Educação Democrática, Trabalho e Organização Produtiva
19
A citação ilustra a dimensão da problemática social colocada: por
um lado, o projeto sócio-econômico implantado por sucessivos governos e,
por outro, a defesa da reforma agrária pelos movimentos sociais.
Além do MST, outras organizações do campo realizam ações pela
reforma agrária (MANSUR, 2012). A reforma agrária (RA) de fato nunca
foi realizada no Brasil. No entanto, as ações desencadeadas e reivindicações
apresentadas por esse conjunto de forças sociais ao Estado resultaram na
constituição dos assentamentos da reforma agrária
1
espalhados pelo país,
tendo como principal articulador o MST, a organização mais importante
e de maior visibilidade empenhada nessa luta. Os assentamentos conquis-
tados são um fenômeno importante, pois geram um grande impacto eco-
nômico, social e educativo nas populações assentadas e nas que vivem no
entorno e em cidades próximas. Em decorrência desse impacto, que atesta
a relevância social dos assentamentos, governos em nível federal, estadual
e municipais têm criado programas de apoio aos assentamentos, dentre os
quais destacamos, em nível federal, o Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA) (INCRA, 2010; SECOM, 2011; BRASIL
DE FATO, 2012)
2
.
Além do Estado, outras instituições e organizações nacionais e in-
ternacionais reconhecem a importância estratégica do MST na geração dos
assentamentos e, portanto, na geração de emprego e renda, bem como sua
contribuição em outros campos, como, por exemplo, no educacional e na
agroecologia. Dessa forma, no âmbito acadêmico, várias universidades pú-
1
“No Brasil, nunca tivemos um programa de reforma agrária verdadeiro. [...] O que houve no Brasil depois
da redemocratização foram desapropriações pontuais, de alguns latifúndios, e um programa mais amplo de
colonização de terras públicas na Amazônia, que não afetaram a estrutura da propriedade da terra. Essas
desapropriações de latifúndios que oscilam de governo a governo, tem sido muito mais fruto da pressão social
dos movimentos, do que de um amplo programa de reforma agrária dos governos” (STÉDILE, 2012, p.1).
Em fevereiro de 2019, após a posse do governo Bolsonaro, vários jornais do país (VALENTE, 2019) publicaram
que o novo ouvidor agrário nacional do INCRA, coronel do Exército João Miguel Souza Aguiar Maia de Sousa,
enviou memorando-circular para todas as superintendências do órgão com a orientação de que seus chefes
subordinados não recebessem mais entidades ou representantes que não possuíssem personalidade jurídica, caso
do MST. No mesmo memorando, o ouvidor armou que não deveriam ser atendidos invasores de terras. Na
prática, a circular representou a tentativa de rompimento de diálogo do INCRA com o MST. Embora um dia
depois, o coronel tenha encaminhado novo memorando voltando atrás, após apelo do Ministério Público Federal
que publicou uma nova recomendação para que o INCRA voltasse a atender de forma simplicada e ágil os
representantes dos movimentos sociais e os ocupantes de terras improdutivas, sob pena de ingressar com um
processo contra o órgão, os diálogos entre o Instituto e o MST caram tensos. O fato é que não há nenhuma
garantia de que o PRONERA continue atendendo e nanciando programas educacionais dos movimentos sociais.