia – o “parentesco” dos traços distintivos (GREIMAS; COURTÉS,
2008, p. 400), preconizado por Greimas.
Outro autor que trabalhou com a questão do aboutness foi
MacCaerty (1977), citado por Begthol (1986, p. 86). Para o autor, o
mesmo documento pode ter diferentes signicados para o mesmo leitor em
diferentes tempos, mas o documento, por si só, é imutável, possui um aboutness
fundamental (BEGTHOL, 1986, p. 85).
Maron (1977), partindo da constatação sobre o ponto principal
de um sistema de recuperação de informações, observa: “Since about
is at the heart of indexing, how are we to formulate any proper theory
of indexing if we cannot explicate precisely the key concept of about?”
(MARON, 1977, p. 38).
Desta forma, ao investigar possíveis comportamentos de análise
e busca de documentos, Maron (1977) simula algumas possíveis situações
cotidianas de troca de informação entre indivíduos, buscando exemplicar
a diculdade de exprimir a compreensão sobre um documento. Para o
autor, a leitura de uma obra gera uma experiência interior sobre o que ela
trata, mas não necessariamente permite que se esteja apto a relatá-la com
precisão, ou instruir alguém a como fazê-lo.
Assim, a formulação de um conceito de aboutness é buscado pelo
autor, através da proposição de três tipos de about: S-about (subjective
about); O-about (objective about); R-about (retrieval about).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Estes conceitos de about propostos por Maron (1977) podem ser
sintetizados no quadro 01:
Quadro 3 - About segundo Maron
conceIto defInIção
S-about
(subjective
about)
- o about interior, gerada da experiência psicológica de análise,
leitura de uma obra
- é pouco passível de ser expressa ou descrita pelo indivíduo:
O-about
(objective about)
- refere-se ao conceito que pode ser observado externamente em
uma situação de recuperação de informação
- refere-se ao atual ou potencial comportamento de busca ou
pesquisa de documentos
R-about
(retrieval about)
- pode ser observado e mensurado
- refere-se à probabilidade de satisfação dos usuários com um
determinado documento a partir de uma determinada busca
Fonte: baseado em Maron (1977, p. 40).
De qualquer forma, mesmo contribuindo com suas propostas de
conceituação, Maron (1977) reconhece a diculdade dessas denições:
Let us attempt to clarify further what about means. First of all,
we are suggesting that there are several dierent about concepts.
Perhaps we should say that about can be interpreted from several
dierent points of view and that each dierent viewpoint gives rise
to a dierent interpretation of the meaning of about. (MARON,
1977, p. 40).
Mesmo com a complexidade das denições, torna-se interessante
destacar que o autor leva em conta não apenas o que o documento em si
pode representar, mas também leva em consideração o contexto de busca,
bem como o contexto de recuperação, ou seja, contextos diferentes podem
fazer com que o documento tenha signicações também diferentes.
Outro autor que abordou a questão do aboutness foi Ingwersen
(1992). Para o auto, o aboutness pode ser observado de quatro pontos de
vista: do autor, do indexador, do usuário, e da solicitação.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 85
O quadro 02 sintetiza os pontos de vista do autor:
Quadro 4 - Tipos de aboutness segundo Ingwersen
tIpo de Aboutness conceIto
aboutness do autor
(author aboutness)
determinado pelo autor através da sua linguagem
natural, direta
aboutness do indexador
(indexer aboutness)
implica na transformação da linguagem do autor em
uma linguagem documental aceita ou criada pelo
indexador ou sistema do qual faz parte
aboutness do usuário
(user aboutness)
formulado a partir da necessidade do usuário por
novos conhecimentos
aboutness da solicitação
(request aboutness)
o aboutness da requisição conforme formulada pelo
usuário.
Fonte: Baseado em Ingwersen (1992, p. 50).
Apesar de interessante, o conceito de aboutness exposto por
Ingwersen merece algumas considerações. A rigor, se considerarmos
o aboutness do autor diferente do aboutness do indexador, poder-se-ia
considerar que se tratam de duas coisas diferentes, seja porque o segundo
não representou corretamente o primeiro, seja porque o segundo vai
ser uma entidade diferente do primeiro, sem o estabelecimento de uma
relação. Ademais, se considerarmos os dois outros tipos de aboutness – do
usuário, da solicitação, o mesmo comentário pode ser válido, ou seja, se
não há uma relação explícita entre as entidades e suas representações, pode-
se armar que há uma incompreensão sobre o primeiro, ou algum tipo
de desvio ou equívoco na representação. Assim, para efeitos deste estudo,
a classicação de Ingwersen (1992) é apenas citada, sem que haja uma
concordância quanto a seus pressupostos.
Por outro lado, Cao (1988) apresenta outra visão acerca do
aboutness, por considerar a relação entre “[...] o discurso do documento
acerca de um conceito e o conceito teoricamente denido como uma parte
do conhecimento geral.” (CAFFO, 1988, p. 23). A autora destaca ainda
que a questão do aboutness, especicamente no âmbito das atividades de
indexação, dedica-se não à análise conceitual do complexo teórico do
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
86 |
conhecimento, mas a partir da dimensão conceitual de um conhecimento
materializado, no caso o documento, tal como preconizado por Michael
Buckland (1991), dentre outros autores.
A discussão do aboutness assume uma dupla vertente que, como
ressalta Begthol (1986), encontra reexo nas concepções de Faithorne
15
quanto a um Extensional aboutness, ou assunto inerente ao documento,
em contraposição a um Intensional aboutness, ou razão ou objetivo pelo
qual o documento é adquirido ou consultado; de Boyce
16
, ao contrapor
a Topicality à Informativeness, e de Van Dijk
17
, ao referir-se a relevância
normal e relevância diferencial.
Beghtol (1986) expõe o seu ponto de vista nos seguintes termos:
Whatever terms are chosen, a distinction between ‘aboutness
and ‘meaning’, as the terms used here, seems justiable on the
assumption that a document has an intrinsic subject, an ‘aboutness’,
that is at least to some extent independent of the temporary usage
to which an individual might put one or more of its meanings.
(BEGHTOL, 1986, p. 85).
Sintetizando esses dois níveis de conteúdo informacional, Beghtol
(1986, p. 85) refere-se a um aboutness propriamente dito, e a um meaning.
Assim, tem-se, segundo a autora, o aboutness como algo intrínseco ao
documento, de natureza relativamente permanente, integrando a essência
do mesmo, ao passo que o meaning é mutável em função do local, do
momento histórico, do interesse do usuário, etc.
Nesse sentido, Moraes e Guimarães (2006, p. 75) destacam que
[...] os hábitos classicatórios da tradição bibliotecária, por vezes
demasiadamente ligados às formas temáticas pelas quais um dado
documento será interessante ao usuário, acabam por deixar de
lado a abordagem da temática intrínseca ao documento, atuando
por comparação, o que encontra reexos no alerta de Faithorne
no sentido de que a preocupação reside antes na decisão se dois
15
FAITRHORNE, R. A. Content analysis, specication and control. ARIST, Easter Timur, n. 4, p. 73-109, 1969.
16
BOYCE, B. Beyond topicality: a two-stage view of relevance and the retrieval process. Information Processing
and Management, London, n. 18, p. 105-109, 1982
17
VAN DIJK, T. A. Relevance assignment in discourse comprehension. Discourse Process, Philadelphia, n. 2, p.
113-126, 1979.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 87
documentos possuem o mesmo assunto do que, efetivamente, qual
é o assunto do documento.
Sintetizando a questão, Beghtol (1986) destaca que o assunto
do documento pode ser considerado como resultado de sua tematicidade
permanente, ao que se contrapõe ao eventual caráter contextual do(s)
signicado(s).
Como consequência, a análise do aboutness consiste no processo
pelo qual o classicador ou indexador discerne os aspectos relativos a
um tópico daqueles que reetem a temática geral do documento e busca
elementos da linguística textual de modo a transformar a estrutura
supercial do documento em uma estrutura lógica proposicional profunda,
na seguinte conformidade:
a) Transforms the surface structure of the document into its
deep propositional logical structure;
b) Transforms the surface structure of the classication system
into its deep propositional logical structure;
c) Joins these two deep propositional structures using the actual
system of the classication schedules and instructions as
an articially-constructed virtual system for expressing the
natural language actual system of primary documents;
d) Transforms the resulting single propositional structure of
classication system applied to document’ back into the
surface structure of the classication schedules, generates the
apposite notation. (BEGTHOL, 1986, p. 102).
Em suma, tem-se um conteúdo intrínseco ao documento
(aboutness) paralelamente a outros que advém de questões externas, como
a necessidade informacional do usuário (meanings).
Porém, há que se chamar a atenção para o fato de se observar,
no âmbito dos estudos de tematicidade, que os mesmo têm, via de regra,
voltado sua atenção para o texto cientíco, no mais das vezes considerado como
paradigma para estudos de análise documental (MORAES; GUIMARÃES,
2008, p. 34).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
88 |
No entanto, um outro gênero documental merece atenção no
que tange aos estudos sobre aboutness, ou seja, o texto narrativo de cção,
principalmente se considerarmos que este constitui grande parte do acervo
em bibliotecas públicas e escolares, conforme já armado anteriormente.
Adentrando especicamente no terreno da identicação de
conteúdo dos textos narrativos de cção, como subsídio, principalmente,
às atividades de indexação, surge a proposta de se analisar de que maneira
a questão do aboutness se articula em textos dessa natureza. Para tanto,
apresenta-se a proposta de se utilizar os parâmetros do Percurso Gerativo
de Sentido, em seus três patamares, como elemento instrumental que pode
auxiliar nesse processo.
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tIpos e estruturAs de textos nA ótIcA dA
orgAnIzAção e recepção de InformAções
Nair Yumiko KOBASHI
resumo: Apresentação de metodologia de elaboração de informações documentárias
(resumo e indexação) fundamentada nas abordagens sobre tipos de textos e discursos, e sua
interpretação, desenvolvidos na área das Ciências da Linguagem. Adota-se a perspectiva
de tipologização (descritivo, narrativo expositivo e dissertativo) proposta pela Linguística
textual. Os tipos de textos são, em seguida, descritos e esquematizados em constituintes.
Tal esquematização permite delinear uma metodologia de análise de textos tendo como
horizonte as ações de informação próprias da Ciência da Informação. Sob essa ótica,
propõem-se formas de condensar textos e representá-los, cujo parâmetro mais importante
é a interpretação orientada pela intencionalidade, fator básico para garantir equivalência
de conteúdo entre texto de partida e resumos e índices.
pAlAvrAs-chAve: Análise documentária. Tipos de textos. Informação documentária.
Elaboração de resumos. Indexação.
AbstrAct: Presentation of a methodology to elaborate documentary information
(abstracting and indexing) based on the approaches on types of texts and discourses, and
their interpretation, developed in the area of Linguistics and Semiotics. It was adopted the
classication of texts (descriptive, expository and narrative narrative) proposed by Textual
linguistics. e types of texts are then described and schematized into constituents.
Such a schematization allows to delineate a methodology of analysis of texts having as
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
94 |
horizon the actions of information proper to Information Science. From this perspective,
we propose ways to condense and represent texts, whose most important parameter is
intentionality-oriented interpretation. is is a basic factor to guarantee equivalence
between text and abstracts and indexes.
Keywords: Documentary analysis. Types of texts. Documentary information. Abstracting.
Indexing.
1 Introdução
A organização de informações, na perspectiva da Ciência da
Informação, tem como tarefa central propor métodos e técnicas para
elaborar informações documentárias, aqui denidas como representações
condensadas de textos. A função principal da informação documentária é
ltrar informação para promover a circulação e o acesso aos documentos
produzidos nas várias esferas das atividades sociais. Tais representações,
armazenadas em sistemas de informação, são consideradas fundamentais
para responder às necessidades de informação, para se conhecer o que é
publicado, tomar decisões, aprofundar saberes. Deve-se acrescentar que
os conteúdos desses dispositivos vêm sendo crescentemente usados para
avaliar produção cientíca e propor políticas de pesquisa.
Os textos, que se individualizam pelos assuntos abordados
e pela forma de apresentá-los, são a matéria prima da elaboração de
informações documentárias. No âmbito das ações de informação realizadas
em instituições de memória (bibliotecas, museus, arquivos), os textos
são representados de modo especíco. De um lado, são identicados os
dados que contornam o texto: o título, o subtítulo, o lugar de publicação,
a editora, a data. São dados paratextuais (ou pré-textuais) inseparáveis
do texto (MAINGUENEAU, 2006, p. 105). De outro, representa-se o
conteúdo mesmo dos textos, ou seja, sobre o que e como o autor (individual
ou coletivo) abordou um determinado tema.
Neste capítulo focalizamos, de forma especial, o conceito de texto,
sua tipologia, a compreensão e interpretação desses objetos e as operações
para condensá-los e representá-los documentariamente (elaboração de
resumos e indexação). Não será, portanto, discutida a representação de
dados pré-textuais.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 95
A representação de conteúdos requer o auxílio de teorias e
métodos que permitam transformar um objeto (o texto) em outro texto
por meio de operações interpretativas especícas. Nessa perspectiva, os
textos são analisados para estabelecer distinção entre informação principal
e acessória; em seguida, as informações selecionadas são combinadas e
convertidas em resumos ou expressos por meio de conceitos (indexação).
Um fato que deve ser destacado, as representações documentárias são
úteis se permitirem ltrar informações para oferecer respostas adequada às
demandas dos usuários.
Elaborar resumos e indexar são, muitas vezes, consideradas
operações técnicas que não necessitam de procedimentos metódicos. No
entanto, deve-se ter presente que essas operações são atos comunicacionais
realizados no interior de instituições que têm missões especícas. Nessa
medida, são também especícos os tipos de usuários e informações a
serem tratadas.
Decorre do que foi dito que os textos de partida são desestruturados
para hierarquizar as informações neles contidos. Os fragmentos
selecionados são reorganizados sob a forma de novos textos condensados.
Estes últimos são utilizados em buscas por informação em bases de dados.
Inicialmente, a busca é feita por meio de termos, operação que resulta em
listas de registros. Os resumos são ltros adicionais que permitem escolher,
dos conjuntos obtidos, os documentos que poderão ser efetivamente úteis.
Diversas teorias e métodos podem subsidiar as operações acima
apresentadas. Neste capítulo julgamos serem centrais: o conceito de texto,
sua classicação, interpretação e condensação, aspectos desenvolvidos nos
itens abaixo.
2 teorIAs sobre A clAssIfIcAção de textos
Apresentamos neste item, de forma resumida, aspectos das
teorias e conceitos sobre a classicação de textos elaborados no campo da
Semiótica e da Linguística. Estes conceitos encontram-se sistematizados
em perspectiva pragmática, qual seja a sua pertinência para sustentar a
elaboração de informações documentárias.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
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2.1 conceIto de texto
Neste capítulo, consideramos texto e discurso como termos
sinônimos. As correntes que analisam textos ou discursos compartilham a
ideia de que estes são objetos que apresentam um sentido global; não são,
portanto, inscrições que se expressam pela mera justaposição de palavras ou de
frases. Nessa medida, os textos denem-se por sua “autonomia e fechamento
(DUCROT; TODOROV, 1972, p. 375), características garantidas pela
progressão, pela coesão e coerência (DUCROT; TODOROV, 1972). Essas
propriedades referem-se às variadas formas de repetição de ideias: reiteração
de pontos de vista, exemplicação, denições de termos, entre outros. São
essas características que permitem condensar textos. Dito de outro modo: as
reiterações, exemplos, denições, podem ser suprimidos sem comprometer a
informação substantiva veiculada pelo texto.
Adam (1989, p. 20), por sua vez, caracteriza as propriedades
do texto de forma didática: “A textualidade pode ser denida como um
equilíbrio delicado entre continuidade-repetição, de um lado, e progressão
de informação, de outro.” Essas propriedades referem-se às variadas formas
de reiteração de pontos de vista, exemplicação, denições de termos,
entre outros. São essas características que permitem condensar textos. Dito
de outro modo: as reiterações, exemplos, denições, podem ser suprimidos
sem comprometer a informação substantiva veiculada pelo texto.
Os objetos textuais apresentam, portanto, estruturas convencionais,
socialmente construídas, aptas a comunicar ideias, experiências, histórias,
descrever objetos, expressar sentimentos, convencer.
Embora os textos possam ser descritos de diferentes maneiras (oral,
escrito, audiovisual), neste capítulo trataremos apenas de textos verbais
escritos não-ccionais, também chamados de textos pragmáticos (técnicos
e cientícos). Não trataremos, portanto, de textos literários. Justicamos,
a seguir, a distinção entre texto literário e não-literário e as razões para
limitar este capítulo à abordagem de textos não-literários. Semelhante
distinção tem, como veremos a seguir, uma função operacional.
A função estética é o aspecto divisor de águas entre texto literário
e não-literário. Outro aspecto importante é o estatuto da referência
(CORTINA, 2000, p. 100). Como exposto na citação abaixo:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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A demonstração da importância da função estética para o texto
literário e da utilitária para o não-literário pode ser constatada ainda
na armação de Valéry, que diz que, ao se resumir um texto não-
literário, apreende-se o que ele tem de essencial, mas, ao resumir
um texto literário, perde-se exatamente aquilo que é essencial para
ele. (CORTINA, p. 2000, p. 102).
Por outro lado,
a distinção entre o literário e o não-literário pode ser pensada a
partir da oposição entre o verossímil e o verídico. Uma vez que o
verossímil corresponde à tentativa de reconstrução do referente do
discurso, a utilização desse termo situa-se, por consequência, num
contexto social, caracterizado por uma certa atitude com relação
à linguagem e de sua relação com a realidade extralinguística.
Nesse sentido, em um dado contexto cultural, a verossimilhança
é característica dos discursos gurativos, enquanto a busca da
verdade é um procedimento particular dos discursos abstratos,
portanto temáticos. (GREIMAS, 1983
18
apud CORTINA, 2000,
p. 103-104).
As diferenças conceituais acima assinaladas são operacionais no
contexto da organização da informação, questão que será retomada de
forma especíca no item 3 (Leitura e interpretação de textos: os problemas
da recepção).
2.2 tIpos de textos
Admite-se que os estudos sobre os textos tiveram início no século
XX, a partir de Saussure (1973), que criou a Linguística como campo
de conhecimento. Nesta ciência, são estabelecidos conceitos fundantes,
como a oposição entre língua e fala, ou seja, entre sistema linguístico
e uso do sistema. Desta oposição derivam diversas abordagens de
classicação de textos, dentre as quais a Semiótica, a Análise do discurso
e a Linguística textual, que se desdobram em várias vertentes. Embora
18
GREIMAS, A.J. Le contrat de véridiction In: GREIMAS, A. J. Du Sens II: essais sémiotiques. Paris: Seuil,
1983, p. 103-113.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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existam diferenças entre elas, serão destacados os traços, muitas vezes
comuns, que concorrem para fundamentar as operações de elaboração de
informações documentárias.
Segundo a perspectiva Semiótica, o discurso é o lugar da
subjetividade, um signo constituído de um plano de expressão e de um
plano de conteúdo. A Análise do discurso, na concepção de Barros (1988,
p. 3) deve considerar:
Três questões básicas para a concepção do discurso e sua análise:
a) a relação do discurso com a enunciação e as condições de
recepção; b) o discurso como o lugar, ao mesmo tempo do social e
do individual; c) a articulação entre narrativa e discurso, isto é, o
discurso constituído sobre estruturas narrativas que o sustentam.
Outros autores destacam a enunciação, fato que permite classicar
os textos em didáticos, polêmicos e cientícos. Há ainda uma vertente
que procura observar as condições históricas de produção de forma a
classicá-los em três categorias: discursos lúdicos, polêmicos e autoritários.
Por m, o texto pode ser analisado do ponto de vista da organização
global, ou estrutura, o que permite classicá-los em narrativos, descritivos,
explicativos e dissertativos (CORTINA, 2000).
Deve-se chamar a atenção para o aspecto dominante em cada
tipo de texto. Os textos não são puros, isto é, uma narrativa pode conter
aspectos polêmicos, uma descrição pode apresentar enunciados narrativos
e os textos dissertativos podem apresentar segmentos narrativos como
recurso argumentativo.
2.3 clAssIfIcAção de textos
Como vimos acima, a classicação de textos baseia-se em diferentes
teorias e métodos. São, grosso modo, ora tipicados pela estrutura interna
(descritivo, narrativo, dissertativo), pela nalidade ou pelas condições de
produção, ou pelos aspectos sintáticos e semânticos (técnico, cientíco,
didático, jornalístico, jurídico, político, etc.).
Os primeiros estudos sistemáticos sobre os “gêneros” textuais
e as “partes do discurso” são atribuídos a Aristóteles. Suas ideias,
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apresentadas no âmbito da Retórica, fundamentam, ainda hoje, as
modernas teorias discursivas relacionadas à persuasão (CITELLI, 1989;
OKASABE, 1979).
A Retórica, para Aristóteles, não se reduz a um conjunto de
normas ou à oratória, mas ao esforço de “descobrir especulativamente em
qualquer dado, o persuasivo” (ARISTÓTELES apud OKASABE, 1979,
p. 142). É nessa perspectiva que o estagirita arma: “Não há senão duas
partes no discurso, pois é necessário dizer qual é o tema e demonstrá-
lo. [...] Dessas duas partes, uma é a proposição; a outra, a conrmação.
Como se tratasse de um lado, do problema e, do outro, da demonstração.
(ARISTÓTELES apud OKASABE, 1979, p. 156).
Os textos argumentativos não escapam a essa caracterização.
Contudo, a esse esquema genérico - proposição/demonstração - podem-se
agregar outros constituintes, de modo a caracterizar mais amplamente as
variantes de um tipo.
O texto técnico-cientíco é, via de regra, de natureza
argumentativa, elaborado com o intuito de expor metodicamente os
resultados da observação de um fenômeno. Para Gardin,
[...] a expressão concreta de um raciocínio cientíco é o texto
cientíco, no qual o autor expõe as operações do espírito que o
conduziram da observação de certos fatos empíricos ao enunciado
de proposições denominadas de forma diversa: teses, hipóteses,
interpretações, comentários, conclusões, explicações. (GARDIN,
1987, p. 4).
É no interior da atividade de conhecer, portanto, que se
dene o texto cientíco canônico: uma unidade de comunicação do
saber dotada de certos elementos estruturais. No âmbito das pesquisas
acadêmicas esses elementos estruturais são o Tema, o Problema, a
Hipótese, a Metodologia, os Resultados e a Conclusão (ASTI-VERA,
1979; BUNGE, 1973).
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Quadro 1 - Estrutura do texto cientíco canônico
TEMA OBJETO DE PESQUISA
PROBLEMA INDAGAÇÃO
HIPÓTESE CONJETURA
METODOLOGIA OBSERVAÇÃO
RESULTADO INTERPRETAÇÃO
CONCLUSÃO COMENTÁRIO FINAL
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
O Quadro 1, acima, apresenta os constituintes básicos das
dissertações, teses acadêmicas, e artigos cientícos publicados em periódicos
e anais de eventos cientícos.
Um aspecto intrínseco aos textos que visam defender ideias e
opiniões é a argumentação. Podem ser identicados nestes os seguintes
constituintes: Tese (apresentação de um ponto de vista); Argumentos
(evidências que sustentam o ponto de vista); Conclusão, (conrmação do
da tese apresentada).
Quadro 2 - Estrutura do texto argumentativo
TESE PONTO DE VISTA
ARGUMENTOS PROVAS
CONCLUSÃO CONFIRMAÇÃO
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
Os artigos de opinião, sejam eles publicados em jornais diários,
revistas semanais de informação, ou mesmo em revistas cientícas,
costumam apresentar a conguração acima.
O texto denominado expositivo (FÁVERO; KOCH, 1988)
é usualmente elaborado para expor algum problema (social, político,
material) que necessita de intervenção. Pode ser esquematizado da
seguinte forma: Problema (aspecto problemático da realidade; Causas e
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consequências do problema (identicação de fatores que concorrem para a
existência do problema); Solução (alternativas de intervenção)
Quadro 3 – Estrutura do texto expositivo
PROBLEMA QUESTÃO PROBLEMÁTICA IDENTIFICADA
CAUSAS RAZÕES QUE CAUSAM O PROBLEMA
SOLUÇÃO RESPOSTAS AO PROBLEMA
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
A estrutura acima é frequentemente utilizada para a elaboração
de diagnósticos e relatórios técnicos para criação ou aprimoramento de
serviços.
As narrativas (relatos de experiências, textos literários como
os romances) podem ser olhadas com base nas categorias propostas por
Lasswell (1971), constituído de 6 categorias, como segue:
Quadro 4 - Estrutura do texto narrativo
QUEM ACTANTES/ATORES
O QUÊ ACONTECIMENTO
QUANDO ASPECTO TEMPORAL
ONDE ASPECTO ESPACIAL
COMO MODO
PORQUÊ RAZÃO
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
A estrutura narrativa é apropriada para relatar fatos da vida
em sociedade, como as reportagens jornalísticas, para a criação de
textos ccionais, para relatar experiências pessoais ou institucionais, em
prontuários de pacientes.
O texto descritivo apresenta os traços ou características de objetos,
sejam eles abstratos ou concretos, expressos em duas categorias:
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Quadro 5 - Estrutura do texto descritivo
REFERENTE OBJETO DO MUNDO
CARACTERÍSTICAS PREDICADOS/ATRIBUTOS
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
A estrutura acima (Quadro 5), é utilizada, em geral, em manuais
de equipamentos, como também para caracterizar objetos do mundo real,
emoções, sentimentos.
O trecho abaixo resume os tipos de textos e respectivas ocorrências:
Assim, o tipo narrativo ocorre em romances, contos, novelas,
reportagens, noticiários, depoimentos, relatórios etc; o descritivo,
na caracterização de personagens e do espaço em narrativas, guias
turísticos, verbetes de enciclopédias, resenhas de jogos, relatos
de experiências ou pes- quisas, reportagens etc; o expositivo,
em manuais didáticos, cientícos, obras de divulgação etc; o
argumentativo stricto sensu, em textos publicitários, propagandístas,
peças judiciárias, matérias opinativas etc; o injuntivo, em manuais
de instruções, receitas culinárias, bulas de remédios etc; o preditivo,
em horóscopos, profecias, boletins meteorológicos e previsões em
geral. (CORTINA, 2000, p. 92).
A tipicação de textos apresentada neste item não tem a pretensão
de inventariar exaustivamente todas as variantes textuais. Os tipos
apresentados fundamentam a possibilidade de utilizar as estruturas textuais
como paradigmas para interpretá-los e selecionar dados considerados
pertinentes para os ns da documentação.
3 leIturA e InterpretAção de textos: os problemAs dA recepção
A leitura, a interpretação e a recepção de textos são fenômenos
estudados sob diferentes perspectivas losócas.
Umberto Eco, na obra “Leitor do texto literário” (1983)
problematiza a leitura e a compreensão de textos com base nas relações
dialéticas entre uso e interpretação (ECO, 1983, p. 62). A discussão do
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autor tem como foco as possibilidades de interpretação, expressas na
dicotomia leitura correta e leitura incorreta. Desenvolve estas ideias com
base na tricotomia: leitura como busca da intenção do autor (intentio
auctoris), da intenção da obra (intentio operis) e da intenção do leitor
(intentio lectoris) (ECO, 1993, 2000, p. 6).
Como expõe Eco (1979), os debates sobre essas oposições, que
ocorreram ao longo da história, e certamente permanecem ainda hoje,
podem ser assim sintetizadas:
a) deve-se buscar no texto aquilo que o autor queria dizer;
b) deve-se buscar no texto aquilo que ele diz, independentemente
das intenções do autor.
Só com a aceitação da segunda ponta da oposição é que se poderia,
em seguida, articular a oposição entre
b1) é preciso buscar no texto aquilo que ele diz relativamente à
sua própria coerência contextual e à situação dos sistemas de
signicação em que se respalda;
b2) é preciso buscar no texto aquilo que o destinatário aí encontra
relativamente a seus próprios sistemas de signicação e/ou
relativamente a seus próprios desejos, pulsões, arbítrios. (ECO,
2000, p. 7).
Para Cortina (2000, p. 35), a opção a, acima, remete à ideia
de que “interpretar um texto corresponde a tentar descobrir exatamente
aquilo que seu autor pretendeu dizer.” Essa perspectiva (intentio operis)
foi substituída, nos anos 1960-1970, pela ideia de que “[...] ler um texto
signica buscar a intenção da obra, pouco importando se o autor quis
dizer isso ou aquilo em seu texto. O autor é destronado e, em seu lugar,
instala-se o texto [....]” (CORTINA, 2000, p. 36-37). Nesta concepção,
a estrutura global do texto, isto é, os constituintes organizados segundo
uma dada intenção comunicativa seria o suporte adequado para interpretar
a obra. Portanto, a interpretação realizada segundo a intenção do leitor
(intentio lectoris), subordina-se ao uso que será feito do texto.
Pode-se concluir do que foi dito que há várias possibilidades
de ler e interpretar textos, porém, “[...] dizer que qualquer interpretação
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de um texto é verdadeira, signica dizer que ele não tem nenhuma
importância.” (CORTINA, 2000, p. 39). Assim, concorda-se com a
seguinte posição do autor:
Defender que um texto tem mais de uma possibilidade de leituras
não signica dizer que qualquer leitura que se produza a partir dele
seja verdadeira. Uma leitura só é válida quando consegue se sustentar
no próprio texto, isto é, quando é coerente com o que foi enunciado
de forma explícita ou implícita. (CORTINA, 2000, p. 40).
Apresentados os aspectos teóricos da classicação de textos e
as diferentes perspectivas de leitura, passamos, a seguir, à discussão da
leitura e interpretação de textos no âmbito pragmático da Organização da
Informação, tendo presente que:
As formas de leitura dependem, portanto, dos interesses daqueles
que se põem a ler. Uma observação que se pode fazer é que o
processo de interpretação do sujeito leitor será melhor toda vez
que este tiver um determinado objetivo ao ler um texto. A leitura
cumpre um duplo papel: informar e propiciar prazer. Dependendo,
portanto, da intenção do leitor, este deverá optar por textos
distintos. (CORTINA, 2000, p. 55).
4 AnálIse documentárIA e InterpretAção, condensAção e
representAção de textos
Antes de discutir a interpretação na perspectiva da Análise
documentária, deve-se esclarecer que partimos do pressuposto de que a
leitura correta de um texto depende do objetivo com que se lê. Armamos,
também na Introdução, que a área da organização de informações tem
como tarefa central propor métodos e técnicas para elaborar informações
documentárias. Para realizar semelhante tarefa, admitimos que as operações
intelectuais complexas, como produzir resumos e indexar, podem ser
sistematizadas em métodos e regras a partir das teorias linguísticas
apresentadas nos itens 2 (Teorias sobre a caracterização e classicação de
textos) e 3 (Leitura e interpretação de textos: os problemas da recepção).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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4.1 condensAção e representAção de textos
Segundo Stierle (1987, p. 88), do ponto de vista da Estética da
recepção, a leitura do texto tem início com o “horizonte de expectativas”, do
leitor, cuja continuidade pode ser caracterizada como uma “hermenêutica de
perguntas e respostas” feitas ao texto a m de condensá-los e representá-los.
As representações documentárias típicas podem ser olhadas como
traduções” condensadas do conteúdo informacional de textos. A tradução,
como arma Paul Ricoeur, “não implica apenas um trabalho teórico ou
prático, mas também um problema ético. Levar “o leitor ao autor, levar
o autor ao leitor” (RICOEUR, 2011, p. 49). Dito de outra maneira, a
produção de informações documentárias (indexação e resumos) é um ato
intencional de mediação.
As diretrizes e textos didáticos caracterizam a indexação e a
elaboração de resumos, como produto de três operações intelectuais: a)
análise, compreensão e interpretação do texto; b) seleção das informações
principais e c) sua representação dentro de padrões estabelecidos por
normas de documentação.
A indexação, por sua vez, é justaposição de palavras ou sintagmas
presentes em uma Linguagem documentária (KOBASHI, 1994).
Tanto a elaboração de resumos quanto a indexação requerem a
compreensão global de um texto, como vimos no item 2 (Teorias sobre a
caracterização e classicação de textos). O grau de redução a que se deve
submetê-los para obter um ou outro tipo de representação documentária
sugere que, no caso da indexação, pode-se operar com as noções de tema
19
e de estrutura temática; no caso do resumo, a noção de estrutura ou
superestrutura textual poderá nortear a operação de seleção de informações.
A Linguagem Documentária, por ser um instrumento constituído
por léxico reduzido e sintaxe precária, não permite a produção de mensagens
com a mesma riqueza informacional dos resumos. Desse modo, para a
indexação, interessa analisar o texto para determinar a sua macroestrutura
20
,
representada por palavras ou expressões, ditos descritores.
19
“O tema (ou tópico) de um ato de enunciação é aquilo sobre o qual o locutor fala, é o objeto do discurso [...]”
(DUCROT; TODOROV, 1972, p. 345).
20
A macroestrutura é denida como uma rede de proposições associadas hierarquicamente (VAN DIJK;
KINTSCH, 1983).
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4.2 temA e estruturA temátIcA: conceItos operAcIonAIs
Como apontam as teorias sobre os textos, a compreensão), requer
estratégias de leitura e interpretação orientadas para um m (KINTSCH;
VAN DIJK, 1978). No caso da Análise documentária, a leitura é uma
atividade comprometida com intenções precisas de comunicação: elaborar
produtos que permitam recuperar informação, ou seja, levar o texto ao
leitor.
Os produtos documentários destinam-se a: auxiliar a tomada de
decisões sobre a leitura ou não do documento original; dar ao leitor uma
quantidade suciente de informações, a m de que o mesmo, em certas
circunstâncias, não tenha necessidade de ler integralmente o original. Nessa
perspectiva, a leitura documentária é, fundamentalmente, uma operação
de hierarquização e seleção de informações. A seleção das informações
é factível, apenas, com base na distinção entre informação essencial e
informação acessória.
Na leitura documentária, a compreensão global de um texto
requer a identicação do tema de um texto. Os temas são as ideias principais
discutidas ou tratadas em um documento. Denem-se, portanto, como o
foco principal de um texto e não os seus aspectos periféricos. O “tema”,
portanto, é o elemento em torno do qual se estrutura a mensagem, é o seu
núcleo informativo (KOBASHI, 1994, 2008).
A identicação do tema resulta de um processo de condensação
semântica. García Gutiérrez e Lucas (1987, p. 47-49) propõem a utilização
das perguntas conceptuais de Lasswell (Who, What, Whem, Where,
Why) como método de abordagem analítica do texto de atualidade. Para
Lasswell (1971) um ato de comunicação, como a informação jornalística
(reportagem), pode ser expressa pelas respostas fornecidas a 5 perguntas, a
saber: Quem, Diz o quê, Em que canal, Para quem, Com que efeito.
Sendo a Indexação uma operação que implica: a) análise
e compreensão do texto; b) seleção das informações principais e c)
representação das informações na linguagem utilizada no sistema, as
duas primeiras operações (análise e seleção de informações), poderão ser
realizadas por meio dos mecanismos de resposta às categorias da estrutura
temática.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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4.3 representAção por IndexAção
A indexação tem como objetivo caracterizar o conteúdo de um
documento por meio de uma linguagem documentária; suas operações
básicas são: Identicar o tema do texto; elaborar um enunciado temático
e representá-lo. Para a identicação do tema, lê-se o texto, tendo como
parâmetros as categorias da estrutura temática, exposto no item 4.2
acima. Deve-se observar, ainda, que na indexação há uma operação nal
de conversão do enunciado temático para a Linguagem Documentária
adotada pelo sistema.
A identicação do tema, ou macroestrutura de um texto (VAN
DIJK; KINTSCH, 1983), é o elemento principal a ser identicado. É em
torno dele que se organiza o texto.
No caso de um texto dissertativo acadêmico (dissertação ou tese),
tal como esquematizado no Quadro 1, enuncia-se a questão de pesquisa
como um problema que merece ser investigado. Após oferecer uma hipótese
de solução e observar metodicamente as possibilidades de responder à
questão de pesquisa, apresenta, na conclusão, a possível resposta para o
problema. Nessa medida, o tema, via de regra, pode ser identicado tanto
no segmento em que se apresenta o problema de pesquisa, quanto nas
conclusões.
Quadro 6 - Estrutura do texto canônico dissertativo
superestruturA IndexAção
TEMA
PROBLEMA
HIPÓTESE
METODOLOGIA
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Fonte: elaboração própria.
No Quadro 7 apresentamos a superestrutura de textos que
pretendem defender um ponto de vista, contrapondo-o a outros. A tese
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é o ponto de partida que orienta a organização do texto. Portanto, na
indexação, os constituintes a serem analisados são a Tese e a as conclusões.
Quadro 7 - Estrutura do texto argumentantivo (polêmico)
superestruturA IndexAção
TESE
ARGUMENTOS
CONCLUSÕES
Fonte: elaboração própria (2019).
Em face de um texto com a estrutura esquematizada abaixo,
que na Linguística do texto é denominado expositivo, a leitura deve se
concentrar no Problema e na Solução do Problema.
Quadro 8 - Estrutura do texto expositivo
superestruturA IndexAção
PROBLEMA
CAUSAS
SOLUÇÃO
Fonte: elaboração própria.
O Quadro 9 apresenta a estrutura do texto descritivo. Este tipo
de texto tem como núcleo temático um objeto concreto ou abstrato, sobre
o qual são atribuídas características. Na indexação, o enunciado temático
será elaborado com base no objeto do mundo.
Quadro 9 - Estrutura do texto descritivo
superestruturA IndexAção
OBJETO DO MUNDO
PREDICADOS
Fonte: elaboração própria.
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O Quadro 10 esquematiza o texto narrativo. Este se apresenta
como um relato que envolve um sujeito (actante) que realiza alguma ação
(o que), contextualizado no espaço e no tempo. O tema, portanto, surge
da identicação dos quatro constituintes destacados. O como e o porquê
nem sempre estão presentes em textos narrativos técnico-cientícos.
Quadro 10 - Estrutura do texto narrativo
superestruturA IndexAção
QUEM
O QUE
QUANDO
ONDE
COMO
PORQUÊ
Fonte: elaboração própria.
Na indexação dos tipos de textos apresentados acima, após a
identicação do tema, elabora-se um enunciado temático que será convertido
(traduzido) em descritores que sinalizam o assunto do documento. O uso
das linguagens documentárias para representar conteúdos informacionais
é uma operação de inclusão dos textos em classes. Assim, instaura-se uma
nova ordem de sentido porque os textos são generalizados pelo apagamento
dos traços que individualizam os textos.
4.4 representAção por resumos
O resumo é um novo texto que representa o original de forma
condensada, enquanto a indexação representa o assunto do documento
por meio da justaposição de termos (descritores) de uma Linguagem
Documentária. É útil relembrar aqui o conceito de Análise documentária.
Segundo Jean-Claude Gardin, o criador da Análise documentária, esta é um
“[...] conjunto de procedimentos utilizados para exprimir o conteúdo dos
documentos cientícos sob formas destinadas a facilitar a sua localização
ou consulta.” (GARDIN, 1974, p. 48-49).
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O resumo é um novo texto que supõe coesão e coerência, tanto
quanto o texto de partida. É, portanto, uma representação mantém relação
de semelhança e de contiguidade com o texto de partida.
Tal como na operação de indexação, a elaboração de resumos
supõe a seleção de informações textuais, realizada com base na sua
hierarquização. Segundo Van Dijk e Kintsch (1983), a superestrutura é um
elemento fundamental para a compreensão dos textos porque: a) ele tem
caráter convencional, sendo conhecido e reconhecido por uma comunidade
linguística: b) a superestrutura congura-se como um esquema abstrato
que estabelece a ordem global de um texto e se compõe de uma série
de categorias, cujas possibilidades de combinação se baseiam em regras
convencionais. O domínio das superestruturas permite um processamento
top-down (dedutivo) coerente porque a leitura é feita com base em hipóteses
e não pela construção do sentido através de processamento bottom-up
(indutivo). (VAN DIJK, 1992).
Os passos da elaboração de resumos documentários podem, tal
como na indexação, devem ser observados como objetivos e operações.
O objetivo é produzir representações parafrásticas condensadas de um
texto. As operações básicas são: identicar o tipo de texto (superestrutura)
e selecionar nos constituintes as informações consideradas relevantes
para a elaboração de diferentes tipos de resumos: resumo indicativo ou
resumo informativo, propostas em normas de documentação. O resumo
informativo supõe a condensação de cada constituinte da superestrutura
e sua articulação, de modo a, em certas circunstâncias, substituir o texto
de partida; o resumo indicativo, como o próprio nome sugere, é uma
caracterização sumária do conteúdo. Para a elaboração de resumos, sugere-
se a seleção de constituintes segundo o tipo de resumo pretendido.
Os quadros 11 a 15 apresentam a superestrutura de cada tipo
de texto (segundo a classicação proposta no item 2.3 (Classicação
de textos). Propõe-se que na elaboração de resumos informativos cada
constituinte da superestrutura seja condensado e reestruturado em um
novo texto coeso e coerente. No caso do resumo indicativo, propõe-se a
inspeção e condensação dos constituintes destacados em cinza. O resumo
indicativo é expresso também como um novo texto coeso e coerente.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 111
Quadro 11 - Condensação do texto cientíco canônico
superestruturA resumo InformAtIvo resumo IndIcAtIvo
TEMA
PROBLEMA
HIPÓTESE
METODOLOGIA
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Fonte: Kobashi (1994).
Quadro 12 - Condensação do texto argumentativo (polêmico)
superestruturA resumo InformAtIvo resumo IndIcAtIvo
TESE
ARGUMENTOS
CONCLUSÕES
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
Quadro 13 - estrutura do texto expositivo
superestruturA resumo InformAtIvo resumo IndIcAtIvo
PROBLEMA
CAUSAS
SOLUÇÃO
Fonte: Kobashi (1994).
Quadro 14 - Estrutura do texto descritivo
superestruturA resumo InformAtIvo resumo IndIcAtIvo
OBJETO DO MUNDO
PREDICADOS
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
112 |
Quadro 15 - Estrutura do texto narrativo
superestruturA resumo InformAtIvo resumo IndIcAtIvo
QUEM
O QUE
QUANDO
ONDE
COMO
PORQUÊ
Fonte: Kobashi (1994, 2008).
5 consIderAções fInAIs
Apresentamos neste capítulo um conjunto de teorias e métodos
para subsidiar a produção de informações documentárias. Nessa perspectiva,
revisitamos, inicialmente, as teorias sobre a análise e a interpretação de
textos desenvolvidas no campo das Ciências da Linguagem, com destaque
para a Análise do discurso e a Linguística textual. Em seguida, foram
abordados os conceitos de Texto, Tipos de textos, Tema, Estrutura temática,
Macroproposição semântica e Superestrutura textual. A apropriação destes
conceitos, como foi discutido, fundamentam as operações de condensação
e representação de conteúdos.
As teorias sobre a interpretação, inspiradas na hermenêutica
(RICOEUR,1981), foram apresentadas e discutidas para aplicação na
compreensão de textos. Abordamos os problemas da recepção com base
na tricotomia proposta por Umberto Eco (2000) - Intentio auctoris,
intentio opera e intentio lectoris. A abordagem de Eco coloca em cheque a
ideia de que todas as interpretações de textos são válidas ao defender a
leitura literal de textos. Com base nas categorias acima, demonstra que há
interpretações corretas e incorretas. De fato, como os textos são elaborados
com intenções comunicativas especícas, embora eles admitam diferentes
leituras, há limites a serem considerados na interpretação. A Intenção da
obra e a intenção do leitor são os parâmetros que permitem distinguir a
interpretação correta da incorreta.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 113
Apresentamos, ainda, o conceito de interpretação como tradução.
Compreender um texto, nesta perspectiva hermenêutica, signica lidar
com o problema da delidade da tradução em relação ao texto de partida
(RICOEUR,1981). Torna-se evidente, nesta abordagem, a tensão que
acompanha o processo de manter equivalência entre o texto de partida
e o texto traduzido. Esta ideia da delidade é fundamental na Análise
documentária porque as representações documentárias devem preservar a
equivalência entre o texto fonte e as versões condensadas.
Denimos, em seguida, os tipos de informações produzidas no
âmbito da organização de informações, que denominamos genericamente
de Informação Documentária. Procuramos evidenciar a importância
dos tipos de textos e respectivas estruturas textuais como paradigmas
importantes para selecionar informação para os ns da elaboração de
resumos e indexar. Com efeito, a equivalência entre textos e representações
condensadas podem desempenhar o papel de ltros para selecionar
informação pertinente apenas se forem mantidas as relações de contiguidade
e de semelhança com o texto-base. Dessa forma, sugerimos a adoção de
parâmetros de leitura e interpretação que possam guiar metodicamente o
trabalho documentário, nas suas várias etapas, desde a seleção de dados até
a combinação nal dos dados obtidos em um novo texto.
Arma-se, portanto, que as atividades documentárias, em
particular a indexação e a elaboração de resumos, podem ser monitoradas.
Portanto, deixa-se de lado a concepção de que a análise de textos depende
apenas de talento e bom senso. Assume-se que, como em todo jogo de
linguagem, a produção de informações documentárias será mais efetiva se
realizada com base em regras explícitas.
A questão de fundo discutida deste capítulo deriva da ideia de
que o texto não se oferece à compreensão de forma direta e imediata. Não
é, portanto, uma tarefa trivial. Ao contrário, requer trabalho intelectual
baseado em parâmetros conceituais e metodológicos que facilitem a
apreensão do texto e a identicação e seleção de informação segundo o
produto a ser elaborado.
Outro aspecto a ser problematizado é a noção de superestrutura,
que não deve ser compreendida de forma dogmática, já que os textos
concretos não são puros. A noção de dominância permite identicar a
intenção comunicativa do texto e classicá-lo no interior de tipos. Deve-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
114 |
se ter em mente, portanto, que criar classicações é realizar operações
cognitivas de generalização. Nesse sentido, os modelos de estruturais
textuais são abstrações que não captam todos os traços dos objetos do
mundo. São sempre representações simplicadas do real.
Portanto, as informações documentárias retêm apenas os traços
mais gerais dos textos, o que implica a perda controlada de informações.
As informações documentárias não têm valor em si. Elas representam, não
substituem os textos originais.
A metodologia de análise de textos aqui proposta vem sendo
continuamente testada em cursos de graduação de Biblioteconomia
e em cursos de atualização prossional. Esperamos que as ideias aqui
apresentadas conram rigor ao fazer documentário e concorram para
aprimorar a elaboração de representações e, em decorrência, ampliem as
condições de difundir informação contida em documentos.
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Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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| 117
5
AnálIse documentárIA e semântIcA dIscursIvA:
contrIbutos pArA o trAtAmento temátIco de
objetos InformAcIonAIs
Raimunda Fernanda dos SANTOS
Dulce Amélia de Brito NEVES
Maria Elizabeth Baltar Carneiro de ALBUQUERQUE
resumo: Discute aspectos relativos aos contributos da Semântica Discursiva para a
produção signicativa de metadados semânticos no processo de análise documentária de
recursos informacionais. Destaca que os percursos temático e gurativo possuem qualidades
metodológicas a serem aplicadas na leitura documentária, com isso faz-se necessário que o
indexador reconheça as superestruturas responsáveis pela caracterização do tipo do objeto
informacional, considerando as suas especicidades. Na revisão de literatura são apontadas
pesquisas na área de Organização e Representação da Informação e do Conhecimento que
constatam a pertinência e adequação do percurso gurativo e do percurso temático de
Greimas para a análise documentária de objetos informacionais. Conclui ressaltando que
os contributos da Semântica Discursiva para a análise documentária resultam em novo
método para extrair os conteúdos de recursos informacionais, trazendo como diferencial a
redução do nível de subjetividade, tornando a indexação mais próxima possível de atender
os parâmetros conceituais dos documentos.
pAlAvrAs-chAve: Análise Documentária. Semântica Discursiva. Indexação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
118 |
AbstrAct: Discusses aspects related to the Discursive Semantics contributions to the
signicant production of semantic metadata in the process of documentary analysis
of information resources. Emphasizes that the thematic and gurative paths have
methodological qualities to be applied in documentary reading, so it is necessary that
the indexer recognizes the superstructures responsible for characterizing the type of
informational object, considering their specicities. rough a literature review are
pointed researches in the area of Organization and Representation of Information and
Knowledge that nd the relevance and adequacy of the gurative and Greimas thematic
path for the documentary analysis of informational objects. Concludes by emphasizing
that the contributions of Discursive Semantics to documentary analysis result in a new
method for extracting indicators of information resources, bringing as a dierential the
reduction of the subjectivity level, making the indexing closer to meet the conceptual
parameters of the documents.
Keyword: Documentary Analysis. Discursive semantics. Indexing.
1 Introdução
No decurso da história, a representação está presente nas práticas
sociais, na cultura popular e nos diversos contextos de construção e
transguração da sociedade. Neste limiar, o conhecimento pode abranger
o que o sujeito pode discernir logicamente e o que é possível ser observado
em uma determinada realidade por meio da linguagem. Assim, as relações
entre a humanidade e o conhecimento evidencia a necessidade do homem
em representar e organizar o conhecimento com vistas à perpetuação,
preservação, recuperação da memória social.
Partindo desse pressuposto, a representação é vista como uma
ação criativa, e socialmente construída, que faz uso da linguagem e se
congura como objeto de análise crítica e cientíca de uma realidade.
A linguagem, por sua vez, é compreendida como o meio pelo qual o
signicado é produzido e intercambiado e se constitui como elemento
fundamental para os sentidos e para a cultura (HALL, 2016).
Esse aspecto multifacetado da representação e da linguagem
desaa aqueles que se propõem a estudá-las no contexto da Ciência da
Informação através de pesquisas teóricas e práticas sob o viés da Organização
e Representação da Informação e do Conhecimento. A representação
no contexto da Ciência da Informação, além de se constituir como uma
atividade pragmática, se amplia como campo de estudos teóricos e aplicados
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 119
que objetivam responder aos problemas e efeitos da informação a m de
tornar os registros informacionais acessíveis à sociedade.
A Ciência da Informação consiste em um campo interdisciplinar
que se preocupa, principalmente, em tornar a informação acessível para
aqueles que dela necessitam, tendo em vista que os itens informacionais,
independente do seu formato
21
(áudio, texto, imagem, vídeo, etc.),
devem passar por um conjunto de tarefas de armazenamento, organização
e representação para que seja possível a sua recuperação, acesso e uso
em sistemas de recuperação da informação. Nesse cenário, os objetos
informacionais devem passar por esse conjunto de tarefas.
A indexação, considerada por Chaumier (1988) como operação
mais importante da análise documentária, visa descrever os conteúdos
dos itens informacionais por meio de termos, também denominados de
descritores, que se conguram como, ou se propõem a ser, pontos de acesso
para ns de disponibilização das informações pertinentes às necessidades
dos usuários. Desse modo, a indexação condiciona os resultados de uma
estratégia de busca e a qualidade dessa atividade reete na recuperação, no
acesso e no uso da informação pela geração hodierna e futura.
Assim, todas as fases do tratamento temático da informação,
como análise conceitual e tradução, fazem parte das técnicas realizadas pelos
prossionais da informação, sendo inuenciadas por fatores linguísticos,
cognitivos, lógicos, ideológicos, contextuais e culturais, simultaneamente.
Com isso, verica-se a imprescindibilidade do compromisso do
indexador na execução da análise documentária, tendo em vista que essa
operação consiste em uma atividade intelectual considerada como o limite
dos aparelhos tecnológicos, uma vez que o computador, por exemplo,
ainda não realiza o trabalho humano de abstrair, distinguir, compreender
e assimilar o que está presente nos itens informacionais (SANTOS, 2016).
Considerando que a indexação é uma operação relacionada à
semântica, faz-se necessário discutir aspectos relativos aos contributos da
Semântica Discursiva para a produção signicativa de metadados semânticos
no processo de análise documentária de recursos informacionais.
21
Nesta pesquisa, o conceito de formato está relacionado à conguração física, forma dos objetos informacionais,
também denominados como materiais informacionais ou itens informacionais.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
120 |
2 AnálIse documentárIA e trAtAmento temátIco dA InformAção
A análise documentária centra-se nos procedimentos voltados
para a identicação e seleção de conceitos para ns de representação do
conteúdo dos itens informacionais. A indexação, operação que integra
a análise documentária, está metodologicamente associada a duas
etapas intelectualmente distintas: a análise de assunto e a tradução.
A análise de assunto diz respeito à extração de conceitos que
representem o conteúdo de um material informacional. Seguindo essa linha de
raciocínio, essa etapa se inicia por meio da leitura técnica através da análise das
principais partes ou dos elementos representativos do material informacional
em questão. Nesta etapa, faz-se necessário que o indexador conheça o tipo e
estrutura desse item informacional (imagem, texto, áudio, vídeo, etc.) para que
a leitura seja iniciada para ns especícos. Em seguida, é efetuada a extração
dos conceitos
22
constituindo-se o segundo momento da análise de assunto.
Essa atividade é necessária para a representação do conteúdo do material
informacional em termos adequados. Desse modo, o assunto do objeto
informacional é determinado com base nesses conceitos e no contexto em que
o mesmo se encontra inserido. Por isso, é importante vericar a complexidade
do assunto do material informacional analisado para que seja possível elencar
termos que representem efetivamente o seu conteúdo.
Após a etapa de análise do assunto é realizada a tradução desses
descritores em termos provenientes de uma linguagem de indexação,
ou seja, em termos autorizados para representar o conteúdo do objeto
informacional analisado. Nesse entendimento, a etapa de tradução consiste
na representação desse material informacional em termos provenientes de
instrumentos de representação da informação, denominados de linguagens
de indexação ou linguagens documentárias, como listas de cabeçalhos de
assunto, tesauros, ontologias e taxonomias, por exemplo.
Destarte, as linguagens documentárias são instrumentos de
controle terminológico que podem ser empregados na etapa de tradução
dos conceitos, visando facilitar a comunicação entre a linguagem dos
usuários e a linguagem do sistema, mediante a padronização de termos para
a descrição dos conteúdos dos itens informacionais. Esses instrumentos
22
Conceitos são, portanto, denidos como unidades do conhecimento identicadas através de enunciados
verdadeiros sobre um item de referência e representados por uma forma verbal (termo ou palavra) (MEDEIROS,
1986, p. 136, grifo do autor).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 121
são frutos de trabalhos colaborativos entre a Terminologia, Teoria da
Classicação, Linguística Documentária, Ciência da Computação, Análise
Documentária, Ciências Cognitivas, por exemplo.
Lancaster (2004) ressalta que esses instrumentos consistem
em listas de termos ou descritores controlados, construídas para ns de
tratamento e recuperação da informação objetivando controlar sinônimos
23
,
diferenciar homógrafos
24
e agregar termos cujos signicados apresentem
alguma relação mais estreita entre si. Diante disso, observa-se que esses
instrumentos objetivam controlar as dispersões lexicais existentes nas
linguagens naturais; orientar o indexador no que concerne à escolha dos
termos para representar o assunto dos materiais informacionais e indicar os
melhores termos para a indexação.
Motta (1987, p. 25), conceitua a linguagem documentária como:
Um sistema de vocabulário baseado em conceitos, incluindo termos
preferidos (descritores), termos não preferidos (não descritores)
e suas inter-relações, que se aplica a um determinado ramo do
conhecimento e que se destina a controlar a terminologia utilizada
para a indexação/recuperação de documentos.
Com a ampliação da quantidade de sistemas de recuperação
da informação e o incremento de tecnologias aplicadas às atividades de
representação, organização, recuperação, acesso e uso da informação,
surgiram outros instrumentos complementares aos sistemas de classicação
como as listas de cabeçalhos de assunto, taxonomias, tesauros, ontologias,
mapas conceituais, por exemplo. Esses instrumentos têm sido denominados
genericamente por Knowledge Organization Systems (KOS), Sistemas de
Organização do Conhecimento (SOC), em português.
Zeng (2008) apresenta uma lista de Sistemas de Organização do
Conhecimento por meio das suas tipologias, a saber:
Listas de Termos
Listas propriamente ditas (pick lists): conjunto de termos em
ordem sequencial;
23
Palavras que possuem signicados semelhantes.
24
Termos que possuem a mesma graa, mas apresentam pronúncia e signicados diferentes.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
122 |
Dicionários: listas de termos organizados alfabeticamente
com as suas respectivas denições, apresentando signicados
variados de acordo com a aplicação desses termos;
Glossários: listas de termos organizados alfabeticamente com
as suas respectivas denições;
Anéis de sinônimos: conjunto de descritores considerados
como equivalentes para ns de representação e recuperação
da informação.
Modelos semelhantes a metadados:
Arquivos de autoridade: listas de termos empregados para
ns de controle das variações de nomes para uma autoridade;
Diretórios: listas de nomes e informações de contato
associadas;
Gazetteers: dicionários geoespaciais de tipos e nomes de
lugares.
Classicação e categorização:
Cabeçalhos de assunto: esquemas que apresentam um
conjunto de descritores controlados para representar o
assunto dos itens em uma coleção e dispõem um conjunto
de diretrizes para combinar descritores em cabeçalhos
compostos;
Esquemas de categorização: esquemas de agrupamento
vagamente formados” (ZENG, 2008, p. 161);
Taxonomias: separação de itens em grupos ordenados ou
categorias, considerando características particulares;
Esquemas de classicação: arranjos hierárquicos e facetados
que apresentam notações alfabéticas ou numéricas visando
representar assuntos genéricos.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 123
Modelos de relações:
Tesauro: listas de termos autorizados de um domínio
especíco do conhecimento, constituída de base léxica
composta por termos que apresentam relações hierárquicas,
de equivalência e associativas entre eles.
Redes semânticas: conjunto de descritores modelados como
nós em uma rede de variados tipos de relações objetivando
representar conceitos;
Ontologias: modelos de conceitos especícos que representam
relações complexas entre objetos, incluindo regras e axiomas
ausentes em redes semânticas.
Considerando que as funções dos SOC diversicam conforme
o grau de complexidade e o objetivo de sua aplicação, Moreira (2018)
também representa em sua pesquisa a complexidade desses sistemas:
Figura 1- Complexidade dos SOC
Fonte: Moreira (2018, p. 102).
Não obstante, as vantagens das linguagens documentárias
sobressaiam em relação à linguagem natural, em algumas situações a
aplicação dessa última espécie de linguagem se faz apropriada mediante
a aplicação dos métodos colaborativos de indexação. Lancaster
(2004) arma essa conveniência em ambientes que tratam materiais
informacionais com conteúdos completos e altamente subjetivos que
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
124 |
viabilizam variadas interpretações - como é o caso das imagens - tendo
em vista a sua capacidade de fomentar a exaustividade e especicidade
da indexação e, consequentemente, recuperação da informação. Todavia,
considera-se a importância de um tratamento linguístico mínimo dos
descritores apresentados pelos usuários na atividade de representação do
item informacional.
Em síntese, verica-se que as etapas de análise de assunto e
tradução são intelectualmente distintas, apesar de não serem diferenciadas
de maneira clara nas produções cientícas sobre a temática. Campos
(1987) arma que embora sejam operações distintas, elas se sucedem haja
vista o caráter integrativo das mesmas, objetivando atender às necessidades
de uma determinada comunidade de usuários.
Todavia, não se pode denir o assunto de um recurso informacional
sem que sejam contemplados diversos aspectos, além do contexto no qual
esse item informacional está inserido. Assim, corroboramos com Lucas
(2000) quando a mesma revela que a leitura documentária não é resumida
aos procedimentos e técnicas de tratamento dos itens informacionais, cujas
etapas foram citadas anteriormente. Nas práticas de indexação devem ser
consideradas as características do material informacional e os gestos de
leitura desse sujeito enquanto leitor e usuário da informação, os quais
são inerentes à sua formação discursiva congurada em processos de
signicação.
Entendendo isso, observa-se que a complexidade da indexação
está associada ao fato de que a descrição do conteúdo intelectual, operação
altamente subjetiva, pode ser realizada de maneira incorreta, tendo em
vista a inuência de fatores linguísticos, cognitivos, lógicos, ideológicos,
contextuais, culturais, etc. Mesmo estando correta, essa atividade pode ser
considerada insuciente para demarcar congruentemente os descritores,
pactuando com as necessidades dos usuários (BLAIR, 2003).
Fica claro, portanto, que a indexação é uma atividade de
representação e que, por sua vez, está atrelada ao conceito de substituição,
de “estar no lugar de outra coisa”. Para ns de realização dessa atividade,
o indexador se coloca entre o objeto informacional a ser representado
e o usuário nal. Por esse motivo, essa representação não consiste na
apresentação do registro do conhecimento propriamente dito.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 125
Seguindo essa linha de raciocínio, Pato (2015, p. 73) atenta que:
[...] quem ou aquele que representa se apresenta no lugar de outrem.
Ao se colocar no papel de alteridade, do autor, aquele que agrega
polifonicamente ao seu texto os textos de vários outros sujeitos, o
esforço do indexador será no sentido de traduzir, concorrer com
as representações desse(s) outrem(ens) e alimentar um sistema de
organização da informação.
Sobre esse prisma, a indexação consiste em uma prática de
interpretação e, ao mesmo tempo de representação, a qual, por meio de
ações seletivas, privilegia certos elementos acerca de objetos informacionais
e oculta outros. Nesse cenário, o indexador exerce o seu papel crucial de
mediação entre o item informacional e o usuário nal, buscando apurar
termos representativos mediante a pluralidade de sentidos existentes no
registro do conhecimento. Isso ocorre pelo fato de que, ao interpretar o
conteúdo intelectual deste, são acionadas variadas leituras e esse prossional
é quem apresenta o que há de informação nesse registro, captando alguns
aspectos e ignorando outros.
Concorda-se com o pensamento de Pato (2015, p. 73) quando o
mesmo enfatiza a importância do indexador, considerando o fato de que
esse prossional é coparticipante do processo de atribuição de signicados
dos itens informacionais, os quais se relacionam com o contexto social,
cultural e econômico do qual emerge, pois, “a leitura de um texto [ou
registro do conhecimento] depende da interação entre leitor, texto, autor e
mundo socialmente estruturado”.
Essa assertiva também se aproxima das ideias de Lucas (2000, p.
49) quando essa autora reete que a indexação “[...] encaminha o leitor
por vários percursos, enriquece ou confunde os possíveis olhares que serão
lançados à obra”, uma vez que o olhar leitor do prossional silencia ou
expõe diferentes leituras.
Sobre esse prisma, os traços semânticos existentes no material
informacional e que são selecionados pelo indexador revelam a visão de
mundo desse prossional, por isso essa atividade é considerada difícil de
ser ensinada, haja vista que não há um manual a ser seguido que inclua os
aspectos subjetivos para o desenvolvimento da operação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
126 |
Em síntese, a indexação assume uma posição crucial e
condicionante na recuperação da informação, ela “é um fator de auxílio na
comunicação entre o sistema de recuperação da informação e o usuário que
deseja satisfazer sua necessidade informacional” e deve ser encarada como
a materialização de uma dinâmica de natureza ética, reetindo universos
culturalmente distintos (FRANCELIN; PINHO, 2011, p. 61).
Ainda de acordo com esses autores, as competências especícas
para os prossionais da informação, em especial aqueles que lidam com o
tratamento temático da informação, não se esgotam no “como fazer”, mas
encontram terreno fértil de indagação do “por que” fazer e no “para que”
fazer. Principalmente porque é necessário considerar que tanto o produto
quanto o processo de indexação devem estar imbuídos da preocupação
com a sua utilidade e com a sua adequação para determinada comunidade
ou grupo-alvo.
Nesse entremeio o sujeito cognoscente, ou seja o interagente,
conforme sinaliza Capurro (2003, online), é essencial neste processo, pois o
processo de tradução é algo que a nal de contas, terá a sua razão de existir
quando direcionado a seu público, pois, em essência se apresenta para
organizar e se organiza para recuperar a informação seja qual for o suporte,
a mídia, a ambiência e a maneira como a comunicação é empregada.
3 semântIcA dIscursIvA e AnálIse documentárIA
A representação da informação consiste em uma prática de
enunciação das propriedades de um objeto informacional (unidade de
informação organizável) ou das relações desse objeto com outros que o
identicam, através de operações que visam a sua descrição.
Conforme Fogl (1979, p. 21) a informação se congura como
uma unidade de três elementos, são eles:
1. Conhecimento (conteúdo da informação);
2. Linguagem (instrumento de expressão de itens de informação);
3. Suporte (objetos materiais ou energia).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 127
Para esse autor, a fonte de origem da informação é o conhecimento,
portanto, ela pode ser analisada e representada segundo pontos de vistas
semânticos (cognitivos), pragmáticos (reais), inferenciais (juízos de valor) e
de acordo com o formato utilizado (textos, imagens, áudios, vídeos, etc.),
levando em conta as propriedades do seu conteúdo e a sua função social.
Nesse processo, vê-se que o registro informacional, independente
do meio, suporte ou ambiente, é o aspecto central da representação
da informação, colocando tanto o produtor, quanto o indexador e o
interagente (público-alvo), em uma situação de constante vigilância, pois
os estoques oriundos desse processo desaa constante e cotidianamente o
prossional da informação, uma vez que a relação dialógica do acesso e uso
da informação é cada vez mais dependente do ato de representar. Por isso,
Gaudêncio e Alburquerque (2014, p. 47), armam que “a representação
da informação faz parte da vida do prossional da informação que lida
diariamente com as questões documentárias e que busca recuperar com
mais ecácia determinados conteúdos”.
A análise documentária diz respeito a uma operação associada
à semântica que se concentra nas informações extraídas de um recurso
informacional e dos referentes internos (cognição) do(s) sujeito(s) que o
analisa. Nesse entendimento, independente da conguração desse recurso
– seja de caráter visual, textual, sonoro, etc. ele pode ser lido e analisado.
Para a realização dessa operação é importante que o sujeito tenha
conhecimento prévio acerca do conteúdo presente no item informacional
a ser indexado. Todavia, o conhecimento prévio do sujeito não deve ser
fator condicionante para a execução dessa operação, uma vez que, para
auxiliar na compreensão do documento a ser analisado podem ser extraídas
informações extrínsecas em outras fontes de informação.
Sob esse viés, nesta pesquisa busca-se estudar as contribuições
da semântica no nível discursivo, contemplando os procedimentos de
tematização e gurativização como subsídios para leitura documentária de
objetos informacionais.
A semântica, enquanto área do conhecimento, emergiu no nal
do século XX no intuito de responder as demandas da sociedade cientíca
por meio do estudo do signicado ou teoria da signicação (FIORIN,
1999). Desse modo, o seu foco não está ligado apenas às palavras, mas
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
128 |
também às orações, gestos, símbolos, imagens e entre outros elementos
de signicação.
De acordo com Greimas (1966, p. 11) a signicação consiste
em elemento central das preocupações da semântica, uma vez que essa
estuda os problemas relacionados ao signicado de todas as coisas que são
pensadas, produzidas e transmitidas.
Desse modo, a atividade de representação advém do processo de
signicação e esse, por sua vez, contribui para a atividade de organização
- o que justica a relevância e necessidade das investigações de natureza
semântica nos processos de organização e tratamento da informação na
Ciência da Informação.
A semântica atribui sentido aos signos, esclarecendo o que é
apreendido no mundo das coisas, e se congura como um componente
semiótico-discursivo (ALBUQUERQUE, 2011).
A semiótica, por sua vez, consiste no estudo da signicação, a
qual é compreendida como a relação dependente entre o conteúdo e a
expressão de signos verbais e não-verbais (BATISTA, 2001). Greimas e
Coutés (2008, p. 447) armam que a semiótica realiza uma “operação
que, ao instaurar uma relação de pressuposição recíproca entre a forma e
a expressão e a do conteúdo” e entre “o signicante e o signicado”, “[...]
produz signos, resultando em uma semiose
25
.
Santaella (1993) infere que a semiótica estuda todos os tipos
possíveis de ações sígnicas, ou seja, o centro da sua teorização são as
representações de todas as linguagens, uma vez que estuda os meios pelos
quais o homem se comunica, sendo eles verbais ou não (gestos, ideias,
símbolos, imagens, etc.).
Para Albuquerque (2011), a semiótica de origem francesa,
também conhecida como semiótica greimasiana, parte da concepção de
signo criada por Hjelmslev (1975), a qual enriquece o conceito de signo
delineado por Saussure (2004, p. 80) como “uma entidade psíquica” que se
associa a dois elementos: o signicante (conceito) e o signicado (imagem
acústica).
25
De acordo com Batista (2001, p. 146), a semiose é o “[...] o processo de produção, acumulação e transformação
da função semiótica”. Assim, a semiose se constrói e se manifesta ao longo do discurso e só atinge a sua
completude no percurso sintagmático do discurso por inteiro.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 129
Enquanto abordagem metodológica, a Semântica Discursiva foi
idealizada por Algirdas Julien Greimas e busca atribuir sentido ao discurso
com base no modelo teórico-metodológico denominado Percurso Gerativo
da Signicação (PGS) ou Percurso Gerativo do Discurso (PGD), cujo
foco é o estudo da produção e interpretação de sentidos. Embora a noção
de signo seja considerada, Greimas não parte do signo para estruturar e
propor a sua metodologia, uma vez que são levadas em consideração as
denominadas “guras”.
Para Fiorin (1999, p. 38) “[...] a noção de percurso gerativo de
sentido constitui um simulacro metodológico para explicar o processo
de entendimento, em que o leitor precisa fazer abstrações, a partir da
superfície do texto, para poder entendê-lo [...]”. Portanto, esse modelo
teórico-metodológico representa um processo que parte do nível simples ao
mais complexo, são eles: profundo (ou fundamental), narrativo e discursivo.
Cada nível supracitado contém um elemento sintático e um
elemento semântico, considerando que a sintaxe busca estudar questões
relativas à estrutura do vocabulário e a semântica busca focar “[...] nas
regras que presidem às relações entre os vocábulos, as construções das
orações e as relações interacionais.” (ANTÔNIO, 2008, p. 12).
Seguindo essa linha de raciocínio, aqui são estudadas as
contribuições da semântica de nível discursivo, no intuito de considerar
os procedimentos de tematização e gurativização como subsídios para
a construção da metodologia de indexação de imagens, em especial de
xilogravuras.
A Semântica Discursiva integra duas formas básicas de discursos:
os discursos concretos e os discursos abstratos. Eles não são antagônicos
entre si, pois coexistem e estão interligados apresentando um caráter lógico
que percorre do concreto (guras) para o abstrato (temas). Desse modo,
o discurso concreto construído com guras é denominado gurativo. E o
discurso abstrato edicado por temas é denido como temático.
Para Fiorin e Savioli (2003, p. 89) os textos gurativos “[...]
produzem um efeito de realidade, e por isso representam o mundo, criam
uma imagem do mundo, com seus seres, seus acontecimentos.”. Os textos
temáticos, por sua vez, “explicam as coisas do mundo, ordenam-nas,
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(Organizadores)
130 |
classicam-nas, interpretam-nas, estabelecem relações e dependências
entre elas, fazem comentários sobre suas propriedades”.
Nesse prisma, os textos gurativos dirigem-se a algum aspecto da
realidade, criando imagens da mesma, bem como dos seres, das coisas, das
ações, acontecimentos e qualidades associados a ela. Para Antônio (2008,
p. 66) “[...] quando fala-se mundo real devemos pensar também no mundo
construído.”.
Tal como as guras, os temas “[...] também se encadeiam em
percursos, isto é, em conjuntos organizados. São os percursos temáticos.
Para apreender o tema geral, é preciso perceber esse encadeamento dos
temas e depreender a unidade subjacente à diversidade.” (FIORIN;
SAVIOLI, 2003, p. 101).
Assim, os temas expressam elementos abstratos por meio de uma
natureza conceitual representada por classes e categorizações, conforme
explica Barbalho (2006, p. 88):
A tematização expressa elementos abstratos buscando explicar
a realidade e representar o mundo através de um investimento
conceptual. Os temas organizam, categorizam e ordenam a
realidade signicante de modo a permitir sua interpretação. Figuras
e temas são para manter a coerência interna do texto, necessitam
seguir um percurso ou encadeamento lógico de modo a gerar
sentido. As guras devem ser vistas através do conjunto por elas
composto e não isoladamente.
Albuquerque (2011, p. 173, grifo da autora), por sua vez,
apresenta as relações entre os níveis temático e gurativo da Semântica
Discursiva:
A semântica discursiva tem como componente a tematização
– elementos abstratos presentes no texto – e a gurativização
elementos concretos presentes no texto – que dão concretude ao
tema. As guras do texto formam uma rede, uma trama que, para
entendê-las, é necessário conhecer o primeiro nível temático assim
como o nível gurativo em que palavras e expressões apresentam
traços comuns de signicação, que podem ser agrupados.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 131
Com isso, verica-se que a tematização e a gurativização são
componentes da Semântica Discursiva e consistem em procedimentos
semânticos da discursivização. No Quadro a seguir são apresentadas as
principais características dos textos gurativos e temáticos:
Quadro 1 - Principais características dos textos gurativos e temáticos
textos fIgurAtIvos textos temátIcos
*Apresentam função descritiva ou
representativa
*Representam o mundo
*Criam imagem do mundo
*Criam imagem dos seres
*Criam os acontecimentos do mundo
*Referem-se ao concreto presente no
texto
*São palavras ou expressões
correspondentes ao mundo natural
*Constroem simulacro da realidade
*Elementos abstratos no texto cuja
função é explicar a realidade
*Classicam e ordenam a realidade
*Estabelecem relações e dependências
*Apresentam função predicativa ou
interpretativa
*Apresentam comentários sobre as
propriedades do mundo
*Apresentam temas genéricos (classes)
que contempla assuntos principais
*Apresentam coerência ao texto
principal
Fonte: Adaptado de Antônio (2008).
A relação entre as guras apresentadas para a construção do
sentido e, consequentemente, a identicação do tema atinente a elas é
denominada por Albuquerque (2011) de “encadeamento de guras”.
Portanto, a sequência dessas guras resultante do seu agrupamento produz
uma rede relacional, denominada no sistema semiótico como percurso
gurativo, e expressa os temas subentendidos no texto - tornando viáveis as
possibilidades signicativas em um dado contexto.
Depreende-se, portanto, que os estudos que possuem maior
conexão com a Semântica Discursiva e que contribuem signicativamente
para a Ciência da Informação são aqueles relacionados à Organização
e Representação da Informação e do Conhecimento, especicamente
sobre a análise documentária. Esses estudos, em conjunto, podem
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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colaborar para o processo de análise e síntese do sentido das informações
contidas em textos verbais e não verbais, considerando que os sujeitos
possuem mentes interpretadoras que executam processos semióticos,
interpretam e ressignicam diferentes visões de mundo apresentadas
por estruturas conceituais.
Diante do exposto, as metodologias de análise documentária, ao
considerarem a Semântica Discursiva, devem contemplar a discursivização
semântica, privilegiando os processos de gurativização e tematização.
Nesse limiar, a análise dos objetos informacionais deve estar pautada em
níveis descritivos (guras) e interpretativos (temas). As guras consideram
os aspectos denotativos, ou seja, aquilo que o item informacional (imagem,
texto, áudio, vídeo, etc.) mostra de forma explícita (elementos concretos); e
os temas levam em conta os aspectos conotativos (elementos abstratos), ou
seja, aquilo que pode ser simulado pelo objeto informacional – associando-
se ao processo de tematização.
Os temas não necessariamente precisam reetir o contexto ou
signicado “real” do material informacional, mas o que esse pode (res)
signicar na concepção de quem a analisa. Eles são extraídos de classes
ou categorizações, podendo ser provenientes de instrumentos de controle
terminológicos como tesauros, ontologias, taxonomias, etc. ou até mesmo
da linguagem natural como as tags (etiquetas) atribuídas pelos usuários em
um dado sistema colaborativo.
Pesquisas na Ciência da Informação, em especial na área de
Organização e Representação da Informação e do Conhecimento,
evidenciam a pertinência e adequação do percurso gurativo e do
percurso temático de Greimas, onde ocorrem os processos de tematização
e gurativização, para a análise documentária de objetos informacionais
como textos e imagens, apontando diretrizes e metodologias para a
indexação desses recursos. Tal aspecto contribui para a interdisciplinaridade
das pesquisas sobre a área supracitada e a linguística.
Albuquerque (2011) em sua pesquisa constata a ecácia da
Semântica Discursiva para a indexação textos, estabelecendo como
recorte os folhetos de cordel, a partir da identicação de guras e temas
que subsidiam a indexação dessa espécie documental. Além disso, essa
pesquisadora propôs temas e 27 classes temáticas para a organização
de acervos que possuem folhetos de cordel. De outro modo disposto,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 133
Gandier e Pinho (2018) ressaltam a importância da Semântica Discursiva
para a análise documental de textos ccionais, especicamente crônicas,
constatando que esse método pode ser satisfatoriamente aplicado a essa
tipologia textual.
De maneira complementar, Santos (2019) em sua pesquisa
doutoral constata as contribuições da Semântica de nível discursivo para a
indexação de imagens, estabelecendo como recorte as xilogravuras de cordel.
Essa autora enfatiza que os métodos e técnicas de indexação de imagens
existentes na literatura pautam-se, principalmente, na análise descritiva
de fotograas em diferentes níveis de detalhamento, não contemplando
elementos intrínsecos de imagens especícas como as xilogravuras, por
exemplo. Diante disso, surge a necessidade de encontrar alternativas
que auxiliem o trabalho do prossional da informação na prática de
indexação desses recursos imagéticos, fornecendo caminhos para que
os temas desses objetos informacionais atendam os parâmetros conceituais
das imagens, reduzindo o nível de dispersão interpretativa do prossional
indexador - aspecto inerente à operação.
Diante do exposto, percebe-se que os percursos temático e
gurativo possuem qualidades metodológicas a serem aplicadas na
leitura documentária. Para tanto, faz-se necessário que o indexador
reconheça as superestruturas, ou seja, as estruturas globais responsáveis,
independentemente do conteúdo, pela caracterização do tipo do objeto
informacional, considerando as suas especicidades. Tal processo contribui
para que esse prossional reconheça quais os pontos de acesso no objeto
informacional que facilitam a identicação das guras e dos temas para
ns de indexação, podendo utilizar fontes adicionais como subsídios para
o reconhecimento do(s) tema(s) a ser(em) utilizado(s) na indexação.
A Figura a seguir apresenta de maneira sistematizada os contributos
da Semântica Discursiva, através dos procedimentos de gurativização e
tematização, para a análise documentária a partir dos aspectos discutidos
anteriormente.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Figura 2 - Contributos da Semântica Discursiva para a análise
documentária
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas ideias de Santos (2019).
Conforme elucidado anteriormente, a Semântica Discursiva
integra os discursos gurativos (concretos) e os discursos abstratos
(temáticos). Aqui os discursos gurativos são tratados como guras e
correspondem aos elementos que se encontram visíveis ou descritos no item
informacional, como por exemplo: personagens, ações, objetos, lugares,
números, vocábulos, expressões, etc. Seguindo essa lógica, o procedimento
de análise e identicação dessas guras no objeto informacional é
denominado de gurativização.
Já os discursos abstratos correspondem aos temas, os quais
são identicados a partir da conuência ou da imbricação das guras
identicadas em um dado recurso informacional, no intuito de representar
o seu conteúdo por meio de conceitos oriundos de classes e categorizações.
Tal procedimento é denominado de tematização.
As guras e os temas também podem ser identicados e extraídos
em fontes adicionais relacionadas ao recurso informacional, como por
exemplo: títulos, legendas, grácos, quadros, resumos, tabelas, sinopses,
etc. Nesse caso, deve-se considerar a relação semântica entre as guras
extraídas dessas fontes e o material informacional analisado.
Portanto, a gurativização e a tematização são procedimentos
que pertencem à Semântica Discursiva e são componentes essenciais ao
processo discursivização - resultado da interpretação de um vocábulo
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 135
ou expressão com base em tais procedimentos. Por exemplo, o vocábulo
tortura” gurativiza o tema “sofrimento”, que signica sensação consciente
ou inconsciente de dor, mal-estar ou infelicidade. Portanto, “tortura” é
uma gura associada ao tema “sofrimento”, cujo signicado apontado
anteriormente corresponde à discursivização.
Desse modo, considera-se também a importância de o indexador
conhecer as características do sistema, bem com as funções e usos do
recurso a ser indexado no contexto da unidade de informação. Esses
aspectos também podem ser aplicados e/ou aperfeiçoados para contribuir
no processo de análise documentária de diferentes tipologias de recursos
(imagens, textos, áudios, vídeos, etc.).
Portanto, observa-se que a Ciência da Informação não pode se
isentar dos estudos sobre as tendências contemporâneas de representação da
informação que visam contribuir para o desenvolvimento da competência
dos prossionais da informação, pesquisadores e usuários que lidam com
as práticas de representação temática de recursos informacionais.
4 consIderAções fInAIs
A análise documentária e a linguística integram ferramentas que
podem fornecer subsídios teóricos e práticos para a correta interpretação do
conteúdo de itens informacionais, objetivando compreender os sentidos e
signicados dos assuntos explorados nos mesmos para ns de indexação,
recuperação, acesso de uso da informação.
Sujeitos que fazem parte de determinadas culturas podem
não conseguir (ou apresentar diculdades para) reconhecer, assimilar
e interpretar os personagens, elementos e ações retratadas em objetos
informacionais pelo fato de não possuírem conhecimentos adequados para
entendê-los. Isso se deve ao fato de que os indivíduos atribuem sentido
às coisas pela maneira como as utilizam e associam em suas práticas
cotidianas. Por isso a importância de considerar as novas metodologias que
contribuem para a análise documentária, no intuito de contribuir para a
produção signicativa de metadados semânticos.
Com base nessa perspectiva, a análise documentária deve
estar pautada, primeiramente, no objeto informacional e na articulação
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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semântica do mesmo com o conteúdo das fontes adicionais relacionadas
ao recurso (como o título, legendas, resumos, sinopses, quadros, tabelas,
tags atribuídas pelos usuários em um dado sistema, etc.), contemplando os
procedimentos de gurativização e tematização da Semântica Discursiva.
Portanto, esta proposta está diretamente associada à indexação, não
incluindo procedimentos voltados para a representação descritiva desses
recursos informacionais.
Diante do exposto, acredita-se que os contributos da Semântica
Discursiva para a análise documentária resultam em uma nova maneira
de extrair os conteúdos de recursos informacionais, trazendo como
diferencial a redução do nível de subjetividade, tornando a indexação mais
próxima possível de atender os parâmetros conceituais dos documentos.
Para tanto, a criação de uma política de indexação em consonância com
as especicidades e singularidades dos recursos informacionais a serem
tratados, consiste em um fator importante para a execução de um trabalho
eciente em bancos de dados e sistemas de recuperação da informação.
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A leIturA documentárIA e As perspectIvAs de
AplIcAção em contexto dA Web
Gercina Ângela de LIMA
resumo: A mudança do texto impresso para o texto eletrônico criou uma grande
transformação na maneira como se armazena e acessa a informação. O hipertexto,
fruto da tecnologia informacional das últimas décadas, é a forma texto que estimula e
torna possível o desenvolvimento do universo digital. No ambiente Web, o processo de
indexação mostra-se útil e eciente para criar a estrutura conceitual com links para as
partes relevantes do texto. Neste capítulo, apresenta-se um estudo sobre a contribuição
da leitura documentária na conversão de textos em hipertextos no contexto da Web,
do ponto de vista do autor. Os estágios da leitura documentária, no processo de análise
de assunto, constituem uma abordagem importante a ser considerada na estruturação
de hipertextos. Conclui-se que os estágios previstos na leitura documentária realizados
no texto linear podem auxiliar o autor na estruturação de hipertextos, desde que sejam
adaptados para a representação conteúdo do texto não linear, garantindo a interatividade
entre módulos de informação, que garante a compreensão global do texto.
pAlAvrAs-chAve: Leitura documentária. Hipertexto. Web.
AbstrAct: e change from printed text to electronic text has created a major
transformation in the way information is stored and accessed. Hypertext, fruit of the
information technology of the last decades, is the text form that stimulates and makes
possible the development of the digital universe. In the Web environment, the indexing
140 |
process is useful and ecient to create the conceptual framework with links to the
relevant parts of the text. In this chapter, we present a study about the contribution of
documentary reading in the conversion of texts into hypertexts in the context of the
Web from the author’s point of view. e stages of documentary reading, in the process
of subject analysis, constitute an important approach to be considered in the structuring
of hypertexts. It is concluded that the stages provided in the documentary reading in the
linear text can help the author in the structuring of hypertexts, as long as they are adapted
to the nonlinear text content representation, guaranteeing the interactivity between
information modules, which guarantees the global comprehension of the text.
Keyword: Documentary reading. Hypertext. Web.
1 Introdução
A necessidade de representação da informação para sua posterior
recuperação começou desde quando o papel foi introduzido no mundo
ocidental, em meados do século XII, e difundiu-se na Europa, entre os
séculos XIII e XV, com a necessidade do aumento da quantidade de novos
originais e cópias de livros. À medida que crescia o aumento de exemplares
disponíveis, aumentava também o estímulo ao registro do conhecimento, o
que inuenciou muito o clima intelectual na Idade Média. Assim, a escrita
cria a gura do leitor, para o qual a realidade passa por um ltro muito mais
renado. Ampliou-se o número de editores e possíveis leitores. A partir daí,
a leitura e a interpretação do texto adquiriram caráter mais individualizado,
com particularidades e exigências diversas. As obras começaram a incluir
representações grácas mais precisas e especícas, como tabelas, grácos
e desenhos, incorporando inventos e artifícios anteriores à tipograa.
Formas mais sosticadas de leitura não linear começaram a surgir, como
as notas de rodapé, sumários, por exemplo, que direcionavam o leitor a
outras partes do mesmo livro ou a outras obras relacionadas, como índices
e bibliograas.
Desde então, a comunicação escrita e o modo de transmissão dos
textos sofreram profundas mudanças. A escrita em suportes artesanais foi
a tecnologia de comunicação mais avançada, desde o quarto milênio a.C.
até a invenção da imprensa e da tipograa na Mogúncia (c.1450), quando
Johann Gutenberg compôs, com tipos móveis, o texto da Bíblia, o primeiro
livro a passar do manuscrito para o papel impresso (McGARRY, 1999).
| 141
A informática provocou muito mais do que uma revolução
nas formas e nos métodos de geração, armazenamento, processamento
e transmissão da informação. Pode-se dizer que o desenvolvimento das
tecnologias relacionadas com o computador compara-se à revolução
causada com a invenção dos tipos móveis de Gutenberg. A mudança do
texto impresso para o texto eletrônico criou uma grande transformação
na maneira como armazenamos e acessamos a informação. Os textos
eletrônicos, que podem ter as mesmas características dos textos lineares,
bem como dos não lineares, são armazenados ou disponibilizados em HDs
(Hard Disk ou Disco Rígido), disquetes, CD-ROM, LANs, ou redes digitais.
O formato eletrônico pode ser considerado como um formato adicional,
em vez de substituição dos formatos existentes. Porém, a possibilidade
de explorar o texto de maneira interativa introduziu o conhecimento por
simulação.
A internet tem poucos pontos de entrada, uma estrutura pobre e
uma forte ênfase na busca por assunto. A teoria e processos da indexação
subsidiam diversas atividades em uma teoria comum e diversas técnicas,
porém suas aplicabilidades na Web precisam ser adaptadas. Por exemplo:
no ambiente Web, o processo de indexação pode ser útil e eciente
para criar estrutura conceitual com termos que podem ser armazenados
na base de dados e servir como links para as partes relevantes do texto.
Somado a isso, o uso de um Sistema de Organização do Conhecimento,
do tipo tesauro, pode auxiliar no controle do vocabulário para melhorar a
recuperação na Web, reduzindo a frustração e ajudando a assegurar que a
informação relevante não se perca.
Lima (2004) aponta que o hipertexto, fruto da tecnologia
informacional das últimas décadas, é a forma texto que estimulou e tornou
possível o desenvolvimento do universo digital. O hipertexto, como nova
tecnologia, também desterritorializa o texto, tornando-o sem fronteiras, o
que remete, de certa forma, à transmissão da informação na tradição oral,
em que o elemento da aleatoriedade é inerente à comunicação. Porém, o
texto eletrônico acelera o tempo e concatena contextos; encadeia e justapõe
diferentes documentos, num compartilhamento do mesmo espaço de
produção e, às vezes, alterando sua compreensão.
Os hipertextos já eram utilizados, em modo o-line, para
representação de informações, imagens, sons, organizados de forma a
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
142 |
promover uma leitura (ou navegação) não linear, baseada em indexações
e associações de ideias e conceitos, sob a forma de links. No entanto, essa
concepção de textualidade possibilitou a surgimento da World Wide Web
(WWW), nascida em 1991, que é a parte da Internet baseada nos princípios
do hipertexto. Uma característica marcante do ambiente Web é o fato de ser
uma organização descentralizada, o que a torna um sistema ágil, diferente
do ambiente físico (ou real), com seus tradicionais sistemas organizados de
forma centralizada. As linguagens de marcação de textos HTML (Hypertext
Markup Language ou Linguagem de Marcação de Hipertexto) e XML
(eXtensible Markup Language ou Linguagem de Marcação Estendida) são
consideradas a linguagem básica de representação do hipertexto na Web.
Sendo que a linguagem XML surgiu como recurso diferenciado na autoria
de hipertextos, pois permite aos autores a marcação de conteúdo semântico
dentro do próprio texto e o acréscimo de comandos, explicitando decisões
de fragmentação e interconexão segundo congurações mais convenientes
para aquele documento especíco.
De acordo com Mai (2004, p. 93), a maioria das pesquisas da
área de organização da informação e do conhecimento concentra-se mais
na melhoria da representação do item bibliográco na WWW do ponto
de vista descritivo, por meio de seus metadados, do que a representação de
seu conteúdo, e exemplica esta realidade com uma citação: “Weinberg
(1999) calls it “the stepchild of the metadata literature.”, que, apesar de ser
de 1999, tem essa perspectiva mantida até o momento atual.
No entanto, o processo de indexação, especicamente a leitura
documentária na etapa da análise de assunto, para modelagem conceitual
de um hipertexto, dá-se de forma diferenciada por suas características
não lineares, o que torna mais complexo realizar a leitura documentária
com perspectivas de sua representação na Web. Agregam-se a este fato as
diversas tipologias documentais existentes e suas estruturas, que exigem
conhecimentos diferenciados, no que tange à identicação de seus
conceitos, tornando, assim, um procedimento ainda mais complexo para
sua representação.
O principal papel da leitura documentária é a identicação de
conceitos de um determinado documento para que seu conteúdo possa ser
representando visando a sua recuperação pelo leitor em uma unidade de
informação. Porém, existem variáveis que irão permear esta leitura textual,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 143
que é realizada diferentemente da convencional, que integra o conhecimento
prossional do leitor-indexador, ao realizar este procedimento, perpassando
pelos aspectos linguísticos, cognitivos e lógicos que são associados a este
procedimento, e as variáveis: o texto, o leitor e o contexto.
Neste capítulo, não se pretende esgotar a temática sobre
hipertextos como um documento Web tanto na sua construção quanto na
sua navegação e recuperação, mas abordar as perspectivas da contribuição
da leitura documentária na etapa da análise de assunto, para modelagem
conceitual de hipertextos, com vistas à sua disponibilização na Web, do
ponto de vista do autor conteudista.
2 hIpertexto
A inquietude para o surgimento de uma nova forma textual já
se delineava no início da década de 1970. Ironicamente, a necessidade
de mudança nos conceitos das funções do autor e do leitor, do livro e
do texto, foi trazida à tona por expoentes da teoria crítica literária como
Focault (1979), Derrida (1977) e Barthes (1979), cujas posturas losócas
tratavam do texto tradicional, e não do hipertexto. Para Focault (1979, p.
102) “[...] o texto é como uma rede formada por interconexões, na qual as
fronteiras não são bem denidas, mas captadas em um sistema de referências
e outros livros, outros textos.”. Derrida (1977, p. 173) aponta que “[...] o
texto ideal é composto por unidades que, apesar de separadas, podem se
complementar na construção do sentido. Cada unidade pode ‘quebrar’,
modicar o contexto e abrir para uma innidade de novos contextos.”. Já
Barthes (1979, p. 8) descreve o texto ideal como “[...] um composto de
blocos de palavras (ou imagens), perpetuamente ‘não nalizados’, descritos
a partir de termos como nós, networks, redes e caminhos.
Permeando a reexão desses três lósofos, está a ideia de um
rizoma que se materializaria na forma de texto hipertextual, na qual não
haveria uma hierarquia de início ou m, nem de acima ou abaixo, nem
de antes ou depois. Foucault fala da interrelação, invisível a muitos, entre
obras separadas sicamente. Derrida reconhece a fragmentação inerente
ao texto, mas também sua mobilidade e potencial de transformação como
uma entidade viva. Já Barthes aborda o texto como fenômeno em processo,
não como matéria acabada.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
144 |
Segundo Koch (2002), se considerarmos que a linguagem é uma
atividade interativa que conduz à concepção processual da construção do
sentido e que todo texto é constituído por uma proposta de múltiplos
sentidos, como querem Focault, Derrida e Barthes, pode-se armar que
todo texto é um hipertexto. Para que o leitor possa construir um sentido,
que nem sempre se dá de maneira linear e sequencial, é necessário realizar
um constante movimento em variadas direções, recorrendo a diversas
fontes de informação textuais e extratextuais. Dessa forma, o hipertexto é
uma forma de estruturação textual que permite ao leitor ser uma espécie de
coautor do texto, oferecendo-lhe a possibilidade de opções entre caminhos
diversicados, de modo a permitir diferentes níveis de desenvolvimento e
aprofundamento do tema. Esta variabilidade do grau de aprofundamento
é notável em textos impressos. Povoado de referências, citações, notas de
rodapé, quadros, tabelas, exemplos etc., sua concentração de estímulos
convoca o leitor a pensar sobre outros textos, consultá-los e até mesmo
suspender sua leitura, em um processo de alteração de curso para obter
outras informações ou fazer anotações. Como o hipertexto oferece uma
multiplicidade de caminhos a seguir, compete ao leitor decidir qual o uxo
de informações será incorporado em sua trajetória de leitura.
A denição de texto virtual de Bolter (1991), duas décadas depois
de Focault, Derrida e Barthes, também conrma a inquietude já presente
naqueles autores:
[...] texto é um contínuo de parágrafos, dispostos na tela do
computador para o leitor ler através de um caminho tradicional.
Algumas palavras estão marcadas em negrito; estilo que indica que
há uma observação para aquela palavra ou frase, [...] uma segunda
janela pode também conter frases em negrito que podem levar
o leitor para outros parágrafos. [...] O processo pode continuar
indenidamente [...] formando uma rede que é chamada de
hipertexto. (BOLTER, 1991, p. 15).
Bolter (1991) nos mostra, também, que a noção de texto
acompanhou o desenvolvimento da tecnologia de transmissão da
informação:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 145
Todas as formas de escrita são espaciais [...] Cada tecnologia dá-
nos um espaço diferente. Para certas escritas antigas, o espaço
[bidimensional] era a superfície interna do rolo contínuo [de
pergaminho], que o escriba dividia em colunas. Para a escrita
medieval e a impressão na era moderna, o espaço é a superfície
branca de uma página, especialmente em volumes encadernados.
Para a escrita eletrônica, o espaço é a tela do monitor de um
computador, onde o texto é exposto e armazenado em memória
eletrônica. (BOLTER,1991, p. 11).
No contexto histórico, o documentalista e advogado belga
Paul Otlet e seus colegas se anteciparam muito da funcionalidade do
hipertexto e desenvolveram um complexo de organizações funcionalmente
similares a ele, conforme uma série de trabalhos publicados entre 1892
e início deste século. Na obra Traité de Documentation (1934), Otlet
identicou máquinas intelectuais e processos contendo dispositivos de
som e conectados ao telefone, telegraa e televisão, com o armazenamento
baseado principalmente em cartões e folhas de papel de tamanho
padrão. A invenção destas máquinas ajudaria a realizar um novo tipo
de enciclopédia e a tornaria muito próxima a um anexo do cérebro, um
substrato da memória. O autor vislumbrou um sistema internacional de
manipulação de informações abrangendo desde a criação de uma entrada
em um catálogo até as novas formas de publicação, do gerenciamento
de bibliotecas, arquivos e museus como agências de informação inter-
relacionadas até o desenvolvimento colaborativo de uma enciclopédia
universal codicando todo o conhecimento humano. No centro dessas
ideias, estavam o sistema de Classicação Decimal Universal, um novo tipo
de agência de informação (Oce of Documentation), um novo princípio de
armazenamento e indexação da informação (Princípio Monográco) e o
microlme.
Em 1945, Vannevar Bush (1987a) publica o artigo As we may
think
26
, no qual previu um sistema muito parecido com o hipertexto, com
a ideia básica de organizar documentos em trechos e combiná-los conforme
as necessidades de compreensão e organização, o qual denonimou de
Memex. Esse sistema teria a capacidade para armazenar um grande volume
26
Publicado originalmente em: e Atlantic Monthly, v. 176, n.1, p.101-108, July 1945.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
146 |
de informações e, por meio de determinado mecanismo, estabeleceria
associações entre diferentes pontos da base de dados, propiciando a sua
consulta com rapidez e exibilidade. Assim, o Memex serviria como
suplemento para a memória dos usuários de um banco de dados de
literatura cientíca. Ele propôs a organização associativa que tentava imitar
a estrutura da memória humana.
Além de Bush e Otlet, eodor Nelson (1965) e Douglas
Engelbart (1962) foram outros pesquisadores que compartilharam a
mesma visão de que seria estabelecida nova forma de interação homem-
computador. eodor Holm Nelson foi quem criou o termo hipertexto,
denindo-o como [...] uma combinação de texto em linguagem natural
com a capacidade do computador de fazer pesquisa interativa e exibição
dinâmica de um texto não linear. (CONKLIN, 1987, p. 17). O sistema
Xanadu, desenvolvido por ele e sua equipe de pesquisadores, possuía um
gerenciador de armazenamento que permitia a criação de ligações entre os
tópicos correlatos e mantinha informações sobre a origem, as variações e as
interconexões dos textos. Na década de 1960, Nelson começou a estruturar
alguns fundamentos do hipertexto e apontou as limitações da informática
em face da nova ferramenta. Paralelamente aos estudos de Nelson, Douglas
Engelbart, do Instituto de Pesquisa Stanford, EUA, estudou a utilização do
computador como instrumento representacional e ampliador do intelecto
humano (MARQUES, 1995). Foram apresentados novos conceitos relativos
à interação homem-máquina para a construção de sistemas mais dinâmicos
e exíveis. Juntamente com outros pesquisadores, implementou o sistema
On Line System (OLS), conhecido mundialmente como sendo a primeira
implementação que seria conhecida como um hipertexto, estruturado por
uma rede de links que interligavam blocos pequenos de informação. Esse
sistema foi o primeiro a introduzir noções como edição estruturada, uso do
mouse, correio eletrônico, janelas múltiplas e tela compartilhada. Em 1969,
Bush publicou o artigo Evolution of an information society (republicado
em 1987b),
27
concluindo que o Memex podia, nalmente, ser viabilizado,
porém a um alto custo, exigindo também manipulação de alta tecnologia
e uma enorme dose de paciência dos usuários.
27
BUSH, Vannevar. MEMEX revisited. In: CALKELL, A. E. (ed.). Evolution of an information society. London:
ASLIB, 1987. p. 179-191. Publicado originalmente em Science is not enough. New York: Apollo, 1969. p. 75-101.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 147
Os sistemas de hipertexto são fruto da tecnologia informacional
das últimas décadas e causaram uma verdadeira revolução nos conceitos de
armazenamento e recuperação de informações. As rupturas com as formas
tradicionais de organização da informação vão desde as características de
entrada da informação e a criação das estruturas de armazenamento, até
o desenvolvimento radical no processo de recuperação da informação,
possibilitado pela interação homem–máquina.
Com o surgimento da Web, no início da década de 1990, os
sistemas de hipertextos alcançaram maior popularidade e visibilidade
mundial. Hoje o sistema de hipertexto mais conhecido é a própria rede
Web, na qual o navegar no hipertexto, dado seu alcance mundial, é uma
realidade para milhões de pessoas em todo o mundo (NONATO, 2009).
A mudança das páginas estáticas disponíveis na internet para páginas
interativas com conexões, utilizando o protocolo HTTP (Hipertext
Transfer Protocol), alterou a forma de acesso da informação na Internet.
Gomes (2011, p. 23) arma que “[...] podemos dizer que a Web, hoje, é
um hipertexto aberto, pois quase tudo o que há nela está interconectado,
e documentos podem ser acessados e acrescentados a partir de qualquer
ponto (mesmo simultaneamente).”.
A maioria das estratégias de estruturação de hiperdocumentos
se apoia nas linguagens de marcação de textos como HTML (Hypertext
Markup Language ou Linguagem de Marcação de Hipertexto) e XML
(eXtensible Markup Language ou Linguagem de Marcação Estendida).
Segundo o W3C (2010), a linguagem de marcação de hipertexto evoluiu
para as versões HTML+, HTML2.0 e HTML3.0, de 1993 a 1995,
quando várias mudanças foram propostas para melhoria da linguagem e,
somente em 1997, trabalhou na versão 3.2 da linguagem, fazendo com
que ela fosse tratada como padrão de linguagem. Também para facilitar
a manipulação dos elementos, possibilitando, assim, ao desenvolvedor,
modicar as características dos objetos, de forma que sejam transparentes
para o usuário nal, criando novas tags e permitindo modicar a função
das demais. Em 2007, a W3C buscou soluções para implementação de
uma versão da linguagem HTML moderna e compatível com as versões
existentes. Para tanto, a linguagem deve ser única, podendo ser escrita
tanto com sintaxe HTML como XML (eXtensible Markup Languagem),
denominada HTML5.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
148 |
Essas linguagens são gerenciadas por uma série de comandos que,
uma vez inseridos em um documento tradicional, identicam sua estrutura
lógica em títulos, seções e parágrafos. Esses tipos de componentes de um
documento servem de guias para o processo de conversão de textos em
hipertextos, pois sugerem maneiras de fragmentá-los e de conectar algumas
de suas partes entre si. Estas divisões lógicas em títulos, seções e parágrafos
podem ser sucientes para determinar uma boa conguração de um
hipertexto, no caso de documentos cuja organização interna é bem-denida
e rígida, a exemplo de dicionários e catálogos. Todavia, podem ser pouco
ecientes em textos livres com subdivisões menos sugestivas, para os quais os
algoritmos de conversão gerariam redes não muito adequadas à estruturação
de seu conteúdo semântico. Entre as linguagens de marcação, o XML surgiu
como recurso diferenciado na autoria de hipertextos, pois permite aos autores
a marcação de conteúdo semântico dentro do próprio texto e o acréscimo de
comandos, explicitando decisões de fragmentação e interconexão segundo
congurações mais convenientes para aquele documento especíco.
Encontram-se na literatura vários estudos e denições sobre
hipertexto advindas de diferentes áreas do conhecimento, tais como:
Ciência da Computação, Linguística, Educação, Ciências Cognitivas,
Ciência da Informação, Gestão da Informação e Comunicação. Cada uma
dessas perspectivas abordam o hipertexto sob um ponto de vista que vai
ao encontro de sua aplicabilidade em cada área especicamente. Salienta-
se, também, que alguns autores não fazem distinção entre hipertexto e
hipermídia. Entretanto, a hipermídia ultrapassa o hipertexto por considerar
qualquer tipo de mídia, não apenas texto, e com o suporte de qualquer
tecnologia, e não apenas de computadores (RADA, 1991b).
Uma das denições mais citadas sobre hipertexto é a de
CONKLIN (1987, p. 17), que o dene como “[...] janelas na tela [que]
são associadas a objetos na base de dados e ligações [que] são estabelecidas
entre estes objetos, tanto gracamente, na forma de marcas rotuladas,
como na base de dados, na forma de ponteiros.”.
Conklin (1987) apresenta, ainda, três elementos que podem ser
considerados hipertextos: (1) um componente de banco de dados, em que
objetos na tela são associados a objetos armazenados em um banco de
dados. As conexões entre estes objetos podem ser denidas não apenas
gracamente, mas também por ponteiros em uma base de dados; (2)
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 149
um esquema de representação, no qual a informação textual informal é
misturada com processos e operações mais formais e mecanizados. Para ser
qualicado como “hipertexto”, o sistema deve proporcionar um suporte
eletrônico constante para suas inter-relações; (3) uma interface com o
usuário, geralmente janelas representando a correspondência “um-para-
um” com os nós/nodos na base referencial de dados. A interface gráca,
com o auxílio de browsers e diagramas, auxilia o usuário a navegar através de
uma grande quantidade de informações, ativando as ligações e acessando
o conteúdo dos nodos.
Para Snyder (1997 p. 126), o hipertexto é como “[...] uma
estrutura composta por blocos de textos conectados por links eletrônicos,
os quais oferecem diferentes caminhos para os usuários.”.
Levy (1993, p. 33), por sua vez, dene o hipertexto como
[...] um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem
ser palavras, páginas, imagens, grácos, sequências sonoras,
documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos.
Os itens de informação não são ligados linearmente, como uma
corda com nós, mas cada um deles, ou a sua maioria, estende suas
conexões em estrela de modo reticular.
No Brasil, um dos primeiros autores a estudar sobre o hipertexto
foi Vilan Filho (1994), que o deniu como “[...] uma rede de nós e ligações
entre documentos, onde documentos são os nós e as ligações são referências
cruzadas.” (VILAN FILHO, 1994, p. 297). Esse autor destaca ainda que
Os sistemas de hipertextos são conjuntos de programas de
computador (suporte lógico), [com] suas tabelas e dados de controle
necessários para a operação de um sistema construído para operar
com hiperdocumentos, segundo a losoa de hipertexto. Em geral,
esses sistemas são compostos de: (a) um subsistema de autoria, e
(b) um subsistema de navegação (VILAN FILHO, 1992, p. 61).
Lima (2004, p. 23) considera que o hipertexto pode ser
[...] tanto uma ferramenta para o autor quanto para o leitor. Para o
autor, funciona como ferramenta que ajuda a organizar, estruturar
e armazenar informações. Para o leitor, ele permite, através da
navegação, a recuperação da informação organizada.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
150 |
De acordo com Lima (2004), os sistemas de hipertexto traduzem
uma abordagem de estruturação e manipulação de textos caracterizada
pela não linearidade, tendo como seus componentes básicos:
a) Nó (ou Nodo): em cada uma das unidades de informação na
base hipertexto, os nós correspondem a uma ou mais exibições de tela. Essas
unidades de informação em um hiperdocumento podem conter diferentes
tipos de dados, textos, guras, fotos, sons e são conectadas por links a uma
variedade de estruturas. Geralmente, o nó descreve um único conceito
ou tópico, de modo que pode ser caracterizado como autocontido, não
dependendo da leitura prévia de outros nós.
b) Link: conceito mais importante do hipertexto, o link é também
denominado elo, ligação, vínculo, âncora ou botão, de acordo com o
sistema de hipertexto. Links são marcas que conectam um nodo com
outro. A ativação desses links implica abertura de nova janela, contendo o
documento referenciado. Assim, é possível deslocar-se fácil e rapidamente,
de um ponto a outro, no conteúdo das páginas. Esses links podem ser
representados por palavras ou frases em destaque (negrito, itálico, cores),
ou, ainda, por guras ou ícones.
Frei e Stieger (1995) dividem os links em dois tipos: links
referenciais (ou organizacionais) e links semânticos (ou de conteúdo).
A nalidade do link referencial é tornar a leitura do documento mais
confortável. Já a função do link semântico é apontar para um detalhamento
da informação ou uma informação similar, ou, ainda, uma informação
adicional em tópico especíco.
Em relação à sua estrutura, o hipertexto determina e descreve um
sistema de ligações (links) ou relacionamentos entre os nós ou unidades
de informação, sendo um fator decisivo na facilidade de criação, uso e
atualização do hiperdocumento.
De acordo com os nós conceituais que estão sendo ligados,
RADA (1991a) classica o hipertexto conforme as tipologias microtexto
e macrotexto. Microtexto é um neologismo que signica um hipertexto
de pequeno volume, com ligações explícitas entre seus componentes.
Aparentemente, os microtextos são muito apropriados para navegação.
Uma rede de microtextos pode ser vista como uma rede semântica e, por
isso, ser tomada como modelos da memória humana. Através dos recursos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 151
computacionais, evidenciam-se o caminho ou os caminhos em que o texto
foi internamente construído, e que podem variar de acordo com pontos
de vista lógicos. Macrotexto é denido como um sistema hipertextual em
larga escala, composto de vários documentos, e cuja ênfase está em links
que os conectam entre si, em vez de conectar internamente apenas um
documento.
Corroborando com essa ideia, Lévy (1993, p. 25) considera
o hipertexto como “[...] uma metáfora cálida para todas as esferas da
realidade em que signicados estejam em jogo.”, e aponta seis princípios
básicos de sua lógica, que permitem visão panorâmica, a qual organiza,
resume e amplia a ideia de rede que se pretende construir: (1) Princípio
de metamorfose: processo de constante construção e renegociação de
sentidos, que se dá nos hipertextos. O princípio de metamorfose explicita
a ideia de que a rede de signicados que constitui o conhecimento está em
permanente transformação; (2) Princípio de heterogeneidade: a variedade
e diferença entre as informações organizadas em determinada seção do
hipertexto, como os nós e as conexões que se estabelecem entre as diversas
partes da rede hipertextual. Existem, na memória, informações cognitivas
que passam por vários tipos de associações entre estes elementos; (3)
Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas: organização “fractal”
do hipertexto, ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode
revelar-se como sendo composto por toda a rede, e assim por adiante,
indenidamente, ao longo da escala dos graus de precisão; (4) Princípio
de exterioridade: a rede não possui unidade orgânica, nem um “motor
interno”. Seu crescimento, diminuição ou recomposição permanente
dependem de ação exterior indeterminada. O princípio de exterioridade
pretende caracterizar a permanente abertura da rede hipertextual e do
conhecimento em construção; (5) Princípio de topologia: nos hipertextos,
tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos
acontecimentos obedece a uma topologia, na qual os caminhos seguem a
ideia de proximidade entre signicados; (6) Princípio de mobilidade dos
centros: a rede não tem centro xo, mas possui diversos centros que são
como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó a outro,
trazendo ao redor de si uma ramicação innita de pequenas raízes, como
nas linhas brancas esboçando por um instante um mapa de informações.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
152 |
Essas seis características da rede hipertextual propostas por Lévy
(1993) constituem uma teia básica a partir da qual pode ser tecida a ideia
de rede para a representação do conhecimento. Assim, as características
próprias do hipertexto e as novas relações entre autor e leitor que
este sistema está introduzindo estão transformando radicalmente a
comunicação. O hipertexto é capaz de sedimentar uma nova forma
de literatura, conforme previsto por alguns autores: Landow (2006),
Murray (1997) e Bolter (1991). No cenário atual, vislumbram-se alguns
elementos básicos, como: (1) a escrita e a leitura não sequencial; (2) a
interatividade possibilitada pelo meio digital; (3) a existência de elos de
ligação (links) – textuais ou não.
Pode-se dizer, portanto, que o hipertexto não pode ser considerado
um gênero textual, mas documentos eletrônicos, organizados em forma
de rede, com links eletrônicos que possibilitam a interatividade entre as
relações inter e intratextuais de diferentes segmentos textuais.
Conclui-se, assim, que o hipertexto é tanto uma ferramenta para
o autor (designers/programadores) quanto para o usuário (leitor). Para
o autor, funciona como ferramenta que ajuda a organizar, estruturar e
armazenar informações. Para o leitor, permite, por meio da navegação, a
recuperação da informação organizada. Araújo (2006, p. 38) acrescenta que
“[...] se pensarmos que o autor é quem decide como e onde disponibilizar
os links no hipertexto, não haveria uma liberdade incondicional do leitor
e sim uma liberdade, até certo ponto de vista vigiada.”. Já Ensslin (2007)
registra que existem estudos sobre como os princípios de organização
estrutural podem moldar os processos de autoria e leitura do hipertexto.
Acrescenta que os papéis de autor e leitor têm, frequentemente, sido
revertidos, principalmente no que tange à relativa liberdade de escolha do
usuário entre diferentes caminhos de leitura e suposto “desempoderamento
simultâneo do autor.
Para Vilan Filho (1992), a estruturação da informação em sistemas
de hipertexto é similar à de uma rede semântica, ou seja, um modelo de
representação do conhecimento. Os nós representam conceitos e ideias, e
as ligações representam as relações entre eles. As relações devem reetir a
estrutura organizacional do assunto relacionado ou, em outras palavras,
uma rede semântica de uma área do conhecimento. Se a informação for
disposta de maneira organizada, será fácil para o usuário recuperar o que
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 153
estiver procurando. Por outro lado, se a estrutura apresentar uma trilha
de navegação desorganizada e uma estrutura cognitivamente ineciente,
a busca e o folheio (browsing) por parte do usuário será difícil ou
ineciente.
Para este estudo, considerou-se a primeira abordagem, a do autor,
apresentada por Pierre Lévy (1993), na qual o hipertexto é utilizado como
ferramenta de organização da informação por meio da sua característica
de escrita não sequencial e da associação dessas informações através de
nós, representados por conceitos, possibilitando assim a construção de
uma rede navegacional em documentos completos sem perda signicativa
do conteúdo semântico após a fragmentação. Como o processo de
organização hipertextual é muito parecido com a indexação tradicional,
são apresentados, a seguir, os princípios da teoria da indexação e suas
possíveis aplicações aos sistemas de hipertexto.
3 IndexAção
Indexar é representar um documento por meio de uma descrição
abreviada de seu conteúdo essencial. Embora algumas vezes a complexidade
desse processo possa ser minimizada, essa é, sem dúvida, umas das atividades
mais subjetivas do cotidiano do bibliotecário. A capacidade intelectual de
reconhecer o conteúdo de um documento em análise é a questão central do
procedimento de indexação. Essa representação é realizada a partir da análise
do conteúdo do texto-fonte, com base em metodologias e procedimentos
particulares, sempre levando em consideração uma clientela especíca.
Para a execução da atividade, faz-se necessário ter uma formação
especializada na área de tratamento de conteúdos de documentos. A
experiência e os conhecimentos prévios desse prossional diferenciarão
o resultado do tratamento informacional realizado por outro indexador
menos preparado. Naves (2004, p. 8) arma que:
O prossional da informação que desenvolve a atividade de indexar
assuntos de documentos é chamado de indexador, catalogador de
assuntos ou classicador. A maioria desses prossionais é graduada
em Biblioteconomia, e deve conhecer os fundamentos teóricos e
técnicos do tratamento temático da informação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
154 |
Por se tratar de uma atividade intelectual, é natural que, no
cotidiano dos indexadores, sejam percebidas divergências entre termos
atribuídos a um mesmo documento por prossionais de diferentes
instituições e contextos. Assim, uma mesma publicação poderá apresentar
conjuntos diferentes de termos de indexação, dependendo do grupo de
usuários ao qual se destina e dos interesses particulares desse grupo, ou
seja, há várias formas ‘corretas’ de se indexar.
De acordo com a ISO 5963, a indexação é vista como “[...] a
representação do conteúdo dos documentos por meio de símbolos especiais,
quer retirados do texto original, quer escolhidos numa linguagem de
informação ou de indexação.” (INTERNATIONAL ORGANIZATION
FOR STANDARDIZATION, 1985). Segundo Silva e Fujita (2004, p. 136-
137), “[...] o conceito de indexação surgiu a partir da elaboração de índices
e atualmente está mais vinculado ao conceito de análise de assunto.”. De
acordo com o UNISIST (1981, p. 8), “[...] indexação é o processo utilizado
para descrever e identicar um documento de acordo com seu assunto.”.
Na Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), a análise
de assunto é parte do processo de indexação que envolve procedimentos
cujo número de etapas varia conforme diferentes autores. Jens-Eric Mai
(2001) ressalta que o processo de indexação é algumas vezes apontado, na
literatura, como tendo duas, três ou mesmo quatro etapas. Conforme as
diretrizes da International Standards Organization-ISO 5963, do UNISIST
(1981) e conforme os autores Foskett (1973), Chaumier, (1988); Fugmann
(1993), Taylor (2004) Lancaster (2004), Dias e Naves (2007), esse processo
é realizado em duas etapas, sendo a primeira a da análise de assunto, ou
extração de conceitos; e a segunda etapa a de tradução dos conceitos nos
termos de uma linguagem de indexação. Já os autores Hutchins (1978),
Frohmann (1990) e Blair (1990), Farrow (1991), Taylor (2004) e Petersen
(1994) e a ABNT 12.676 (1992) adicionam mais uma etapa, que, apesar
de, também, considerarem como primeira a análise de assunto, incluem
uma etapa intermediária, que reformula o assunto em uma frase de
indexação na linguagem natural, para depois fazer a tradução; enquanto
Chaumier (1988), Langridge (1989), Van Slype (1991), Chu e O’Brien
(1993) e Robredo (2005) consideram quatro etapas. Contudo, todas têm
basicamente as mesmas operações. O foco principal deste capítulo é, na
primeira etapa, a análise de assunto, especicamente, o processo da leitura
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 155
documentária e as perspectivas de aplicação em contexto da Web, tendo o
hipertexto como objeto de estudo. Sendo assim, na próxima seção, passa-se
a descrever mais detalhadamente essa etapa, com ênfase nesse processo da
leitura documentária.
3.1 AnálIse de Assunto e A leIturA documentárIA
A etapa de análise de assunto determina de que trata um documento,
isto é, qual é o seu assunto. De acordo com Cesarino e Pinto (1980, p. 32,
grifo do autor), “[...] a análise de assunto é a operação-base para todo o
procedimento de recuperação de informação.”. Isso justica o fato de todo
Sistema de Recuperação da Informação (SRI) utilizar essa técnica, tanto
na etapa de entrada de dados no sistema quanto no momento de busca da
informação pelo usuário nal. A análise de assunto pode ser considerada a
etapa mais importante do processo de indexação.
Segundo Lancaster (1993, p. 20), “[...] ao indexador raramente
é dado o luxo de poder ler um documento do começo ao m.”, realidade
que pode ser comprovada no cotidiano de indexadores de instituições
nacionais e internacionais. Para tanto, a leitura e a compreensão do texto
são primordiais, porém, o tempo restrito do indexador e a quantidade
cada vez maior de documentos que demandam tratamento são fatores
preocupantes, porque podem comprometer a qualidade da atividade
realizada.
Fujita (2003, p. 69) acrescenta que
[...] o processo de análise de assunto reveste-se (sic) de uma
subjetividade característica, dadas as circunstâncias e elementos
envolvidos, pois, a partir da leitura do documento pelo indexador, é
realizado um processo de comunicação interativo entre três variáveis:
leitor, texto e contexto. Cada uma dessas variáveis estará sujeita a
diferentes condições, mas é o indexador como leitor a variável mais
inuente nessa interação para análise de assunto, porque precisa
realizar a compreensão da leitura mediante sua cognição.
Hjorland (1992) agrega que, para a execução dessa primeira
etapa, é preciso considerar o domínio no qual o documento está inserido,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
156 |
identicando as características especícas do campo de conhecimento,
sejam elas de ordem cultural, terminológica, histórica ou linguística. Para
tanto, o conhecimento do indexador sobre esse domínio é importante para
a qualidade da análise. Assim, a atividade poderá ser feita de acordo com o
contexto, pois o documento não será considerado algo isolado, mas parte
de um todo.
Segundo Kobashi (1994, p. 112), “[...] o texto, em sentido mais
amplo, designa uma unidade de comunicação organizada sintagmaticamente
e dotada de coesão e coerência.”. O texto pode ser classicado, quanto à sua
estrutura interna, como descritivo, narrativo, dissertativo ou, quanto à sua
nalidade, como texto técnico, cientíco, didático, jornalístico, jurídico,
político, de lazer e etc. A grande variedade de tipos de documentos pode
ser diferenciada pelas características físicas e intelectuais: livros de leitura
corrente, teses, dissertações, livros de referência, publicações periódicas e
impressos diversos.
A leitura é um processo interativo de compreensão que depende
das variáveis do texto (intenção do autor, forma e conteúdo), do leitor
indexador (estruturas e processos), e do contexto (social, psicológico
e físico) no qual a leitura está sendo realizada (GIASSON, 1993). O
conhecimento prévio do indexador é fundamental para a compreensão do
texto e identicação de seu conteúdo, para selecionar os conceitos que
serão representados com o uso de vocabulário controlado, para que este
possa ser recuperado pelos usuários da unidade de informação. Naves
(2004, p. 5) considera:
O texto é o ponto de partida para operações analítico-documentárias,
sendo constante a presença dos elementos conteúdo e forma, como
partes essenciais do mesmo. Para ter uma competência textual,
é preciso que, além de conhecer o texto que tem em mãos para
análise sob todos os aspectos, o indexador faça dele uma leitura
adequada [...].
Assim, pode-se destacar que, para a assimilação e a compreensão
do conteúdo do texto, é necessário o processamento de informações na
mente do indexador. De acordo com Naves (2004, p. 8), “[...] parece ser
consenso entre os especialistas em leitura que o processamento do ato de
ler se dá interativamente, dependendo dessa interação a compreensão ou
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 157
a não compreensão de um texto.”. No entanto, a leitura documentária
difere da leitura comum, porque esta é realizada pelo leitor indexador
fazendo a mediação entre as ideias do autor com as do usuário, visando à
representação de conteúdo por meio de conceitos. A leitura documentária
pode, então, ser considerada a atividade inicial da etapa da análise de
assunto, que permitirá identicar o conteúdo de um documento a partir de
seus aspectos intrínsecos e extrínsecos.
De acordo com os Princípios do Unisist (1981, p. 8), os três
estágios para a etapa análise de assunto são: (1) compreensão do conteúdo do
documento como um todo; (2) identicação dos conceitos que representam
esse conteúdo e (3) seleção dos conceitos válidos para recuperação,
sendo que se destaca que “na prática, esses três estágios se superpõem».
Para Fujita (2003), esta superposição ocorre no momento da leitura do
documento. Essa atividade é subjetiva, o que a torna complexa, exigindo,
então, do indexador conhecimentos cognitivos, lógicos e linguísticos, e,
consequentemente, interdisciplinares, para fazer uma análise coerente.
No primeiro estágio, compreensão do conteúdo do documento como
um todo, o indexador deve fazer a leitura do documento, embora a leitura
integral ideal seja impraticável. Destacam-se as partes entendidas como
mais importantes para que o indexador possa se nortear durante a leitura;
entre elas: título; introdução e as primeiras frases de capítulos e parágrafos;
ilustrações; tabelas; diagrama e suas explicações; conclusão; e palavras ou
grupos de palavras sublinhadas ou impressas com tipo diferente. Ressalta-
se a importância de o indexador não se dedicar exclusivamente às partes
preliminares do texto, uma vez que as intenções do autor se encontram no
conteúdo principal, enquanto as partes nais indicam se essas intenções
foram alcançadas.
No segundo estágio, identicação dos conceitos que representam o
conteúdo do texto, o indexador deve abordar o texto de maneira lógica,
selecionando os conceitos que representem adequadamente o assunto do
documento. Para isso, recomenda-se que seja obedecido um esquema de
categorias da área coberta pelo documento, como o indicado a seguir:
o fenômeno; o processo; as propriedades; as operações; o material; o
equipamento, entre outros aspectos (UNISIST, 1981).
Faz-se necessário aqui apresentar uma denição que será
considerada sobre o termo conceito. Dahlberg (1978, p. 147) considera que
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
158 |
A formação de um conceito é feita através da identicação, no universo
de itens (ideias, objetos, fatos, leis, etc.), de um item de referência
(entidades, propriedades, atividades e dimensões). Enunciados
verdadeiros acerca desse item são formulados e sintetizados sob forma
verbal (termo, palavra) que será utilizada no universo do discurso. Os
conceitos são, portanto, denidos como unidades do conhecimento,
identicadas através de enunciados verdadeiros sobre um item de
referência e representados por uma forma verbal.
Para Dahlberg (1978), quando caminhamos rumo a sintetizar,
compilar e reunir enunciados verdadeiros sobre um objeto, estamos
caminhando para a formação de um conceito. Assim, pode ser denido
como sendo a compilação de enunciados vericáveis sobre determinado
objeto, xado por um símbolo linguístico.
Nesse segundo estágio, o processo cognitivo está intrinsecamente
ligado ao processo de identicação da ideia principal apontada em um texto:
O processo de análise de assunto reveste-se de uma subjetividade
característica, dadas as circunstâncias e elementos envolvidos,
pois, a partir da leitura do documento pelo indexador, é realizado
um processo de comunicação interativo entre três variáveis:
leitor, texto e contexto. Cada uma dessas variáveis estará sujeita
a diferentes condições, mas é o indexador como leitor a variável
mais inuente nessa interação para análise de assunto, porque
precisa realizar a compreensão da leitura mediante sua cognição.
(FUJITA, 2003, p. 69).
Sendo o indexador um “sujeito”, essa subjetividade é inerente a
ele. O indexador, apesar de ser um prossional com ideologias próprias,
é o mediador entre as ideias do autor com as necessidades dos usuários,
mantendo-se imparcial.
O terceiro estágio da análise de assunto, chamado de seleção dos
conceitos válidos para recuperação, corresponde à seleção daqueles conceitos
que são julgados como úteis para a recuperação do documento indexado,
tendo em vista os objetivos para os quais as informações são indexadas.
Assim, nem todos os conceitos identicados serão necessariamente
selecionados (UNISIST, 1981).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 159
Há pesquisadores, como Lancaster (2004) e Naves (2004), que
denem a atividade de seleção de conceitos como a determinação da atinência.
Em tradução do inglês, a expressão corresponde ao termo aboutness, porém,
encontram-se na literatura outras traduções: concernência, sobrecidade,
temacidade.
O nal do estágio é indicado com a denição da chamada frase
de indexação. Essa é elaborada pelo indexador em Linguagem Natural
(LN). Após todo o processo intelectual de leitura e compreensão do texto,
de identicação e seleção de conceitos representativos do documento
em foco, o indexador deve armar: “Este documento trata de...” A partir
dessa denição, o indexador pode passar para a etapa nal do processo de
indexação, a tradução da análise de assunto em termos de indexação.
Tessier (1992) arma que o processo de desenvolvimento de
classes e relações de conceitos, que ocorre no processo de indexação, no
qual o indexador pode utilizar diversas estratégias ao mesmo tempo, é um
processo semelhante ao de ligação dos segmentos de textos, em um sistema
de hipertexto.
Na próxima seção, passa-se a descrever sobre a perspectiva do uso
da leitura documentária na estruturação hipertextual de um documento.
4 A leIturA documentárIA nA conversão de textos em
hIpertextos
Esclarece-se que o processo de leitura aqui referido estará
direcionado ao procedimento da leitura documentária realizada pelo autor,
com vistas à estruturação e conversão de hipertextos, e não a leitura que é
realizada pelo usuário, no momento da navegação.
Nota-se, na literatura, que os teóricos em hipertexto têm dado
maior ênfase a ele enquanto forma de leitura, interessando-se menos pelas
suas características de ferramenta de auxílio ao autor e ao texto. No entanto,
Landow (2006, p. 4, tradução nossa) ressalta que
Tanto como uma ferramenta para o autor, ou quanto um meio de
leitura, um sistema de hipertexto permite que autores ou grupos de
autores juntos vinculem informações, criem caminhos por meio de
blocos de informações relacionados, anotem nos textos existentes e
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
160 |
criem notas que apontam os leitores para dados bibliográcos, ou
para o corpo do texto referenciado... Os leitores podem navegar
pelos textos anotados com referência cruzada vinculados de uma
maneira ordenada, mas não sequencial.
28
A importância fundamental do hipertexto como texto eletrônico
é ter o potencial de implementar sua característica crucial – a capacidade
do leitor/usuário adicionar links, comentários ou ambos, realizando o
processo de leitura–escrita como um processo interativo comunicacional.
No presente estudo, interessa mais este segundo aspecto: os detalhes que
permitem criar um texto dinâmico, estruturado semanticamente em seus
aspectos cognitivos e seu papel na navegação. No entanto, a função de
leitor se funde com a do autor; e a divisão entre os dois, muitas vezes, é
indistinta.
De acordo com Lima (2004), a criação de um hiperdocumento
bem estruturado a partir do documento em papel é um processo de
conversão que ainda exige um trabalho de reelaboração do texto. A passagem
do “texto” ao “hipertexto”, como o acréscimo do prexo gramatical sugere,
é a hiperbolização da forma, dos contornos, dos limites da palavra e do
texto. Mas se há mudança pela interrupção, há de se ter também uma
continuidade. E esse ultrapassar de fronteiras do suporte impresso para
o virtual adquire sentido se forem consideradas as características da
textualidade precedente, averiguando a preservação de algumas de suas
características, quais limitações são superadas e quais novos domínios são
potencializados.
Enquanto o texto tradicional se caracteriza pela univocidade,
a certeza, a linearidade, a perenidade, no hipertexto, o documento é
dividido em pequenos módulos padronizados, com acesso seletivo e
descontínuo, conforme ilustrado na Figura 1; porém deve-se assegurar
ao usuário coerência e consistência internas, semelhantes à estrutura
tradicional do documento. Assim, apesar de a informação hipertextual ser
multissequencial e possibilitar uma leitura dinâmica e randômica, ainda
28
Both an author’s tool and a reader’s medium, hypertext document system allows authors or groups of authors to link
information together, create paths through a corpus of related material, annotate existing texts, and create notes that
point readers to either bibliographic data or a body of the referenced text…Readers can browse through linked, cross-
referenced, annotated texts in an orderly but nonsequential manner.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 161
persiste, em sua estrutura, um mínimo de linearidade, de sequência para
que se processe a inteligibilidade do material a ser lido.
O primeiro desao na criação de um hipertexto é estruturar o
conhecimento, de maneira que uma visão geral possa ser apresentada ao
leitor no nó inicial, ou raiz. Essa visão deve identicar a ideia principal e a
amplitude da cobertura, para que os leitores formem um modelo mental
dos tópicos cobertos. Dependendo da aplicação e do tipo de informação
em foco, um hipertexto estruturado pode ter o formato hierárquico de
uma rede ou de las (no mesmo nível). Os maiores problemas ocorrem
nas fases de escolha e estruturação das informações relevantes e criação de
links pertinentes.
Figura 1- A linearidade do texto e não linearidade do hipertexto
Fonte: Fachinetto (2005, p. 13).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
162 |
Nessa conversão do texto linear para o texto não linear, faz-
se necessária a realização prévia de um projeto para organização deste
conteúdo textual, levando em consideração o contexto da obra analisada,
a natureza do texto, perspectivas do usuário e o trabalho com a relação
das ideais secundárias com a principal, para compreender a estrutura
como um todo. Nesse processo, deve-se levar em consideração os links
referenciais (ou organizacionais) e os links semânticos (ou de conteúdo).
Os links referenciais são criados para a organização da superestrutura
textual e o link semântico é utilizado para a criação da estrutura semântica
hipertextual, direcionando o usuário para o conteúdo do nó. Pode-se
utilizar o procedimento bottom-up, associando os links em estruturas, ou o
top-down, no qual pegam-se as ideias gerais e as decompõem em detalhes,
ou seja, em módulos.
Enquanto, no texto linear, o leitor indexador pode contar com
a coerência textual e a estrutura hierárquica da informação, no caso do
hipertexto, o autor tem que considerar que nem todos os parágrafos podem
ter a mesma importância em todo texto a ser convertido. Na estruturação
de um hipertexto, o autor deverá analisar os blocos de informação que
terão seus conteúdos representados por unidades de informação/conceitos,
que visam a uma representação com coerência e coesão em sua estrutura
semântica, que abarque um conteúdo especíco, e não dependendo da
leitura prévia de outros nós para seu entendimento. Salienta-se que é por
meio dos links que o autor constrói a coerência semântica do hipertexto,
produzindo o signicado dentro do contexto.
A questão da fragmentação é um dos maiores problemas que
ocorre na estruturação de um hipertexto, pois não se pode comparar o
parágrafo com um nó de informação. Segundo Heinonen (1998), a
fragmentação é um problema de escolha dos limites dos parágrafos que
melhor podem representar o conteúdo semântico fragmentado. Ela se dá
na fase de escolha e estruturação das informações relevantes e criação de
links pertinentes. Esses fragmentos, ou seções, são conectados e, quanto
mais links existir em um hiperdocumento, mais fragmentado ele será.
Uma possível solução para a questão da fragmentação está no
conceito de modularidade, que é a formação de blocos de informação e a
estruturação do documento em módulos, permitindo denir os blocos de
informação, os seus conteúdos, as ligações entre eles e a sua organização
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 163
coerente. O módulo é a unidade básica na construção do sistema.
Modularidade, que será denida aqui como a divisão de documentos
completos em pequenos módulos lógicos, é vista como importante conceito
para as ferramentas biblioteconômicas que representam os conceitos de
uma área, proporcionando a divisão mais especíca dos esquemas dos
documentos.
Cada módulo pode ser composto de um ou mais parágrafos que
representam seu conteúdo, mantendo-o independente de outros módulos,
sem a necessidade de relação entre eles, podendo ser representado por um
único conceito. Isso permite que o autor do hipertexto use o conceito para
representar o conteúdo do módulo, em vez de mostrar todas as sentenças
e períodos que o compõem. Em cada módulo de informação, três aspectos
são considerados essenciais: clareza, foco e completude. Esta interatividade
se realiza por meio dos links determinados pelo autor do hipertexto, em
níveis de modularidade que caracterizam essa navegação.
Dentre os procedimentos realizados na primeira etapa da
indexação, análise de assunto, a leitura documentária tem como propósito
principal a compreensão do texto para sua representação. Para ns de
estruturação de um hiperdocumento, este procedimento não é exceção.
Porém, o autor do hipertexto tem que ter em mente que o texto será
reetido em uma tela, e os recursos de interatividade e multimodalidade
devem ser levados em consideração.
De modo geral, o indexador realiza uma leitura rápida em
diagonal no texto, analisando título, concentrando-se no início e no m
de capítulos, seções, resumos, índices dos livros e artigos. Analisam-se as
partes mais importantes para extrair os conteúdos importantes do texto
para, então, traduzir a informação que considera relevante para uma
linguagem documentária. A leitura documentária tradicional com objetivo
de compreender o conteúdo do documento e representá-lo não segmenta
o texto em módulos para representá-los, mas sim, entende o texto como
um todo com o intuito de fazer a organização estrutural do hipertexto,
em blocos de informação, chamados nós, que serão inteligados pelos links
(frase indexatória) escolhidos posteriormente, com vistas à necessidade do
usuário para recuperação do documento.
Assim, pode-se realizar o procedimento da leitura documentária
para a representação do conteúdo do hipertexto seguindo as mesmas
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
164 |
orientações para sua realização no texto linear, mas deve-se adequá-la de
acordo com as características que serão exigidas para representar um texto
não linear. Deve-se levar em consideração a macroestrutura e a superestrutura
textual, tendo em mente o sentido global do texto e sua estrutura. Aliado a
isso, ressalta-se a mesma necessidade do conhecimento prévio do autor do
hipertexto, as questões cognitivas, o contexto e o usuário.
O autor do hipertexto pode seguir os mesmos estágios previstos
na análise de assunto realizada no texto linear. Começando pela leitura
documentária, que perpassa todos os estágios, o autor (1) compreenderá o
conteúdo do documento como um todo, analisando as partes entendidas
como mais importantes, conforme descritas anteriormente, para que possa
nortear-se durante a leitura, e entender as intenções do autor. No caso da
compreensão do texto para conversão em hipertexto, o autor não precisa ir
nas partes tão detalhadas, como sugerida pelo UNISIST (1981), podendo
dividir o texto em quatro partes: o título, o resumo, o conteúdo principal do
texto e as referências. Diferentemente da análise de assunto do texto linear,
interessa mais para o autor a macroestrutura do texto, para determinar
quais serão os blocos de informação que comporão a estrutura semântica,
demarcando os limites textuais e transformando-os em pequenos módulos
lógicos e coerentes, que comporão a organização estrutural deste hipertexto,
completando, assim, o primeiro estágio da análise de assunto.
Na sequência, o autor do hipertexto passa para o segundo estágio,
no qual irá (2) identicar os conceitos/links que representarão os conteúdos
dos módulos selecionados de uma maneira lógica; porém, neste estágio, o
autor deve ter em mente que ele não estará selecionando conceitos que
irão representar o documento no todo. Como descrito anteriormente,
cada módulo selecionado é transformado em um conteúdo independente;
portanto deve-se pensar no conteúdo do módulo, porém sem perder a
ideia do documento no todo; fazendo a mediação entre as ideias do autor
com as necessidades dos usuários, inseridos dentro de um determinado
contexto. Esses módulos irão formar a estrutura semântica do documento,
na qual o usuário poderá selecionar, fazer associações, que podem ser
sequenciais ou não, sendo distribuídos em níveis hierárquicos. Sobrepor
diferentes camadas ou vários documentos suplementares sobre um único
assunto pode simular um hipertexto estraticado, como se fossem vários
textos em um só documento.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 165
No terceiro estágio, o autor irá (3) selecionar os conceitos válidos
para representação do conteúdo de cada módulo, transformando-os em
links, que irão constituir a rede de conexões do hipertexto. Nesse estágio,
o autor deve considerar, também, os aspectos conceituais envolvidos na
determinação dos links, que constituem uma unidade de informação,
que levará o usuário ao acesso do conteúdo do nó. Este procedimento de
seleção dos conceitos relaciona-se com a escolha dos conceitos julgados
relevantes para o acesso ao módulo de informação, tendo em vista os
objetivos a serem alcançados. Ressalta-se aqui que, no caso dessa atividade
no hipertexto, escolhe-se somente um conceito que representará o módulo
de informação, seja por meio de um termo ou uma frase de indexação.
O Quadro 1 apresenta os aspectos das atividades da leitura
documentária na conversão do texto em hipertexto, tendo por base os
estágios dessa leitura sugeridos pelo Unisist (1981). Ao nal desse processo
intelectual, passa-se para a implementação da estrutura do hipertexto,
combinando os módulos de informação, levando em consideração o
processamento cognitivo e lógico do usuário.
Quadro 1 - Atividades da leitura documentária realizadas durante o
processo de conversão de texto em hipertexto
AtIvIdAdes dA leIturA
documentárIA- unIsIst (1981).
AtIvIdAdes dA leIturA documentárIA
reAlIzAdAs durAnte o processo de
conversão do texto em hIpertexto.
Compreensão do conteúdo do
documento como um todo.
Compreensão da macroestrutura do texto
para determinar quais serão os blocos de
informação que comporão a estrutura
semântica, demarcando os limites textuais
e tornando-os pequenos módulos lógicos
e coerentes, que comporão a organização
estrutural deste hipertexto.
Identicação dos conceitos que
representam esse conteúdo.
Identicação dos conceitos/links que
representarão os conteúdos de cada
módulo selecionados, sem perder a ideia do
documento no todo.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
166 |
Seleção dos conceitos válidos para
recuperação.
Determinação dos links que representarão os
conteúdos dos módulos na estruturação do
hipertexto.
Fonte: Elaborado pela autora.
5 consIderAções fInAIs
A mudança ocorrida no mundo ocidental desde os meados do
século XII até a chegada da informática transformou e evoluiu as formas
de expressões do conhecimento. A alteração do texto impresso para o texto
eletrônico criou uma grande transformação na maneira como armazenamos
e acessamos a informação. Surgem os textos eletrônicos, que podem ter as
mesmas características dos textos lineares; e podem também ser textos não
lineares, representando uma nova forma de escrita, chamados de hipertexto.
A forma não linear do hipertexto traz uma fragmentação textual
como um problema, requerendo, assim, uma estrutura de relacionamentos
conguradores de uma rede semântica que assegure a organização e
recuperação deste conhecimento de acordo com o raciocínio humano. A
modularidade apresenta-se como uma solução para a fragmentação, em que
se subdividem os textos em unidades menores com conteúdos completos e
mais focalizados, facilitando a organização do próprio autor do hipertexto
e daqueles encarregados de sua manutenção. Além disso, o fato de serem
esquemáticos os torna mais cognitivos, facilitando sua absorção e retenção
na memória.
Na construção de um hipertexto, mantém-se a noção de autoria,
porém alteram-se as relações entre o livro, o autor e o leitor. Assim, as
fronteiras entre ler e escrever se tornam mais tênues. Apesar de o leitor ter a
possibilidade de escolher uma trilha para navegar, de uma certa forma, ele
continua lendo o texto linearmente, porque a estrutura foi proposta pelo
autor, ou seja, as escolhas das trilhas a serem disponíveis são controladas
pelo autor do hipertexto. Assim, o autor, o texto e o leitor têm uma
interação a partir da característica intertextual do hipertexto.
O conhecimento do autor sobre o conteúdo, o usuário e o
contexto é de suma importância, pois ele poderá pressupor quais as trilhas
o usuário possa seguir, fazendo com que ele se sinta como se estivesse lendo
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 167
um texto tradicional. Por isso, é importante o autor manter a coerência
textual, evidente no texto linear, propondo uma representação por meio
de nós e links que considera relevante para a representação do conteúdo
do texto.
Os processos de indexação podem subsidiar a conversão do texto
em hipertexto para disponibilizá-lo na Web, porém exigem adaptação.
Nesse contexto, o processo de indexação, especicamente a primeira etapa,
a análise de assunto, pode ser apontado como uma solução para auxiliar nessa
estruturação. A leitura documentária, realizada pelo autor do hipertexto
durante estes três estágios, possui um papel interativo e mediador entre
as ideias do autor, o usuário e o contexto. Ela irá auxiliar na compreensão
do texto, na identicação dos módulos a serem representados e na seleção
dos conceitos/links, contruindo uma estrutura semântica hipertextual com
coerência e coesão.
O uso de método estruturado em conceitos, em vez de termos/
palavras que são extraídos dos documentos, para representação dos links
que farão a ligação entre os nós na estrutura hipertextual, possibilita
criar uma rede semântica que considera o conteúdo do documento, o
contexto e o usuário do hipertexto, evitando problemas semânticos, tais
como a polissemia e a sinonímia. A construção de uma rede semântica
coerente e o uso de vocabulário controlado podem tornar mais eciente
a recuperação na Web, assegurando que a informação relevante não se
perca. Nesse contexto, na primeira etapa da indexação, os procedimentos
da análise de assunto realizados no momento da leitura documentária
se mostram de suma importância, a ser considerada na estruturação de
hipertextos. Os links, como os conceitos, são unidades de informação,
que devem representar o conteúdo do nó, dando sentido na trilha
escolhida pelo usuário, formando uma rede de conteúdo que garante a
compreensão global do texto. O ideal seria que a organização semântica
do texto, que pode ser denominada de estrutura conceitual, reetisse as
relações semânticas entre os assuntos que o compõem.
O autor do hipertexto, que, muitas vezes, cria estas estruturas
intuitivamente, poderá, a partir dessas reexões, utilizar as abordagens
linguística, cognitiva e lógica, inerentes à leitura documentária para
auxiliá-lo na conversão de textos em hipertextos. Espera-se que este estudo
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
168 |
sirva como ponto de partida para futuras reexões da perspectiva da
Biblioteconomia e Ciência da Informação.
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| 173
7
A leIturA documentárIA e A IndexAção de
documentos dA áreA de sAúde
Maria Cristiane Barbosa GALVÃO
resumo: Tem-se por objetivo apresentar os processos de leitura documentária e indexação
na área da saúde seguindo uma abordagem conectada com os demais processos de trabalho
do campo da saúde. Para tanto, inicialmente, apresenta-se o conceito de saúde, as diversas
áreas que a compõem e as instituições que atuam no setor saúde. Em seguida, apresenta-se
o modus operandi do sistema de saúde brasileiro e os padrões terminológicos empregados
no país para a indexação da informação produzida no contexto da assistência em saúde.
Posteriormente, o capítulo apresenta exemplos de conteúdos informacionais produzidos
por instituições de saúde do Brasil e o modo de indexação desses conteúdos realizados
por tais instituições. Finalmente, na conclusão, discutem-se alguns delineamentos da
leitura documentária e indexação no campo da saúde que possam ser integrados aos
conhecimentos mais tradicionais sobre a temática. Conclui-se que o setor da saúde é um
contexto que pode trazer muitas oportunidades para os prossionais da informação que
possuem conhecimento sobre os processos de organização da informação, bem como
sobre saúde, o sistema de saúde, sobre o complexo industrial da saúde e seus padrões.
pAlAvrAs-chAve: Saúde. Informação clínica. Leitura documentária. Indexação.
AbstrAct: e objective is to present the processes of documentary analysis and indexing
in the health area following an approach connected with the work processes of the health
eld. us, the chapter starts from more general concepts to more specic concepts.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
174 |
Initially, it presents the concept of health, the several areas that compose it and the
institutions that work in the health sector. Next, the modus operandi of the Brazilian health
system and its terminological standards are presented. Subsequently, the chapter presents
examples of information contents produced by health institutions in Brazil, as well as the
process of indexing these contents. Finally, some aspects of documentary analysis and
indexing in the eld of health that can be integrated with the more traditional knowledge
about the subject are discussed. It is concluded that the health sector is a context that
can bring many opportunities for information professionals who have knowledge about
the processes of information organization, as well as about health, the health system,
industrial complex of health and health standards.
Keywords: Health. Clinical information. Documentary analysis. Indexing.
1 Introdução
Muitas vezes, para ns acadêmicos e didáticos, os processos
de leitura documentária e indexação são apresentados aos discentes de
graduação e pós-graduação de forma pasteurizada, ou seja, atenuando-se as
potenciais diculdades de sua realização nos diferentes campos de atuação
prossional. A idealização na apresentação desses processos pode estar
associada a múltiplos fatores como: exiguidade de tempo nos currículos
para cobrir uma enorme gama de conteúdos; a ausência de pesquisas
mais aprofundadas sobre o funcionamento dos processos de leitura
documentária e indexação nos diferentes contextos; um pressuposto da
área da ciência da informação de que o mesmo modelo teórico pode ser
empregado em múltiplos contextos, apesar de suas especicidades; ou, um
real desconhecimento de como as diferentes áreas técnicas ou cientícas
funcionam. Independente dos fatores envolvidos na construção dessa
abordagem mais idealizada, observa-se que os graduados na área da ciência
da informação possuem alguma diculdade em transpor os modelos
teóricos apreendidos academicamente para os diversos e heterogêneos
campos de atuação prossional, incluindo-se aqui a área da saúde.
Considerando-se situações como a descrita acima, este capítulo
tem por objetivo apresentar os processos de leitura documentária e
indexação na área da saúde seguindo uma abordagem, na medida do
possível, mais conectada com os demais processos de trabalho do campo da
saúde. Para tanto, o capítulo parte de conceitos mais gerais para conceitos
mais especícos. Assim, na primeira parte, apresenta o conceito de saúde,
as diversas áreas que a compõem e as instituições que atuam no setor saúde.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 175
Em seguida, apresenta-se o modus operandi do sistema de saúde brasileiro
e os padrões terminológicos empregados no país para a indexação da
informação produzida no contexto da assistência em saúde. Posteriormente,
o capítulo apresenta exemplos de conteúdos informacionais produzidos
por instituições de saúde do Brasil e o modo de indexação desses conteúdos
realizados por tais instituições. Finalmente, na conclusão, discutem-se
alguns delineamentos da leitura documentária e indexação no campo da
saúde que possam ser integrados aos conhecimentos mais tradicionais
sobre a temática.
2 o conceIto de sAúde e AlgumAs de suAs ImplIcAções
Segundo a constituição da Organização Mundial da Saúde
(OMS), publicada em 1948, saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou
de enfermidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1948). Dada
essa delimitação conceitual, pode-se derivar que diversas áreas estudam
saúde e fornecem assistência aos aspectos físicos, mentais e sociais dos
seres humanos, estando aqui incluídas a medicina, a enfermagem, a
psicologia, a nutrição, a biomedicina, a educação física, a sioterapia,
a terapia ocupacional, a odontologia, a farmácia, a assistência social, a
fonoaudiologia, entre outras.
Além disso, cada uma dessas áreas possui especialidades. Assim,
por exemplo, algumas especialidades da medicina são: angiologia,
imunologia, anestesiologia, cancerologia, cardiologia, cirurgia, clínica
geral, dermatologia, endocrinologia, gastroenterologia, genética,
geriatria, hematologia, infectologia, medicina do trabalho, medicina
do viajante, medicina esportiva, medicina legal, nefrologia, neurologia,
obstetrícia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, patologia,
pediatria, pneumologia, psiquiatria, radiologia, reumatologia, urologia
etc. Observando a enfermagem, algumas de suas especialidades seriam:
enfermagem em saúde da mulher, enfermagem em saúde do homem,
enfermagem em saúde do trabalhador, enfermagem em saúde indígena;
enfermagem em saúde mental, enfermagem aeroespacial, enfermagem
aquaviária; enfermagem em acesso vascular e terapia infusional;
assistência de enfermagem em anestesiologia; enfermagem em assistência
176 |
domiciliária; enfermagem em captação, doação e transplante de órgãos e
tecidos; enfermagem em cardiologia; enfermagem em central de material e
esterilização; enfermagem em centro cirúrgico; enfermagem em cuidados
paliativos; enfermagem dermatológica etc.
Nesse momento, o mais importante a ser destacado é que cada
uma das áreas da saúde e cada uma de suas especialidades, por sua vez,
possuem múltiplos propósitos comunicacionais que são desdobrados em
diferentes mensagens em linguagem verbal (oral ou escrita) e em mensagens
que podem empregar linguagem visuais e mesmo sinais sonoros. Disso
resulta que uma mensagem em oftalmologia difere enormemente de uma
mensagem em ortopedia, ou em patologia ou em cirurgia, pois os objetos
de estudo dessas especialidades diferem, bem como seus processos de
trabalho, seus instrumentos e formas pelas quais coletam e compartilham
dados e informações, conforme representado na gura 1.
Voltando ao conceito de saúde, a constituição da OMS também
esclarece que a saúde constitui um dos direitos fundamentais de todo
o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de
condição econômica ou social (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
1948). Neste ponto é importante esclarecer que o fato de o acesso à saúde
ser um direito de todos não signica que todas as pessoas serão tratadas
de igual modo dentro do sistema de saúde. Vários estudos indicam que,
por exemplo, a religião, o território onde a pessoa habita ou trabalha, sua
cultura etc podem interferir na condição de saúde. Assim, a assistência em
saúde oferecida para católicos pode ser diferente da assistência oferecida
para testemunhas de Jeová, pois nesta religião não se aceita a doação nem
a transfusão de sangue. Já os adventistas do sétimo dia, por exemplo,
não podem comer carne de porco e alguns espíritas se recusam a comer
carne vermelha. Logo, quando internados, precisarão receber uma dieta
diferenciada. Em decorrência da heterogeneidade humana, os dados e as
informações coletadas, por prossionais de saúde e por unidades de saúde,
podem abordar as mais diferentes searas a m de proverem uma assistência
mais adequada para cada indivíduo.
| 177
Figura 1 - Exemplos de recursos empregados para coleta de dados e
informações de pacientes, respectivamente, pela oftalmologia, ortopedia,
patologia e pela cirurgia.
Fonte: https://pixabay.com/pt/
Voltando ao conceito de saúde, a constituição da OMS também
esclarece que a saúde constitui um dos direitos fundamentais de todo
o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de
condição econômica ou social (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
1948). Neste ponto é importante esclarecer que o fato de o acesso à saúde
ser um direito de todos não signica que todas as pessoas serão tratadas
de igual modo dentro do sistema de saúde. Vários estudos indicam que,
por exemplo, a religião, o território onde a pessoa habita ou trabalha, sua
cultura etc podem interferir na condição de saúde. Assim, a assistência em
saúde oferecida para católicos pode ser diferente da assistência oferecida
para testemunhas de Jeová, pois nesta religião não se aceita a doação nem
a transfusão de sangue. Já os adventistas do sétimo dia, por exemplo,
não podem comer carne de porco e alguns espíritas se recusam a comer
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
178 |
carne vermelha. Logo, quando internados, precisarão receber uma dieta
diferenciada. Em decorrência da heterogeneidade humana, os dados e as
informações coletadas, por prossionais de saúde e por unidades de saúde,
podem abordar as mais diferentes searas a m de proverem uma assistência
mais adequada para cada indivíduo.
A constituição da OMS também esclarece outro ponto
importante para compreensão da área da saúde ao armar que os países
têm responsabilidade pela saúde dos seus povos, a qual só pode ser
assumida pelo estabelecimento de medidas sanitárias e sociais adequadas
(WORLDHEALTH ORGANIZATION, 1948). Em outras palavras,
a forma de organização da área de saúde pode variar de país para país,
conforme as especicidades sociais, econômicas, religiosas e políticas.
Disso decorre que alguns países, por exemplo, podem ter uma assistência
em saúde onde o médico tem um papel mais importante que os demais
prossionais (abordagem médico-centrada) ou ter uma assistência onde a
equipe multiprossional de saúde é formada por prossionais com papéis
complementares. Além disso, alguns países podem focar mais a prevenção de
doenças, como é o caso de Cuba, em contraposição a países com foco maior
na atenção de doenças com maior complexidade, como é o caso dos Estados
Unidos. De mesmo modo, os países podem apresentar uma organização da
área da saúde com maior enfoque no financiamento público ou com mais
enfoque no nanciamento individual e privado. Assim, a organização da área
da saúde assume diferenças signicativas nos diferentes países, gerando, por
sua vez ciclos informacionais diferenciados, com impactos signicativos para
a produção dos documentos, bem como para os processos de leitura, síntese
e indexação documentária.
Pelo exposto, dadas as diferentes especicidades nacionais, imagina-
se que não se pode pretender criar uma visão generalista e universal sobre a
leitura documentária e a indexação de documentos da área de saúde”. Mas que,
talvez, seja possível elaborar abordagens com foco nas especicidades de cada
país. Este capítulo, por exemplo, focará no contexto brasileiro.
Outra delimitação conceitual importante é que, do ponto de
vista econômico, a área da saúde é também conhecida como um complexo
industrial, onde atuam diferentes instituições, quais sejam:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 179
Prestadores de serviços, incluindo instituições que desenvolvem
atividades de atenção primária, secundária e terciária, instituições
que realizam serviços diagnósticos e serviços terapêuticos. Esses
prestadores organizam a cadeia de suprimento dos produtos
industriais em saúde, articulando o consumo por parte dos cidadãos
no espaço público e privado;
Indústrias de base química e biotecnológica, abrangendo as
indústrias farmacêuticas, de vacinas, hemoderivados e reagentes
para diagnóstico;
Indústrias de base mecânica, eletrônica e de materiais, englobando as
indústrias de equipamentos e instrumentos mecânicos e eletrônicos,
órteses, próteses e materiais para uso no campo da saúde;
Instituições de pesquisa e desenvolvimento, englobando instituições
públicas e privadas, institutos de pesquisa, universidades, as
demais indústrias, as instituições que atuam nas transferências de
tecnologia e propriedade intelectual;
Instituições de governança e regulação, englobando os ministérios,
as agências de saúde, as secretarias de saúde e demais instituições
que zelam pelo bem-estar da saúde da população em geral
(GADELHA, 2003; MOREL, 2005).
A partir do conceito do complexo industrial da saúde ca mais
fácil compreender que se pode encontrar, por exemplo, um médico pediatra
(prossional com formação na área da medicina) que atua diretamente com
o paciente, ou que atua na indústria farmacêutica no desenvolvimento ou
avaliação de medicamentos para crianças e adolescentes, ou que atua como
secretário de saúde em algum munícipio, ou que atua como pesquisador
em uma universidade pública. Dessa forma, além das diferentes áreas e
prossionais que integram a saúde, essas áreas e prossionais produzirão
informações diferenciadas de acordo com os contextos nos quais estão
inseridos. Assim, por exemplo, o pediatra no contexto da assistência ao
paciente, poderá estar focado na descrição de um novo caso clínico em
pediatria. Na indústria farmacêutica, poderá ser responsável pela revisão
do bulário dos medicamentos para crianças e adolescentes. No município,
poderá ser o responsável por produzir alguma norma técnica em saúde
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
180 |
para higienização das mãos em creches e escolas infantis. Na universidade,
será demandado a escrever um artigo cientíco.
Quando se apresenta o complexo industrial da saúde, pode-se
também perceber que na área da saúde há múltiplos espaços para a atuação
do prossional da informação e para o desenvolvimento dos processos de
leitura documentária e indexação. No entanto, neste capítulo, focar-se-á
na leitura documentária e na indexação de documentos nos contextos
onde ocorrem a assistência direta em saúde, ou seja, nos prestadores de
serviços como unidades de atenção básica, secundária e terciária, conforme
será detalhado a seguir.
3 o sIstemA de sAúde no brAsIl, suA estruturAção e seus pAdrões
A concepção do sistema de saúde brasileiro, cujo nome ocial
é Sistema Único de Saúde (SUS), sua estrutura, forma de atuação e seus
princípios foram estabelecidos pela Constituição Brasileira de 1988.
Diferentemente de muitos países, o SUS prioriza três níveis de assistência.
São elas: a atenção básica ou primária, a atenção secundária e a atenção
terciária (BRASIL, 1988).
A atenção básica é um conjunto de ações, de caráter individual
e coletivo, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de doenças,
o tratamento e a reabilitação. Uma das ações bem conhecidas da atenção
básica brasileira é a vacinação da população. No Brasil, a atenção básica é
de responsabilidade dos municípios e as unidades básicas de saúde (UBS)
possuem equipes multiprossionais que atuam em um território geográco
denido, prestam ações de saúde individuais e coletivas, trabalham
com prevenção, diagnóstico e tratamento, realizam visitas domiciliares
periódicas e ações com a participação popular e ações intersetoriais. Por
exemplo, se os prossionais da UBS percebem que em um bairro há
muitos adolescentes e jovens usando drogas, a UBS pode atuar frente ao
município solicitando ações conjuntas com escolas primárias e secundárias
a m de que mais informações sobre os riscos associados ao uso de drogas
ilícitas cheguem a esse público.
A atenção secundária é formada pelos serviços especializados
empregando tecnologias intermediárias entre a atenção primária e a terciária.
No Brasil, a atenção secundária é de responsabilidade, sobretudo, dos estados
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 181
da federação. As unidades de atenção secundária abarcam procedimentos
especializados e realizam cirurgias ambulatoriais especializadas,
procedimentos traumato-ortopédicos, ações especializadas em odontologia,
patologia clínica, citopatologia, radiodiagnóstico, ultrassonograas,
sioterapia, terapias especializadas, próteses, órteses etc. Um exemplo de
unidade de saúde que oferece atenção secundária no Brasil são as unidades
de pronto atendimento (UPA) que estão abertas todos os dias, inclusive nos
feriados e nais de semana, quando as UBS estão fechadas.
As unidades de atenção terciária, como os hospitais, trabalham
com procedimentos de média e de alta complexidade, bem como com
procedimentos de alto custo, como assistência aos pacientes oncológicos,
cirurgias cardiovasculares, neurocirurgias, assistência aos portadores de
queimaduras, transplantes, partos de alto risco, cirurgias reprodutivas,
cirurgias reparadoras, cirurgias bariátricas, além de procedimentos
ambulatoriais de alta complexidade como a quimioterapia. No Brasil, uma
das fontes para manutenção da atenção terciária é o governo federal.
O SUS, para funcionar em sua plenitude, possui uxos
informacionais bem denidos e, na medida do possível, informações
indexadas segundo terminologias regulamentadas. Em 2011, o Brasil
estabeleceu que, no âmbito do SUS, incluindo os níveis municipal,
distrital, estadual e federal, passariam a ser empregadas terminologias
como: a Nomenclatura Sistematizada de Medicina – Termos Clínicos
(SNOMED-CT), a Classicação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde (CID), a Classicação Internacional
de Atenção Primária (CIAP), e a Tabela de Procedimentos, Medicamentos,
Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS (BRASIL, 2011). Além
dessas terminologias, as diferentes áreas da saúde também empregam
padrões para a indexação para os dados e informações que produzem,
como a Classicação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF), empregada no âmbito da sioterapia, fonoaudiologia, terapia
ocupacional e reabilitação, e a Classicação Internacional da Prática de
Enfermagem (CIPE), empregada no contexto da enfermagem.
A SNOMED-CT é mantida pela International Health
Terminology Standards Development Organisation (IHTSDO) e tem por
objetivo ser a mais extensa e abrangente terminologia clínica multilíngue
do mundo; contribuir para a melhoria da assistência ao paciente; facilitar
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
182 |
a recuperação da informação registrada no prontuário eletrônico; viabilizar
o acesso efetivo à informação necessária à tomada de decisão; e facilitar a
comunicação no contexto da saúde. O conteúdo coberto pela SNOMED
CT abarca: achado clínico; procedimento; entidade observável; estrutura
corporal; organismo; substância; produto farmacêutico/biológico;
espécime; conceito especial; objeto físico; força física; evento; ambientes e
localizações geográcas; contexto social; situação com contexto explícito;
estágio e escala; relação conceitual; qualicador de valor; artefato de registro
(INTERNATIONAL ..., 2019).
A CID é mantida pela OMS e empregada por mais de 100 países,
sendo a terminologia de base para a identicação global de tendências e
estatísticas de saúde e o padrão internacional para relatar doenças, condições
de saúde, distúrbios, lesões e outras condições relacionadas à saúde. A CID
permite: o fácil armazenamento, recuperação e análise de informações de
saúde para tomada de decisões; o compartilhamento e a comparação de
informações de saúde entre unidades de saúde, regiões e países; e permite
comparações de dados e informações no mesmo local em diferentes
períodos de tempo. Seus usos incluem: o monitoramento da incidência e
prevalência de doenças, observação de reembolsos e tendências de alocação
de recursos, e acompanhamento das diretrizes de segurança e qualidade.
Permite também a contagem de mortes, doenças, lesões, sintomas, razões
para o uso das unidades de saúde, fatores que inuenciam o estado de
saúde e causas externas da doença (WHO, 2019).
A CIAP integra a família de classicações adotadas pela OMS
e tem por objetivo sistematizar a demanda dos pacientes pela atenção
primária, pois nem sempre o paciente que procura esse nível de atenção
tem ainda um diagnóstico ou receberá um diagnóstico, nos moldes
estabelecidos pela CID. Assim, a CIAP está preocupada, principalmente,
com compreensão do contexto social do paciente e em como as unidades
básicas de saúde podem melhor atendê-lo (COMITÊ INTERNACIONAL
DE CLASSIFICAÇÃO DA WONCA, 2009).
A Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e
Materiais Especiais do SUS é mantida pelo Ministério da Saúde do Brasil
e congrega todos os procedimentos autorizados e oferecidos pelo SUS em
território nacional, bem como os respectivos valores monetários a eles
associados. Por meio do uso dessa Tabela terminológica, é possível que
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 183
uma unidade de saúde dimensione quais são os procedimentos que mais
realiza, bem como, os custos envolvidos na assistência que oferece. Essa
Tabela também é empregada em múltiplas situações de caráter econômico
que ocorrem internamente no SUS (BRASIL, 2019).
A CIF integra a família de classicações da OMS, sendo uma
classicação com múltiplas nalidades que fornece uma base cientíca
para a compreensão e o estudo dos determinantes sociais da saúde. A CIF
contempla códigos relacionados às funcionalidades biológicas, intelectuais,
emocionais e sociais do ser humano (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE, 2004).
A CIPE é uma das classicações empregadas no âmbito da
enfermagem e também integra a família de classicações da OMS. Por
meio de seu uso, é possível realizar de forma sistemática a análise dos
cuidados de enfermagem, recursos de enfermagem e resultados obtidos
na assistência de enfermagem (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2016).
Tendo apresentado como o sistema de saúde é estruturado
no Brasil, bem como os padrões terminológicos regulamentados pelo
Ministério da Saúde, pode-se imaginar erroneamente que todos os
documentos produzidos na assistência em saúde do Brasil são bem
analisados e indexados. Para dissolver essa ilusão, é importante ressaltar
que os prossionais de saúde do Brasil nem sempre recebem uma educação
formal sobre o uso dos padrões terminológicos. Também, nas unidades de
saúde, diferentes prossionais, não necessariamente treinados, recebem a
tarefa de executar a indexação das informações produzidas. Logo, existe
uma grande defasagem entre aquilo que o Ministério da Saúde gostaria
que as unidades de saúde zessem em termos informacionais e aquilo que,
realmente, as unidades de saúde realizam ou são capazes de realizar no que
se refere à padronização dos dados e das informações. Dito de outra forma,
para que padrões terminológicos sejam empregados, a motivação precisa
ser maior que a existência de uma portaria ministerial.
Adicionalmente, alguns padrões terminológicos recomendados
pelo Ministério da Saúde do Brasil se sobrepõem semanticamente. Por
exemplo, a terminologia SNOMED-CT se propõe a ser a terminologia
mais abrangente, ou seja, com o maior número de termos padronizados,
do setor saúde em todas as suas dimensões (física, mental e social). Logo,
outras terminologias não seriam necessárias, se a SNOMED-CT fosse
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
184 |
efetivamente empregada no território nacional. No entanto, a grande
maioria dos prossionais de saúde do Brasil desconhecem essa terminologia,
pois é ainda muito recente na área. Em uma visão panorâmica, são as
empresas de software para o setor da saúde que mais têm empregado a
SNOMED-CT no processo de estruturação semântica dos sistemas que
desenvolvem a m de criar sistemas mais interoperáveis.
De forma geral, a terminologia mais empregada no Brasil,
na atenção primária, secundária e terciária, ainda é a CID, pois vários
sistemas epidemiológicos de caráter nacional e internacional demandam
seu uso para contabilização estatística de doenças e demais condições de
saúde. Contudo, isto não signica dizer que o emprego da CID é sempre
apropriado, uma vez que há prossionais de saúde que não assimilaram a
importância de seu uso para a padronização dos dados e informações em
saúde, em grande parte porque não tiveram uma educação formal que
priorizasse a dimensão informacional da assistência em saúde, como já
explicado anteriormente.
Uma segunda terminologia bastante empregada no Brasil,
sobretudo pela atenção terciária, é a Tabela de Procedimentos,
Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS, pois alguns
repasses de verba do governo federal e estadual para unidades de saúde
implicam em seu uso. Logo, além da padronização em si, seu uso possui
uma motivação nanceira.
Embora algumas das constatações apresentadas possam ser
frustrantes para os brasileiros, elas evidenciam que os prossionais da
informação, conhecedores dos processos de leitura documentária e
indexação, possuem um vasto campo para atuação em organização da
informação na área da saúde, seja nas unidades de assistência em saúde,
seja em disciplinas de graduação e pós-graduação do campo da saúde, seja
na gestão municipal, estadual e federal onde são tomadas as decisões sobre
o uso de padrões terminológicos em saúde.
4 A leIturA documentárIA e A IndexAção nA AssIstêncIA em sAúde
Para ilustrar o processo de leitura documentária e indexação na
assistência em saúde serão apresentados a seguir dois casos clínicos, um
do contexto da atenção primária e um do contexto da atenção secundária.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 185
Geralmente, a atenção primária analisa todo o contexto de vida
do paciente, sua interação com as demais pessoas e o ambiente em que
vive. Para exemplicar a leitura documentária e a indexação nesse nível
de assistência à saúde, focar-se-á no caso clínico de Dona Margarida, um
personagem ctício. Este caso foi originalmente desenvolvido para alunos
de um curso de especialização em atenção primária (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO PAULO, [20--]).
Caso clínico 1: Registro de visita domiciliar realizada pela médica
Joana à Dona Margarida Silva de 75 anos. Dona Margarida é viúva de Seu
Quinzinho. Ele morreu de derrame aos 85 anos. Ela continua apaixonada
pelo marido. Como diz sua lha Jandira, “a mamãe vive no passado”.
Dona Margarida teve três lhos com o nado Quinzinho e mora agora na
companhia de sua lha mais nova, Jandira, de 54 anos. Dona Margarida
apresenta quadro de disúria, algúria e dor suprapúbica com sete dias de
evolução, sem febre. Apresenta: baixa acuidade visual, má higiene bucal,
lesões nos lábios e comissura labial, incontinência urinária há 5 anos, teste
Mini-mental alterado (20 pontos) e Escala de Lawton para atividades
instrumentais de 14/27. Além disso, a lha refere que “deve ter uns cinco
anos que a mamãe começou a caducar. No começo, ela esquecia coisas
assim, que tinha feito há pouco tempo, do tipo onde pôs as chaves, se deu
ou não comida para os cachorros. Com o tempo foi piorando, esquecendo
o nome dos netos e lhos, das coisas. Mas é impressionante: ela lembra de
coisas da sua infância e adolescência com uma nitidez (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO PAULO, [20--]).
Dado o caso clínico 1, no processo de leitura documentária, é
importante identicar as informações e dados que se referem, de fato,
ao paciente que está sendo atendido, pois, muitas vezes, o relato clínico
pode abordar pessoas com as quais o paciente se relaciona, mas que não
são o foco da assistência. Por exemplo, Seu Quinzinho, marido de Dona
Margarida, morreu de derrame, mas Dona Margarida continua viva e,
pelo relato, nunca teve derrame. Logo, o termo derrame não faz parte do
perl clínico de Dona Margarida. Assim, seria inadequado colocar uma
padronização via CID para o relato de derrame que aparece neste caso
clínico. Além disso, no processo de indexação, é importante ter a certeza
que o paciente tem o problema que será indexado, bem como se todos os
seus problemas foram identicados e indexados. Tanto a inclusão quanto a
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
186 |
exclusão de termos equivocados no processo de indexação poderão causar
erros durante as futuras assistências ao paciente.
No quadro 1, foram então apresentados os termos extraídos do
caso clínico 1 passíveis de indexação segundo alguns padrões terminológicos
empregados na saúde.
Quadro 1 - Indexação do caso clínico de Dona Margarida segundo
diferentes terminologias em saúde (continua)
termos
pArA
IndexAção
CIAP
(2010)
SNOMED-CT
(2019)
CID
(2018)
CIF
(2004)
tAbelA de
procedImentos
do sus
(2019)
Visita
domiciliar
50357006
Evaluation and
management of
patient at home
(procedure)
03.01.05.014-7
Visita domiciliar
realizada por
prossional de
nível superior.
Mulher 224526002
Woman (person)
75 anos 105438007
Elderly woman
(person)
102528008
Age more than 65
years (nding) |
Viuvez Z15
Perda ou
falecimento
do parceiro
3071008
Widow (nding)
d770.2
Relacionamentos
íntimos. Possui
problema
moderado.
Teve três
lhos e
mora com
sua lha
mais nova
72705000
Mother (person)
224135000
Lives with daughter
(nding)
d760.0
Relacionamentos
familiares.
Não apresenta
problemas.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 187
Disúria,
algúria e dor
suprapúbica
há 7 dias
U01
Disúria/
micção
dolorosa
U13
Sinais/
sintomas
da bexiga e
outros;
49650001
Dysuria (nding)
162053006
Suprapubic pain
(nding)
MF50.7
Dysuria
b6200.3
Micção. Possui
problema grave.
Lesões
bucais
D82
Doença dos
dentes e
gengivas;
D83
Doença
da boca/
língua/
lábios
1089981000119106
Lesion of oral
mucosa (disorder) |
s320.2
Estrutura da
boca. Possui
problema
moderado
Fonte: Elaborado pela autora.
Quadro 1 - Indexação do caso clínico de Dona Margarida segundo
diferentes terminologias em saúde (continuação)
termos pArA
IndexAção
CIAP
(2010)
SNOMED-CT
(2019)
CID
(2018)
CIF
(2004)
tAbelA de
procedImentos
do sus
(2019)
Teste Mini-
mental
alterado (20
pontos).
P20
Alterações da
memória;
P70
Demência;
A91
Investigação
com
resultado
anormal;
273617000
Mini-mental
state examination
(assessment scale)
52448006
Dementia (disorder)
6D8Z
Dementia,
unknown or
unspecied
cause
b117.2
Funções
intelectuais.
Possui
problema
moderado.
Inclui:
Demência
Baixa
acuidade
visual
F28
Limitação
funcional/
incapacidade
13164000
Reduced visual
acuity (nding)
9D40
Impairment
of visual
acuity
b210.3
Funções da
visão. Possui
problema
grave.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
188 |
Incontinência
urinária aos
esforços
U04
Incontinência
urinária
165232002
Urinary
incontinence
(nding)
MF50.2
Urinary
incontinence
b6202.2
Continência
urinária.
Possui
problema
moderado.
Escala de
Lawton para
atividades
instrumentais
de 14/27
A91
Investigação
com
resultado
anormal
A28
Limitação
funcional/
incapacidade
273534002
Instrumental
activities of daily
living (assessment
scale)
404981008
Ability to perform
instrumental
activities of daily
living (observable
entity)
Má higiene
bucal
P29
Sinais e
sintomas
psicológicos.
Inclui falta de
higiene
110299009
Poor oral hygiene
(nding)
d5201.2
Cuidar dos
dentes.
Possui
problema
moderado.
Fonte: Elaborado pela autora.
Como se pode observar no quadro 1, cada instrumento
terminológico prioriza uma dimensão do caso clínico, sendo a SNOMED-
CT a terminologia que permite uma melhor representação do caso clínico.
Um esclarecimento importante é que no caso clínico da atenção primária,
incluiu-se como instrumento de indexação a Tabela de Procedimentos,
Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS. No
entanto, esta não tem sido empregada na atenção primária pois o repasse
de verbas do governo federal para esse nível de atenção têm ocorrido de
acordo com o número de habitantes do município. Logo, seu uso não traz
implicações econômicas para as unidades de saúde de atenção primária.
Geralmente, quando o paciente possuí uma condição de maior
complexidade ele é encaminhado para ser assistido por unidades de
atenção secundária. Para ilustrar essa situação, será apresentado um caso
clínico 2 no qual o paciente demanda atendimento de sioterapia. O caso
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 189
em questão foi apresentado por Medeiros e Bertoldo (2011) e foi aqui
adaptado para ilustrar o processo de leitura documentária e indexação.
Caso clínico 2: Paciente Márcio Silva, sexo masculino, branco,
nascido no dia 11 de fevereiro de 2008, 11 anos. Avó relata que não
houve problemas durante a gestação, porém a mãe da criança não fez
acompanhamento pré-natal, histórico de prematuridade, nasceu de 24
semanas, após o nascimento permaneceu 3 meses na incubadora, fez uso
de ventilação mecânica, foi diagnosticado como quadriplegia. Começou
fazer acompanhamento sioterapêutico aos 6 meses. Apresentou atraso
no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), conquistou controle
cervical aos 6 meses, sentou com 1 ano e 2 meses, engatinhou com 1
ano e 8 meses e adquiriu a marcha com 2 anos e 4 meses. Atualmente,
seu diagnóstico é sequela de paralisia cerebral do tipo diplegia. Faz
uso de órteses em ambos os pés. As últimas sessões de sioterapia
foram realizadas duas vezes por semana, totalizando 10 sessões com
duração de 40 minutos cada uma. O paciente continua em tratamento
sioterapêutico (MEDEIROS; BERTOLDO, 2011).
Conforme pode ser observado no quadro 2, para realizar a
indexação do caso clínico da atenção secundária, excluiu-se a CIAP,
pois esse padrão terminológico se aplica apenas à atenção primária.
Em relação às especicidades do caso, não se considerou as condições
de saúde da mãe do paciente, como é o caso da gestação e ausência de
acompanhamento pré-natal.
Quadro 2 - Indexação do caso clínico de Márcio Silva segundo diferentes
terminologias em saúde.
termos pArA
IndexAção
SNOMED-CT
(2019)
CID
(2018)
CIF
(2004)
tAbelA de
procedImentos
do sus
(2019)
Homem 339947000
Man (person)
11 anos 67822003
Child (person)
Prematuridade 138091000119101
History of prematurity
(situation)
KA21.4
Preterm
newborn
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
190 |
Quadriplegia 11538006
Quadriplegia (disorder)
8D20.10
Spastic
quadriplegic
cerebral palsy
Atraso no
desenvolvimento
neuropsicomotor
65401001
Psychomotor
development, function
(observable entity)
248290002 |
Developmental delay
(disorder
MB23.N
Psychomotor
retardation
Controle cervical
Engatinhou 282606002
Ability to crawl
(observable entity)
d4550.0
Gatinhar.
Não possui
problema
Diplegia 6481005
Diplegia (disorder)
MB52
Diplegia
of lower
extremities
Órteses em ambos
os pés
266732009
Orthosis for lower limb
(physical object)
d465.2
Deslocar-se
utilizando
algum tipo de
equipamento.
Possui
problema
moderado
Sessões de
sioterapia
91251008 | Physical
therapy procedure
(regime/therapy)
03.02.06.003-0
Atendimento
sioterapêutico
nas desordens do
desenvolvimento
neuromotor.
Fonte: Elaborado pela autora.
5 conclusão
Este capítulo partiu de uma compreensão de que a análise
documentária e a indexação são processos que sofrem a inuência dos
contextos no quais estão inseridos. Em relação à área da saúde, destacou que o
conceito de saúde abrange a dimensão física, mental e social dos indivíduos,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 191
sendo várias as áreas e especialidades que estudam aspectos do objeto
saúde. Tais áreas, por sua vez, possuem especicidades comunicacionais. O
capítulo destacou que, partindo do conceito de saúde, os diferentes países
possuem autonomia para criar sistemas de saúde nacionais que reitam os
interesses religiosos, culturais, econômicos e políticos de suas populações.
Dito de outro modo, os países também podem adotar diferentes uxos
informacionais no setor da saúde, incluindo a adoção de diferentes padrões
terminológicos. No que se refere ao contexto brasileiro, o Ministério da
Saúde, em portaria ministerial, deniu alguns padrões a serem empregados
nos sistemas de informação em saúde. No entanto, grande parte desses
padrões são pouco conhecidos dos prossionais de saúde brasileiros, o
que diculta seu uso. O capítulo elencou ainda algumas instituições que
integram o complexo industrial da saúde, mas que não foram abordadas em
profundidade como as instituições de pesquisa, a indústria farmacêutica e
as agências regulatórias.
De forma geral, os elementos elencados, ao longo do capítulo,
permitem esboçar algumas variáveis que interferem no processo de leitura
documentária e indexação no setor da saúde, conforme sistematizado na
gura 2.
Em relação aos casos clínicos apresentados para ilustrar a leitura
documentária e a indexação na assistência em saúde, pode-se observar que
a SNOMED-CT é a terminologia mais abrangente para a representação
dos conteúdos informacionais em saúde. Contudo, as unidades de saúde
têm optado por empregar os padrões terminológicos mais tradicionais
como a CID e Tabela de Procedimentos do SUS. Imagina-se que estes
casos também esclareceram que unidades de assistência em saúde
produzem informações bem diferenciadas das universidades e dos textos
técnico-cientícos, demandando a utilização de terminologias clínicas para
sua indexação. Assim, não se recomenda o emprego de terminologias que
foram desenvolvidas para ns acadêmicos, como é o caso dos Descritores
em Ciências da Saúde (DECS), para a indexação de informações clínicas.
Como conclusão pode ser reiterado que o setor da saúde é um
contexto que pode trazer muitas oportunidades para os prossionais da
informação que possuem conhecimento sobre os processos de organização
da informação, bem como sobre saúde, o sistema de saúde, sobre o
complexo industrial e padrões demandados.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
192 |
Figura 2 - Variáveis que interferem nos processos de leitura documentária
e indexação na área da saúde
Fonte: Galvão (2019).
referêncIAs
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2073, de 31 de agosto de 2011.
Regulamenta o uso de padrões de interoperabilidade e informação em saúde para
sistemas de informação em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, nos níveis
Municipal, Distrital, Estadual e Federal, e para os sistemas privados e do setor de saúde
suplementar. Diário Ocial da União, seção 1, Brasília, p. 63, 01 set. 2011.
BRASIL. Tabela de procedimentos, medicamentos, órteses, próteses e materiais especiais
do Sistema Único de Saúde. Brasília: DATASUS, 2019. Disponível em: http://sigtap.
datasus.gov.br/tabela-unicada/app/sec/inicio.jsp. Acesso em: 02 fev. 2019.
COMITÊ INTERNACIONAL DE CLASSIFICAÇÃO DA WONCA. Classicação
Internacional de Atenção Primária (CIAP 2). 2. ed. Florianópolis: Sociedade Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade, 2009. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/
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| 195
8
A temAtIcIdAde textuAl nA AnálIse de Assunto
dA IndexAção: Aspectos Inerentes à AtuAção
profIssIonAl do IndexAdor
Roberta Cristina Dal’Evedove TARTAROTTI
resumo: No domínio da Organização do Conhecimento (OC), a abordagem teórica da
indexação objetiva a representação temática em sistemas de recuperação da informação.
No entanto, o processo de indexação realizado pelo indexador reveste-se de uma
complexidade característica notadamente em dois momentos distintos: a análise de
assunto/identicação de conceitos (tematicidade intrínseca) e a seleção de conceitos
(tematicidade extrínseca). Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo trazer algumas
considerações teóricas em torno da tematicidade textual na análise de assunto do processo
de indexação, particularmente sobre a tematicidade extrínseca textual da etapa de seleção
de conceitos. Neste viés, busca-se contribuir para o entendimento dos fatores interferentes
no processo de indexação e da melhoria da atuação do bibliotecário indexador como um
leitor prossional. Conclui-se que o estabelecimento de interfaces interdisciplinares da
Organização do Conhecimento (OC) com outros campos cientícos contribui não apenas
para a resolução de problemas teórico-práticos em torno da representação e recuperação
temáticas da informação como também para seu fortalecimento como campo cientíco.
pAlAvrAs-chAve: Indexação. Análise de assunto. Tematicidade textual. Indexador.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
196 |
AbstrAct: In the Knowledge Organization (OC) domain, the indexing theoretical
approach aims at thematic representation in information retrieval systems. However, the
indexing process carried out by the indexer has a complexity characteristic, especially in
two dierent moments: the subject analysis/concept identication (intrinsic thematicity)
and the concept selection (extrinsic thematicity). erefore, the work aims to bring
some theoretical considerations around the textual theme in the subject analysis of the
indexing process, particularly on the extrinsic textual theme of the concepts selection
stage. In this bias, it was sought to contribute to the understanding of the interfering
factors in the indexing process and the improvement of the indexer librarians role as a
professional reader. It is concluded that the establishment of interdisciplinary interfaces
of the Knowledge Organization (OC) with other scientic elds contributes not only
to the resolution of theoretical-practical problems around the representation and the
information thematic retrieval but also to its strengthening as a scientic eld.
Keywords: Indexing. Subject analysis. Textual thematicity. Indexer.
1 Introdução
Diversos autores têm se debruçado nas questões teórico-
metodológicas visando à consolidação da Organização do Conhecimento
(OC) como disciplina cientíca e domínio de conhecimento. Por
denição, o campo da Organização do Conhecimento (OC) é “[...] um
sub-domínio-chave da Ciência da Informação, que é dedicado à ordem
conceitual do conhecimento” (SMIRAGLIA, 2011, p. 1, tradução nossa) e
“[...] um domínio inter e multidisciplinar indispensável para as atividades
cientícas, que também é praticada dentro da moderna Ciência da
Informação” (BABIK, 2014, p. 328, tradução nossa).
Na Ciência da Informação, a leitura documental é pressuposto
básico das atividades desempenhadas pelos prossionais que lidam com o
tratamento temático da informação. O objetivo deste tratamento temático
é possibilitar a representação por assunto de recursos informacionais e
sua posterior recuperação pelos usuários nos sistemas de recuperação da
informação: catálogos online, bases de dados ou mais atualmente em
repositórios institucionais ou repositórios de dados de pesquisa no contexto
de bibliotecas acadêmicas, dentre outros. Assim, uma das características
imprescindíveis em um sistema de recuperação da informação é representar
o conteúdo intelectual dos documentos para prover acesso aos mesmos
baseando-se no seu assunto.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 197
A análise de assunto, que se caracteriza pelo conjunto dessas
subetapas, é considerada na literatura e na prática prossional como a mais
importante de todo o processo de indexação, pois resultará na representação
do assunto principal do recurso informacional, tornando-se a “operação base
para todo o procedimento de recuperação de informações” (CESARINO;
PINTO, 1980, p. 32). A importância da análise de assunto é reforçada
por Fujita (2003, p. 78), para quem “[...] o assunto ou tematicidade do
documento é o cerne principal e mais carente de esclarecimentos dentro
dos estudos em análise documental”. Entretanto, as variáveis na indexação
são muitas e pouco conhecidas, considerando-se as inúmeras possibilidades
de signicados e ideias contidos nos recursos informacionais em cada
elemento no processo, além da presença da subjetividade, que depende
particularmente do indexador (MAI, 1997a, p. 65).
A abordagem teórica da indexação, ao adaptar ou propor uma
metodologia que vise uma análise de assunto adequada dos recursos
informacionais deve admitir que esta ocorre na leitura documental. Neste
sentido, abordagens interdisciplinares com outros campos cientícos tal
como a Linguística que têm o texto como objeto de estudo contribuem para
um maior entendimento desta atividade (TARTAROTTI; BOCCATO,
2013, p. 43). Nesse viés, busca-se tecer algumas considerações teóricas
em torno da tematicidade textual da análise de assunto da indexação,
especialmente no que tange à tematicidade extrínseca textual da etapa
de seleção de conceitos.
2 A AnálIse de Assunto pArA IdentIfIcAção e seleção de conceItos
no processo de IndexAção
Conceitualmente, a indexação de assuntos caracteriza-se como um
processo formado por subprocessos ou etapas que identicam o conteúdo
de um recurso informacional por meio de uma metalinguagem construída
– a linguagem documental , visando a efetiva recuperação da informação
(TARTAROTTI; BOCCATO, 2013, p. 40). Em termos teóricos, qualquer
recurso informacional pode ser indexado/representado por meio de
conceitos em busca da satisfação de necessidades informacionais especícas
(GIL LEIVA, 2008, p. 64). Logo, a indexação vai além da representação
temática da produção cientíca – foco dos produtos e serviços - podendo
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
198 |
ser aplicada, em um contexto mais amplo, a qualquer recurso informacional
ou objeto passível de ser denominado documento.
Embora não consensuais entre os autores da literatura
especializada no temário, para Mai (2000, p. 294) o processo de indexação
pode ser desconstruído revelando três etapas: processo de análise do
documento, descrição do assunto e processo de análise de assunto e quatro
elementos: documento, assunto, descrição do assunto e entrada do assunto,
assim representada geometricamente (Figura 1):
Figura 1. O processo de indexação de assunto
Fonte: Mai (1997a, p. 61) adaptado de Miksa (1983)
29
.
Nesta abordagem interpretativa do processo de indexação, o
autor considera a indexação como uma atividade intelectual que requer a
interpretação do texto do recurso informacional por parte do indexador,
indo além de uma atividade puramente técnica. Ao imprimirmos tais
etapas e elementos no domínio dos modernos sistemas de recuperação
da informação tais como bases de dados, catálogos online, repositórios
institucionais ou repositórios de dados de pesquisa, na primeira etapa do
processo de indexação é realizada a análise do recurso informacional digital
ou, na terminologia do autor - objeto digital - visando à descrição temática,
denominada de processo de análise. O primeiro elemento é o objeto digital
que está sendo analisado. A segunda etapa é a formulação de uma frase de
indexação ou descrição de assunto, denominada de processo de descrição,
uma formulação mental ou escrita do assunto pelo indexador, tendo como
29
MIKSA, F. e subject in the dictionary catalog from Cutter to the present. Chicago: American Library
Association, 1983.
| 199
segundo elemento o assunto do documento ou do objeto digital, que pode
estar presente apenas na mente do indexador. Já na terceira etapa ocorre
a tradução da descrição de assunto em uma linguagem de indexação ou
esquema de classicação, denominada de processo de análise de assunto. O
terceiro elemento nesta etapa é a descrição formal do assunto, que pode
ser escrita. Já o quarto elemento, denominado de entrada de assunto, é o
produto da tradução da descrição formal do assunto em uma determinada
linguagem de indexação do repositório institucional (MAI, 1997b, p. 55).
Cabe esclarecer que o autor propõe o uso do termo “análise
do documento” para a primeira etapa do processo e “análise de assunto
para a última etapa do processo. Na literatura percebe-se a existência de
mais de uma denominação para o termo análise de assunto, podendo ser
denominada ainda de análise temática ou análise conceitual. Entretanto,
entendemos que o termo análise de assunto é o que melhor representa
o processo de análise do conteúdo temático do recurso informacional,
considerando-se seu sólido estabelecimento e aceitação da terminologia
na literatura cientíca do campo da Organização do Conhecimento (OC).
Conforme Fujita, Rubi e Boccato (2009, p. 24), as etapas do
processo de indexação não precisam ser necessariamente realizadas de
maneira sequencial, visto que o indexador prossional já familiarizado com
o processo pode realizá-las simultaneamente e até de maneira automática,
situação corroborada na prática em estudo realizado com catalogadores
e indexadores por Tartarotti (2014, p. 198), para quem quanto mais
familiarizado com a área cientíca especializada no qual atua, mais estas
etapas são superpostas durante o processo de indexação pelo prossional.
Além disso, de acordo com Mai (2000, p. 280), a ação tomada por
indexadores com diferentes níveis de experiência pode não ser exatamente
a mesma, mas as etapas e elementos do processo de indexação de assunto
são considerados fundamentais para qualquer processo de indexação.
No processo de indexação, a análise de assunto é considerada a
etapa mais complexa e mais importante da indexação, pois determina os
resultados das estratégias de busca realizadas pelos usuários do sistema de
recuperação da informação, no momento da recuperação da informação.
Durante a análise de assunto, o indexador examina o documento,
procurando compreender o texto por meio da identicação do assunto,
com o objetivo posterior de selecionar os conceitos indexáveis. Chu
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
200 |
e O’brien (1993) consideram a análise de assunto como fase inicial do
processo de indexação que decidirá sobre os principais tópicos do assunto
de um documento, precedendo a fase de tradução desses tópicos de acordo
com a linguagem documental adotada pelo sistema.
Segundo Taylor e Joudary (2009, p. 305), a “[...] análise de
assunto é a parte do processo de criação de metadados que identica e
articula o assunto do recurso informacional que está sendo descrito”. O
processo de análise de assunto abarca três subetapas; 1) análise conceitual
para determinar de que trata o item; 2) descrição da tematicidade
em uma declaração por escrito; e 3) utilização dessa declaração de
tematicidade para atribuir termos de vocabulário controlado e/ou
notações de classicação. Já para Raju e Raju (2006, p. 14), teóricos
da abordagem teórica da catalogação de assunto, a análise de assunto
consiste no “processo de analisar o assunto contido em um item antes
da tradução desta análise conceitual em uma linguagem”. Em síntese, a
análise de assunto implica em determinar a tematicidade do documento
mediante a identicação e seleção dos conceitos que comporão o assunto
ou temas principal e secundários.
No contexto da análise de assunto realizada pelo indexador, a
leitura documental possui um fundamental, pois “[...] para o indexador,
seu cotidiano é concentrado no ato da leitura, de forma a viabilizar o
acesso à informação contida nos documentos aos usuários dos sistemas
de informação” (NEVES; DIAS; PINHEIRO, 2006, p. 141). Conforme
Fujita (2003, p. 94), é a leitura do documento que dá início à atividade
de indexação, diferindo de uma leitura normal ao exigir procedimentos
diferentes, “[...] ainda que os conhecimentos necessários para um bom
entendimento de um texto sejam comuns a ambas”. Aqui, “[...] esse leitor-
indexador tem objetivo denido: identicação e seleção de conceitos que
representem o conteúdo do texto e que coincidam com as necessidades
informacionais da comunidade usuária do sistema de informação” (LARA,
1993, p. 50).
Todavia, é notável a diculdade apresentada pelo indexador ao
ler o documento com o objetivo de identicar e selecionar os conceitos
representativos do assunto do documento, considerando-se que, na
maioria das vezes, não é um especialista sobre o assunto que indexa. Por
outro lado, o indexador bibliotecário pode ser tornar um especialista na
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 201
área em que atua devido à experiência adquirida ao longo do tempo na
prática na atividade de indexação, além de cursos especializados (FUJITA,
2003, p. 84).
Considerando-se que a construção de qualquer texto de um
recurso informacional é baseada em um ou mais temas, é por meio da
leitura prossional na representação temática da informação que ocorre
a busca pela tematicidade documental, revelada por meio da análise de
assunto realizada pelo indexador - leitor prossional que interage com
o texto para cumprir o objetivo da indexação. Sendo realizada durante
a leitura documental, a análise de assunto é subdividida em outras três
etapas: compreensão do conteúdo do recurso informacional; identicação
dos conceitos que representam este conteúdo; e seleção dos conceitos
válidos para recuperação. Se a análise de assunto, como primeira etapa da
indexação, é realizada através da leitura - uma leitura documental -, é no
momento da leitura em que os conceitos tratados em um documento são
identicados e selecionados, para posterior representação em termos de
indexação. Nesse sentido,
[...] a representação por conceitos na análise de assunto para
identicação e seleção de conceitos é diferente da representação
realizada na tradução porque, em primeiro lugar, é realizada
durante a análise de conteúdo do documento, ou seja, com o
documento na íntegra e em segundo lugar, porque utiliza conceitos
com os quais são representados os termos e assim identicada a
tematicidade intrínseca do documento. Na tradução, de outro
modo, a representação se dá com os termos extraídos do
documento analisado, portanto, fora do contexto documental
em que o autor desenvolveu o conteúdo signicativo e utiliza
uma linguagem documental que representa o vocabulário de áreas
de especialidade com a nalidade de compatibilizar os termos
identicados com os termos buscados pelo usuário (FUJITA,
2013, p. 50, grifo nosso).
Conforme apresenta Dal’Evedove (2002, p. 58), em uma
abordagem ideal da prática da indexação, as etapas de leitura documental,
análise de assunto/identicação de conceitos e seleção de conceitos
precisam ocorrer durante a leitura, enquanto que a etapa de tradução dos
conceitos que representam os conceitos em descritores da linguagem do
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
202 |
sistema deve ser feita após a leitura do documento. Esta visão permite
que a análise seja realmente conceitual e compreensiva, pois a preservação
do conteúdo do documento é uma garantia de relevância de recuperação,
objetivo da eciente indexação de conteúdo.
Referente às subetapas da análise de assunto, a compreensão de
leitura é considerada uma condição necessária à leitura, ou seja, “[...] não
existe leitura sem compreensão. Então, quando falamos em leitura para
indexação, podemos dizer que o indexador necessita compreender o texto
para identicar e selecionar conceitos, pois somente o fará a contento se
houver compreensão” (FUJITA, 2003, p. 82). Sobre isso Farrow (1991,
p. 151) adverte que o indexador compreende o texto basicamente do
mesmo modo que um leitor uente, porém, sob a inuência de condições
de tempo, objetivo denido, modelo a ser produzido e áreas temáticas
denidas com estrutura textual padronizada dos recursos informacionais,
podendo induzi-lo a um processo repetitivo e automático.
Na identicação de conceitos, o indexador, “após o exame do
texto, passa a abordá-lo de uma forma mais lógica a m de selecionar os
conceitos que melhor representem seu conteúdo”. Esta etapa depende
“[...] da tematicidade do texto e está atrelada à leitura do indexador e
às suas concepções de análise de assunto adquiridas pela sua formação,
objetivos e políticas de indexação” (FUJITA, 2003, p. 64-85). Deste
modo, a identicação dos conceitos tratados num documento envolve
como aspecto principal a compreensão do conteúdo do documento pelo
leitor, de forma a representar e propiciar a seleção dos conceitos válidos
para recuperação.
Já a etapa de seleção de conceitos, que ocorre após a identicação
dos conceitos, está diretamente relacionada aos “objetivos para os quais
as informações são indexadas”, sendo que “nem todos os conceitos
identicados serão necessariamente selecionados” (FUJITA, 2003, p. 64).
3 A temAtIcIdAde textuAl nA AnálIse de Assunto: dA temAtIcIdAde
IntrínsecA à temAtIcIdAde extrínsecA
Como visto, a análise de assunto é subdividida nas etapas de
compreensão do conteúdo do recurso informacional; identicação dos
conceitos que representam este conteúdo; e seleção dos conceitos. Todo
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 203
texto possui uma tematicidade intrínseca – que podemos denominar de
tematicidade básica, ou seja, um tema nuclear inerente ao texto e ligado
à produção do mesmo, identicada na etapa de análise de assunto ou
identicação de conceitos. De acordo com Todd (1992, p. 102), o nível de
relação entre tematicidade e signicado varia, pois depende “do uso que a
pessoa pode encontrar da tematicidade do documento numa certa época,
e o mesmo documento pode vir a ter diferentes signicados para o mesmo
leitor em diferentes épocas, entretanto o documento possui uma atinência
fundamental”. Esta etapa se refere à identicação de conceitos.
Por outro lado, a tematicidade extrínseca – que podemos
denominar de tematicidade profunda – está diretamente relacionada
com o contexto de produção e de recepção do texto, com a necessidade
informacional dos usuários do sistema de recuperação da informação e com
a política de indexação da instituição, ligada à recepção do texto. Estes
fatores, quando conhecidos pelos prossionais que executam a atividade de
indexação, são decisivos para a adequação temática ao contexto e respectiva
recuperação temática. Esta etapa se refere à seleção de conceitos.
Na tematicidade do documento, destaca-se o conteúdo
relativamente permanente do documento (aboutness), o que nos
leva à tematicidade intrínseca textual, enquanto que o signicado
compreendido pelo usuário (meanings) refere-se à tematicidade
extrínseca textual. De acordo com Fujita (2003, p. 80), Begthol (1986)
30
fez distinção entre aboutness e meanings: o aboutness é o conteúdo
intrínseco do documento, que independe do uso temporal que um
indivíduo possa fazer do mesmo em análise e que o faz possuir uma
tematicidade relativamente permanente”; já o meanings (signicados) pode
ser medido de acordo com o uso particular do documento tendo em vista
os usuários (FUJITA, 2003, p. 80).
Ainda para Fujita (2003, p. 79), não existe um consenso entre os
autores em torno do termo aboutness em português, cunhado em 1969
por Fairthorne (1969). Enquanto para alguns autores signica “do que
trata um texto”, outros utilizam “atinência” ou ainda “tematicidade.
Wellish (2000, p. 5) dene aboutness como “[...] o conjunto de assuntos
ou tópicos tratados em um documento, inclusive a intenção do autor e o
30
BEGHTOL, C. Bibliographic classication theory and text linguistics: aboutness analysis, intertextuality
and the cognitive act of classifying documents. Jornal of Documentation, London, v. 42, n. 2, p. 84-113, 1986.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
204 |
possível uso pelos leitores” Para Albrechtsen (1993, p. 220), tal conceito
passou a ser pesquisado em substituição ao conceito de subject ou tema”.
Nesse sentido, conceitualmente podemos considerar a tematicidade
como sinônimo de tema. De acordo com Fujita (2001, p. 61), o tema
possui uma estrutura temática composta por conceitos ou categorias ou
facetas. A identicação das categorias ou conceitos na estrutura textual
do recurso informacional ocorre por meio da análise conceitual e o
conjunto das categorias identicadas formulará o tema do documento.
Segundo Guimarães (2009, p. 35), o tema “[...] é uma representação
abstrata da estrutura global do signicado de um texto”, compreendido
ainda como um
[...] núcleo informativo fundamental ou elemento em torno
do qual se estrutura a mensagem, sua identicação permite ao
receptor considerar “entender” o texto, daí poderá partir para a
elaboração de resumo do texto, ou para exercício de retextualização
sob diversas formas (paráfrases, comentários, resenhas, recensões,
etc.). O processo seguido pelo receptor é, de certo modo, oposto
ao utilizado pelo emissor. Se este procede desenvolvendo o tema, o
receptor deve, reduzindo as informações que lhe são transmitidas,
limitar-se ao fundamental, até chegar a esse núcleo informativo
(GUIMARÃES, 2009, p. 35).
De forma geral, enquanto o aboutness refere-se aoconteúdo
relativamente permanente do documento”, o meanings é entendido como
o signicado compreendido pelo usuário” do sistema de recuperação da
informação (FUJITA, 2003, p. 80). A literatura cientíca sinalizava que o
interesse do indexador deve limitar-se ao aboutness, ou seja, à tematicidade
textual, tendo em vista que o indexador lida com os conteúdos permanentes
dos recursos informacionais (com as ideias propostas pelo autor),
representadas através da linguagem textual.
Entretanto, os estudos mais contemporâneos defendem o
estabelecimento de um novo paradigma no processo de análise de assunto,
pois o meanings, ou seja, o contexto, também deve ser considerado pelo
indexador durante a atividade de indexação, considerando-se que embora
a tematicidade seja o conteúdo relevante do documento no contexto
próprio do autor, algumas variáveis irão inuenciar na determinação
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 205
desse conteúdo. Logo, a determinação do(s) assunto(s) do recurso
informacional também está ligada a estes fatores. Segundo Cavalcanti
(1989) a tematicidade intrínseca refere-se ao tema importante para o autor,
enquanto que a tematicidade extrínseca refere-se ao tema importante do
ponto de vista do leitor. Isso é denominado pela autora como “saliência
autor – relevância leitor”.
Em síntese, no processo de representação da informação existem
dois tipos de tematicidade: a tematicidade intrínseca (resultado da fase
de identicação de conceitos na análise de assunto) e a tematicidade
extrínseca (resultado da fase de seleção de conceitos na análise de
assunto), conforme apresentado no Quadro 1:
Quadro 1 - A tematicidade textual na análise de assunto do processo de
indexação
etApA dA IndexAção subetApA dA IndexAção tIpo de temAtIcIdAde
Leitura documental - -
Análise de assunto
Compreensão de leitura -
Identicação de conceitos Tematicidade intrínseca
Seleção de conceitos Tematicidade extrínseca
Tradução dos conceitos - -
Fonte: Elaborado pela autora.
Considerando-se que a tematicidade intrínseca e a tematicidade
extrínseca são aspectos norteadores do processo de indexação, entendemos
que a prática ideal desta atividade realizada pelo indexador deve abarcar
tanto o aboutness (contexto de produção) quanto o meaning (contexto de
recepção) dos recursos informacionais.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
206 |
4 A temAtIcIdAde extrínsecA dA etApA de seleção de conceItos nA
AnálIse de Assunto
Na prática, a indexação é analisada sob três diferentes concepções
teóricas ou perspectivas de análise que reetem na atuação prossional do
indexador: indexação orientada para o documento (ênfase no documento),
indexação orientada para o usuário (ênfase nos usuários) e indexação
orientada para o domínio (engloba o contexto, o documento e os usuários)
(GIL LEIVA, 2008, p. 62). De acordo com Fujita (2003, p. 72), a concepção
de leitura orientada para o conteúdo deve orientar a identicação de
conceitos e a concepção orientada para a demanda, a seleção de conceitos,
sendo que a concepção do indexador está “diretamente vinculada com
sua formação educacional (concepção orientada pelo conteúdo) e com a
postura do sistema de informação (concepção orientada pela demanda) e
não pelo fato de ele ser um leitor menos ou mais habilitado”. Por abarcar
uma visão mais ampla, a abordagem da indexação centrada no domínio
representa o ideal em termos de indexação, pois considera outros elementos
além do documento ou o usuário.
Sob a ótica de Smiraglia (2009, p. 674), a interpretação de um
recurso informacional envolve o contexto em que o recurso informacional
é interpretado, visto que anteriormente ao processo de indexação houve
a criação do recurso informacional por uma determinada comunidade
discursiva, resultado de diversos atos de interpretação por parte de
seus atores sociais. Uma vez concluído, publicado e analisado por meio
do processo de indexação possibilitando que o recurso informacional seja
acessível, o objetivo é que este seja recuperado e utilizado pelos usuários
da informação, estejam ou não inseridos dentro da própria comunidade
discursiva que o elaborou (MAI, 2000, p. 272; MAI, 2001, p. 604).
No processo de indexação, a seleção de conceitos corresponde
à etapa da análise de assunto que resultará na extração da tematicidade
extrínseca textual do recurso informacional em análise pelo prossional
indexador. Logo, a etapa de seleção de conceitos é inuenciada pela variável
contexto, que refere-se à análise de assunto em contextos de informação
especializados e todos os elementos inuentes no momento da leitura
prossional, isto é, “[...] todas as condições nas quais se encontra o leitor
quando entra em contato com um texto.” (GIASSON, 1993, p. 40). Além
disso, “[...] representa não apenas o conhecimento prévio prossional e
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 207
os objetivos da atividade em questão, mas o ambiente em que é realizada
esta atividade prossional em leitura documental” (DAL’EVEDOVE,
TARTAROTTI; FUJITA, 2015, p. 610).
Nessa perspectiva, para que o signicado do conteúdo
informacional de um documento seja o menos ambíguo possível, o mesmo
deve ser analisado de acordo com o contexto no qual está inserido, uma
vez que tal variável tende a agregar valor em determinados conceitos, os
quais passam a assumir novos signicados apenas mudando-se o ambiente
de análise (PINTO MOLINA, 1993). Desse modo, “o conceito somente
assume sentido quando levado em consideração o contexto de situação,
em que o bibliotecário indexador deve ajustá-lo as suas decisões conforme
a necessidade exigida pelo meio” (DAL’EVEDOVE; TARTAROTTI;
FUJITA, 2015, p. 610).
Entretanto, como observa Olson (2007, p. 536), a maioria
dos relacionamentos na abordagem temática da informação como os
tesauros (produtos da concepção teórica da indexação), listas de cabeçalhos
de assunto (produtos da concepção teórica da catalogação) ou esquemas
de classicação (produtos da concepção teórica da classicação) está
limitada às relações paradigmáticas, ou seja, são relações intrínsecas; não
dependendo do contexto. Nesta abordagem interpretativa do processo
de indexação, os principais problemas da representação de documentos
estão relacionados ao signicado e à linguagem, consequentemente que
o indexador é o fator mais interferente do processo de indexação, pois os
referentes de cada elemento no processo são entendimentos subjetivos e,
portanto, que os resultados do processo são bastante incertos, e dependendo
em grande parte de quem realiza a análise (MAI, 2000, p. 270; MAI,
1997a, p. 61).
Na opinião de Neves (2006, p. 43), o momento mais crucial
do processo de indexação é a análise de assunto, pois reveste-se de uma
subjetividade inerente à política de indexação, que determina prioridades
a alguns assuntos. Para minimizar esta subjetividade na indexação, a
formação e capacitação prossional desempenham um papel-chave.
Entretanto, conforme alertam Neves, Dias e Pinheiro (2006, p. 151),
“[...] apesar desse treinamento, em sua busca por termos para representar
o assunto tratado no documento, o indexador baseia-se no discernimento
próprio e na prática adquirida no exercício da prossão, o que, além
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
208 |
de tornar o processo de indexação subjetivo, questiona a ecácia da
formação prossional”.
No que concerne aos aspectos cognitivos do indexador enquanto
leitor, ao considerarmos que todo fato cultural, atividade ou prática social
constituem-se como práticas signicantes, ou seja, práticas de produção
de linguagem e de sentido (SANTAELLA, 2007, p. 10), isto nos leva ao
campo da Linguística (a ciência da linguagem verbal), mais especicamente
à abordagem teórica da Linguística Textual, considerando-se a relevância
do objeto texto como materializador de sentidos no processo de indexação
no âmbito da Organização do Conhecimento (OC).
De acordo com Koch (2009, p. 154), a multiplicidade cultural,
histórica e funcional que caracteriza a moderna evolução do conhecimento
seria impossível sem a existência de textos. Para Discini (2007, p. 14), “[...]
o texto é uma unidade de sentido, dada por recorrência daquilo que é dito
e de um modo próprio dizer”.
Cavalcanti (1989, p. 48) considera a interação leitor-texto
como um processo caracterizado por quatro principais aspectos: ativo
(que envolve não compreensão, mas interpretação e exige competência
comunicativa); construtivo (baseia-se em interpretação das expressões
indexicais sinalizadas no texto); interativo (inuenciado por variáveis
de desempenho); e reconstrutivo (permite a introdução de vieses
tanto das variáveis de desempenho como dos sistemas de valores do
indexador). Neste contexto, a interação entre o indexador e o texto “[...]
consiste numa amplitude de procedimentos coordenados e de operações
perceptíveis, linguísticas e cognitivas, em que as características da estrutura
textual fornecem subsídios ao conhecimento do bibliotecário indexador,
aumentando a compreensão do assunto abordado” (DAL’EVEDOVE;
TARTAROTTI; FUJITA, 2015, p. 609).
Nos estudos mais recentes sobre o texto e o discurso da
Linguística Textual, recai uma ênfase na concepção de cognição humana
de forma integrada, “[...] onde a linguagem, percepção, afeto, atenção,
memória, estrutura cultural e outros componentes do sistema cognitivo
encontram-se denitivamente inter-relacionados”, assim como uma
retomada do interesse pelas tipologias e gêneros textuais (BENTES, 2011,
p. 282). No âmbito da Ciência da Informação, a cognição é percebida em
todas as atividades realizadas pelos prossionais da informação, tanto no
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 209
tratamento descritivo ou temático quanto na recuperação da informação.
Nesse sentido, “[...] a cognição implica que cada ato de processamento da
informação, seja ele perceptivo ou simbólico, é mediado por um sistema
de categorias e conceitos os quais, para o mecanismo de processamento da
informação, constituem um modelo de mundo” (NEVES, 2006, p. 42).
Entre as diversas concepções de texto que fundamentaram os
estudos em Linguística Textual, destacam-se: concepção gramatical:
texto como frase complexa ou signo linguístico mais alto na hierarquia
do sistema linguístico; concepção semiótica: texto como signo complexo;
concepção semântica: texto como expansão tematicamente centrada
de macroestruturas; concepção pragmática: texto como ato de fala
complexo; concepção discursiva: texto como discurso ‘congelado’, como
produto acabado de uma ação discursiva; concepção comunicativa, texto
como meio especíco de realização da comunicação verbal; concepção
cognitivista: texto como processo que mobiliza operações e processos
cognitivos e, por m, concepção sociocognitiva-interacional: texto
como lugar de interação entre atores sociais e de construção interacional de
sentidos (KOCH, 2009, p. 12). Na concepção sociocognitiva-interacional,
a compreensão deixa de ser vista como simples “captação” de uma
representação mental ou como a decodicação de mensagem resultante
de uma codicação de um emissor”, mas entendida como uma “atividade
interativa altamente complexa de produção de sentidos”, realizada “com
base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua
forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto
de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução no interior do evento
comunicativo” (KOCH, 2009, p. 18).
Ao considerarmos o processo de indexação com base em
Koch (2009, p. 19), o sentido de um texto de um determinado recurso
informacional é construído na interação recurso informacional-indexador
(texto-sujeito) com três elementos: o autor (produtor), que procura
viabilizar o seu “projeto de dizer”, recorrendo a diversas estratégias de
organização textual e orientando o indexador prossional por meio de
marcações textuais para a construção dos (possíveis) sentidos; o recurso
informacional (texto), organizado estrategicamente de dada forma, em
decorrência das escolhas feitas pelo autor entre as inúmeras possibilidades
de materialização oferecida pela língua e estabelecendo limites quanto
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
210 |
às leituras possíveis; e o indexador (leitor), que, a partir do modo
como o texto se encontra linguisticamente construído, das sinalizações
que lhes oferece, bem como pela mobilização do contexto relevante à
interpretação, vai proceder à construção dos sentidos a m de cumprir o
objetivo da indexação.
De acordo com Koch (2009, p. 14-15), a concepção de sujeito
– ou mais especicamente, a de sujeito da linguagem (neste caso, de autor
e indexador) varia de acordo com a concepção de língua adotada. Em
uma concepção de língua como estrutura, caracteriza-se um autor/
indexador “não consciente”, inerte, “assujeitado pelo sistema, onde
o comportamento individual é apenas um reexo do comportamento
coletivo, seja este linguístico ou social. O autor/indexador é inserido
numa ideologia, numa instituição da qual é apenas porta-voz: é um
discurso anterior que fala através dele. Ainda para a autora, se pensarmos
na língua como representação do pensamento, percebe-se um autor/
indexador individual, dono de sua vontade e de suas ações, social na
medida em que se constrói em sociedade e com isto adquire a habilidade
de interagir, que constrói uma representação mental e deseja que esta
seja “captada” pelo interlocutor da maneira como foi mentalizada. Já
na concepção de língua como lugar de interação, percebe-se o autor/
indexador como ativo na produção do social e da interação. O autor/
indexador reproduz o social na medida em que participa ativamente
da denição da situação na qual se acha engajado, sendo um ator na
atualização das imagens e das representações, sem as quais a comunicação
não poderia existir. Desse modo, a concepção de língua como lugar de
interação e do autor/indexador como um elemento ativo neste processo
caracteriza o contexto sociocognitivo.
Conforme a autora, atualmente na Linguística Textual o contexto
abrange não apenas o co-texto, como a situação de interação imediata, a
situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e também o contexto
sociocognitivo dos interlocutores (que integra os demais), mas também
todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos atores sociais
(neste caso, indexadores e atores durante o processo de indexação). Estes
conhecimentos são classicados como: o conhecimento linguístico
propriamente dito; o conhecimento enciclopédico (declarativo ou
episódico, frames e scripts); o conhecimento da situação comunicativa e
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 211
de suas ‘regras’ (situacionalidade); o conhecimento superestrutural (tipos
textuais); o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e
sua adequação às situações comunicativas); o conhecimento sobre os
variados gêneros adequados as diversas práticas sociais; o conhecimento
de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade) (KOCH,
2009, p. 24).
Esta interação ocorre com o uso de estratégias cognitivas
(inferências, focalização, busca de relevância, etc.), estratégias
sociointeracionais (preservação das faces, polidez, atenuação, atribuição de
causas a (possíveis) mal-entendidos etc.) e estratégias textuais (formas de
organização do texto com vistas à produção de determinados sentidos)
(VILELA; KOCH, 2001, p. 24, p. 464). Assim, todos estes conhecimentos
são importantes para o indexador realizar uma análise conceitual e
compreensiva no processo de indexação. Percebe-se que a literatura
da área tem se voltado principalmente para as estratégias cognitivas e
metacognitvas do indexador. Do ponto de vista da Linguística Textual, o
processo de indexação é um processamento textual, e, portanto, torna-se
relevante mais estudos sobre estas outras estratégias de interação descritas
por este campo.
Se um texto escrito não é recebido ativamente pelo indexador,
pressupondo energia de processamento cognitivo por parte do indexador.
Desse modo, a cognição será mais ecaz se completada pela metacognição,
isto é, “pelos princípios que regem a desautomatização consciente das
estratégias cognitivas ou o pensamento sobre nosso próprio pensamento”.
Assim, “[...] um texto não tem sentido por si mesmo, mas graças à
interação que se estabelece entre o conhecimento apresentado no texto
e o conhecimento de mundo armazenado na memória do interlocutor
(GUIMARÃES, 2009, p. 17). De acordo com Vilela e Koch (2001, p.
559), enquanto os modelos cognitivos (frames, scripts, cenários, modelos
episódicos, esquemas, modelos mentais) controlam o conteúdo semântico
do texto, isto é, o que está sendo ou será dito, os modelos de contexto
controlam a maneira como os interlocutores vão formular tais conteúdos
em função do contexto em que a interação se realiza.
Somada às características inerentes à etapa de identicação de
conceitos da análise de assunto que trazem uma complexidade própria à
atividade de indexação por envolver aspectos cognitivos, a etapa de seleção
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
212 |
de conceitos é inuenciada notadamente pelos elementos de política de
indexação e pelo perl dos usuários, e em uma abordagem mais ampla,
pela política de informação presentes no contexto institucional em que o
indexador atua. Embora o assunto seja a informação relevante abordada no
recurso informacional, a seleção do assunto sofre a inuência da política
de indexação do sistema de informação à qual pertence, pois a instituição
decidirá, dentre outros elementos, se o tema extraído do documento
terá um nível mais especíco ou mais genérico com base no perl da
comunidade usuária. Nesse cenário,
A atuação prossional no tratamento temático da informação deve
ser regida por uma política própria e única, que considere a instituição
como um todo, seus usuários, colaboradores, estrutura física e
nanceira, entre outros. Como um processo que vai muito além de
um fazer técnico – mas sim, uma atividade altamente cognitiva e
humana, sendo, portanto, passível de inuências sociais - a qualidade
do tratamento temático da informação no contexto de bibliotecas
universitárias depende ainda da coleção e da comunidade usuária
local. [...] São diversos os fatores que afetam o processo de indexação,
já que não existe uma única maneira de indexar corretamente um
documento (TARTAROTTI, 2014, p. 228).
Assim, ao reetir os fundamentos teórico-metodológicos
do campo da Organização do Conhecimento e, ao mesmo tempo,
as necessidades prossionais, o estabelecimento de uma política de
indexação formalizada em um manual de indexação contribui com o
processo de melhorias contínuas na atuação prossional do indexador,
pois fornece as diretrizes de indexação ao prossional indexador em seu
contexto de atuação.
5 consIderAções fInAIs
Como considerações nais, verica-se que os aportes teóricos da
Linguística Textual são relevantes e podem contribuir, em termos teóricos,
para o fortalecimento da abordagem teórica da indexação do campo
da Organização do Conhecimento (OC) e em termos práticos, para a
atuação do indexador como um leitor prossional, reforçando ainda mais
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 213
a relação interdisciplinar entre a Ciência da Informação e a Linguística, em
torno da representação e materialização de sentidos.
A complexidade inerente ao processo de análise de assunto –
realizada durante a leitura documental, ou seja, com o texto “em mãos” - é
ampliada ao lançarmos o olhar para a etapa de seleção de conceitos, que
ocorre após a leitura do documento, ou seja, não mais com o texto. Isto
porque na seleção de conceitos são vários os fatores interferentes. Desse
modo, a etapa de seleção de conceitos é tão ou ainda mais complexa que
a etapa de identicação de conceitos, por conter ainda mais elementos
e fatores interferentes no processo, fatores extrínsecos que independem
da leitura documental e, portanto, do contexto onde o prossional atua.
Reforça-se ainda a visão de Dal’Evedove, Tartarotti e Fujita (2015, p. 612)
sobre a importância de considerarmos tanto a abordagem sociocognitiva
como a abordagem sociocultural nos estudos em torno da indexação, mais
especicamente na etapa de seleção de conceitos que abriga a tematicidade
extrínseca textual da análise de assunto, tanto na formação quanto na
capacitação do indexador.
Diante destas reexões em torno da tematicidade extrínseca
textual da análise de assunto para indexação e do texto como objeto
de estudo da Linguística Textual, recomenda-se estudos comparativos
em torno dos fatores interferentes na análise de assunto, especialmente
sobre as convergências e divergências entre os fatores interferentes na
etapa de identicação de conceitos e os fatores interferentes na etapa de
seleção de conceitos, bem como a relação entre a seleção de conceitos
e a recuperação da informação. Além disso, pesquisas interdisciplinares
que versem sobre a abordagem teórica da análise do discurso, tal como a
abordagem bakhtiniana, podem contribuir com aportes teórico-práticos
da tematicidade intrínseca e da tematicidade extrínseca na representação
temática da informação no processo de indexação
Finalmente, ao incorporar novas, diferentes e futuras vozes
(McTAVISH, 2014, p. 330) nos estudos sobre a análise de assunto do
processo de indexação, acredita-se que a representação temática da
informação nesta abordagem discursiva e contextual como um modelo
alternativo permita realmente a recuperação dos recursos informacionais nos
sistemas de recuperação da informação, contribuindo para o entendimento
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
214 |
dos fatores interferentes no processo de indexação e da melhoria da atuação
do bibliotecário indexador como um leitor prossional.
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9
AbordAgem teórIcA dA semIótIcA peIrceAnA
pArA IdentIfIcAção de Assuntos em músIcA e
suAs representAções
Camila Monteiro de BARROS
Lígia Maria Arruda CAFÉ
resumo: Conhecer e mapear termos e conceitos relacionados com a música para ns de
indexação perpassa pela compreensão da amplitude do processo de signicação que tal
tipo de informação pode suscitar. A discussão apresentada tem como base a Semiótica
de Peirce, considerando a música como signo e os níveis de interpretante (emocional,
energético e lógico) como indicadores de potenciais descritores da informação musical,
aplicáveis à indexação. Propomos, assim, uma matriz conceitual semiótica como modelo
de leitura do fenômeno da informação musical para ns de indexação. A matriz é dividida
em três grandes dimensões, correspondentes às categorias fenomenológicas e níveis de
interpretante: primeiridade, secundidade e terceiridade. Cada dimensão, de acordo com
as características das categorias fenomenológicas, apresenta um grau diferente de precisão
de representação e um grau diferente de relevância, dependendo do contexto em que
ocorre a representação.
pAlAvrAs-chAve: Informação musical. Indexação. Semiótica.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
218 |
AbstrAct: Knowing and mapping terms and concepts related to music for indexing
purposes claims for the understanding of the extend of the signication process that this
kind of information can evoke. e discussion is based on peircean Semiotics considering
music as sign and the levels of interpretant (emotional, energetic and logic) as indicators
of potential music information descriptors applied to indexing process. We propose
a semiotic conceptual framework as a music phenomena reading model for indexing
purposes. e framework is organized in three dimensions that are correspondents to
the peircean phenomenological categories and interpretant levels: rstness, secondness
and thirdness. Each dimension, according to the phenomenological categories, presents
a specic precision level of representation, and a specic level of relevance, depending on
the representation context.
Keywords: Music information. Indexing. Semiotics.
1 Introdução
A informação não é algo exterior às pessoas ou que se encontre
apenas dentro de suas mentes, é um processo construtivo que engloba
relações entre diversos elementos possibilitadas pela percepção sensível.
E, “[...] se a primeira fonte do nosso conhecimento é a sensibilidade, a
segunda é o entendimento, poder de julgar, poder de conhecer não
sensível.” (JAPIASSU; MARCONDES, 2006, p. 86). O não sensível
refere-se à reexão, ao pensamento, à experiência (sensível) levada à razão.
É nesse espaço que surge a proposta de pensarmos analiticamente como
ocorre nossa interação com o fenômeno musical e, a partir daí, buscarmos
elementos que possam ser úteis à tarefa de representação da informação.
Esse exercício confere um olhar informacional sobre a música - daí a noção
de “informação musical”, inserindo-a no âmbito de um dos propósitos mais
elementares da Ciência da Informação (CI): a representação de assunto por
meio do processo de indexação para ns de recuperação da informação.
Conforme veremos a seguir, a noção de “assunto” no contexto
da informação musical é diferente do contexto da informação verbal. Da
mesma forma, o que diferencia elementos de representação descritiva
daqueles de representação temática também não apresentam delimitação
clara. Assim, conhecer e mapear termos e conceitos relacionados com a
música perpassa pela compreensão da amplitude do processo de signicação
que tal tipo de informação pode suscitar, justamente pela forma peculiar
com que a música pode desencadear signicados. A natureza expressiva
e não necessariamente referencial da música enaltece a hipótese de que
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 219
entender o que ela pode signicar é premissa para a construção de uma
base teórica capaz de sustentar outras discussões no contexto da indexação,
como adotada pela CI. Essa situação tem impacto principalmente sobre
aqueles conceitos que têm sua gênese na emoção experimentada por um
indivíduo, isto é, quando as emoções são determinantes na signicação de
certo tipo de informação, como é o caso da informação musical.
A abordagem da música como recurso passível de ser inserido
em um sistema de informação não é um assunto novo. Tal temática já
está consolidada como âmbito de pesquisa haja vista, por exemplo, a
realização anual, desde 2000, da conferência da International Society
for Music Information Retrieval (ISMIR), principal evento da área de
Music Information Retrieval (MIR). A conferência tem característica
multidisciplinar, sendo que, de acordo com o site do evento, envolve
estudos de processamento de sinais sonoros e textuais, comportamento
e perl de usuários, propriedades e características da música, classicação
automática, transcrição musical, sistemas de recuperação e recomendação
de músicas, entre outros.
Na medida em que a CI busca trabalhar no sentido de aprimorar
o processo de mediação da informação, de comunicação de ideias,
depara-se com questões relacionadas à organização social, aos sujeitos, às
instituições, questões de ordem linguística, instrumental, semiótica, entre
outros aspectos que interferem na comunicação.
Nesse contexto, inevitavelmente, o panorama epistemológico da
CI se expande em uma interação com diferentes disciplinas, cada qual
evidenciando determinado aspecto do objeto central da área. A Semiótica
de Peirce surge, então, como teoria possivelmente capaz de fornecer um
aparato conceitual para o estudo da dimensão do signicado da informação
corporicada em qualquer tipo de signo.
Para Peirce (1995), a semiose, que é o processo de produção de
signicado, ocorre com base em três correlatos: o signo que, nesse caso, é
a própria música; o objeto, aquilo a que o signo se refere e representa; e o
interpretante, que é o signicado criado na mente que interpreta o signo.
Os três níveis de ocorrência do signicado, ou seja, do interpretante, são:
emocional (sensações, sentimentos, emoções), energético (experiências
particulares, respostas físicas) e lógico (convenção, cognição). Cada
nível de interpretante carrega características (mais ou menos denidas)
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
220 |
das categorias fenomenológicas peirceana, quais sejam: primeiridade,
secundidade e terceiridade, conforme explicaremos mais adiante. No caso
da música, os níveis emocionais e energéticos desempenham um papel
mais evidente que na signicação dos signos verbais de nível lógico, já que
estes últimos são, por natureza, signos de convenção social e linguística.
A CI tem cada vez mais admitido a profunda característica
sociológica da sua constituição como área cientíca. Nas áreas de organização
do conhecimento (OC) e organização da informação (OI), esse aspecto ca
ainda mais evidente quando se percebe que os signicados, de fato, não são
estáticos, pois perpassam por uma série de experiências fenomenológicas
experimentadas por indivíduos continuamente em contato com a
realidade. A leitura de um documento ou a análise do conjunto conceitual
de uma área de conhecimento para ns de sua representação lidam não só
com estruturas da própria linguagem, representada pela sistematização de
diversos signos, mas com o contexto de signicação, com os objetos a que
os signos se referem e, em um prospecto de acesso futuro à informação, com
os possíveis signicados que os signos terão em uma mente interpretante.
Com base nesse contexto desaador e estimulante, o objetivo
deste capítulo é propor parâmetros de fundamento Semiótico para o que
chamaremos de “modelo de leitura do fenômeno”, aproximando esse
processo dos objetivos da indexação.
2 consIderAções sobreAssuntono contexto InformAção
musIcAl
Em Café e Barros (2015) já foram discutidas algumas
especicidades da informação musical quando se pretende delimitar o que
seria o “assunto” da música. De acordo com as autoras, aspectos como
dimensão emocional, percepção social da música, uso, gênero musical,
entre outros (SELFRIDGE- FIELD, 2006; LAPLANTE; DOWNIE,
2006; LAPLANTE, 2010, 2011; HU; DOWNIE; EHMAFNN, 2006;
HU; DOWNIE, 2007) são passíveis de serem representados dependendo
do objetivo do sistema em questão (recomendação de músicas, recuperação
precisa, descoberta, etc.). Muitos desses aspectos estão relacionados à
experiência e comportamento do ouvinte, questão também já admitida
como fundamental em estudos da informação musical (ZANGERLE;
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 221
PICHL, 2018; FONT; SERRÀ; SERRA, 2015; LAPLANTE, 2015; LEE;
DOWNIE, 2004; LEE, 2010; CRUZ, 2011; LEE; CUNNINGHAM,
2013).
Pesquisas envolvendo perl de usuários da informações musical,
devem ter em vista, segundo Lee (2010), os desaos transcultural e
multilíngue, para os quais os modelos
31
de comportamento de busca e
recuperação da informação se mostram demasiadamente genéricos e não
servem como parâmetro para conhecer o comportamento de usuários de
um tipo de informação peculiar como a música. Lee (2010) empreendeu
um amplo levantamento das questões de busca expressadas em linguagem
natural pelos usuários no Google Answer (site de interação entre usuários,
do tipo pergunta-resposta) e, por meio da categorização dos aspectos da
música apontados nas expressões de busca, atestou que a maior parte
das questões se referia a aspectos muito pessoais e centrados no usuário,
quando em comparação com a descrição bibliográca habitual. Como
recomendação para o aprimoramento de sistemas de MIR, a autora sugere
que sejam incorporados termos familiares, bem como o contexto dos
usuários para empreender a recuperação da informação musical.
O desao transcultural (crosscultural) e multilíngue foi tema de
pesquisas anteriores. Lee, Downie e Cunningham (2005) trazem à tona
o problema do desenvolvimento de uma biblioteca digital de música em
nível mundial, já que esse empreendimento implica lidar com distintas
culturas e idiomas, além da problemática da ampla ênfase dada à música
ocidental nas pesquisas em MIR. Seu estudo de caráter exploratório buscou
mapear o comportamento de busca de usuários que procuram músicas de
diferentes culturas em idiomas estrangeiros. Os autores apresentam como
exemplo a questão abaixo exposta, retirada de um site coreano do tipo
pergunta-resposta:
Primeiro de tudo, é muito longo. Apenas o primeiro movimento
parece ir além de 10 minutos. O estado de ânimo [mood] é, em geral,
obscuro e triste. A melodia principal é interpretada por violino e o
piano aparece brevemente. Eu sei apenas que o nome do compositor
tem quatro caracteres quando expressado em coreano. Alguém sabe o
31
Lee (2010) cita como exemplos o modelo sense-making de Dervin, o modelo comportamental de Ellis, o
comportamento informacional humano descrito por Wilson, entre outros.
222 |
título dessa obra? (LEE; DOWNIE; CUNNINGHAM, 2005, p. 2,
tradução nossa
32
).
Em nota de rodapé, Lee, Downie e Cunningham (2005) relatam
que a resposta a essa questão é “e Devil’s Trill”, do compositor italiano
Tartini, cujo nome em coreano tem quatro caracteres: 타르티니. Por
meio da coleta de expressões de busca inseridas no site Google Answers e no
site coreano Naver
지식
(knowledge) iN (da mesma natureza interativa de
pergunta-resposta), os autores zeram comparações entre o comportamento
de busca dos coreanos e dos americanos. Em resumo, as conclusões a que
os autores chegaram apontam para a necessidade de incluir a possibilidade
de busca por meio de características da música que são relativamente mais
neutras culturalmente, ou seja, que são possivelmente universais, como
query-by-humming (já que a sonoridade da música ultrapassa barreiras
linguísticas) e o gênero do artista (masculino/feminino).
Casey et al. (2008) realizaram um levantamento sobre os métodos
utilizados na representação da informação musical, cada qual baseando-
se em determinadas características da música. Entre outras questões, os
autores denem uma escala de três níveis de especicidade de sistemas de
MIR, listados abaixo, de acordo com a precisão com a qual as características
da música podem ser extraídas para ns de representação e de acordo com
a precisão com que essas características podem ser utilizadas no momento
da recuperação, do ponto de vista da relação entre questão de busca e
correspondência com o documento recuperado.
1) Sistemas de alta especicidade: aqueles que utilizam instâncias do
próprio áudio, como conceitos musicais, melodia, harmonia, timbre
e outros aspectos da estrutura da música. Referem-se, portanto, à
descrição exata de cada música individualmente.
2) Sistemas de baixa especicidade: utilizam conceitos mais gerais como
gênero musical, estilo, emoção, entre outros. Nesse caso, são recuperadas
músicas não necessariamente com conteúdo musical em comum com a
questão de busca, mas que compartilham algumas características globais.
32
“First of all, it’s very long. Just the rst movement seems to go over 10 minutes. e mood is dark and sad overall. e
main melody is played by violin and the piano briey appears. I only know that the composers name is four characters
when it is spelled out in Korean. Does anybody know the title of this work?” (LEE; DOWNIE; CUNNINGHAM,
2005, p. 2).
| 223
3) Sistemas de média especicidade: utilizam métricas extraídas do sinal
de áudio para recuperação de músicas. As características extraídas pelos
sistemas de média especicidade podem ser convertidas em informações
para representações tanto de alta quanto de baixa especicidade.
Existem muitas pesquisas que testam aplicações automatizadas
que lidam com a representação da dimensão emocional da música, algumas
dessas aplicações, utilizadas para ns de classicação, recomendação ou
ainda organização de coleções pessoais estão disponíveis no site do ISMIR
33
.
Testes e resultados de variados tipos de aplicações voltados à representação
e recuperação da informação musical são apresentados e confrontados nos
encontros do Music Information Retrieval Evaluation eXchange (MIREX),
organizado pelo e International Music Information Retrieval Systems
Evaluation Laboratory (IMIRSEL), da Escola de Biblioteconomia e Ciência
da Informação da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. O
IMIRSEL possui ainda outros projetos relacionados como o e Virtual
Research Labs (VRL) using Music-to-Knowledge (M2K) e o e Human Use
of Music Information Retrieval Systems (HUMIRS)
34
.
A eciência da representação e recuperação da informação musical
também engloba a forma como a interface do sistema será apresentada ao
usuário. Para Casey et al. (2008), essa questão é fundamental para promover
aos usuários nais do sistema uma efetiva interação e compreensão da forma
como a visualização da informação musical é apresentada, aprimorando,
principalmente, a tarefa de navegação (browsing).
Se adotarmos a visão de Brascher e Café (2010) sobre os
processos de organização da informação, ou seja, representação descritiva
(ligada à descrição física, à catalogação) e representação temática (ligada
à indexação, classicação e condensação) veremos que não é possível
executar a simples transposição da abordagem dedicada ao texto verbal
para a informação musical.
Ocorre que alguns aspectos da música citados anteriormente
(emoções, conceitos gerais) não estão associados à representação
descritiva da informação, já que não podem ser extraídos do próprio
33
Disponível em: http://ismir.net/resources.html.
34
Disponível em: http://www.music-ir.org/evaluation/.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
224 |
documento musical. Nesse sentido, podemos aproximá-los da atividade
de representação temática. Entretanto, esses aspectos também escapam
da análise que o indexador realizaria na intenção de extrair conceitos
relevantes a respeito da temática do documento (LANCASTER, 2004).
Não se busca, exatamente, responder à questão “a respeito do que a música
está tratando?”, mas “a respeito do quê a música passa a tratar quando
interpretada por um ouvinte?” e, nesse caso, o termo “assunto” não reete
a amplitude necessária para a indexação da música.
Em outras palavras, a noção de assunto é mais difusa no contexto
da informação musical. Um exemplo que pode ilustrar essa situação é a
pesquisa dos termos constantes no campo “assunto” da música (gravação
sonora) “Garota de Ipanema”, composta por Vinicius de Moraes e Antônio
Carlos Brasileiro de Almeida Jobim “Tom Jobim”. No quadro abaixo
podemos observar a variação gramatical e semântica dos termos de alguns
desses registros bibliográcos.
Quadro 1 - Termos constantes no campo “assunto” da música Garota de
Ipanema.
unIversIdAde termos do cAmpo "Assunto"
1 Música popular - Brasil
2
Jobim, Tom, 1927-1994.
Música popular - Brasil
3 Quartetos de cordas
4
Música de câmara
Duo (Violino e piano)
Música brasileira
5
Jobim, Tom, 1927-1994.
Música
Música popular - Brasil
Bossa-nova
Fonte: Elaborado pelas autoras.
O quadro mostra a descrição de aspectos de naturezas distintas
relacionados à noção de assunto, como denição de instrumentos,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 225
do gênero musical, do tipo de documento, de aspectos geográcos e
históricos.
Da mesma forma, a noção de “resumo” também é diferente
dependendo do tipo de informação. O resumo no contexto da informação
musical pode ser entendido como aquela pequena amostra da música que
é disponibilizada para que o ouvinte a “experimente” antes de decidir se
vai ou não ouví-la na íntegra. Geralmente, são disponibilizados alguns
segundos do início da música ou do refrão. Huron (2000), considerando
resumo da informação musical um extrato melódico, arma que nem
todas as partes da música são igualmente representativas e que “a prática
de extrair os segundos iniciais (incipt) não é ótima para identicar ou
reconhecer uma obra” (HURON, 2000, p. 2, tradução nossa
35
). O autor
defende que seria mais eciente uma síntese de duas ou mais passagens da
música, editadas em uma única amostra de alguns segundos de duração.
Ensaiando uma aproximação à abordagem mais habitual da CI, pode-se
pensar o resumo da música também como um texto que pode descrever
de forma verbal características da estrutura musical, apresentar uma
crítica musical ou informe de lançamento (os releases).
O próprio termo “tema” tem um signicado institucionalizado
na área da Música, e se refere à melodia principal que a fundamenta e
caracteriza. É um entendimento distinto daquele usualmente trazido pela
CI, de que “tema” e “assunto” compartilham signicados muito próximos.
No processo de indexação de documentos textuais, podemos
executar movimentos cognitivos deliberados buscando, por exemplo, um
assunto geral e exercendo um movimento em direção à sua especicação.
Pode-se também denir um assunto central e depois elencar os aspectos
secundários. Seja qual for o modelo de leitura adotado, a nalidade é a
análise de assunto, identicação, seleção de conceitos e denição de termos
de representação que assegurem o equilíbrio entre exaustividade e precisão
(LANCASTER, 2004).
Já na música, diferentes dimensões do seu signicado se justapõem
podendo ser igualmente centrais, dependendo do contexto. Portanto, o
movimento cognitivo da análise da informação musical não é vertical, ou
seja, não busca a denição de conceito geral/conceito particular, conceito
35
the practice of extracting the initial few seconds (incipit) is not optimum for identifying or recognizing a work.”
(HURON, 2000, p. 2).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
226 |
central/ conceito secundário. É um movimento horizontal que se direciona
para uma e outra dimensão de signicado, avaliando sua relevância para o
contexto que se apresenta. Por exemplo, utilizar o termo “pop para malhar”
ao descrever uma música em um site de streaming é tão relevante quanto
utilizar o termo “sonata” na descrição voltada a músicos especialistas. Nesse
contexto, a mediação daquele que realiza a indexação se dá no sentido de
pensar como facilitar a comunicação das experiências dos usuários para
outros usuários, ou seja, não é o “conteúdo” da música que é descrito,
mas a experiência/entendimento do usuário. Nesse caso, a noção de leitura
técnica pode ser substituída por uma abordagem que olha para as expressões
de emoções e opiniões como elementos potencialmente descritivos. Dessa
forma, a denição do “assunto” da música precisa, necessariamente, da
contribuição dos próprios usuários, seja no fornecimento ou na validação
constante de termos e dimensões de representação.
Assim, convidamos o leitor a abrir sua mente para uma nova
noção de “assunto” que ainda está em construção e, portanto, inacabada.
Trata-se de ampliar a visão de indexação para além do delineamento
já conhecido pela CI, aceitando dimensões da informação que nem
sempre estarão em acordo com os preceitos de precisão, consistência e
constância da indexação.
Sabe-se que a indexação é um processo interpretativo. Essa
intrínseca característica interpretativa que compõe a efetivação da indexação
é abordada por Mai (2001) como um atributo que está presente em todas
as fases desse processo. Em função dessa característica, a indexação traz
consigo uma frágil certeza de seu resultado pelo principal fato de que a
interpretação está longe de ser neutra, independentemente da vontade do
indexador de sê-lo. Na CI, sabemos que a não existência da neutralidade na
leitura documental se deve, em primeira instância, à orientação do processo
de indexação para um grupo de usuários denido. Entretanto, mesmo com
a adoção de certos parâmetros, a interpretação per se não é neutra, pois ela
está entrelaçada com o contexto do indexador, responsável pela busca dos
possíveis signicados. Assim, Mai (2001) defende que a indexação, seja
qual for a quantidade de etapas que se considere que tenha, é um processo
que, como um todo, é de natureza interpretativa e, portanto, se dá por
meio de signos. Ou seja,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 227
[...] apesar de cada um dos elementos da indexação de assunto –
documento, assunto, descrição de assunto e entrada de assunto
– serem signos, cada um é um tipo diferente de signo, que fará
uma considerável diferença na forma de abordá-los e interpretá-los.
(MAI, 2001, p. 611, tradução nossa
36
).
Sousa e Almeida (2012) expõem a questão de como se constitui
o referente que o indexador adota no momento de representar o assunto
de um documento. A principal questão levantada pelos autores é que o
indexador não compartilha da mesma realidade que o usuário, ou seja,
não tem a mesma experiência que o usuário atinge na sua realidade,
aspecto de especial relevância para a informação musical. Dessa forma,
para alcançar certos signicados, o indexador tem como referente as
delimitações apresentadas nos Sistemas de Organização do Conhecimento
e na sua própria vivência. “O indexador só tem a experiência sociocognitiva
gerada a partir do contato com as obras, mas não possui a experiência de
um especialista da área dos documentos que tem de indexar.” (SOUSA;
ALMEIDA, 2012, p. 30) e é por meio dessa experiência com as obras que
é extraída a constituição do referente e, por decorrência, do signicado.
Para além da leitura documentária (FUJITA, 2004, 2013,
KOBASHI; SANTOS, 2011), a informação musical exige um processo
ainda mais exível de interpretação, daí nossa proposta da abordagem
Semiótica, teoria capaz de possibilitar a análise da expressão e da experiência
musical (DOUGHERTY, 1994). Assim, nos parece que não são as teorias
utilizadas no estudo da representação temática que são insucientes, mas
que a música é um objeto que ultrapassa essas teorias na medida em que
suscita signicados peculiares. A perspectiva semiótica, portanto, vem
contribuir para a ampliação desses estudos, com o intuito de acrescentar
novos olhares às abordagens teóricas já adotadas, e não substituí-las.
A música pode carregar certos signicados, representações e relações
intencionadas pelo compositor, expressa Svenonius (1994), mas, por outro
lado, tem o poder de suscitar sensações e relações (similares ou distintas
daquelas intencionadas pelo compositor). Aí a questão da indexação se envolve
36
“[...] although each of the elements in the subject indexing process – document, subject, subject description and
subject entry – are signs, that each is a dierent kind of si.gn will make a considerable dierence in how one approaches
them and interprets them.(MAI, 2001, p. 611).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
228 |
com uma especicidade peculiar desse tipo de informação, diferentemente
da linguagem discursiva, que é relativamente mais objetiva e referencial.
Situação similar ocorre com outros materiais que não são utilizados para ns
de documentação (como poesia, escultura etc.).
3 Introdução à semIótIcA de peIrce
Para Peirce (1995), a concepção de representação é fundamental
ao próprio pensamento e ocorre em uma relação triádica entre três
correlatos: signo ou representâmen, objeto e interpretante.
O signo, para que assim possa ser entendido, precisa estar no lugar
de outro, referir-se a outro, representar. Essa referência ao objeto signica
que deve ser possível expor, logicamente, algum atributo ou contexto que
explique essa representação. Esse atributo ou contexto pode ser entendido
por meio do fundamento do signo, ou seja, por meio de determinado
aspecto do objeto dinâmico emanado no signo que o constitui e emprega-
lhe a possibilidade de representação. Em outras palavras, algo precisa
conectar o signo ao objeto e esse “algo” é o fundamento.
Para Peirce (1995), a forma como se dá a experiência com o
fenômeno na realidade desencadeia e inuencia o desenvolvimento dos
processos signicativos. Esse é um princípio que fundamenta a noção de
pragmatismo adotada na semiótica do autor. Dessa forma, para Peirce
existe de fato uma realidade última, que independe da nossa vontade
(uma tendência ao realismo), porém, o entendimento dessa realidade é
sempre aproximativo na medida em que tal entendimento perpassa pelos
processos semióticos que envolvem toda e qualquer relação do ser com o
mundo (SILVEIRA, 2007). Considerando não uma dicotomia, mas um
continuum entre mente e matéria, esse entendimento da realidade é, então,
novamente confrontado com a experiência, reforçando ou formando novos
signicados. Dentro da semiótica, a pertinência do pragmatismo peirceano
para a abordagem da informação musical está justamente na relevância da
própria experiência fenomenológica, em qualquer nível, como base para
análise desse tipo de informação. É preciso observar como de fato ocorre a
percepção do fenômeno, quais elementos concorrem para a interpretação
da música no real momento em que a experiência ocorre. Considerar a
interpretação e representação da música no sentido semiótico é operar
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 229
com os signicados pragmaticamente atualizados pelos usuários, ou seja,
os interpretantes.
Para Peirce (CP 1.184) , a Fenomenologia se apresenta como
ciência fundamental da sua Filosoa na medida em que “descreve o
universo da experiência” (SILVEIRA, 2007, p. 38) tendo, portanto, como
central interesse, os “[...] componentes elementares que caracterizarão
os fenômenos que preenchem o universo da experiência.” (idem). Peirce
chamou esses componentes elementares de “categorias”. Às categorias
fundamentais dos fenômenos Peirce (1995) denominou primeiridade
(rstness), secundidade (secondness) e terceiridade (thirdness). A atualização
do interpretante acompanha a lógica das categorias, podendo ser um
interpretante emocional (primeiridade), energético (secundidade) ou
lógico (terceiridade).
A primeiridade está relacionada com o sentimento, “[...] um
sentir meramente passivo que não atua e não julga” (PEIRCE, 1995, p.
14), a consciência de um instante no tempo, “[...] consciência passiva da
qualidade, sem reconhecimento ou análise.” (PEIRCE, 1995, p. 14). Na
primeiridade, dá-se apenas a sensação imediata e espontânea. No caso da
música, o interpretante emocional pode ser exemplicado pela ocorrência
de um som ambiente, em que a percepção do som ocorre, mas esse não é
identicado. O som permanece apenas uma qualidade sonora, sem uma
apreciação direta. Nessa categoria, o interpretante pode também ser um
tipo de emoção, ou seja, a percepção de diversas qualidades e sensações
que se traduzem em um sentimento mais complexo (MARTINEZ, 2001,
p. 156), como alegria, inveja, raiva, etc.
A secundidade, segundo Peirce (1995, p. 14), compreende um
“[...] sentido de resistência [da consciência], de um fato externo ou outra
coisa”. Assim, o reconhecimento da realidade é presença da secundidade na
medida em que “[...] a realidade é aquilo que insiste, nos força a reconhecer
um outro diferente do espírito.” (PEIRCE, 1983, p. 90, grifo do autor). O
interpretante energético da música está relacionado à ressonância física do
som no corpo do intérprete, de forma mais ou menos consciente. Das
situações menos conscientes, depreende-se a ocorrência de movimentos
instintivos, como o arrepio. Os movimentos conscientes são interpretações
que resultam em ações como cantar e dançar. A secundidade também pode
ocorrer somente no âmbito mental, mas com a característica de haver
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
230 |
um esforço como resposta ao estímulo externo do som. Como exemplo,
podemos pensar no empenho do ouvinte em tentar compreender a letra
ou a estrutura da música.
A terceiridade é a “[...] consciência sintética, reunindo tempo, sentido
de aprendizado, pensamento.”, envolve, portanto, cognição (PEIRCE, 1995,
p. 14). Na categoria da terceiridade, por meio do pensamento, representamos
e reconhecemos o mundo de forma deliberada. É o pensamento deliberado
que diferencia o interpretante lógico do emocional, que tem a consciência
passiva como traço denidor ou do interpretante energético, que se baseia
na repercussão e resposta como efeitos interpretativos. O interpretante
lógico da informação musical pode ser visualizado na interação do ouvinte
com os aspectos textuais da música como o conteúdo da letra, análise e
reconhecimento (mesmo que hipotético) de instrumentos e vocais ou ainda
o estabelecimento da relação da música com outros aspectos da memória
como outros momentos e locais.
É importante ressaltar que na medida em que se experiencia
um fenômeno de terceiridade, aspectos de primeiridade e secundidade
terão também existência, ainda que de modo menos evidente. O mesmo
ocorre com um fenômeno de secundidade, que terá em si a primeiridade
também presente na experiência. Peirce considera o princípio da
continuidade como fundamento de especial relevância para qualquer
elemento da realidade. Assim, compreende que as regularidades não
são absolutas, mas estão em evolução para certo grau de aproximação
de como a mente ou o mundo orgânico geral deve se comportar. Em
outras palavras, os signicados mudam, são exíveis, se modicam e se
atualizam conforme se dão nossas experiências. Especialmente no âmbito
da música, essa característica precisa ser considerada quando pensamos
nos processos de organização da informação.
Essa brevíssima introdução à Semiótica de Peirce tem o objetivo
de apresentar os níveis de interpretante, ou seja, as possibilidades de
signicação da música, como base para análise da informação musical.
Tal base, nos fornece um percurso analítico útil à descrição dos assuntos
relacionados a esse tipo de informação, já que a lógica da linguagem
musical é diferente daquela da linguagem verbal. O signicado da música
e os possíveis assuntos a ela conectados não provém, necessariamente, da
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 231
lógica da sua sintaxe ou da estrutura da sua textualidade (combinação de
notas, sons, etc.), mas das percepções imputadas à música pelos ouvintes.
Também é relevante sinalizar que estamos tentando um tipo de
tradução por meio da verbalização de uma informação não verbal e de
signicados que não têm início na linguagem verbal (como teria a leitura
de um texto, por exemplo). É uma adaptação, ainda que experimental,
da teoria semiótica com vistas ao uso de palavras para representação
e objetivação de outros sistemas comunicativos que não se baseiam
fundamentalmente em palavras (sentimentos, ações, metáforas…).
4 modelo de leIturA do fenômeno musIcAl pArA fIns de IndexAção
Com base na Semiótica de Peirce e nas considerações a respeito
das características da informação musical discutidas anteriormente, o
modelo de leitura que propomos tem como base um tipo de classicação
ou associação dos elementos percebidos em cada nível de interpretante
com os elementos cotados como potenciais descritores desses mesmos
níveis, aplicáveis à indexação. A partir dessa análise classicatória de
elementos, podemos criar parâmetros para representação de assunto
da música. É relevante, no entanto, nos mantermos atentos e críticos já
que a proposta implica na transposição dos conceitos coletados de uma
teoria geral dos signos, a Semiótica, para uma teoria muito especíca,
com nalidades bem particulares, que é a representação da informação.
Por outro lado, considerando-se que toda experiência fenomenológica, em
todos os seus níveis, implica na interação dos e com os signos, é razoável
que os princípios teóricos da Semiótica nos guiem no desvelamento dos
possíveis signicados da música. Desses signicados, a Semiótica também
nos mostra quais elementos são mais constantes, mais estáveis, com maior
nível de generalidade e quais são mais variáveis, precisando de atualização
recorrente quando da sua “tradução” e registro para uma forma verbal,
como o termo.
Vale registrar que em Barros, Café e Laplante (2019), a abordagem
semiótica é aplicada na análise do autorrelato dos usuários da informação
musical. Os usuários narram, com suas próprias palavras, experiências
intensas com a música e, a partir dessas narrações, as autoras extraem
expressões que se referem à descrição do signo (a música), dos objetos e
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
232 |
dos interpretantes alcançados na semiose relatada. A pesquisa, apesar
de apresentar objetivos distintos da discussão em andamento aqui, tem
importante contribuição para a proposta que ora apresentamos.
Propomos, assim, uma matriz conceitual como modelo de leitura
da informação musical para ns de indexação, dividida em três grandes
dimensões, correspondentes às categorias fenomenológicas e níveis de
interpretante, conforme abaixo.
Quadro 2 - Matriz Semiótica de leitura da informação musical para ns
de indexação.
cAtegorIA
fenomenológIcA
nível de
InterpretAnte
nAturezA do elemento
A ser descrIto
exemplos
Primeiridade Emocional
Sentimentos mais ou
menos denidos
Alegria, tristeza, raiva (...)
Ambiência Calma, divertida (...)
Apreciação crítica Boa, bonita (...)
Secundidade Energético
Uso da informação
musical
Para estudar, para dançar,
para fazer exercícios físicos,
para concetração (...)
Terceiridade Lógico
Estrutura musical Instrumentos (violão,
música vocal, música
instrumental, vocal
feminino/masculino,
auta). Tonalidade.
Arranjo (redução para
piano) (...)
Histórico Biograa do artista,
história da banda. história
da cansão (...)
Letra Letra da música (...)
Gênero musical Samba, partido alto, rock,
reggae (...)
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 233
Da perspectiva Semiótica, a leitura do fenômeno que implica
a informação musical tem como base o usuário, o momento da sua
experiência e a interpretação resultante da experiência musical. Por isso,
para além da leitura, essa matriz propõe uma compreensão do fenômeno
musical nas suas três dimensões.
Cada dimensão apresenta um grau de relevância diferente,
dependendo do objetivo da representação. Conforme apresentamos
anteriormente, tal objetivo pode estar relacionado ao contexto do usuário
no que se refere a seu objetivo no uso da informação musical; ao seu
grau de conhecimento formal de música ou de temas a ela relacionados
(músicos, historiadores, antropólogos, repórteres, ouvinte leigo, etc.); seu
grau de engajamento com a música (tempo dedicado à atividade de escuta
ou outras atividades que envolvam música, como participação em shows,
grupos de fãs, etc.). O objetivo da representação, naturalmente, também
está relacionado ao objetivo do serviço de informação como recomendação,
descoberta, etc. Cabe ao prossional da informação denir os elementos
de descrição que melhor atenderão ao contexto de representação.
Cada dimensão, de acordo com as características das categorias
fenomenológicas, apresentam um grau diferente de precisão de
representação. Bem como possibilidades diferentes de que os elementos
correspondentes sejam determinados pelo prossional que realiza a
representação ou pelo próprio usuário, conforme veremos a seguir.
Na representação da informação musical considerando o nível
emocional, a participação do usuário é fundamental. Seja no fornecimento
de inputs para aprendizagem do sistema de descrição automática, seja para
fornecer os próprios termos e expressões de descrição. Na verbalização
destes signicados é muito comum o uso de gírias, metáforas, analogias
e outras expressões linguísticas. Como Félix Mendehlsson (1809-1847),
compositor do início do período romântico já armou: “Os pensamentos
que me são expressos pela música que eu amo não são muito indenidos
para serem colocados em palavras, mas, pelo contrário, são denidos
demais.” (MENDEHLSSON apud SHORT, 2007, p. 204).
A característica principal deste nível é a pluralidade de
signicados, já que representa a experiência particular, passada ou presente
do ouvinte. Sentimentos e emoções não estão relacionados à música em
si, mas a lembranças, momentos, sensações, etc. Neste sentido, observa-se
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
234 |
que, apesar de relevante para a recuperação, a precisão e o controle de
vocabulário (univocidade) não são o objetivo principal no caso do nível
emocional da música, sobressaindo-se a noção de variação de vocabulário.
A heterogeneidade do vocabulário é o que o aproxima mais de representar
“elmente” o signicado neste nível. Nesse contexto, a tarefa de tradução da linguagem
natural para uma linguagem documental (CINTRA, 2002), como é considerada nas
teorias de indexação, é uma tarefa que pode implicar na perda da riqueza semântica
da expressão das emoções. Termos que inicialmente parecem opostos (como alegria/
tristeza), podem ocorrer para representar a mesmo música, não sendo essa situação
um caso de contradição ou falta de consistência de indexação. O mesmo não ocorre
com o nível lógico de signicados, pois nesse nível certas referências a objetos mais
ou menos xos precisam ser mantidas já que representam convenção (por exemplo, a
ideia de autoria, gravadora, ano, etc.).
A representação da informação musical considerando o nível
energético se caracteriza principalmente pela recomendação de uso. Nesse
caso, características da música em si como bpm (batidas por minuto),
instrumentos, tonalidade podem ser fontes para a descrição automática
da música por meio de algoritmos que executem a análise, relacionem
essas características e classiquem automaticamente a música. Entretanto,
a participação do usuário na conrmação dessa análise automática é
desejável. Essa participação pode se dar por meio do mapeamento do perl
de escuta, da avaliação do ouvinte ao escutar a música, ou outras formas de
compartilhamento de experiência.
No nível lógico, os elementos de descrição são mais estáveis, ou
seja, têm maior probabilidade de alcançar uma certa generalidade na forma
como são percebidos. A letra da música, sua estrutura (como tonalidade)
ou a biograa dos artistas são elementos que têm menor dependência
da percepção do ouvinte, porém, têm maior dependência das condições
prévias do ouvinte para percebê-los. Por exemplo, não é a percepção do
ouvinte que vai determinar se a canção está em tonalidade de “lá maior”,
já que o que dene a tonalidade é uma série de regras convencionais do
âmbito da música. Entretanto, se o ouvinte não tem conhecimento formal
de música, não poderá perceber esse signicado.
De qualquer forma, os conceitos referentes ao nível lógico de
interpretação são aqueles com maior possibilidade de serem extraídos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 235
automaticamente ou denidos pelo indexador, precisando de menos
intervenção humana para serem endossados.
Sendo o gênero musical uma forma muito comum de as pessoas
se referirem à música, cabem algumas considerações especícas sobre esse
tema. Os gêneros musicais não são demarcados somente pela forma ou estilo
de um texto musical em sentido estrito mas, sim, “[...] pela percepção de
suas ‘formas’ e ‘estilos’ pela audiência através das performances pressupostas
pelos gêneros.”. (JANOTTI JUNIOR, 2003, p. 37). De acordo com Janotti
Jr. (2003), o gênero musical é denido por três elementos: o princípio
mercadológico representado pelas produtoras/gravadoras, a crítica musical
exercida pela mídia e pelos grupos reais e potenciais de consumidores, fãs e
ouvintes. Assim, na medida em que essas referências se modicam histórica
e geogracamente, as denições de gênero musical também se modicam.
Por exemplo, os parâmetros culturais que deniam o gênero “rock” na
década de 1950, período de músicos como Elvis Presley e Chuck Berry,
passaram por modicações substanciais tendo-se, na década de 1990, a
band e Strokes como um exemplar desse gênero.
Abrahamsen (2003), quando discute a descrição dos gêneros
musicais, arma que a música clássica parece ter uma melhor diferenciação
nas categorias que representam o gênero musical do que a música popular.
Esse aspecto revela um tipo de visão de mundo, de desenvolvimento e
construção de discurso, pois, de fato, o aparato teórico que acompanha o
desenvolvimento da música clássica de origem europeia fornece parâmetros
que delimitam tecnicamente a diferenciação entre seus subgêneros.
Diferentemente da música popular em que elementos muito além dos
técnicos e estruturais competem para formar a ideia não terminada do que
se entende que seja determinado gênero musical.
Em resumo, o modelo de leitura propõe uma sequência de
análise que começa por observar o fenômeno musical em seus aspectos de
primeiridade, secundidade e terceiridade e os possíveis interpretantes de
cada nível (cujos exemplos estão no quadro 2). A segunda etapa, após o
mapeamento dos interpretantes, é buscar a melhor forma de expressá-los
em linguagem verbal, sendo que a fonte de levantamento e coleta de termos
varia conforme as características de cada nível. No nível emocional: menor
controle de vocabulário, necessário maior participação do usuário; no nível
energético: pode-se contar com mais apoio de sistemas automatizados e
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
236 |
participação do usuário no renamento do sistema; no nível energético:
possibilidade de maior uso de sistemas automatizados ou denições a priori,
possibilidade de maior controle de vocabulário e, portanto, de uso de fontes
formais de conhecimento para representação do domínio da música.
5 consIderAções fInAIs
Todos os signicados são corrigidos (no sentido de serem ajustados)
conforme se dão nossas experiências. Isso é o que Mai (2011) chama de
distância semiótica” da realidade. Assim, a utilização da linguagem verbal
para traduzir as concepções que têm origem na experiência com o som é,
necessariamente, revista e modicada de acordo com as novas signicações
imputadas à música no contexto social - e sempre de forma meramente
aproximativa.
Em um contexto complexo como o da música, que envolve
elementos de naturezas diversas na sua caracterização, a tecnologia pode ser
uma aliada importante na automatização de certas tarefas, na possibilidade
de se trabalhar no cruzamento de uma quantidade maior de informações
como fontes para representação da música mas, principalmente, na
possibilidade de interação com o usuário. Especialmente no que se trata de
representação de emoções (muito comum nos sites de serviço streaming) é
fundamental que se abra espaço para o input humano de forma a enriquecer
o âmbito da informação musical.
Quando se trata da música do ponto de vista da informação, o
usuário não ocupa somente o papel de “utilizador” da informação. Esse ator
do processo de mediação é fundamental na denição de qual a real dimensão
que a música ocupa no âmbito social e, portanto, na denição do quê e de
como se deve falar sobre música, especialmente no âmbito da CI.
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pArte 2
M   
     

| 243
10
processo de leIturA pArA AnálIse documentAl:
proposIção metodológIcA
Mariângela Spotti Lopes FUJITA
Milena Polsinelli RUBI
resumo: Desencadeados pela leitura documentária, os resultados da análise e da
representação documental são a identicação e seleção de termos, que serão correspondentes
aos conceitos do documento. Diferentemente de leitores “comuns”, os leitores que fazem
a leitura documentária para a indexação estão sujeitos a aspectos que condicionarão a sua
leitura. Objetivou-se apresentar o Modelo de leitura, o Manual de Explicativo e exemplos
de exercícios que demonstram a aplicabilidade do Modelo para a formação de futuros
prossionais e para aqueles que já atuam em contexto de uma unidade de informação. A
utilização do Modelo de leitura com a aplicação prática permitiu demonstrar o percurso
da leitura realizada pelo leitor prossional durante a indexação. Consideramos no Modelo
um importante instrumento didático ao combinar a exploração da estrutura textual com
o questionamento para a identicação de conceitos para que a leitura documentária possa
ser mais rápida e estratégica.
pAlAvrAs-chAve: Leitura documentária. Análise documental. Modelo de leitura
documentária. Indexação.
AbstrAct: Unleashed by documentary reading, the results of analysis and representation
documentary are the identication and selection of terms, which will correspond to
the concepts of the document. Unlike “ordinary” readers, readers who do documentary
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
244 |
reading for indexing are subject to aspects that will condition their reading. e objective
was to present the Reading Model, the Explanatory Manual and examples of exercises
that demonstrate the applicability of the Model to the training of future professionals
and to those who already act in the context of an information unit. e use of the
Reading Model with the practical application allowed to demonstrate the course of the
reading made by the professional reader during indexing. We consider in the Model an
important didactic tool when combining the exploration of the textual structure with the
questioning to identify concepts so that the documentary reading can be more rapid and
strategic.
Keywords: Documentary reading. Documentary analysis. Documentary reading model.
Indexing.
1 Introdução
A leitura documentária é o início da tarefa que leva ao
processamento e ao tratamento da informação, permitindo a realização da
indexação, classicação e elaboração de resumos. Procedimentos esses que
requerem, por meio da compreensão do que foi lido: a identicação de
conceitos que representarão o conteúdo para futura recuperação em uma
unidade de informação, seja essa representação palavras-chaves, número de
classicação ou a síntese de um conteúdo documental.
Nesse caso, concentraremos os estudos na indexação e na sua
representação temática – as palavras-chave ou os descritores – considerando
essa representação documentária como resultado da análise documental
feita dos documentos lidos pelo leitor em uma unidade de informação.
A atribuição de palavras-chave a um artigo, por meio da indexação
e que começa com a leitura documentária, pode ser auxiliada efetivamente
pelo Modelo de leitura documentária para a indexação de textos cientícos
e de livros (FUJITA; RUBI, 2006; FUJITA 2007).
O Modelo de leitura documentária é resultado de estudos sobre
leitura e leitura documentária, fundamentados, realizados e descritos
cronologicamente por Fujita (2017) em que a autora explica que “O
modelo de leitura é uma proposição de aprimoramento e evolução da
metodologia de indexação a partir da metacognição do indexador que
poderá ser oferecida na formação do indexador em leitura documentária.
(FUJITA, 2017, p. 41).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 245
Dessa forma, o Modelo de leitura documentária combina estratégias
de exploração de estruturas textuais e de abordagem sistemática para
identicação de conceitos, partindo da pressuposta diculdade do leitor frente
à complexa tarefa de análise, identicação e seleção de assunto de documentos.
Assim, o objetivo do Modelo de leitura é instrumentalizar, de
maneira didática, prossionais e estudantes para que possam aplicá-lo no seu
fazer diário quando precisam atribuir palavras-chave a um artigo, por exemplo.
O Modelo se propõe como uma metodologia para compreensão do conteúdo
e análise de assunto, e consequente identicação e seleção de conceitos em
documentos que será relevante para a recuperação da informação.
Nosso objetivo, portanto, é apresentar o Modelo de leitura bem
como seu Manual de Explicativo e exemplos de exercícios que elucidarão
passo-a-passo, a aplicabilidade do Modelo tanto para a formação de futuros
prossionais como para aqueles que já atuam em um contexto de uma
unidade de informação.
2 referencIAl teórIco
A análise e a representação documental são aspectos importantes
a serem considerados na recuperação e no uso da informação em unidades
de informação.
Desencadeados pela leitura documentária, os resultados dessa
análise e representação são a identicação e seleção de termos, que serão
correspondentes aos conceitos do documento para o usuário nal.
De acordo com Moreira, Santos e Vitorini (2017, p. 159)
Para que se efetue a análise documentária, requer-se a realização
de leitura documentária, uma modalidade de leitura prossional
que consiste na análise do conteúdo do documento visando a
identicação e a distinção das informações essenciais e acessórias,
sendo que tal distinção ocorre conforme os interesses relativos ao
contexto em que se produz a análise. Utilizando-se de técnicas
de condensação documentária adequadas à modalidade de
representação que se deseja construir, as informações essenciais
são reelaboradas como representações documentárias e passam a
compor, nessa condição, sistemas de informação documentária.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
246 |
Diferentemente de leitores “comuns”, os leitores que fazem a
leitura documentária para a indexação estão em um contexto de unidade
de informação e sujeitos a aspectos que condicionarão a sua leitura como,
por exemplo: o volume de documentos a ser lido, o tempo a ser despendido
dessa tarefa, os usuários a serem atendidos, entre outros.
Considerando esses aspectos, Redígolo e Fujita (2015) enfatizam
que é necessário formar ou capacitar essa pessoa para uma leitura prossional
em que os objetivos do contexto prossional onde ela está inserida sejam
sobrepostos aos seus objetivos pessoais.
Moreira, Santos e Vitorini (2017) apresentam claramente dois
aspectos que diferenciam o leitor comum do leitor prossional e leitura
prossional da leitura documentária: as técnicas empregadas e a tipologia
de recursos empregados, respectivamente.
Complementando a visão das armações anteriores, Terra (2017,
p. 52) arma que esses leitores
[...] precisam de realizar uma leitura bem estruturada e seguir
um método sistematizado que apoie a identicação dos conceitos
do documento, permitindo a compreensão da temática, e o
reconhecimento dos termos representativos equivalentes usando a
linguagem documental em uso no serviço de informação.
Sobre isso, corroboram Redígolo e Fujita (2015) quando armam
que, devido à importância dos resultados obtidos com a representação do
conteúdo documental, e ao fato de que a leitura prossional não poder ser
linear, ela deve ser cuidadosamente pensada. Considerando isso, as autoras
citam estudos que indicam partes do texto que devem ser consideradas na
leitura prossional: Cavalcanti (1989), ABNT 12.676 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992), Mai (1997), Fujita
(2004) e Redígolo (2010).
Essa indicação de partes a serem lidas demonstra uma preocupação
em sistematizar de alguma forma um método para identicação de termos,
considerando a complexidade do processo da leitura e da indexação.
Assim, Fujita (1999) respalda essa armação quando diz:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 247
Acreditamos que o domínio da estrutura textual relacionada
à identicação de conceitos, poderia oferecer uma abordagem
melhor sustentada para oferecer agilidade à leitura documentária
como também assegurar uma uniformidade de procedimentos ao
tratamento temático de informações
.
Maimone, Kobashi e Mota (2016) alertam que a indexação é
fundamental para que ocorra a adequada recuperação de informações.
Sendo assim torna-se necessário buscar formas cada vez mais aprimoradas
de realizar esse processo.
Considerando o exposto e os estudos desenvolvidos desde 1993
por Fujita (2017), constituídos pelo arcabouço teórico na literatura
cientíca nacional e internacional, além de embasamento propiciado pela
aplicação prática dos resultados obtidos, foi elaborado o Modelo de Leitura
documentária para textos cientícos (FUJITA; RUBI, 2006).
Para tanto, foram considerados os subsídios teóricos sobre
estrutura textual e a existência de propostas metodológicas que combinam
a exploração da estrutura textual com a identicação de conceitos, bem
como metodologias de identicação de conceitos pela análise conceitual e
abordagem sistemática.
3 proposIção metodológIcA
Considerando o percurso teórico desenvolvido, apresentamos a
seguir uma proposição metodológica com o objetivo de instrumentalizar
estudantes e prossionais durante o processo de leitura para a análise
documental.
Essa proposição é composta por três itens:
1. Manual de ensino do Modelo de leitura documentária para
indexação de textos cientícos (FUJITA, 2007);
2. Modelo de leitura documentária para textos cientícos: passo-a-
passo (FUJITA; RUBI, 2006).
3. Exercício de aplicação.
248 |
O “Modelo de leitura” (Quadro 1) foi elaborado em 2006, e
consiste, fundamentalmente, da caracterização de conceitos, segundo
análise conceitual do PRECIS; da identicação de conceitos, mediante
abordagem sistemática da Norma 12.676; da localização dos conceitos em
parte do texto; da apresentação de termos que representam conceitos.
Quadro 1 - Modelo de Leitura Documentária para textos cientícos:
identicação de conceitos por questionamento em partes da estrutura textual.
CONCEITO
(ANÁLISE
CONCEITUAL)
QUESTIONAMENTO
(NORMA 12.676)
PARTE DA
ESTRUTURA
TEXTUAL
OBJETO O documento possui em seu contexto um objeto
sob efeito de uma atividade?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
AÇÃO O assunto contém um conceito ativo (por
exemplo, uma ação, uma operação, um processo
etc.)?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
AGENTE O documento possui um agente que praticou
esta ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
MÉTODOS DO
AGENTE
Este agente refere-se a modos especícos para
realizar a ação (por exemplo, instrumentos
especiais, técnicas ou métodos)?
METODOLOGIA
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
Todos estes fatores são considerados no contexto
de um lugar especíco ou ambiente?
METODOLOGIA
CAUSA E
EFEITO
São identicadas algumas variáveis dependentes
ou independentes?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS
PONTO DE
VISTA DO
AUTOR;
PERSPECTIVA
O assunto foi considerado de um ponto de vista,
normalmente não associado com o campo de
estudo (por exemplo, um estudo sociológico ou
religioso)?
CONCLUSÕES
Fonte: Fujita; Rubi (2006).
Com a experimentação do “Modelo de leitura...” em diversas
oportunidades em sala de aula de graduação, apresentação de trabalhos
em eventos cientícos, desenvolvimento de outras pesquisas, artigos
publicados, foi necessário seu aprimoramento que resultou em mudanças
mais adequadas ao uso como se verá a seguir no “Passo-a-passo” (FUJITA,
2007) que acompanha o Modelo de Leitura adaptado (Quadro 2).
Esse “Passo-a-passo” foi idealizado para que o aluno de graduação ou o
prossional tenha um roteiro que o oriente de modo mais rápido sobre a
sequência de etapas do que deveria fazer e, também, ter um conjunto de
dicas e observações que são importantes para a identicação e seleção de
conceitos.
Já o “Manual de ensino”, foi elaborado por Fujita (2007) após o
“Modelo de leitura...” e considera também os resultados de pesquisa com
a metodologia do Protocolo Verbal de experimentação do “Modelo de
leitura”.
O “Manual de ensino” que deve ser lido integralmente antes do
uso do “Modelo de leitura” de modo a compreender com profundidade a
aplicabilidade do “Modelo de leitura” a qualquer texto.
Dessa forma, apresentamos o “Manual de ensino do Modelo de
leitura documentária para indexação de textos cientícos” e em seguida o
“Modelo de leitura documentária para textos cientícos: passo-a-passo”.
Após a apresentação do Manual e do Modelo, sugerimos um
exercício de aplicação da proposta metodológica.
mAnuAl de ensIno do modelo de leIturA documentárIA pArA
IndexAção de textos cIentífIcos
A leitura documentária, realizada pelo indexador na fase de análise,
visa propiciar a “identicação de conceitos” para posterior representação
em índices que satisfaçam a demanda do usuário.
A indexação em análise documentária, sob o ponto de vista
dos sistemas de recuperação de informação, é reconhecida como a parte
mais importante porque condiciona os resultados de uma estratégia de
busca. O bom ou o mau desempenho da indexação reete-se na recuperação
da informação feita através de índices. Isso nos leva a considerar que a
recuperação do documento mais pertinente à questão da busca é aquela
cuja indexação proporcionou a identicação de conceitos mais pertinentes
ao seu conteúdo, produzindo uma correspondência precisa com o assunto
pesquisado em índices.
Na identicação de conceitos, o indexador, após o exame do texto,
passa a abordá-lo de uma forma mais lógica a m de selecionar os conceitos
que melhor representem seu conteúdo. E a seleção de termos é necessária,
tendo em vista os objetivos para os quais as informações são indexadas.
Assim, nem todos os conceitos identicados serão necessariamente
selecionados.
No contexto da análise para indexação, a leitura é a atividade
principal da indexação, pois, sendo a fase inicial, inuenciará o desempenho
de outras operações e resultará na seleção de termos que irão representar o
documento para o usuário. Assim, a leitura passa a ter uma conotação mais
direcionada aos objetivos da indexação, diferente daqueles para outros ns.
Considerando que a identicação de conceitos é o objetivo
da leitura documentária e a operação mais importante da indexação, os
resultados obtidos em pesquisas (FUJITA; RUBI, 2006) levam às seguintes
conclusões:
- a identicação de conceitos pode depender do domínio do indexador na
exploração da estrutura textual;
- existem duas operações distintas realizadas pelos indexadores durante (e
não após!) a leitura – Identicação de conceitos e Seleção de termos.
Assim, essa instrução de leitura estará dividida em três
procedimentos principais:
Exploração do conhecimento da estrutura textual
Identicação de conceitos
Seleção de conceitos
I – exploração do conhecImento de estrutura textual
1. Observação da estrutura textual: Localize no texto cientíco os elementos
que o compõe, mesmo que não estejam evidentes através de itens ou
sinalizados por meio de destaques. Todo texto possui uma estrutura, evidente
| 251
ou não, que podemos denominar de superestrutura. Essa observação deve
ser feita, portanto, com base na superestrutura, pois indicará, com maior
objetividade, qual é o assunto tratado no texto, evitando desse modo, que
se cometam equívocos:
Título em português
Título em inglês
Autoria
Resumo do trabalho cientíco
Palavras-chave
Abstract
Keywords
Introdução
Materiais e métodos
Resultados
Figuras
Discussão dos resultados
Conclusões
Referências bibliográcas
2. Localização do conteúdo pertinente de cada uma dessas partes do texto.
Verique que o conteúdo pertinente a cada parte do texto demonstra um
padrão, tal como:
Introdução: explicação do assunto principal com referencial teórico,
contendo os objetivos com o tema principal do trabalho ao nal da
introdução;
Materiais e métodos: descrição de materiais e métodos utilizados,
processos, técnicas, amostragem;
Resultados: compatibilidade com objetivos enunciados, materiais e
métodos utilizados, com o uso, às vezes de guras, grácos, tabelas,
fotograas, etc.;
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
252 |
Discussão dos resultados: vericação dos resultados a partir do
referencial teórico utilizado;
Conclusões: vericação dos objetivos propostos;
Referências bibliográcas
IMPORTANTE: a realização da etapa 2 é imprescindível, pois resultará
na compreensão global do texto.
II – IdentIfIcação de conceItos
A metodologia utilizada para esta etapa consiste na identicação
de conceitos que será realizada combinando a exploração da estrutura
textual e o questionamento.
A identicação de conceitos é a etapa principal da indexação e
dependerá da compreensão do que é conceito e qual a sua importância.
Conceito é a formulação de uma ideia por palavras. Tomemos como
exemplo o conceito agente que pode ser denido por aquele ou algo que
realizou a ação. Isso signica que o conceito agente poderá ser representado
por uma palavra no texto, que dependerá do contexto para identicá-la
com a ideia de agente. Assim, asseguramos que esses conceitos poderão
ser identicados em qualquer texto, garantindo uma uniformidade de
identicação de conceitos e de compreensão global do texto que, de outra
forma, não seria possível, por não termos parâmetros de compreensão.
Ex.: Destruição de plantações de café pela geada.
O agente neste caso é a geada, pois “praticou” a ação de destruição
das plantações de café.
a) Compreensão de conceitos
Os conceitos essenciais do documento são:
OBJETO: é algo ou alguém que está sob estudo do pesquisador.
AÇÃO: processo sofrido por algo ou alguém
AGENTE: aquele ou algo que realizou a ação
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 253
MÉTODOS: métodos utilizados para realização da pesquisa
LOCAL FÍSICO OU AMBIÊNCIA: local físico onde foi realizada
a pesquisa
CAUSA E EFEITO:
‒ causa => razão ou motivo. Aquilo ou aquele que faz com que uma
coisa exista ou aconteça (antecedente); está vinculada à identicação
da AÇÃO.
‒ efeito => produto de uma causa. Resultado de um ato qualquer
(consequência); está vinculado ao resultado da AÇÃO realizada.
Assim, o suposto efeito ou consequente deve variar cada vez que
faz variar a suposta causa ou antecedente.
Ex.: Grupos familiares carentes que migram tendem a
desorganização interna.
Causa: processo de migração
Efeito: desorganização interna do grupo familiar
b) Identicação de conceitos mediante exploração da estrutura textual
Para conseguir um melhor resultado na identicação de conceitos,
você poderá utilizar partes do texto em que os conceitos, geralmente,
poderão ser identicados:
Quadro 2 - Identicação de conceitos mediante exploração da
estrutura textual
pArtes do texto conteúdo pertInente conceItos de
Introdução
(objetivos)
(conrmar tema em
Referências)
Referencial teórico
Tema: objetivos*
Objetivos
OBJETO
AGENTE
AÇÃO
Metodologia
Descrição de materiais,
métodos, processos e
técnicas utilizados.
MÉTODOS
LOCAL FÍSICO
MATERIAIS
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
254 |
Resultados
Discussão dos
resultados
Conclusões
Compatibilidade com
objetivos enunciados
e materiais e métodos
utilizados, mostrados, às
vezes em tabelas;
Vericação dos resultados a
partir do referencial teórico
utilizado
CAUSA E EFEITO
* Observe que o tema, geralmente, está expresso no objetivo do artigo.
c) Questionamento do texto para identicação de conceitos
Por outro lado, este resultado poderá ser obtido mais facilmente
se você utilizar o questionamento a seguir, pois as respostas a essas
perguntas implicarão em uma análise do documento e dará origem à
seleção de termos. A seguir, temos três exemplos que demonstram o uso do
questionamento e a obtenção de termos como resposta à identicação dos
conceitos estabelecidos.
Exemplo 1: Proliferação da ora anaeróbia no intestino delgado em
lactentes portadores de diarréia aguda e persistente.
37
Exemplo 2: Desempenho de genótipos de arroz irrigado cultivados no
sistema pré-germinado com inundação contínua.
38
Exemplo 3: Gerenciamento estratégico de informação nas empresas
industriais do setor de telecomunicações no Brasil.
39
1. O ASSUNTO CONTÉM UMA AÇÃO (PODENDO SIGNIFICAR
UMA OPERAÇÃO, UM PROCESSO ETC)?
ÃO 1: proliferação
AÇÃO 2: cultivo de arroz
AÇÃO 3: gerenciamento estratégico
37
CRUZ; FAGUNDES NETO, 1995.
38
MARCHEZAN, E. et al. 2004.
39
PONTES, 1999.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 255
2. O DOCUMENTO POSSUI EM SEU CONTEXTO UM OBJETO
SOB EFEITO DESTA AÇÃO?
OBJETO 1: ora anaeróbia
OBJETO 2: arroz
OBJETO 3: informação
2.1 O OBJETO IDENTIFICADO PODE SER CONSIDERADO
COMO PARTE DE UMA TOTALIDADE?
PARTE DO OBJETO: “ora anaeróbia” é parte do “intestino
delgado”, que é parte do todo “lactente”
PARTE DO OBJETO 2: genótipos de arroz
PARTE DO OBJETO 3: “informação” é parte das “empresas
industriais” que são parte do “setor de telecomunicações” no Brasil.
2.2 O OBJETO IDENTIFICADO POSSUI CARACTERÍSTICAS
OU ATRIBUTOS PARTICULARES?
No exemplo dado não existe característica ou atributo, mas em outro
exemplo, seria:
Substância aromática do vinho
vinho: objeto
substância aromática: atributo
CARACTERÍSTICA DO OBJETO IDENTIFICADO 2:
irrigado
3. O DOCUMENTO POSSUI UM AGENTE QUE PRATICOU
ESTA AÇÃO?
AGENTE 1: microorganismos anaeróbios
AGENTE 2: Sistema pré-germinado com Inundação contínua.
AGENTE 3: não tem agente no exemplo 3
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
256 |
4. PARA ESTUDO DO OBJETO OU IMPLEMENTAÇÃO
DA AÇÃO, O DOCUMENTO CITA E/OU DESCREVE
MODOS ESPECÍFICOS, POR EXEMPLO: INSTRUMENTOS
ESPECIAIS, TÉCNICAS, MÉTODOS, MATERIAIS E
EQUIPAMENTOS?
MÉTODOS 1: Intubação intestinal; análise morfológica das
colônias
MATERIAIS:
MÉTODOS 2: Experimento de campo em safras agrícolas;
irrigação por inundação; semeadura; adubação do solo; drenagem
MÉTODOS 3: estudo de caso; três empresas industriais do
setor de telecomunicações sediadas no Brasil; entrevista semi-
estruturada; gravação direta dos depoimentos e anotações; roteiro
de entrevista.
5. A AÇÃO, OBJETO E AGENTE SÃO CONSIDERADOS NO
CONTEXTO DE UM LUGAR ESPECÍFICO OU AMBIENTE?
LOCAL FÍSICO OU AMBIÊNCIA 1: a pesquisa foi realizada
em Unidades de Gastroenterologia Pediátrica
LOCAL FÍSICO OU AMBIÊNCIA 2: Área de várzea
sistematizada; Departamento de Fitotecnia; Universidade Federal
de Santa Maria – RS
LOCAL FÍSICO OU AMBIÊNCIA 2: Brasil
6. CONSIDERANDO QUE A AÇÃO E O OBJETO IDENTIFICAM
UMA CAUSA, QUAL É O EFEITO DESTA CAUSA?
CAUSA 1: proliferação da ora anaeróbia (AÇÃO+OBJETO);
CAUSA 2: genótipos de arroz irrigado (AÇÃO+OBJETO);
CAUSA 3: gerenciamento estratégico da informação
(AÇÃO+OBJETO);
EFEITO 1: diarreia aguda e persistente, pois quando há aumento
da proliferação da ora anaeróbia, agrava-se diarreia aguda e
persistente.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 257
EFEITO 2: Plantas uniformes; Condições ambientais e
climáticas; condições de cultivo; propriedades do solo;
produtividade; Acamamento de plantas; elevada produtividade de
alguns fenótipos de arroz
EFEITO 3: transferência de conhecimento e tecnologias
produzidas nos países periféricos.
Observação: às vezes, nem todas as questões poderão ser respondidas.
Após a compreensão do texto acima, faça a identicação de conceitos,
combinando a exploração da estrutura textual com o questionamento.
III. seleção de conceItos
A partir da identicação de conceitos, realizada por meio das respostas
a essas questões, selecione os conceitos que você considera importantes
para uma representação mais pertinente ao conteúdo do documento e
que seja baseada na demanda do sistema, conforme linguagem adotada,
promovendo a garantia de uso do documento.
Exemplo:
Quadro 3 - Identicação e seleção de termos.
termos IdentIfIcados
exemplo 1
termos selecIonAdos
exemplo 1
Flora anaeróbia Flora anaeróbia
Proliferação Proliferação da ora anaeróbia
Microorganismos anaeróbios Microorganismos anaeróbios
Intubação intestinal Análise morfológica
Análise morfológica das colônias Diarreia aguda
Unidades de Gastroenterologia Pediátrica Diarreia persistente
Proliferação da ora anaeróbia
Diarreia aguda e persistente
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
258 |
termos IdentIfIcados
exemplo2
termos selecIonAdos
exemplo 2
cultivo de arroz Cultivo de arroz
arroz Arroz
genótipos de arroz Genótipos de arroz
Sistema pré-germinado com Inundação
contínua
Inundação contínua
Experimento de campo em safras
agrícolas; irrigação por inundação;
semeadura; adubação do solo; drenagem
Safras agrícolas;
Irrigação por inundação;
Semeadura;
Adubação do solo;
Drenagem
Área de várzea sistematizada;
Departamento de Fitotecnia;
Universidade Federal de Santa Maria – RS
Universidade Federal de Santa Maria;
várzea
Plantas uniformes; Condições ambientais
e climáticas; condições de cultivo;
propriedades do solo; produtividade;
Acamamento de plantas; elevada
produtividade de alguns fenótipos de arroz
Plantas;
Solo;
Acamamento de plantas;
Fenótipos de arroz
termos IdentIfIcAdos
exemplo 3
termos selecIonAdos
exemplo 3
gerenciamento estratégico Gerenciamento estratégico
informação informação
empresas industriais; setor de
telecomunicações
Empresas industriais;
Setor de telecomunicações
estudo de caso; três empresas industriais
do setor de telecomunicações sediadas
no Brasil; entrevista semi-estruturada;
gravação direta dos depoimentos e
anotações; roteiro de entrevista.
Estudo de caso;
Empresas industriais;
Telecomunicações;
Entrevista semi-estruturada
Anotações;
Roteiro de entrevista;
Gravação dos depoimentos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 259
Brasil Brasil
transferência de conhecimento e
tecnologias produzidas nos países
periféricos
Transferência de conhecimento;
Transferência de tecnologia
modelo de leIturA documentárIA pArA textos cIentífIcos:
pAsso-A-pAsso
Coloque aqui a referência bibliográca do texto:
Exemplo: CRUZ, A. S. da; FAGUNDES NETO, U. Proliferação da ora
anaeróbia no intestino delgado em lactentes portadores de diarréia aguda
e persistente. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v.17, n. 3, p. 158-162,
1995. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/95-71-03-158/
port_print.htm. Acesso em: 21 mar. 2019.
1° Observação da estrutura textual e localização do conteúdo do artigo
cientíco: localizar no texto cientíco os elementos que o compõem, tal
como, introdução, metodologia, resultados, discussão dos resultados e
conclusão. Verique o conteúdo pertinente a cada parte do texto.
Identicação dos conceitos: considera-se importante, observar as partes
da estrutura textual e realizar o questionamento, indicados na grade do
modelo de leitura, para que a identicação dos conceitos seja correta.
Para explicações detalhadas referentes à utilização do modelo de leitura,
volte ao Manual explicativo.
Observações importantes:
os três conceitos objeto, ação e agente são principais, estão
interligados e são dependentes um do outro;
o conceito objeto deve ser o primeiro a ser identicado e a partir
dele deverão ser identicados a ação e, em seguida, o agente, nesta
ordem;
os três conceitos principais deverão ser representados por apenas
um termo cada;
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
260 |
termos vazios de signicado, como “avaliação”, “estudo”, “análise”
e etc., não devem representar os conceitos principais e os demais
conceitos;
o conceito ação pode ser representado por termo que denomina
uma doença ou um fenômeno, mas, na maioria dos textos é um
verbo no substantivo, como “coagulação”;
nem todos os conceitos serão, necessariamente, identicados por
termos.
Quadro 4 - Versão adaptada do Modelo de Leitura Documentária.
conceItos QuestIonAmento
pArA IdentIfIcAção de
conceItos
pArtes dA
estruturA textuAl
exemplos de termos
IdentIfIcAdos
OBJETO e
PARTE(S) DO
OBJETO (algo
ou alguém
que está sob
estudo do
pesquisador)
O documento possui em
seu contexto um objeto
sob efeito desta ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Flora anaeróbia +
intestino delgado +
lactente
AÇÃO
(processo
sofrido por
algo ou
alguém)
O assunto contém uma
ação (podendo signicar
uma operação, um
processo etc.)?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Proliferação
AGENTE
(aquele ou algo
que realizou a
ação)
O documento possui um
agente que praticou esta
ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Microrganismos
anaeróbios
MÉTODOS
(métodos
utilizados para
realização da
pesquisa)
Para estudo do objeto
ou implementação da
ação, o documento
cita e/ou descreve
modos especícos, por
exemplo: instrumentos
especiais, técnicas,
métodos, materiais e
equipamentos?
METODOLOGIA Intubação intestinal;
Análise morfológica
das colônias
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 261
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
(local físico
onde foi
realizada a
pesquisa)
Todos estes fatores
são considerados no
contexto de um lugar
especíco ou ambiente?
METODOLOGIA Unidades de
Gastroenterologia
pediátrica
CAUSA E
EFEITO
Causa
(ação+objeto)/
Efeito
Considerando que a ação
e o objeto identicam
uma causa, qual é o
efeito desta causa?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS;
CONCLUSÕES
Causa: proliferação
da ora anaeróbia
em intestino delgado
de lactentes (ação +
objeto);
Efeito: diarreia aguda
e persistente
Fonte: Fujita (2007, p. 177).
exercícIo de AplIcAção
A partir daqui será importante realizar a análise documental
de um texto. Sugerimos que escolha um artigo cientíco para começar
sua atividade. Vá ao site do Scielo (http://www.scielo.br) e procure um
artigo cientíco da área de ciências da saúde e outro da área de ciências
humanas. O Manual Explicativo e o Modelo de Leitura Documentária são
autoexplicativos, mesmo assim, recomendamos aos aprendizes as seguintes
estratégias com uso do Modelo de Leitura Documentária e Manual de
Ensino para diminuir ainda mais suas diculdades da análise documental:
a) Análise da tarefa: a pouca familiaridade com o assunto e com os termos
especícos do artigo cientíco especializado sugere que o exercício de leitura
documentária para análise de assunto de documentos de áreas especializadas
seja realizado após análise do conteúdo do texto acompanhada do uso
de dicionários especializados, consulta a especialistas e uso de linguagens
documentárias especializadas no assunto do documento;
b) Compreensão da metodologia: a aplicação do Modelo de Leitura
Documentária somente deve ser feita após leitura e orientação sobre o
conteúdo especíco de Análise Documental contido nas seções anteriores
e, em seguida, fazer uma leitura cuidadosa do Manual de Ensino para
seguir os três procedimentos;
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
262 |
c) Contato com o contexto sociocognitivo da tarefa: é preciso ter contato
com a situação real de sistemas de recuperação da informação e para isso é
possível realizar dois exercícios reais: o primeiro consiste em fazer entrevista
com um pesquisador ou especialista do assunto do texto escolhido para
obter sua compreensão e principalmente com que palavras recuperaria
o artigo; o segundo, em seguida, solicita ao especialista que faça uma
busca em um sistema de recuperação da informação da sua especialidade
utilizando palavras que identiquem sua necessidade de busca.
Com essas estratégias que antecedem a aplicação do Modelo de
Leitura Documental é possível realizar com mais entendimento do assunto
a análise documental do artigo escolhido. Essas estratégias tem a nalidade,
como você verá, de realizar uma aproximação do seu conhecimento com
a área de assunto do artigo escolhido para diminuição das diculdades de
vocabulário.
Para que você tenha um parâmetro prático antes de realizar sua
atividade de Análise Documental, apresenta-se, em seguida, um exemplo da
aplicação do Modelo de leitura documentária para identicação e seleção de
conceitos em um artigo de periódico cientíco da área médica (Quadro 5).
Referência do artigo: VIEIRA, L. A. et al. Colonização intestinal de recém-natos por
enterobactérias multirresistentes a antimicrobianos em unidade neonatal. Jornal de
Pediatria, Rio de Janeiro, v. 75, n. 2, p. 83-90, mar./abr. 1999.
Quadro 5 - Exemplo de aplicação do modelo de leitura
para textos cientícos
conceIto QuestIonAmento PArtes dA
estruturA textuAl
termos
IdentIfIcAdos
termos
selecIonAdos
OBJETO e
PARTE (S)
DO OBJETO
(algo ou
alguém que
está sob
estudo do
pesquisador)
O documento
possui em seu
contexto um
objeto sob
efeito de uma
atividade?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Recém-nascido Recém-nascido
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 263
AÇÃO
(processo
sofrido por
algo ou
alguém)
O assunto
contém um
conceito ativo
(por exemplo,
uma ação, uma
operação, um
processo, etc)?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Colonização
intestinal
Colonização
intestinal
AGENTE
(Aquele ou
algo que
realizou a
ação)
O documento
possui um agente
que praticou esta
ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Germes
multirresistentes
a
antimicrobianos
Germes
multirresistentes
a
antimicrobianos
MÉTODOS
(Métodos
utilizados para
realização da
pesquisa)
Este agente
refere-se a modos
especícos para
realizar a ação
(por exemplo,
instrumentos
especiais, técnicas
ou métodos)?
METODOLOGIA Identicação
bacteriana;
Testes de
sensibilidade aos
antimicrobianos;
Amostras fecais;
Extração de
DNA plasmidial
bateriano;
Eletroforese em
gel de agarose
Teste de
sensibilidade
bacteriana
Fezes
DNA bacteriano
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
(Local físico
onde foi
realizada a
pesquisa)
Todos estes
fatores são
considerados no
contexto de um
lugar especíco
ou ambiente?
METODOLOGIA Berçário do
HUPE-UERJ;
Hospital
público.
Berçários
hospitalares;
Hospitais
públicos
CAUSA E
EFEITO
Causa
(ação+objeto)/
Efeito
São identicadas
algumas variáveis
dependentes ou
independentes?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS;
CONCLUSÕES
Causa:
Colonização
intestinal em
recém-nascido
(ação+objeto)
Efeitos:
Klebsiella
pneumoniae
Baixo peso
Alimentação
com leite
articial
Hospitalização
Uso de
antimicrobianos
Klebsiella
pneumoniae;
Baixo peso ao
nascer;
Leite de vaca;
Hospitalização
Fonte: Fujita (2007).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
264 |
Observe que foi incluída uma síntese, que denominamos
enunciado de assunto”, revelando o tema do documento. Esse enunciado
de assunto é composto, em ordem lógica, pelos termos que representam os
conceitos identicados e atesta a compreensão do assunto do documento
pelo leitor documentalista.
ENUNCIADO DE ASSUNTO: Colonização intestinal de
recém-nascidos por germes multirresistentes a antimicrobianos mediante
identicação bacteriana, testes de sensibilidade aos antimicrobianos,
amostras fecais, extração de DNA plasmidial bacteriano e eletroforese em
gel de agarose em Berçario do HUPE-UERJ cujas causas foram a infecção
por Klebsiella pneumoniae e baixo peso que resultou na alimentação com
leite articial, hospitalização e uso de antimicrobianos.
Complementando o exemplo anterior, apresentamos a seguir
outro exemplo de aplicação do Modelo de leitura documentária para
identicação e seleção de conceitos em um artigo de periódico cientíco,
dessa vez na área de ciências humanas (Quadro 6).
Referência do artigo escolhido: FERREIRA, L.; BARROS, R. M. de O. Uma
análise do discurso do aluno trabalhador acerca de sua evasão: caso especíco do
curso de matemática da UEM. Educação em revista, Belo Horizonte, v. 34, 2018.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
46982018000100109&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 21 mar. 2019.
Quadro 6 - Modelo de Leitura Documentária para
exercício (Versão adaptada do Modelo de Leitura Documentária)
conceItos QuestIonAmento
pArA
IdentIfIcAção de
conceItos
PArtes dA
estruturA
textuAl
termos
IdentIfIcAdos
Termos
selecionados
OBJETO e
PARTE (S) DO
OBJETO (algo
ou alguém que
está sob estudo
do pesquisador)
O documento
possui em seu
contexto um
objeto sob efeito
desta ação?
Introdução
(objetivos)
Evasão Evasão
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 265
AÇÃO
(processo
sofrido por algo
ou alguém)
O assunto
contém uma
ação (podendo
signicar uma
operação, um
processo etc.)?
Introdução
(objetivos)
Necessidade de
trabalhar
Trabalho
AGENTE
(Aquele ou algo
que realizou a
ação)
O documento
possui um agente
que praticou esta
ação?
Introdução
(objetivos)
Alunos do
curso de
Matemática da
UEM
Alunos
universitários
MÉTODOS
(Métodos
utilizados para
realização da
pesquisa)
Para estudo
do objeto ou
implementação
da ação, o
documento cita
e/ou descreve
modos especícos,
por exemplo:
instrumentos
especiais, técnicas,
métodos,
materiais e
equipamentos?
Metodologia Análise
documental;
Pesquisa
bibliográca;
Contato e
entrevista com
a população
alvo;
Transcrição
das entrevistas;
Análise de
discurso de
Foucault
Análise
documental;
Pesquisa
bibliográca;
Entrevista;
Análise de
discurso de
Foucault
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
(Local físico
onde foi
realizada a
pesquisa)
Todos estes fatores
são considerados
no contexto
de um lugar
especíco ou
ambiente?
Metodologia Curso de
Matemática da
Universidade
Estadual de
Maringá
Universidade
Estadual de
Maringá
Curso de
Matemática
CAUSA E
EFEITO
Causa
(ação+objeto)/
Efeito
Considerando que
a ação e o objeto
identicam uma
causa, qual é o
efeito desta causa?
Resultados;
discussão de
resultados;
Conclusões
Causa:
necessidade de
trabalhar
Efeito: evasão
do curso de
Matemática
Trabalho
Evasão
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Coloque aqui o “Enunciado do assunto” (composto pelos termos
que representam os conceitos identicados): Evasão dos alunos do curso
de Matemática da Universidade Estadual da UEM devido à necessidade de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
266 |
trabalhar, mediante Análise documental; Pesquisa bibliográca; Contato
e entrevista com a população alvo; Transcrição das entrevistas; Análise de
discurso de Foucault, cuja causa é a necessidade de trabalhar que resultou
na evasão do curso pelos alunos.
Após a realização da tarefa, comente abaixo sobre as estratégias
utilizadas antes da aplicação do Modelo de Leitura Documentária e faça uma
reexão sobre as dúvidas, diculdades e êxitos obtidos com essa atividade.
A utilização do Modelo de leitura com a aplicação prática em
dois exemplos distintos de artigos cientícos permitiu demonstrar o
percurso da leitura realizada pelo leitor prossional durante a indexação.
No entanto, cabe ressaltar que o processo de indexação não termina com a
seleção dos conceitos. Há uma outra etapa a ser considerada, após a leitura
documentária, que é a tradução dos termos selecionados para a linguagem
documentária adotada pela unidade de informação onde o leitor prossional
está inserido. Essa linguagem deverá estar em consonância com os assuntos
inerentes à unidade de informação, bem como ao usuário que utiliza essa
unidade. A linguagem utilizada certamente inuenciará no resultado nal
dos termos que denitivamente representarão o documento.
Além disso, é necessário considerar também as particularidades
de cada área do conhecimento que inuenciarão da identicação e seleção
dos conceitos. O conhecimento da área de ciências da saúde geralmente
é descrito com maior precisão e exatidão nos artigos que, por sua vez,
apresentam uma estrutura mais segmentada e enxuta. Isso certamente
facilita a leitura e identicação dos conceitos pelo leitor prossional. Já a
descrição do conhecimento na área de ciências humanas apresenta nuances
e é muitas vezes, permeado de recursos da Língua Portuguesa como
metáforas, eufemismos, ironias entre outros. A estrutura desses artigos nos
periódicos também não obedece a uma segmentação rígida, até pela própria
natureza que os estudos podem assumir. Dessa forma, podemos inferir que
a leitura feita pelo prossional dos artigos dessa área deverá ser mais atenta,
especialmente na tentativa de localizar os conceitos pertinentes no texto,
correspondente às partes textuais.
Porém, independentemente da área do conhecimento, a
aplicação do Modelo de leitura mostrou-se viável. E como já esclarecido
anteriormente no “Manual de ensino do Modelo de leitura” nem todos os
conceitos serão, necessariamente, identicados por termos.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 267
4 consIderAções fInAIs
A importância da leitura na análise documental demonstrou
a necessidade de sistematizar um método de identicação e seleção de
conceitos. O método foi sistematizado no “Modelo de leitura documentária
(Quadro 1) combinando estratégias de exploração de estruturas textuais e
de abordagem sistemática para identicação de conceitos.
Essa proposição metodológica permite ao leitor prossional
(estudante ou prossional) realizar a identicação de conceitos em bases
cognitivas porque o modelo é resultado das observações com Protocolo
Verbal da leitura documental realizada por indexadores procientes.
Portanto, é um modelo ao qual o leitor prossional se adapta facilmente
por ser coerente com suas estratégias metacognitivas utilizadas para a leitura
documental de textos diversos e em distintas áreas de conhecimento.
Podemos armar que esse Modelo é resultado dos estudos
desenvolvidos em que foi possível vericar a inexistência de domínio sobre
procedimentos sistemáticos para abordagem do conteúdo textual que
levassem à identicação de conceitos da leitura documentária.
Considerando que a indexação termina, de fato, com a tradução
dos termos selecionados em uma linguagem de indexação, ressaltamos que
não foi incluída essa etapa no Modelo de leitura devido ao nosso objetivo
ter sido demonstrar a identicação e a seleção de conceitos que ocorrem
durante a leitura documentária e a tradução é uma etapa que acontece após
a leitura documentária. Dessa maneira, não consideramos essa “possível
coluna” em nosso quadro “Modelo de leitura documentária para exercício”.
Finalmente, consideramos no Modelo um importante
instrumento didático ao combinar a exploração da estrutura textual com
o questionamento para a identicação de conceitos para que a leitura
documentária possa ser mais rápida e estratégica, resultando em termos
representativos do conteúdo do documento.
referêncIAs
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12676: métodos
para análise de documentos - determinação de seus assuntos e seleção de termos de
indexação. Rio de Janeiro, 1992.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
268 |
CAVALCANTI, Marilda C. I-n-t-e-r-a-ç-ã-o leitor-texto: aspectos de interpretação
pragmática. Campinas: UNICAMP, 1989.
CRUZ, A. S. da; FAGUNDES NETO, U. Proliferação da ora anaeróbia no intestino
delgado em lactentes portadores de diarréia aguda e persistente. Jornal de Pediatria, Rio
de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 158-162, 1995. Disponível em: http://www.jped.com.br/
conteudo/95-71-03-158/port_print.htm. Acesso em: 21 mar. 2019.
FUJITA, M. S. L. A leitura documentária e o processo de compreensão do indexador:
memorial de investigação cientíca. In: FUJITA, M. S. L.; NEVES, D. A. de B.;
DAL’EVEDOVE, P. R. (org.). Leitura documentária: estudos avançados para a
indexação. Marília: Ocina Universitária, 2017. p. 15-49.
FUJITA, M. S. L. A leitura documentária na formação inicial do indexador: a abordagem
sociocognitiva na investigação de estratégias de ensino. 2004. Marília: Universidade
Estadual Paulista; CNPq, 2004. (Projeto Integrado de Pesquisa).
FUJITA, M. S. L. A leitura documentária na formação inicial do indexador: a abordagem
sociocognitiva na investigação de estratégias de ensino. Marília: Universidade Estadual
Paulista, 2007. (Relatório nal de pesquisa-Bolsa PQ-CNPq).
FUJITA, M. S. L. A leitura do indexador: estudo de observação. Perspectivas em Ciência
da Informação, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 101-116, 1999.
FUJITA, M. S. L.; RUBI, M. P. Modelo de lectura profesional para la indización. Scire,
Zaragoza, v. 12, n. 1, p. 47-70. 2006. Disponível em: http://ibersid.eu/ojs/index.php/
scire/article/view/1585/1557. Acesso em: 14 fev. 2019.
MAI, J. E. e concept of subject: on problems in indexing. In: INTERNATIONAL
STUDY CONFERENCE ON CLASSIFICATION RESEARCH, 6., 1997, e
Hague. Proceedings [...] e Hague: FID, 1997. p. 60-67.
MAIMONE, G. D; KOBASHI, N. Y.; MOTA, D. Indexação: teoria e métodos. In:
SILVA, J. F. M. da; PALETTA, F. C. (org.) Tópicos para o ensino de biblioteconomia. São
Paulo: ECA-USP, 2016. p. 73-85. v. 1.
MARCHEZAN, E. et al. Desempenho de genótipos de arroz irrigado cultivados
no sistema pré-germinado com inundação contínua. Ciência Rural, Santa Maria, v.
34, n. 5, p. 1349-1354, set./out. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782004000500005&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 21 mar. 2019.
MOREIRA, V.; SANTOS, J. C. F. dos; VITORINI, E. F. Os padrões de Hearst como
recursos auxiliares semiautomáticos para a ecácia na leitura documentária. In: FUJITA,
M. S. L.; NEVES, D. A. de B.; DAL’EVEDOVE, P. R. (org.). Leitura documentária:
estudos avançados para a indexação. Marília: Ocina Universitária, 2017. p. 167-193.
REDÍGOLO, F. M. O processo de análise de assunto na catalogação de documentos: a
perspectiva sociocognitiva do catalogador em contexto de Biblioteca Universitária.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 269
2010. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosoa e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010.
REDÍGOLO, F. M.; FUJITA, M. S. L. A leitura prossional do catalogador e seu papel
como mediadora da informação. Informação & Informação, Londrina, v. 20, n. 3, p. 356
- 376, set./dez. 2015. Disponível em: http:www.uel.br/revistas/informacao/. Acesso em:
14 fev. 2019.
TERRA, A. L. Processos cognitivos na leitura documental: o que faz o indexador
quando lê? In: FUJITA, M. S. L.; NEVES, D. A. de B.; DAL’EVEDOVE, P. R.
(org.). Leitura documentária: estudos avançados para a indexação. Marília: Ocina
Universitária, 2017. p. 51-67.
| 271
11
procedImentos de leIturA documentárIA pArA
IndexAção de doutrInA: um estudo com bAse
em estruturAs textuAIs
Daniela Majorie Akama dos REIS
resumo: A leitura documentária é realizada durante a análise de assunto, considerada a
primeira etapa de vários processos, como a indexação. Cada prossional que realiza a prática
da leitura documentária é único, e como consequência, a análise do documento poderá
ocorrer de formas diferentes dependendo do documento e do analista de assunto. Vários
fatores devem ser considerados quando estudamos o processo de leitura documentária
realizado por prossionais da informação, como estratégias de leitura, conhecimento
prévio, o domínio de atuação, e tipo de estrutura textual do documento analisado. Serão
apresentados conceitos sobre a leitura documentária na Biblioteconomia jurídica, e sobre
a estrutura textual de doutrina, documento presente na maioria das bibliotecas jurídicas.
O resultado deste estudo é uma lista de procedimentos de leitura documentária para a
indexação de doutrina.
pAlAvrAs-chAve: Leitura documentária. Estrutura textual de documentos. Indexação.
Biblioteconomia jurídica.
AbstrAct: e documentary reading is a process performed during the subject analysis,
considered the rst step of of the indexing of documents. e professional who performs
the practice of documentary reading is unique, and as a consequence, the analysis of the
document may occur in dierent ways depending on the document and the subject analyst.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
272 |
Several factors should be considered when studying the process of documentary reading
carried out by information professionals, such as reading strategies, prior knowledge,
domain of activity, and type and structure of the document analyzed. Concepts about
documentary reading in legal librarianship and on the textual structure of doctrine,
document present in most legal libraries will be presented here. e result of this study is
a list of documentary reading procedures for indexing doctrine.
Keywords: Documentary reading. Textual structure of documents. Indexing. Legal
librarianship.
1 Introdução
Este estudo está inserido no contexto da organização do
conhecimento, e tem por temática central a análise da leitura documentária
de documentos da área jurídica, especicamente de doutrina, com base em
sua estrutura textual.
Entende-se que em organização do conhecimento, a leitura
documentária é a forma pela qual os prossionais iniciam diversos
processos como, por exemplo, a indexação e catalogação de assunto. Cada
mente trabalha de forma única, de sorte que fatores como conhecimento
prévio, domínio em que o sujeito atua (e/ou atuou anteriormente),
educação acadêmica e convívio com outras pessoas inuenciam na forma
como tal indivíduo interpreta informações. O objetivo de modelos de
leitura para esses prossionais é sempre de guiá-los pelo obscuro processo
de leitura documentária.
O bibliotecário, como prossional que realiza a leitura
documentária, durante a análise de assunto, é qualicado para atuar em
diversas áreas e locais, não somente em bibliotecas. O campo de atuação
do bibliotecário é bastante extenso e a área jurídica é uma ramicação
complexa na Biblioteconomia.
Silva (2008) busca oferecer subsídios que auxiliem o acesso e
a compreensão dos conceitos da ciência jurídica pelos bibliotecários. A
autora dá enfoque à estrutura textual de acórdãos, leis e pareceres jurídicos.
Foi desenvolvido um modelo de leitura técnica jurisprudencial com a
exibição de conceitos referentes à dinâmica processual, em especial, os
procedimentos recursais no âmbito do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
A autora concluiu que, para a compreensão da terminologia jurídica e
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 273
indexação da decisão judicial (acórdão), é necessário que o bibliotecário
entenda conceitos jurídicos e as fases do processo judicial, além de aplicar
técnicas estratégicas de leitura, na análise de certas partes do acórdão.
Ferreira (2017), em Dissertação de Mestrado, realiza pesquisa
sobre a análise de assunto para indexação de acórdãos do Tribunal de Contas
do Estado de Minas Gerais (TCEMG), com o intuito de sistematizar a
leitura do indexador. A autora procura oferecer diretrizes e procedimentos
para a análise de assunto, via modelo de leitura técnica. Explica que, com
os resultados da pesquisa, vericou a importância das estratégias de análise
do texto, as quais permitiram a sistematização do processo de leitura no
modelo. Considera imprescindível o conhecimento do domínio jurídico
por parte do indexador, pois o modelo traz diretrizes de leitura, e não de
contextualização.
Reis et al. (2018) analisam os diferentes enfoques teóricos sobre
a semiótica, na criação de registros bibliográcos. As autoras explicam que
tanto a catalogação de forma quanto a de assunto exigem o contato com
o documento, por meio da leitura, o que requer processos interpretativos
complexos, por parte dos prossionais. Foram consideradas duas vertentes
distintas da Semiótica, sob o olhar de Charles Sanders Peirce e de Ferdinand
de Saussure. Com os estudos teóricos apresentados, as autoras concluem
que é possível categorizar, através das abordagens da Semiótica, como o
prossional se comporta em contato com os documentos.
Propõe-se redação de fundamentação teórica sobre a leitura
documentária para indexação de doutrina, documento comum em
bibliotecas da área do Direito. O objetivo é apresentar de forma concisa
quais são as partes da estrutura textual de doutrina mais consultadas
por analistas de assunto do domínio do Direito. Esta pesquisa surgiu da
necessidade de aprofundamento em um domínio especíco para estudos
sobre leitura documentária com base em estruturas textuais de documentos.
Traz alguns dos resultados de Reis (2019), cuja coleta de dados
ocorreu pela aplicação de Protocolo Verbal Individual (PVI) a prossionais
de bibliotecas da área jurídica, durante a leitura documentária para
indexação de doutrina em formato tradicional (impresso) ou digital
(e-book). Após as coletas de PVI, foi realizada uma comparação entre as
análises das estruturas textuais de todos os bibliotecários.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
274 |
Reis (2019) observou dez bibliotecários, por meio de entrevista via
PVI, cada um fazendo a leitura documentária de doutrina. Foi enfatizada a
inuência do domínio especíco, experiência prossional (conhecimento
prévio da área) e a prática na interpretação e inferência do prossional,
elementos que forneceram subsídios para a conclusão da tese.
Foi alcançado um entendimento maior de como o prossional
analisa o conteúdo do livro, durante a leitura documentária, através de
sua estrutura, e, como consequência disso, como funciona o processo de
criação de hipóteses na indexação para organização do conhecimento, por
meio da leitura documentária em bibliotecas jurídicas.
Esta pesquisa é apresentada em quatro partes, a seção dois sobre
leitura documentária para indexação, a seção três sobre a Biblioteconomia
jurídica, a seção quatro sobre a estrutura textual de documentos da área do
Direito, e a última traz as considerações nais.
2 A leIturA documentárIA pArA IndexAção
A leitura documentária é o primeiro passo para a análise de
assunto em indexação e diversos outros processos, tornando-a fundamental
para prossionais da área.
Guinchat e Menou (1994, p. 176) denem a indexação como uma
das formas de descrição de conteúdo. É a operação pela qual se escolhem
os termos mais apropriados para indicar o conteúdo de um documento.
Lancaster (2004, p. 6) traz um conceito clássico de indexação,
destacando que esta “[...] implica na preparação de uma representação do
conteúdo temático dos documentos.” Consiste em um dos processos mais
importantes do trabalho do bibliotecário, porque objetiva representar o
conteúdo de um documento, por meio de termos extraídos de um texto
original (DUARTE, 2007, p. 1).
É um processo de sumarização que ocorre por meio da análise de
assunto. Conforme algumas abordagens teóricas, pode ser organizada em
duas, três e até quatro etapas. A literatura evidencia que não há unanimidade
nas etapas que conguram o processo de indexação, sendo certo que
independentemente da efetividade de cada uma, para os prossionais
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 275
mais experientes, as etapas ocorrem frequentemente de modo simultâneo
(TERRA, 2017, p. 53).
Existem diversas abordagens sobre quais são as etapas da
indexação (duas etapas para Chaumier (1988) e Lancaster (2004), três
etapas para Mai (1997b), quatro etapas para Chu e O’Brien (1993)),
contudo, todas elas colocam a análise de assunto como processo inicial.
Em contextos prossionais, é comum que os bibliotecários não façam essa
distinção, realizando o processo de forma automática, sem notar as etapas
da indexação.
Em suma, a indexação é um processo de identicação de
conceitos que possam representar um documento. A quantidade de passos
para esse processo depende da abordagem teórica, mas a primeira etapa
será sempre a análise de assunto (na concepção de Mai (1997a, p. 55), o
primeiro estágio consiste no processo de análise do documento, e não de
análise de assunto). Os produtos da indexação são termos representativos
de um documento, e o prossional que realiza esse processo é tido, nesta
investigação, como o analista de assunto.
A indexação está diretamente relacionada à leitura documentária,
e vários autores estudam esse processo tão complexo. Existem diversas
abordagens de estudo da indexação, sendo que a maioria determina a
análise de assunto como processo inicial.
O processo de extrair conceitos que traduzam a essência de um
documento é conhecido como análise de assunto, para alguns, análise
temática para outros, e ainda como análise documentária ou análise de
conteúdo (NAVES, 1996, p. 215).
O termo análise de assunto é o mais comumente utilizado. Grande
parte dos autores que tratam do tema estabelece a análise de assunto como
a etapa antes da tradução dos conceitos extraídos dos documentos para um
vocabulário controlado (NAVES, 1996, p. 217).
A análise de assunto, do ponto de vista do indexador, começa
com a fase de leitura do texto. Para isso, é necessário que se conheçam
tipos e estruturas de textos para iniciar-se a sua leitura com ns especícos
(NAVES, 2001, p. 192)
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
276 |
Portanto, o indexador, ou analista de assunto, é a gura
central do processo de análise de assunto. Naves (2001, p. 193) lista os
fatores relacionados a esse processo: política de indexação adotada pelo
sistema, tipo de vocabulário utilizado (linguagem natural ou articial),
objetivos da instituição, perl e necessidades de informação dos usuários
e, principalmente, o fator humano. O indexador é importante para esse
processo, pois cabe a ele a interpretação e a denição do assunto de
documentos. É inuenciado por variáveis de ordens diversas, sobretudo
ligadas à linguística, ciência cognitiva e lógica.
Hutchins (1977) assinala que é necessário entender sobre o
assunto central do documento, concebido como aboutness, para o seu
tratamento. O analista de assunto precisa aprender do que o documento
trata, durante o pouco tempo que tem disponível para a leitura de
documentos.
Portanto, em pesquisas associadas à análise de assunto, é necessário
conceituar atinência, aboutness ou tematicidade de um documento.
Hjørland (2001, p. 774) ressalta que assunto e aboutness devem ser
considerados sinônimos em organização do conhecimento.
Fujita (2003, p. 77), por seu turno, considera
[...] relevante nos referirmos à tematicidade (aboutness) do
documento quando se busca pesquisar sobre a problemática
da identicação do tema.” Para a autora, a tematicidade “[...] é
pertinente à análise de assunto porque estamos tratando de
seu objetivo principal que é a identicação do assunto ou tema
mediante análise conceitual composta de identicação e seleção de
conceitos.
Portanto, cabe ao bibliotecário o conhecimento do aboutness
dos documentos e de sua importância para a representação temática. O
conhecimento do aboutness ocorrerá via conhecimento prévio, durante a
análise de assunto.
O processo de indexação e outros vinculados à organização
do conhecimento, têm como primeira etapa a análise de assunto e, por
consequência, a leitura documentária. A leitura tem natureza interpretativa
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 277
e, quando seu foco é a documentação, observam-se tentativas de
padronização de estratégias, por parte do leitor.
Neves (2007, p. 2) entende que: “no que diz respeito à
compreensão de um enunciado, a leitura de um texto é uma atividade
cognitiva que requer esforço mental/cognitivo, envolvendo: percepção,
memória, inferência e dedução”.
Tanto a redação como a leitura de um texto, são processos repletos
de complexidade. Koch (2016) arma que “o sentido não está no texto,
mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação”.
Autores como Cavalcanti (1989), Giasson (1993) e Kleiman
(2000), estudam a teoria interacionista da leitura. Fujita explica que
uma situação ideal para o processo de compreensão da leitura “é a
indissociabilidade entre as três variáveis, texto, leitor e contexto, o que nos
leva a considerar que as diculdades da análise de assunto para a indexação
devem ser analisadas a partir de cada variável e não somente do leitor/
indexador” (FUJITA, 2017, p. 15).
Fujita explica que a leitura em análise de assunto de documentos
é entendida como uma atividade de cunho prossional, e caracteriza o
indexador como leitor prossional que realiza a leitura documentária. Dessa
forma, o objetivo principal da formação do indexador, do resumidor e do
classicador seria formá-lo ou capacitá-lo para uma leitura com objetivos
prossionais (FUJITA, 2004, p. 2). Incluímos aqui, também, o prossional
analista de assunto, pensado como o responsável pela análise de assunto
sem foco especíco em algum processo como, indexação, catalogação de
assunto, entre outros.
Para Livingston, o conhecimento sobre as variáveis de estratégias
de leitura inclui conhecimento sobre estratégias cognitivas e metacognitivas,
bem como conhecimento condicional sobre quando e onde é apropriado
usar tais estratégias (LIVINGSTON, 1997, p. 1).
Os leitores costumam identicar informações ao ler as partes
consideradas mais importantes, e com isso, fazem inferências ao ler o
texto em voz alta e ao repetir trechos para formular uma ideia buscando
algo relacionado em sua memória. É comum tomarem notas e fazer
pausas para pensar sobre o texto, podem buscar por padrões textuais
e predizer assuntos. Buscam interpretar o texto por meio de partes da
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
278 |
estrutura e emitem juízos de valor sobre tudo que é informado (NEVES;
DIAS; PINHEIRO, 2006, p. 142).
Em Protocolos Verbais Individuais - PVIs, é comum identicar
tal comportamento por parte dos leitores procientes. Estes verbalizam
suas estratégias, possibilitando melhor entendimento de como processam
a informação durante a leitura documentária. Fujita entende que “o uso
de estratégias não é facilmente observável porque ações mentais, como
associações e deduções durante a leitura, não podem ser vistas, ainda que,
possam ser verbalizadas” (FUJITA, 2017, p. 26).
A metacognição é um assunto bastante estudado em pesquisas
sobre leitura documentária, e de acordo com Livingston (1997, p. 2)
signica: “‘pensar sobre o pensamento’ e envolve supervisionar se uma
meta cognitiva foi cumprida. Este deve ser o critério de denição para
determinar o que é metacognitivo”.
Neves, Dias e Pinheiro (2006, p. 142) explicam que “além do papel
central do conhecimento prévio na compreensão da leitura, a importância
do monitoramento da compreensão e do uso de estratégias metacognitivas
de processamento de texto tem sido enfocada por vários estudos”.
Fujita explica que a compreensão em leitura necessita de
conhecimento armazenado na memória a longo prazo, cuja estrutura
de conhecimento é baseada em rede semântica de informações, onde é
possível associar informações e conceitos. O processo de compreensão exige
os “esquemas” ou representações generalizadas de ambientes, permitindo
associações com tudo aquilo que é informado durante a leitura (FUJITA,
2017, p. 18).
Neves, Dias e Pinheiro (2006, p. 142) compartilham de
pensamento equivalente com Fujita, “o conhecimento anterior facilita o
processamento do texto e a compreensão, por oferecer uma estrutura na
qual o conteúdo do material lido possa ser relacionado”.
Fujita (2017), explica que para realizar a leitura documentária
de forma adequada e inteligente, o prossional deve executar os
movimentos em equilíbrio, sempre tendo em mente os objetivos da
leitura, caracterizando o processo como metacognitivo. Tendo em vista o
equilíbrio dos movimentos ascendentes e descendentes, o prossional fará
uso de estratégias próprias de leitura.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 279
As estratégias cognitivas, ocorrem na leitura uida, do documento
na íntegra, e as estratégias metacognitivas, ocorrem durante uma leitura
com objetivos documentários.
Diversos fatores podem inuenciar no processo de leitura, e
consequentemente, no processo de leitura documentária. Kato (1995)
dene as condições de leitura: a) o grau de maturidade do sujeito como
leitor; b) o nível de complexidade do texto; c) o estilo individual; d) o
gênero do texto.
Cintra (1983, p. 5) reconhece que a análise de documentos com
ns documentários (indexação e catalogação de assunto) é realizada pela
leitura do documento, é processada pelo cérebro humano, ou por máquina.
Especula-se que a leitura documentária seja mais adequada dentro de
domínios especícos, devido à bagagem de informações e conhecimentos
especícos em dada área adquiridos ao longo da vida do prossional.
Em organização do conhecimento, a leitura é a forma pela qual
os analistas de assunto iniciam diversos processos, como a indexação.
A leitura documentária deve ser realizada por um prossional e nunca
ocorrerá de maneira xada. A mente funciona de forma única e fatores
como conhecimento prévio, domínio em que o sujeito atua (e/ou atuou
anteriormente), educação acadêmica, convívio com outras pessoas,
inuenciam diretamente no processo inferencial.
Sobre a leitura, conclui-se que é inerente ao leitor o equilíbrio
de estratégias cognitivas e metacognitivas, e é por meio destas que o leitor
prociente está apto a formular hipóteses para compreender um texto. O
conhecimento de estruturas textuais integrarão as estratégias de leitura
criadas por cada leitor, inuenciando diretamente no processo inferencial
sobre determinado texto. Apresentaremos a seguir, a relação de aspectos da
leitura ao domínio da Biblioteconomia jurídica.
3 A bIblIoteconomIA jurídIcA
Passos (2009, p. 47) apresenta conceito conciso sobre a
Biblioteconomia jurídica. Seria uma aplicação das teorias e técnicas
biblioteconômicas à Ciência do Direito. Em artigo citado, a autora traça
uma linha do tempo sobre o assunto.
280 |
Segundo Reale (2001, p. 12), na “[...] Introdução ao Estudo do
Direito, faz-se mister vericar quais as suas ligações, os seus nexos com
outras ordens de conhecimento, especialmente com a Filosoa do Direito,
a Teoria Geral do Direito e a Sociologia Jurídica.” Portanto, é uma área
bastante complexa e com diversas ramicações.
O Direito e seus fenômenos são difíceis de conceituar, de maneira
sucinta. Betioli (2008) estabelece diversos critérios, tendo em vista a
denição de “direito”. Para o autor, existe um conceito do “direito” de
origem nominal (relacionado à etimologia e semântica) e um conceito real
(vinculado à essência do objeto, o que ele realmente é).
Para Cunha e Dip (2001, p. 2), o Direito “[...] insere-se
imediatamente no mundo social, isto é, no universo das relações dos
homens uns com os outros, em sociedade.
O Direito, assim como muitos domínios do conhecimento,
é composto por diversas áreas, cada uma, com suas particularidades e
características, podemos citar o direito constitucional, administrativo,
nanceiro, tributário, processual, penal, entre outros.
A informação jurídica é comumente produzida por órgãos do
Estado, pois é dele o monopólio das atividades legislativa e jurisdicional
(BARROS, 2016, p. 185). Essas informações necessitam de organização e
tratamento, serviço do bibliotecário jurídico.
No Brasil, a formação do bibliotecário é bastante genérica, dando-
se pela via da graduação, em cursos com duração, em média, em torno de
4 a 5 anos (BARROS, 2016, p. 181).
Mendes faz algumas considerações sobre a formação do
bibliotecário que opta pela prossão na área do Direito. Para especializar-
se na área jurídica o aluno deve buscar estágios em bibliotecas jurídicas
para adquirir experiência, noções e o vocabulário próprio do Direito [...]
alguns prossionais que optam pela alternativa de graduar-se em Direito
(MENDES, 2010, p. 4).
Baptista et al. (2008, p. 159) esclarecem que “a área jurídica,
assim como qualquer outra, necessita de prossionais preparados, ativos e
tecnologicamente aptos, para atuar como facilitadores entre os repositórios
de informação e os usuários”.
| 281
Nas bibliotecas especializadas em Direito, a expertise do
bibliotecário amplia-se a partir do momento em que, ao manejar
frequentemente a informação jurídica, adquire o status de “especialista
dessa informação, o que cria a possibilidade de lhe conferir a prerrogativa
de “colaborador” do usuário, no desenvolvimento de seus estudos,
agregando-a à de consagrado “intermediário” (LOUREIRO, 2005, p. 1).
Cabe ao bibliotecário jurídico saber quais são suas atribuições
e quais serviços estão ao alcance de seus conhecimentos sobre o domínio
do Direito. O bibliotecário jurídico não é advogado, é bibliotecário. Este
deve realizar os serviços de organização e disseminação da informação e do
conhecimento jurídico, sem invadir o espaço do advogado.
Mendes recomenda que o prossional da informação que pretende
atuar no campo jurídico precisa dominar os conhecimentos em relação à
leitura e terminologia da comunidade jurídica, além de saber manusear a
documentação e utilizar, de forma correta, a busca pelas principais fontes
de informações (MENDES, 2010, p. 17).
Baptista et al. (2008) reconhecem a necessidade de especialização
do bibliotecário, para melhor atuação na área jurídica. Porém, a autora
explica que existem indícios de que nem sempre a educação continuada é
escolhida como forma de se preparar, visando à diminuição de diculdades
relacionadas à especicidade da área.
Logo, para suprir a falta de foco ou especialização jurídica nos
cursos de graduação, o bibliotecário com intenção de atuar nesse domínio
deverá contar com cursos especícos no assunto, cursos de pós-graduação
na área e com a prática deliberada, durante a experiência prossional.
Cada domínio do conhecimento possui diversos tipos de
documento e, com o Direito, não é diferente. Na próxima seção, serão
apresentados conceitos de documentos jurídicos e suas respectivas estruturas.
4 A estruturA textuAl de doutrInA
Existem vários tipos de documento. As bibliotecas podem
conter, em seus acervos: livros, periódicos, materiais somente em formato
digital, materiais multimídia, entre outros. Porém, os livros e fascículos de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
282 |
periódicos, tanto em formato tradicional (impresso) quanto digital, são os
mais comuns e em maior quantidade.
Guinchat e Menou (1994, p. 54) denem o livro brevemente
como um “[...] conjunto de folhas impressas e reunidas em um volume
encadernado ou sob a forma de brochura.” Deve-se levar em conta, ainda,
as informações contidas nos livros, sua área e as intenções do autor.
Em bibliotecas jurídicas, a variedade aumenta, principalmente
quando se distinguem os tipos de documentos. Em livros do domínio
jurídico, podemos encontrar doutrina, jurisprudência, leis, modelos de
contratos, materiais de pesquisa, entre outros. Por conseguinte, é sempre
essencial ter em mente que cada tipo de documento apresenta seus
conteúdos de forma diferenciada, em suas estruturas, mesmo quando as
estruturas são bem características, como em livros e artigos de periódicos.
Esse conteúdo no domínio do Direito é a informação jurídica.
A informação jurídica é vista como esclarecimento útil para o
progresso e o desenvolvimento da cidadania, de maneira que, por meio
dela, os prossionais do Direito produzem conhecimentos, nos quais
fundamentam suas análises e adotam decisões que regularão a vida em
sociedade (MIRANDA; MIRANDA, 2017, p. 77).
Conceitualmente, a informação jurídica, de acordo com Passos
(1994, p. 363), embasa manifestações de pensamento de jurisconsultos,
tratadistas, escritores jurídicos, advogados, legisladores, desembargadores,
juízes e todos aqueles que lidam com a matéria jurídica. Procura estudar (do
ponto de vista legal) ou regulamentar situações, relações e comportamentos
humanos, ou ainda quando interpreta e aplica dispositivos legais (PASSOS,
1994, p. 363).
Na área jurídica, podemos observar o crescimento do número
de documentos publicados, nos últimos anos. A produção de informação
jurídica tem alcançado grandes proporções, com a intensicação da
elaboração doutrinária e da publicação de leis (MIRANDA; MIRANDA,
2017, p. 78). Muitos documentos são produzidos e disponibilizados em
meio digital, em plataformas inovadoras (sejam ou não de órgãos ociais).
O objetivo é disseminar informação, de maneira mais rápida, conferindo
conteúdo atualizado.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 283
As fontes de informação jurídica são classificadas em
primárias, secundárias e terciárias. Conforme Passos e Barros (2009, p.
122), “[...] com o objetivo de facilitar o uso do conhecimento disperso
nas fontes primárias, surgiram as fontes secundárias, que apresentam a
informação filtrada e organizada de acordo com um arranjo definido,
conforme sua finalidade.
São exemplos de fontes primárias: Diário Ocial da União (e
as respectivas matérias e seções publicadas); Diário da Justiça Eletrônico;
Diários Ociais dos Estados e do Distrito Federal (PASSOS; BARROS,
2009). A maior parte das fontes primárias de informação jurídica estão
disponíveis em meio digital on-line.
São exemplos de fontes secundárias: Livros, periódicos e teses;
Livros jurídicos; Cartilhas e apostilas; Periódicos jurídicos; Periódicos
eletrônicos; Teses; Biblioteca Digital de Teses e Dissertações; Dicionários,
enciclopédias e vade-mécuns e Coleções de leis e de jurisprudência
(PASSOS; BARROS, 2009). As fontes secundárias de informação jurídica
ainda são publicadas em papel, mas se percebe o crescimento de publicações
em meio digital.
As fontes terciárias têm a função de direcionar o usuário para
as fontes primárias e secundárias. São os índices, bibliograas, guias de
literatura, bibliograas de bibliograas, bases de dados, bibliotecas e
centros de informação e documentação.
Na área jurídica, é notória a escassez de literatura que oriente o
prossional da informação no manuseio e na organização dos documentos
legais, referente à leitura técnica e à análise de assunto do documento
(MENDES, 2010, p. 8). A falta de uência na terminologia jurídica
também é um problema comum para bibliotecários. Assim, cabe a esses
prossionais estudar e conhecer os tipos e estruturas de documentos
desse domínio.
Pensando na estrutura dos documentos jurídicos, podemos
classicar a informação jurídica em três tipos distintos: “[...] analítica (por
meio da doutrina); normativa (pela legislação) e interpretativa (com o
emprego da jurisprudência). A analítica caracteriza-se pela emissão de uma
opinião particular fundamentada sobre determinado assunto.” (PASSOS;
BARROS, 2009, p. 94).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
284 |
Para Souza (2013, p. 79), “[...] a documentação legislativa
é formada pelo conjunto de documentos gerados durante o processo
legislativo. Compreende os atos legislativos propriamente ditos, as
proposições legislativas e a documentação acessória.
Silva (2016) assinala que a palavra jurisprudência deriva do
“[...] latim jurisprudentia, de jus (Direito, Ciência do Direito) e prudentia
(sabedoria), entende-se literalmente que é a ciência do Direito vista com
sabedoria. Resulta da interpretação e aplicação das leis em casos concretos,
submetidos ao julgamento da Justiça.” (SOUZA, 2013, p. 84).
Por sua vez, Silva (2016) explica que a palavra doutrina vem do
“[...] latim doctrina, de docere (ensinar, instruir, mostrar), na terminologia
jurídica, é tido, em sentido lato, como o conjunto de princípios expostos
nos livros de Direito, em que se rmam teorias ou se fazem interpretações
sobre a ciência jurídica.
A informação jurídica contida em doutrina é comumente
publicada e disseminada de forma impressa ou digital, em formato de livro
ou e-book, e é um tipo de documento bem comum em bibliotecas da área
jurídica.
Marques Júnior (1997) também apresenta conceitos sobre os tipos
de documentos jurídicos. Acrescentamos alguns exemplos aos conceitos do
autor, comuns em bibliotecas jurídicas:
Legislação: É representada pelo conjunto das normas jurídicas
propriamente ditas e, por extensão, da documentação referente ao processo
de sua elaboração. As normas jurídicas, por sua vez, englobam, de acordo
com sua hierarquia, os seguintes diplomas legais: Constituição; Emenda
constitucional; Lei complementar; Medida provisória; Lei ordinária; Lei
delegada; Decreto (MARQUES JÚNIOR, 1997, p. 165).
Jurisprudência: É representada pelo conjunto das decisões
judiciais em relação a determinado assunto ou emanadas de determinada
corte ou instância de julgamento, bem como, por extensão, da
documentação relativa ao processo de tomada dessas decisões. Tipos
básicos: Ação; Sentença; Recurso; Acórdão (MARQUES JÚNIOR,
1997, p. 166).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 285
Doutrina: É representada pelo conjunto da literatura técnica
produzida por especialistas na área jurídica, publicada sob a forma de livros,
teses, artigos de periódicos, trabalhos de congresso etc. Essa literatura,
além de constituir espaço de análise, reexão e discussão da legislação e da
jurisprudência, apontando suas virtudes e imperfeições, tem também por
objetivo facilitar a compreensão dos textos e documentos legais, servindo
como embasamento teórico para a própria atuação jurídico-legislativa
(MARQUES JÚNIOR, 1997, p. 166).
Nesta pesquisa, o enfoque é dado aos documentos que existem
em maior quantidade em bibliotecas jurídicas de vários tipos (tribunais,
escritórios de advocacia, departamentos jurídicos). São os livros e artigos
de periódicos jurídicos (doutrina), em formato impresso ou digital.
Fujita (2017, p. 19) salienta que, “[...] quando lemos algum texto,
sempre estamos prevendo encontrar algum aspecto ou padrão compatível
aos nossos esquemas que nos ajude a compreendê-lo.
Portanto, o reconhecimento de estruturas textuais de documentos
favorece o processo inferencial da leitura documentária. Assim, quanto
mais o leitor se familiariza com diferentes tipos de estruturas textuais, mais
experiente e hábil se torna para ler variadas espécies de textos (FUJITA,
2017, p. 17).
A melhor forma de realizar uma análise segura e el de um
documento se dá com base em sua estrutura. Os aspectos associados ao
conhecimento prévio são os responsáveis por tal conhecimento. Desse
modo, o prossional estará apto a realizar a leitura documentária de forma
adequada à atividade, com base em estratégias metacognitivas de leitura.
Os livros e artigos de periódicos do domínio jurídico possuem
uma estrutura textual diferenciada, considerando seus três tipos (legislação,
jurisprudência e doutrina). Reis (2019), realizou estudo de leitura
documentária de doutrina com base em estruturas textuais. A seguir, serão
fornecidos conceitos de partes da estrutura textual de doutrina (livros e
artigos de periódico), com base em Reis (2019), que analisou bibliotecários
jurídicos por meio de PVIs e estudou diversas publicações da área do Direito,
a NBR 6029 - Informação e documentação - Livros e folhetos, e na NBR
6022 - Informação e documentação - Artigo em publicação periódica
cientíca impressa. Foram considerados os elementos citados nas NBR.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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lIvro
Capa: É uma parte bastante consultada por analistas de assunto e usuários.
É o primeiro contato com o documento; muitas chamam atenção,
devido às cores vivas e ilustrações. Primeiro contato com o “título” do
documento, elemento mais consultado pelos prossionais, para iniciar a
leitura documentária. Ocasionalmente, é possível encontrar informações
inconsistentes com outras partes do livro, como número da edição ou
subtítulo (alguns subtítulos da capa divergem dos da folha de rosto). Não
é uma fonte de informação conável.
Contracapa: Assim como a capa, é um dos primeiros elementos a ser
consultado. O analista de assunto costuma pegar o livro, olhar a capa, virá-
lo e olhar a contracapa. Alguns livros não possuem esse tipo de informação,
sobretudo os livros antigos ou de capa dura (coleções). Quando presente
no livro, contém informações breves sobre o conteúdo, autor ou coleção.
Nessa parte, está sempre presente o código de barras com ISBN do livro.
Em diversas ocasiões, o mesmo tipo de informação, a qual guraria nessa
parte, aparece na orelha do livro.
Orelha: Apresenta informações mais concisas do que as mostradas na
contracapa, consistindo de informações breves sobre o livro, autores e
coleção. Varia bastante de editora para editora.
Anverso da folha de rosto: Parte sempre consultada por analistas de
assunto. Possui informações conáveis, ao contrário da capa. Alguns livros
trazem uma falsa folha de rosto, antes da folha de rosto original. Apresenta
título, subtítulo (quando houver), edição (quando houver), editora, local
de publicação e ano de publicação. Algumas possuem informações da
coleção e sobre o acesso online ao livro (quando houver).
Verso da folha de rosto: Parte habitualmente consultada por analistas de
assunto. Contém informações sobre a edição, publicação e autores. Seria
o local correto para a cha catalográca, que é um elemento muitas vezes
negligenciado pelas editoras de livros. Alguns livros possuem chas com
informações incorretas ou divergentes do anverso da folha de rosto. Em
alguns casos, as editoras não incluem a cha catalográca, em seus livros.
Alguns analistas de assunto costumam consultar os assuntos da cha, após
a análise de assunto do livro, para mera conferência.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 287
Apresentação: Elemento que não aparece em todos os livros da área
jurídica. Muitas estão relacionadas ao conteúdo da edição e aos autores
atualizadores de conteúdo.
Prefácio: Parte com conteúdo semelhante à apresentação e notas de
um livro. Varia de acordo com a preferência dos autores e editores.
Frequentemente consultada por analistas de assunto.
Sumário: Parte sempre consultada pelos analistas de assunto. É considerada
de extrema importância para a análise de assunto. Em alguns livros mais
antigos, principalmente, mas não exclusivamente, pode ser nomeada de
“índice”. Sua extensão varia, dependendo da quantidade e profundidade dos
assuntos abordados. Alguns analistas de assunto fazem uma representação
exaustiva dos termos representados no sumário, dependendo da política
da biblioteca.
Capítulos - desenvolvimento do texto: Alguns analistas de assunto
pulam” essa parte. Em alguns casos, as informações fornecidas nos
sumários já são sucientes para representar os principais assuntos do livro.
Os analistas de assunto costumam consultar o desenvolvimento do livro,
quando o sumário é curto ou inexistente. Assim como todas as partes
mencionadas até agora, pouco difere a versão impressa da versão digital.
ArtIgo de perIódIco
Artigo de periódico impresso: Os artigos de periódicos
impressos costumam ser padronizados, de acordo com as regras de cada
revista. Cada periódico possui um padrão próprio, conforme as regras
editoriais. Geralmente, são compostos por título, sumário e palavras-chave
(nos idiomas que a revista exigir), e desenvolvimento do texto. O número
de páginas dos artigos pode variar, e os analistas de assunto costumam
consultar poucas páginas para a análise de assunto, principalmente a
primeira e a segunda. Raramente consultam a conclusão ou considerações
nais do artigo.
Artigo de periódico digital: Os artigos de periódicos digitais
são estruturados da mesma forma que os artigos impressos. Muitos são
publicados em meio digital e também em meio impresso. O que diferencia
os dois formatos é o acesso: o acesso do artigo em papel se dá por meio da
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
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compra do fascículo, o qual será organizado na biblioteca de acordo com a
política. O acesso ao artigo digital é disponibilizado através de assinatura, e
o tipo de acesso dene se será possível fazer download do artigo ou somente
consultá-lo na plataforma especíca, durante a vigência do plano. A leitura
documentária dos analistas de assuntos costuma ocorrer da mesma maneira
para os dois tipos de artigo.
A leitura documentária do analista de assunto costuma ser
focada em alguns pontos especícos. O formato (impresso ou digital)
não afeta, de forma signicativa, a leitura documentária do prossional.
Os procedimentos de leitura e análise costumam ser os mesmos, quer em
documentos impressos, quer aqueles em meio digital.
Com base nos resultados apresentados por Reis (2019), foi
possível listar quais são as partes das estruturas textuais de doutrina mais
consultadas pelos prossionais, parte da proposta da pesquisa:
Quadro 1 - Diretrizes para leitura documentária de livros da área jurídica.
em lIvros (ordem de ApresentAção de Acordo com A nbr 6029)
Parte externa: capa (título e autor), “contracapa” e orelhas.
Parte interna - elementos pré-textuais: folha de rosto (cha catalográca),
sumário, prefácio;
Elementos textuais: introdução, partes do desenvolvimento.
Fonte: Reis (2019).
Quadro 2 - Diretrizes para leitura documentária de artigos da área
jurídica.
em ArtIgos (ordem de ApresentAção de Acordo com A nbr 6022):
Elementos pré-textuais: título e subtítulo, resumo, palavras-chave;
Elementos textuais: introdução e desenvolvimento.
Fonte: Reis (2019).
Os conceitos enfocados nesta seção evidenciam que a leitura
documentária, com abordagem voltada para o domínio jurídico, permite
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 289
que o indexador seja guiado pela estrutura textual dos documentos,
proporcionando uma análise de assunto produtiva de doutrina.
5 consIderAções fInAIs
Vários processos compõem a organização do conhecimento, e
podemos destacar a leitura documentária como fase inicial da indexação.
O processo de indexação é iniciado com a análise de assunto. É por meio
da leitura documentária, para a análise de assunto, que se torna possível
conhecer o aboutness de um documento. Diversos elementos concernentes
ao processo inferencial, como conhecimento prévio, domínio especíco
de atuação, estratégias próprias, prática e experiência prossional foram
considerados. Concluiu-se que, com relação à leitura documentária, a
singularidade do bibliotecário como leitor é determinante para o sucesso
do processo. Este deverá fazer uso de toda sua bagagem teórica e prática, na
criação de estratégias que sejam ecazes para os objetivos de sumarização.
O Direito possui diversas ramicações, exigindo alta
especialização dos bibliotecários. Acredita-se que a especialização do
bibliotecário em leitura documentária acontece com a prática deliberada,
durante sua experiência, e raramente haverá orientação especíca, na etapa
de formação. O domínio jurídico, exige que o analista de assunto seja
altamente especializado.
Bibliotecários experientes conhecem diversas áreas do Direito,
possuem estratégias de leitura mais do que adequadas ao processo de
leitura documentária e reconhecem diferentes estruturas textuais com
muita facilidade. O resultado é uma análise de assunto para indexação com
qualidade e sob medida, para os usuários especícos do domínio jurídico.
Esta pesquisa contribui diretamente para a leitura documentária,
na Biblioteconomia jurídica, especicamente de doutrina, no sentido
de apresentar, de forma sucinta sugestões de procedimentos para leitura
documentária de doutrina.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
290 |
referêncIAs
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e
documentação: artigo em publicação periódica cientíca impressa: apresentação. Rio de
Janeiro, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6029: informação e
documentação: livros e folhetos: apresentação. Rio de Janeiro, 2006.
BAPTISTA, S. G et al. O perl do bibliotecário que atua na área jurídica: relato
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2019.
BARROS, L. V. Uma leitura sobre a Biblioteconomia Jurídica no Brasil e em países
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12
modelo de leIturA documentárIA pArA
IndexAção de textos nArrAtIvos de fIcção
Deise Maria Antonio SABBAG
resumo: O modelo de leitura documentária para indexação de textos narrativos de cção
tem como objetivo a análise de obras de cção, ou seja, a identicação da tipologia textual,
a leitura técnica do documento e a identicação de conceitos. Propõem como aportes
teóricos o Percurso Gerativo de Sentido e as categorias para obras ccionais desenvolvidas
por Begthol (1994). Apresenta um modelo de leitura documentária que para as obras de
cção denominado Mentif.
pAlAvrAs-chAve: MENTIF. Indexação de Obras de cção. Texto Narrativo de Ficção.
Modelo de Leitura.
AbstrAct: e documentary reading model for indexing ctional narrative texts aims to
analyze works of ction, the identication of the textual typology, the technical reading
of the document and the identication of concepts. Uses theoretical contributions the
Generative Sense Course and the categories for ctional works developed by Begthol
(1994). It presents a documentary reading model that for works of ction called Mentif.
Keywords: MENTIF. Indexing of Works of ction. Narrative Fiction Text. Readin
Model.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
296 |
a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução
e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada
um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que
a sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais, estão
presentes nas diversas manifestações da cção, da poesia e
da ação dramática. A literatura conrma e nega, propõe e
denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de
vivermos dialeticamente os problemas.”
Antonio Candido
1 Introdução
A criação do modelo de leitura documentária para indexação
de textos narrativos de cção (MENTIF) teve a seu entendimento
integralizado após a leitura do ensaio “O direito à literatura” do professor
Antonio Candido (1995). Digo entendimento integralizado pois como um
modelo a princípio tinha como intento o estudo de um conjunto de ideias
que possibilitasse a construção teórica e metodológica para um paradigma
de análise dos textos narrativos de cção. Como modelo ele nasceu
inacabado, inconclusivo e parcial sendo obra aberta para ser aprimorado,
negado, utilizado, modicado, discutido e analisado. A leitura do ensaio
se deu após a conclusão do Mentif, mas sua interpretação decodicou o
desejo que permeava todo o processo de elaboração do dispositivo.
O ensaio apresenta a literatura, a cção, bem como outras formas
artísticas, como um bem de necessidade básica humana, uma necessidade
universal que deveria ser estabelecida como direito. Necessidade universal
que “deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo
fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos
liberta do caos e, portanto, nos humaniza” (CANDIDO, 1995, p. 186), ela
também é um instrumento de desmascaramento, de denúncia, de libertação.
Se entendermos que os textos narrativos de cção são bens
imensuráveis e um direito universal sua análise, síntese e recuperação se
tornam imprescindíveis para sua disponibilização e acesso.
Muitos procedimentos utilizados para identicação do conteúdo
temático dos documentos demonstram ecácia devido à própria tipologia
dos materiais. Esses materiais oferecem uma estrutura textual, e física,
que corrobora para a aplicabilidade de análises metodológicas, compostas
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 297
por elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Essas características
favorecem a análise do conteúdo temático de alguns documentos, como
por exemplo, os técnicos-cientícos. Mas sua aplicabilidade em textos
narrativos de cção carecia, e ainda carece, de maior aprofundamento
devido aos resultados obtidos. Pois, os textos narrativos de cção acabam
sendo representados por seu gênero e nacionalidade.
A partir da década de 1980 percebe-se na literatura de Ciência
da Informação a preocupação com a recuperação de textos narrativos de
cção. Pesquisas importantes são desenvolvidas com esse objetivo, dentre
elas destacam-se os estudos de Burges (1936), Spiller (1980), Pejtersen e
Austin (1983), Harrell (1985), Beghtol (1986), Jansson e Södervall (1987),
Macpherson (1987), Beghtol (1989), Bell (1991), Olderr (1991), Ranta
(1991), Hayes (1992), Beghtol (1992), Beghtol (1994), Negrini (1995),
Andersson e Holst (1996), Hidderley e Raerty (1997), Nielsen (1997),
Saarti (1997), Beghtol (1997), Saarti (1999a, 1999b, 2002).
A maioria desses estudos estão voltados sobre os produtos
documentais, e não sobre o processo de análise dos documentos, sendo
que, os produtos documentais, em sua maioria focam nas questões de
gênero e da nacionalidade dos textos narrativos de cção.
Nosso interesse era desenvolver um modelo que colaborasse para
a análise dos textos narrativos de cção de tal forma que essa tivesse como
resultado o assunto do documento.
Assim sendo, o primeiro desao para o desenvolvimento do
modelo residia na pergunta o que é um texto narrativo de cção?
2 o Que é o texto nArrAtIvo de fIcção?
Para responder essa pergunta foi necessário estabelecer critérios
para sua conceituação. O texto é composto por:
estrutura supercial (microestrutura): compreende elementos
linguísticos que auxiliam na sua composição;
estrutura profunda (macroestrutura): onde existem os elementos
que compõe a denominada semântica do texto, e
superestrutura: forma denida pelo uso social (superestrutura).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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Para um texto ser identicado como “texto narrativo” sua
estrutura supercial (microestrutura) forma-se basicamente por elementos
que indicam ações e mudanças de estado (verbos e indicadores de tempo
e lugar); a estrutura profunda (macroestrutura) apresenta personagens que
sofrem mudanças de estado; e a superestrutura é caracterizada por uma
sequência de ações.
No caminho destes critérios conceituais recorremos à literatura da
área de Ciência da Informação construindo uma reexão com três autores,
a seguir: Lancaster (2004); Beghtol (1994), fazendo uma justaposição com
os conceitos de Moraes (2011).
Lancaster (2004) estabelece uma diferenciação entre textos
de cção e textos de obras não-literárias armando que os elementos
(problemas) envolvidos na indexação do primeiro e do segundo são de
ordem diferentes. Essa diferenciação estaria nos objetivos para os quais os
dois tipos de documentos são criados: “o primeiro, fundamentalmente,
para entreter ou suscitar emoções, o segundo, fundamentalmente, para
veicular informações. O fato de o segundo tipo poder, de vez em quando,
entreter é igualmente fortuito em relação ao objetivo principal do veículo
de comunicação” (LANCASTER, 2004, p. 200).
Para a autora Beghtol (1994) podemos dividir de forma
convencional os documentos em cção e não-cção. Ficção seriam os textos
criados a partir da imaginação; não cção os criados a partir da faculdade
racional. Mas ela alerta que textos criados da imaginação são produzidos
em prosa narrativa. Neste contexto, “a ‘narrativa’ pode ser tomado de forma
ampla para incluir discursos que avançam de algum sentido de um ponto
a outro” (BEGHTOL, 1994, p. 7, tradução nossa).
Na análise das denições realizada por Moraes (2011), Lancaster
(2004) apresenta uma perspectiva redutora sobre a obra literária, o que
pode ser interpretado como desconhecimento em relação às manifestações
literárias quando arma que os textos de cção destinam-se a entreter,
suscitar emoções, divertir etc. De acordo com García-Marco et. al. (2010),
Lancaster (2004) desconsidera a questão nuclear da cção que é a cção
como manifestação artística:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 299
Mas a cção transmite informação cultural - e no nal - informação
muito pragmática, ensinando as pessoas sobre possíveis cursos de
eventos, a complexidade das relações... e, como foi dito antes, é um
meio que envolve uma mensagem que implica no uso dimensões
não-lógicas, apelando para outros canais de comunicação. Na
verdade, nós também devemos lembrar que a cção é uma
manifestação artística, presente em todas as civilizações, e tem
sido estudado de forma cientíca desde a Grécia antiga, como
fez Aristóteles em sua Ars Poetica. Assim, muitos pesquisadores
consideram isso como uma manifestação concreta de informações,
estudando a estrutura de composição, por exemplo, apesar da
cção contar uma história sobre um lugar imaginário, como fez
Swift em As Viagens de Gulliver (GARCÍA –MARCO et al., 2010,
p. 263-264, tradução nossa).
Notadamente, essas obras podem servir a diversão, provocar
emoções, mas defende-se a dimensão da cção enquanto manifestação
artística (presente e reconhecida desde a antiguidade) que não pode ser
esquecida, muito menos desconsiderada na área de Ciência da Informação.
O reducionismo da denição de Lancaster (2004) é contraposto por uma
amplitude na denição de Beghtol (1994) quanto ao texto de cção. A
autora compreende o texto de cção como oriundo da imaginação de
seus criadores. O texto literário encontra-se no limiar da imaginação, do
imaginário, e como estabelecer os limites do ‘o que é ou não imaginário.
Para a autora cção é narrative prose, com isso uma grande quantidade de
textos que não são apenas narrativos, mas podem ser classicados como
ccionais não são contemplados.
Para melhor compreender essa questão, Moraes (2011) apresenta
o exemplo de três épicos: “Odisseia”, “Eneida” e os “Lusíadas”. Tratam-se
de narrativas que atendem os critérios de microestrutura, macroestrutura e
superestrutura, mas são escritos em versos.
Para construir uma denição de texto de cção que seja mais
adequada aos estudos voltados para a área, Moraes (2011) toma como
ponto de partida armações de Beghtol (1994) sobre uma autocrítica a sua
denição de cção:
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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É útil aceitar uma denição operacional por duas razões. Primeiro,
nenhuma denição de cção é universalmente aceita [...].
Segundo, o exame de documentos de cção para o armazenamento
e recuperação de informação precisa incluir o maior número de
exemplos de cção possíveis (BEGTHOL, 1994, p. 07, tradução
nossa).
O autor arma que não há um consenso sobre o que seja cção,
apontando que uma denição deveria ser “tão abrangente de forma a
abarcar todas as possibilidades do texto de cção” (MORAES, 2011, p.
20). Tomam-se como ponto de partida os conceitos de cção usados na
língua portuguesa, à questão da atividade literária em face do cotidiano
em Moisés (1990) e os estudos linguísticos sobre a poética em Jakobson
(2010), chegando à conclusão que
o texto de cção é aquele que é escrito pensando-se também na
seleção dos termos que melhor se adéquam e reforçam o contexto
sugerido pelo conteúdo semântico, ou seja, a cção é uma forma
de manifestação artística, na qual o artista se serve das palavras
para criar a sua obra de arte, buscando com esta fornecer um novo
olhar para as situações humanas, ou mesmo criando uma realidade
que pode ser chamada de paralela. Pode-se armar que o texto
cientíco também é escrito nos mesmos moldes, ou seja, há uma
seleção rigorosa dos termos a serem utilizados, e de fato o são. A
grande diferença é que, enquanto os textos cientícos esforçam-se
por ser o mais claro possível, não se pode dizer o mesmo dos textos
de cção, pois a escolha dos termos se dá para causar um efeito que
busque, muitas vezes, obliterar o que seria o real sentido do que
está escrito, ou mesmo sugerir múltiplos e diferentes signicados
(MORAES, 2011, p. 22).
Dessa forma, como em Moraes (2011), entende-se que cção é
uma forma de arte, uma manifestação artística construída com palavras
que ultrapassam os escritos originários da imaginação do escritor, pois
pode conter elementos concretos da realidade.
Portanto, o texto narrativo de cção é uma manifestação artística
que compreende microestruturas (elementos que indicam ações e mudanças
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 301
de estado), macroestrutura (presença de personagens em situações que
demandam mudanças de estado) e superestruturas (demarcadas por
sequências de ações).
Nesta perspectiva, “o texto narrativo de cção é uma obra de arte
onde o artista é o escritor que cria criteriosamente, selecionando, os termos
que irão representar o contexto escolhido pelo conteúdo semântico
(SABBAG, 2013). O pincel do artista escritor são as palavras que dão
vida a obra de arte, fornecendo ao leitor uma nova perspectiva acerca do
mundo, das relações humanas, das situações humanas, mesmo quando a
realidade usada para demonstrar sua arte tenha elementos do imaginário,
demonstrando sentidos fora da realidade, e sugerindo múltiplos e variados
signicados.
Respondida a questão inicial “o que é um texto narrativo de
cção? ”, uma segunda pergunta permeou a construção do modelo de
leitura: como analisar esse documento artístico?
3 construção do mentIf: Aportes teórIcos
O primeiro ponto que buscamos compreender foram as etapas de
análise e síntese presentes no processo de análise documental, compostas
respectivamente por:
Identicação da tipologia documental: abstração das diferentes
manifestações (visuais, gestuais, verbais ou sincréticas) e
identicação do seu plano de conteúdo;
Leitura Técnica do documento, em que o documentalista adentra
na estrutura do documento, buscando tomar contato com as partes
que revelem maior conteúdo temático valendo-se, para tanto, de
um conjunto de estratégias metacognitivas;
Identicação de conceitos: uma vez identicadas as partes mais
signicativas tematicamente, aplica-se ao documento um conjunto
de categorias conceituais, visando a construção de enunciados de
assunto;
Seleção de conceitos: os enunciados de assunto são categorizados
em principais, secundários e periféricos, e ordenados logicamente,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
302 |
tendo como parâmetros a estrutura, a função e os usos (tipo de
busca informacional a que se presta o documento;
Condensação documental: redução do documento original a um
micro-documento (resumos)
Representação documental: tradução do conteúdo temático do
documento em linguagem de indexação, representando-o por
meio de índices.
Figura 1 – Processo de análise documental
Fonte: Elaborado pela autora.
Compreendida as etapas do processo de análise documental
percebemos que a construção de um modelo de leitura para indexação de
textos narrativos de cção deveria estar relacionada com a etapa de Análise
e suas subetapas: identiciação da tipologia documental, leitura técnica do
documento e identicação de conceitos.
Para tanto os aportes teóricos para a construção do Mentif
tiveram como resultado o estudo articulado de três elementos: gura do
espetáculo (TATIT, 2007); percurso gerativo de sentido (FIORIN, 2011)
e as categorias propostas por Beghtol (1994).
Desta forma a correspondência teórica entra a etapa da análise e os
três elementos cam melhor visualizados para o leitor no quadro a seguir:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 303
Quadro 1 - Aportes teóricos do Mentif
etApA de AnAlítIcA Aportes teórIcos
Identicação da tipologia documental o texto narrativo de cção: obra de arte onde
o artista é o escritor que cria criteriosamente
selecionando os termos que irão representar
o contexto escolhido pelo conteúdo
semântico (SABBAG, 2013)
Leitura técnica do documento Percurso Gerativo de Sentido (FIORIN,
2011)
Identicação de conceitos Categorias de Beghtol (1994)
Fonte: Elaborado pela autora.
Conforme demonstrado no Quadro 1 o modelo de leitura
documentária para textos de cção encontra sua utilização na etapa
analítica, para tanto o indexador deve:
a) Identicar a tipologia textual: o indexador deve ter consciência que
trabalhos com uma grande diversidade de recursos bibliográcos e
para que todos sejam analisados e sintetizados de forma adequada os
prossionais devem respeitar a especicidades dos documentos e, mais,
identicar as necessidades de tratamento a de cada recurso;
b) Leitura técnica do documento: o indexador deve ler o texto narrativo de
cção utilizando as estratégias já tradicionalmente estabelecidas pela área,
e no caso da obra de cção levar em consideração o que será explicitado
no item 2.1;
c) Identicação de conceitos: o indexador deve identicar os conceitos
por meio das categorias estabelecidas por Beghtol (1994) para textos
narrativos de cção (item 2.2).
3.1 leIturA técnIcA do documento: o percurso gerAtIvo de
sentIdo
Apresentamos aqui os elementos constitutivos da Teoria do
Percurso Gerativo de Sentido que utilizamos como embasamento teórico
para a criação do Mentif. Importante ressaltar que, “o percurso gerativo
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
304 |
de sentido parte daquilo que é a parte última da Análise Documental: o
elemento mais simples e abstrato de ordenamento dos múltiplos conteúdos
do texto” (MORAES, 2011), pois ele é o plano de conteúdo de um texto e,
por seu meio, o prossional poderá extrair os elementos conceituais para a
representação do documento.
Em 1966, Greimas (Algirdas Julien Greimas) publica a obra
“Semântica Estrutural” na qual mostra a mudança do estudo das frases para
o estudo dos textos. Esta nova perspectiva tinha como principal questão o
sentido construído no âmbito do texto que logo depois foi denominada de
Semiótica. A Semiótica não possui uma teoria pronta e acabada, mas está
em percurso repensando seu fazer, corrigindo-se, refazendo-se.
Para Greimas (1973) a unidade comum entre as ciências
humanas encontra-se na pesquisa acerca da signicação, mas apesar de
ser um problema central nas ciências, não havia uma disciplina cientíca
adequada para estudar essa questão, pois reconhecia que, principalmente
a semântica, sempre foi a “parente pobre da linguística”. Os três motivos
que explicariam as reticências dos linguistas para com a semântica seriam:
a) o retardamento histórico dos estudos semânticos; b) as diculdades
próprias à denição do seu objeto; e c) a forte onda de formalismo.
Então, o autor uma reexão sobre as condições para um estudo cientíco
da signicação com vistas à construção de uma semântica (GREIMAS,
1973, p. 12-13). Semântica que não seria uma semântica lógica, mas
uma semântica linguística
que se ocuparia da análise tal como é fornecida pelo código da
língua. A semiótica não se interessa pela verdade dos enunciados,
mas por sua veridcção, isto é, pelos efeitos de sentido de verdade
com os quais um discurso se apresenta como verdadeiro, falso,
mentiroso, etc. (FIORIN, 1999, não paginado).
Greimas toma o texto como unidade de análise onde a semântica
deveria ser gerativa, sintagmática e geral (FIORIN, 1999, não paginado):
i) Gerativa: concebe o processo de produção do texto como um
percurso gerativo, caminhando do mais simples e abstrato para o mais complexo
e concreto, no qual ocorre um enriquecimento semântico. O texto é um conjunto
de níveis de invariância crescente;
| 305
ii) Sintagmática: tendo como escopo o estudo da produção e
interpretação dos textos. O texto é a totalidade e não o plano de conteúdo das
línguas naturais, pois seu interesse é encontrar as diferenças produtoras do sentido
do texto, e não em encontrar o conjunto de categorias responsáveis pela criação
dos sentidos das palavras (em determinada língua);
iii) Geral: seu interesse recai sobre qualquer texto, independentemente
de sua manifestação (verbalmente, visualmente, por combinação de planos de
expressão visual e verbal etc.). O conteúdo pode ser analisado separadamente
da expressão, sendo que o conteúdo pode ser veiculado por diferentes planos
de expressão. Para a análise, primeiramente, faz-se a abstração da manifestação,
analisando o plano de conteúdo, logo após analisa-se as especicidades da
expressão e sua relação com o signicado.
Percebe-se o deslocamento produzido pela Semiótica do plano
comum das línguas naturais, das noções funcionais que operam em
unidades linguísticas para o texto global. Para Tatit (2007)
a passagem do estudo das frases ao estudo dos textos requer
signicativa mudança de enfoque. As gramáticas que nos explicam
as construções frasais mostram-se inadequadas para a descrição
da combinação dessas unidades num contexto mais amplo, o que
fez o grande teórico Émile Benveniste considerar que a linguística
perderia o seu lastro cientíco se tentasse integrar as frases num
nível superior de análise (TATIT, 2007, p. 187).
A teoria de Greimas (1973) foi desenvolvida no momento em
que vários linguistas observavam a existência de unidades comuns entre a
noção de frase e texto. Tatit (2007) explica essa noção com base na gura
do “espetáculo”. O autor exemplica a gura do espetáculo com uma frase
simples “O pai dá um presente ao lho” onde podemos identicar uma
curta encenação com personagens:
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
306 |
Figura 2 - Figura do Espetáculo
Fonte: Elaborado pela autora.
A gura do espetáculo “O pai dá um presente ao lho” poderia
ser a base para diversas narrações, por exemplo, um romance, onde um pai
estivesse obstinado a obter um objeto para presentear seu lho para fazê-lo
feliz. Greimas tem inspiração para desenvolver sua teoria na proposição do
linguista Lucien Tesnière. O linguista faz a associação entre a estrutura de
um enunciado simples à estrutura de um espetáculo utilizando o sólido
modelo de análise do conto maravilhoso russo. Este modelo de análise
foi formulado por Vladimir Propp em “Morfologia do Conto”, “que após
sucessivas adaptações, lança sua própria teoria onde elementos conceituais
demonstraram ser possível uma abordagem sintáxica do texto integral
(TATIT, 2007, p. 188).
Assim sendo, a preocupação teórica do Mentif residia em: se
a gura do espetáculo por ser a base para diversas narrações, inclusive
romances, em que parte, local, da obra encontraríamos o PROCESSO
(estado de transformação)? Pois acreditávamos que encontrando esse local
poderíamos utilizá-lo como estratégia de leitura.
A resposta estava no Percurso Gerativo de Sentido. O Percurso
Gerativo de Sentido pode ser denido como o plano de conteúdo que a
semiótica concebe para construir o sentido do texto.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 307
De acordo com Barros (1999, p. 9) a noção de Percurso Gerativo
de Sentido pode ser resumida da seguinte maneira: a) O Percurso Gerativo
do Sentido vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto;
b) São estabelecidas três etapas no percurso podendo cada uma delas,
ser descrita e explicada por uma gramática autônoma, muito embora o
sentido do texto dependa da relação entre os níveis; c) A primeira etapa do
percurso, a mais simples e abstrata, recebe o nome de nível fundamental ou
das estruturas fundamentais e nele surge a signicação como uma oposição
semântica mínima; d) No segundo patamar, denominado nível narrativo
ou das estruturas narrativas, organiza-se a narrativa, do ponto de vista de
um sujeito; e) O terceiro nível é o do discurso ou das estruturas discursivas
em que a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação.
Para Fiorin (1999, não paginado) o percurso gerativo de sentido
constitui “um simulacro metodológico, para explicar o entendimento, em
que o leitor precisa fazer abstrações, a partir da superfície do texto, para
poder entendê-lo”.
Dessa forma, entendemos que o percurso gerativo de sentido
é uma representação metodológica. É uma representação do plano
intelectual traçado por um autor para expressar suas ideias por meio
de uma manifestação. Essa manifestação proporcionará ao realizar
abstrações, a partir da superfície do texto (partindo do mais simples
para o mais complexo), buscar o conjunto de relações responsáveis pelo
sentido. Este conjunto de relações responsáveis pelo sentido do texto é
composto por estruturas sêmio-narrativas e estruturas discursivas. As
estruturas sêmio-narrativas são compostas por componentes sintáxicos e
componentes semânticos.
O percurso gerativo de sentido por ser esboçado no seguinte
quadro:
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(Organizadores)
308 |
Quadro 2 - Percurso Gerativo de Sentido
percurso gerAtIvo de sentIdo
Componente Sintático Componente Semântica
Estruturas
Sêmio-
Narrativas
Nível Profundo SINTAXE
FUNDAMENTAL
SEMÂNTICA
FUNDAMENTAL
Nível de Superfície SINTAXE
NARRATIVA DE
SUPERFÍCIE
SEMÂNTICA
NARRATIVA
Estruturas
Discursivas
SINTAXE DISCURSIVA
Discusivização (actorialização,
temporalização, espacialização)
SEMÂNTICA
DISCURSIVA
Tematização
Figurativização
Fonte: Elaborado pela autora.
Analisando o Percurso Gerativo de Sentido vimos que a resposta a
nossa pergunta estava no Nível de Superfície (narrativo). No nível narrativo
as estruturas narrativas são denidas por transformações de estado.
Essas mudanças podem ser denidas em termos de conjunção e
disjunção (MORAES; GUIMARÃES, 2008). Fiorin (1999) arma que
uma narrativa mínima é denida como uma transformação de estado.
Moraes (2011) alerta para a necessidade de se fazer uma distinção entre
narratividade e narração antes do aprofundamento do nível narrativo, pois
uma ressalva que se poderia fazer, quando falamos que um dos níveis do
Percurso Gerativo de Sentido é o narrativo, é que nem todos os textos são
narrativos. A narratividade é um componente presente em todos os textos, é
uma transformação que se localiza entre dois estados sucessivos e diferentes
(FIORIN, 2011, 27). A narração caracteriza uma determinada classe
textual, classe de discurso em que estados e transformações estão ligados a
personagens individualizados. De certo, todos os textos apresentam um
nível narrativo, se a narratividade for entendida como transformação de
estados, pois está presente em todos os textos (GUIMARÃES; MORAES;
GUARIDO, 2007). Na sintaxe narrativa existem dois tipos de enunciados
elementares (FIORIN, 2011, p. 28):
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 309
a) enunciados de estado: são os que estabelecem uma relação
de junção (disjunção ou conjunção) entre um sujeito e um
objeto (no enunciado “Aurélia é rica”, há uma relação de
conjunção, indicada pelo verbo ser, entre um sujeito “Aurélia
e um objeto “riqueza”; em “Seixas não é rico”, há uma relação
de disjunção, revelada pela negação e pelo verbo ser, entre
um sujeito “Seixas” e um objeto “riqueza”);
b) enunciados de fazer: são os que mostram as transformações,
os que correspondem à passagem de um enunciado de
estado a outro (no enunciado “Seixas cou rico”, há uma
transformação de um estado inicial “não rico” num estado
nal “rico”).
Como existem dois tipos de enunciados de estado, também
existem duas formas de narrativas mínimas caracterizadas pela privação e a
de liquidação da privação.
Na privação ocorre um estado inicial conjunto que passa a um
estado nal disjunto (família rica que ca pobre). Na liquidação da privação
acontece o contrário, o estado inicial é o disjunto e o nal conjunto (pessoa
pobre que ca rica).
Neste momento, é importante ressaltar a função dos papéis
narrativos. Não se deve confundir SUJEITO com pessoa e OBJETO com
coisa. Sujeito e objeto são papéis narrativos. Esses papéis narrativos podem
ser representados num nível mais supercial por COISAS, PESSOAS ou
ANIMAIS. Por exemplo, em uma narrativa de perseguição os HUMANOS
a serem aprisionados são o OBJETO com que o ser que captura deve entrar
em conjunção. Mas quando se diz “o tapete voador pousou no terraço da
casa”, esta transformação tem o TAPETE VOADOR como SUJEITO e
como OBJETO o TERRAÇO DA CASA (FIORIN, 2011, p. 29).
Nessa perspectiva, os textos não são narrativas mínimas, são
narrativas complexas onde os enunciados de estado (fazer e ser) estão
hierarquicamente organizados, tendo como estrutura uma sequência
canônica composta por etapas que caracterizam o esquema narrativo
padrão, que são os dispositivos da análise semiótica (TATIT, 2007). A
sequência canônica demonstra a dimensão sintagmática da narrativa e as
fases obrigatoriamente presentes da representação da ação do homem no
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(Organizadores)
310 |
mundo (FIORIN, 1999). A sequência canônica possui quatro (4) fases:
manipulação, competência, performance e sanção:
Manipulação: um sujeito age sobre outro para levá-lo a querer e/
ou dever fazer alguma coisa. O sujeito é um papel narrativo e não,
necessariamente, uma pessoa. São vários os tipos de manipulação
aqui descritos os quatro mais comuns: tentação, intimidação,
sedução e provocação;
Competência: o sujeito que realiza a narrativa é dotado de um
saber e ou poder fazer;
Performance: fase em que se dá a transformação central da narrativa
(mudança de um estado a outro). Por exemplo: num conto de
fadas em que a princesa foi raptada pelo dragão, a performance
será a libertação da princesa. O sujeito que opera a transformação e
o que entra em conjunção ou em disjunção com um objeto podem
ser distintos ou idênticos;
Sanção: última fase onde há a constatação de que a performance
se concretizou e o reconhecimento do sujeito que operou a
transformação. A sanção pode ser cognitiva se há o reconhecimento
que a competência se realizou; ou sanção pode ser pragmática, com
prêmios e castigos.
Após analisar toda a teoria do Percurso Gerativo de Sentido
chegamos à conclusão que a Performance e a Sanção são etapas da sequência
canônica que poderiam dar subsídios para a leitura técnica do documento
e que, quase sempre, encontram-se na conclusão no texto narrativo de
cção. E neste momento surgiu outra pergunta: se a conclusão de uma
obra de cção pode ser utilizada como ponto estratégico de leitura com
vistas a indexação, como identicar os seus conceitos?
3.2 IdentIfIcAção de conceItos: cAtegorIAs de begthol
A identicação de conceitos está vinculada “ao esquadrinhamento
do documento por meio de categorias conceituais, tendo-se como
pressupostos a estrutura e a função do documento” (GUIMARÃES, 1994,
P. 166).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 311
Para Foskett (1973) na identicação de conceitos o analista
procura estabelecer uma “descrição-modelo” para cada conceito e usar essa
descrição sempre que for necessário. Cavalcanti (1982, p. 220) dene a
identicação de conceitos como o
método que exige a análise do conteúdo temático dos documentos,
para identicação das idéias e atribuição dos termos de indexação,
selecionados em listas previamente elaboradas. O conceito, segundo
o Classication Research Group pode ser inserido em uma das
categorias seguintes: entidades, atividades, abstratos, propriedades,
heterogêneos. As entidades são as coisas que apresentam um
signicado preciso e podem ser físicas (por exemplo, matéria
ou fenômeno físico), químicas (por exemplo, estado molecular,
minerais), biológicas (seres vivos), artefatos (coisas manufaturadas).
As atividades são identicadas pelas formas verbais. Os abstratos
referem-se, em geral, a qualidades ou estados e têm signicado
conotativo. As propriedades são de duas espécies, identicadas
pela forma gramatical: a. adjetivas, usadas em ligação com um
substantivo que qualicam e se referem aos cinco sentidos (audição,
olfato, paladar, tato e visão) e b. substantivas, representativas de
propriedades que podem ser medidas
Mas o que é o conceito?
De acordo com a NBR 12676 (ABNT, 1992) conceito é
qualquer unidade de pensamento, podendo seu conteúdo semântico ser
reexpresso pela combinação de outros conceitos. O assunto é o tema de
um documento representando por um ou uma combinação de conceitos.
Dahlberg (1978) explica que o homem por meio da linguagem foi capaz
de relacionar-se com os objetos que o circundavam. Os objetos podem ser
caracterizados de duas formas:
a) Objetos individuais: objeto pode ser individual quando
pensado como único (distinto dos demais), por exemplo,
casa, mesa, automóvel, esses objetos são expressos por
conceitos individuais. Sua característica é a presença das
formas de tempo e espaço, pois estão no aqui e agora.
Exemplo: UNESP, UNIRIO, Copa das Confederações de
2013, descobrimento do Brasil em 1500 etc.; e
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(Organizadores)
312 |
b) Objetos Gerais: os objetos gerais prescindem das formas de
tempo e espaço, seu estudo é permeado de extremo interesse,
pois em sua base está o processo classicatório, e são expressos
por conceitos gerais. Exemplo: as universidades, as partidas
de futebol, as descobertas marítimas etc.
Os conceitos individuais e gerais podem ser expressos por
enunciados por meio da linguagem natural. Esses enunciados permitem a
elaboração dos diversos conceitos acerca dos diversos objetos.
Portanto, todo enunciado possui um elemento do respectivo
conceito, ou seja, estes elementos identicam-se com as chamadas
características dos conceitos (traduzem os atributos das coisas designadas).
Este processo pode ser considerado
como análise do conceito. Mas só é possível proceder a essa
decomposição do conceito coletando-se os enunciados verdadeiros
que sobre determinado objeto se podem formular. Pode-se então
dizer que os elementos do conceito são obtidos pelo método
analítico—sintético. Cada enunciado apresenta (no verdadeiro
sentido de predicação) um atributo predicável do objeto que, no
nível de conceito, se chama característica. Muitas vezes não se trata
de um atributo a que corresponde uma característica, mas de uma
hierarquia de características, já que o predicado de um enunciado
pode tornar-se sujeito de novo enunciado e assim sucessivamente
até atingirmos uma característica tão geral que possa ser considerada
uma categoria. (Entende-se aqui por categoria o conceito na sua
mais ampla extensão) (DAHLBERG, 1978, p. 102).
As características dos conceitos podem ser simples e complexas.
São consideradas simples as que se referem a uma única propriedade.
Ex.: redondo, colorido, etc. Complexas são as características que
dizem respeito a mais de uma característica. Ex.: moldado em
metal, pintado com tinta azul, etc. Em ambos os casos trata-se
de um material combinado com um processo resultando numa
propriedade. A ordem seguinte das características serve de exemplo
para a possibilidade de listagem de todas as características possíveis
(DAHLBERG, 1978, p. 103).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 313
Dessa forma, por meio da análise das categorias conceituais
podemos realizar a identicação de conceitos nos documentos. Na literatura
da área vários autores empenharam esforços para a análise do assunto do
documento por meio do estabelecimento das categorias.
Nesse sentido, Ranganhan (considerado o criador das classicações
facetadas) criou a Colon Classication (Classicação de Dois Pontos)
que “revolucionou a estrutura dos sistemas tradicionais de classicação,
introduzindo o princípio da divisão de assuntos em categorias ou facetas
(CINTRA, 1987, p. 17).
‘Suas categorias são conhecidas pela sigla PMEST:
ST – Espaço/Tempo;
E – Energia (como forma compulsora). Exemplo: exportações em
economia, currículo em educação;
M – Matéria. Exemplo: ouro como material de dinheiro dentro da
Economia. Instrumento de Música. Marm na Escultura.
P – Personalidade: corresponde às coisas, tipos de coisas, tipos de
ação. Exemplo: pessoas em Sociologia/Psicologia.
Vickery (1980), do Classication Research Group, amplia as
categorias de Ranganathan propondo o seguinte desdobramento: tipo,
estrutura, constituintes, propriedades, processos, operações, técnicas,
generalidades. Mesmas categorias são expressas por Campos e Gomes
(2008) como: Coisas, substâncias, entidades que ocorrem naturalmente;
produtos; instrumentos; constructos mentais; Suas partes constituintes,
órgãos; Sistemas de coisas; Atributos de coisas, qualidades, propriedades,
incluindo estrutura, medidas; processo, comportamento; Objeto da ação
(paciente); Relações entre coisas, interações, efeitos, reações; Operações
sobre coisas; experimentos, ensaios, operações mentais.
Para a identicação de conceitos Begthol (1994) propõe quatro
categorias que seriam generalizantes para textos narrativos de cção:
Personagem;
Eventos;
Espaço; e
Tempo.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
314 |
A autora, em seu livro “e Classication of ction: the
development of a system based on theoretical principles”, busca um
caminho para realizar a análise de obras de cção, pois não aceita a visão
de que textos de cção são intratáveis, não são uídos para análise, pois
não possuem elementos constantes para uma análise que seja considerada
suciente e conável (BEGHTOL, 1994).
Nos estudos realizados por Brewer (1984) e Van Dijk (1992),
Beghtol (1994) observa que diferentes leitores resumem uma mesma
história com grandes semelhanças. Também, esses estudos demonstram
que as pessoas que realizam a leitura de um mesmo livro desenvolvem
as mesmas experiências de leitura. Essas experiências podem ser trocadas
quando esses leitores se encontram e discutem os assuntos relacionados
na leitura do livro. Dessa forma, a autora encontra nos estudos de Halász
(1987) um contributo importante para sua pesquisa, ou seja, se a leitura
de livros de cção pode oferecer um terreno tão comum para discussões
e resumos, pode-se armar que as histórias apenas existem onde se tem
eventos e coisas existentes (personagens e cenários).
Nesse sentido, Beghtol (1994) utiliza dois estudos que buscam
quais seriam as categorias em textos narrativos de cção. O primeiro foi
o estudo de Brewer (1984) onde o autor compara quais são as convenções
narrativas em histórias orais e escritas com o objetivo de formular hipóteses
sobre a existência de elementos universais em textos narrativos de cção.
Como fruto deste trabalho, Brewer (1984) propõe cinco elementos
que seriam universais nos textos narrativos de cção: cenário, personagens,
eventos, resolução e narrador. O segundo estudo foi realizado por Ruthrof
(1981) onde propõe que a narrativa contém as seguintes categorias:
1) Tempo: presente como uma matriz tempo no mundo;
2) Espaço: presente como uma matriz espacial no mundo;
3) Personagem: Personagens;
4) Atos: atos físicos e mentais (um discurso, um pensamento, um
movimento);
5) Eventos: eventos considerados não humanos;
6) Aspectos Pessoais: atitudes das personagens entre si e, também, com o
mundo apresentado;
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 315
7) Aspectos atmosféricos: exemplo: sombrio, idílio;
8) Padrões ideológicos: a ideologia de mundo apresentada no texto.
Beghtol (1994) compara as duas propostas de categorização com
o objetivo de analisar o nível de generalização e o processo sistemático de
divisão. Pela análise da autora, quatro categorias são existentes nas duas
propostas: Tempo, Espaço, Personagem e Eventos.
A categoria Cenário de Brewer (1984) pode ser comparada as
categorias Tempo e Espaço de Ruthrof (1981). De forma similar, Ruthrof
(1981) combina as categorias Events e Acts; e Brewer (1984) a categoria
Evento.
Elementos das duas propostas não apresentam similaridade,
no caso as categorias Resolução e Narração de Brewer (1984) e Aspectos
Pessoas, Aspectos Atmosféricos e Padrões Ideológicos de Ruthrof (1981).
Após a análise, Beghtol (1994) sugere que quatro categorias podem ser
aceitas como fundamentais para cção:
1) Personagem (inclui o narrador): são os seres e atores que existem e
participam no mundo da cção;
2) Evento (inclui atos de humanos e não humanos): ocorrências e
acontecimentos do mundo real e não real;
3) Espaço: lugares geográcos e localizações no mundo ccional; e
4) Tempo: unidade de tempo no mundo ccional.
Dessa forma, para análise de textos narrativos de cção sugerimos
que o indexador utilize essas categorias para a identicação conceitos.
4 modelo de leIturA pArA textos nArrAtIvos de fIcção: mentIf
Após os aportes teóricos apresentamos os passos que o indexador
deve seguir para utilizar o modelo.
Para o exame e leitura técnica do texto narrativo de cção
propomos que sejam utilizadas as seguintes estratégias de leitura (leitura
das seguintes partes dos documentos:
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
316 |
a) Título das obras;
b) Subtítulos;
c) Resumo;
d)Sumário;
e) Ilustrações, diagramas, tabelas e títulos explicativos (não são
comuns em textos narrativos de cção); e
f) Conclusão: composta pelo último ou penúltimo capítulo da obra.
IMPORTANTE: a teoria mostra que a leitura completa da conclusão
proporcionará a IDENTIFICAÇÃO DE CONCEITOS com vistas a
indexação.
mentIf – modelo de IndexAção de fIcção
cAtegorIAs QuestIonAmento
pArtes dA
estruturA
textuAl
IdentIfIcAção
de conceItos
(orIentAndo pelo
conteúdo)
PERSONAGEM Há seres ou atores que
existem e participam no
mundo da cção (inclui
narrador quando for o
caso)? Os seres podem ser
animados e inanimados.
Capa
Contracapa
Último
capítulo da
obra
EVENTO Existem ocorrências e
acontecimentos do mundo
real e não real (inclui atos
humanos, não humanos,
fatos, ações, situações,
sentimentos etc)
Resumo
Orelha do livro
Sumário
Último
capítulo da
obra
ESPAÇO A narração acontece em
um determinado lugar
geográco ou localização
(ou ambiente) no mundo
ccional?
Capa
Contracapa
Resumo
Orelha do livro
Último
capítulo da
obra
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 317
TEMPO Existe uma unidade de
tempo (período de tempo)
no mundo ccional?
Capa
Contracapa
Resumo
Orelha do livro
Último
capítulo da
obra
A seguir exemplo de aplicação do MENTIF.
Livro analisado: “Cai do pano” de Agatha Christie.
O primeiro passo foi a leitura técnica das partes signicativas do
documento. Após a leitura foi realizado o preenchimentos das informações
da obra e as informações do MENTIF.
a) Título da obra: Cai o pano;
b) Subtítulo: um caso de Hercule Poirot;
c) Resumo: possui resumo na quarta capa.
d) Sumário: sem sumário;
e) Ilustrações, diagramas, tabelas e títulos explicativos: sem ilustrações,
diagramas, tabelas e títulos explicativos.
g) Conclusão (composta pelo último capítulo da obra, quando
necessário for, o último e o penúltimo capítulo): possui dezenove
capítulos e um pós-escrito.
cAtegorIAs QuestIonAmento
IdentIfIcAção de conceItos
(orIentAndo pelo conteúdo)
PERSONAGEM Hercule Poirot; Arthur
Hastings; Franklin;
Stephen Norton; X;
Bárbara Franklin; Judith;
Elizabeth Cole e Boyd
Carrington; George;
Curtiss; Enfermeira Craven
Hercule Poirot; Arthur Hastings;
Franklin; Stephen Norton; X; Bárbara
Franklin; Judith; Elizabeth Cole e Boyd
Carrington; George; Curtiss; Enfermeira
Craven
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
318 |
EVENTO Assassinatos; Amizade;
Suicídio; Morte de Poirot;
Suicídio de Poirot
Assassinato
Morte de Hercule Poirot;
Suicídio de Hercule Poirot
ESPAÇO Styles; Inglaterra;
Eastbourne
Inglaterra
TEMPO ---------------------------
5 consIderAções possíveIs: mentIf
O desenvolvimento do Mentif foi um desao teórico-
metodológico que buscou reetir sobre a prática do indexador. Reetir
sobre a prática buscando um instrumento que colaborasse para o fazer do
trabalho.
Essa epistemologia do fazer também intencionou a colaborar com
a análise de obras complexas como os textos narrativos de cção. Por meio
da Teoria do Percurso Gerativo de Sentido e as categorias para as obras de
cção de Beghtol (1994) o modelo de leitura Mentif foi elaborado e tem
como objetivo contribuir para que a literatura seja representada de uma
forma mais adequada levando em consideração o seu assunto, o seu tema.
Como modelo está aberto para do debate, reexão e
aprimoramento.
Com isso esperamos contribuir para uma Biblioteconomia
e Ciência da Informação heterotópica por excelência que contribua e
trabalhe para o crescimento do espaço do Outro.
referêncIAs
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(Organizadores)
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13
modelo de leIturA documentárIA pArA
IndexAção de ArtIgos de jornAl
Silvana Aparecida FAGUNDES
resumo: A leitura documentária consiste na identicação e extração de conceitos. A
leitura documentária de jornais tem que ser rápida, devido à quantidade de material que
necessita ser tratado. Propõe-se a elaboração de um modelo de leitura para indexação de
artigos de jornais mediante revisão de literatura, estudo de caso com o Arquivo do jornal
O Estado de S. Paulo e no Departamento de Documentação da Editora Abril (DEDOC)
e observação da leitura dos indexadores com aplicação de Protocolo Verbal. Os resultados
do teste do modelo indicam que o grupo de ação obteve melhor desempenho na análise
porque selecionou termos que possibilitaram elaborar o enunciado de assunto, contendo
a macroestrutura global do texto. Concluiu-se que o modelo de leitura proposto
possibilita procedimentos que direcionam o indexador experiente ou inexperiente à uma
compreensão durante a leitura documentária sem apelação ao “bom senso”, permitindo
assim realizar uma representação do conteúdo do texto.
pAlAvrAs-chAve: Indexação de jornal. Leitura documentária. Estrutura textual.
AbstrAct: e documental reading consist of the identication and extraction of
concepts. e documental reading of newspapers must be fast, due to the quantity of
materials that needs to be treated. It is proposed the elaboration of a reading model to
the indexing of newspaper articles according to literature review, case study in Archive
of the journal O Estado de São Paulo and, Department of Documentation of Editora
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
324 |
Abril (DEDOC) and observation study of indexers reading with application of the
Verbal Protocol. e results of the model test indicate that the action group had better
performance in the analysis because they select terms that could elaborate the subject,
containing the global macroestruture of the text. It is concluded that proposed reading
model facilitates procedures that direct the experiented or unexperiented indexer to a
comprehension during the documental reading without making use of the “common
sense”, this way allowing them to achieve a representation of the text content.
Keywords: Newspaper indexing. Documental reading. Textual structure.
1 Introdução
A Análise Documentária é uma área da Biblioteconomia e
Documentação que engloba também a atividade de indexação dos
documentos por meio do processo de exame do documento, ou seja, da
leitura documentária.
A leitura documentária é a fase inicial da operação de análise
documentária que se constitui basicamente das fases: leitura do texto e,
neste momento, também ocorre a identicação e seleção de conceitos
que representem o conteúdo do texto, e representação desses conceitos
selecionados através de uma linguagem documentária. O produto dos
procedimentos de Análise Documentária são os índices de assuntos e
resumos.
Na leitura documentária ocorrem os mesmos processos mentais
presentes na leitura normal. E Kato (1986) distingue dois tipos de
estratégias utilizados durante a leitura:
estratégias metacognitivas: conscientes, usadas frente a um
determinado problema;
estratégias cognitivas: automáticas, subconscientes, usadas na
leitura uida sem obstáculos para o leitor.
Destacamos que na leitura para ns de indexação a Norma
ISO (5963, 1985) orienta a proceder o exame do documento buscando
informação precisa em curto período de tempo, analisando: título; resumo;
lista de conteúdos; introdução, frases que iniciam capítulos e parágrafos,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 325
e conclusão; ilustrações, diagramas, tabela; palavras ou grupos de palavras
que se encontram destacadas.
A Análise Documentária deixou de restringir o corpus
documental com o qual trabalha, que na maioria das vezes é o texto escrito
geralmente em suporte papel, e passou a englobar outros documentos em
diferentes suportes.
Evidenciando que nosso objetivo de pesquisa é a observação
da indexação de artigos de jornal, enfatizaremos a estrutura textual do
texto jornalístico.
De acordo com Van Dijk (1983, p. 37), a superestrutura do
texto jornalístico na cultura ocidental é composta por categorias que
exercem uma relação de subordinação e superordenação entre si, como
se observa abaixo:
1- Sumário/Introdução
1.1 Cabeçalho
1.2 Lead
2. Episódio(s)
2.1 Informações prévias
2.1.2 Antecedentes
2.1.2.3 Eventos Presentes
2.1.3.1 Explicação
2.1.3.1.1 Contexto
2.1.3.1.2 Experiências passadas
2.1.3.2 Eventos principais
2.2 Consequências/ Reações
3. Comentários
3.1 Expectativas
3.2 Avaliação (Tradução nossa)
Para o linguista Van Dijk (1983), no texto jornalístico é
convencional a apresentação de um resumo do acontecimento que foi
abordado. Esse resumo pode ser expresso pelas letras grandes separadas
do resto do texto, resumo ou introdução denominado de “Lead”,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
326 |
componente inicial da estrutura textual do artigo de jornal. Com essa
determinação é possível chamar a atenção do leitor que decidirá se o
texto lhe interessa ou não.
E na opinião de Silva (2001), o LEAD constitui a abertura e
arquitetura do texto e que nas notícias e nos textos de abertura, no 1º
e 2º cadernos, o LEAD deverá respeitar formalmente as regras clássicas
contendo: O quê (o que aconteceu, está ou vai acontecer); Quem (os
agentes da ação); Quando (dia da semana e do mês, horas); Onde (o local
do acontecimento); Como (as circunstâncias) e Porque (os motivos e as
razões).
Após conhecer a área de Análise Documentária, surgiu o interesse
em investigar a atividade de leitura dos indexadores, uma vez que, na
literatura sobre o assunto, são raras as publicações sobre a atividade de leitura
documentária. A nosso ver, essa deveria ser caracterizada como a atividade
primordial do processo de indexação, porque sendo a primeira fase da análise
do documento, o bom ou o mau resultado desta reetirá na boa, ou na má
qualidade das outras atividades (elaboração de resumos e índices).
Com o conhecimento da escassez de pesquisas sobre leitura
documentária, optamos então por investigar a atividade de leitura dos
indexadores de jornais porque essa modalidade de leitura, segundo a
literatura da área de Análise Documentária, deve ser realizada rapidamente
já que “ao indexador raramente é dado o luxo de ler um texto do começo
ao m (LANCASTER, 1993, p. 20). Considerando a grande quantidade
de documentos que o indexador tem para tratar, além das outras atividades
que, muitas vezes, tem para desenvolver dentro do centro de informação
no qual trabalha e a grande quantidade de matérias jornalísticas publicadas
diariamente que precisam ser indexadas, podemos supor que, no caso
da indexação de jornais, a leitura documentária deverá ser mais rápida
ainda. E também podemos supor que a observação dessa leitura rápida
proporcionará a outros indexadores o conhecimento dos métodos utilizados
pelos indexadores experientes e suas vantagens.
Neste contexto, percebemos a necessidade de observar a leitura
dos indexadores de jornais para sabermos como agiam esses prossionais
diante da realização da tarefa de indexar, procurando observar se utilizavam
determinadas estratégias e quais eram elas e se tais estratégias eram
consideradas compatíveis com o que indica a literatura da área. E com
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 327
os dados obtidos, comparados com informações relevantes recomendadas
pela revisão de literatura sobre a temática, elaboramos um modelo de
leitura para indexação de jornais.
2 observAção dA leIturA do IndexAdor de ArtIgo de jornAl:
procedImentos metodológIcos
Ressaltamos que decidimos observar a leitura dos indexadores de
artigos de jornais no contexto dos centros de informações especializados
que possuíam acervo organizado e desenvolviam a atividade de indexação.
Nessa pesquisa, a ambiência da observação da prática de indexação de
jornais ocorreu primeiramente no contexto do Arquivo do jornal O Estado
de S. Paulo e foi realizada durante o nosso curso de graduação, como
trabalho de conclusão de curso, em 1997. Durante o triênio de 1999-
2001, continuamos com a pesquisa no curso de mestrado em Ciência da
Informação na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho
(UNESP) – Campus de Marília, tendo como ambiência de observação
o Departamento de Documentação da Editora Abril (DEDOC). O
DEDOC foi escolhido visando obter subsídios capazes de complementar
a pesquisa anterior, enriquecendo-a com a observação da indexação
em duas ambiências: arquivo do jornal O Estado de S. Paulo, realizado
durante o curso de graduação em 1997, e DEDOC da Editora Abril, para
elaborarmos o modelo de leitura para indexação de jornais.
Para atingir os objetivos propostos, a pesquisa optou por uma
metodologia de coleta e análise de dados cujos processos estão descritos
na sequência.
Dentre os processos metodológicos adotados, primeiramente,
foi realizado um levantamento bibliográco em fontes de informação
na área, onde se pesquisou a literatura relevante publicada sobre: leitura
documentária, estrutura do texto jornalístico, identicação de conceitos
e metodologias para avaliação de política de indexação e linguagens
documentárias.
Com o levantamento bibliográco, identicamos bibliograas
relevantes que compõem os pressupostos teóricos desta pesquisa, em que
se destacam: a metodologia para indexação manual de jornais mencionada
por Ahmad (1991); tipologias e estruturas textuais de textos trabalhados
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
328 |
pela Análise Documentária citada por Kobashi (1994), a classicação das
concepções de análise de assunto proposta por Albretchtsen (1993), a
estrutura do texto jornalístico elaborada por Van Dijk (1983) analisada
e comentada por Amaro (1991) e ainda as considerações de Silva (2001)
para essa estrutura textual, atividades metacognitivas presentes na leitura
consciente estabelecidas por Brown (1980), Kato (1986), Norma ISO
(5963, 1985), elementos de política de indexação estabelecidos por
Carneiro (1985), avaliação da estrutura externa de tesauros elaborada por
Corrêa (1998), metodologia de avaliação da estrutura interna de linguagens
documentárias elaborada por Ginez de Lara (1993), metodologia de
análise de assunto do sistema de indexação PRECIS comentada por Fujita
(1989) e modelo de leitura para indexação de artigo de periódico cientíco
também elaborado por Fujita (2000-2002).
Posteriormente, para a observação da leitura dos indexadores
foram necessários estudos de casos nos centros de informação especializados
(Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo e DEDOC) que desenvolviam a
indexação de jornais. Nessa fase de estudos de casos, foi realizada consulta à
documentação e conversa com os responsáveis pelos setores, possibilitando
uma caracterização da infraestrutura física e funcional dos centros
englobando: histórico breve e área física, o organograma da instituição,
recursos humanos, recursos materiais (mobiliário, equipamento e acervo),
usuários e serviços prestados. E também foi elaborada entrevista para a
caracterização dos indexadores dos sistemas de informações, com a qual
foram obtidos dados referentes à formação educacional, experiência
prossional anterior e no serviço de indexação, outras atividades realizadas
na instituição, diculdades na atividade de indexação e procedimentos de
identicação de conceitos e fontes de experiência de indexação.
Identicamos a política de indexação dos centros de informações
como uma das variáveis que inuenciam a leitura do indexador. Percebemos
que a política de indexação desses centros inuencia na escolha da linguagem
de indexação e, consequentemente, no resultado da leitura do indexador.
Quando realizamos os estudos de casos analisamos, também, a
política de indexação do Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo e do DEDOC,
por meio da vericação da ocorrência de alguns elementos estabelecidos por
Carneiro (1985) para implantação de uma política de indexação.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 329
E como a escolha da linguagem documentária adotada pelo centro
de informação sofre inuência da política de indexação, e esta determina
a comunidade usuária que a instituição servirá, fez-se necessário avaliar a
estrutura externa das linguagens documentárias, seguindo a metodologia
elaborada por Corrêa (1998), e também avaliar a estrutura interna somente
da linguagem do DEDOC, seguindo a metodologia de Ginez de Lara
(1993), porque a linguagem do Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo não
apresentou parâmetros funcionais para se avaliar a sua estrutura interna.
A observação da leitura documentária dos indexadores de jornal,
no Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo e no DEDOC, foi realizada com
a aplicação do Protocolo Verbal, um método de observação introspectivo,
muito utilizado na área de Linguística Aplicada para investigar as ações do
indivíduo durante a realização da leitura, de modo a gravar a exteriorização
de seus processos mentais em busca da compreensão. Esse método é
denominado “Pensar Alto”.
A utilização da técnica introspectiva denominada “Pensar Alto”,
ou seja, Protocolo Verbal, possibilita que os pensamentos dos sujeitos
(indexadores) sejam gravados e transcritos literalmente, produzindo
protocolos verbais. Os protocolos são denidos como relatos verbais
dos processos mentais conscientes do sujeito. Em outras palavras, eles se
referem ao “Pensar Alto” do sujeito enquanto realiza uma tarefa de qualquer
natureza. (CAVALCANTI, 1989; CAVALCANTI; ZANOTTO, 1994).
Esse método de observação ultrapassou os limites da área de
Psicologia Cognitiva e passou a ser utilizado na Linguística Aplicada,
na pesquisa sobre leitura por meio dos trabalhos de Hosenfeld (1977)
referentes à leitura em língua estrangeira, e do trabalho de Olshavsky
(1976-1977) sobre leitura em língua materna.
No Brasil, particularmente no Programa de Pós-Graduação em
Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas da PUC/São Paulo (LAEL),
protocolos têm sido usados como instrumentos de pesquisa em dissertações
como a de Nardi (1993), cujos parâmetros metodológicos serviram de
base para o desenvolvimento do Projeto Integrado “Leitura em Análise
Documentária”, pertencente ao Grupo de Pesquisa da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) - Campus de Marília,
coordenado por Fujita (2000-2002).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
330 |
É inédita no Brasil a observação do processo de leitura
documentária para indexação com uso do Protocolo Verbal. Destaca-
se que a pesquisa realizada por Fujita no Projeto Integrado “Leitura em
Análise Documentária”, com indexadores da Sub-Rede de Informações
em Ciências da Saúde Oral, provavelmente é pioneira na utilização deste
método.
Na literatura internacional o uso do Protocolo Verbal para
observação do processo de indexação foi relatado por Gotoh (1983) em
artigo que discute os problemas do comportamento de processamento da
informação na atividade de indexação humana. Nesse trabalho, o autor
realizou um experimento com dois sujeitos indexadores utilizando a
técnica de Protocolo Verbal.
A técnica de Protocolo Verbal é, no momento, segundo Nardi
(1993), o único instrumento de coleta disponível que possibilita observar
processos do leitor durante a compreensão de um texto. Destaca-se que
a referida pesquisadora utilizou a técnica em sua pesquisa de mestrado
(NARDI, 1993), e obteve êxito nos resultados, o que justica a nossa
escolha por esta técnica.
Nesta pesquisa, com os indexadores de jornais, os procedimentos
da coleta de dados em ambas as instituições (Arquivo do jornal O Estado
de S. Paulo e DEDOC) foram:
1- procedImentos AnterIores à coletA de dAdos:
Seleção do Texto-Base
Para a seleção do texto-base escolheram-se textos inéditos, ou
seja, desconhecidos e ainda não indexados por nenhum dos indexadores.
Quanto à temática os textos selecionados eram referentes aos
Cadernos, ou Editorias dos Jornais com os quais cada indexador trabalhava,
variando-se, assim, a temática de cada texto.
Destaca-se que para a observação da leitura dos indexadores do
Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo e do DEDOC foram selecionados
dez textos, sendo que cada indexador (caracterizados como sujeitos 1,2,3,4
e 5) indexou dois textos.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 331
Seleção dos Sujeitos
A seleção dos sujeitos considerou como critério o tempo de
permanência no sistema de informação e na atividade de indexação
acrescentando ainda “habilidade em indexação” reetida na quantidade de
documentos indexados. Foram selecionados cinco indexadores que foram
classicados como sujeitos 1 e 2 (pertencentes ao Arquivo do jornal O
Estado de S. Paulo) e sujeitos 3, 4 e 5 (pertencentes ao DEDOC).
Conversa informal com os sujeitos
Foi realizada uma conversa informal com cada um dos sujeitos,
durante a qual foram expostos os objetivos da pesquisa, destacando sua
relevância para o desenvolvimento da área de Análise Documentária.
Nessa conversa, ressaltou-se que a identidade dos sujeitos manter-se-ia
oculta, visando assim deixá-lo mais à vontade e não comprometer os dados
coletados. Foi solicitado que cada sujeito realizasse a leitura do texto-
base naturalmente como o faz no seu dia-a-dia tendo como objetivo a
identicação e seleção de conceitos para a indexação.
Familiarização com a tarefa do “ink Aloud” (Pensar
Alto)
Antes da aplicação do Protocolo Verbal, foi realizada uma
familiarização com a tarefa de “Pensar Alto” por meio da leitura do texto
“Instruções aos Sujeitos” elaborado por Nardi (1993), tendo o propósito de
descontrair e, ao mesmo tempo, apresentar procedimentos que pudessem
auxiliar os sujeitos no desempenho da tarefa.
2- procedImentos durAnte A coletA de dAdos:
Gravação do “Pensar Alto” durante a leitura do texto-base
Anteriormente à gravação, foi entregue aos sujeitos o texto-base,
solicitando-os a “Pensar Alto” durante toda a leitura e exteriorizar seus
processos mentais, procurando esquecer a presença da pesquisadora que
somente controlava o gravador e lembrava que era preciso “Pensar Alto”. A
aplicação do Protocolo Verbal foi realizada, com cada um dos indexadores,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
332 |
bem como a conversa informal, a familiarização com a realização da tarefa
e a leitura do texto “Instruções aos Sujeitos”.
3- procedImentos Após A coletA de dAdos
Transcrições literais das gravações da leitura dos sujeitos
As transcrições foram feitas de maneira a destacar a compreensão
dos sujeitos, suas dúvidas, equívocos, identicação e seleção de termos.
Para melhor visualização dos processos adotados pelos sujeitos, destacamos
cada um deles com um tipo de notação especíca, como descrito em
Fagundes (2001, p. 132):
Letra normal: vocalização das palavras exatas do texto durante a
leitura
Itálico: comentários do leitor
Negrito: termos identicados
..PS: pausa
( ): comentários da pesquisadora
: indexador volta a trechos do texto
Destacamos um trecho da análise da observação da atividade
de leitura, de um sujeito dos estudos de caso fazendo uso das notações
adotadas na transcrição (grifadas abaixo):
Bailarina acusa o marido ator de espancamento e dá queixa na
polícia. Bailarina acusa marido e ator registra queixa de agressão. Briga de
casal teria acontecido durante a festa de aniversário do lho. Ana Carolina
Torres. (A pesquisadora observou que nesse momento o indexador
seleciona o nome do autor e digita na cha de indexação, onde o mesmo
é obrigatório). Então essa aqui como envolve pessoas públicas quer dizer
bailarina, artista o casal trabalhou em novelas coisa do tipo então a gente
marca o que aborda a matéria. A atriz e bailarina Luciana Bessa, de 21 anos,
registrou queixa contra o marido, o ator Ademir Zanyor, de 26, na 32ª DP
(Jacarepaguá), no domingo passado. Ela o acusa de tê-la espancado durante
a festa de aniversário de dois anos de Uriel, lho único do casal. ...PS.. E
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 333
você vai pro nome da bailarina (Nesse momento o indexador atribui como
assunto da matéria o nome da bailarina) BESSA, Luciana e o ator chama
ZANYOR, Danilo. (Posteriormente o indexador comenta) Entramos pelo
nome do agressor e da vítima então aqui lemos bailarina acusa marido
ator ..PS.. Então, aqui não precisa colocar bailarina, ator porque o título
já está denindo isso e quando o título dene mais ou menos o que está na
matéria não tem necessidade de colocar muitos termos.
Durante a observação da leitura dos indexadores experientes,
estabelecemos um parâmetro de análise que considerou os aspectos
destacados no QUADRO 1 abaixo:
Quadro 1 - Identicação da Natureza Metacognitiva Na Leitura
Documentária.
Aspectos
metAcognItIvos de
leIturA estAbelecIdos
por brown
reformulAdAs por
KAto
recomendAções dA
normA Iso 5963
AdAptAdAs Ao texto
jornAlístIco
outros Aspectos do
comportAmento do
IndexAdor durAnte A
leIturA
· Explicitação dos
objetivos da leitura e/
ou manutenção dos
objetivos na mente;
· Análise do documento
com domínio da
estrutura textual,
considerando partes
do texto é uma
recomendação
da Norma ISO.
Vericaremos a
exploração da estrutura
do texto jornalístico
proposta por Van
Dijk (1983); analisada
e comentada por
AMARO (1991) e
SILVA (2001)
· Associação com
Linguagem;
Identicação de aspectos
importantes da mensagem;
· Identicação de
conceitos (abordagem
sistemática mediante
questionamento)
· Seleção de conceitos
(Termos ou
descritores)
334 |
Alocamento de atenção a
àreas importantes;
· Seleção de conceitos
* Exploração da estrutura
textual
· Monitoramento do
comportamento
através de:
* Engajamento em revisão e
auto-indagação para ver se o
objetivo está sendo atingido;
*Tomada de ações corretivas
quando são detectadas falhas
na compreensão
*Recobramento de atenção
quando a mente se distrai
ou faz digressões
Fonte: FAGUNDES (2001)
3 resultAdos dA observAção dA leIturA dos IndexAdores de
ArtIgo de jornAl
A análise das transcrições dos textos permitiu identicar que os
indexadores experientes, durante a indexação, seguem uma sistemática de
identicação de conceitos, utilizando seis tipos de comportamento:
Realizam o destaque de palavras do texto por meio de argolamento
ou digitação (esse argolamento não foi expresso verbalmente, a
pesquisadora observou e anotou);
Realizam associações com a linguagem após reconhecimento de
termos;
Fazem questionamento durante a leitura do texto quanto à escolha
dos descritores;
Identicam que há maneiras diferentes de ler;
Evidenciam conhecimento da estrutura do texto jornalístico;
Usam conhecimento prévio do assunto e recorrem à memória de
longo prazo.
| 335
É relevante mencionar que com os resultados obtidos durante a
observação da leitura dos indexadores experientes e também com os dados
dos estudos de revisão da literatura conseguimos obter subsídios para
elaboração do modelo. Assim, foi possível identicar as respostas às nossas
suposições, referindo-nos, primeiramente, ao fator tempo disponível para
ler, em que supúnhamos que a leitura documentária de jornais deveria ser
rápida devido à grande quantidade de material publicado. A análise dos
protocolos evidenciou que a leitura dos indexadores de jornais é rápida,
e que um dos fatores que proporciona esta rapidez é o conhecimento da
estrutura do texto jornalístico. Tal estrutura está composta de tal forma
que, geralmente, nos primeiros parágrafos encontramos um resumo com
respostas aos questionamentos - Quem? O que? Como? (Para que?) Onde?
Porque? (Para que?) Quando? - que permitem ao leitor compreender o
texto e identicar o tema abordado antes de ler o texto detalhadamente.
Entretanto, os indexadores não explicitaram, durante a gravação da
indexação dos textos selecionados, conhecerem o questionamento
proposto pela estrutura do texto, mas demonstraram indícios de conhecer
a estrutura textual, porque concentraram a seleção de conceitos nos itens
Lead
*
e “Episódio” componentes da estrutura textual da notícia, que se
localizam no começo do texto jornalístico.
Além disso, o que proporciona rapidez na leitura dos indexadores
de jornais é o conhecimento prévio sobre o tema a indexar, porque
percebemos que o leitor não identica e seleciona o tema do texto se não
tiver compreendido o texto. E para que ocorra compreensão, é preciso
que o conhecimento prévio (adquirido com indexação de textos anteriores
relacionados ao tema presente, ou por meio de leitura, etc.) referente
ao tema interaja, no momento da leitura, com as informações do texto.
Percebemos, então, que a memória do indexador é um fator primordial
para a acumulação de conhecimento prévio sobre o assunto com o qual
trabalha, porque as matérias são publicadas por vários dias, então algo novo
vai se introduzir nas matérias novas, mas o tema abordado, já conhecido,
provavelmente será o mesmo.
Uma outra suposição era que os indexadores de jornais
experientes deveriam utilizar determinadas estratégias para realizar essa
leitura rápida, e interessava-nos descobrir quais eram essas estratégias. A
análise dos protocolos tornou possível o estabelecimento da sistemática
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
336 |
de identicação de conceitos, que os indexadores utilizaram durante a
leitura, recorrendo a diferentes estratégias como exploração da estrutura
textual, considerando, na maioria dos textos, a leitura do “Lead”, uso do
conhecimento prévio, entre outras. Entretanto, notou-se que após seleção
de conceitos, realizaram pouca associação com Linguagem. (Linguagem
Documentária do Centro de Informação.)
Evidencia-se que questionávamos, também, se as estratégias
utilizadas eram compatíveis com o que recomendava a literatura. Os
resultados da observação da leitura dos indexadores nos comprovaram
que sim, porque eles utilizam exploração da estrutura textual, uso do
conhecimento prévio, entre outras estratégias.
Sendo assim, conrmamos nossas suposições, evidenciando
que os indexadores experientes de jornais são estratégicos, rápidos e
dominam a estrutura textual para identicação e seleção de conceitos.
Com a conrmação das hipóteses, acima, atingimos, primeiramente,
um dos nossos objetivos que era a identicação de estratégias de leitura
para indexação de jornal. E isto conjuntamente com dados relevantes
encontrados na revisão de literatura, nos possibilitou alcançar um segundo
objetivo que era elaborar um modelo de leitura para indexação de artigos de
jornal, considerando os resultados da observação de leitura dos indexadores
e recomendações da literatura.
4 leIturA documentárIA pArA IndexAção de ArtIgos de jornAIs:
proposIção e AvAlIAção de modelo
Com a análise dos resultados da revisão de literatura sobre a
temática e a observação prática de indexação de jornal, elaboramos o
modelo de leitura para indexação de artigos de jornais, visualizado abaixo,
que acompanha um roteiro de utilização:
roteIro de utIlIzAção do modelo
1 - Inicie a leitura do texto buscando prever por meio de interpretação
da ilustração (fotograa) ou da leitura do título, o assunto que o texto
abordará;
2 - Posteriormente, comece a ler o texto utilizando o seu conhecimento
prévio sobre o assunto, direcionando a sua leitura para os cinco
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 337
primeiros parágrafos, sem realizar leitura linear, buscando encontrar
respostas aos questionamentos propostos pelo modelo de leitura
descrito mais especicamente no quadro abaixo (alertamos que nem
todas as respostas das questões estarão presentes num texto);
3 - Encontre no texto as possíveis respostas aos questionamentos: O
que?; Quem?; Quando?; Onde?; Como?; (ou Para que?); Por que?;
4 - Identique as respostas considerando, nesse momento, o conteúdo
do texto, visando compreender do que o texto trata, qual o seu assunto;
5 - Selecione, dentre as respostas encontradas, somente os conceitos que
interessem à comunidade usuária que fará uso de determinado texto;
6 - Após selecionar o conceito que representa o conteúdo do texto e
que interessa aos usuários, compare os conceitos selecionados com a
Linguagem do sistema (no caso DEDOC);
7 - Por m, elabore um resumo considerando o questionamento do
Lead organizando as respostas obtidas em ordem lógica para as questões:
O que?; Quem?; Quando?; Onde?; Como?; (ou Para que?); Por que?;
(ou Para que?).
Quadro 2 - Modelo de leitura para indexação de jornais:
identicação de conceitos por questionamento evidenciando a
estrutura textual jornalística.
conceIto
pArA AnálIse
de Assunto
do sIstemA
(precIs)
pArte dA estruturA
textuAl (vAn
dIjK, 1983) onde
podemos encontrAr
o QuestIonAmento
do leAd e os
elementos do
sIstemA precIs
QuestIonAmento
Ao (leAd)
dA estruturA
do texto
jornAlístIco
segundo vAn
dIjK (1983);
sIlvA (2001)
lembre-se Que
pArA AtIngIr o
objetIvo dA leIturA
documentárIA o
IndexAdor deve:
AÇÃO Sumário/Introdução
(Cabeçalho e Lead)
O que (o que
aconteceu, está ou
vai acontecer)
Identicar conceitos
considerando
o conteúdo do
documento
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
338 |
AGENTE Sumário/Introdução
(Lead)
Quem (os agentes
da ação)
Selecione
os conceitos
considerando
as necessidades
informacionais da
comunidade usuária
MÉTODOS
DO
AGENTE
Sumário/Introdução
(Lead) ou Episódio
(s)
Como, ou
Para quê (as
circunstâncias)
Padronize os
conceitos com
termos de uma
linguagem de
indexação. E se
preciso crie novos
termos.
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
Sumário/Introdução
(Cabeçalho)
Sumário/introdução
(cabeçalho e Lead)
Quando (dia da
semana e do mês,
horas)
Onde (o local do
acontecimento)
CAUSA E
EFEITO
Sumário/Introdução
(Lead) ou Episódio
(s)
Por que, ou Para
que (os motivos e
as razões)
Fonte: FAGUNDES (2001).
Após elaboração do modelo, realizamos uma aplicação
com um corpus de textos selecionados para testar a viabilidade de
seu funcionamento. Selecionamos no DEDOC três indexadores
considerados inexperientes, porque realizavam a atividade de indexação
esporadicamente, para participarem da fase de avaliação do modelo de
leitura, visando vericar o seu funcionamento na atividade de indexação,
considerando o contexto dos centros de informação especializados que
tratam a notícia e que demandam rapidez no tratamento dessa tipologia
documentária.
A fase de avaliação do modelo, na qual participaram os
três indexadores caracterizados como: Clara, Ana e Maria, seguiu
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 339
os procedimentos adotados para observar a leitura dos indexadores
experientes. Ressalta-se que, diferentemente da primeira fase, não houve
uma preocupação em selecionar textos de temática especíca porque
seria utilizado por sujeitos (indexadores) que indexam textos diversos,
mas nos preocupamos em selecionar dois textos, caracterizados como (A
e B), que apresentavam mais completamente a estrutura completa do
texto jornalístico.
O texto A foi utilizado pelos três sujeitos Ana, Maria e Clara,
mas somente o sujeito Clara o indexou fazendo uso do modelo de leitura
(porque já conhecia o modelo e sabia utilizá-lo) e o texto B foi utilizado
para a pesquisadora ensinar ao indexador Clara sobre o funcionamento
do modelo, numa fase anterior à indexação do Texto A. Um outro
procedimento diferente ocorrido na fase de avaliação foi a gravação do
depoimento do sujeito Clara quanto à utilização do modelo, a m de
que, se preciso, o mesmo pudesse ser aperfeiçoado.
Destaca-se que na fase de avaliação do modelo de leitura
com o segundo grupo de indexadores do DEDOC, (indexadores
inexperientes), os dados levantados do protocolo do indexador que num
primeiro momento foi orientado sobre o funcionamento do modelo
(caracterizado como sujeito Clara) para que num segundo momento
tivesse condições de utilizar individualmente o modelo, demonstraram
que o questionamento do Lead presente no modelo foi um dos fatores
que, conjuntamente com o conhecimento prévio mínimo do assunto,
possibilitaram ao indexador realizar a indexação do texto selecionado.
Esse fato foi evidenciado durante a gravação do Protocolo Verbal nos
momentos em que o sujeito indaga que no dia-a-dia deixaria de atribuir
termos (assuntos) para representar o texto por se tratar de um texto difícil
de compreender, pois era um texto da área médica.
Na discussão dos resultados quanto à avaliação do modelo de
leitura proposto, notou-se que fazendo uso das orientações do modelo,
os conceitos selecionados pelo indexador que foi orientado para utilizar
o modelo, possibilitaram uma representação mais dedigna do tema
global comunicado pelo texto, do que os conceitos selecionados pelos
dois indexadores que não zeram uso e desconheciam o modelo, porque
aumentou as possibilidades de recuperação do texto, selecionando mais
termos.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
340 |
Para uma melhor visualização dos dados obtidos na fase de
avaliação do modelo elaboramos os QUADROS 3 e 4:
Quadro 3 - Indexação do texto A não fazendo uso do modelo de leitura
proposto, realizada pelo sujeito Ana.
conceItos
(precIs)
pArte dA
estruturA
textuAl
(vAn dIjK)
conceIto
(leAd)
termos
IdentIfIcAdos
lInguAgem
dedoc
AÇÃO Lead O que (o que
aconteceu,
está ou vai
acontecer)
Experiência
Cientíca
Experiência
Cientíca
AGENTE Cabeçalho e
Lead
Quem (os
agentes da
acção)
Instituto
de Pesquisa
Scripps
MÉTODOS
DO AGENTE
Lead Como (as
circunstâncias)
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
Lead Onde (o
local do
acontecimento)
CAUSA E
EFEITO
Lead Por que (os
motivos e as
razões)
Enunciado de Assunto: O Instituto de Pesquisa Scripps realizou uma experiência cientíca.
Fonte: FAGUNDES (2001).
Percebemos que o sujeito Ana, com os conceitos que atribuiu ao
texto, conseguiu responder o que aconteceu de uma forma bem genérica,
e quem o realizou, sem conseguir descrever a informação que o texto
comunica de forma global.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 341
Quadro 4 - Indexação do texto A não fazendo uso do modelo de leitura
proposto, realizada pelo sujeito Maria.
conceItos
(precIs)
PArte dA
estruturA
textuAl (vAn
dIjK)
conceIto
(leAd)
termos
IdentIfIcAdos
lInguAgem
dedoc
AÇÃO Lead O que (o que
aconteceu,
está ou vai
acontecer)
Experiência
Cientíca
AGENTE Cabeçalho e
Lead
Quem (os
agentes da
acção)
MÉTODOS
DO
AGENTE
Lead Como (as
circunstâncias)
Medicamento-
antibiótico
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
LeadLead Onde (o
local do
acontecimento)
CAUSA E
EFEITO
Por que (os
motivos e as
razões)
Infecção
hospitalar
Enunciado de Assunto: Vai se desenvolver um medicamento-antibiótico para se combater
infecção hospitalar.
Fonte: FAGUNDES (2001).
Notamos que o sujeito Maria, sem usar o modelo de leitura
proposto, consegue, muito vagamente, com os termos que selecionou,
responder o que se causou e como se pretende combater o problema.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
342 |
Quadro 5 - Indexação do texto A fazendo uso do modelo de leitura
proposto, realizada pelo sujeito Clara.
conceItos
(precIs)
pArte dA
estruturA
textuAl (vAn
dIjK)
conceIto
(leAd)
termos
IdentIfIcAdos
lInguAgem
dedoc
AÇÃO Lead O que (o que
aconteceu,
está ou vai
acontecer)
Bactéria Bactéria
AGENTE Cabeçalho e
Lead
Quem (os
agentes da
acção)
Instituto
de Pesquisa
Scripps
MÉTODOS
DO
AGENTE
Lead Como (as
circunstâncias)
Molécula Molécula
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
LeadLead Onde (o
local do
acontecimento)
La Jolla/
Califórnia
CAUSA E
EFEITO
Por que (os
motivos e as
razões)
Infecção
hospitalar
Infecção-
hospitalar
Enunciado de Assunto: O Instituto de Pesquisa Scripps localizado em La Jolla na Califórnia
criou uma nova classe de moléculas para combater bactéria que causa infecção hospitalar.
Fonte: FAGUNDES (2001).
5 consIderAções fInAIs
Com a utilização do modelo de leitura proposto, os conceitos
selecionados pelo sujeito Clara, provavelmente abrangeram todas as
possibilidades de termos para recuperação do texto e possibilitou organizar
o enunciado de assunto de maneira lógica, resultando em uma representação
mais dedigna do tema global vinculado pelo texto.
Pretendemos na continuidade da pesquisa aprimorar o modelo
de leitura proposto realizando uma investigação teórica mais abrangente
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 343
a respeito da estrutura do texto jornalístico, visando identicar em sua
organização elementos linguísticos de apresentação do tema que compõem
as respostas ao questionamento proposto pelo “Lead” e presentes no
modelo, bem como, uma hierarquização desses elementos, diferenciando
os relevantes dos secundários no relato de uma notícia.
Percebe-se que identicar o tema é uma tarefa difícil de realizar,
como também de ensinar, pois em muitos casos este se encontra no texto
de maneira complexa e pouco explícita.
Logo, identicar e representar o tema no documento não é uma
tarefa fácil , e até o momento é realizada de maneira mais ecaz pelo
indexador humano e essa é temática carente de investigação na literatura
da área.
Concordamos com Campos (1987) que a área de indexação
deve apresentar instrumentos para análise e interpretação do documento
e que esses venham fornecer ao indexador possibilidades de compreender
coerentemente o texto analisando o seu conteúdo e considerando as
necessidades informacionais da comunidade usuária.
O modelo de leitura que elaboramos é provavelmente original e
a possibilidade de sua utilização na indexação de jornais é relevante para
a área de Análise Documentária, como para os centros de informação
especializados que tratam a notícia.
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Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
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modelo de leIturA documentárIA pArA
elAborAção de resumos dA lIterAturA
InfAntojuvenIl em prosA
Roberta Caroline Vesu ALVES
Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação – UNESP de Marília-SP, nanciamento CNPq, processo
n° 150884/2018-4.
resumo: A elaboração de resumos da literatura infantojuvenil em prosa é importante
para a recuperação da informação. Inicia-se com procedimentos de leitura documentária
e análise de assunto, os quais identicam aspectos estruturais e temáticos do texto, com
posterior seleção de elementos relevantes para representação. A leitura documentária tem
o apoio do modelo de leitura documentária que elucida aspectos estruturais, temáticos, de
inferência e de partes importantes do texto para elaboração de resumos. O objetivo deste
capítulo consistiu em fundamentar o modelo de leitura documentária para elaboração
de resumos da literatura infantojuvenil em prosa e avaliar esse modelo por prossional
bibliotecário. A metodologia foi constituída por pesquisa bibliográca e protocolo verbal
individual e aplicação de questionário para coleta de dados. Os resultados da avaliação
do modelo levaram a concluir ser necessária sua exibilização para os tipos de resumidor,
instituição, resumo, literatura infantojuvenil e usuários.
pAlAvrAs-chAve: Modelo de leitura documentária. Elaboração de resumo. Literatura
infantojuvenil em prosa. Protocolo verbal individual.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
348 |
AbstrAct: e elaboration of abstracts about literature in prose for children and adolescents
is important for information retrieval. It begins with procedures for documentary reading
and subject analysis, which identify structural and thematic aspects of text, subsequent
selection of relevant elements for representation. Documentary reading is supported
by a documentary reading model that elucidates structural, thematic, inference, and
important parts of the text for elaboration of abstracts. e objective of this chapter was
to base the documentary reading model for elaboration of abstracts about literature in
prose for children and adolescentes and evaluate this model by professional librarian.
e methodology consisted of bibliographic research, and individual verbal protocol and
application of questionnaire for data collection. Results of evaluation about the model
led to conclusion that it is necessary to exibility for the types of librarian, institution,
abstract, literature in prose for children and adolescentes, and for the users.
Keywords: Documentary reading model. Elaboration of abstracts. Literature in prose for
children and adolescents. Individual verbal protocol.
1 Introdução
A literatura infantojuvenil em prosa – também denominada
textos literários infantojuvenis e textos narrativos ccionais infantojuvenis
em prosa –, assim como os demais tipos de textos ccionais, apresenta
alguns desaos para o entendimento de sua temática e representação, para
ns de recuperação da informação por usuários de sistemas de unidades de
informação ou bibliotecas diversas.
Atualmente, a literatura infantojuvenil em prosa tem acompanhado
a tendência de mostrar elementos receptivos aos leitores para conquistá-
los, como também apresenta expressões artísticas diferenciadas (ALVES,
2016). Além disso, segundo Zilberman (2008), a literatura para crianças e
adolescentes passou de um cunho educativo e institucionalizado, preocupado
em expressar valores morais, éticos, para o papel de destacar aspectos
linguísticos e sociais, a m de que o leitor reita sobre sua vida e incorpore
novas experiências. Esses aspectos são demonstrados em meio aos elementos
lúdicos, mágicos, ou outros atrativos para crianças e adolescentes.
Os elementos estruturais e temáticos do texto da literatura
infantojuvenil em prosa, bem como suas características, são explicados
por certas teorias, como a de estruturas textuais de Teun A. Van Dijk,
a do Percurso Gerativo de Sentido da Análise do Discurso e Semiótica
Greimasiana, além das teorias que examinam a narrativa textual. Essas
teorias, de modo geral, elucidam a relação da organização do texto com o
signicado produzido a partir da estrutura.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 349
O entendimento e a representação da temática da literatura
infantojuvenil, em sistemas de biblioteca escolar, têm o potencial de
ampliar a recuperação desses textos para os usuários, os quais apresentam
necessidades de leituras diversas. Por exemplo, na perspectiva de Alves
(2008, 2016) e Alves e Moraes (2016), os usuários de biblioteca escolar,
crianças e adolescentes, exibem necessidades informacionais de acordo com
seus gostos de leitura, entre outros aspectos, pois buscam livros sobre amor,
terror, amizade, aventura, bruxa, princesa, dinossauro, preconceito, tipo
de narrador, espaço e tempo da narrativa etc. Além disso, os professores,
também usuários da biblioteca, mostram necessidades de conhecer a
literatura infantojuvenil para trabalhar com a leitura, conforme o gosto do
aluno e sua proposta de ensino, por isso, procuram determinados gêneros
e subgêneros discursivos e textuais, além de certas temáticas e elementos da
narrativa importantes para o ensino.
A representação temática em registros bibliográcos armazenados
em sistemas de informação é imprescindível para a recuperação de
informações pertinentes às buscas dos usuários e referentes ao conteúdo
dos documentos ou textos. Nesse sentido, a elaboração de resumos da
literatura infantojuvenil é importante para a recuperação da informação.
Esse processo de elaboração de resumos se inicia com
procedimentos de leitura documentária, ou leitura documental, e análise
de assunto, os quais identicam aspectos estruturais, temáticos e partes
relevantes do texto, com posterior seleção de elementos relevantes para
representação. A leitura documentária tem como apoio o modelo de leitura
documentária, que elucida aspectos estruturais, temáticos, de inferência e
das partes importantes do texto para a elaboração dos resumos.
Diante do exposto, objetivou-se fundamentar o modelo de leitura
documentária para elaboração de resumos da literatura infantojuvenil
em prosa e avaliar esse modelo, durante sua aplicação por prossional
bibliotecário. Para isso, a metodologia consistiu em pesquisa bibliográca
e, para coleta de dados, o protocolo verbal individual, além da aplicação de
questionário. A literatura infantojuvenil em prosa escolhida para avaliação
do modelo de leitura documentária e elaboração do resumo foi constituída
por uma fábula, pois foi o material de leitura escolhido livremente pelo
bibliotecário escolar de Rede de Bibliotecas de Escolas Municipais de
Ensino Fundamental I, de uma cidade do estado de São Paulo, Brasil.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
350 |
No Brasil, o modelo de leitura documentária é estudado, em
Ciência da Informação, como método para a identicação de assuntos
e conceitos em leitura documentária, mediante indexação, entre outros
aspectos. Segundo Fujita, Neves e Dal’Evedove (2017, p. 08), a leitura
documentária apresenta
[...] muitas tarefas de processamento e tratamento da informação
de documentos são realizadas pela leitura para execução de
procedimentos de indexação, classicação, elaboração de resumos
que exigem compreensão para decisões, como por exemplo, a
identicação de conceitos que representam conteúdos para futura
recuperação pelo leitor da unidade de informação.
Nesse sentido, a leitura documentária permite utilizar modelos
de leitura documentária, os quais auxiliam de modo estratégico na
identicação da estrutura textual e temática, entre outros aspectos,
durante a análise de assuntos do texto ou documento (FUJITA; RUBI,
2006). Por isso, buscou-se elucidar os elementos do modelo de leitura
documentária necessários para fundamentar a elaboração de resumos da
literatura infantojuvenil, como também avaliar na prática esse modelo,
demonstrando que está aberto a adaptações, conforme as necessidades de
uma instituição.
2 elAborAção de resumos dA lIterAturA InfAntojuvenIl em prosA:
tIpos e funções
De acordo com Moreiro González (2004, p. 223, tradução
nossa), “[...] falamos de resumo como a operação que explica de maneira
abreviada e precisa a informação substancial do conteúdo do documento.
Para isso, utiliza-se a linguagem natural”. Nesse sentido, Lara (1993)
salienta que o resumo é constituído por condensação intensiva do texto
original, apresentando semelhança com o texto de origem. Contudo, o
resumo da literatura infantojuvenil goza de certa autonomia em relação
ao texto original, pois não é exposto na forma narrativa, e sim descritiva,
explicativa, informativa e indicativa, apresentando características de seu
conteúdo ou temática.
Vale destacar, conforme Pinto (2001, p. 160, tradução nossa), que
“[...] o resumo é um texto breve, representativo, autônomo, intencional,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 351
não unívoco e com vocação de sinônimo”; ademais, apresenta autonomia
e independência documentária do texto original, porque o mesmo texto
pode ser usado para elaboração de diferentes tipos de resumos.
Enfatiza Moreiro González (2004, p. 223-224, tradução nossa):
O resumo retextualiza uma mensagem: trata do mesmo, com a
mesma organização que estruturava o documento complexo. É um
texto que reproduz outro texto, mas com um determinado nível de
signicação. Logicamente, muita informação se perde. Contudo,
salvamos o que é verdadeiramente central.
O processo de resumir, segundo Pinto (2001), consiste em um
processo de redução sosticado, realizado por meio da cognição e de
construção de texto reduzido. Dessa forma, obtém-se um novo documento
que representa o original, com a informação substancial, porém, diferente
no modo de expressão, estrutura e extensão. Contudo, o texto do resumo
apresenta uma organização supercial para representação do texto original
(PINTO, 2001). Ainda, na opinião da autora, existem dois tipos de
sintetização do documento: uma denominada redução, que ocorre em
âmbito cognitivo e metacognitivo, e outra, de síntese e representação,
a qual acontece na manifestação discursiva, durante a elaboração dos
resumos, mas que também utiliza o apoio da cognição e metacognição
(PINTO, 2001).
A nalidade ou função mais relevante do resumo, conforme
Lancaster (2004), consiste em facilitar a seleção do texto ou documento,
contribuindo para o leitor decidir a escolha sobre o item, ou seja, se o
item corresponde ao interesse e necessidade de leitura dos usuários. Nesse
contexto, de acordo com Pinto Molina (1993), o resumo deve ser dirigido
para um destinatário, por isso, é importante conhecer o público a que o
resumo se destina, assim, pode-se adequar sua elaboração. Para Moreiro
González (2004), as características fundamentais de alguns tipos de
resumos ocorrem segundo a densidade informativa.
Entre os tipos de resumos, destaca-se neste estudo o resumo
informativo em texto discursivo, que pode ser organizado em macroestrutura
global (tema principal), seguida das macroestruturas parciais (aspectos
semânticos de cada parte do texto), também de acordo com a organização
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
352 |
da superestrutura e sob a forma informativa e descritiva (MOREIRO
GONZÁLEZ, 2004), contendo entre 100 a 300 palavras (PINTO, 2001).
O resumo, em geral, é um meio importante de representação
para ns de recuperação da informação em bibliotecas, pois apresenta
a descrição do conteúdo informacional, portanto, também é um meio
para o usuário conhecer e selecionar a leitura, conforme seu desejo ou
sua necessidade. Quanto ao resumo da literatura infantojuvenil e de
literaturas ccionais, em geral, García Marco e García Marco (1997)
ressaltam que este tem a nalidade de incentivar a leitura, informar
o conteúdo, oferecer uma crítica em função do conhecimento de
determinada disciplina, quando for o caso, e difundir o texto por meio
do mercado editorial.
Outros aspectos fundamentais para o resumo da literatura de
cção, de acordo com García Marco e García Marco (1997, p. 82-83,
tradução nossa), são os objetivos de:
1. Conseguir a síntese mais informativa possível;
2. Representar elmente o documento original;
3. Condensar ao máximo a informação;
4. Construir um texto unitário com unidades gramaticais corretas;
5. Adequação às necessidades dos usuários;
6. Redação precisa e exata, com clareza e atrativa.
Além disso, os mesmos autores apontam a necessidade de esse
tipo de resumo conter, na representação do texto, alguns aspectos, como
assunto ou tema; tempo e espaço da história; classicação geral e de
subgêneros narrativos; trama; posição do narrador no texto; entre outros
(GARCÍA MARCO; GARCÍA MARCO, 1997).
3 modelo de leIturA documentárIA em IndexAção como subsídIo
pArA o modelo de leIturA documentárIA pArA elAborAção de
resumos
Gardin (1981)
40
citado por Silva e Fujita (2004, p. 136),
formalmente conceitua a Análise Documental, ou Análise Documentária,
40
GARDIN, J.-C. La logique du plausible: essais d´épistemologie pratique. Paris: Maison des Sciences de
l´Homme, 1981.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 353
como “[...] um conjunto de procedimentos efetuados com a nalidade de
expressar o conteúdo de documentos cientícos, sob formas destinadas a
facilitar a recuperação da informação”. Em meio a esses procedimentos,
inserem-se as operações de indexação e os resumos.
A primeira “[...] surgiu a partir da elaboração de índices e
atualmente está mais vinculada ao conceito de análise de assunto.
(SILVA; FUJITA, 2004, p. 136). A indexação apresenta os processos
de análise de assunto para identicação de conceitos, seleção e tradução
para representação, e tem por objetivo a recuperação do conteúdo do
documento. A segunda operação, a de elaboração de resumos, segundo
Pinto Molina (1993), veio para auxiliar na recuperação da informação,
sendo que o resumo se difundiu na cultura ocidental, quando inserido
em revistas cientícas, também em publicações especícas de resumos de
textos cientícos (PINTO MOLINA, 1993).
O resumo, de acordo com Guimarães, Moraes e Guarido (2007)
e Moreiro González (2004), é um produto documentário resultante
do processo de síntese e condensação, com a função de representar o
documento original, para ns de recuperação temática, conforme seus
tipos e diferentes densidades informativas.
Além disso, os resumos servem para representação de artigos
cientícos, contribuindo para a localização e recuperação da informação
desejada e escolha da leitura do documento, como ainda para recuperação
da informação de documentos diversos, em bases de dados na web e
sistemas ou bases de registros bibliográcos em bibliotecas.
Em suma, as etapas de elaboração dos resumos são: leitura e
análise do documento ou texto para compreensão de seus signicados;
identicação do tema e estrutura do texto; síntese ou condensação para
representação, com base nas informações selecionadas das partes do texto,
em razão das necessidades dos usuários e tipo de resumo a ser elaborado
(PINTO, 2001; KOBASHI, 1997).
Observam-se semelhanças nos processos de indexação e elaboração
de resumos, pois ambos priorizam a redução ou síntese do conteúdo de
um documento ou texto. Contudo, as representações documentárias são
diferentes. Ademais, alguns aspectos do processo de leitura documentária
diferem, principalmente porque cada uma depende da nalidade de
representação. A indexação almeja a representação de conceitos e termos,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
354 |
por isso, tem redução do texto em maior grau, enquanto o resumo, por
sua vez, visa à representação de partes do texto, em linguagem natural, de
modo conciso.
Nesse contexto, o modelo de leitura documentária para indexação
de textos cientícos se insere na etapa de análise e leitura documentária do
documento ou texto, a m de auxiliar o indexador na identicação de
assuntos e conceitos. Segundo Fujita e Rubi (2006), o modelo de leitura
documentária resulta do uso de “[...] estratégias de exploração de estruturas
textuais e de abordagem sistemática para identicação de conceitos”. Em
acréscimo, o modelo de leitura documentária tem como procedimentos
principais: “I. Exploração do conhecimento da estrutura textual; II.
Identicação de conceitos; e III. Seleção de conceitos”. (FUJITA; RUBI,
2006). Isso, considerando os aspectos de superestrutura e macroestruturas
textuais, bem como as partes importantes para identicação de temas; o
modo de identicação de aspectos temáticos, por meio de questionamentos
ao texto; a seleção de conceitos para tradução e composição da representação,
com auxílio de linguagem de indexação.
Nesse sentido, os questionamentos constituem recurso estratégico
de inferência ao texto, para a compreensão e identicação de conceitos
e temas, levando-se em conta igualmente as partes estruturais do texto
(FUJITA; RUBI, 2006). Vale destacar que a leitura documentária se dá por
meio de ações cognitivas conscientes e inconscientes, as quais identicam a
estrutura textual, as partes importantes do texto e seus aspectos temáticos
e conceitos (FUJITA, 2003).
A leitura com o uso de estratégias metacognitivas direciona
a compreensão do texto, portanto, direciona a cognição, gerenciando-a
com a metacognição, diante dos conhecimentos sobre estruturas textuais e
conhecimentos prévios (FUJITA, 1999; NEVES, 2011). Assim, a leitura é
direcionada, “[...] mantendo em mente o seu objetivo de representar o texto
para futura recuperação, considerando as limitações da tarefa de indexação
e os objetivos do sistema de informação no qual se insere” (FUJITA, 1999,
p. 109-110), sendo que, no caso deste estudo, esses aspectos se aplicaram
aos resumos.
Fujita e Rubi (2006) indicam que a identicação do tema
para indexação do texto cientíco está relacionada com o objetivo desse
texto, além de ser feita por meio de modelo de leitura documentária,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 355
com base em questionamentos, segundo as categorias temáticas: “[...] o
quê? (categoria essencial); quando?, onde?, como? (categorias acessórias),
que podemos denominar de estratégia de inferência e considerá-la como
elemento fundamental dos modelos de leitura para indexação”. Por isso,
compreende-se que são categorias importantes para inferência da temática
de textos, assim como para ns de representação em resumos.
As categorias voltadas ao texto narrativo ccional infantojuvenil
em prosa apresentam as seguintes relações, conforme Alves (2016, p. 145):
a) O quê? (categoria essencial): tema principal de estrutura
profunda do Percurso Gerativo de Sentido, portanto, relacionado
com a ação e transformação de estado inicial para o nal (fases de
manipulação e sanção de nível narrativo);
b) Quem?: quem exerce a ação para ocorrer a transformação,
geralmente o manipulado, considerando também a inuência do
manipulador;
c) Quando?: aspectos relacionados ao tempo da narrativa ccional;
d) Onde?: aspectos relacionados aos locais da narrativa ccional;
e) Como?: modo que contribui para a transformação de estado
(competência); ou como ocorreu a transformação de estado
(performance).
A categoria “quem?”, a qual não é considerada para o texto
cientíco, é importante nesta pesquisa, por ter relação com os personagens
da literatura infantojuvenil (ALVES, 2016; FUJITA, 2003; FUJITA;
RUBI, 2006).
Vericou-se que esses elementos, advindos do modelo de
leitura documentária para indexação, são importantes para compor o
modelo de leitura documentária para elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil, pois contemplam aspectos estratégicos de exploração da
estrutura textual e de abordagem sistemática para identicação da temática.
Com efeito, as partes e a estrutura do texto da literatura infantojuvenil e
a temática, essencial para recuperação da informação, serão informadas
e descritas no resumo em linguagem natural, segundo as orientações do
modelo de leitura documentária para resumos.
Diante disso, os aspectos importantes para compor o modelo
de leitura documentária para resumos de textos narrativos ccionais
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
356 |
infantojuvenis em prosa estão especicados na proposta de modelo
de leitura documentária para elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil em prosa.
4 propostA de modelo de leIturA documentárIA pArA fIns de
elAborAção de resumos dA lIterAturA InfAntojuvenIl em prosA
O modelo de leitura documentária pode contribuir com a leitura
documentária voltada para a elaboração de resumos e, consequentemente,
para a representação sucinta da temática da literatura infantojuvenil
em prosa. Por isso, foi elaborado o “Manual explicativo do modelo de
leitura documentária para ns de elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil”, utilizado como base para esclarecer a leitura documentária
e, posteriormente, elucidar os elementos necessários para a elaboração de
resumos, os quais consistem, de modo geral, em: elementos do texto para
nortear as estratégias metacognitivas de exploração das partes relevantes do
texto; estratégia de inferência diante de questionamentos que permitem
a identicação de temática; seleção das partes temáticas importantes,
considerando também o que é essencial para a recuperação da informação
pelo usuário de biblioteca escolar (criança, adolescente e professor);
representação em linguagem natural, explicativa ou informativa e
descritiva, conforme o tipo de resumo.
Portanto, o manual, que consta a seguir, foi usado para demonstrar
a proposta de modelo de leitura com ns de elaboração de resumo de
literatura infantojuvenil em prosa, também para ser avaliado por meio de
coleta de dados com metodologia de protocolo verbal individual e posterior
questionário.
4.1 mAnuAl explIcAtIvo do modelo de leIturA documentárIA
pArA fIns de elAborAção de resumos dA lIterAturA InfAntojuvenIl
Os resumos são elaborados de modo condensado, em linguagem
natural, descritiva e informativa, a partir de procedimentos de leitura
documentária, os quais identicam aspectos estruturais, temáticos e
característicos da literatura infantojuvenil, para ns de elaboração e
representação do conteúdo em resumos em sistemas e/ou catálogos, que
potencialmente permitem a recuperação da informação desejada pelos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 357
usuários, crianças, pais ou responsáveis e professores. Os usuários e o
bibliotecário podem utilizar esse meio de recuperação para encontrar e
reetir sobre a escolha da leitura da literatura infantojuvenil.
A leitura documentária comporta procedimentos de leitura para
análise de assunto, identicação e seleção de conceitos ou temas, além da
condensação e representação de aspectos do texto, no caso do resumo.
O uso do modelo de leitura documentária para ns de elaboração
de resumos visa a guiar o resumidor para a observação de aspectos
importantes do texto, os quais podem compor a representação em
resumos. Portanto, os aspectos de estrutura e temática do texto a
serem observados na literatura infantojuvenil embasam a leitura
documentária; ademais, os procedimentos de seleção do conteúdo,
segundo as necessidades de informação dos usuários, complementam
os aspectos para a elaboração de resumos. O restante do manual orienta
ainda a representação em resumos.
As instruções para o modelo de leitura documentária têm como
base os estudos de Fujita e Rubi (2006) e Fujita (2009), que reuniram
as estratégias de conhecimento de estruturas textuais e de inferência ao
texto para o modelo de leitura documentária de textos cientícos, assim
como os estudos de Alves (2008, 2016), os quais apresentam as estruturas
textuais e aspectos importantes para indexação e representação em resumos
da literatura infantojuvenil. Diante disso, as instruções mais detalhadas de
leitura documentária e modelo de leitura documentária estão explicitadas
a seguir.
4.1.1 Instruções de leIturA documentárIA pArA A lIterAturA
InfAntojuvenIl
4.1.1.1 conhecImento e explorAção dA estruturA textuAl
A) estruturA textuAl dA lInguístIcA textuAl de vAn dIjK
O texto pode ser entendido segundo as estruturas que demonstram sua
organização, que são, de acordo com Alves (2008, 2016), com base em
Van Dijk (1996, 2000, 2004):
358 |
i) Superestrutura: estrutura global em que o conteúdo semântico do texto se
adapta, independentemente do tema do texto, mas contribui para expressar o
signicado; também é o gênero, que forma um padrão para determinar o tipo
de texto. Por exemplo: texto de notícia de jornal (fatos: o quê, quem, como,
quando e onde), crônica de jornal (o quê e opinião crítica, entre outros aspectos),
literatura juvenil (texto em narrativa longa e em prosa, sem imagens ou com
poucas imagens que são, em geral, em preto; apresenta ações/eventos, espaço e
tempo, entre outros aspectos), literatura infantil (texto narrativo mais curto e em
prosa, várias ilustrações coloridas; apresenta ações/eventos, espaço e tempo, entre
outros aspectos, por exemplo, a moral da história no nal);
ii) Macroestruturas parciais: estrutura semântica local em microestrutura e
proveniente do entendimento de partes do texto (semântica ou entendimento
das partes do texto);
iii) Macroestrutura global: estrutura semântica com o conteúdo global ou
semântica global do texto, percebida por categorias e esquemas que armazenamos
na memória, os quais formam o signicado global do texto (tema principal e
geral, que engloba todos os outros);
iv) Microestrutura: palavras organizadas e proposições básicas do texto, que se
projetam em nossos sentidos para a compreensão da estrutura e sentido do texto.
b) estruturA textuAl dA AnálIse do dIscurso com percurso gerAtIvo
de sentIdo
O texto pode ser concebido conforme as estruturas de textos
narrativos ccionais, que apontam sua organização, a partir de elementos
concretos e simples até os mais abstratos e complexos, evidenciando
a produção de sentido, conforme os níveis explicados por Alves (2008,
2016), com base em Fiorin (2014, 2015) e Greimas (1971, 1975):
i) Estrutura ou nível profundo ou fundamental (superestrutura e
macroestrutura global): termos com sentido mais abstrato e não explícito
completamente no texto, são entendidos em função do julgamento do sentido
do texto, são dispostos em oposição, “a versus b”, demonstrando um jogo de
forças entre eles, durante a narrativa e a transformação de estado do personagem
principal. Por isso, são compostos por temas das fases da manipulação e sanção
do nível narrativo a seguir. Por exemplo, “capacidade versus incapacidade”, “bem
versus mal”, “desânimo versus ânimo”, “diferenças versus semelhanças”, “realidade
versus sonho”, “segredo versus descoberta” etc.;
| 359
ii) Nível narrativo ou estrutura canônica (superestrutura e macroestrutura
parcial): partes do texto em sequência canônica, que aborda ações/eventos entre
os personagens, sendo composta de:
Manipulação: estado inicial da ação e/ou evento principal, em que o
manipulador (geralmente o vilão) faz a persuasão ao manipulado (geralmente
o herói) a fazer ou querer, poder e saber algo; mas o manipulador e manipulado
podem ser a mesma pessoa em busca de algo. Exemplos: desao, curiosidade,
cumplicidade, proposta, recompensa, tentação, pedido, bullying, ordem,
ameaça, sedução, provocação etc. Portanto, tem relação com os personagens
principais, o vilão, que leva o herói a fazer algo; ou o próprio herói, que está
em busca de algo;
Competência: incentiva o herói a saber ou poder fazer algo (ou pode ser por
meio de objeto mágico, assim como nos contos de fadas, nos quais o poder
é dado ao herói a fazer algo; por exemplo, a fada madrinha, em Cinderela).
Performance: várias ações subsequentes à principal, em que o manipulado
(herói) busca algo e transforma seu estado inicial para o nal, ou seja, o
desenvolvimento das transformações de estado;
Sanção pragmática: estado nal do herói, o que resultou da ação e/ou evento
principal, se o herói aceitou ou não a manipulação, e quais foram seus
prêmios e recompensas; castigos atribuídos ao vilão; moral da história, se
for o caso;
Sanção cognitiva: estado nal do herói, o reconhecimento de sua vitória
socialmente, e se houve mudança em seus estados psicológicos ou
características de personalidade, se houve reconhecimento do herói perante
os outros ou para si mesmo; e confusão do vilão (ca obscuro o que houve
com o vilão), por exemplo, ele foge, ou é desmoralizado; moral da história,
se for o caso.
iii) Estrutura ou nível discursivo (microestrutura): compreende guras (palavras
concretas do mundo real: correr, brincar, sol, árvore, José, mamãe, família etc.)
e temas (palavras com signicado abstrato: amizade, amor, orgulhoso, teimoso,
bom, mau, vaidoso, carinhoso, cuidadoso etc.), que são expressas por palavras,
e seus respectivos encadeamentos formam percursos temáticos e percursos
gurativos.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
360 |
c) estruturA textuAl dAs cArActerístIcAs dA nArrAtIvA
O texto pode ser compreendido de acordo com as características
dos textos narrativos, a partir da microestrutura, segundo Alves (2008,
2016), com base em D’Onofrio (2007), Gancho (2014) e Terra (2014):
i) Personagens principais (herói e vilão) – nomes; características físicas (se forem
relevantes); características psicológicas (boas e más), sendo que, no caso do herói,
pode ser também uma personalidade em construção/descoberta; além de abordar
as relações e ações entre eles; e ações com outros personagens, se necessário;
ii) Espaço – cenários (locais físicos: escola, casa, oresta etc.) e ambientes
(aspecto psicológico, por exemplo, chique, pobre, conservador, alegre, moderno,
aterrorizante, aconchegante etc.), que estiverem explícitos no texto;
iii) Tempo da história – duração da história, por exemplo, alguns anos, tempo
antigo, atual (somente se estiver explícito), futuro, com data determinada, e
lembranças do passado;
iv) Tempo da narrativa – cronológico (de forma linear), psicológico (tempo
cronológico distorcido por vivências subjetivas) e de forma vaga, para contos de
fadas, ou indeterminado;
v) Narrador – conforme características de foco narrativo com verbos em primeira
pessoa (narrador personagem: protagonista que é o personagem principal da
história, ou testemunha que vive a história, mas não é o personagem principal) e
verbos em terceira pessoa (narrador: observador que mostra os fatos à medida que
acontecem, ou onisciente que sabe e descreve tudo na narrativa, incluindo como
todos os personagens se sentem).
vi) Moral da história – é bem destacada no nal do texto, típica de fábulas,
alguns contos e outras obras modernas, as quais apresentam lição de vida no nal,
que deve ser descrita junto com o tema principal, se estiverem relacionados.
4.1.1.2 estrAtégIA de InferêncIA de QuestIonAmentos Ao texto
pArA IdentIfIcAção de conteúdo
A leitura documentária, com apoio do modelo de leitura
documentária, adota estratégia de questionamento ao texto para
identicação de conceitos, considerando algumas partes do texto. Conforme
esquematizado no Quadro 1, a seguir, são abordadas as categorias que
revelam os aspectos temáticos principais, relacionados com a literatura
infantil e juvenil para elaboração de resumos:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 361
Quadro 1 - Questionamentos principais de abordagem ao texto e relações
com a estrutura e partes do texto da literatura infantil e juvenil.
QuestIonAmentos Ao
texto, Que revelAm o
conteúdo ou Assunto,
segundo fujItA e rubI
(2006), Que se bAseArAm
em tálAmo (1987)
estruturA, temátIcA
e cArActerístIcAs
dA lIterAturA
InfAntojuvenIl, Que o
correspondentes Aos
QuestIonAmentos
pArtes do texto em
Que se encontrAm As
estruturAs textuAIs e
temátIcAs Inerentes,
A Que podem ser
dIrecIonAdos os
QuestIonAmentos
O quê? (tema e categoria
essencial)
Tema principal identicado
por meio da análise
de estrutura profunda
do Percurso Gerativo
de Sentido, portanto,
relacionado com a ação e
transformação de estado
inicial para o nal (fases de
manipulação e sanção em
nível narrativo). Moral da
história.
CAPÍTULOS INICIAIS
(2 primeiros capítulos ou
folhas iniciais)
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
Quem? (ser)
Quem exerce a ação de
transformação, geralmente
o manipulado ou herói,
considerando a inuência
do manipulador (vilão;
mas o herói pode buscar
uma transformação sem
inuência do vilão).
Personagens principais.
CAPÍTULOS INICIAIS
(2 primeiros capítulos ou
folhas iniciais)
Quando? (tempo)
Aspectos da duração
de tempo da narrativa
ccional.
CAPÍTULOS INICIAIS
(2 primeiros capítulos ou
folhas iniciais)
Onde? (lugar)
Aspectos dos locais
apresentados na narrativa
ccional
CAPÍTULOS INICIAIS
(2 primeiros capítulos ou
folhas iniciais)
Como? (modo)
Modo que contribui
para a transformação de
estado inicial para o nal,
a competência; ou como
ocorreu a transformação de
estado, a performance.
CAPÍTULOS DO MEIO
(partes do meio)
Fonte: Elaborado pela autora, com base em Alves (2016).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
362 |
A leitura documentária e o modelo de leitura devem seguir
algumas regras de consulta ao texto, para descobrir aspectos temáticos
associados com as categorias que revelam o conteúdo textual. Esse conteúdo
textual deve ser identicado conforme algumas partes do texto. Para isso,
recomenda-se a consulta de determinadas partes da obra, como:
a) Leitura e análise de elementos textuais preliminares - título,
subtítulo, prólogo, dedicatória, contracapa com sinopse, orelhas do
livro e sumário, identicando se abordam indicações sobre o conteúdo
ou tema e tipo de gênero literário (novela, literatura infantil, conto etc.)
e subgênero literário (aventura, folclore, fábula, mistério, humor, terror
etc.);
b) Leitura e análise do conteúdo da obra literária - consulta e leitura das
primeiras páginas ou dois primeiros capítulos iniciais, algumas páginas
do meio da obra, com leitura rápida, e das páginas nais ou dos dois
capítulos nais. No entanto, se a leitura não apresentar sentido, outros
capítulos podem ser consultados para a leitura.
Essa leitura documentária tem o objetivo de identicar o conteúdo
temático proveniente da literatura infantil e juvenil, todavia, nesta pesquisa,
a ênfase está na elaboração de resumos da literatura infantojuvenil, por
isso, no Quadro 2, são apresentadas as partes da estrutura do texto e
questionamentos que revelam a estrutura e o conteúdo temático:
Quadro 2 - Partes da estrutura do texto da literatura infantojuvenil e
questionamentos que revelam a estrutura e o conteúdo temático
pArtes dA
estruturA
do texto
conceItos dA
lIterAturA
InfAntojuvenIl
QUESTIONAMENTOS
PARA IDENTIFICAÇÃO
DE PARTES TEMÁTICAS
DO TEXTO
CONTEÚDOS A QUE
SE REFEREM OS
QUESTIONAMENTOS
(superestrutura, macroestruturas e
características textuais)
ELEMENTOS
PRELIMINARES
DA OBRA
(capa e folhas
que antecedem o
texto)
Tema ou assunto
principal - O quê?
(tema e categoria
essencial)
Qual o tema ou assunto
principal nos elementos
preliminares da obra?
Reexão: para ser comparado
e analisado com os elementos
textuais.
Elementos que podem revelar aspectos
temáticos: título, subtítulo, prólogo,
dedicatória, contracapa com sinopse,
orelha do livro e sumário. Entretanto,
são aspectos a serem conrmados na
leitura do texto.
Gênero Literário (tipo
de texto)
Qual o gênero literário? nero literário: romance, novela,
conto etc. – aspecto a ser conrmado
na leitura do texto.
Subgêneros Literários
(subtipo de texto - mais
especíco)
Quais os subgêneros literários? Subgênero literário: aventura,
folclore, mistério, humor, terror etc.
– aspecto a ser conrmado na leitura
do texto.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 363
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros
capítulos ou folhas
iniciais)
Manipulação
(Ação/evento e estado
inicial)
Qual a persuasão ou
manipulação principal, que
leva ao desenvolvimento da
ação do herói?
Reexão: existem
manipulações secundárias que
podem ser vericadas para
conrmação da principal, se
necessário.
Manipulação: (primeiro aspecto
do tema principal) – estado inicial
da ação e/ou evento principal, em
que o manipulador (geralmente o
vilão) faz a persuasão ao manipulado
(geralmente o herói) a fazer ou
querer, poder e saber algo; mas o
manipulador e manipulado podem
ser a mesma pessoa em busca de
algo. Exemplos: desao, curiosidade,
cumplicidade, proposta, recompensa,
tentação, pedido, ordem, ameaça,
sedução, provocação etc.
Manipulador - Quem?
(ser)
Quem é o manipulador? Personagem principal: vilão,
que leva o herói a fazer algo; ou o
próprio herói, que está em busca
de algo. Identicação de nomes,
personalidades (boas e más) e de
aspectos que caracterizam seus tipos
físicos, se forem relevantes.
Manipulado - Quem?
(ser)
Quem é o manipulado? Personagem principal: geralmente
o herói. Identicação de sua
personalidade (geralmente boa,
ou em construção/descoberta);
e identicação de aspectos que
caracterizam seu tipo físico, se for
relevante.
Narrador - Quem? Qual o tipo de narrador? Narrador: características de foco
narrativo em primeira pessoa (narrador
personagem: protagonista, que é o
personagem principal da história, ou
testemunha que vive a história, mas não é
o personagem principal) e terceira pessoa
(narrador observador, que mostra os fatos
à medida que acontecem, ou narrador
onisciente, que sabe e descreve tudo na
narrativa, incluindo como todos os
personagens se sentem).
Tempo da história -
Quando? (tempo)
Quando aconteceu a história? Tempo da história: descrição da
duração da história, por exemplo,
alguns anos, tempo antigo, atual
(somente se estiver explícito), futuro,
com data determinada, e com
lembranças do passado.
Tempo da narrativa -
Quando? (tempo)
Qual o tempo da narrativa? Tempo da narrativa: cronológico
(de forma linear), psicológico (tempo
cronológico distorcido por vivências
subjetivas) e de forma vaga para
contos de fadas, ou indeterminado.
Espaço - Onde? (lugar) Onde aconteceu a história? Espaço: cenários (locais físicos:
escola, casa, oresta etc.) e ambientes
(aspecto psicológico, por exemplo,
chique, pobre, conservador,
alegre, moderno, aterrorizante,
aconchegante etc.), que estiverem
explícitos no texto.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
364 |
CAPÍTULOS
DO MEIO
(algumas partes do
meio, consultando
rapidamente)
Competência - Como?
(modo)
Como o manipulado (herói)
se tornou competente para
a ação e transformação de
estado (competência)?
Competência: incentiva o herói a
saber ou poder fazer algo (pode ser
por meio de objeto mágico).
Performance - Como?
(modo)
Como ocorreu a
transformação de estado ou
performance do personagem
principal?
(somente para vericar alguns
aspectos do desenvolvimento
da história, se necessário)
Performance: várias ações
subsequentes da principal em que
o manipulado (herói) busca algo
e transforma seu estado inicial
para o nal (desenvolvimento das
transformações de estado).
CAPÍTULOS
FINAIS
(2 últimos
capítulos, ou
folhas nais)
Sanção pragmática
do manipulado
(herói)
(Ação/evento e estado
nal)
Qual o estado nal do
manipulado (herói) ou sua
sanção pragmática?
Reexão: o herói foi o próprio
manipulador de si mesmo?
Sanção pragmática: (segundo
aspecto do tema principal) – estado
nal do herói, o que resultou da ação
e/ou evento principal. Se o herói
aceitou ou não a manipulação e quais
foram seus prêmios e recompensas.
Sanção cognitiva do
manipulado (herói)
(Ação/evento e estado
nal)
Qual o estado nal do
manipulado (herói) ou sua
sanção cognitiva?
Reexão: o herói foi o próprio
manipulador de si mesmo?
Sanção cognitiva: (segundo aspecto
do tema principal) – estado nal do
herói, se foi reconhecido socialmente
e se houve mudança em seus
estados psicológicos ou características
de personalidade. Se houve
reconhecimento do herói perante os
outros ou para si mesmo.
Sanção pragmática
do manipulador
(vilão)
(Ação/evento e estado
nal)
Qual o estado nal do
manipulador (vilão) ou sua
sanção pragmática?
Sanção pragmática: castigos
atribuídos ao vilão.
Sanção cognitiva do
manipulador (vilão)
(Ação/evento e estado
nal)
Qual o estado nal do
manipulador (vilão) ou sua
sanção cognitiva?
Sanção cognitiva: confusão do vilão
(ca obscuro o que houve com o
vilão), por exemplo, ele foge, ou é
desmoralizado.
Elemento da narrativa
que apresenta uma
lição de vida no nal.
Qual a moral da história?
(somente se apresentado de
forma explícita, no nal)
Moral da história: é bem destacada
no nal do texto, típica de fábulas,
alguns contos e outras obras
modernas, que apresentam lição de
vida no nal; deve ser descrita junto
com o tema principal, se estiverem
relacionados.
CAPÍTULOS
INICIAIS E
FINAIS
Tema ou assunto
principal - O quê?
(tema e categoria
essencial)
Qual o tema principal
abstrato (categorias semânticas
de termos em oposição)?
Tema principal e abstrato: nível
profundo do percurso gerativo
de sentido, expresso por termos
opostos (a versus b), proveniente da
manipulação e sanção, segundo
o estado inicial e nal do sujeito
principal da ação (geralmente, o
manipulado e herói).
Fonte: Elaborado pela autora, com base em Alves (2016).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 365
No Quadro 3, a seguir, estão os questionamentos e partes do
texto para identicação de conteúdo temático da literatura infantojuvenil,
a serem utilizados pelo resumidor, bem como espaço para reexão sobre a
seleção de aspectos importantes para a elaboração de resumos:
Quadro 3 - Questionamentos ao texto da literatura infantojuvenil para
identicação de conteúdo temático e seleção de aspectos importantes
para a elaboração de resumos.
PARTES DA
ESTRUTURA DO
TEXTO
QUESTÕES QUE
REVELAM O
CONTEÚDO DO
TEXTO
IDENTIFICAÇÃO
DE
INFORMAÇÕES
E DESCRIÇÃO
DO CONTEÚDO
EM LINGUAGEM
NATURAL
SELEÇÃO DE
ASPECTOS
IMPORTANTES
PARA
ELABORAÇÃO DE
RESUMOS
ELEMENTOS
PRELIMINARES DA
OBRA
(capa e folhas que
antecedem o texto)
1) Qual o tema ou
assunto principal
nos elementos
preliminares da obra?
ELEMENTOS
PRELIMINARES DA
OBRA
(capa e folhas que
antecedem o texto)
2) Qual o gênero
literário?
ELEMENTOS
PRELIMINARES DA
OBRA
(capa e folhas que
antecedem o texto)
3) Quais os
subgêneros literários?
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
4) Qual a persuasão
ou manipulação
principal, que leva ao
desenvolvimento da
ação do herói?
Reexão: existem
manipulações
secundárias que
podem ser vericadas
para conrmação da
principal, se necessário.
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
5) Quem é o
manipulador?
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
366 |
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
6) Quem é o
manipulado?
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
7) Qual o tipo de
narrador?
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
8) Quando aconteceu
a história?
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
9) Qual o tempo da
narrativa?
CAPÍTULOS
INICIAIS
(2 primeiros capítulos
ou folhas iniciais)
10) Onde aconteceu a
história?
CAPÍTULOS DO
MEIO
(algumas partes do
meio, consultando
rapidamente)
11) Como o
manipulado (herói)
se tornou competente
para a ação e
transformação de
estado (competência)?
CAPÍTULOS DO
MEIO
(algumas partes do
meio, consultando
rapidamente)
12) Como ocorreu
a transformação
de estado ou
performance?
(somente para vericar
alguns aspectos do
desenvolvimento da
história, se necessário)
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
13) Qual o estado
nal do manipulado
(herói) ou sua sanção
pragmática?
Reexão: o herói ou
personagem principal
foi o manipulador de si
mesmo?
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 367
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
14) Qual o estado
nal do manipulado
(herói) ou sua sanção
cognitiva?
Reexão: o herói ou
personagem principal
foi o manipulador de si
mesmo?
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
15) Qual o estado
nal do manipulador
(vilão) ou sua sanção
pragmática?
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
16) Qual o estado
nal do manipulador
(vilão) ou sua sanção
cognitiva?
CAPÍTULOS FINAIS
(2 últimos capítulos, ou
folhas nais)
17) Qual a moral da
história?
(somente se
apresentado de forma
explícita, no nal)
Reexão: tem relação
com o tema principal?
CAPÍTULOS OU
FOLHAS INICIAIS E
FINAIS
18) Qual o tema
principal abstrato
(categorias semânticas
de termos em
oposição)?
Fonte: Elaborado pela autora, com base em Alves (2016).
4.1.1.3 seleção de Aspectos ImportAntes do texto pArA
elAborAção dos resumos, de Acordo com o Que o texto contém
e o Que é ImportAnte pArA A recuperAção dA InformAção pelos
usuárIos
Nesta etapa, os elementos do texto identicados em linguagem
natural são selecionados devido à sua importância para condensação
e representação, visando aos assuntos ou conteúdos essenciais para a
recuperação da informação pelos usuários. Para isso, é imperioso rever o
que foi identicado e selecionar o conteúdo relevante, considerando o que
o texto contém e o que é importante para os usuários.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
368 |
Os elementos selecionados podem ser indicados na quarta coluna
do Quadro 3, ou efetivamente elaborados na redação do resumo, se os
elementos identicados forem sucientes para a recuperação da informação
pelos usuários.
4.1.2 Instruções de representAção em resumos
4.1.2.1 conhecImentos sobre As estruturAs de dIferentes tIpos
de resumos dA lIterAturA InfAntojuvenIl, no cAso, A do resumo
InformAtIvo
A estrutura e a expressão, entre outras, formam as principais
características textuais de cada tipo de resumo. Segundo Moreiro González
(2004), o Quadro 4 demonstra essas características para os resumos
informativo, informativo-indicativo (seletivo) e indicativo:
Quadro 4 - Comparação das características fundamentais entre os tipos
de resumos.
Estruturas
Informativo
Seletivo
Indicativo
Expressão
Mg + (Mp1 + Mp2.... + Mpn) = Mg + Sp
Mg + (Mp1 + Mp2.... + Mpn) = Mg + Sp
Mg (+ outra informação)
Explicativa
Indicativa
Indicativa
Fonte: Moreiro González (2004, p. 274, tradução nossa).
N: Mg (macroestrutura geral); Mp1 (macroestrutura parcial 1); Mp2 (macroestrutura parcial
2); Mpn (demais números de macroestrutura parcial); Sp (superestrutura).
Além disso, segundo o estudo de Alves (2016), as estruturas dos
resumos para a literatura infantojuvenil, também empregadas para esta pesquisa,
exibem a seguintes estruturas para orientar a representação do resumo da
literatura infantojuvenil: Resumo informativo em texto discursivo (extensão
entre 100 e 300 palavras. Escrito de modo explicativo ou informativo em
parágrafo único). A organização do resumo está no Quadro 5.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 369
Quadro 5 - Organização para elaboração do resumo informativo em
texto discursivo.
(1) tema principal, indicando os termos em oposição, que revelam o estado inicial e
nal do sujeito da ação (provenientes de manipulação e sanção), informado junto com
as características de (2) quem são os personagens e suas características (psicológicas e
físicas), espaço (cenários e ambientes) e tempo (da história);
(3) manipulação, descrevendo a persuasão principal do manipulador sobre o
manipulado, que o levou a querer ou dever fazer algo, identicando o que aconteceu
para iniciar a ação (qual o estado inicial) e demais manipulações, quando necessário;
(4) competência de como o manipulado adquire um saber ou poder fazer algo;
(5) performance de algumas ações que o manipulado executa, no caminho da
transformação de seu estado;
(6) outras informações importantes para os usuários, como tipo de narrador em primeira
pessoa (personagem) ou em terceira pessoa (observador), tempo da narrativa (cronológico,
psicológico e de forma vaga, ou indeterminado), e gêneros e subgêneros literários.
Fonte: Elaborado pela autora.
A seguir, nos Quadros 6 e 7, estão dois exemplos de elaboração de
resumos, tendo em vista essa organização da superestrutura textual:
Quadro 6: Exemplo de resumo informativo em texto discursivo.
CHAINANI, S. A escola do bem e do mal. São Paulo: Gutemberg, 2014.
Sophie e Agatha são amigas, a primeira é uma princesa com alma de bruxa, e a segunda uma
aparente bruxa com alma de princesa, juntas vivenciam a luta do bem contra o mal. Sophie é
uma menina de cabelos dourados, olhos verdes e lábios vermelhos, que deseja viver um conto
de fadas, apesar de aparentar bondade, valoriza somente a aparência. Também, acredita que
depois de quatro anos, na décima primeira noite do décimo primeiro mês, duas crianças do
povoado de Gavaldon seriam levadas a Escola do Bem e do Mal para viverem um conto de
fadas. Agatha, melhor amiga de Sophie, tem cabelos negros, curtos e cobertos de óleo, pele
assustadoramente branca, olhos esbugalhados e rosto mirrado, usa vestido preto, geralmente é
mal-humorada, mora em uma casa no cemitério, e não acredita em contos de fadas. Mas Sophie
tenta convencer que Agatha é uma bruxa e uma pessoa má, por isso, deve ir para a Escola do
Mal, enquanto Sophie acredita que irá para a Escola do Bem. O Diretor da Escola manda raptar
as meninas, que são levadas para a escola, mas Agatha é entregue na Escola do Bem e Sophie na
do Mal. A Escola do Bem e do Mal potencializa as qualidades das garotas, de Sophie para o mal
e de Agatha para o bem. Sophie passa de princesa para bruxa, e depois para princesa novamente
por seu esforço, e Agatha de bruxa para princesa, e tenta voltar para casa com sua amiga. As
meninas vivem seu conto de fadas, se tornam bondosas e conseguem voltar para casa. Outras
características da narrativa e do texto mostram o narrador observador, tempo cronológico e de
forma vaga, os gêneros literários são Literatura Juvenil e Trilogia, e subgêneros literários são
História de aventura e Conto de fadas juvenil.
Fonte: Alves (2016, p. 223-224) e Chainani (2014).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
370 |
As partes do resumo informativo do quadro anterior podem ser
observadas no mesmo resumo, mas em texto estruturado, no quadro a
seguir:
Quadro 7 - Exemplo de resumo informativo em texto estruturado.
CHAINANI, S. A escola do bem e do mal. São Paulo: Gutemberg, 2014.
Tema principal: Sophie e Agatha são amigas, a primeira é uma princesa com alma de bruxa,
e a segunda uma aparente bruxa com alma de princesa, juntas vivenciam a luta do bem contra
o mal. Sophie é uma menina de cabelos dourados, olhos verdes e lábios vermelhos, que deseja
viver um conto de fadas, apesar de aparentar bondade, valoriza somente a aparência. Também,
acredita que depois de quatro anos, na décima primeira noite do décimo primeiro mês duas
crianças do povoado de Gavaldon seriam levadas para a Escola do Bem e do Mal para viverem
um conto de fadas. Agatha, melhor amiga de Sophie, tem cabelos negros, curtos e cobertos
de óleo, pele assustadoramente branca, olhos esbugalhados e rosto mirrado, usa vestido preto,
geralmente é mal-humorada, mora em uma casa no cemitério, e não acredita em contos de fadas.
Manipulação: Sophie tenta convencer que Agatha é uma bruxa e uma pessoa má, por isso, deve
ir para a Escola do Mal, enquanto Sophie acredita que irá para a Escola do Bem. O Diretor da
Escola manda raptar as meninas, que são levadas, mas Agatha é entregue na Escola do Bem e
Sophie na do Mal. Competência: A Escola do Bem e do Mal potencializa as qualidades das
garotas, de Sophie para o mal e de Agatha para o bem. Performance: Sophie passa de princesa
para bruxa, e depois para princesa novamente por seu esforço, e Agatha de bruxa para princesa,
e tenta voltar para casa com sua amiga. Sanção: as meninas vivem seu conto de fadas, se tornam
bondosas e conseguem voltar para casa. Outras características da narrativa e do texto: narrador
observador, tempo cronológico e de forma vaga, os gêneros literários são Literatura Juvenil e
Trilogia, e os subgêneros literários são História de aventura e Conto de fadas juvenil.
Fonte: Alves (2016, p. 224) e Chainani (2014).
4.1.2.2 representAção condensAdA em texto descrItIvo,
InformAtIvo e dIscursIvo, em lInguAgem nAturAl, A pArtIr dAs
InformAções IdentIfIcAdAs e selecIonAdAs, ApresentAndo-As em
resumo
O Quadro 8, a seguir, foi elaborado para contribuir com a
representação em resumo informativo da literatura infantojuvenil, em
linguagem natural, a ser utilizado efetivamente na elaboração do resumo.
Depois, as informações e descrições do Quadro 8 podem ser reunidas
para compor o resumo em parágrafo único. Assim, o resumo pode ser
salvo em sistema e registro bibliográco, para ns de recuperação dessas
informações:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 371
Quadro 8 - Organização para elaboração do resumo informativo
em texto discursivo.
Resumo informativo em texto discursivo: extensão entre 100 a 300 palavras.
Escrito de modo explicativo ou informativo em parágrafo único.
Organização do resumo Elaboração de partes
do resumo
(1) tema principal, indicando os termos em oposição,
que revelam o estado inicial e nal do sujeito da ação
(provenientes de manipulação e sanção), informado junto
com as características de (2) quem são os personagens e
suas características (psicológicas e físicas), espaço (cenários
e ambientes) e tempo (da história);
(3) manipulação, descrevendo a persuasão principal do
manipulador sobre o manipulado, que o levou a querer ou
dever fazer algo, identicando o que aconteceu para iniciar
a ação (qual o estado inicial) e demais manipulações,
quando necessário;
(4) competência de como o manipulado adquire um
saber ou poder fazer algo;
(5) performance de algumas ações que o manipulado
executa, no caminho da transformação de seu estado;
(6) outras informações importantes para os usuários,
como tipo de narrador em primeira pessoa (personagem)
ou em terceira pessoa (observador), tempo da
narrativa (cronológico, psicológico e de forma vaga, ou
indeterminado), e gêneros e subgêneros literários.
Fonte: Elaborado pela autora.
A elaboração do modelo de leitura documentária para preparação
de resumos da literatura infantojuvenil considerou os aspectos de:
elementos do texto para compor estratégias metacognitivas de exploração
das partes importantes do texto; estratégia de inferência, abordando o
texto para identicação de temática por meio de questionamentos ao texto;
seleção das partes temáticas importantes, considerando também o que
é relevante para a recuperação da informação pelo usuário de biblioteca
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
372 |
escolar (criança, adolescente e professor); representação em linguagem
natural, explicativa ou informativa e descritiva, conforme o tipo de resumo.
Assim, a exploração do conhecimento de aspectos estruturais do
texto, a identicação de aspectos temáticos, por meio de questionamentos
ao texto, também aspectos de seleção de conteúdo temático e representação
de acordo com o tipo de resumo são os elementos fundamentais para
compor o modelo de leitura documentária, na elaboração de resumos da
literatura infantojuvenil em prosa.
5 metodologIA do protocolo verbAl IndIvIduAl e QuestIonárIo
pArA coletA de dAdos e resultAdos dA AvAlIAção do modelo de
leIturA documentárIA
O protocolo verbal individual consiste em uma metodologia,
denominada também de “Pensar Alto”, para análise de informações do leitor,
que exterioriza verbalmente seus processos mentais, durante uma tarefa de
leitura e interpretação (FUJITA, 1999). Em suma, os procedimentos para
a aplicação do protocolo verbal individual, para esta pesquisa, foram:
A) procedImentos AnterIores à AplIcAção do protocolo verbAl
IndIvIduAl:
i) Seleção do sujeito a ser pesquisado: o critério utilizado foi de ser um bibliotecário
escolar, para avaliar o modelo de leitura documentária, que também poderia
realizar a seleção do texto-base a ser resumido, de livre escolha, em sua biblioteca
escolar;
ii) Conversa informal com o sujeito: antes da aplicação do protocolo verbal
individual, a m de mencionar os objetivos da pesquisa e sua importância,
garantir que sua identidade e da instituição a que pertence serão preservadas e
não divulgadas, além de combinar o dia da coleta de dados;
iii) Apresentação e esclarecimento: sobre o “Manual explicativo do modelo de leitura
documentária para ns de elaboração de resumos da literatura infantojuvenil”, no
dia da coleta de dados;
iv) Familiarização com a tarefa do ink Aloud (“Pensar Alto”): apresentação dos
procedimentos do protocolo verbal ao sujeito e informação de que, ao nal,
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 373
também haverá avaliação do modelo de leitura documentária, por meio de
questionário, no dia da coleta de dados.
b) procedImentos durAnte A AplIcAção do protocolo verbAl IndIvIduAl
(grAvAção no dIA dA coletA de dAdos):
i) Gravação do “pensar alto durante a leitura documentária: antes de começar a
gravação, é oportuno o pesquisador lembrar o sujeito que é necessário “pensar
alto”, ao realizar a leitura e exteriorizar seus processos mentais;
ii) O pesquisador orienta o sujeito a: “pensar alto”, também para mostrar o que
identicou como elemento temático para elaboração do resumo, que estava
escrito em quadro do manual;
iii) O pesquisador orienta o sujeito a: ler novamente o manual, para relembrar
aspectos da estrutura textual, quando necessário.
c) Procedimentos após a aplicação do protocolo verbal:
i) Aplicação de questionário: para avaliação do modelo de leitura documentária e
elaboração de resumo.
ii) Transcrições literais das gravações destacando a compreensão do sujeito, como
também as suas dúvidas, a identicação temática e a estrutura textual, utilizando
notação especíca para a transcrição.
iii) Avaliação do modelo de leitura documentária e elaboração de resumo usando o
protocolo verbal individual e o questionário respondido pelo sujeito.
O questionário de avaliação apresentou nove perguntas, entre
abertas e fechadas, para vericar o entendimento das estruturas textuais,
a importância do questionamento ao texto, se a leitura parcial do texto é
suciente, elementos textuais buscados pelos usuários na biblioteca escolar,
diculdades e facilidades em selecionar e representar as informações, a
opinião do sujeito pesquisado sobre contar o nal da história no resumo e,
por m, se, no caso da escolha de fábula, o tema principal está relacionado
com a moral da história. A partir disso, os resultados foram apresentados.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
374 |
5.1 resultAdos dA AplIcAção do protocolo verbAl e
QuestIonárIo pArA AvAlIAção do modelo de leIturA
documentárIA, pArA fIns de elAborAção de resumos
O “Manual explicativo do modelo de leitura documentária para
ns de elaboração de resumos da literatura infantojuvenil” foi explicado ao
sujeito pesquisado, bibliotecário escolar; posteriormente, foram mostrados
os procedimentos para a coleta de dados com protocolo verbal individual
e questionário. A escolha da literatura infantojuvenil foi feita livremente
pelo bibliotecário, que optou pelo livro infantil “A tartaruga e a lebre”,
de Maurício de Sousa (2014). Depois, foram iniciados os procedimentos
de leitura documentária para ns de elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil, com o uso do manual e acompanhado pela gravação de
protocolo verbal individual, para avaliação desse procedimento.
A análise do protocolo verbal demonstrou que, no emprego
do manual explicativo do modelo de leitura documentária, o sujeito
pesquisado, bibliotecário escolar, adotou estratégias metacognitivas do
uso do conhecimento da estrutura textual e inferências apoiadas nos
questionamentos para identicação da temática.
O bibliotecário optou por fazer a leitura integral da literatura
infantil, devido ao fato de o texto ser pequeno, mas acabou voltando e
consultando algumas partes do texto, para comprovar informações
necessárias. Em geral, houve a identicação correta da maioria dos aspectos
temáticos, com apoio do modelo de leitura.
Alguns exemplos da transcrição do protocolo verbal individual
que revelam a identicação da temática do texto estão no Quadro 9:
Quadro 9 - Exemplos de identicação da temática do texto pelo sujeito
pesquisado.
“Qual o gênero literário?”: Gênero literário então é literatura infantil. O subgênero é
fábula.
{Manipulação:} a tartaruga diz a lebre que pode ser lenta, mas ainda ganha da lebre (...)
e, então, a lebre a desaa a uma corrida.
“Quem é o manipulador?”: a lebre. “Quem é o manipulado?”: a tartaruga.
Fonte: Elaborado pela autora, com base na transcrição da resposta do sujeito pesquisado.
N: Elementos da notação da transcrição: (...) omissão de trecho não relevante; Negrito:
conceitos observados pelo indexador; Itálico: fala do sujeito mostrando sua compreensão; {texto}
comentários analíticos da pesquisadora.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 375
A diculdade encontrada na utilização do modelo de leitura e
avaliada por meio do protocolo verbal individual foi, especicamente, o
emprego da estratégia metacognitiva para usar o conhecimento de alguns
aspectos da estrutura textual, do nível narrativo e profundo do Percurso
Gerativo de Sentido. Isso levou à intervenção da pesquisadora, que buscou
alertar o sujeito pesquisado a voltar a ler as instruções do modelo de leitura
documentária, como também houve necessidade de explicar novamente
esses aspectos do manual, durante a prática da leitura documentária. Pois,
era a primeira vez em que o sujeito pesquisado utilizava o Percurso Gerativo
de Sentido, e precisava incorporar essas informações para utilizá-las como
conhecimento prévio e apoio na identicação da temática.
No Quadro 10, há alguns exemplos da transcrição que mostram
a diculdade na identicação da temática, devido ao não entendimento da
estrutura textual do Percurso Gerativo de Sentido:
Quadro 10 - Exemplos das diculdades na identicação da temática pelo
sujeito pesquisado em situação de aprendizagem.
{Dúvida 1 na identicação da Performance:} Eu acho que aqui é essa provocação que
a lebre sempre faz na tartaruga, que desenvolve essa consciência, né, interior aqui de que
ela pode fazer essa corrida. Não seria isso? {observação: identicação de aspectos da
competência, que já haviam sido identicados anteriormente, por isso a pesquisadora
volta a explicar o que consiste a performance}.
{Dúvida 2 na identicação da Performance:} A corrida acontece com as duas largando
juntas, mas a lebre decide deixar a tartaruga ir na frente enquanto descansa, fazendo com
que a tartaruga ganhe a corrida. É isso? {observação: identicação da performance e
sanção juntas, por isso a pesquisadora explica novamente a diferença dessas duas fases
da narrativa}.
{Identicação da Performance:} Ok. Então seria até (...) enquanto ela descansa e a
tartaruga segue seu caminho.
Fonte: Elaborado pela autora, com base transcrição da resposta do sujeito pesquisado.
N: Elementos da notação da transcrição: (...) omissão de trecho não relevante; Itálico: fala do
sujeito mostrando sua compreensão; {texto} comentários analíticos da pesquisadora.
As informações temáticas identicadas no livro A tartaruga e a
lebre, de Maurício de Sousa (s.d.), e transcritas para o Quadro 3 do “Manual
explicativo do modelo de leitura documentária para ns de elaboração de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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resumos da literatura infantojuvenil”, respondendo às 18 questões, estão
no Quadro 11:
Quadro 11 - Informações temáticas identicadas da literatura
infantojuvenil pelo sujeito pesquisado
1) Qual o tema ou assunto principal nos elementos preliminares da obra? Em
branco – não havia elementos preliminares.
2) Qual o gênero literário? Literatura infantil.
3) Quais os subgêneros literários? Fábula.
4) Qual a persuasão ou manipulação principal, que leva ao desenvolvimento da ação
do herói? A tartaruga diz à lebre que pode ser lenta, mas ainda ganha da lebre e,
então, a lebre a desaa a uma corrida.
5) Quem é o manipulador? A lebre.
6) Quem é o manipulado? A tartaruga.
7) Qual o tipo de narrador? Narrador observador.
8) Quando aconteceu a história? Alguns dias.
9) Qual o tempo da narrativa? Cronológico.
10) Onde aconteceu a história? Floresta.
11) Como o manipulado (herói) se tornou competente para a ação e transformação
de estado (competência)? Por causa das provocações da lebre, a tartaruga se faz
ciente de que é capaz de correr.
12) Como ocorreu a transformação de estado ou performance? A corrida acontece
com as duas largando juntas, mas a lebre decide deixar a tartaruga ir na frente.
enquanto descansa, fazendo com que a tartaruga ganhe a corrida.
13) Qual o estado nal do manipulado (herói) ou sua sanção pragmática? A tartaruga
aceita a manipulação e. por isso. ganha a corrida.
14) Qual o estado nal do manipulado (herói) ou sua sanção cognitiva? A tartaruga
ganha o reconhecimento de todos os animais e de que é capaz de ganhar.
15) Qual o estado nal do manipulador (vilão) ou sua sanção pragmática? Não ganha
a corrida.
16) Qual o estado nal do manipulador (vilão) ou sua sanção cognitiva? A lebre
recebe a lição de que não deve ser rápida, e sim persistir.
17) Qual a moral da história? Você alcança seus objetivos quando se esforça, não
quando é mais rápido.
18) Qual o tema principal abstrato (categorias semânticas de termos em oposição)? A
capacidade de alcançar objetivos.
Fonte: Elaborado pela autora, conforme resposta do sujeito pesquisado.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 377
Vale destacar que os termos em oposição podem ser inferidos,
ou até mesmo um deles ser estabelecido diante de uma pressuposição, no
entanto, a escolha do tema de nível profundo dependeu da ênfase dada no
texto, ou seja, optou-se pela identicação de apenas um dos termos para
ns de representação e conforme a perspectiva principal na qual a narrativa
se desenvolveu.
Depois disso, o bibliotecário optou por selecionar a maioria das
informações identicadas na terceira coluna do Quadro 3, sem empregar a
coluna 4, passando e reescrevendo, quando necessário, o texto direto para
o Quadro 8 do manual, que apresenta a estruturação do texto do resumo.
O sujeito pesquisado optou por elaborar somente um tipo de resumo,
portanto, os resumos informativo-indicativo (seletivo) e indicativo não
foram elaborados. Assim, as informações selecionadas e representadas
pelo sujeito pesquisado sobre o livro A tartaruga e a lebre, de Maurício de
Sousa (2014) resultaram na elaboração do seguinte resumo informativo,
em texto discursivo, com 123 palavras, segundo se verica no Quadro 12:
Quadro 12 - Elaboração de resumo pelo sujeito pesquisado, bibliotecário
escolar.
SOUZA, M. de. A tartaruga e a lebre. São Paulo: Girassol, 2014. (Coleção Fábulas
Ilustradas).
A lebre e a tartaruga, que vivem em uma oresta, mostram a maneira certa de lutar
para alcançar seus objetivos. A tartaruga diz à lebre que pode ser lenta, mas que pode
ganhar dela em uma corrida, e então a desaa. Por causa das provocações da lebre,
a tartaruga se faz ciente de que é capaz de correr. A corrida acontece com as duas
largando juntas, mas a lebre decide deixar a tartaruga ir na frente, enquanto descansa,
fazendo com que a tartaruga ganhe a corrida. A tartaruga ganha a corrida e todos
os animais reconhecem sua capacidade, enquanto a lebre perde e aprende que deve
persistir, para alcançar seus objetivos. Outras informações são o narrador observador,
tempo cronológico, literatura infantil e fábula.
Fonte: Elaborado pela autora, conforme resposta do sujeito pesquisado.
O questionário com perguntas abertas e fechadas também
contribuiu para a avaliação do modelo de leitura documentária proposto,
conrmando que, entre as teorias das estruturas textuais, a mais complicada
para o entendimento e aplicação foi a do Percurso Gerativo de Sentido,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
378 |
por ser uma novidade para o sujeito pesquisado. As demais constatações
vericadas por meio do questionário estão a seguir.
Na opinião do sujeito pesquisado, os 18 questionamentos para
inferência ao texto e identicação de conteúdo temático contemplaram
todos os elementos que precisam ser representados, para recuperação da
informação da literatura infantil. Outro aspecto é que a leitura parcial do
texto, segundo o sujeito pesquisado, não colabora para a identicação de
elementos temáticos.
Os elementos textuais da literatura infantojuvenil buscados na
biblioteca escolar pelos usuários são: Tema principal (do que trata o texto);
Características dos personagens principais (bruxos, fadas, dinossauros,
amigos de escola, bom, mau etc.); Gênero e subgênero literário ou
discursivo. Outros não considerados foram: Ações entre personagens,
demonstrando o desenvolvimento da história (manipulação, competência,
performance e sanção); Espaço; Tempo da história e da narrativa; Tipo de
narrador; e Moral da história. Apesar disso, o sujeito pesquisado arma, em
resposta a uma outra questão, sobre spoiler, que seus usuários, professores e
crianças, gostariam de saber sobre toda a história.
Entre as diculdades e facilidades em selecionar as informações
relevantes para compor o resumo, o sujeito pesquisado destaca: “O
modelo de leitura facilita muito a retirada das informações da obra”. Entre
as diculdades e facilidades em representar as informações em forma de
resumo, o sujeito relata: “A maior diculdade em representar as informações
em forma de resumo é o ato de resumir”, no sentido da representação.
Na pergunta “Considerando que contar o nal da história
caracteriza um spoiler, quais as vantagens e desvantagens em representar,
no resumo, as sanções com o nal da história? Em sua opinião, contar o
nal da história afasta o leitor da leitura?”, o sujeito pesquisado reete,
referindo-se ao seu caso: “Não afasta o leitor da leitura, acredito que ajuda
no interesse, porque o professor gostaria de saber a história, assim como as
crianças”.
E, por m, o sujeito pesquisado optou por usar uma fábula.
Por isso, respondeu à última pergunta do questionário, que averiguou se,
no caso da fábula, o tema principal estaria relacionado com a moral da
história, assim o sujeito armou: “Nesse caso, sim”.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 379
Observou-se que o sujeito pesquisado não utilizou todos os
elementos do manual do modelo de leitura, como a leitura parcial do
texto em todos os momentos e a seleção de aspectos importantes antes da
representação do texto em resumo, que são recursos do manual idealizados
para facilitar a identicação, seleção e representação. Todavia, foram
identicados e representados aspectos importantes para recuperação da
informação pelos usuários. Além disso, o manual foi avaliado por um
prossional bibliotecário e poderá ser avaliado também segundo outras
realidades, dependendo do resumidor, da instituição, tipo de resumo e sua
densidade informativa, tipo de literatura infantojuvenil e usuários.
6 consIderAções fInAIs
As observações de aspectos dos estudos de Alves (2016) e Fujita
e Rubi (2006), entre outros, permitiram o desenvolvimento do modelo
de leitura documentária para elaboração de resumos do texto narrativo
ccional infantojuvenil em prosa. Esse modelo de leitura documentária foi
elaborado a partir de idealização de estratégias de leitura documentária para
o resumidor, as quais consistiram em: uso de conhecimentos de aspectos
estruturais relevantes do texto; a utilização de leitura de algumas partes
do texto, como as iniciais, nais e algumas partes do meio; a identicação
de aspectos temáticos, por meio de questionamentos ao texto; a seleção e
condensação de elementos temáticos para representação, de acordo com o
tipo de resumo e aspectos que colaboraram para suprir as necessidades de
informação de usuários de bibliotecas escolares; além de conhecimentos
prévios sobre gêneros e subgêneros textuais.
A contribuição da recuperação da informação para a leitura de
texto ccional em meio escolar é muito importante. A leitura de cção,
segundo Silva e Couto (2013), promove o desenvolvimento das capacidades
de leitura e escrita, das competências discursivas e de comunicação, além
de elementos diversos do conhecimento articulados pela literatura. Mas,
para isso, é necessária a sua promoção de modo consciente, apoiada em
representação e recuperação ecientes, para cooperar com a leitura em meio
escolar. A biblioteca escolar é um recurso facilitador dos processos de ensino
e aprendizagem e práticas de leitura, por isso, deve estar comprometida
com a promoção de leituras diversas (CAMPELLO, 2002; ROCA, 2012).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
380 |
O bibliotecário deve proporcionar a ligação entre os recursos da
biblioteca e os demais segmentos escolares, conhecendo bem o acervo,
para disseminação, considerando o público leitor, entre outros aspectos
(AGUIAR, 2006). Em vista disso, o resumo pode contribuir com a
disseminação de leitura, pois tem o potencial de auxiliar na recuperação da
informação necessária ao leitor ou usuário.
Espera-se que o modelo de leitura documentária apresentado
possa ser usado de modo exível, de acordo com a realidade de cada
resumidor, tipo de literatura infantojuvenil, resumo, biblioteca escolar e
usuários, portanto, que possa ser empregado conforme cada necessidade.
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| 383
15
modelo de leIturA técnIcA pArA A AnálIse de
Assunto de Acórdãos dos trIbunAIs de contAs
Ana Carolina FERREIRA
Benildes Coura Moreira dos Santos MACULAN
resumo: Apresenta um modelo de leitura técnica para a análise de assunto de acórdãos
produzidos pelos tribunais de contas, cujas bases teórico-metodológicas fundamentaram-
se na estrutura temática do documento, no emprego de estratégias de leitura cognitivas e
metacognitivas para a construção do sentido do texto, nas diretrizes da NBR 12672/1992
(ABNT, 1992) para a identicação de conceitos por meio de questionamentos e nas
categorias temáticas especícas da área jurídica. Esse modelo é resultado da pesquisa
de mestrado de Ferreira (2017), desenvolvida no contexto de um estudo de caso em
uma instituição de scalização e controle dos recursos públicos, o Tribunal de Contas
do Estado de Minas Gerais (TCEMG). Os benefícios gerados pela pesquisa foram o
estabelecimento de procedimentos sistematizados para objetivar a análise de assunto do
acórdão e a potencialidade de generalização do modelo, com as devidas adaptações, para o
contexto de outros tribunais de contas, haja vista que a estrutura do acórdão é estabelecida
por uma lei de abrangência nacional.
pAlAvrAs-chAve: Análise de assunto. Modelo de leitura técnica. Acórdão. Tribunal de
Contas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
384 |
AbstrAct: e technical reading model for the analysis of ruling documents issued by
the court of audit is addressed. is model is based on the thematic structure of the
document, use of cognitive reading strategies, the NBR (Brazilian norms) guidelines
No 12672/1992 (ABNT, 1992) for the identication of concepts based on questions,
and the specic thematic categories used in the legal eld. is model is based on the
results of a case study, developed in Ferreiras master’s degree research (2017), conducted
at the Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG) (Court of Audit of
the state of Minas Gerais), an institution that audits and controls public resources. e
benets of the research were the establishment of systematized procedures to objectify the
subject analysis of rulings and the potential for generalization of the model, provided that
appropriate adaptations are made to suit other courts of audit, given that the structure of
rulings is established by a national law.
Keywords: Subject analysis. Technical reading model. Rulings. Court of Audit.
1 Introdução
Este capítulo apresenta um modelo de leitura técnica
41
para a
análise de assunto de acórdãos produzidos pelos tribunais de contas. A
motivação para a construção desse modelo surgiu da constatação da
subjetividade da análise de assunto para a indexação e da carência de
metodologias nas áreas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação
(CI) para objetivá-la e sistematizá-la (FUJITA, 2003; FUJITA; RUBI,
2006; KOBASHI, 1994; LIMA; MACULAN, 2014; SILVA, 2008)
42
.
No contexto da informação jurídica, essa lacuna metodológica é
mais evidente, haja vista a estrutura diferenciada dos documentos jurídicos
e a alta especicidade requerida para a sua representação temática. A
documentação jurídica, a exemplo das leis e dos acórdãos, demanda, assim,
uma indexação pormenorizada do seu conteúdo.
Desse modo, este capítulo explora os fundamentos teórico-
metodológicos que embasaram a construção do modelo de leitura para
acórdãos. Também faz a aplicação e a validação desse modelo em uma
prestação de contas de instituto de previdência municipal, julgada pelo
Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG), que é o
ambiente do estudo de caso.
41
A leitura técnica também é denominada de leitura documentária.
42
O modelo de leitura técnica para acórdãos apresentado neste capítulo é resultado da pesquisa de mestrado de
Ferreira (2017).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 385
O modelo de leitura destina-se, especialmente, a auxiliar o
bibliotecário que atua no contexto da indexação da jurisprudência nos
tribunais de contas, e que necessita de aprofundamentos teórico-conceituais
para a exploração da estrutura temática do acórdão, identicação e seleção
dos assuntos pertinentes à representação temática. É importante destacar,
ainda, que a utilização do modelo de leitura pressupõe o conhecimento do
domínio do controle externo, ainda que o bibliotecário não seja especialista
nessa área.
2 fundAmentos teórIco-metodológIcos
Os fundamentos teóricos que embasaram a construção do
modelo de leitura foram oriundos da Biblioteconomia, da CI e do campo
jurídico. Das áreas da Biblioteconomia e da CI buscaram-se os aportes
referentes à análise de assunto, processo que objetiva proporcionar acesso
ao conteúdo dos documentos. A análise de assunto integra a primeira etapa
da indexação, sendo o momento no qual a leitura está presente para a
identicação e a seleção de conceitos para a representação. Esse processo é,
essencialmente, subjetivo (NAVES, 2000; NEVES, 2012) e, por isso, são
necessários procedimentos sistematizados para objetivar a atividade.
De acordo com a primeira norma internacional sobre o tema, a
análise de assunto compreende três fases: 1) compreensão do documento
como um todo; 2) identicação de conceitos e 3) seleção dos conceitos
válidos para a recuperação (UNISIST, 1981). Esse processo de análise
ocorre durante a leitura do documento, e envolve o uso de estratégias
cognitivas e metacognitivas (KATO, 2007; KLEIMAN, 1992) para a
compreensão textual. Por sua vez, a norma brasileira NBR 12676/1992
dene critérios para a prática normalizada da análise de assunto e destaca
a relevância da adoção de questionamentos na identicação de conceitos
enquanto o indexador faz a leitura das partes do texto. A norma apresenta
alguns exemplos de questionamentos, mas sugere que sejam elaborados
questionamentos especícos para as diferentes áreas especializadas. As
pesquisas de Kobashi (1994), Fujita e Rubi (2006) e Maculan (2011)
corroboram essa concepção, e sugerem, ainda, o uso de questionamentos
aliado a categorias temáticas condizentes com as áreas de assunto que se
deseja representar.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
386 |
A adoção de estratégias de leitura técnica também está presente
nas investigações da CI (CINTRA, 1987; FAGUNDES, 2001; FUJITA,
2003; FUJITA; RUBI, 2006; MACULAN, 2011; SILVA, 2008).
Nessa perspectiva, Kleiman (1992, p. 10) arma que além de envolver
processos cognitivos, “a leitura é um ato social, entre dois sujeitos
– leitor e autor – que interagem entre si, obedecendo a objetivos e
necessidades socialmente determinados”. Assim, as estratégias de leitura
são divididas em cognitivas e metacognitivas, a partir da concepção
de que a construção do conhecimento ocorre em duas fases: uma em
que há a aquisição automática e inconsciente desse conhecimento;
e outra de maior controle consciente das ações cognitivas (KATO,
2007). As estratégias cognitivas constituem “um processo inferencial de
natureza inconsciente [...], que rege os comportamentos automáticos
e inconscientes do leitor” (KLEIMAN, 1992, p. 50). Essas estratégias
de leitura envolvem conhecimentos inconscientes e automáticos do
leitor, como o conhecimento de tipos e estruturas textuais, da estrutura
da língua e dos conhecimentos prévios do leitor (KATO, 2007). Por
outro lado, as estratégias metacognitivas envolvem o monitoramento da
compreensão e a determinação de um objetivo claro para a leitura, na
fase de compreensão que demanda um controle consciente e planejado
das habilidades cognitivas (KLEIMAN, 1992). Para o desenvolvimento
das estratégias metacognitivas, dois elementos básicos são necessários: a
denição de um objetivo explícito para a leitura e o monitoramento da
compreensão para atingir esse objetivo. Assim, a denição de um objetivo
prévio para a leitura permite ao leitor monitorar sua compreensão,
tendo em vista o alcance desse objetivo (KATO, 2007). Os dois tipos
de estratégias, no entanto, são igualmente importantes e, combinadas,
permitem a construção do entendimento do texto (CINTRA, 1987;
KATO, 2007; KLEIMAN, 1992).
A estrutura textual é outro elemento que subsidia a análise de
assunto (CINTRA, 1987; FAGUNDES, 2001; FUJITA, 2003; FUJITA;
RUBI, 2006; GUIMARÃES, 1994; KOBASHI, 1994; MACULAN,
2011; SILVA, 2008). Essas investigações têm origem na concepção de
macroestrutura textual desenvolvida por Van Dijk e Kintsch (1983) e
Van Dijk (1988), para os quais a estrutura do texto reete o conteúdo
que se deseja transmitir. Van Dijk (1988), estudioso da linguística textual
e da análise do discurso, aborda a estrutura temática dos documentos, a
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 387
denominada macroestrutura, como estratégia de leitura e análise qualitativa
de temas de artigos de jornais. Segundo o autor, é possível compreender
a organização hierárquica dos temas ou tópicos de um texto a partir da
observação da estrutura do documento. Segundo Fujita (2003, p. 85),
a superestrutura pode ser descrita como um tipo de esquema abstrato
que estabelece a ordem global de um texto e que se compõe de uma série
de categorias, cujas possibilidades de combinação baseiam-se em regras
convencionais”. A estrutura do texto relaciona-se, assim, à maneira segundo
a qual as ideias são dispostas no documento, com relação ao conteúdo, ao
tema e aos conceitos (FUJITA, 2003).
Assim, “enquanto paradigma de organização textual, o esquema, ou
superestrutura, fornece uma base para a interpretação do texto” (KOBASHI,
1994, p. 69). O modelo de Van Dijk e Kintsch (1983) salienta que as
propriedades estruturais do texto são relevantes para a sua compreensão
e, desse modo, podem ser aplicadas na construção de representações da
informação no contexto da CI. Do trabalho dos autores, depreende-se que
a seleção de assuntos nos textos é facilitada pela estrutura lógica padrão
neles presente. Essa armação é enfatizada por Cintra (1987, p. 30), de
que “os constituintes básicos de um determinado tipo de texto denem a
sua superestrutura”, a qual permite que “leitores com conhecimento prévio
especíco sobre superestruturas textuais executem a tarefa de ler de forma
mais fácil que leitores que não ‘veem’ essa superestrutura e, por isso, são
obrigados a um maior apoio na leitura palavra por palavra” (CINTRA,
1987, p. 30).
Outros elementos fundamentais e estreitamente inter-
relacionados para se realizar a compreensão na leitura são o leitor, o texto e
o contexto (GIASSON, 1993). Assim, o leitor é a variável mais complexa
do modelo de compreensão, pois ele cria sentido para o texto a partir dos
seus próprios conhecimentos e atitudes, da sua cultura, da sua intenção de
leitura e de elementos do contexto que o circundam. O leitor apresenta
estruturas cognitivas – conhecimento sobre a língua e sobre o mundo – e
afetivas próprias – estas compreendendo a atitude geral face à leitura e aos
interesses desenvolvidos pelo leitor, que independem das situações de leitura
(GIASSON, 1993). Em relação à variável texto, Giasson (1993) assegura
que os aspectos mais importantes são a estrutura e o conteúdo. A estrutura
refere-se à forma como as ideias se organizam em um texto, enquanto o
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
388 |
conteúdo remete o leitor aos conceitos nele apresentados. De certo modo,
a estrutura do texto está ligada ao seu conteúdo, de forma que o autor
de um texto escolhe certa estrutura textual que coincida com o conteúdo
que deseja transmitir. Assim, a exploração dessa estrutura, associada à
adoção de perguntas, facilita a compreensão do texto (GIASSON, 1993;
FUJITA, 2003). Por sua vez, a variável contexto se refere às condições
nas quais se encontra o leitor (com as suas estruturas e processos) quando
entra em contato com um texto (idem, idem). Tais contextos podem ser o
psicológico, o social e o físico.
Por sua vez, do campo jurídico, os conceitos fundamentais
utilizados foram os de fontes de informação jurídica, em especial
sobre os acórdãos e sua estrutura temática, além da compreensão da
competência dos tribunais de contas e das especicidades dos processos
de controle externo, conforme detalhado em Ferreira (2017). Desse
modo, é importante compreender que o acórdão, enquanto produto
de um julgamento colegiado proferido pelos tribunais (Código de
Processo Civil, art. 204) (BRASIL, 2015), se insere no conjunto maior
de documentos que compõem a denominada jurisprudência, que é
produzida no contexto dessas instituições. O acórdão apresenta uma
estrutura temática própria, subdividida em relatório, fundamentação e
voto. Assim, no relatório são expostos os fatos e as ações históricas relativas
ao andamento processual, incluindo, ainda, dados sobre o nome das
partes e a identicação do caso. Já a fundamentação é a parte do acórdão
que contém os fundamentos motivadores da decisão, sendo basicamente
argumentativa e analítica, a partir do uso de outras fontes de informação
jurídicas (CÂMARA, 2011). A fundamentação exterioriza as razões que
nortearam o convencimento do juiz para atingir determinada conclusão
e também revela a concatenação lógica de seus argumentos (motivos),
visando a convencer, dentre outros, o leitor do texto (GUIMARÃES,
2004). E a decisão contém a solução/posicionamento do órgão colegiado
sobre a questão jurídica que foi analisada.
Nesse contexto, os tribunais de contas são órgãos auxiliares
do poder legislativo no que tange ao exercício do controle externo e
à scalização dos recursos públicos. A Constituição Federal de 1988
determinou que a titularidade do controle externo pertence ao poder
legislativo, que a exerce com o auxílio técnico dos tribunais de contas.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 389
Assim, o exercício do controle externo dos tribunais de contas relaciona-
se à scalização contábil, nanceira, orçamentária, operacional e
patrimonial de todas as pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas,
que utilizem, arrecadem, guardem, gerenciem ou administrem bens e
valores públicos (BRASIL, 1988, art. 70). Também foi a CF/1988 que
outorgou aos tribunais de contas, em seu artigo 71, II, a competência
de julgar as contas, prerrogativa corroborada pela doutrina jurídica
majoritária, da qual são representantes autores como Miranda (1967) e
Fernandes (2012).
Para a construção do modelo de leitura técnica foram fundamentais
alguns insumos metodológicos que estão descritos na próxima seção.
3 ApontAmentos sobre os Insumos pArA os procedImentos
téorIco-metodológIcos de elAborAção do modelo de leIturA
Dentre os insumos teórico-metodológicos utilizados na elaboração
do modelo de leitura técnica para acórdãos dos tribunais de contas, situam-
se as categorias para a análise temática fato, instituto jurídico, entendimento
e argumento (GUIMARÃES, 1994, 2004), também adotadas nos manuais
de indexação de jurisprudência do Conselho da Justiça Federal (BRASIL,
1996), do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 2002), e nos trabalhos de
Maçoli (2005), Pimentel (2015), e Barbosa Netto e Cunha (2015).
As categorias temáticas contribuem para a identicação de
conceitos porque foram criadas a partir do princípio da estrutura temática
do acórdão, indicando os conceitos essenciais que devem ser extraídos
desse documento. Assim, a categoria fato ou contexto fático constitui-se em
todo fato material que produz efeitos jurídicos; vale dizer, fatos de cuja
ocorrência nascem, modicam-se ou extinguem-se direitos, adquirindo,
pois, relevância jurídica” (GUIMARÃES, 1994, p. 186). No contexto dos
tribunais de contas, “o fato que interessa é aquele que tem direta ligação
com o entendimento exarado pelo Tribunal em sua decisão. Não se trata
de qualquer fato, situação ou contexto, mas daquele que possui relevância
para a formulação de uma tese [...]” (BARBOSA NETTO; CUNHA,
2015, p. 43-44).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
390 |
Por outro lado, a categoria instituto jurídico, terminologia
posteriormente adaptada por Guimarães (2004) para o contexto das
ementas para a designação de questão jurídica ou técnica, “reete a matéria
objeto da discussão, representando o conjunto de princípios ou regras
técnicas e jurídicas (instituto jurídico) passíveis de incidir sobre aquele
fato, contexto fático ou situação fática” (BARBOSA NETTO; CUNHA,
2015, p. 45). Já o entendimento revela a posição do Tribunal sobre a
questão em análise, sendo, necessariamente, negativo ou positivo, “pois
decorre do reconhecimento ou não de um direito, da legalidade ou não
de uma conduta ou mesmo da legalidade ou constitucionalidade de um
normativo ou norma. Exemplos: É ilegal [...]; É irregular [...]; É licito [...];
É admissível [...]; É legal [...]” (BARBOSA NETTO; CUNHA, 2015,
p. 46). Por m, o argumento relaciona-se “ao fundamento, a justicativa,
a razão que dá suporte ao posicionamento adotado no acórdão [...]”
(BARBOSA NETTO; CUNHA, 2015, p. 46), e apresenta, desse modo,
caráter persuasivo e argumentativo (GUIMARÃES, 1994).
Dos manuais de indexação de jurisprudência foram obtidas as
orientações teórico-práticas sobre a atividade de análise de assunto, a
partir da perspectiva de trabalho do indexador. Nesse sentido, o Manual
de Indexação de Jurisprudência da Justiça Federal (BRASIL, 1996),
publicado pelo Conselho da Justiça Federal, explora a abordagem de
análise de assunto por categorias (GUIMARÃES, 1994), dene as etapas
da indexação de acórdãos nas fases de análise (leitura do documento,
identicação e seleção de conceitos) e tradução, além de propor uma
ordem de citação para a organização dos conceitos. Também no Manual
do analista de jurisprudência (2002), editado pelo Superior Tribunal
de Justiça, são contextualizados os fundamentos teóricos de análise
do acórdão, a partir das categorias temáticas de Guimarães (1994): a)
o aspecto fático do acórdão (localizado normalmente no Relatório);
b) a(s) tese(s) jurídica(s) discutida(s) pelos Ministros; c) a decisão do
STJ; d) seus fundamentos. Nesse manual, o foco de análise para a
indexação constitui-se, especialmente, no voto, e as etapas incluem a
análise para a identicação do assunto, a tradução para uma linguagem
de especialidade e a elaboração do resumo estruturado ou frase de
indexação. O manual também se fundamenta na identicação de
conceitos a partir da análise das partes temáticas do acórdão, combinada
com o uso de questionamentos.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 391
A pesquisa de Silva (2008) elaborou um modelo de leitura para
acórdãos do tipo recursos especiais do Superior Tribunal de Justiça. O
modelo foi integrado por um guia preliminar de monitoramento da leitura
para a identicação de conceitos, estruturado a partir dos princípios de
análise conceitual, indagações a formular e estrutura temática do acórdão.
A proposta de modelo leitura técnica de acórdãos apresentada neste
capítulo foi estruturada, assim, segundo esses mesmos fundamentos,
incluindo o monitoramento prévio da leitura e a análise da estrutura
temática do documento, combinada com o uso de questionamentos para
a identicação de conceitos.
4 A estruturA do modelo de leIturA técnIcA pArA Acórdãos
O modelo de leitura técnica foi estruturado em quatro colunas
e oito linhas, conforme Quadro 1. As colunas indicam: a parte temática
do acórdão a analisar (coluna 1), os questionamentos a serem feitos, pelo
indexador, a cada parte temática do documento (coluna 2), tendo como
diretrizes os conceitos essenciais (coluna 3) e, espaço (coluna 4) onde
devem ser inseridos os conceitos identicados, em linguagem natural. A
parte temática do acórdão e o seu signicado são identicados em cada
linha, assim como o signicado de cada pergunta, com exemplos práticos
de respostas. E, ao nal do modelo de leitura, há três linhas exclusivas,
cuja função é sintetizar o resultado do processo de análise do acórdão.
Assim, na linha “seleção dos conceitos/frase de indexação”, os conceitos
identicados devem ser selecionados e organizados, conforme a ordem de
citação sugerida na respectiva linha, de modo a facilitar a compreensão
do leitor. Já na linha “seleção dos conceitos referentes às recomendações/
frase de indexação”, os conceitos sobre as recomendações devem ser
sistematizados e também devem ser organizados em enunciados lógicos,
de modo compreensível para o leitor. Por m, na última linha, devem ser
indicadas as fontes de informação jurídicas que fundamentaram a decisão,
a exemplo da legislação, da jurisprudência e da doutrina.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
392 |
Quadro 1 - Modelo de Leitura Técnica (MLT) para acórdãos dos
tribunais de contas.
PARTE TEMÁTICA
DO ACÓRDÃO A
ANALISAR
QUESTIONAMENTOS
CONCEITOS
ESSENCIAIS
CONCEITOS
IDENTIFICADOS
EMENTA (parte na
qual se localiza uma
breve apresentação do
conteúdo essencial do
acórdão)
Qual a questão jurídica ou
técnica?
Qual foi a proposta ou
aquilo que foi proposto e
apresentado como tema a
ser discutido e julgado?
A questão técnica ou jurídica
reete a matéria objeto da
discussão.
Exemplo: na prestação de
contas dos ordenadores de
despesa, tem-se a questão
jurídica: “julgamento da
prestação de contas
Questão jurídica ou
técnica
Pode-se utilizar a
linguagem natural do
documento
RELATÓRIO (parte
do acórdão em
que se encontram
as narrativas dos
fatos ocorridos no
andamento processual)
Qual a situação fática?
O que aconteceu?
A situação fática envolve
os fatos jurídicos, que
produzem efeitos jurídicos,
como o surgimento, a
modicação ou a extinção
de direitos.
Exemplo: realização de
pregão presencial, na
Prefeitura de Campos
Gerais, no ano de 2017,
para a aquisição de pneus,
que sugere indícios de
irregularidades.
Situação fática
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 393
FUNDAMENTAÇÃO
-PRELIMINAR
E DE MÉRITO -
(também denominada
motivação, é a parte
que resulta da análise
feita pelo relator sobre
as questões de fato e
de direito expostas no
relatório)
Quais são as questões
preliminares relevantes
que ocasionaram impacto
no processo?
Exemplo: a discussão
sobre a aplicabilidade
do instituto jurídico da
prescrição em um processo
de scalização.
Qual(is) a(s)
irregularidade(s)
apontada(s) que foi(ram)
considerada(s) pelo
relator? Considerar aqui as
análises nais do relator.
Exemplo: ausência de
ampla divulgação do edital
de um concurso público.
Quais os argumentos?
(os argumentos são as
razões que determinaram o
convencimento do relator
acerca da decisão tomada)
Exemplo: o princípio da
publicidade é condição
de validade do ato
administrativo.
Questões
preliminares
Irregularidades
Argumentos
Pode-se utilizar a
linguagem natural do
documento
VOTO -
CONCLUSÃO/
DECISÃO – (parte em
que são apresentadas as
conclusões do relator)
Qual o entendimento?
O entendimento revela a
posição do relator sobre a
questão em debate e será,
necessariamente, positivo
ou negativo.
Exemplo: é irregular; é
lícito; é legal.
Qual a decisão nal?
A decisão nal indica o
resultado do entendimento
do relator. Exemplos:
determinar o arquivamento
dos autos, aplicar multa,
negar o provimento de um
recurso.
Entendimento do
relator
Decisão do relator
Pode-se utilizar a
linguagem natural do
documento
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
394 |
ACÓRDÃO stricto
sensu (parte que
veicula a conclusão
do colegiado de
julgadores)
Quais são as
recomendações?
As recomendações
constituem orientações
para o gestor público e são
características especícas
dos acórdãos dos tribunais
de contas. As recomendações
são recorrentes nas inspeções
ordinárias e nas prestações de
contas, mas não constituem
um item obrigatório.
Exemplo: recomendar ao
prefeito a disponibilização
e a organização de
documentos conforme
prescrito em instrução
normativa do Tribunal.
Qual o entendimento?
O entendimento revela a
posição do colegiado sobre
a questão em debate e será,
necessariamente, positivo ou
negativo.
Exemplo: é irregular; é
lícito; é legal.
Qual a decisão nal?
A decisão nal indica o
resultado do entendimento
do colegiado. Na decisão
colegiada, os demais
julgadores podem
acompanhar ou não o voto
do relator.
Exemplos: aplicar multa,
determinar a restituição de
valores aos cofres públicos,
determinar o cadastro do
nome do agente político
na lista dos candidatos
inelegíveis.
Recomendações
Entendimento do
colegiado
Decisão do colegiado
SELEÇÃO DOS CONCEITOS / FRASE DE INDEXAÇÃO: (nesta parte são apresentados os conceitos
selecionados, em uma ordem que facilita a compreensão e o entendimento do leitor sobre os principais
assuntos e conclusões do acórdão). Sugere-se adotar a ordem de citação proposta por Guimarães (1994):
1) Instituto Jurídico, que nos processos de controle será concebido como Questão Jurídica ou Técnica; 2)
Fato (Contexto fático); 3) Entendimento; 4) Argumento e, conforme proposta da autora desta pesquisa, 5)
Decisão nal.
SELEÇÃO DOS CONCEITOS REFERENTES ÀS RECOMENDAÇÕES/ FRASE DE INDEXAÇÃO:
(nesta parte são apresentados os conceitos selecionados, em uma ordem de citação que facilite a
compreensão e o entendimento do leitor sobre as recomendações feitas pelo relator)
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 395
FONTES DE INFORMAÇÃO JURÍDICAS: (são as fontes legislativa, jurisprudencial e doutrinária
utilizadas na fundamentação da decisão)
Fonte: FERREIRA (2017, p. 144).
É importante evidenciar o referencial teórico-metodológico que
fundamentou a construção de cada parte do modelo de leitura apresentado
no Quadro 1. Assim, na primeira coluna adotou-se o princípio de análise da
estrutura temática do acórdão, conforme denido no Código de Processo
Civil (2015), assim como os fundamentos oriundos de Van Dijk e Kintsch
(1983) e Van Dijk (1988), que foram empregados em outros trabalhos
da CI (FUJITA, 2003; FUJITA; RUBI, 2006; GUIMARÃES, 1994;
KOBASHI, 1994; MACULAN, 2011; SILVA, 2008). Na segunda coluna
o modelo seguiu a sistemática de questionamentos para a identicação de
conceitos, conforme as diretrizes da NBR 12676/1992 (ABNT, 1992),
com perguntas adaptadas para o contexto dos acórdãos. Os conceitos
identicados preencherão a quarta coluna.
Por sua vez, a terceira coluna teve por base a concepção de
conceitos essenciais de Kobashi (1994), Fujita e Rubi (2006) e Maculan
(2011), juntamente com as categorias temáticas (fato, instituto jurídico,
entendimento e argumento) de Guimarães (1994, 2004), corroboradas
por Pimentel (2015) e Barbosa Netto e Cunha (2015), que as adaptaram
para o contexto dos tribunais de contas. Assim, o modelo também
adotou os conceitos essenciais “questões preliminares”, “irregularidades”,
recomendações”, e as subdivisões conceituais “entendimento do relator”,
decisão do relator”, “entendimento do colegiado”, “decisão do colegiado”,
propostas por (FERREIRA, 2017, p. 199), e estabelecidas a partir da
prática prossional de indexação de acórdãos no âmbito do TCEMG.
Por m, destaca-se que na linha que se refere à “seleção de
conceitos/frase de indexação”, julgou-se necessário estabelecer uma ordem
de citação, tendo em vista a representação em uma sequência uniforme
para os conceitos, reetindo uma sintaxe que dê maior densidade semântica
na elaboração da frase, atendendo às circunstâncias especiais do TCEMG.
Os números indicados na parte relativa à “Seleção dos conceitos/Frase de
indexação” apontam uma sugestão de ordem de citação para organizar os
conceitos de modo lógico, segundo a proposta de Guimarães (1994), com o
acréscimo do conceito essencial “Decisão nal”, conforme Ferreira (2017).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
396 |
5 AplIcAção e vAlIdAção do modelo de leIturA técnIcA pArA
Acórdãos dos trIbunAIs de contAs
Para a construção do modelo de leitura, no contexto do TCEMG,
foram eleitas as naturezas processuais denúncia, inspeção ordinária, prestação
de contas dos ordenadores de despesa e tomada de contas especial, que constituem
formas típicas de controle e de scalização pelos tribunais de contas, conforme
exposto com maiores detalhes em Ferreira (2017). Na referida dissertação,
o leitor poderá vericar exemplos de aplicação e validação dessas quatro
tipologias processuais. Neste capítulo, porém, elegeu-se a natureza processual
Prestação de Contas da Administração Indireta Municipal n. 849.898
43
para a
análise e a validação do modelo de leitura.
Os autos n. 849.898 referem-se à prestação de contas do gestor
do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Município de
Campos Gerais (PREVICAM), referente ao exercício nanceiro de 2010.
O PREVICAM é o órgão gestor do regime próprio de previdência dos
servidores do município de Campos Gerais, com atribuição de custeio do
plano de benefícios da seguridade social dos seus beneciários (CAMPOS
GERAIS, 2012). É importante destacar que a prestação de contas é um
poder-dever de todos as pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas,
que utilizem, arrecadem, guardem, gerenciem ou administrem dinheiros,
bens e valores públicos, conforme determina o parágrafo único do artigo
70 da Constituição Federal de 1988. Assim, cabe ao Tribunal de Contas
a função de julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta,
incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra
irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público, conforme dene o
artigo 71, II, da CF/1988 (BRASIL, 1988).
Nesse contexto, o acórdão sob análise no Quadro 2, é um
documento que reete o resultado desse julgamento, e que contém as
informações sobre as ocorrências referentes ao andamento processual e sobre
as partes (no relatório), as razões e os fundamentos que subsidiaram a decisão
(na fundamentação) e a decisão propriamente dita (na decisão e conclusão
do relator) e no acórdão stricto sensu (na decisão e conclusão do colegiado).
43
Publicada no Diário Ocial de Contas de 6/11/2018, página 21. Disponível, também, para acesso público no
portal: https://tcjuris.tce.mg.gov.br/#!.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 397
Quadro 2 - Aplicação e validação do Modelo de Leitura na Prestação de
Contas da Administração Indireta Municipal n. 849.898
PARTE TEMÁTICA
DO ACÓRDÃO A
ANALISAR
QUESTIONAMENTOS
CONCEITOS
ESSENCIAIS
CONCEITOS
IDENTIFICADOS
EMENTA (parte na
qual se localiza uma
breve apresentação do
conteúdo essencial do
acórdão)
Qual a questão jurídica ou
técnica?
Julgamento da prestação de
contas.
Questão jurídica
ou técnica
Julgamento, prestação
de contas
RELATÓRIO (parte
do acórdão em que se
encontram as narrativas
dos fatos ocorridos no
andamento processual)
Qual a situação fática?
O que aconteceu?
É uma prestação de contas do
gestor do Fundo de Previdência
dos Servidores Públicos do
Município de Campos Gerais
– PREVICAM, relativa ao
exercício nanceiro de 2010.
Situação fática
Prestação de contas,
gestor, Fundo de
Previdência dos
Servidores Públicos do
Município de Campos
Gerais – PREVICAM,
exercício nanceiro
FUNDAMENTAÇÃO
-PRELIMINAR
E DE MÉRITO -
(também denominada
motivação, é a parte
que resulta da análise
feita pelo relator sobre
as questões de fato e
de direito expostas no
relatório)
Quais são as questões
preliminares relevantes que
ocasionaram impacto no
processo? Não há.
Qual(is) a(s) irregularidade(s)
apontada(s) que foi(ram)
considerada(s) pelo relator?
Ausência de demonstrativos
referentes à política de
investimentos.
Contabilização incorreta da
provisão matemática do regime
próprio de previdência social.
Divergência nos demonstrativos
contábeis relativos à avaliação e
à reavaliação atuarial.
Quais os argumentos?
É falta grave a omissão de dados
sobre a aplicação dos recursos
que formam o patrimônio dos
regimes de previdência.
Inobservância do princípio
contábil da evidenciação.
Questões
preliminares
Irregularidades
Argumentos
Preliminar: -
Irregularidades:
ausência, demonstrativo
contábil, referência,
política de investimentos
Erro, provisão
matemática, regime
próprio de previdência
social
Divergência,
demonstrativo contábil,
avaliação atuarial,
reavaliação atuarial
Argumentos:
Gravidade, omissão,
dados, aplicação,
recursos nanceiros,
composição, patrimônio,
regime de previdência.
Inobservância, princípio
contábil, princípio da
evidenciação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
398 |
VOTO -
CONCLUSÃO/
DECISÃO – (parte em
que são apresentadas
as conclusões do
relator)
Qual o entendimento?
Contas irregulares.
Qual a decisão nal?
Aplicação de multa.
Encaminhamento dos autos ao
Ministério Público de Contas
(MPC) para as providências
cabíveis.
Entendimento
do relator
Decisão do
relator
Entendimento do
relator:
Contas irregulares.
Decisão do relator:
Aplicação, multa, ex-
gestor.
Encaminhamento,
autos, MPC
ACÓRDÃO stricto
sensu (parte que
veicula a conclusão
do colegiado de
julgadores)
Quais são as recomendações?
Recomendação ao gestor que
promova os preenchimentos
dos demonstrativos da política
de investimentos, evitando-se a
reincidência do apontamento.
Necessidade de observância
das normas gerais de direito
nanceiro e do princípio
contábil da evidenciação.
Qual o entendimento?
Contas irregulares.
Qual a decisão nal?
Aplicação de multa.
Encaminhamento dos autos ao
Ministério Público de Contas
para as providências cabíveis
Recomendações
Entendimento
do colegiado
Decisão do
colegiado
Recomendações:
Recomendação,
gestor, necessidade,
preenchimento,
demonstrativo, política
de investimentos,
observância, normas
gerais, direito nanceiro,
observância, princípio
contábil, princípio da
evidenciação
Entendimento do
colegiado:
Contas irregulares.
Decisão do colegiado:
Aplicação,
multa, ex-gestor.
Encaminhamento,
autos, MPC, adoção,
providência.
SELEÇÃO DOS CONCEITOS / FRASE DE INDEXAÇÃO:
(1, 2) Julgamento, prestação de contas, exercício nanceiro, gestor, Fundo de Previdência dos Servidores
Públicos do Município de Campos Gerais – PREVICAM. (3) Contas irregulares, ausência, demonstrativo
contábil, referência, política de investimentos; erro, provisão matemática, regime próprio de previdência
social; divergência, demonstrativo contábil, avaliação atuarial, reavaliação atuarial. (4) Gravidade, omissão,
dados, aplicação, recursos nanceiros, composição, patrimônio, regime de previdência. Inobservância,
princípio contábil, princípio da evidenciação. (5) Aplicação, multa, ex-gestor. Encaminhamento, autos,
Ministério Público de Contas.
Nota: Sugere-se adotar a ordem de citação proposta por Guimarães (1994): 1) Instituto Jurídico, que
nos processos de controle será concebido como Questão Jurídica ou Técnica; 2) Fato (Contexto fático); 3)
Entendimento; 4) Argumento e, conforme proposta de Ferreira (2017), 5) Decisão nal.
SELEÇÃO DOS CONCEITOS REFERENTES ÀS RECOMENDAÇÕES / FRASE DE INDEXAÇÃO:
Recomendação, gestor, necessidade, preenchimento, demonstrativo, política de investimentos, observância,
normas gerais, direito nanceiro, princípio contábil, princípio da evidenciação.
| 399
FONTES DE INFORMAÇÃO JURÍDICAS:
1) Legislação:
Lei Federal n. 4.320/1964, artigos 83, 85, 89; Lei Federal n. 9.717/1998; Resolução n. 3.790/2009 do
Conselho Monetário Nacional; Resolução n. 750/1993, art. 6º do Conselho Federal de Contabilidade;
Resolução n. 1.132/2008 do Conselho Federal de Contabilidade; Resolução n. 1.180/2009 do Conselho
Federal de Contabilidade; Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 19.7; Lei Complementar Estadual n.
102/2008, art. 48, III, 85, II.
2) Jurisprudência:
TCEMG: Prestação de Contas da Administração Indireta Municipal n. 849.816/2016.
3) Doutrina:
LIMA, Diana Vaz de. Contabilidade aplicada aos regimes próprios de previdência social. Brasília: Ministério
da Previdência Social, 2007.
Fonte: as autoras (2018).
Pelo exposto no Quadro 2, para a utilização do modelo foi
necessária a leitura das partes temáticas do acórdão (primeira coluna),
em confronto com os questionamentos da segunda coluna, tendo como
parâmetro a observância dos conceitos essenciais dispostos na terceira
coluna. Na quarta coluna, foi feita a anotação, em linguagem natural,
dos conceitos identicados a partir das respostas obtidas a partir dos
questionamentos. Recomenda-se que as respostas às indagações da
segunda coluna sejam formuladas, pelo indexador, a partir da paráfrase
dos enunciados identicados no texto. Sugere-se, ainda, que o indexador
pesquise, tanto na legislação como em fontes de referência, os conceitos
técnicos jurídicos que forem desconhecidos. Na parte temática referente
à fundamentação, também foram identicadas e anotadas as fontes de
informação citadas, que foram indicadas na linha nal do modelo.
Após esse processo de análise, os conceitos identicados foram
selecionados e arranjados em uma ordem de citação pré-determinada, de
modo a uniformizar a composição de um enunciado lógico para formar a
frase de indexação, ao nal (linha seleção dos conceitos/frase de indexação),
e permitir a compreensão do leitor. Isso signica que os conceitos repetidos
foram desconsiderados, visando, ainda, a economia de conceitos e a
priorização da objetividade da representação temática.
Na linha “Seleção dos conceitos referentes às recomendações
foram inseridos os conceitos selecionados que dizem respeito às
recomendações, as quais possuem caráter de orientação ao gestor público,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
400 |
sendo recorrentes nos processos de controle externo. No caso em questão,
recomenda-se, ao gestor do PREVICAM, que promova o preenchimento
dos demonstrativos referentes à política de investimento, em observância às
normas gerais de direito nanceiro e ao princípio contábil da evidenciação.
A última linha do modelo de leitura indica as fontes de informação
jurídicas que foram utilizadas para fundamentar a decisão, ou seja, para
embasar os argumentos, e, conforme observado, foram fontes legislativas,
jurisprudencial e doutrinária.
6 consIderAções fInAIs
O objetivo deste capítulo foi o de apresentar a elaboração e a
validação de um modelo de leitura técnica para acórdão dos tribunais
de contas, que é parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado
(FERREIRA, 2017). Esse modelo permitiu a objetivação das fases de
identicação e seleção de conceitos, ao denir os passos metodológicos
para a realização da atividade.
Vericou-se, no percurso da pesquisa e da construção e
validação do modelo de leitura, a importância das habilidades cognitivas
e metacognitivas para a construção do sentido do texto. Dentre as
habilidades cognitivas, destacam-se a importância do conhecimento prévio
sobre o domínio do controle externo e das suas especicidades, além da
linguagem técnica jurídica. Por sua vez, das habilidades metacognitivas
enfatizam-se as relacionadas ao monitoramento da leitura enquanto
ocorria a identicação de conceitos. Nessa situação, frisa-se a relevância do
conhecimento da estrutura temática do acórdão, das estratégias de leitura,
dos questionamentos propostos pela NBR 12676 (ABNT, 1992), assim
como da análise por categorias temáticas de Guimarães (1994, 2004),
corroboradas por Pimentel (2015) e Barbosa Netto e Cunha (2015).
Todos esses conhecimentos, em conjunto, permitiram entender o leitor, o
texto e o contexto (GIASSON, 1993). O leitor é, assim, o bibliotecário-
indexador, que possui um propósito de leitura para a identicação e a
seleção de conceitos para a representação temática. O texto é o próprio
acórdão, com suas características e estrutura própria. E o contexto é aquele
da indexação da jurisprudência dos tribunais de contas.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 401
É importante destacar que o modelo de leitura apresentado
neste capítulo se destina ao bibliotecário que não possui formação
jurídica especíca, mas que detém conhecimentos adquiridos pela prática
prossional, decorrente da atuação em órgãos de controle externo. Assim,
para a aplicação do modelo são necessários conhecimentos relativos ao
controle externo e às competências scalizatórias dos tribunais de contas.
Lembre-se, então, que esses conhecimentos remetem às habilidades
cognitivas imprescindíveis à compreensão da leitura.
Ademais, acredita-se que o modelo de leitura, a despeito de ser
desenvolvido no contexto de um estudo de caso, tem potencialidade de
generalização para a análise de assunto de outras naturezas processuais, em
outros tribunais de contas, haja vista que a estrutura do acórdão é denida
por uma lei de abrangência nacional, o Código de Processo Civil (BRASIL,
2015). Desse aspecto, também se defende que o estudo contribuiu para
a diminuição da carência de metodologias para a análise de assunto de
documentos jurídicos, em especial dos acórdãos jurisprudenciais.
referêncIAs
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12676. Métodos para
análise de documentos: determinação de seus assuntos e seleção de termos de indexação.
Rio de Janeiro, 1992.
BARBOSA NETTO, G.; CUNHA, C. A. Ementas e informativos nos tribunais de contas.
Cuiabá: PubliContas, 2015.
BRASIL. Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm. Acesso em: 26 nov. 2018.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Novo
Código de Processo Civil (NCPC). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 26 nov. 2018.
BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Manual de indexação da justiça federal. Brasília,
1996.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Secretaria de Jurisprudência. Manual do
analista de jurisprudência. Brasília, 2002.
CÂMARA, A. F. Lições de direito processual civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2011. v. 1.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
402 |
CAMPOS GERAIS. Município de Minas Gerais. Lei n. 2.924/2012. Dispõe sobre
a reestruturação do Regime Próprio de Previdência Municipal de Campos Gerais e
dá outras providências. 2012. Disponível em: http://www.previcam.mg.gov.br/les/
arquivos/fac_80724735-2b53-499d-9e1d-5460aaa442d7_LEI%202924-12%20-%20
ESTATUTO%20PREVICAM.pdf. Acesso em: 26 nov. 2018.
CINTRA, A. M. M. Estratégias de leitura em documentação. In: SMIT, J. W. (coord.).
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Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosoa e Ciências,
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(Mestrado em Gestão e Organização do Conhecimento) – Escola de Ciência da
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Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 403
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VAN DIJK, T. A.; KINTSCH, W. Strategies of discourse comprehension. New York:
Academic Press, 1983.
| 405
16
ArQuIvos de movImentos socIAIs: IndexAndo
documentos populAres
Jean Marcel Caum CAMOLEZE
Sonia TROITIÑO
resumo: Este trabalho tem por nalidade apresentar uma proposta para a indexação
de documentos populares e acervos de movimentos sociais. Todo documento, além de
ser fonte de informação, expressa atividade humana, dentro de uma entidade cultural,
inserida no tempo e no espaço. Frente a isso, a produção documental das organizações
típicas de movimentos sociais também segue padrões estabelecidos e apresenta nalidades
especícas. No caso dos movimentos sociais, a produção de documentos pode conduzir
a elaboração de registros para auxiliar em sua própria organização administrativa ou
conduzir a documentos criados com o intuito de formar e comunicar a seus participantes
diversos assuntos. Esta última categoria pode ser classicada como Documento Popular
por se destinar para a educação dentro do próprio movimento e ser concebido a partir
de regras e estruturas culturais determinadas por sua origem. Desse modo, este trabalho
utiliza como metodologia para indexação o Modelo de Leitura Documentária (FUJITA;
RUBI, 2006a), a m de atingir a recuperação da informação e satisfazer as necessidades
do usuário. Consideramos que os resultados foram alcançados de maneira satisfatória em
relação a indexação da documentação popular, mesmo diante da necessidade de adaptações
realizadas na metodologia originalmente escolhida, a m de atender as especicidades
documentais típicas desses registros.
pAlAvrAs-chAve: Documento Popular. Indexação. Leitura Documentária. Movimentos
Sociais.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
406 |
AbstrAct: is paper aims to present a proposal for the indexation of popular records and
social movements archives. Every record, besides being a source of information, expresses
human activity within a cultural entity, inserted in time and space. erefore, record
creation of organizations typical of social movements also follows established standards
and has specic purposes. In the social movement situation, records creation may lead to
the elaboration of records to assist in their own administrative organization or to records
created in order to teach and communicate to its members various subjects. is last
category can be classied as Popular Record because it is intended for education within
the movement itself and is idealized from rules and cultural structures determined by
its origin. us, this work uses as methodology for indexing the Documentary Reading
Model (FUJITA; RUBI, 2006a), in order to achieve information retrieval and satisfy
user needs. It is considered that the results were satisfactorily achieved in relation to the
indexation of popular records, even in face of the necessity of adaptations in the originally
chosen methodology, in order to attend the documentary specicities of these registers.
Keywords: Popular Records. Indexing. Documentary reading. Social movements.
1 Introdução
A indexação é uma atividade essencial, voltada para a recuperação
informacional, seja para a nalidade da gestão documental ou com função
memorialística e de reconhecimento identitário dos atos institucionais.
CHAUMIER (1990, p.278) chama a atenção para o fato de que “nada
adianta arquivar um documento que não saberemos encontrar porque
ele não foi indexado ou, ainda, porque ele foi indexado de maneira
incorreta”. Dessa maneira, é preciso considerar o emprego de métodos
ecazes para garantir o sucesso do processo de indexação, por meio de uma
política capaz de avaliar “o contexto da instituição mediante requisitos
para a denição tanto na indexação quanto na recuperação” (FUJITA;
TROITIÑO, 2018). Assim, a indexação não pode ser aplicada como um
processo isolado na gestão de documentos, mas deve ser entendida como
parte integrante do tratamento da informação. Principalmente, quando
considerada no momento do protocolo de documentos, com o intuito
de garantir a integração entre o registro do conhecimento gerado pela
entidade produtora e a recuperação da informação.
Dessa forma, a indexação consiste em uma atividade vital para a
funcionalidade da gestão documental, pois facilita a pesquisa de documentos
e de informações (GUIMARÃES, 2009). No entanto, Barbadillo Alonso
(2007), pela ótica de Fujita e Troitiño (2018, p. 96), apresenta uma
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 407
importante colaboração ao uso da indexação na gestão documental,
principalmente no que se refere ao processo de classicação arquivística
aplicado no nível hierárquico “série” evitando, assim, a sobrecarga do
plano classicatório do fundo e mantendo a coerência do arranjo na
organização documental. Então, mesmo a indexação e a classicação
sendo processos e etapas distintas da gestão documental, quando aplicadas
concomitantemente, ampliam as possibilidades de aproveitamento e
recuperação da informação trazendo, consequentemente, benefícios aos
usuários do sistema arquivístico.
Segundo a norma UNE ISO 15489:1 (ASOCIACIÓN
ESPAÑOLA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016), gestão documental pode
ser denida como o “controle ecaz e sistemático da criação, recepção,
armazenamento, uso e a disposição de documentos de arquivo, incluindo
os processos para capturar e manter a evidência e a informação sobre
as atividades e operações da organização em formato de documentos”.
Nesse sentido, é possível entender que a indexação documental, com seus
métodos e objetivos bem denidos, agrega maior ecácia no controle
do ciclo de vida do documento, quando presente em todas as etapas da
gestão documental. Isso porque, os termos identicados e traduzidos para
a linguagem técnica, por meio de vocabulário controlado.
A indexação, quando discutida e implementada junto a criação do
documento, preferencialmente na fase de seu protocolo, auxilia de maneira
efetiva na recuperação da informação e na organização documental, como
destacam Fujita e Troitiño (2018, p. 98);
[...] no processo de gestão documental, a indexação assume
função de destaque devido ao papel que cumpre ao representar a
informação, auxiliando na recuperação de documentos. Por outro
lado, também atua diretamente na racionalização do sistema de
organização documental ao colaborar com a aplicação do plano de
classicação, sem que este acarrete na ocultação de conteúdos de
ordem temática [...].
Por sua vez, Troitiño, Fujita e Neves (2016) defendem que o
nível classicatório adequado à aplicação da indexação é o do documento,
posto apresentar uma estrutura textual que permite a identicação de
conceitos úteis e necessários para a gestão de informações e recuperação
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
408 |
de documentos inseridos no sistema arquivístico, sendo esta uma operação
a ser realizada durante o protocolar da unidade documental. Com isso,
localizar, acessar e disponibilizar a informação de maneira precisa e ativa
pode ocorrer em todas as etapas do ciclo de vida do documento e não apenas
após sua destinação nal, quando o documento é denido como de guarda
permanente. Outra vantagem em se indexar documentos no início de seu
ciclo de vida é a desta ação garantir a integração das informações contidas
no documento durante sua produção, uso e destinação e a compreensão do
contexto sociocultural da
Se por um lado, a vantagem da aplicação da indexação de
documentos no início da primeira fase do ciclo de vida ca evidente, é
preciso igualmente considerar as vantagens trazidas pelo método para
a organização de grandes massas documentais, que já se encontram
em fase permanente. A ausência de acompanhamento do ciclo de vida
do documento é uma realidade frequentemente encontrada em acervos
de movimentos sociais. Constata-se a existência de uma produção
documental extremamente ativa dentro desses segmentos populares,
porém, normalmente não sistematizada em sua gestão e guarda, o que
conduz a diculdades na recuperação de informações.
Em decorrência da ausência de um modelo de tratamento
arquivístico amparado na gestão documental, os prejuízos relativos à
formação da memória e construção da história relativa aos movimentos
sociais são inevitáveis e sintomáticos da falta de uma política especíca
voltada para a preservação dos registros documentais que lhe caracterizam.
De igual modo, a ausência da adoção de metodologias e critérios claros
para o tratamento de documentos tem como efeito a diculdade de
promover uma indexação que realize a identicação dos termos descritivos
indicadores do conteúdo presente no documento, a m de possibilitar à
sua recuperação posterior.
No esteio dessas constatações, percebemos a necessidade de
compreender a produção documental dentro dos movimentos sociais e
as particularidades assumidas na documentação típica de movimentos
sociais, os chamados documentos populares, para a aplicação de um
método de indexação capaz de respeitar a natureza dos documentos e,
simultaneamente, garantir a recuperação de seus conteúdos de forma
precisa e produtiva para os interessados que à ela recorrem.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 409
2 produção documentAl em movImentos socIAIs
A produção documental se dá dentro de uma estrutura cultural
determinada, tendo por objetivo comunicar informações de maneira a
cumprir uma nalidade estipulada pelo seu órgão produtor de origem.
Dessa forma, a produção documental além de auxiliar na organização
administrativa de uma instituição, também colaborar para pensar os
atributos técnicos e intelectuais de um documento, de modo a contextualizá-
lo.
Nestes termos, a produção documental deve ser exercida como
primeira atividade na gestão dos documentos, seja em órgãos públicos e
privados, seja em movimentos sociais. Isso porque a produção documental
tem como premissa pensar a constituição do documento em sua melhor
funcionalidade, conforme os objetivos do órgão produtor. Conforme
destaca Pazin-Vitoriano (2012, p.33),
A produção documental e o arquivo dessas organizações são também
reexos dessa relação. Em função da dupla característica dos
documentos que registram o relacionamento de seu produtor, seja ele
um indivíduo ou uma entidade, com as instâncias governamentais
e com outras instâncias privadas, eles sofrerão inuência, em sua
criação, das condições e exigências legais existentes.
A criação do documento não é um ato aleatório, mas antes
fruto de uma sequência de procedimentos técnicos e intelectuais que
irão ajudar a cumprir uma nalidade determinada, inicialmente dentro
do órgão produtor e que, posteriormente, servirá a pesquisa ao garantir a
recuperação da informação e a difusão de elementos para a constituição do
conhecimento. No caso dos movimentos sociais, esta produção pode formar
documentos para auxiliar na organização administrativa e documentos
com o intuito de formar e comunicar aos seus participantes sobre diversos
assuntos do movimento. A esta última categoria de documentos podemos
chamar documento popular: documento criado dentro das estruturas
culturas do órgão produtor com o objetivo de transmitir informações
destinadas à educação dentro do próprio movimento.
Dessa forma, os movimentos sociais têm uma produção
documental ampla, perlada, constituída por tipos documentais
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
410 |
diversicados e que decorrem das mais diferentes atividades, resultando em
uma acumulação documental de valor substancial. Com isso, a produção
documental em movimentos sociais cumpre uma função essencial para
o funcionamento deles, pois não se limita apenas a uma extensão das
atividades do movimento, mas serve como uma forma de comunicação
e educação utilizada entre os integrantes, mantendo viva as memórias e
identidades cunhadas ao longo de sua trajetória.
No entanto, a organicidade presente nas atividades típicas de
movimentos sociais cria uma dinâmica, em vários aspectos, interferindo na
criação de registros, com suas especicidades, uxo e destinação de documentos.
Isto, muitas vezes, ocorre por causa das propriedades e atribuídos do próprio
movimento, assim como pela falta de padronização na sistematização da
organização documental, como explica Lopez (2012, p.20);
As organizações do movimento social apresentam características
próprias que tendem a se perder se forem tratadas com base em
esquemas universalizantes. Tais características também tendem a
ser diluídas quando se prioriza o aspecto formal dos documentos.
Devemos considerar e discutir os elementos informacionais
presentes na produção documental de natureza social e política.
Nesse tipo de entidade os documentos, muitas vezes, são produzidos,
sem regulamentação, normatização ocial, sem muito controle dos
padrões de produção, razão pela qual é difícil identicação.
Consequentemente, também se observa diculdade no
estabelecimento dos mecanismos de nomear, reconhecer e denominar os
documentos do movimento, criando uma árdua tarefa para a disponibilidade
deste acervo, sua difusão e sua conservação, a semelhança do observado por
Troitiño (2012). Assim, é sempre necessário estabelecer uma base sólida de
critérios para recolocar os documentos em seus contextos e formalizar os
procedimentos classicatórios, do nome do documento e de sua denição,
respeitando as particularidades e especicidades de sua origem.
Contudo, é preciso considerar que os arquivos estão relacionados
com a existência e a funcionalidade da sociedade, fazendo parte do pensar a
organização cultural da qual fazem parte. Por isso, entender o valor cultural
da Documentação Popular presente nos acervos de movimentos sociais,
como parte integrante da formação histórica do sistema ao qual pertencem, e
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 411
compreender a produção documental destinada à comunicação e educação,
se faz necessário, principalmente, para a classicação desses documentos,
recuperação da informação e representação das vivências passadas.
Dessa forma, revela-se a missão institucional. Além dos arquivos serem
instrumentos essenciais para o funcionamento de uma entidade, também
tem utilidade para a compreensão da sociedade a qual estão inseridos e
tem efeitos de pesquisa cientíca, a herança cultural e o testemunho social
(BELLOTTO, 2014, p. 306).
3 documento populAr no contexto socIoculturAl
No ano de 1981, o Centro de Documentação Uruguaio -
América Latina apresentou uma orientação para a produção de registros
das ações de movimentos sociais denindo que, a partir de então, esses
seriam chamados de Documentos Populares. O material foi elaborado
com base nas resoluções adotadas a partir da Consulta Latino-Americana
de Documentação e Comunicação Popular, realizada em 1979; na
exposição feita por Alfredo Paiva durante o IX Congresso da União Cristã
Brasileira de Comunicação Social (UCBC), em São Paulo, com o título
“Metodologia para a Documentação da Comunicação Popular” (UNIÃO
CRISTÃ BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, 1980) e do
artigo “Documentação”, da Parte II do folheto “Comunicação Popular”
(CENTRO POPULAR VERGUEIRO, 1985).
O fomento à produção da documentação popular surge
como uma opção e ampliação das formas de comunicação dentro dos
movimentos sociais latino-americanos. Em 1980, o Relatório MacBrideda
UNESCO (1983), revelou uma disparidade no uxo informacional entre
os grupos com maior aquisição nanceira e as camadas populares de uma
sociedade. Esta distinção não estava limitada apenas os países ricos e
pobres, mas também entre regiões do mesmo país. Segundo Otre (2016,
p. 64), o relatório aponta para uma integração mais democrática, na qual
o indivíduo não seja mero receptor, mas agente ativo nos processos de
comunicação. Nesse contexto, a idealização e o advento da documentação
popular encontraram espaço para sua expansão e difusão em seu meio.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
412 |
Dessa forma, podemos compreender que a Documentação
Popular tem sua gestação em momento especíco, como explica Rocha
(1990, p.8):
A documentação popular foi um movimento que emergiu fora
do espaço institucional da biblioteconomia e dos centros de
documentação. Consolidando-se à margem e fora do âmbito
de ação dos prossionais da área, tornou-se uma prática com
um enfoque clara e assumidamente político, a favor das classes
populares, e a documentação foram considerados um instrumento
fundamental para a mudança social.
No Brasil, o texto foi traduzido e publicado pelo Centro Pastoral
Vergueiro (CPV), em 1982. Posteriormente, o CPV lançaria uma série
de publicações intitulada “Documentação”, cujo objetivo focava na
importância do papel e do trabalho de documentação desenvolvido pelos
movimentos sociais, assim como difundir a produção de conhecimento
na América Latina sobre o tema, nesse período. Na segunda edição (CPV,
1985, p. 3), é publicado que;
A documentação não é uma atividade em si, dotada de uma
nalidade que se esgota em si mesma; mas é uma atividade
instrumental, ora a serviço de uma tarefa global de educação
popular entendida como um processo de tomada de consciência,
de organização e ação dos Setores populares e oprimidos, ora a
serviço de uma prática de caráter eclesial ou pastoral, ou sócio-
política e econômica, libertadora, com relação às atuais estruturas
de injustiça e opressão.
Sendo assim, podemos considerar que o Documento Popular
é o registro de informações em determinado, suporte produzida pelos
movimentos sociais com o intuito de formar e informar seus membros,
além de estabelecer critérios para a sua produção, tais como o protagonismo
do movimento social na produção documental, a contradição social como
tema prioritário a documentar, a fonte dos trabalhos de documentações e a
manter a perspectiva da classe em relação à produção documental.
Segundo o texto publicado pelo Centro de Documentação
Uruguaio-América Latina (CEDUAL), o Documento Popular é um
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 413
instrumento de mudança social, que ajuda no processo de educação
popular, proporcionando aos setores populares a informação (CEDUAL
apud CARVALHO, 1999). Então, compreende-se que o documento
popular explicitado, tem como foco à formação dos movimentos sociais,
que não ocorrem pelas estruturas determinadas, mas por um processo
histórico composto de saberes, informações e organização cultural que se
transmite pelas vivências e experiências coletivas.
Dessa forma, documentos populares podem ser considerados
instrumentos cotidianos, a serviço dos setores populares voltados para a
dinamização de suas lutas (CPV, 1985). Portanto, sua produção implica na
adoção de dois requisitos fundamentais em sua elaboração: 1) Apoio aos
setores populares a m de progredirem na tarefa de documentar sua própria
prática e possibilitar uma acumulação de experiências, que permita sua
utilização posterior, com a nalidade de comunicar sua aprendizagem social
e política a outros grupos populares; 2) Capacitação a m de que os grupos
populares saibam documentar-se para enriquecerem suas práticas sociais.
Bellotto (2014, p. 132) acredita que a produção e existência
de documentos se justicam “pela necessidade que sempre tiveram as
comunidades humanas, desde a mais remota antiguidade, de registrar, em
suportes inteligíveis, as suas normas, ações, transações, deveres etc. de modo
a preservar o testemunho”, além de colaborarem posteriormente para os
estudos da historiograa social e na composição da identidade coletiva dos
movimentos sociais. De igual modo, a produção de documentos populares
obedece a esta lógica.
Dito de outra forma, a concepção dos documentos populares ocorre
em decorrência de uma criação cultural dentro dos movimentos sociais, não
se restringindo à produção material; envolve as maneiras de organização,
comunicação e difusão das informações, criando experiências e vivências,
conforme explica Marx no livro “O Capital”, ao referenciar a formação do
proletariado, o que nos permite reetir sobre os movimentos sociais:
Não basta que as condições de trabalho apareçam num polo como
capital e outro polo pessoas que nada tem para vender a não ser
sua força de trabalho. Não basta também forçarem-nas a vender
voluntariamente. Na evolução da produção capitalista, desenvolve-
se uma classe trabalhadora que, por educação, tradição, costume,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
414 |
reconhece as exigências daquele modo de produção como leis
naturais, evidentes. (MARX, 1983, p. 73).
Nessa perspectiva, as vivências humanas e as organizações
culturais revelam-se fundamentais para a compreensão dos movimentos
sociais e sua produção documental, uma vez que a sua constituição ocorre
em locais e tempos diferentes e acumula distintos conhecimentos e saberes
e promovem a mediação cultural entre os indivíduos e a coletividade. Esta
mediação coloca o movimento social e seus militantes não apenas como
receptores das informações contidas no documento, mas também como
produtores e protagonistas de todo o processo informativo e de construção
conhecimento.
Partindo dessa perspectiva, o Centro de Documentação Uruguaio
(CEDUAL apud CARVALHO, 1999) indica alguns princípios metodológicos
para a produção do Documento Popular. Entre os elementos intrínsecos
básicos estão destacados o protagonismo do movimento social na produção
documental, a contradição social como tema prioritário a documentar, a
fonte dos trabalhos de documentações e a manter a perspectiva da classe
em relação à produção documental. Em referência a fontes dos trabalhos
de documentação é necessária abranger a complexidade que o movimento
está inserido e a integridade dos dados informacionais que são coletados
para a produção documental. No entanto, a apresentação dos dados e das
informações precisam ser interpretadas e analisadas de maneira reexiva.
Por m, sobre os princípios metodológicos apresentados pelo
Centro de Documentação Uruguaio - América Latina (CEDUAL apud
CARVALHO, 1999), tem-se que a técnica de se documentar deve manter
a perspectiva de classe, ou seja, os documentos precisam se comunicar com
a base popular, utilizando-se de características próprias e respeitando as
particularidades dos movimentos sociais. Com isso, o documento popular
comunica a partir do meio no qual está inserido, colaborando para sua
organização cultural.
Desse modo, documentos populares seguem uma lógica comum
em sua produção até a destinação nal. A forma de pensar, os modos de
produzir e os elementos intrínsecos a essa documentação são práticas
culturais eminentes de um tempo e espaço, além de congurar como
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 415
protagonismo dos movimentos sociais e uma percepção crítica da realidade
e das relações entre sujeito e sociedade, que compõem um processo dialético
na formação sociocultural.
Ainda que o termo Documento Popular não seja contemplado pela
literatura arquivística presente, é constante a presença destes documentos em
acervos de movimentos sociais, centros de memória e documentação e em
arquivos públicos e privados. Por isso, a necessidade de pensar sua produção
e valor cultural de maneira sistemática, a m de garantir a recuperação dessas
informações e a compreensão do contexto de origem.
Para além de informar e formar os movimentos sociais,
documentos populares carregam consigo marcas do social, seja por seu
valor memorialístico e identitário, seja por meio da história à qual servem.
Dessa forma, contextualizar a informação e seus suportes de registro é
também entender as necessidades e as possibilidades de integração dentro
de uma estrutura organizacional especíca. Documentos Populares não
apenas transmitem informações, eles despertam conhecimento crítico e
destaca o protagonismo social na produção de saberes.
4 modelo de leIturA documentárIA: propostA pArA documentos
populAres em Acervos de movImentos socIAIs
A indexação é fator de grande importância tanto para a
recuperação da informação, quanto para a representação arquivística de
documentos. Com base no estudo temático sobre um conjunto documental
e nas demandas dos usuários, são elaborados termos identicados, a partir
do conteúdo dos próprios documentos, que permita o acesso de maneira
ecaz e precisa.
No entanto, metodologias adequadas precisam ser utilizadas para
não restringir a recuperação das informações contidas nos documentos.
Essa é uma questão particularmente importante, quando consideramos
a indexação de documentos não convencionais, no sentido do uso da
formalização administrativa, em sua concepção. Desse modo, para
realizarmos a indexação de documentos com esse grau de complexidade,
encontrados em acervos de movimentos sociais, precisamos de uma leitura
atenda e direcionada.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
416 |
Para tanto, a metodologia de leitura documentária proposta por
FUJITA (1999, 2003) pode vir a atender de maneira satisfatória a demanda
do usuário, através da identicação de conteúdos e, posteriormente, da
adaptação para termos identicados, que permitam o alcance de bons
resultados durante a pesquisa e a recuperação da informação, ao considerar
que o modelo de Leitura Documentária utiliza “o conhecimento de
estruturas textuais do leitor apoiado em estratégias mais sistemáticas de
identicação de conceitos para agilizar sua compreensão e realizar uma
leitura rápida, em que o indexador torna-se mais estratégico que o leitor
normal” (FUJITA; RUBI, 2006b).
Os estudos que orientaram o surgimento do modelo de Leitura
Documentária discutem algumas diculdades encontradas pelo indexador,
diante da complexidade da análise de assunto, como explica Fujita (2010, p.2);
[...] da mesma forma, que a diculdade de um leitor frente a
um texto com o qual é preciso interagir à distância com as ideias
de um autor, acrescendo aí, a variável contexto do sistema de
informação, além da formação e atuação prossional do indexador.
Inicialmente, demonstra o indexador visto como leitor a partir
de uma perspectiva cognitiva e linguística e observa sua leitura
documentária, constatando estratégias metacognitivas preconizadas
por teóricos da leitura e estratégias especícas da atividade de
análise de assunto em indexação.
A diculdade apresentada pelas autoras, também pode ser
encontrada na indexação de documentos populares em seu contexto de
criação e preservação. Quando o indexador não tem familiaridade com as
particularidades que compõe os documentos sobre os quais debruça sua
análise, o processo de indexação pode sofrer interferências provocadas pela
diculdade na identicação de conceitos, podendo dicultar a recuperação
da informação para o usuário e a omitido parte da transmissão do conteúdo
proposto pelo autor.
No caso de acervos oriundos de movimentos populares, essas
diculdades ocorrem por diversos motivos. Entre elas, duas merecem
destaque: 1ª a falta do estabelecimento de termos controlados, tanto por
parte de especialistas, como de não especialistas, gerando uma ausência de
procedimentos sistematizados para a identicação dos conceitos relativos
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 417
às funções, atividades e registros típicos de movimentos sociais; 2ª o não
conhecimento do indexador sobre a estrutura sociocultural da produção
dos documentos populares e dos acervos de movimentos sociais, elemento
essencial para conseguir identicar os conceitos e promover uma ligação
entre usuário, autor e informação.
Na tentativa de minimizar o impacto, ou antes, as ausências
de metodologias especialmente desenhadas para o tratamento de
informação nessa situação, propomos o uso do Modelo de Leitura
Documentária, desenvolvido por Fujita e Rubi (2006b). Acreditamos
que ambas as diculdades destacadas, podem ser resolvidas pela utilização
dessa metodologia, pelo fato de se apoiar em uma leitura documental
sistemática, do mesmo modo que em protocolos capazes de dinamizar
a leitura sem danos à informação contida no documento. No que diz
respeito a falta de uma terminologia estabelecida para o tratamento de
corpus documentais com esse perl, a conversão dos termos identicados,
conforme linguagem documentária adotada, promove a garantia de uso
terminológico reconhecido pelo usuário e pelo autor em referência ao tema
pesquisado. Por sua vez, a questão do desconhecimento do indexador sobre
o vocabulário utilizado, estruturas de poder e estratégias empregadas por
movimentos sociais poderia ser sanada a partir de capacitação, por meio
do estudo prévio sobre o órgão produtor e a proveniência dos documentos,
assim como do reconhecimento das particularidades de cada movimento
social. Estes são elementos que podem auxiliar a resolver a diculdade da
identicação de conceitos e seus signicados.
Para tanto, realizaremos, no tópico seguinte, um exercício prático
de leitura documentária de um documento popular, a m de comprovar
a adaptabilidade do emprego da metodologia de Leitura Documentária
no tratamento da informação de acervos de movimentos sociais, testando
a efetividade, precisão e ecácia da identicação dos conceitos, além do
posterior uso na recuperação de documentos.
Assim, seguindo o proposto por Fujita e Rubi (2006a) dividimos
a leitura do documento em três procedimentos básicos a serem adotados:
1) exploração do conhecimento da estrutura textual; 2) identicação
de conceitos; e 3) seleção de conceitos. O primeiro procedimento de
leitura consiste na observação da estrutura do texto, por meio da análise
de partes como título, resumo, métodos e resultados. Cabe ressaltar, que
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
418 |
nos documentos populares os termos utilizados podem variar por meio
de sinônimos, tais como resultado e conclusões, resumo e apresentação
e outros tantos. Isso se deve ao fato de esse tipo de documento ter como
objetivo informar a grupos das camadas populares, por meio da utilização
de linguagem coloquial característica dos membros dos movimentos sociais.
O segundo procedimento de leitura, a identicação dos conceitos, deve ser
realizada combinada com a exploração da estrutura textual. Considerada
como principal etapa da leitura, a identicação dos conceitos, reconhece
a formação das ideias presente no discurso por meio de palavras. Desta
maneira, são detectados elementos tais como a ação, o objeto da ação, o
agente da ação, o local e o tempo da ação. Por m, após a identicar, é
realizada a seleção dos conceitos, conforme representação pertinente ao
conteúdo do documento, sua produção e a estrutura cultural a qual está
inserido. Desta maneira, a interação entre usuário, autor e informação é
construída de modo coeso, reduzindo os danos e as perdas informacionais
contidas no documento.
No caso da aplicação do processo de indexação, tendo por base
o Modelo de Leitura Documentária, em documentos populares e acervos
de movimentos sociais, é preciso considerar que quando, nas duas últimas
etapas do protocolo, o indexador possui conhecimento prévio sobre a
proveniência, sua estrutural sociocultural (cenário contextual) e produção
documental, a qualidade da recuperação da informação é otimizada e as
possibilidades de pesquisas do usuário são ampliadas.
5 AplIcAbIlIdAde do modelo de leIturA documentárIA em
documentos populAres: estudo de cAso sobre o Acervo do mst
Com o intuito de demonstrar a aplicabilidade do Modelo de
Leitura Documentário em Documentos Populares e acervos de Movimentos
Sociais, utilizaremos um documento do Fundo do Movimento dos
trabalhadores Rurais Sem Terras (MST) – acervo sob custódia do Centro
de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (CEDEM). A atuação do MST foi fundamental para
a história brasileira, fazendo parte de um processo de transição política
e econômica do país; seus mais de 30 anos de registros documentais
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 419
representam um acúmulo de lutas realizadas por causa das questões agrarias
nacionais e a estruturação de políticas públicas para o uso social da terra.
Em 1998, os documentos do MST correspondentes às atividades
de formação desenvolvidas, entre os anos de 1980 e 2001, foram entregues
ao CEDEM. Esse conjunto de documentos, proveniente da Coordenação
Nacional do MST, se encontrava acumulado na Sede Nacional, na cidade
de São Paulo (CEDEM, 2018). A documentação foi reunida a partir dos
trabalhos de campo do professor e geógrafo Bernardo Mançano Fernandes,
que viajou o país no nal dos anos 1990, para levantar dados para sua tese
de doutorado sobre a formação do Movimento (FERNANDES, 2000).
No Guia do Acervo do CEDEM (2018) é mostrado a diversidade
de dimensões e suportes dos documentos, composto por registros textuais,
bibliográcos, iconográcos e audiovisuais. Em relação a âmbito e conteúdo
dos materiais, o acervo;
[...] é composto por publicações do MST e sobre o MST, material
de propaganda, cadernos de formação e educação, recortes
de jornal, relatórios de reuniões, correspondências, projetos,
material pedagógico, documentação nanceira e administrativa,
documentos textuais produzidos pelo Setor de Educação da sede
nacional, tas de vídeo e o Jornal dos Trabalhadores sem Terras.
(CEDEM, 2018, p. 109-110).
Devido às especicidades e características próprias do MST,
esse conjunto de documentos forma um acervo complexo e com grandes
particularidades. Dessa forma, a normalização trazida pela indexação,
aliada a outros critérios para o tratamento arquivístico de documentos,
entre eles a denição de tipos documentais, auxilia na formação das séries
documentais e, posteriormente, em sua organização e na futura recuperação
da informação.
Para elucidar a aplicabilidade do modelo em questão, dentro
do Fundo MST (CEDEM, 2018), elegemos o documento popular
intitulado “Vamos Organizar a Base”, de 1993. Este documento tem por
objetivo explicar as alterações estruturais ocorridas no MST, que levaram a
transformações dos setores em instâncias regionais ou estaduais.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
420 |
Dessa forma, executamos as três etapas de leituras propostas pelo
Modelo de Leitura Documentária, realizando a adaptação de termos mais
usuais encontrados em documentos produzidos por movimentos sociais
e promovendo o preenchimento da fórmula proposta por Fujita (1999),
elaboramos o quadro que se segue:
Quadro 1 - Modelo adaptado da Leitura Documentária para o
Documento Popular Vamos Organizar a Base
CONCEITOS
QUESTIONAMENTO
PARA
IDENTIFICAÇÃO DE
CONCEITOS
PARTES DA
ESTRUTURA
TEXTUAL
TERMOS
IDENTIFICADOS
TERMOS
TRADUZIDOS
DA
LINGUAGEM
OBJETO e
PARTE(S) DO
OBJETO (algo
ou alguém que
está sob estudo
do pesquisador)
O documento possui
em seu contexto um
objeto sob efeito desta
ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Organização da Base Organização de
Base
Setores
AÇÃO (processo
sofrido por algo
ou alguém)
O assunto contém
uma ação (podendo
signicar uma
operação, um processo
etc.)?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Formação Formação
Educação
AGENTE
(aquele ou algo
que realizou a
ação)
O documento possui
um agente que
praticou esta ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
Movimento dos
Trabalhadores
Rurais Sem Terra.
Coordenação
Nacional do MST
Movimento dos
Trabalhadores
Rurais
MST
Coordenação
Nacional do MST
MÉTODOS
(métodos
utilizados para
realização da
pesquisa)
Para estudo do objeto
ou implementação da
ação, o documento
cita e/ou descreve
modos especícos, por
exemplo: instrumentos
especiais, técnicas,
métodos, materiais e
equipamentos?
METODOLOGIA Não aplicável Não aplicável
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
(local físico onde
foi realizada a
pesquisa)
Todos estes fatores
são considerados
no contexto de um
lugar especíco ou
ambiente?
METODOLOGIA São Paulo
Sede Nacional do
MST
São Paulo
Sede Nacional do
MST
CAUSA E
EFEITO
Causa
(ação+objeto)/
Efeito
Considerando que
a ação e o objeto
identicam uma causa,
qual é o efeito desta
causa?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS;
CONCLUSÕES
Criação dos Setores
Estrutura
Organizativa
Instâncias
Organização
Instância
Formação
Fonte: Adaptado de CEDEM, Fundo MST (1993).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 421
6 consIderAções fInAIs
Diante das reexões aqui expostas, ca evidente que a utilização
metodológica para a indexação de documentos populares e acervos
de movimentos sociais é de suma importância. A indexação precisa ser
considerada como uma atividade pensada já na fase de produção, mas
vigente até a destinação nal do documento, importante para potencializar
a recuperação da informação e fomentar a pesquisa.
Em relação aos documentos populares e aos acervos de movimentos
sociais, a realização de uma indexação precisa, ativa e metodológica se
faz essencial, por causa da dinâmica especíca da produção documental
dos movimentos sociais e, muitas vezes, da não organização ou gestão
documental. Diante desses aspectos, o modelo de Leitura Documentária
pode ser de grande auxílio para uma indexação ecaz da documentação,
pois é capaz de criar termos que promovam a integração entre autor,
usuário e a informação contida no documento pesquisado.
Porém, cabe ressaltar que a adaptação do método é relevante para
a melhor ecaz da aplicação do modelo em documentos populares e em
acervos de Movimentos Sociais, de um modo geral. Da mesma forma,
é importante considerar a exibilidade das partes textuais, por conta de
termos empregados no texto. Como exemplo, citamos os casos nos quais
consta nos documentos a utilização do termo “apresentação” ao invés de
“introdução” ou, então, o uso da expressão “considerações nais” no lugar
de “resultados”, ainda que conceitualmente sejam expressões que remetem
a sentidos distintos.
Assim, acreditamos que a boa funcionalidade e aplicabilidade
do modelo em questão, em documentos populares, passam por um
conhecimento prévio do indexador referente ao sistema burocrático-
histórico-social que envolve os movimentos sociais e seus registros
documentais. No entanto, observadas e incorporadas essas questões,
comprovou-se que o método é de grande ecácia para a preservação e
acessibilidade dos conteúdos informacionais presentes nos documentos
populares de acervos de movimentos sociais. Dessa forma, alcança-se o
objetivo proposto pela indexação, o de recuperar as informações de acordo
com as necessidades do usuário.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
422 |
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| 425
17
modelo semIótIco de leIturA documentárIA
pArA IndexAção de fotogrAfIAs
Ana Clara GATTO
Carlos Cândido de ALMEIDA
resumo: Ademais dos documentos escritos, as fotograas entram no acervo passando pelo
processo de análise e indexação. Do mesmo modo da análise de documentos textuais,
a análise documentária de fotograa busca apontar seus aspectos mais importantes e
representá-los em termos que melhor os denem para ns de armazenagem, busca e
recuperação. O objetivo é apresentar uma proposta metodológica de leitura documentária
de fotograa baseada nos estudos semióticos, isto é, na ciência geral dos signos. A fotograa
pode ser compreendida como uma representação icônico-indicial de um ou um conjunto
de objetos. As teorias analisadas foram escolhidas por passar pelas três subdivisões do
signo em relação ao seu objeto, com foco nas fotograas por este estar ligado ao índice,
algo que existe ou já existiu, reproduzido em um suporte com teor histórico e social,
sendo uma representação visual de um contexto. Conclui-se que o uso da semiótica traz
vantagens à análise de imagem e da fotograa em especial, pois resume, mesmo que não
sendo o foco principal do modelo de leitura documentária, três passos para sua análise: o
primeiro, a identicação dos elementos, em seguida, sua existência para, nalmente, gerar
seu signicado no que tange os assuntos.
pAlAvrAs-chAve: Fotograa. Indexação. Leitura documentária. Semiótica.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
426 |
AbstrAct: In addition to written documents, photographs enter the collection through
the indexing process. Like analysis of textual document , photography indexing seeks
to point out its most important aspects and to represent them in terms that best dene
them for storage, searching, and retrieval. is paper aims to present a methodological
proposal for indexing photographies based on semiotic studies, that is, the general
science of signs. Photography can be understood as an iconic-indexical representation
of one or a set of objects. e theories analyzed were chosen by going through the
three subdivisions of the sign in relation to its object, focusing on the photographs
because it is linked to the index, something that exists or has existed, reproduced in a
medium with historical and social content, being a visual representation of a context.
It is concluded that the use of semiotics brings advantages to image and photography
analysis, since it summarizes, even though it is not the main focus of the reading
model, three steps for its analysis: the rst, the identication of the elements, then its
existence to nally generate its meaning.
Keywords: Photography. Indexing. Documentary Reading. Semiotics.
1 Introdução
Os documentos que possuem o mesmo tema são agrupados e
recuperados, dentro do acervo devido ao processo de análise documentária,
com a nalidade de indexar os assuntos. A análise documentária tem sua
origem na documentação e é denida como um conjunto de tarefas com
o intuito de expressar o conteúdo dos documentos com o pretexto de
facilitar sua recuperação (CUNHA, 1987) .
A primeira parte da análise, a leitura prossional dos
documentos, pode ser dividida em dois níveis: o primeiro referente à
sua forma, com um conjunto de princípios tipológicos que os autores
seguem, padronizando um tipo de texto, como os textos cientícos e
literários, em que seus pontos importantes estão destacados, como título
e capítulos; e o segundo diz respeito ao conteúdo, com a intenção de obter
informações relevantes gerando produtos secundários como o índice e o
resumo. Para identicar o conteúdo principal, utiliza-se a indexação, que
para Chaumier (1988) é um processo no qual há a representação de um
tema em conceitos, esses conceitos são escolhidos logo após a leitura.
Importante ressaltar que o tema do documento será representado em
conceitos, ou termos de indexação, que melhor representem o assunto e
que são frequentemente usados pelos autores.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 427
Ademais dos documentos escritos, as fotograas entram no acervo
passando pelo processo de análise e indexação. Segundo Pinto, Meunier
e Silva Neto (2008) o processo de indexação, seja de documentos visuais
ou textuais relaciona-se a processos cognitivos por atribuir conceitos que
melhor representem o conteúdo visando sua recuperação da informação.
Para que esta atividade seja empreendida com sucesso, é preciso seguir
uma estrutura lógica de leitura no qual o documento é analisado por
partes para que sejam identicados conceitos que traduzam o assunto
neles tratados, construindo representações mínimas do conteúdo. Do
mesmo modo da análise de documentos textuais, a análise documentária
de fotograa busca apontar seus aspectos mais importantes e representá-
los em termos que melhor os denem para ns de armazenagem, busca
e recuperação.
O objetivo deste capítulo é apresentar uma proposta metodológica
de leitura documentária de fotograa baseada nos estudos semióticos,
isto é, na ciência geral dos signos. Para tanto, deve-se apresentar aspectos
característicos da fotograa, bem como a leitura documentária deste tipo
de documento.
2 A fotogrAfIA
Antes de conceituar fotograa, deve-se considerá-la como
o primeiro dispositivo de capturar imagens utilizando a luz deve ser
mencionada. Aristóteles, entre 384 e 322 a.C., havia estudado e projetado
o que é conhecido como câmara obscura, um dispositivo que, através da
luz reetida em um objeto, este é projetado em uma parede branca – com
a imagem invertida - por meio de um orifício.
Mas foi somente na década de XIX que a fotograa veio a ser um
suporte com imagens registradas por meio da invenção de Louis Jacques
Madé Daguerre (1787-1851) com a placa de cobre, elementos químicos e
temperatura elevada, que recebeu o nome de daguerreótipo (OLIVEIRA,
2003). Em 1777, o químico Karl Wihelm descobriu que o amoníaco,
quando exposto ao sol sobre um desenho, era um ótimo xador, porém
as imagens eram negativas e invertidas. Joseph Nicéphore Niépce (1765-
1833) descobriu em 1816 que, um papel coberto com sais de prata exposto
a luz obtia uma imagem fraca dentro da câmera obscura.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
428 |
Por intermédio de famosos óticos de Paris, Niépce se encontra
com Louis Jacques Madé Daguerre (1787-1851), que em 1835 descobriu
como xar imagens em um suporte usando placas de cobre, elementos
químicos e temperatura elevada, recebendo o nome de daguerreótipo
(OLIVEIRA, 2003). Willian Henry Tlabot (1800-1877) interessado
em realizar cópias projetou uma pequena câmera de madeira, em 1835,
carregada com papel de cloreto de prata que xava uma imagem escura, mas
quando era submetida a um contato com outro papel sensível apresentava-
se sem inversão e positiva. Em 1860 a fotograa ganhava grande destaque
na Europa e nos Estados Unidos, marcando o início do desenvolvimento
industrial e cultural. Por cultural têm-se os costumes, cenários rurais
e urbanos registrados em um suporte fotográco, e o industrial com o
desenvolvimento da indústria gráca (KOSSOY, 2011).
O daguerreótipo chega ao Rio de Janeiro em 1840 trazido pelo
Abade Compte. O pioneiro da fotograa no Brasil, o francês Hércules
Florence, apresenta interesse por esse novo suporte ao ler histórias de
aventuras. No Brasil trabalhando como desenhista, e a possibilidade de
imprimir numa mistura de litograa e gravura várias cores, Florence decide
usar a câmera obscura para capturar essas imagens, inventando outra
câmera com a paleta de pintor e a lente de um monóculo, conseguindo
uma imagem da janela de sua casa que, ao ser colocada em contato com
outro papel sensível, conseguiu a imagem positiva e na posição correta
(OLIVEIRA, 2003). Entretanto, a fotograa só ganharia espaço nas
representações entre 1850/1860 na apresentação de cartazes, produtos,
jornais e revistas ilustradas (CHIARELLI, 2005).
A fotograa jornalística, por sua vez, foi selecionada por
acompanhar um texto escrito, tornando-se um complemento da notícia,
além de não apresentar alterações nos elementos icônicos. Para Valle
Gastaminza (1999, p. 113) “a fotograa apresenta o aspecto de pessoas,
objetos, lugares ou situações de uma maneira mais clara, unívoca, rápida
e exata que uma informação verbal descritiva sobre a mesma” (tradução
nossa). Assim como a principal característica de todos os documentos, a
fotograa apresenta mudança no decorrer do tempo, como uma fotograa
de uma família de 1870 se modica de uma memória para um documento
de caráter social onde é possível estudar os costumes da época.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 429
Dubois (1993) divide a imagem fotográca em três estágios: 1)
espelho el da realidade (mimese), sendo as guras ícones, pois mostra
a realidade em si; 2) em seguida, é vista como transformação do real
(código), possuindo uma visão especíca ideológica e manipulação dos
referentes pelo fotógrafo, se assemelhando ao símbolo; e 3) a fotograa
é percebida como vestígio da realidade, “ela é um índice da realidade na
medida em que sua existência está conectada inexoravelmente a algum
aspecto do mundo visível, do qual emana” (PATO; MANINI, 2013, p.
12) (grifo do autor). Segundo Peirce (2011, CP 4.447, v. 4, p. 359) ícone
44
é da natureza de uma aparência, existindo apenas na consciência, apesar
de, por conveniência, nós o entendermos para as aparências visíveis dos
objetos que excitam na consciência a imagem desses”. O símbolo, por sua
vez, é de natureza convencionada, “a simbolização, ou estágio semiótico,
caracteriza-se pela substituição de algum objeto ou acontecimento por
algo que os represente” (PATO; MANINI, 2013, p. 11, grifo do autor),
sendo assim, as imagens mentais e seus respectivos objetos são classicados
e nomeados.
Sendo a fotograa um aspecto da realidade, as fontes fotográcas
são uma possibilidade de investigação e descoberta quando se tenta
sistematizar suas informações por meio de metodologias de pesquisa para
descobrir seus conteúdos e, como consequência, a realidade que os originou
(KOSSOY, 2001), tornando-se um documento de grande teor histórico.
A fotograa, quando de sua natureza histórica, ganha esta função por ser
um artefato com resíduo do passado tornando-se, dessa forma, um meio
de conhecimento (KOSSOY, 2001).
Para Valle Gastaminza (1999), quando se considera a imagem
como objeto de análise documentária, deve-se considerar aspectos como
atributos biográcos, a fotograa tem uma origem, sendo importante
identicar o artista, a escola a qual pertence, enquanto o título está
relacionado a atributos temáticos entendidos como o signicado da
imagem no fotograa, “uma coisa é o que aparece na imagem, o que se
vê, concreto e objetivo, e outra o que a imagem sugere, aquilo sobre o que
a imagem trata, abstrato e subjetivo” (VALLE GASTAMINZA, 1999, p.
122, tradução nossa).
44
No original “An icon is a representamen of what it represents and for the mind that interprets it as such, by
virtue of its being an immediate image [...]”.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
430 |
A fotograa entendida em seu potencial informativo, deve
receber certo tipo de tratamento de modo a adequar-se às necessidades de
recuperação da informação. Nesse sentido, a leitura analítica da fotograa
é uma tarefa fundamental para seu tratamento documentário.
3 A leIturA documentárIA dA fotogrAfIA
A análise do conteúdo da imagem ou sua leitura devem ser
considerados três enfoques: a denotação (o que aparece na imagem), a
conotação (o que ela sugere) e o contexto (aspectos de sua produção). Para
Pato e Manini (2013), a indexação de fotograas – tomado aqui como
processo equivalente à análise documentária tem sido tratada pelo viés
tradicional de descrever o que a imagem “mostra”, ou seja, tudo aquilo
que faz referência aos objetos do mundo visível para que estes se tornem
conceitos. Neste momento, deve-se considerar os aspectos básicos da
leitura da fotograa para ns documentários.
Sendo assim, para se ler uma fotograa seguindo a metodologia
tradicional, primeiramente devem-se reconhecer os elementos
iconográcos que representam pessoas, objetos e animais, em seguida,
cria-se uma narração, identicando os gestos e as expressões para poder
atribuir valores perante a estética da foto. Como última etapa, buscam-se
os dados biográcos do fotógrafo para classicá-la dentro de um contexto
e um tempo especíco.
Desta forma, a indexação tem como objetivo maior a descrição
de documentos para sua posterior recuperação e uso, sempre tentando
descrever o máximo de informações possíveis utilizando conceitos
relevantes para a área. Esta análise baseia-se na observação de elementos
separados para compreendê-los no conjunto do todo.
Para a indexação de imagens estáticas, como seria o caso da
fotograa, Layne (1994) destaca quatro categorias gerais de informações:
biográcas, exemplicativas, de relacionamento e de assunto, sendo esta
última o reexo do que as pessoas pensam, tornando, na opinião da autora,
a categoria mais importante, porém a menos objetiva.
Com respeito à categoria assunto é necessário pensar em três
atributos. O primeiro deles seria resumido com o uso das preposições
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 431
DE e SOBRE
45
, sendo a diferença entre o signicante e o signicado
(exemplo: a imagem DE alguém chorando pode ser SOBRE a tristeza),
“[…] portanto, quando a imagem é DE, o aspecto mais provável é que
a guração seja concreta e objetiva; quando uma imagem é SOBRE, há
mais propensão de ser abstrata e subjetiva” (LAYNE, 1994, p. 584). O DE
é vinculado à percepção e descrição do que se observa na imagem, sendo
num nível básico, o SOBRE exige um conhecimento para descobrir seu
signicado. No segundo atributo tem-se que a imagem pode ser genérica
ou especíca, onde respectivamente, pode-se descrever a imagem como
algo sem aprofundamento como podemos esclarecer o que é esse objeto.
Como terceiro aspecto, a imagem pode ser classicada em quatro facetas:
tempo, espaço, atividades e eventos e objetos, podendo ser animadas ou
inanimadas (PATO, 2014).
Pinto, Meunier e Silva Neto (2008) ressaltam que houve quatro
paradigmas experimentados pela indexação de imagens: 1) indexação
manual em linguagem natural tomando como base o modelo de Panofsky
sobre análise de imagem; 2) indexação assistida, cuja imagem é descrita
através de descritores a partir de linguagens documentárias buscadas em
tesauros ou vocabulários controlados; 3) indexação por conteúdo ou
atributos visuais, como as cores, texturas e formas; 4) indexação mista ou
semântica que utiliza os atributos visuais, como as palavras para estabelecer
o sentido nas representações destes documentos.
Através destes quatro paradigmas, Pinto, Meunier e Silva Neto
(2008) dividem a representação indexical segundo três hipóteses: a)
teleológica, no qual o tratamento da imagem atende a uma nalidade
especíca; b) semiótica/ontológica, no qual a imagem é tratada como signo
que pode ser representado através da descrição física da imagem como um
todo, a relação entre eles e a compreensão da semântica dos objetos da
imagem; e c) fenomenológica, na qual a descrição dos objetos volta-se aos
fenômenos perceptíveis.
Para documentar uma imagem, como a fotograa, Valle
Gastaminza (1999) arma que o prossional deve considerar três
momentos: 1) o momento de criação, cheio de aspectos subjetivos,
proporcionado pelo olhar do fotografo; 2) o momento de seu tratamento
documental a imagem pode ser considerada de várias perspectivas, sejam
45
A tradução de OFNESS e ABOUTNESS aparece no artigo de Smit “a representação da imagem” de 1996.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
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elas neutras, objetivas ou de uma maneira mais simples, podendo ser
consideradas como a primeira impressão do prossional documentalista,
mas “o denotado pela fotograa deverá ser considerado objetivamente,
o conotado, o símbolo, o sugerido para a fotograa deverá ser
cuidadosamente estudado e preservado” (VALLE GASTAMINZA, 1999,
p. 119); 3) o momento de reutilização da imagem, tendo a fotograa
ganho um signicado unívoco, sem necessariamente constituir o sentido
original dada a ela.
Para Moreira González e Robledano Arillo (2003) muitas são
as características importantes para análise de imagem, dentre elas a data
e local de sua criação, informações onde é possível a identicação dos
artistas/fotógrafos, se sofreu modicações ou restaurações e seu suporte,
podendo ser um pôster, uma colagem, desenho, gravura. Ainda, para os
autores, o signicado possui mais valor do que o próprio signo, já que “não
alcançaríamos o signo sem o signicante” (MOREIRA GONZÁLEZ;
ROBLEDANO ARILLO, 2003, p. 25).
O tratamento documentário é de grande importância, pois
descrevemos os documentos que temos em mãos mantendo a relação
da informação presente no material e a que divulgamos. Segundo Pato
e Manini (2013), a indexação, assim como a classicação, abrange várias
fases do documento, desde sua coleta até a disseminação, passando por
identicação, descrição, armazenamento e recuperação. “No caso da
fotograa, trata-se, pelo viés tradicional de descrever o que a imagem
mostra’, ou seja, os referentes que remetem às coisas e objetos do mundo
visível e, em seguida, determinar termos que caracterizem e representem a
fotograa” (PATO; MANINI, 2013, p. 4).
Essa abordagem tradicional leva em conta, de certo modo,
a divisão linguística trazida por Hjelmeslev de forma e conteúdo. A
identicação da forma trataria de uma parte meramente descritiva em que
se aponta o que é apresentado nos referentes. Na descrição do conteúdo
se arrola os signicados da fotograa e os termos que melhor representam
seu conteúdo. Contudo, essa visão bipartida do processo de análise
documentária da fotograa pode receber um outro tratamento, agora pelo
viés semiótico.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 433
4 leIturA documentárIA e AnálIse semIótIcA dA fotogrAfIA
Pela fotograa ter aspecto de vestígio, considerando sua capacidade
indicial e de estar plasmada em um suporte, esta tem uma nalidade
documental, comprobatória e informativa. Para Silva e Netto (2008) isso
se dá por meio da memória representada, seja ela individual ou coletiva, e
pode ser percebida como uma mensagem composta por sistemas de signos
não-verbais, historicamente construído e compreendido socialmente. Esse
enquadramento como signos não verbais é o principal aspecto que se
deseja destacar da fotograa. Em outras palavras, a fotograa, entendida
como documento e dotada de potencial informativo e probatório, é um
dispositivo semiótico composto de um conjunto de signos e pivô de outros
tantos signos no momento da interpretação. Esta seção tem por objetivos
destacar as características semióticas da fotograa e apresentar uma proposta
metodológica de leitura documentária de fotograa fundamentada na
semiótica.
De acordo com Kossoy (2011), no mundo da representação
fotográca existem duas realidades: a primeira que diz respeito ao próprio
referente, o objeto que será fotografado e ao seu processo de representação;
e a segunda, sendo a própria imagem, o registro da primeira realidade.
Nota-se, neste aspecto, um carácter realista da concepção de fotograa
em virtude de seu relacionamento com o referente. De certo modo, esta
concepção respeita a noção que valoriza a realidade dos referentes e como
estes impõem certos atributos que podem ser captados pelas lentes do
fotógrafo.
Respaldando-se na semiótica de Charles Peirce (1839-1914),
especialmente em sua segunda tricotonomia dos signos, pode sustentar
que a fotograa é icônica e indicial ao mesmo tempo, mantém os ícones
como elementos particulares que estabelecem semelhanças com o objeto
representado, e com isso apontando ou rementendo a uma realidade, fato
este que a coloca no nível dos índices.
É muito comum encontrar o argumento que assevera sobre a
polissemia da fotograa pois haveria dois tipos de interpretação, o primeiro
no sentido denotativo, com aquilo que realmente se vê na imagem, seus
ícones e índices e, o segundo, o sentido conotativo, no qual são analisados
os valores divergentes e especicidades que uma fotograa carrega, sejam
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
434 |
esses culturais, simbólicos, losócos ou contextuais. Contudo, esta
divisão tende a apontar a contribuição semiótica apenas na constatação
da característica indicial da fotograa, esquecendo-se que no nível dos
símbolos manifestar-se-iam os signicados conotativos.
Aumont (1993) ressalta que a interpretação de imagens fotográcas
pode ser realizada através de duas diferentes teorias: a semiótica, na qual
são identicados diversos códigos, sendo os principais icônicos, indiciais e
simbólicos e a iconologia, elaborada por Panofsky (2002) em que a imagem
possui diversos níveis de sentido.
Para a iconologia, a imagem pode ter sua signicação primária
ou natural, subdividida em factual e expressional, com a identicação das
formas puras como linhas, cores ou objetos que representam humanos,
animais e plantas. Além disso, tem-se a identicação de algumas qualidade
expressionais, como sentimentos, gestos e caracterização do ambiente.
Outra forma de signicação está no nível secundário ou convencional,
com a atribuição de valores para esses gestos e objetos identicados, aqui
abordando os temas especícos ou conceitos manifestados na imagem e a
signicação intrínseca ou conteúdo, com a relação de todos os elementos
reconhecidos ligados a um indivíduo ou contexto especíco.
Segundo a teoria semiótica de Peirce (2005), tem-se que a
fotograa é uma espécie de signo, dessa forma, só adquire sentido
quando socialmente compartilhada, e para que essas informações sejam
compreendidas, é preciso entender a relação do signo com seus elementos
(representamen, objeto e interpretante). Para isto, a semiótica sugere a
observação dos ícones, pelas semelhanças físicas, porém sem esquecer o
caráter indicial, por representar aquilo que já foi e o símbolo, que traz à
mente uma convenção, aquilo que é compreendido e aceito socialmente.
Sendo assim, pode-se recorrer aos conceitos da semiótica para
compor um método para isolar e analisar os diversos tipos de elementos
presentes em uma fotograa: ícones, índices e símbolos.
Para discutir a aplicabilidade da semiótica na representação
documentária, foram selecionadas algumas abordagens aplicadas e por
considerar que as etapas de análise estão bem delimitadas e podem auxiliar
o indexador.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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O método proposto por Agustín LaCruz (2015) considera seis
competências para se compreender o signicado global de uma imagem, e
neste caso, pode-se aplicá-las às competências necessárias ao indexador no
momento de analisar fotograas:
Quadro 1 - As competências para compreensão do signicado de uma
imagem
competêncIAs defInIção
Competência iconográca Consiste na observação e identicação de formas
visuais simples como animais e pessoas
Competência narrativa Baseado na experiência visual, o leitor consegue
estabelecer relações entre as pessoas, animais e cenário
Competência estética O leitor atribui sentido dramático segundo suas
próprias experiências simbólicas e estéticas
Competência
enciclopédica
Baseado experiência cultural e seus próprios
conhecimentos, o leitor identica valores relevantes com
outras informações
Competência linguística-
comunicativa
Capacidade do leitor em elaborar preposições
linguísticas com quem comunica e expressa o conteúdo
da imagem
Competência modal O leitor compreende a imagem como uma
representação de um espaço e tempo determinado
Fonte: Agustín LaCruz (2015).
Vinculada à semiótica tem-se que a competência iconográca,
como o próprio nome já sugere, refere-se à observação dos elementos
que são visíveis. A identicação do índice se enquadra na competência
narrativa, sendo que essa etapa se baseia na experiência visual, a relação
que se faz com os objetos e o meio em que os mesmos estão inseridos. Para
a formação do símbolo pode-se aludir à competência estética, aplicada
pelas próprias experiências do receptor, e à competência enciclopédica que
também requer conhecimentos culturais além da competência modal, com
a atribuição de um contexto à representação. A competência linguística-
comunicativa é vista como um trabalho essencial na composição do assunto
da fotograa, por exemplo. Essa competência é importante ao indexador
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
436 |
para este confeccionar um resumo com todas as informações relevantes
da fotograa e poder comunicar algo sobre ela. Entre as competências
citadas, é nesta última que se encontra o trabalho do indexador em
traduzir linguisticamente os assuntos de uma fotograa tendo em vista a
recuperação da informação.
Desta forma, as competências são fundamentais para identicar
todos os elementos da fotograa em suas diversas camadas, desde os objetos
visíveis com a competência iconográca até a relação destes objetos com
outros valores, nas competências narrativas e enciclopédicas, tornando sua
análise efetiva mas ao mesmo tempo subjetiva, já que está baseado em
experiências individuais do leitor-indexador.
Adicionam-se às competências necessárias para a indexação de
fotograas as quatro categorias de análise de Layne (1994), a saber: o
atributo biográco, com todas as informações relacionadas ao “nascimento
da fotograa, seja este o nome do fotógrafo, lugar em que foi tirada,
dimensões; o atributo exemplicativo, com a diferenciação dos diversos
tipos de documentos, no caso das fotograas, se estas são artísticas,
fotojornalismo etc.; o atributo de relacionamento, com a relação do tema
da fotograa com outros documentos dentro do acervo e o atributo
assunto, com a divisão em OFNESS e ABOUTNESS, que faz alusão à
denotação e conotação, logo, ao signo e à seu signicado. Este atributo
pode ser diferenciado em genérico e especíco, no qual o primeiro é uma
descrição mais supercial, somente dos elementos visíveis, enquanto no
segundo é estabelecida uma relação entre todos esses objetos.
Com a divisão do assunto, é possível observar a ação dos signos
na representação, se a fotograa for indexada somente pelos seus elementos
visíveis, de forma genérica só tratando do OFNESS esta será uma descrição
que não trará muitos resultados, sua recuperação não será eciente, em
contrapartida, quando é analisado a relação dos signos, o ABOUTNESS,
esta gerará o símbolo, uma convenção, seu assunto, tornando a
recuperação mais precisa. Além da semiótica, o atributo exemplicativo
e de relacionamento são pontos importantes da indexação de fotograas,
pois já considera a diversidade de cada documento e como os mesmos
mantêm relação dentro de um acervo.
Com a divisão do signo em três elementos – ícone, índice e
símbolo – Panofsky (2002) elaborou um método que respeita de certa
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 437
forma essa divisão, sendo sua análise dividida em pré-iconográca, com a
observação dos elementos visíveis, iconográca, quando é identicada a
relação desses elementos e a iconológica, quando são identicados os valores
históricos e sociais. Porém, parte-se de uma diculdade de adaptação,
pois esta análise foi criado para obras de arte, tipo de imagem em que
ocorre manipulação de seus elementos. Neste caso, cada pintor retrata
sua ideia utilizando cores, técnicas e objetos diferentes, sendo cada um
destes um atributo importante para análise por fazer parte da construção
da ideologia que pretende ser passada, tornando a análise exaustiva. Na
leitura e indexação da fotograa, por mais que seus elementos possam ser
modicados, suas informações não estarão tão pormenorizadas como em
uma pintura, principalmente considerando as limitações do indexador e os
propósitos da representação. Em geral, deixa-se a análise pormenorizada,
bem como o uso, para a própria pessoas que pesquisa.
O método de tratamento semiótico para ns de documentários
proposto por Pato (2014) decompõem os elementos de uma fotograa
segunda a divisão triádica da segunda tricotomia dos signos da semiótica.
Para o autor, com respeito a leitura e a composição do assunto da fotograa,
os ícones mostram, os índices indicam e os símbolos armam. Considerando
esta sequência, ao nal do processo chegar-se-á a um símbolo conclusão,
isto é, os conceitos relacionados a imagem os quais podem sobre o processo
de tradução e compor a lista de entradas de assunto.
Os ícones são todos os grupos de objetos representados, os
índices, devendo estar ligados aos ícones para indicar alguma possibilidade
signicativa e essa relação é denominada símbolo, como as palavras
que exprimem esses objetos. O resultado nal do processo de leitura
documentária da fotograa seria o símbolo genérico, como subproduto
da semiose, utilizado como termo-conceito empregado na etapa nal da
indexação. A cha a seguir resume a proposta de aplicação da tríade ícone,
índice e símbolo para leitura documentária da fotograa.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
438 |
Quadro 2 - Ficha de Análise Baseada no Método de Pato
ÍCONES
que mostram
ÍNDICES
que indicam
SÍMBOLOS
que armam
SÍMBOLO
ASSUNTO
conclusão
Lista de todos os
elementos visíveis
sejam eles objetos,
pessoas ou cores
e o plano em que
aparecem (frontal,
lateral, diagonal).
Descrição detalhada
das ações dos
personagens.
Descrição do
ambiente.
É feita a pergunta:
o que eu vejo nesta
imagem?
Os elementos são
nomeados pelo
nome, característica
física (jovem,
velho), prossão ou
evento.
É feita a pergunta:
quais são os nomes
ou o que gerou esses
elementos?
Representação
convencionada dos
elementos.
É feita a pergunta:
esta imagem
signica o quê?
Representação
considerando
os elementos
intrínsecos e o
contexto em que foi
gerado.
É feita a pergunta:
sobre este assunto,
quais os termos
que melhor o
representam?
Fonte: Elaborado pelos autores.
A primeira vantagem do método desenvolvido por Pato é a
possibilidade de colocar o plano da fotograa, pensando na indexação
como forma de descrição que contém todas as informações importantes
que podem ser usadas como forma de recuperação de um documento.
Além disso, como seu método esta apoiado na semiótica, a forma
de análise segue etapas lógicas, tais como descritas por Peirce e relacionadas
às categorias fenomenológicas, no qual são identicados os elementos para,
em seguida, relacionar com outras informações. Além disso, a divisão do
símbolo é essencial para diferenciar o que a fotograa signica e quais os
termos de indexação, no caso, descrevem melhor esse assunto. Uma análise
com base neste método pode ilustrar o procedimento:
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 439
Figura 1 - Le Baiser de L’Hôtel de Ville
Fonte: Agustín LaCruz (2015).
Para esta análise usou-se a fotograa de Robert Doisneau que foi
publicada na revista Life em 1950 com o título Le Baiser de I’Hôtel de Ville
(em inglês “e Kiss in front of City Hall”), participando de um projeto
fotográco intitulado “in Paris young lovers kiss wherever they want to and
nobody seems to care”. Na época já existiam direitos de imagem, Doisneau
fotografava atores ou amigos. No caso da fotograa em questão, o intuito
era capturar momentos reais do casal em lugares públicos
46
. A seguir, a
leitura documentária da fotograa com base no método de Pato (2014)
recorrendo a uma cha de análise.
Quadro 3 - Análise Documentária de Fotograa Baseada na Semiótica
ÍCONES
que mostram
ÍNDICES
que indicam
SÍMBOLOS
que armam
SÍMBOLO
ASSUNTO
conclusão
Homem branco Jovem Casal de jovens Afeto
Roupa (blazer e
cachecol)
Namorado Namorados
Uma mão no bolso
e a outra no ombro
da mulher
46
Informações dadas por sua lha à entrevista para a BBC News (POIRIER, 2017).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
440 |
Visão frontal
Beijando mulher
Mulher branca Jovem Casal de jovens
Roupa (blazer) Namorada
Cabelo curto
Mão ao lado do
corpo
Visão lateral
Beijando homem
Lugar Câmara Municipal Cidade romântica
Paris
Fonte: Pato (2014).
Porém, sua análise recorre a uma forma de quadro, o que torna
o processo não muito clara, sendo que cada linha não condiz exatamente
com uma possível conclusão, não sendo possível que cada ícone seja
transcrito em termos de índice, assim como nem todo índice se converterá
em um símbolo-assunto. Por outro lado, a ideia principal da indexação é
identicar conceitos que melhor representem o conteúdo do documento
implicando na seletividade dos termos, não em sua exaustividade. Além
disso, as descrições detalhadas dos ícones, como as ações dos indivíduos,
não são relacionados junto ao símbolo-conclusão de maneira explícita.
A proposta semiótica deixa clara a importância do indexador na
realização da leitura documentária, a qual sobre grande inuência subjetiva
no momento de traduzir os conceitos encontrados, bem como exigi do
prossional uma capacidade inferencial que nem sempre é requerida em
outros tipos de documentos.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 441
5 consIderAções fInAIs
A fotograa pode ser compreendida como uma representação
icônico-indicial de um ou um conjunto de objetos. A escolha pela fotograa
em relação às outras espécies de imagens deve-se pela sua relação com
a realidade, esta nunca deve ser entendida como um reexo ou espelho
da realidade, pois em termos semióticos a teoria do espelhamento não
contempla a incapacidade humana de representar integralmente qualquer
objeto que seja, nem mesmo inclui a série de inferências decorrentes
de qualquer processo de interpretação. Mesmo assim, em algumas
circunstância, a fotograa obriga o interprete a crer na existência presente
ou passada do objeto que afeta o dispositivo.
Tem-se, então, que a fotograa é um objeto reproduzido em um
suporte, sem considerar a manipulação que pode ocorrer na pós-produção.
A fotograa também é considerada um fragmento escolhido pelo fotógrafo,
porém pelo seu equipamento capturar traços da realidade do momento,
este é, de certo modo, uma fração da realidade. Segundo Novaes (2008, p.
459) “uma imagem representa, no sentido bem simples de que ela torna
presente qualquer coisa ausente [...]”.
As teorias analisadas foram escolhidas por passar pelas três
subdivisões do signo em relação ao seu objeto, com foco nas fotograas
por este estar ligado ao índice, algo que existe ou já existiu, reproduzido
em um suporte com teor histórico e social, sendo uma representação visual
de um contexto. Pensando na indexação, os atributos de Layne (1994)
direcionam para o acesso a outros grupos de imagens, além de apresentar
aspectos físicos da fotograa como data, dimensão, nome do fotógrafo e a
legenda, além da caracterização da fotograa, pelo atributo exemplicativo,
um ponto de acesso em que as imagens são agrupadas segundo suas
características comuns, retratos separados de fotojornalismo, por exemplo.
Este método apresenta semelhança com o de Agustín LaCruz
(2015) no atributo relacionamento, em que o tema da fotograa pode
direcionar a outros suportes, podendo ser tanto textual como iconográco
ou audiovisual, lembrando que cada atributo de Layne é um ponto de
acesso.
Por sua vez, a proposta semiótica de Pato (2014) para leitura e
análise de fotograas para ns documentários, com a divisão do símbolo,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
442 |
já caracteriza o trabalho de indexação, em que primeiro é identicado
o tema, símbolo assunto, para depois gerar os termos de acesso, isto é,
símbolo conclusão.
Com isso, conclui-se que o uso da semiótica desta forma traz
vantagens à análise de imagem e da fotograa em especial, pois resume,
mesmo que não sendo seu foco principal, ps três passos para sua análise: o
primeiro, a identicação dos elementos, em seguida, sua existência para,
nalmente, gerar seu signicado no que tange os assuntos. Porém, para
a indexação das imagens fotográcas, notou-se que esse processo não é
suciente, precisando de outras informações antes dessa análise, como
dados dos fotógrafos e onde esta foi publicada, no caso de fotograas
jornalísticas, de propaganda, artísticas etc. Tais descrições técnicas são
importantes para tornar a análise mais aperfeiçoada e ser mais um ponto
de acesso. Cada campo de descrição deve ser uma forma de acessar a
fotograa, e se esta fosse descrita somente pelos seus ícones e índices,
sua recuperação não seria tão satisfatória. Resta para os próximos anos
vericar a viabilidade de se adaptar esses passos para a análise automática
ou mesmo para o reconhecimento de imagem com vistas à representação,
à organização e à futura recuperação da informação.
referêncIAs
AGUSTÍN-LACRUZ, M. Del C. La lectura de las imágenes fotográcas
orientadas hacia la representación documental. Encontros Bibli: Revista eletrônica
de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 20, n. esp. 1, p.
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viewFile/15182924.2015v20nesp1p55/28639. Acesso em: 07 jun. 2018.
AUMONT, J. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993.
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Modelos de Leitura Documentária para Indexação
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SILVA, J. C. B.; NETTO, R. M. Fotograa: um olhar semiótico sobre uma linguagem
não-verbal. Letra Magna: Revista Eletrônica de Divulgação Cientíca em Linguística
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
444 |
e Literatura, Brasil, v. 04, n. 9, 2008. Disponível em: http://www.letramagna.com/
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SMIT, J. W. A representação da imagem. Informare, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 29-36,
jul. 1996.
VALLE GASTAMINZA, F. del (ed.). Manual de documentación fotográca. Madrid:
Sintesis, 1999.
sobre os Autores
| 447
AnA cArolInA ferreIrA
anacarolinaf2004c@gmal.com
Mestre em Gestão e Organização do
Conhecimento – Programa de Pós-
Graduação em Gestão e Organização do
Conhecimento (PPG-GOC/ECI/UFMG).
Bibliotecária do Tribunal de Contas do
Estado de Minas Gerais (TCEMG).
AnA clArA gAtto
anac.gatto@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela UNESP
de Marília e interessada pelas diversas
formas de comunicação, teve sua pesquisa
fomentada pela FAPESP, em que busca
traçar um parâmetro entre a semiótica, a
análise e descrição de fotograas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
448 |
benIldes courA moreIrA dos
sAntos mAculAn
benildes@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela ECI/
UFMG. Doutora e Mestre em Ciência da
Informação – Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI/
ECI/UFMG). Professora Adjunta no
Departamento de Organização e Tratamento
da Informação da ECI/UFMG. Pesquisadora
no Programa de Pós-Graduação em
Gestão & Organização do Conhecimento
(PPGGOC/ECI/UFMG), e integrante do
Grupo de Pesquisa MHTX - Modelagem
Conceitual para Organização Hipertextual
de Documentos, no Grupo de Pesquisa
RECRI - Representação do Conhecimento e
Recuperação da Informação e no Grupo de
Pesquisa Centro de Estudos Interdisciplinares
do Século XX da Universidade de Coimbra,
Portugal.
cAmIlA monteIro de bArros
camila.c.m.b@ufsc.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade do Estado de Santa
Catarina. Doutora e Mestre em Ciência
da Informação pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Professora do
Departamento de Ciência da Informação
(CIN) e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Universidade
Federal de Santa Catarina (PGIN/UFSC).
Líder do Grupo de Pesquisa Representação
e Organização do Conhecimento (ROC).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 449
cArlos cândIdo de AlmeIdA
carlos.c.almeida@unesp.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual de Londrina – UEL,
Mestre em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC e Doutor em Ciência da Informação
pela Universidade Estadual Paulista
– UNESP de Marília. Livre-docente em
Semiótica e Ciência da Informação e Pós-
Doutor pela Universidade de Zaragoza,
Espanha. Atua como docente junto ao
Departamento de Ciência da Informação e
Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UNESP de Marília.
Daniela Majorie Akama dos Reis
danielamajorie@yahoo.com.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília, com bolsa de iniciação cientíca
CNPq/PIBIC. Mestre e Doutora em
Ciência da Informação pela UNESP de
Marília, com bolsa FAPESP no mestrado.
Pesquisas nos temas: estrutura textual,
catalogação de assuntos, livros cientícos,
protocolo verbal, leitura documentária,
doutrina jurídica.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
450 |
deIse mArIA AntonIo sAbbAg
deisesabbag@usp.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual Paulista – UNESP de
Marília. Doutora em Ciência da Informação
pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Professora Doutora da Universidade de São
Paulo, Faculdade de Filosoa, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto. É docente permanente na
Pós-Graduação, linha de pesquisa Produção e
Organização da Informação, do Programa de
Ciência da Informação da Unesp de Marília.
dulce AmélIA de brIto neves
damelia1@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela UFPB.
Mestre em Biblioteconomia pela UFPB.
Doutora em Ciência da Informação
pela UFMG. Docente permanente do
Programa de Pós-graduação em Ciência
da Informação da UFPB. Coordena os
Grupos de Pesquisa: Leitura, organização,
representação, produção e uso da
informação e Representação temática da
informação em Arquivística.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 451
gercInA AngelA de lImA
limagercina@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela UFMG.
Mestre em Science in Library Service - Clark
Atlanta University. Doutora em Ciência da
Informação pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI-ECI/
UFMG). Pós-Doutora pela Faculdad de
Humanidades, Comunicación y Documentación,
Universidad Carlos III, Madrid, Espanha,
e pela ECA - USP. Professora Associada no
Departamento de Organização e Tratamento
da Informação, da UFMG. Pesquisadora no
Programa de Pós-Graduação em Gestão &
Organização do Conhecimento (PPGGOC/
ECI/UFMG). Coordenadora do Grupo de
Pesquisa MHTX - Modelagem Conceitual para
Organização e Representação da Informação
Hipertextual, do CNPq desde 2004.
jeAn mArcel cAum cAmoleze
jean.camoleze@unesp.br
Graduação em História pelo Centro
Universitário Nossa Senhora do Patrocínio,
CEUNSP. Mestre e doutorando em Ciência
da Informação pela Universidade Estadual
Paulista – UNESP de Marília. Atuou como
Professor da rede pública do Estado de
São Paulo. Leciona no Ensino Superior do
Centro Universitário Anchieta. Foi Secretário
de Cultura da Prefeitura Municipal de
Jundiaí, Diretor do Museu Histórico e
Cultural de Jundiaí, do Centro de Memória
de Jundiaí e Diretor de Cultura de Jundiaí.
Coordenou os Programas de Projetos e Ações
Sociais da Prefeitura Municipal de Campo
Limpo Paulista.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
452 |
joão bAtIstA ernesto de morAes
joao.batista@unesp.br
Graduação em Letras pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (1984), mestrado em Letras pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (1990) e doutorado em
Estudos Literários pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(1999). Atualmente é professor adjunto
da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho.
lArIssA de mello lImA
larissalima.unesp@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de
Filosoa e Ciências (FFC), Campus de
Marília. (2015).Mestre e Doutoranda junto
ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação da Universidade Estadual
Paulista – UNESP de Marília. Integrante do
grupo de pesquisa “Linguagem, Discurso e
Organização do Conhecimento”.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 453
lígIA mArIA ArrudA cAfé
ligia.cafe@ufsc.br
Bacharel em Biblioteconomia e
Documentação pela Universidade
de Brasília (1984), mestrado em
Biblioteconomia e Documentação
pela Universidade de Brasília (1988) e
doutorado em Linguística - Université Laval
Canadá (1999). Pós-doutorado na Escola
de Matemática Aplicada da Fundação
Getúlio Vargas (2016-2017). Professora
Associada da Universidade Federal de
Santa Catarina. Membro do Grupo de
Pesquisa Representação e Organização do
Conhecimento (ROC).
mArIA crIstIAne bArbosA gAlvão
dra.cristiane.galvao@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia e
Documentação e Mestre em Ciências
da Comunicação pela Universidade de
São Paulo –USP. Doutora em Ciência da
Informação pela Universidade de Brasília –
UnB com doutorado sanduíche na Université
de Montreal, Canadá. Pós-Doutorado
pela McGill University, Canadá. Professora
Doutora do Departamento de Medicina
Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
454 |
mArIA elIzAbeth bAltAr cArneIro
de AlbuQuerQue
ebaltar@gmail.com
Graduação em Letras e bacharel em
Biblioteconomia pela Universidade Federal
de Pernambuco – UFPE. Mestre em
Biblioteconomia E Doutora em Letras pela
Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
Pós-Doutora em Ciência da Informação
pela Universidade de São Paulo - USP.
Docente do Departamento de Ciência
da Informação e do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
Vice-líder do Grupo de Pesquisa Leitura,
organização, representação, produção e uso
da informação.
mArIAnA dA sIlvA cAprIolI
mariana.caprioli@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia, Mestre e
Doutoranda junto ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília. Bibliotecária da Biblioteca
Municipal “João Mesquita Valença” –
Marília-SP. Membro do grupo de pesquisa
“Linguagem, Discurso e Organização do
Conhecimento”.
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 455
mArIângelA spotI lopes fujItA
mariangela.fujita@unesp.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Fundação Municipal de São Carlos. Mestre
e Doutora em Ciências da Comunicação
pela Universidade de São Paulo, Livre
Docente em Análise Documentária e
Linguagens Documentárias Alfabéticas,
Professora Titular da UNESP. Docente
Permanente Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista – UNESP de Marília.
Líder do Grupo de Pesquisa “Representação
Temática da Informação”. Professora
aposentada da UNESP de Marília.
mIlenA polsInellI rubI
milena.rubi@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela UNESP
de Marília. Mestre e Doutora em Ciência
da Informação pela Universidade Estadual
Paulista – UNESP de Marília. Atuou como
professora substituta do Departamento de
Ciência da Informação da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
Atualmente, é bibliotecária na Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), Campus
Sorocaba.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
456 |
nAIr yumIKo KobAshI
nairkobashi@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia e Jornalismo
(ECA-USP). Mestre e Doutora em Ciências
da Comunicação (USP). Livre-docente
em Análise documentária (ECA-USP).
Professor Sênior (ECA-USP). Docente
permanente do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação – USP.
rAImundA fernAndA dos sAntos
nandaorania@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (DECIN/UFRN). Mestre em
Ciência da Informação pela Universidade
Federal de Pernambuco (PPGCI/UFPE).
Doutora em Ciência da Informação pela
Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/
UFPB). Atualmente é Professora Adjunta
do Departamento de Biblioteconomia e
Gestão de Unidades de Informação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(CBG/UFRJ). Faz parte do grupo de
pesquisa do Laboratório de Organização e
Gestão da Informação e do Conhecimento
(LOGIC) da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
Modelos de Leitura Documentária para Indexação
| 457
robertA cArolIne vesu Alves
robertavesu@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia. Mestre e
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação (PPGCI) da
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília. Atualmente, é Pós-Doutoranda
do PPGCI da UNESP de Marília-SP, com
bolsa CNPq. Foi professora substituta nos
cursos de Arquivologia e Biblioteconomia
na UNESP de Marília, bibliotecária em
escritório de advocacia, e bibliotecária
escolar de rede SESI-SP em Guararapes-SP.
robertA crIstInA dAl’evedove
tArtArottI
roberta_tartarotti@yahoo.com.br
Bacharel em Biblioteconomia pela
Universidade Estadual Paulista – UNESP.
Especialista em Gestão de Unidades de
Informação pelo Centro Universitário
Central Paulista (UNICEP). Mestre em
Ciência, Tecnologia e Sociedade pela
Universidade Federal de São Carlos -
UFScar e Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília. Atualmente é Coordenadora
de Serviço da Diretoria de Difusão da
Informação da Biblioteca Central da
Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Roberta Caroline Vesu Alves e Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
458 |
sIlvAnA ApArecIdA fAgundes
silvana.fagundes@unesp.br
Bacharel em Biblioteconomia e Mestre
em Ciência da Informação pela
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília. Atualmente é bibliotecária
na Coordenadoria Geral de Bibliotecas
da UNESP e responsável pelo Grupo de
Formação e Desenvolvimento de Coleções.
Pesquisas nos temas: indexação, estratégias
de leitura, formação e desenvolvimento de
coleções, leitura em Análise Documentaria,
artigos de jornais, e modelo de leitura.
sonIA troItIño
sonia.troitino@unesp.br
Graduação em História. Formação em
Patrimônio Cultural pela Fundación
Duques de Sória/Ministério de Cultura de
España e em Arquivística pela Fundación
Sanchez-Albornoz/Universidad de
Valladolid (Espanha)Doutora em História
Social pela Universidade de São Paulo.
Docente do Departamento de Ciência
da Informação e do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista – UNESP
de Marília.
cAtAlogAção
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB 8/7867
normAlIzAção
Maria Elisa Valentim Pickler Nicolino
CRB - 8/8292
Elizabete Cristina de Souza de Aguiar
Monteiro
CRB - 8/7963
cApA e dIAgrAmAção
Gláucio Rogério de Morais
produção gráfIcA
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
AssessorIA técnIcA
Renato Geraldi
ofIcInA unIversItárIA
Laboratório Editorial
labeditorial.marilia@unesp.br
formAto
16X23cm
tIpologIA
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 75g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
tIrAgem
100
Impressão e AcAbAmento
2020
sobre o lIvro
O
s modelos de leitura documentá-
ria para indexação atualmente são estuda-
dos nas perspectivas de diferentes tipolo-
gias documentais, o que motivou o interes-
se da elaboração desta obra. As contribui-
ções oriundas das reflexões científicas,
teóricas e práticas sobre este tema consti-
tuem avanço para a área de Ciência da
Informação. A preocupação dos pesquisa-
dores, Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Carlos Cândido de Almeida do Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Informa-
ção (PPGCI), da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquista Filho”,
Campus de Marília, e Roberta Caroline
Vesu Alves, Pós-Doutoranda em Ciência
da Informação do PPGCI, também da
Unesp de Marília e financiamento CNPq,
está em demonstrar os avanços científicos
relacionados com os modelos de leitura
documentária para diferentes documen-
tos, que necessitam de indexação e
elaboração de resumos.
O resultado desta obra proporciona ao
leitor uma reflexão profícua acerca do
tema e um modo de atualização aos
profissionais, pesquisadores, professores e
estudantes da área de Ciência da Informa-
ção sobre aspectos teóricos e práticos da
indexação e, principalmente, os modelos
de leitura documentária para diferentes
documentos.
Os estudos relacionados com o proces-
so de leitura pelo indexador foram aborda-
dos e indicaram as bases teóricas e metodo-
lógicas da leitura documentária para
identificação e seleção de conceitos, diante
de variáveis sobre leitor, texto e contexto.
Também, apontam a expertise do indexa-
dor na leitura profissional.
A leitura documentária para indexa-
ção e resumos, bem como suas abordagens
teóricas interdisciplinares foram explora-
das para demonstrar os subsídios teóricos
necessários na fundamentação dos
modelos de leitura documentária. Os
aportes
teóricos e metodológicos voltados
para da Análise Documentária, que foram
abordados de modo mais contundente
abrangeram: o aboutness, conhecido
também como tematicidade, em relação
aos textos narrativos ficcionais; o conceito
de texto, seus tipos e estruturas que
permitiram a representação e recuperação
em indexação e resumos; a Semântica
Discursiva e Linguística para a indexação e
recuperação de informação; o apoio da
leitura documentária, indexação e aborda-
gens sobre conceitos na conversão de
textos em hipertextos na Web; o processo
de leitura documentária e a influência da
área de Saúde para tratamento de
documentos desta área; aspectos da temati-
cidade para o indexador; e elementos da
Semiótica peirceana na identificação e
representação de assuntos da música.
Os modelos de leitura documentária
apresentados nesta obra elucidam princi-
palmente as metodologias que fundamen-
tam procedimentos de indexação e
resumos de diferentes tipos documentos,
consequentemente, apresentam aspectos
teóricos e aplicados para identificação,
seleção de conceitos e representação. Os
procedimentos de leitura documentária
para diferentes tipos de documentos, que
foram esmiuçados, analisados e descritos
em procedimentos metodológicos de
modelos de leitura documentária estão
relacionados com aspectos da: indexação
de texto científico; indexação de Doutrina
jurídica; indexação de textos narrativos de
ficção; indexação de artigos de jornal;
elaboração de resumos da literatura
infantojuvenil em prosa; análise de
assunto de acórdãos de Tribunais de
Contas; indexação dos documentos
populares de arquivo; e indexação de
fotografias apoiada por modelo semiótico.
O
s modelos de leitura documentária
para indexação, tema desta obra,
ganham diferentes enfoques em face
aos diversos documentos que necessi-
tam de representação temática. Os estu-
dos apresentados nesta obra contem-
plam abordagens teóricas e interdiscipli-
nares no âmbito da leitura documentária
e indexação, bem como as aplicações de
modelos de leitura em diferentes tipos de
documentos. Por isso, mostram a preo-
cupação atual de pesquisadores da área
de Ciência da Informação no Brasil nos
aspectos voltados para o processo de
indexação e modelos de leitura documen-
tária. A indexação inicia-se com a análise
do documento por meio da leitura docu-
mentária. Assim, se apresenta complexa
e dependente de variáveis que expres-
sam um fazer profissional e seu contexto,
além de influenciar os resultados na
recuperação da informação. Os modelos
de leitura documentária ganham notorie-
dade no âmbito da indexação, porque
orientam e clareiam seus processos
validados por teorias e práticas relacio-
nadas aos diferentes documentos
indexados, aspectos esses importantes
na identificação e seleção de assuntos
para fins de representação e recupera-
ção da informação.
Roberta Caroline Vesu Alves.
Modelos de Leitura
Documentária para Indexação:
abordagens tricas interdisciplinares e aplicões em
diferentes �pos de documentos
Mariângela Spotti Lopes Fujita
Roberta Caroline Vesu Alves
Carlos Cândido de Almeida
(Organizadores)
Modelos de leitura Documentária para Indexação:
abordagens teóricas interdisciplinares e aplicações
em diferentes tipos de documentos
Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Roberta Caroline Vesu Alves &
Carlos Cândido de Almeida
(Org.)