Rossana Maria Seabra Sade
(Organizadora)
BOAS PRÁTICAS:
caminhos e descaminhos no
processo de desinstitucionalização
Boas práticas
Rossana Maria Seabra Sade
(Organizadora)
Boas práticas: caminhos e
descaminhos no processo de
desinstitucionalização
Marília/Ocina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - FFC
UNESP - campus de Marília
Diretor
Prof. Dr. Marcelo Tavella Navega
Vice-Diretor
Dr. Pedro Geraldo Aparecido Novelli
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Ana Maria Portich
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Giovanni Antonio Pinto Alves
Marcelo Fernandes de Oliveira
Maria Rosangela de Oliveira
Neusa Maria Dal Ri
Rosane Michelli de Castro
Ficha catalográca
Serviço de Biblioteca e Documentação - FFC
B662 Boas práticas : caminhos e descaminhos no processo de desinstitucionalização /
CDD 362.2
Processo FAPESP Nº 2016/25965-7. Declare-se que as opiniões, hipóteses e conclusões ou reco-
mendações expressas neste material são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente
reetem a visão da FAPESP.
Editora aliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora UNESP
Ocina Universitária é selo editorial da UNESP - campus de Marília
Copyright © 2017, Faculdade de Filosoa e Ciências
Rossana Maria Seabra Sade (organizadora). – Marília : O
cina Universitária ;
São Paulo : Cultura Acadêmica, 2017.
300 p.
Textos em português, textos em inglês, textos em italiano e textos em espanhol.
Inclui bibliograa.
ISBN 978-85-7983-932-0 (impresso)
ISBN 978-85-7983-933-7 (digital)
DOI https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-933-7
ISBN1. Hospitais psiquiátricos. 2. Desinstitucionalização. 3. Reforma psiquiátrica
Itália. 4. Reforma psiquiátrica – Brasil. 5. Inclusão social. 6. Saúde mental. I.
Sade, Rossana Maria Seabra.
Sumário
Apresentação
Rossana Maria Seabra Sade .............................................................. 7
Community Mental Health Services with open doors and without
restraint: Trieste, Italy
Roberto Mezzina ............................................................................. 11
Tra soggettività e istituzioni: da Franco Basaglia alla recovery
Roberto Mezzina ............................................................................. 41
Trajetória do Hospital Psiquiátrico para o Território
Ernesto Venturini ............................................................................. 61
e Hearing Voices Approach
Paul Baker ...................................................................................... 77
Inclusione sociale delle persone svantaggiate: processi di capacitazione
e per lo sviluppo umano nei servizi per la salute mentale a Trieste
Giuseppina Ridente .......................................................................... 91
Habitar
Rossana Maria Seabra Sade .............................................................. 119
Cooperativa de Trabajo en Salud Mental
Valeria Dimitro ............................................................................. 135
Dimensão individual e social do processo de recovery
Izabel Marin ................................................................................... 151
Deistituzionalizzazione delle istituzioni, della cultura e delle tecniche
psichiatriche, col loro budget
Evaristo Pasquale ............................................................................. 161
Famiglie, Disturbo e Salute Mentale
Evaristo Pasquale ............................................................................. 171
Saúde mental e uso de drogas: possibilidades para o cuidado integral
Clarissa Mendonça Corradi-Webster; Mariane Capellato Melo;
Eduardo Augusto Leão; Fernanda Sousa Vieira .................................. 181
A Psicologia e a invenção de práticas psicossociais
aís omé Seni da Silva e Oliveira ................................................ 201
El Café Basaglia
Ana Ines Heller; Claudia López Mosteiro; Marilina Salvi Antonelli .... 215
Uso de substâncias psicoativas entre universitários
Meire Luci da Silva ......................................................................... 235
A Participação de Usuários de Saúde Mental na Produção do
Conhecimento no Campo da Atenção Psicossocial no Brasil:
uma Revisão Exploratória da Literatura
Regina Céli Fonseca Ribeiro; Maria Aline Gomes Barboza;
Izabel Christina Friche Passos ........................................................... 243
Os brasileiros na prática de saúde mental de Trieste: histórias de laços
e de construções
Maria Stella Brandão Goulart; Ernesto Venturini;
Henrique Galhano Balieiro; Adelaide Lucimar Fonseca Chaves .......... 267
Sobre os autores .............................................................................. 289
7
Apresentação
A partir das razões e desrazões que permeiam o sistema psiquiátri-
co; é importante repensar as bases que fundamentaram a reforma psiquiá-
trica brasileira. A psiquiatria democrática italiana demonstrou ser possível
a desconstrução do manicômio como possibilidade única de entender e
tratar a loucura. O objetivo não foi negar a doença mental e, consequente-
mente, deixar de tratá-la. Foi a negação do manicômio, como representan-
te de uma estrutura repressivo-custodial. Só nos espaços de liberdade e nos
exercícios de cidadania, é que se pode promover saúde.
Na Itália o m do hospital psiquiátrico foi o ponto de chegada
e não de partida. Enquanto Países como Inglaterra e França tentavam fa-
zer suas reformas sob uma perspectiva de reorganização modernizadora,
criando serviços psiquiátricos alternativos, articulados aos hospitais, na
Itália o movimento iniciado por Franco Basaglia, promoveu transforma-
ção na assistência e na política de saúde, substituiu o hospital psiquiá-
trico por uma rede de serviços no território: atenção à crise, moradia,
reabilitação, cooperativas sociais, centros para tóxico-dependências, am-
bulatórios e outros.
O sistema de políticas inovadoras de saúde mental da região Friuli
Venezia Giulia e em particular a experiência de Trieste/Itália, é reconhecida
pela organização Mundial de Saúde (OMS) como centro piloto da reforma
do sistema psiquiátrico pela aquisição dos direitos civis e sociais dos atores
sociais com problemas de saúde mental.
Em Trieste há um uxo anual de aproximadamente mil pesso-
as, vindas de diversas partes do mundo. Prossionais, estudantes e pes-
SADE, R. M. S. (Org.)
8
quisadores, que participam de visitas, estágios, bem como intercâmbio
em pesquisa, buscando no modelo triestino, respostas inovadoras em
termos de terapias e sistemas de atendimento. Estes protagonistas da
saúde mental produziram um crescente apelo para suas formações den-
tro de uma proposta desinstitucionalização. Este intenso movimento
levou o Departamento de Saúde Mental de Trieste em parceria com a
OMS a realizar Franca and Franco Basaglia International School, um
evento promovido em diferentes países, com o objetivo de levar a ex-
periência italiana e dialogar com outras experiências acerca do processo
de desinstitucionalização.
Trazer este evento para o Brasil foi uma grande oportunidade, a
escola veio aprofundar questões de formação, relacionadas com a melhoria
das organizações e práticas de serviços, reetindo ações sobre as diculda-
des que o Brasil e muitos países em todo o mundo, enfrentam no processo
de desinstitucionalização.
A International School no Brasil manteve os mesmos objetivos
do evento em outros países, buscando a atualização dos participantes e a
troca de experiência entre eles, por meio de conferências, mesas redondas,
visitas aos serviços.
Com o tema Boas práticas esta edição procurou dar especial desta-
que à questão da qualidade dos conhecimentos produzidos na saúde men-
tal, que vêm avolumando-se extraordinariamente nas últimas décadas.
Este livro é fruto das conferências apresentadas no congresso In-
ternational School Franca e Franco Basaglia, dois eixos foram privilegia-
dos: a relevância social e/ou cientícas, sobre programas inovadores, ba-
seados em experiências de serviços que operam na comunidade e demais
exemplos internacionais de sucesso no campo da desinstitucionalização. A
mudança no modelo de assistência é um constante desao, o sofrimento
psíquico não pode ser considerado apenas no âmbito dos especialistas e
da assistência, deve-se estar atento até que ponto as estruturas substituti-
vas rompem de fato com a psiquiatrização. O consumo de psicotrópicos
pode tornar mais sutil o controle dos atores sociais: por intermédio da
neurobioquímica, pessoas cam acorrentadas em si mesmas. É o controle
do sistema ou da dor destes protagonistas? São alguns dos desaos no per-
9
Boas práticas
curso da desinstitucionalização brasileira. Esta publicação vem contribuir
com reexões, em um momento que o Brasil está sofrendo retrocesso nas
políticas de saúde mental.
Rossana Maria Seabra Sade
11
Community Mental Health Services
with open doors and without restraint:
Trieste, Italy
Roberto Mezzina
1 IntroductIon
De-institutionalization has been completed in Italy till the very
closure of all Psychiatric Hospitals in two decades (1978-1999), as a result
of a previuos movement and of the reform law enforced in 1978. e law
is based on full rights, such as free communication, right to appeal, no
prolonged involuntary treatments, no detention during those treatments,
and does not involve any authority of justice or public order. ese principles
fostered the lowest rate of involuntary treatment in Europe (17/100.000)
and their shortest duration (10 days), avoiding heavy institutional careers
for service users. Forensic sector has been now included in a gradual de-
institutionalization (on 31 March 2015 the law n. 81 declared the closure
of all 6 Forensic hospitals, replaced by small regional units linked to MH
Depts), with the current reduction of cases detained to less than 600 from
1.500 in two years (ROSEN et al. 2012; 2014).
Community mental healthcare is the rule today in this country,
but the nature, the function and the organization of Community Mental
Health Services (CMHS) looks the central practical-theoretical point.
SADE, R. M. S. (Org.)
12
On one hand, the original Italian concept of Community Mental Health
Centre (CMHC) was conceived as the standpoint of a Mental Health
Department (MHD), being the main – or the one – point of reference for
all psychiatric requirements of an entire catchment area, while Psychiatric
hospitals were closed. is peculiar position allows and even obliges
CMHCs to conduct a continual cycle check on thier own eectiveness on
overall pathways of care in the community it serves, without discarding
their “residuals” (“not aordable cases”) to institutions, like for instance
complex cases with severe symptomology and disability. Inversely, if a
CMHC is conceived as a simple out patient clinic, that means accepting
an unavoidably subordinate situation similar to the hospital-based services
and private clinics. In presence of weak and not focused community based
services, the system is often dysfunctional and produces ‘residuals’ who
are stuck in long term residential care - even if this happen in community
settings (Progres CSM).
Each CMHC should be linked to basic medical care, social
services, services for the elderly, co-ordinated by “Health Care Districts”,
but this kind of mainstreaming does not apply easily because of wide
regional variations, and when happened seemed to give priority to the
treatment of common mental disorders - CMD (Lora, 2009). e
development of a “strong” CMHC working 24 hours a day, equipped
with beds and having great exibility as far as facilities, resources, duties
and modes of intervention are concerned, was implemented by Trieste and
furthermore by the whole Region Friuli Venezia Giulia. ere are only
few other examples in Italy, despite recommendations of the Parliament
Commission (2013), the ocial recommendations of some regions, and a
wide support by carers and users organisations.
Spreading the historical examples of Trieste and Pordenone,
in the Region Friuli Venezia Giulia (1.200.000) the implementation
of the Reform Act was based on a public health approach ensured by
MH Departments in order to co-ordinate all services, according to
principles of contrasting social exclusion, stigma and discrimination and
promoting social inclusion. e development of 24 hrs CMH Centres
with respite beds allowed a very small number of general hospital beds
(30 for the whole Region), and is supported by a network of services
13
Boas práticas
for rehab and social integration, e.g. group homes, day centres and
social cooperatives.
All regional services reached a similar organisation with
comparable results, as low rate of hospitalisation in the General Hospital,
low compulsory treatment rate, ecient job placement, personalised
budgets, very few forensic patients, a lowered (-30%) suicide rate in the
last 15 years (SOURCE SISSR, Regional Data Service).
2 the trIeste model
descrIptIon
e transformation of the psychiatric service in the city of Trieste
(236,000 inhabitants) directly derives from deinstitutionalisation of the
Psychiatric Hospital with 1,200 inpatients and the simultaneous creation
of a complete alternative service network in the community (BENNETT,
1985; ROTELLI et al. 1988; ROTELLI et al. 1994; DELL’ACQUA;
COGLIATI DEZZA, 1986).
Currently the Mental Health Department has four Community
Mental Health Centres, open 24 hours a day, with 6 beds each, that are
competent for a catchment area of 50-65,000 inhabitants; a Psychiatric
Diagnosis and Treatment Service (PTSD) in the General Hospital, that
is mainly used as a lter for emergency situations, at night, and that
normally doesnt admit patients for more than 24 hours but refers them
as soon as possible to the appropriate Centre. Moreover, the Habilitation
and Residential Service also provides currently 45 beds in group-homes
and residential housing facilities at dierent levels of supervision, up to
24 hours, but main aim is to encourage users to live independently or
share their resources. ere is also a network of social cooperatives (12
at the moment).
e Community Mental Health Centres (CMHC) are
responsible for a specic catchment area. eir team is composed of about
30 nurses, 1-2 social workers, 2 psychologists, 1-2 rehabilitation specialists
and 4-5 psychiatrists. e CMHC operates around the clock. During
the night, two operators assist people hosted overnight. In Trieste, each
SADE, R. M. S. (Org.)
14
CMHC is expected to respond to the full range of psychiatric demand
in its catchment area, including acute demand, which is therefore not
conned to a specic service or separated from prevention, treatment
and rehabilitation practices also provided. e function of the CMHC is
related to day-night hospitality, outpatient visits, home treatment, assertive
community treatment, day care, individual, family and group therapy,
social support and enhancement of social networks, supported housing
and social inclusion through job placement, sport, art, leisure time.
e PTDS is an emergency psychiatric service which is managed
as a part of the community service organisation and not as a separate
hospital facility. It has 8 beds and provides psychiatric primary care and
counselling services for the other hospital wards. It also acts as a lter for
the demand arriving to General Hospital Emergency Room, and makes
referrals to the community mental health services if necessary. If the client
arrives at night, he/she may be kept under observation and put in contact
or referred to the competent CMHC the following day. CMHCs control
and manage PTDS activities directly and are responsible for activating
community interventions as quick as possible, usually passing by to the
CMHC within 24 hours. When hospitalisation occurs, which is quite rare,
it always takes place within the continuity of the community interventions
being carried out by the competent CMHC. is prevents it to become
a separate intervention or, worse, an alternative to such comprehensive
responses. Even the Mandatory Health Treatments (MHT) are preferably
applied in the competent CMHC and not in the Hospital.
e Habilitation and Residential Service also provides currently
45 beds in group-homes and residential housing facilities at dierent levels
of supervision, up to 24 hours, but its main aim is to encourage users to
live independently or to share places and resources. ere is a partnership
with with several associations which include users and carers and manage
social spaces in the city, club-style, and promote self-help and peer-support,
recovery oriented activities, and other educational activities, that is “the
diused day centre”. About 12 Social cooperatives are also partners for
social and work inclusion, as we will describe further on.
Human resources encompass about 210 sta, plus non governmental
organization - NGO support services for housing and community living.
15
Boas práticas
In parallel with the development of the mental health services,
the last decade has also seen the signicant growth and development
of integrated, community health care services (Health Care Districts),
where CMHC send their professionals for consutations and joint plans
of care. Particularly the s.c. “microarea programme” has to mentioned
as a proactive outreach community development project aimed at
improving health indicators and social capital. Collaborations with
healthcare districts and general hospitals occurs in the areas of elderly,
child and adolescent, services, the disabled, GPs and physical health,
specialist medicine, eating disorders, early detection and intervention in
psychosis. Heath promotion in schools is also implemented thorugh the
Prevention Department.
several department programmes are cross-cuttIng
- User social and cultural training and involvement, participation
and advocacy
- Family programme (Psycho-education, self-help, multifamily groups)
- Involvement of GP for healthcare and comorbidity with chronic
physical conditions
- Prison consultancy service
- Support network for prevention of suicide and of “lonely deaths” in
the elderly
- Facilitating itineraries for membership in associations etc.
- Promotion of social enterprise activities
- Creative/play/sport/leisure activities with community agencies
- Promotion of self-help groups, programmes, clubs with associations
- Collaborations with healthcare districts and general hospitals, e.g. the
elderly, child and adolescent, the disabled, specialist medicine, eating
disorders, early detection and intervention in psychosis
- Relationships with the citys cultural agencies (theatre, university,etc)
- Programmes on gender dierence and mental health
SADE, R. M. S. (Org.)
16
crIterIa/prIncIples of communIty practIce
e organisation is based on criteria (or principles) of care clearly
dened as the Department’s mission (MEZZINA, 2014). ese are:
1) Responsibility for the mental health of the community, that means:
assuming responsibility for the entire psychiatric demand in a given
catchment area without a severity selection.
2) Active presence and mobility towards the demand:
-avoid waiting lists for urgent cases and bureaucratic lters
-promote the approach of “shouldering the burden” in user’s living
environment
3) Accessibility:
-walk-in, drop-in service
-quick response after referral
4) erapeutic continuity in space and time:
-interventions take place in the patient’s actual living environments,
within social-health institutions, in legal-penal institutions (courts of
law, prison, forensic sector)
-temporal continuity is dened based on the need for care and the
threefold criteria of prevention, treatment and rehabilitation.
5) Responding to crisis in the community:
-alternatives to hospitalisation (home treatment, respite at the CMHC)
-an organisation of CMHC which is able to deal with emergencies
and, if necessary, mandatory hospitalisations.
6) Comprehensiveness:
-comprehensive/integrated responses between social and health,
therapeutic and welfare assistance, e.g. the use of the available resources
17
Boas práticas
of the Service; the activation of health and social services; the use of
resources which may be present in the micro-social context.
7) Team work:
-collective formulation of therapeutic projects
-coordination between various professional gures
-multidisciplinary and multi-professional approaches
-constant on-site training and team inter-vision activities
-circulation of information within the Service
-integration of non-professional and volunteer work
If we translate these overarching criteria and principles in the
dynamic of day-to day community practice and procedures of MHD,
responsibility (accountability) for the mental health of the community
means a single point of entry and of reference, in a public health
perspective. Being actively present and mobile requires a low threshold
accessibility, with a proactive and assertive care. e key-concept of
continuity implies no transitions in care, with the CMHC team involved
at any stage of the client illness and related needs of care, maintaining
them in their usual social context and reaching them out wherever they
live, thus avoiding de-socialisation and/or institutionalisation like in
prison and forensic hospitals. An early and quick response to crisis in
the community implies, as a rule, no acute inpatient care in hospital
beds. Comprehensiveness is linked to a mandatory intersectoral work,
the search of social capital enhancement, the recognition of social
network, i.e. the family and the closed community, using and integrating
their resources. Finally, team work implies the development of a shared
vision and culture in the service, where the multidisciplinary approach is
connected to creativity and subjectivity of its members, including peers,
volunteers and trainees. e whole team is implemented through daily
meetings, which framework is a “whole life” approach, with the person
and his/her narratives at the centre.
SADE, R. M. S. (Org.)
18
3 The process of care
servIce operatIons and procedures
e 24-hours community mental health centre is located in
a non-hospital residential facility, usually a rather big house, with 2 or
3 oors. It is not conceived just as a crisis centre, but is in fact multi-
purpose, multi-functional, i.e. a daycare centre, an outpatient service, a
base for community teams. e quality of the environment (home-like)
and of the atmosphere is connected to sta attitudes, mainly focused on
exibility and reasonable negotiation with the users concerns and needs.
A single multidisciplinary team acts rotating inside and outside, for those
who are “guests” on a 24 hours scheme and for the users attending daily or
reached at home (MEZZINA; JOHNSON, 2008).
e CMHC works as a walk-in service, where everybody can enter
or call and receive a response in “real time”, usually within 1-2 hours. All
sta run a reception rotating on intake functions. is means that there are
no waiting list. e intake is problem-based, rather than diagnosis-based
– if the problem is urgent, even from the person or the carer’s subjective
viewpoint, it is addressed. Morning shift starts organizing daily priorities
and adjusting them to already scheduled work. A couple of clinicians take
care of the internal tasks, like shared care of the rooms with the “guests”,
in-house care (outpatients visits, medications, informal contacts / talk
groups, lunch/dinner together, day hospital-like). eir main aim is
creating and keeping a therapeutic, informal and friendly environment.
ere is a morning meeting with new-old guests (knowledge, orientation,
re-assuring, self-disclosure). Clinicians not involved that day on internal
tasks go out, for scheduled domiciliary visits, for network activities, or
fetching users to the Centre for day hospital or for scheduled activities (like
medical assessments at hospital or health district, or to the pension, the
bank, the police station, work, etc). Doing with, being with is a principle
of good support and establishing truste relations. Sta meetings at the
shift change planning afternoon priorities.
From 8-20h the Centre admits direct referrals with non formality,
using that mobile front-line we described above. From 20-8h, crises
19
Boas práticas
access to the consultation by the casualty department, then overnight
accommodation in the PTSD. It does not apply admissions as a rule, but
it can use an extended assessment up to 24 hrs (the “24 hrs rule”). Usually
the day after the CMHC team comes to that service and discuss a plan
for ongoing care. People are fetched to the centre if they require respite or
detachment from home environment, or supported at home.
e 24 hours hospitality at the CMHC is also agreed without
formalities with user and relatives and managed by the whole team
(DELL’ACQUA; MEZZINA, 1988, 1988a). In case of a not agreed self-
discharge, the team operates a re-negotiation; the plan of care is decided or re-
discussed during the admission/hospitality). Users are considered “guests”:
they can receive visits without restrictions and are encouraged to keep their
ordinary life activities and the links with their environment (operators and
volunteers do activities outside with them everyday). It is done in the same
place where users come for everyday care and rehabilitation, therefore
crisis is “dissolved” and un-emphasised in everyday life, and it is often
followed by a period of day hospital attendance, in a view of strengthening
the therapeutic relationship and developing an ongoing plan of care. Mean
duration of 24hr admissions is 10-12 days. is is not only for crisis, e.g.
people who requires rehabilitation plans anew or whose social needs that
are temporarily unmet (e.g. homeless) are hosted in the CMHC, in order
to avoid any form of social drift. It means focusing service’s attention and
resources for a new plan of care.
Some of the practices at the CMHC can be summarized as follows
(MEZZINA; JOHNSON, 2008):
• Dont separate persons receiving hospitality from other users
(‘dissolve’ the crisis in normal, everyday living)
• Minimise barriers between operators/users
• Reduce the compartmentalisation and ’turf’ issues connected
with individual locations / facilities (no to roles/spaces)
• Open door, even for compulsory treatments
• Do normal things in a normal environment
SADE, R. M. S. (Org.)
20
• Share together and live together
• Negotiate and be accountable for everything
• Continuous eort to obtain compliance with treatment/care
through a relationship based on trust
• Inclusion of the user in crisis in both structured and non-
structured activities, inside and outside the CMHC.
We can say that there is a shift from hospitalisation to hospitality
in a system where the concept of “hospitality / guests” is applied by
the formal status of ‘hospitality for health’ with a number of related
consequences (MEZZINA; JOHNSON, 2008).
Table 1 - Hospitalisation vs hospitality
Hospitalisation Hospitality
- Institutional rules - Agreed / exible rules
- Institutionalised time
- Mediated time according to user’s
needs
- Institutionalised (ritualised) relations - Relations tend to break rituals
- Time of crisis disconnected from
ordinary life
- Continuity of care before/during/after
the crisis
- Stay inside - Inside only for shelter /respite
- A stronger patients’ role - A person in a context
- Minimum networks inputs
- Maximum co-presence of social
network
pathways of care and recovery through the servIce
During the process of care, CMHC must be able to create a
therapeutic/rehabilitative pathway across a series of options from which
the user can choose, make other proposals and engage a therapeutic
dialogue. rough a series of programmes developed in the community,
21
Boas práticas
clients are oered to access opportunities for recovery and social
inclusion, e.g. sports, leisure, wellness, culture. Courses on language,
self-care, social identity, use and knowledge of the community have
been organised with associations and cultural agencies. Clients can
experience reciprocal relationships and new social roles, particularly
when access job training and placement, e.g. in a social coop. Free
participation to Centres life can provide a sense of familiarity. ey
are encouraged to explore their aspirations as a basis for an individual
program or “a life project”, being helped with money, work or training,
education, living places, activity, relations when theyre broken. For
those with the most complex needs and situations, a personalised
plan and the related healthcare budget is the main tool for arming
the central role of the person and their needs and guaranteeing care
continuity, with the contribution of social cooperatives as partenrs of
care. Personalized projects, also with home support, aim at emancipation
and empowerment. Groups for mutual welcome and support meets
regularly in the CMHC and develop social activities and support. e
management, by partner associations, of small recovery houses for a
transitional period of time includes peer support workers.
Other programs are provided by associations, such as cultural
initiatives (courses, creative writing, lms, museums, etc), sport programs,
self-help activities, leisure time experiences, wellness and health promotion,
usually involving community agencies and promote destigmatisation.
the wIder movement of rehabIlItatIon toward cItIzenshIp
In this framework, the Trieste experience developed a “social
enterprise” strategy which reconverted the human and economic
resources of the mental hospital in community services; fostered the
local administration in delivering resources directly to users (benets,
job-wages, housing); promoted the identication of other resources
(institutional, NGOs) and laymen available for a creative involvement;
created productive, integrated cooperative societies that oer diversied
job opportunities and educational and vocational training with user
involvement in the economic and decisional structure of the various
SADE, R. M. S. (Org.)
22
enterprises, thereby bridging the gap between the labor market and
welfare system (ROTELLI et al. 1994).
Cooperatives cover a wide range of activities like cleaning and
building maintenance, porterage and transport, furniture and design,
cafeteria, hotel and restaurant services, agricultural production and
gardening, handicraft, photo, video and radio production, computer
service, serigraphs, administrative services, human services, etc. e
purchasers are public agencies as well as private citizens (LEFF; WARNER,
2006; DAVIDSON et al. 2010). e number of persons working in
these cooperatives are about 600 in the town, of which about 70% are
disadvantaged” members while about 150 are trainees receiving work-
grants, mostly users of mental health, drug addiction or handicap services,
or “youth at risk”. ere are managers, mental health professionals,
teaching experts and collaborators for the specic sector.
user and carer Involvement In servIces
Like other innovative experiences during recent years, Trieste
community services aimed at developing their very social life, work
organization and contacts with the community in such a way as to optimize
exchanges and relationships among all stakeholders - mental health workers,
primary consumers, family members, neighbours, volunteers (MEZZINA
et al. 1992; MEZZINA, 2010).
Client and carer empowerment through their active participation
in mental health promotion also means accepting their contribution to
further modications of a mental health service, in a common action
against institutional inertia and welfare passive dependence ties. Some of
the developments in the last twenty years are the shift from an individual
to a collective level of involvement, if the service is able to recognize their
unique life stories and needs and empower them as active actors; the work
with heavy burden families (from psychoeducation to mutual support to
associations), and the aggregation and self-organization of young clients
(from activity groups to self-help and peer support).
23
Boas práticas
4 evaluatIon
data on actIvItes, relevant IndIcators of outcome and other surveys
Only one client person spends a night in the hospital service for
every 10 who spend a night in the Community Mental Health Centres
throughout the year. e average stay for people who are admitted in
crisis conditions is 10-12 days, whereas it is less than 3 for people who
are admitted to the PTSD, because of the rapid turnover above described.
In recent years all gures and rates concerning emergencies, acute
presentations and crises decreased.
Less than 10 people every 100.000 population in a year
undergoes mandatory health treatment in Trieste, usually for about 7-10
days, which is about 1% of al episodes of residential care. Hospitality in
the CMHCs replaced most of General hospital admissions in the PTSD,
which ratio is 1:10 as compared to the former. Even mandatory health
treatments are provided by the open-door CMHC. Readmission rate to a
CMHCs is 30%. e use of CMHC beds constantly decreased through
these decades (to 1/3). e “no-restraint” principle includes every service,
and no ECT are used.
ere are no homeless clients abandoned in the streets,
because the CMHC are also shelters to some extent in order to get an
accommodation, and no people from Trieste are currently in forensic
hospitals. Furthermore, in the last few years we have built up the
possibility of investing large sums of money in a short amount of time to
help particularly dicult patients using personalised healthcare budgets,
and by setting up special projects with the support of NGOs. In fact,
about 160 clients per year receive a personal budget in order to full
the aims of a joint and shared plan of recovery in the areas of housing,
work, social relationships. is is about 18% of the overall budget of
the Mental Health Department, while another 4% is for economic aids,
training grants, leisure, projects with NGOs.
About 200-250 people are in professional training every year
using work grants, and 30 of these have been employed, each year, in
Trieste job market, in proper jobs, many in the eld of social cooperation
and about a third also in private rms.
SADE, R. M. S. (Org.)
24
ere are now almost 50 dierent locations of dierent kinds in
the city where mental health activities are carried out. Each person living
in Trieste contributes about 80 Euros per year, which enables the Mental
Health Department to spend 18,000 Euros to provide all these services.
Only 6% of this sum is spent on hospital services and 94% is used to
nance community-based services.
Among the Services most important programmes is a suicide
prevention project which has contributed to reducing the suicide rate by
half (from 25 to 12 per 100,000 in 20 years) (DELL’ACQUA et al. 2003).
Even if in Trieste it has not been possible to evaluate the
eectiveness of single interventions (i.e. psycho-educational, rehabilitative,
psycho-therapeutic, etc.) because they are interwoven in “whole system
approach, some surveys and outcome studies have been conducted. Some
of these have been published, as cohort studies of patients suering by
psychosis, family burden studies, and other researches on crisis intervention,
satisfaction and attitudes of users and family members toward community
care, and so forth.
First follow-up study after reform law (1983-1987) showed
better outcomes for 20 patients with schizophrenia in Trieste and Arezzo
as compared to other 18 Italian centres (KEMALI et al. 1989). Crisis
management by CMHCs proved to be eective in preventing relapses and
chronic course (MEZZINA; VIDONI, 1995).
In more recent years, a national survey among 13 centres proved
crisis care in 24 h community services better for crisis resolution and
2-years follow-up, particularly related to trusting therapeutic relationships,
continuity and exibility of care, service comprehensiveness (MEZZINA
et al. 2005a, 2005b). Reduction of 70 % of emergency presentations at
General Hospital Casualty occurred in about 20 years.
In an unpublished survey so far, a sample of 27 high priority users
at a 5 years follow-up showed a high rate of social recovery: signicant
reduction of symptoms (the most severe group, over 65 p at BPRS 16
items, from 20% to 4% score reduction), improved social function
(increased score by 50%), while 9 users got a real job with a real pay, 12
got independent living, and the overall of level unmet needs (measured by
25
Boas práticas
also CAN) dropped from 75% to 25%; there was also a 70% reduction of
bed days, and only a client dropped out.
Qualitative research particularly highlighted relevant social
factors connected with services and the connection between recovery,
social inclusion and lived citizenship (DAVIDSON et al. 2005; BORG et
al. 2005; MARIN; MEZZINA, 2005; MEZZINA, 2006; MEZZINA et
al. 2006a, 2006b; 2005a; SELLS et al. 2006).
Recent data encompassed 75% compliance to antipsychotic
medications (n=587) related to service provision and social network
enhancement (PALCIC et al. 2011). Satisfaction of users with services was
rated 83% in two CMHCs.
comparIng the model
Treatments provided by the MH Department in Trieste are
biological (medications), psychological (individual and group therapies),
psycho-social such as family interventions & psycho-education, social
network and social support interventions (neighbours, employers etc),
cultural and vocational rehabiltation and work placement, social and life
skills training, etc.
If compared to Integrated Community Treatment strategies,
and taking into account those treatments which seem to have a proven
eectiveness for psychosis at the international level, the Trieste model can
be formalized with a certain degree of simplication as follows, and in
accordance with the articulation of the integrated community treatment –
ICT (FALLOON; FADEN, 1993):
1) Social and vocational skills training through education and literacy;
social-cultural pre-vocational training, through the courses organised
by the department with training and cultural community agencies;
on-site” living skills training and social learning (“on-site” and not
in a “setting”; i.e. within the family, at the CMHC, within sheltered
residences; in patients self-help groups and therapeutic social clubs,
and through recreational and social activities); job placement in social
cooperatives and supported employment in private companies.
SADE, R. M. S. (Org.)
26
2) Team-work with key-workers, towards a model of case management
(balanced with a whole team approach based on de-institutionalised
professional roles).
3) Use of cognitive-behaviourial therapy principles in daily
programming of activities, or time structuring; ability of coping with
symptoms and crises; cognitive restructuring towards the production
of meaning or “sensemaking” of the subjective experience.
4) Psycho-educational interventions for the heavily-burdened family:
counselling, stress management sessions with the patient, psycho-
educational interventions for patients, self-help groups for family
members, multi-family group approach, with information and small
group encounters on coping.
5) Home crisis intervention and, if required, intensive community
residence treatment (in the 24 hour health centers) or crisis management
in the day-hospital (also in the mental health center)
6) Medication management strategies with information and
negotiation.
If compared this array of treatments of integrated community
care strategies, and taking into account those programmes which prove
to be eective for psychosis at the international level, the Trieste model
contains elements of social and vocational skills training, case management,
psychotherapy principles, psycho-educational interventions, home and
intensive community residencial treatment, medication management and
compliance strategies.
e work organisation has also some point in common with the
assertive community treatment or ACT (MARSHALL; LOCKWOOD, 2002):
act
1. Multidisciplinary team
2. Targeted user group
27
Boas práticas
3. Shared responsibility
4. Health and social care directly managed
5. Care oered in vivo
6. Assertive treatment
7. Negotiation on programme
trIeste approach
1. Not a dedicated team but a function of the whole CMHC team
2. Part-time service of a limited sub-team for high priority people,
while other sta integrate interventions
3. Whole team approach with key workers
4. Not just individualised programmes but recovery-oriented
pathways of care
e following table summarizes previous contents in terms of
structure-process-outcome.
Table 2 - 24 hours Community MH Centre / integrated service (MEZZI-
NA; JOHNSON, 2008)
Structure/
organisation
Processes/ chosen
procedures
Outputs/ clinical
outcomes
Critical points/
warnings
24 hrs opened Real-time reception
/ intake
Open door
Low threshold
Responding around
the clock
No waiting lists for
psych. emergencies
Accessibility and
user satisfaction
real” 24 hrs: direct
intake at night?
SADE, R. M. S. (Org.)
28
Single location Single point of
reference for users
and institution
Diverse functions
(day care, social
work, etc) are
integrated and not
in separate places
Service as a space
for social relations
Low threshold
Integrated response,
immediate access
to rehab and
socialisation
programs (group
settings)
Maintaining and
developing social
skills (tertiary
prevention)
Accessibility and
user satisfaction
Need to better or-
ganise referrals
Social over
stimulation for
users?
Single team Integrated work-
force
Collective
knowledge of main
cases
Direct relationship
with users
Shared style of
work, strategic
vision
Formulation and
review of individual
care plans
Flexibility
erapeutic con-
tinuity / program
compliance
Secondary preven-
tion (relapses)
Decreased involun-
tary treatments
A sustained focus
on single cases or
objectives
Complex group
dynamics, between
individual
autonomy and
interdependence
On-site availability
of ‘neighbourhood’
or community beds
Alternatives to
hospitalisation
Capability of
handling crises with
open door
Decreased hospital
beds occupancy
Acceptability of
care
Decreased involun-
tary treatments
Timely admission,
shorter crisis time
Integrated process
of care (not exclud-
ing acute presenta-
tions)
Abusing bed use
– keeping hospital
mentality
29
Boas práticas
Simultaneous
inside-outside work
Rotating internal,
external and
reception tasks and
/ or duties
Developing
activities for
hospitality /
admission
Day care
alongside crisis
care / outpatient
consultations etc.
Changing and
contaminating areas
/ styles of work
Flexibility of
programs /
of workers -
complexity
Shared burden /
Diminished burn-
out ?
erapeutic shared
Culture
Less focused on
tasks, more on
complexity
Confusion,
delegation
Maintaining a
correct balance
between outside
projection and
internal work
Team case-
management
Identifying high
priority cases
Dening key-
workers within the
team
Wide information
sharing
Mastery of work
Culture based on
responsibility /
accountability -
Balancing
autonomy
and individual
responsibility
Not forsaking
dicult users /
working out failures
Because of night
shifts, more
discontinuous day
presence
Delegating to
the team and the
managers
Can an approach that is mostly rights- and values-based generate
evidence? In our view, processes and outcomes can be also described using
the 3 es system (THORNICROFT; TANSELLA, 2009) that takes into
account qualitative levels with the EBM.
Table 3 – e 3 E’s in Trieste
ETHICS EVIDENCE EXPERIENCE
No restraint / Open door Low rate of accidents and
oense
Low rate of compulsion /
involuntary treatments
“Humane” negotiation
Innovative practices to
avoid closing doors
Alternative crisis
management
Welcoming services and
social habitat
High degree of freedom
SADE, R. M. S. (Org.)
30
Open access / low threshold Real-time intake and
response
No waiting list
Immediate response,
without formal referrals
Inclusion in work and
social fabric
About 200 job placements
p year, 1/10 result in a
permament job
Integration in community
spaces and places, in
neighborhood
Integration in culture,
art, sport programmes
developed with community
agencies
Right to have a home General move from
residential facilites to
supported housing (cluster
housing)
Research show people with
SMI accommodated using
personal budgets
No homeless user
Individualised supported
housing provides maximum
autonomy within a gradient
of support
Social Habitat / humane
environment
No ‘security’ barriers in
CMHC, acute care unit,
group homes
High degree of freedom
and normal life in
Department sites and
facilities
Personalized life plans
(health and social care)
n. 142 personalised projects High degree of negotiation
and choice
Approach to whole life
projects through focused
economic resources
Subsidies, work grants,
rehab cheques
n.2 transitional recovery
houses
Response to needs,
individual and social,
material and not
Prevention of trans-
institutionalisation
n. 0 people in forensic care
n. 30 users supported into
jail per year and ACT
use of additional resources
aimed at that purpose
(FAP)
Development of alternative
to jail and recovery / social
inclusion projects
Human development /
habilitation
About 400 users in
habilitation activites
Oer of activities for
developing your potential
(sport, art, culture, etc)
31
Boas práticas
Support to carers n. 70 families involved in
a course per year including
1st episode of psychosis
Multi family groups
dialogue with family
association
Decrease of family burden
Peer support and
professional advice
Social and community
participation
Participation Committee
n. 15 associations
accredited
Researches on recovery
demonstrate value of
participation as citizenship
Protagonism of users
Dialogue around needs
Associations involved
in day care center and
programmes
Appropriate use of
medication
Research data of
compliance 75%
Tutelage of health and life Decrease suicide rate by
50% in the last 15 years
Access to specic
programme of prevention
Rights to health of women
in a gender approach
n. 70 women involved
in self-help and cultural
activities
‘recovery’ home
Migrant women involved
in the project to prevent
sexual slavery
Mutual help and
development of project for
improving quality of life
and social inclusion
5 dIscussIon
general IndIcatIons
Rehabilitation in Trieste has been conceived as a program of
restitution and re-construction of full rights of citizenship for individuals
suering by mental health problems, and the material construction of these
rights (ROTELLI et al. 1994). is implies not only the legal recognition
of civil rights for mental health users, but also of social rights. Resources
related to housing, jobs, goods, services, relationships) were acquired
primarily through de-institutionalisation process, that reconverted total
institutions into community services. Access to resources can be improved
SADE, R. M. S. (Org.)
32
either by developing user capabilities through training (living and
vocational skills, education) and information (psycho-education, social
awareness), or creating social support networks, which are managed by
comprehensive community services totally alternative to the psychiatric
hospital.
Rehabilitation practices of community mental health services in
Trieste tried also to maximize the use of abilities and human resources
of individuals, allowing them to participate, at dierent levels, to
service activities and therapeutic program elaboration, thus producing a
participation and social support network, by helping patients in their own
environment, preventing forms of regression and institutionalization and
developing their social and “health” abilities.
Community health can be seen as a passage which derives
from deinstitutionalisation, where systems are built around individuals/
communities. A comprehensive, holistic approach must combine health
with welfare systems in a powerful synergy, see the concept of “whole
systems, whole life approach” (JENKINS; RIX, 2003). e focus on
individuals and the rights of citizenship raises the issue of values which
underpin practices and services - “value-based” services (FULFORD,
2004). A shift from reparative medicine to participatory health is another
relevant shift, that is occurring in some of the most advanced experiences,
that requires no black box as funnel for specialistic approaches.
Despite the uniqueness of the experience in Trieste, some general
indications can be outlined as follows:
1. Creating personalised itineraries is the organisational-strategic key,
in which the person has an active role and contractual power.
2. Avoid or reduce transitions in care that results from fragmentation
of services system.
3. Foster the service’s responsibility and accountability towards the
community: the responsibility for care processes should be rooted in
the community.
4. Recognising the importance of social contexts as producers of the
meaning of health actions and as bearers of resources means refusing
33
Boas práticas
automatic choices which are not dierentiated based on the contexts
where they are applied.
5. Developing leadership of individuals and social groups as stake- or
shareholders in the healthcare system implies activation of processes of
strategic/organisational change, in ‘rushes’ or continuous cycles.
6. A shift from healthcare hierarchical ‘institutions’ to horizontal
healthcare ‘organisations’ is necessary.
7. A ‘systemic’ vision has to be based on the persons life (whole
systems, whole life approach) with a low threshold, single access point
(one-stop-shop).
8. Developing home care, both network and networked, focused on
the person in their actual living context, and thus on their life story and
social capital, not on the illness, creating a system of possible options
which diversies responses, making them exible and personalised,
should therefore be provided for.
One should wonder how important is the whole system, and the
specic context of application of rehab and social inclusion initiatives?
Good practices on a small scale are useful as model programmes to
demonstrate “that is possibile” but must be generalised at the system level.
While a whole systems approach requires an integrated service, a whole life
vison refers to the person in a social context.
Considering the nexus between iIlness and institution
(BASAGLIA, 1987; GOFFMAN, 1961; WING; BROWN, 1970), human
beings, including professionals, always risk to be entrapped in oppressive
relationships.
erefore a “parallel” empowerment of professional and users is
necessary. But should we use “the person key” to change the systems? How
use their power, rights, values?
Does it not implies the risk of ideology? Should we use the
system change, toward a more integrated sevice, to “reach the person” and
to empower him/her? Here we can avoid the risk of pure pragmatism.
SADE, R. M. S. (Org.)
34
What about community building around mental health?
Integration is a key-word widely used to describe a continuum
of care and support systems, but integration also means promoting inter-
subjective relations within a wider political dimension. It means bringing
together social and healthcare interventions, and recognising the social
determinants of illness and healthcare processes based on a ‘whole life
approach to the person.
Mental health is not the only area that must assume this
commitment, for ‘there is no health without mental health, as stated by
WHO in 2005. Beginning with local mental health, to what extent was
it possible to create a level of inter-sectorial integration and collaboration
among services, and between services and a specic NGO, so as to
guarantee a systemic impact/approach to community healthcare? What
were the key elements involved?
In what way is a systemic approach to healthcare not limited to
merely creating a system of services? What are its strengths, sources of
energy and components?
Is it possible to create a comprehensive healthcare system for
a specic community which can respond to the healthcare needs and
personal aspirations of users, while promoting health in the community
as a whole? And if so, how? How can a communitys human, economic,
social and cultural resources be activated, mobilised and co-ordinated in
operational terms? Are there mechanisms which can guarantee economic
sustainability, especially in less auent countries?
beyond trIeste and worldwIde
Trieste international role is strongly implied in these issues and
developments. Since the time of Basaglia the Trieste experience has played
an important role in the international scenario, begun as WHO pilot centre
in 1973 and acknowledged as WHO Collaborating Centre for Research and
Training from 1987. It is and declared to be a considered as a sustainable
and cost-eective example and model for service development model by
WHO Geneva (WHO, 2001) and Copenhagen and declared (as Lead
35
Boas práticas
WHOCC for Service development in the framework of Helsinki Action
Plan in 2005). e MHD has been conrmed as a WHO Collaborating
Centre for Research and Training in 2010 in order to assist WHO in
guiding countries in deinstitutionalisation and development of integrated
and comprehensive Community Mental Health services; contribute to
WHO work on patient centred care through applying Whole Systems
& Recovery approaches and innovative practices in community Mental
Health; Support WHO in strengthening Human Resources for Mental
Health (especially through the International School established in 2011).
Programmes of co-operation have been developed for more
than 30 years in all continents, with a particolar focus on Latin America,
South-East Europe, Palestine, often under WHO umbrella and in
collaboration with other advanced organisations. While the ow of study
visits has raised up to a thousand people every year, Trieste established
connections with some of the most innovative experiences in community
mental health worldwide, in order to support each other in a network
(MEZZINA, 2010a).
ey oered, through twinning collaborations and other forms
of international mutual learning processes, the know-how about setting up
innovative services and programmes. We can quote for example the multi-
purpose integrated CMHC, social cooperatives, de-institutionalisation
of the mental hospital (like Trieste), host family schemes, practices for
community integration (like Lille), user involvement, 24-hrs. opened
centres (like South Stockholm), integration with primary care, social rms
(like Oviedo), multidisciplinary community mobile teams (as developed
in North Birmingham and in Monaghan, Ireland). Programs of co-
operation have been developed for more than 30 years in all continents,
with a particular focus on Latin America, South and East Europe,
Palestine, often under WHO patronage and in collaboration with other
organisations. While the ow of study visits has raised up to a thousand
people every year, Trieste established connections with some of the most
innovative experiences in community mental health worldwide, in order
to support each other in a network (MEZZINA, 2010; JENKINS,
2010). ey oered, through twinning collaborations and other forms of
international mutual learning processes, the know-how about setting up
SADE, R. M. S. (Org.)
36
innovative services and programs. Apart from what has been outlined here
for Trieste, such as social coops and the multi-purpose integrated CMHCs,
we can quote for example the foster family schemes and the practices for
community integration of Lille, the user involvement schemes of South
Stockholm, the liaison with primary care and the social rms of Asturias,
the multidisciplinary community mobile teams as developed in North
Birmingham and in Monaghan, Ireland, and so forth.
Trieste is considered a model also in western countries like the
UK, the Netherlands, Scandinavia, Australia and New Zealand, the USA
and Canada, while there is also a strong interest in Japan, Korea, China,
Iran, India, Malaysia and other Asian countries. e problem seems to
be “what is replicable”, because, beyond a reliable, apparently simple but
very complex and coherent organisation of services, there is an emphasis
on a slightly dierent approach, still based on a strong critical view on
mainstream clinical psychiatry.
6 conclusIons
We assume here that there is a new model, or a paradigm,
that derives from de-institutionalisation at its heuristic-operational level
(MEZZINA, 2005). It is based on the principle of complexity through
the exible interaction between observer and observed, “scientists’ and
patients’ (MACCACARO, 1978). What is pivotal is meaning and sense
making within new therapeutic actions, which could be called ‘whole
life projects’ for the people in need (JENKINS; RIX, 2003). It could be
dened as an ‘interactive comprehension model’. Hence new solutions of
community care can be really eective only if they do not limit themselves
as being ecient in terms of the management of target population of service
users, dened by their illness features and/or related deviant behaviours
(BASAGLIA, 1987.); but instead must seek to preserve the idea of the
person as a whole.
Moving from an institution or hospital-centered model to a
whole system of services for the whole life of a community (public health
approach) – responsible, accountable means acting a positive risk-taking
about alternatives. De-institutionalisation means also distance, power,
37
Boas práticas
language. In the new scenario of community care there has been a shift from
the relationship of domination/control to the therapeutic relationship, seen
as a reciprocal relationship and not merely its objectication in the illness,
and the rediscovery of the whole person and their subjectivity. From this
point of view, deinstitutionalization can be seen as the change in relations
of power. As we demonstrated in qualitative cross-cultural researches, a
lived citizenship, ‘having a whole life’ can be captured to be at the heart of
a recovery process, as stated by individuals themselves in their narratives.
erefore “the person and not the illness at the center of the
process of care for recovery and emancipation, through users’ active
participation in the services”.
references
BASAGLIA, F. Institutions of Violence. In: HUGHES, N. S.; LOWELL, A. (Ed.)
Psychiatry Inside-out. Selected Writings of Franco Basaglia. New York: Columbia
University Press, 1987.
BENNETT, D. H. e Changing Pattern of Mental Health Carein Trieste.
International Journal of Mental Health, v. 14, p. 7-92, 1985.
BORG, M. et al. What Makes a House a Home: the Role of Material Resourses in
Recovery from Severe Mental Illness. American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 8,
p. 243-256, 2005.
COMMISSIONE Parlamentare di inchiesta sull’ecacia e l’ecienza del Servizio
Sanitario Nazionale. Relazione nale sull’attività della Commissione, Senato della
Repubblica, 30 gennaio 2013.
DAVIDSON, L. et al. Process of Recovery in Serious Mental Illness Findings from a
Multinational Study. American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 8, p. 177-201, 2005.
DAVIDSON, L. et al. A Life in the Community: Italian Mental Health Reform and
Recovery. Journal of Mental Health, v. 19, p. 36-43, 2010.
DE LEONARDIS, O.; MAURI, D.; ROTELLI, F. Deinstitutionalization: a Dierent
Path. e Italian Mental Health Reform. Health Promotion, v. 2, p. 151-165, 2010.
DELL’ACQUA, G.; COGLIATI, D. M. G. e End of the Mental Hospital: a
Review of the Psychiatric Experience in Trieste. Acta Psychiatrica Scandinavica, v. 316,
p. 45-69, 1986.
DELL’ACQUA, G.; MEZZINA, R. Approaching Mental Distress. In: RAMON,
S.; GIANNICHEDDA, M. G. (Ed.) Psychiatry in Transition: the British and Italian
Experiences. London: Pluto Press, 1988.
SADE, R. M. S. (Org.)
38
______. Responding to Crisis: Strategies and Intentionality in Community Psychiatric
Intervention’. Per La Salute Mentale/For Mental Health. Trieste: Centro Studi Salute
Mentale, 1988a.
DELL’ACQUA, G. et al. Trieste e il suicidio: un progetto di prevenzione. In: Quaderni
Italiani Di Psichiatria 2003, v. 22, n. 11-23.
FALLOON, I. R. H.; FADDEN, G. Integrated Mental Health Care: a Comprehensive
Community Based Approach. New York: Cambridge University Press, 1993.
FULFORD, K. W. M. Ten Principles of Values-Based Medicine. Ch 14. In:
RADDEN, J. (Ed.) e Philosophy of Psychiatry: a Companion. New York: Oxford
University Press, 2004.
GOFFMAN E. Asylums: essays on the Social Situation of Mental Patients and Other
Inmates. New York: Anchor Books, Doubleday, 1961.
JENKINS, J.; RIX, S. e Whole Life Programme. NIMHE East Region, NHS, 2003.
KEALI, D. et al. Patterns of Care in Italian Psychiatric Services and Psycho-Social
Outcome of Schizophrenic Patients: a ree-Year Prospective Study. Psychiatry &
Psychobiology, v. 4, p. 23 – 31, 1983.
LEFF, J,; WARNER, R. Social Inclusion of People with Mental Illness. Cambridge
University Press, 2006.
MACCACARO, G. A. Appunti per una ricerca su: epidemiologia dell’istituzione
psichiatrica come malattia sociale. Fogli d’Informazione, v. 50, p. 306-310, 1978.
MARSHALL, M.; LOCKWOOD, A. Assertive community treatment for people with
severe mental disorders. Cochrane Library. Oxford: Update Software, 2002.
MARIN, I. et al. e Persons’Role in Recovery. American Journal of Psychiatric
Rehabilitation, v. 3, p. 223-242, 2003.
MEZZINA, R.; JOHNSON, S. Home Treatment and ‘Hospitality’ within a
Comprehensive Community Mental Health Centre. In: JOHNSON, S. et al. (Ed.) Home
Treatment and Crisis Resolution in Mental Health. Cambridge University Press, 2008.
MEZZINA R. Paradigm Shift in Psychiatry: Processes and Outcomes. In: RAMON, S.;
WILLIAMS, J. E. (Ed.) Mental Health at the Crossroads: the Promise of the Psychsocial
Approach. Hants, England: Ashgate, 2005.
______. Citizenship: the Social Dimension of Recovery. In: ROBERTSON, S.;
KELLEHEAR, K. (Ed.) Dancing to the Beat of a Dierent Drum. Mental Health, Social
Inclusion, Citizenship. eMHS Conference Book of Proceedings 2005. Sydney, Australia:
eMHS Conference, 2006.
______. Outcomes of Deistitutionalisation in Trieste. In: TORESINI, L.; MEZZINA,
R. (Ed.) Beyond the walls. Deinstitutionalisation in European Best Practices in Mental
Health. Merano, Italy: Alpha Beta Verlag, 2010.
39
Boas práticas
______. From Italy to Europe and back, practices for emancipation. In: TORESINI, L.;
MEZZINA, R. (Ed.) Beyond the walls. Deinstitutionalisation in European Best Practices
in Mental Health. Merano, Italy: Alpha Beta Verlag, 2010a.
______. Community Mental Healthcare in Trieste and Beyond. An “Open Door-No
Restraint” System of Care for Recovery and Citizienship. J Nerv Ment Dis, v. 202, p.
440-445, 2014.
MEZZINA, R. et al. Networking Consumers Participation in a Community Mental
Health Service: Mutual Support Groups, Citizenship, Coping Strategies. e
International Journal of Social Psychiatry, v. 38, p. 68-73, 1992.
MEZZINA, R.; VIDONI, D. Beyond e Mental Hospital: Crisis and Continuity of
Care in Trieste. A Four-Year Follow-Up Study in a Community Mental Health Centre.
e International Journal of Social Psychiatry, v. 41, p. 1-20, 1995.
MEZZINA, R. et al. Crisi psichiatrica e sistemi sanitari. Una ricerca italiana. Trieste,
Italy: Asterios, 2005.
______. Gli interventi territoriali a 24 ore dalla crisi sono basati sull’evidenza?
Indicazioni da uno studio multicentrico longitudinale. Psichiatria di Comunità, v. 4,
n. 4, 2005.
______. From Participation to Citizenship: How to Regain a Role, a Status, and a
Life in the Process of Recovery. American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 9, p.
39-61, 2006.
______. e Social Nature of Recovery: Discussion and Implications for Practice.
American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 9, p. 63-80, 2006a.
PALCIC, S.; BROUSSARD, P.; PETTINELLI, A.; GIRALDI, T.; MARTINIS, E.;
FURINA, C.; BRACCO, R.; ZANELLO, E.; RIOLO, A.; MEZZINA, R. Studio
comparativo sull’utilizzo dei farmaci antipsicotici nel territorio dell’ASS n. 1 “Triestina”.
Giornale Italiano di Farmacia Clinica, v. 25, n. 4, 2011.
ROSEN, A.; O’HALLORAN, P.; MEZZINA R. International Trends in Community Mental
Health Services. In: MCQUISTON, H.; FELDMAN, J.; SOWERS, W. (Ed.) Handbook of
Community Psychiatry. New York, Doirdrecht, Heidelberg, London: Springer, 2012.
ROSEN, A. et al. International Trends in Community-Oriented Mental Health
Services. In: MPOFU, E. (Ed.) Community-Oriented Health Services. Practices Across
Disciplines. New York: Springer, 2014.
ROTELLI, F. Changing Psychiatric Services in Italy. In: RAMON, S.;
GIANNICHEDDA, M. G. (Ed.) Psychiatry in Transition. e British and Italian
Experiences. London: Pluto Press, 1988.
ROTELLI, F. et al. Is Rehabilitation a Social Enterprise? Initiative of Support to People
Disabled by Mental Illness, World Health Organisation, Division of Mental Health,
Geneva 1994. Disponivel em: <http://www.triestesalutementale.it/english/doc/rotelli-
et-al_xxxx_rehabilitation.pdf>.
SADE, R. M. S. (Org.)
40
SELLS, D. et al. Arenas of Recovery for Persons with Severe Mental Illness. American
Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 9, p. 3-16, 2006
THORNICROFT, G.; TANSELLA, M. Better Mental Health Care. Cambridge, New
York, Melibourne, Madrid, Cape Town, Singapore, São Paulo, Delhi: Cambridge
University Press, 2009.
WING, J. K.; BROWN, G. W. Institutionalism and Schizophrenia. Cambridge, MA:
Cambridge University Press, 1970.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Stop exclusion – Dare to care. World Health
Day 2001. Department of Mental Health and Substance Abuse, Geneva, 2001.
41
Tra soggettività e istituzioni:
da Franco Basaglia alla recovery
Roberto Mezzina
premessa
Oggi il movimento per la recovery sembra rivestire un’importanza
per alcuni paragonabile a quella che anni fa ha avuto il movimento anti-
istituzionale, pur se attori, metodi e losoe, perno poteri in gioco,
appaiono diversi e completamente nuovi. Se così fosse, saremmo davvero
in presenza di un fenomeno di portata storica e non solo di un trend
passeggero, o, peggio, di una moda; per dirla con Basaglia, si tratterebbe
non di una mera “ideologia di ricambio” dei vecchi saperi e poteri
psichiatrici (BASAGLIA, 1980), ma di un vero cambio paradigmatico
nel campo della salute e della salute mentale. D’altra parte, se in quello
che è accaduto in Italia si potesse ravvisare un’anticipazione di questi temi
oggi drammaticamente attuali, si tratterebbe di una verica importante
dell’attualità dell’azione teorico-pratica di Basaglia e del movimento anti-
istituzionale a oltre quarant’anni di distanza.
Il costrutto “recovery” ha rappresentato in sé una sda al
riduzionismo medico-biologico in psichiatria, in quanto è apparso possibile
attraverso di esso contrapporvi il ruolo attivo della persona, la rilevanza di
SADE, R. M. S. (Org.)
42
fattori connessi alla sua esistenza concreta, alla sua datità empirica, tali
da inuenzare il decorso della propria condizione psicopatologica non
in senso meccanicistico ed estrinseco, eterodeterminato, ma attraverso la
signicatività di tali fattori all’interno del mondo di un soggetto individuale.
Proprio in quanto calati in questo mondo, essi vanno contestualizzati, e
così diventare elementi fondativi di una ricostruzione di soggettività.
D’altronde, l’enfasi su fattori e determinanti interni ed esterni
alla persona, soggettivi e sociali, versus quelli naturalistici attinenti alla
malattia”, si coniuga con la necessità di ricevere risposte a una globalità di
bisogni e insieme di rivendicare diritti, in un processo che vede il “malato”,
come soggetto individuale e collettivo, protagonista del cambiamento dei
servizi, delle culture e dei saperi.
Il compito della psichiatria attuale parrebbe dunque quello di
riutarsi di ricercare una soluzione della malattia mentale come “malattia”,
ma di voler avvicinare e considerare questo tipo particolare di malato
come un problema che – solo in quanto presente alla nostra realtà sociale –
potrà rappresentare uno degli aspetti contraddittori per la cui soluzione si
dovranno impostare e inventare nuovi tipi di approccio e nuove strutture
terapeutiche. (BASAGLIA, 1967, p. 420)
L’aermazione di Basaglia chiama dunque in causa la questione
dei modelli interpretativi della psichiatria e il concetto stesso di malattia
che non è mai stato, e oggi non lo è ancora in modo chiaro, al riparo
dalla critica.
La questione dei paradigmi è stata nuovamente riproposta con forza
nella recente riessione internazionale (BRACKEN et al. 2012; PRIEBE;
BURNS; CRAIG, 2013; MEZZINA, 2005; 2012). Il paradigma riduzionista
neurobiologico, “tecnologico”, che è connesso alla medicalizzazione della vita
quotidiana, alle varie forme di “biopotere” (vedi Foucault), ha riproposto
le invarianze come fondanti il sapere scientico in un’ottica esclusivamente
centrata sulla visione positivistica delle scienze della natura, senza tenere in
debita considerazione la crisi dei modelli scientici ispirati ai saperi della
complessità (come nelle opere di Von Forster, Prigogyne, Morin). Gli aspetti
psicosociali come le relazioni, i valori e i sistemi di credenze, le pratiche diverse
sono in questa logica posti in secondo piano se non apertamente denegati. La
43
Boas práticas
più larga denizione di approccio bio-psico-socio-culturale sembra mettere
in la questi diversi campi, ma pur riconoscendone l’interazione, non ce ne
restituisce tuttavia un senso.
Sul piano teorico la critica ai modelli di malattia, e in particolare
al costrutto di schizofrenia e alla sua eterogeneità ha spinto ormai no a
un limite critico l’attendibilità di questa come delle diagnosi psichiatriche
in generale (BENTALL, 1992; BOYLE, 1994; BUCHANAN,
CARPENTER, 1994), e così pure si è aermata la normalizzazione di
esperienze quali l’udire voci (Romme, Escher, 1977; Coleman, 2011),
no al tentativo di ricostruire un signicato dentro l’esperienza stessa di
follia (GEEKIE; READ, 2009; READ; MOSHER; BENTALL, 2004;
BENTALL, 2003); mentre è avanzata notevolmente la riessione sui limiti
del modello biomedico (ROSE, 2008; WHITAKER, 2013) condizionato
dalla creazione di un sistema di attese, e relativi interessi economici, attorno
alle terapie farmacologiche.
la malattIa e Il suo doppIo: la recovery dallIstItuzIone
In tema di recovery, le note catamnesi della schizofrenia, a partire
dai primi studi dell’Organizzazione Mondiale della Sanità (SARTORIUS;
JABLENSKY; SHAPIRO, 1977; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
1973; 1979), e la messa in discussione della cronicità come “artefatto
sociale” (CIOMPI, 1984; HARDING; ZUBIN; STRAUSS, 1987),
hanno mostrato come, all’interno di molteplici fattori, quelli di natura
istituzionale siano indubbiamente di grande rilievo: il modo in cui la
malattia viene trattata, e il malato recuperato alla vita sociale, sono le
precondizioni per i processi di guarigione clinica e sociale. Per Basaglia,
la critica della malattia che si sovrappone alla follia e alla persona che la
vive, così come detta la psichiatria nel suo imporsi come scienza medica
oggettivante, è il cuore della questione.
Come la medicina si è edicata su un corpo morto, così la
psichiatria si è costruita su una mente morta. Per analogia, potremo
chiamare la psichiatria ‘anatomia mentale’. In questo modo la psichiatria è
entrata nello stesso gioco della medicina: il disturbo del comportamento è
stato incluso nel disturbo del corpo, corpo e comportamento sono diventati
SADE, R. M. S. (Org.)
44
la stessa cosa, e analogamente disturbo del corpo e disturbo della mente
sono diventati la stessa cosa, entrambi all’interno della logica positivista del
rapporto causa-eetto (BASAGLIA, 2000, p. 61).
Egli aerma ancora: “La malattia è stata fatta coincidere col
disturbo del comportamento, corpo organico e corpo sociale sono stati
omologati. Sia il malato del corpo organico che il malato del corpo sociale
non possono esprimere la loro soggettività malata. Esprimono invece la
loro oggettività di cose malate” (ibidem, p. 173).
Questa malattia è non solo plasmata dall’istituzione, come gli
studi in ambito sociologico e psichiatrico hanno descritto (WING, 1962;
GOFFMAN, 1968), ma addirittura un suo doppio istituzionale si delinea
come eetto della riduzione dell’umano dentro l’imposizione delle regole
e dei poteri.
Il doppio della malattia è la trasformazione del reale (l’esperienza) in
realtà ideologia, cioè parametri pratico-ideologici in cui distruggere l’esperienza
per portarla al livello di un comportamento comune che ne è, appunto, solo il
doppio. (BASAGLIA; ONGARO BASAGLIA, 1982, p. 178).
E’ attraverso questo processo di razionalizzazione e
organizzazione dei bisogni che l’individuo è privato della possibilità di
possedere se stesso (la propria realtà, il proprio corpo, la propria malattia)
“[…] ma vive la sua collocazione nel mondo come malato; vive cioè il
ruolo passivo che gli viene imposto e che conferma la frattura tra sé e
la propria esperienza. La malattia diventa comportamento malato, falso
rapporto sostitutivo di un rapporto inesistente: occasione e conferma di
dominio” (ibidem, p. 180).
Oggi ci chiediamo se esista ancora, al di fuori della totalizzazione
del manicomio, una tematica che ci faccia pensare a una malattia
istituzionale, a un doppio che dobbiamo svelare; oppure se l’accettazione
dell’ideologia medica riguardante la malattia sia un dato indiscutibile, dal
quale poi articolare delle pratiche critiche.
Mentre lo scenario del manicomio sta per essere liquidato dalla
legge 180, riferendosi alla nuova medicalizzazione della psichiatria,
Basaglia scrive:
45
Boas práticas
Tenendo questa connotazione di malato, l’individuo che sore di
disturbi mentali viene inserito nell’ambito positivistico della medicina,
per cui viene omologato il comportamento a un corpo e viene quindi
sancito, in maniera nuova, riciclata, il concetto di malattia.” (Basaglia,
1980, p. 480)
Qui c’è un nodo di estrema profondità che Basaglia e il
movimento antiistituzionale avevano già allora inquadrato. Mentre il
soggetto lotta per liberarsi della doppia identità istituzionale in tutte le
sue implicazioni, psicologiche e di deprivazione di potere, ci deve essere
un riposizionamento radicale della psichiatria e della medicina nei suoi
confronti: una de-istituzionalizzazione delle pratiche, dei saperi, dei ruoli,
degli attori, degli istituti e dei circuiti sanitari, giuridici e sociali.
Allo stesso modo la recovery non si rivolge alla malattia ma
dis-toglie da essa: ha solo incidentalmente a che fare con una “presa di
coscienza”, e ancor meno con una “coscienza di malattia”, e invece ancora
deve partire da una sorta di tirocinio all’interno delle svariate forme di
relazione istituzionale che oggi si pongono nel mondo delle psichiatrie.
movImentI della soggettIvItà e lImItI della recovery personale
Anché ogni possibile guarigione si inveri, possiamo
innanzitutto aermare con Basaglia che occorre uscire dalla delega
totale, del corpo e della psiche, ai tecnici e all’istituto che insieme devono
trattare la malattia. Ciò coincide con il riemergere di una “questione
della soggettività”, che mette in crisi il modello di malattia e il suo
trattamento codicato. Vale a dire: il cambiamento del soggetto curante,
la sua perdita d’identità, la sua impossibilità di identicarsi con le vecchie
psichiatrie manicomiali e col controllo sociale che esse garantivano
diventa la possibilità che il curato si liberi dall’aporia del rapporto di
dominio (BASAGLIA, 1982d, p. 470).
Noi vogliamo cambiare lo schema che fa del malato un corpo
morto, e tentiamo di trasformare il malato mentale morto nel manicomio
in una persona viva, responsabile della propria salute. (BASAGLIA, 2000,
p. 74). Certamente una delle terapie più importanti per combattere la follia
SADE, R. M. S. (Org.)
46
è la libertà. Quando un uomo è libero, quando ha il possesso di se stesso e
della propria vita gli è più facile combattere la follia (ibidem, p. 89).
Qui l’idea, che sarà della recovery, di riprendersi la responsabilità
della propria salute, all’interno della globalità della vita, si coniuga con
l’obiettivo dell’emancipazione e del recupero del potere, che Basaglia,
pur con limiti e cautele, pone. “E’ ovvio che uno schizofrenico è uno
schizofrenico, ma innanzitutto è un uomo che ha bisogno di aetto, di
denaro e di lavoro; è un uomo totale, e noi dobbiamo rispondere non alla
sua schizofrenia ma al suo essere sociale politico” (ibidem, p. 115).
La contraddizione “tra ciò che siamo e ciò che vorremmo essere”,
tra un soggetto negato e la sua oggettivazione nella visione positivistica
e riduzionistica della malattia, riletta all’interno dell’orizzonte semantico
della recovery, può essere il motore di quella lotta per l’aermazione di
una soggettività verso l’oggettività della condizione di malattia, sancita
dall’istituzione, di cui parla Basaglia (ibidem, p. 22).
Poiché è sottoposta ad un processo di nullicazione, all’interno
di quella oggettivazione, l’espressione della soggettività é in se stessa
manifestazione di una resistenza all’istituzione.
In questi molteplici sensi, la deistituzionalizzazione ha prodotto
la visibilità dei soggetti soerenti, dentro e al di là della malattia. Essi
appaiono nalmente come individui concreti che entrano nelle relazioni
sociali e che cercano di contrastare destini di esclusione. Riteniamo che
solo a partire da ciò si possano organizzare pratiche terapeutiche e di cura
basata sull’interezza e integrità della persona e del suo corpo, nella vita
concreta (whole life).
Il concetto di recovery si fonda sul riconoscimento di quanto
contino elementi e fattori legati alla soggettività nel riposizionare il
rapporto non solo con la malattia, ma con la vita. Allora è innanzitutto un
costrutto dell’individuo, un fatto personale, e come tale è un processo, o
un percorso, non lineare e multidimensionale (MEZZINA, 2012a).
In quella che viene chiamata “recovery personale”, contrapposta
alla “recovery clinica” (SLADE, 2011; UNGER, 2010), la persona in
resta fattore determinante del processo, attraverso le sue capacità di
autodeterminazione, di resilienza e di fronteggiamento della malattia, ma
47
Boas práticas
anche attraverso il cambiamento personale e la contemporanea assunzione
di responsabilità.
Tuttavia la recovery, o guarigione che sia, non può essere vista
come un percorso solo individuale. In tal caso vi sarebbe di nuovo sottesa
un’etica del riscatto dell’individuo da una condizione, la malattia, vista
ancora come colpa; non diversamente da come la riabilitazione può essere
semplicemente rieducazione nel linguaggio del potere.
Si può aermare e ritenere, al di là della giusta enfasi sulla
singolarità e sulla soggettività, che recovery è anche e soprattutto un
fatto interpersonale e sociale. Proprio in quanto attiene all’individuo, si
colloca nella globalità dell’esperienza di vita dentro un contesto sociale e
culturale determinato.
la questIone deI fattorI estrInsecI al soggetto
Emerge subito la questione della rilevanza di fattori sociali spesso
descritti dal termine epidemiologico-statistico di “determinanti” (Marmot,
2005). Ha scritto Basaglia: “la recuperabilità ha un prezzo, spesso molto
alto, ed è quindi un fatto economico-sociale più che tecnico-scientico
(BASAGLIA, 1982b, p. 76).
In questo senso egli pone la guarigione come fatto di classe: esiste
un corollario personale, familiare, ambientale che consente – se la prognosi
è favorevole – la guarigione e il recupero.
Ciò non avviene se i bisogni primari non sono soddisfatti: “non
si può capire che cos’è la malattia nché non sono soddisfatti i bisogni
primari degli uomini” (BASAGLIA, 1982c, p. 369). Anche al di fuori di
una logica della mera sopravvivenza, le risorse materiali e gli strumenti per
l’inclusione sono ovviamente necessari, ma non sucienti in sé, nel percorso
di autonomia e di miglioramento delle componenti più oggettive della
qualità della vita (BORG et al. 2005). Il denaro, la casa, il lavoro risultano
veicoli fondamentali per la recovery, perché rappresentano opportunità,
utili alla ricostruzione di identità e contrattualità sociale. “Chi non ha non
è”, ricorda Basaglia. A confermare questo nesso va almeno ricordato che
si è riscontrata l’associazione tra i tassi di occupazione lavorativa e quelli
SADE, R. M. S. (Org.)
48
di guarigione, ovvero di dimissione dalle istituzioni psichiatriche nel corso
del  secolo (WARNER, 1985).
Tuttavia, si pone immediatamente la questione della
soggettivazione dei fattori sociali, di come essi si declinano nel terreno di
una soggettività che si riprende; ovvero di come fattori estrinseci si pongano
in relazione a fattori intrinseci, benché le teorie della recovery li dividano
in modo a volte meccanicistico (JACOBSON, GREENLEY, 2001).
Nel denire come i fattori sociali risultino soggettivamente
utili, occorre aggirare da un lato il costrutto probabilistico-statistico di
determinanti”, e dall’altro quello sociologico e controverso di bisogno.
Il processo di recovery dovrebbe trovare delle risposte a bisogni, che però
– ricorda Basaglia - sono sempre mediati dall’organizzazione sociale;
la gente esprime non i propri bisogni, ma quello che ha introiettato
essere il bisogno (Basaglia, 1980, p. 482). In ciò si declina tuttavia la
contraddizione tra la natura individuale e costruita del bisogno e la sua
dimensione politica e collettiva.
Considerando il processo di deistituzionalizzazione nel suo
declinarsi in percorsi individuali, Franco Basaglia si è domandato come
si potessero dierenziare gli strumenti e le risorse messi a disposizione
dallo smontaggio del manicomio nelle singole situazioni in cui essi si
calavano. Era proprio la soggettività delle persone a donare a esse un
senso di volta in volta specico, calato nei progetti di vita, attraverso
ciò che esse potevano rendere possibile in termini di opportunità e di
alternative, partendo dall’esempio del sussidio economico (BASAGLIA
apud GALLIO et al. 1983, p. 39). Ciò pone l’importanza del fattore
soggettivo o della soggettività in sé: ossia in che modo i fattori d’aiuto
vengono soggettivati o diventano fattori soggettivamente rilevanti
(DAVIDSON; STRAUSS, 1992).
la dIalettIca tra salute e malattIa nel quotIdIano
In questo discorso, proprio a partire dall’accento posto sulle risorse
ottenibili e accessibili, va riconosciuto che la dimensione dell’esperienza
quotidiana si impone come centrale, a dispetto della scarsa attenzione
ricevuta dai servizi se confrontata con quella rivolta ai comportamenti
49
Boas práticas
sintomatici, come pure avviene in ambito di ricerca. Si tratta qui di
riconoscere l’ambito delle questioni pratiche della vita: come la persona
sperimenta le situazioni, aronta ostacoli e sde e adatta i propri obiettivi
e le proprie idee strada facendo, in modo creativo. Non diversamente da
quanto accadeva e accade ancora nelle istituzioni totali nei termini descritti
da Goman (1968) sono decisive per la recovery le condizioni materiali
di vita al di fuori di esse: il lavoro e il reddito, la casa, la vita sociale, la
quotidianità e le sue routine, mentre va considerato il ruolo del caso e
degli eventi come occasioni di cambiamento, come opportunità per nuovi
interessi e signicati che emergono (BORG; DAVIDSON, 2008).
Proprio nella dimensione del quotidiano va ricercata quella che è
forse la contraddizione fondante del processo di recovery, e che rappresenta
la sda più alta di Franco Basaglia al pensiero e alla pratica della medicina.
La “guarigione” non deve escludere la soerenza, eliderla, ma riconoscerla
come componente dell’esperienza umana, all’interno di un processo di
recupero e rielaborazione.
Reciprocamente, se si guarda alla malattia, sarà la guarigione
a inscriversi dentro di essa, a scavare al suo interno lo spazio della vita.
Con ciò si aerma la possibilità non solo di guarire “dalla” malattia, che
è insita nel discorso medico, ma anche di riprendersi “nella” malattia
(DAVIDSON; ROE, 2007).
D’altro canto “una vita nonostante i sintomi” è stato uno dei
grandi insegnamenti della scuola della deistituzionalizzazione. Le persone,
pur all’interno della malattia o di una sancita diversità, potevano stare
nella comunità, aspirare a una vita normale, avere diritto a una risposta ai
bisogni primari e di relazione.
Per Basaglia, ciò che è peculiare per gli esseri umani è che la salute
e la malattia sono in una continua relazione dialettica. Questi costrutti –
salute e malattia – si relazionano certo all’interno di una cornice denita
da una “norma”, che è esplicitamente espressa in termini di partecipazione
alla vita produttiva.
In questo senso Basaglia ci riporta a quella componente costitutiva
della guarigione in un’ottica sociale, che è riprendersi la propria vita:
SADE, R. M. S. (Org.)
50
Ciò che viene comunemente inteso come guarigione, è quindi insieme
espressione dell’accettazione da parte del malato di essere defraudato
ed espropriato della possibilità di vivere dialetticamente la malattia e
quindi il proprio corpo come esperienza. L’ideologia e la pratica medica
contribuiscono ad alimentare la frattura, ad avallare l’alienazione di sé
come valore, confermandole tecnicamente come condizione principe
al di là della quale c’è la salute. (BASAGLIA, 1982c, p. 377).
recovery come partecIpazIone e cIttadInanza: Il passaggIo da bIsognI
a dIrIttI
Questa riappropriazione della salute non può avvenire davvero
come fatto individuale, ma all’interno di processi e cambiamenti sociali
e politici. Tutto il movimento della deistituzionalizzazione ha posto con
forza la necessità di attraversare la dimensione partecipativa del processo di
trasformazione. Similmente, ricostruire, capire, agire il nesso tra il Sé e la
collettività, tra proprio e comune è anche uno degli aspetti più aascinanti
della questione della recovery.
In questo senso la stessa dimensione partecipativa, quando si pone
con evidenza, indica che la persona sta emergendo dall’isolamento, dalla
rottura di signicato e di linguaggio che si traduce in de-socializzazione.
La socializzazione resta per molti, che hanno sperimentato la
soerenza, in dicile e precario equilibrio con l’indipendenza e a volte
con la solitudine come scelta. Che cosa signica allora recuperare una vita
sociale? Si è parlato di “cittadinanza vissuta”, come svelamento dell’intima
natura sociale anche della recovery più personale (DE LEONARDIS,
1990; Mezzina et al. 2006).
L’integrazione sociale, intesa come adattamento alla realtà,
sembra piuttosto collegata a una sorta di pedagogia del gioco sociale,
in cui fondamentale è apprendere la capacità di decodificarlo e
di coglierne la complessità nei suoi molteplici livelli. Va di fatto
compreso in che rapporto stia la recovery con condizioni invivibili
o con l’oppressione, che sono la radice dell’“uscire fuori” della follia.
Guarire è spesso situato all’interno di coppie antinomiche: accettare
la società in termini di valori e norme dominanti o antagonizzarla,
optare per un cambiamento individuale o pretendere quello dei
51
Boas práticas
microcontesti come la famiglia, favorire l’evoluzione esistenziale o
contrastare il decorso del disturbo.
Altra questione è quale contributo possono dare i soggetti al
cambiamento delle norme e delle idee dominanti proprio sulla contraddizione
tra salute e malattia, per esempio spezzando il nesso disabilità (malattia) –
stigma. Questo, sul versante dei soggetti soerenti, signica un lavoro di
dis-introiezione della devianza, nella fuoriuscita dal ruolo di malato.
E’ stata parimenti necessaria, in una fase post-riforma, una
riformulazione del tema dei bisogni e della risposta a essi, come fu posta
da Basaglia, in termini di diritti di cittadinanza (DAHRENDORF,
1989). Le cornici concettuali più frequenti nei documenti-guida sul
tema della recovery (LE BOUTILLIER et al. 2011) includono come
sfondo proprio la promozione della cittadinanza, intesa come supporto
a reintegrare le persone nella società come cittadini – ovvero diritti,
inclusione, occupazione - non disgiunta però da un cambiamento dei
servizi in senso globale (whole system change).
Per questo è importante cogliere il nesso tra le pratiche alternative di
critica alla psichiatria e il nuovo protagonismo, l’empowerment, l’irrompere
degli utenti dei servizi come soggetti collettivi, sulla scena delle politiche.
Anche nei documenti uciali (World Health Organization,
2010), viene rappresentato l’empowerment come processo sociale
multidimensionale che determina cambiamenti nell’ambiente di vita dei
soggetti e nelle circostanze che toccano la loro salute.
Preferiamo così parlare di recovery edemancipazione” in quanto
vogliamo sottolineare l’aspetto di non-libertà che è legato alla condizione
di malattia come miseria personale e sociale, alla perdita dei diritti, o alla
preclusione dell’accesso alle risorse socialmente fruibili; e quindi allo sforzo
che si deve compiere per “rimontare”.
Oggi tutto ciò resta connato dentro il campo specico della
psichiatria e nella ricerca di diritti settoriali, pur rappresentando una
delle diverse forme di esclusione sociale, che individui appartenenti a una
minoranza oppressa” (ROTELLI, 1992, p. 94) sperimentano ancora.
Perciò la società, a partire dalla sua dimensione di comunità, va essa
stessa mobilizzata e attraversata dalla trasformazione, in una strategia
SADE, R. M. S. (Org.)
52
che prevede un movimento bidirezionale e quindi anch’esso dialettico
(DAVIDSON et al., 2010).
servIzI come catalIzzatorI dI opportunItà e rIsorse: deIstItuzIonalIzzare
la relazIone terapeutIca
Qualsiasi tipo di organizzazione che non tenga conto del malato
nel suo libero, personale porsi nel mondo, fallirà il suo compito, perché
agirà su di lui come una forza negativa anche se apparentemente tesa alla
sua guarigione (BASAGLIA, 1965, p. 289).
Sorgono qui domande cruciali: se è vero che la recovery in quanto
fatto personale (se non addirittura strettamente individuale per alcuni) può
vericarsi al di fuori dei sistemi codicati di cura, in quale relazione sta con
i contesti micro e macro sociali? Quale è il ruolo dei servizi a riguardo, se
essi sono organizzati di solito attorno alla malattia?
Nel contrastare il danno prodotto dalle istituzioni e tutti gli
eetti iatrogeni connessi alla sfera dell’agire “terapeutico”, che cosa va
chiesto ai servizi perché essi possano facilitare la recovery, la riacquisizione
e il recupero di sé? Al di là di un mero ruolo tecnico, essi possono agire
una sorta di mediazione, e fungere da agenzie per quella emancipazione
del soggetto?
Si può parlare, in questo senso, di “deistituzionalizzazione
della relazione terapeutica”, collegata al recupero del potere decisionale
della persona sulla sua propria vita di cui abbiamo detto. Attraverso un
passaggio dal rapporto di dominio/controllo, all’assistenza e alla relazione
terapeutica, non solo si è assistito al cambiamento degli equilibri di potere,
ma si è anche denita una relazione possibile al posto dell’oggettivazione
diagnostica che la esclude, mentre si riscopriva la globalità della persona al
di là di operazioni di lettura esclusivamente tecniche (MEZZINA, 2012a).
Ciò è ancora una volta corrisposto al trattare l’altro in modo paritario
e tendenzialmente reciproco, “come se” fosse no in fondo in grado di
stare nelle regole della relazione, anche se spesso si demarca un limite che
impedisce il compimento di questa operazione di “rottura delle regole o
dei ruoli” (TOPOR, 2001).
53
Boas práticas
Dall’istituzione come terreno di incontro al “fuori”: la sda del
riconoscimento e del potere Basaglia ha insistito, come si è detto, sulla
restituzione della parola al malato: “E’ il contenuto delle esperienze che
dovrebbe essere trasmesso” (Basaglia, 1980, p. 484). La potenza della
narrazione della recovery è, come si è aermato, un “Io dico”, dove la
parola torna al soggetto che vive l’esperienza; esso la riguarda e la denisce
da sé in termini dierenti dalle categorizzazioni psichiatriche.
Un tema centrale della riessione basagliana è la messa fra
parentesi della malattia, un’epochè husserliana che può forse aprire una
strada a quell’incontro con il soggetto soerente che, nella fase nale di tale
riessione, diventa un accadimento fuori dalle istituzioni (BASAGLIA,
1967, p. 411)
E’ solo in questo incontro diretto, senza la mediazione della malattia e
della sua interpretazione, che può emergere la soggettività di chi sore
di disturbi psichici: soggettività che può aorare solo in un rapporto
che, uscito nalmente dalle categorie oggettivanti della psichiatria
positivistica il cui risultato più concreto è stato il manicomio, riesca a
non rinchiudere in una ulteriore oggettivazione l’esperienza abnorme,
conservandola legata e strettamente connessa alla storia individuale e
sociale” (BASAGLIA, 1980, p. 472).
Qui torna anche per noi la domanda, quasi ossessiva, se
quell’incontro che Basaglia auspicava sin dai suoi primi scritti sia davvero
reso possibile nella deistituzionalizzazione, o se resti solo idealizzato come
egli temeva: “Per poter arontare la malattia dovremmo poterla arontare
fuori dalle istituzioni, non solo dall’istituzione psichiatrica ma da ogni altra,
la cui funzione è etichettare, codicare e ssare. Ma esiste un ‘fuori’ sul quale
si possa agire prima che le istituzioni ci distruggano? La faccia della malattia
che conosciamo è sempre ‘istituzionale’” (BASAGLIA, 1982a, p. 516).
Come pre-condizione ci si dovrà chiedere: “Chi presta l’ascolto,
qual è la sua posizione di potere rispetto a chi parla e in quale misura
questo potere determina il senso della parola?” (ONGARO BASAGLIA,
BASAGLIA, 1979, p. 433). E’ necessario un riconoscimento reciproco
con qualcuno che si mette in gioco e che mette a disposizione il suo potere.
Per Basaglia tale reciprocità implica il fatto che il terapeuta sia messo in
discussione dal malato, come il malato dal terapeuta, in modo tale che
SADE, R. M. S. (Org.)
54
ognuno si renda riconoscibile all’altro: “La terapia ha senso quando c’è
reciprocità tra il malato e il medico” (BASAGLIA, 2000, p. 41).
Anche nell’invenzione di nuove istituzioni e di nuove situazioni,
non è possibile eludere la contraddizione tra soggettività soerente
e istituzione solo negando quest’ultima o trasformandola, e persino
reinventandola (ROTELLI, 1993).
Va pensato un servizio in cui si crei un’interazione complessa che
mescola la soerenza, o la stessa malattia, con la vita, attraverso situazioni
e contesti d’esperienza, di cui possono essere esempi i servizi aperti sulle
ventiquattro ore, nella misura in cui un Centro di Salute Mentale propone,
come una persona acutamente lo ha denito, un “ambiente destrutturato
orientato alla guarigione”, o un habitat sociale (Rotelli); ma anche laboratori
artistici, cooperative e tutti gli spazi transizionali verso un campo sociale
più ampio – un “fuori”. Vi è quindi il richiamo alla necessità di agire e
di trasformare cose, spazi, luoghi oltre che relazioni. “La forza decisiva
dei rapporti interpersonali è sensata e operante solo dentro la modica
del reale che non può vivere di soli rapporti interpersonali ma abbisogna
di lavoro, attività, materie, modicazione concreta della cultura o della
natura” (ROTELLI, 1993, p. 109) .
Ci pare insomma fondamentale che questo processo di ridenizione
della domanda di cura, di decodica e quindi di deistituzionalizzazione
della malattia stessa (Rotelli, 1990, p. 73), avvenga attraverso l’esperienza
e nelle condizioni che la realtà stessa le pone. All’interno di esse la
persona può compiere un suo percorso, se il servizio è capace di giocarvi
necessariamente delle quote di rischio in positivo, sulla persona in toto,
sulle sue capacità, sulla sua salute nell’interfaccia dialettica con la malattia.
che cosa cI possono dIre ancora guarIgIone e recovery.
Controllo ed esclusione sociale condizionano ancora quel campo
dove sia il processo di cura che quello di guarigione si muovono. Se
l’esclusione predomina, la libertà si impone come requisito prioritario,
come precondizione della recovery come piena cittadinanza, che altrimenti
non si può dare. In sé la malattia è descritta come non-libertà e non-scelta,
come trappola della soggettività, e allora la recovery non può non consistere
55
Boas práticas
in un processo di apertura in un ventaglio di possibilità che permettano
la realizzazione delle speranze di soggetti soerenti. Come promessa, o,
meglio, come diritto per tutti, anche per coloro che continuano a star
male, a una diversa gestione della propria malattia.
Abbiamo forse capito, grazie alle ricerche e alle esperienze
attorno al tema della recovery, che questo oggetto-malattia, oggi ancora
svelato come costrutto precario, cambia costantemente nel tempo, e
più che un decorso è un processo, irregolare e a sbalzi, che accade in
parallelo con la vita, con i suoi fatti e con le esperienze vissute, con i
cambiamenti e le transizioni sociali signicative. In questa visione
longitudinale, irreversibile, della biograa, si pone già un concetto di
storicità dell’esistente che rimanda alla recovery come auto-narrazione
che per la prima volta si invera, cioè come consapevolezza riessiva
del proprio percorso, raccolto da testimoni, che sono i pari, le persone
signicative, gli operatori.
Ecco perché è necessario aiutare la persona ad agirne il senso
come progetto di trasformazione (IMPAGNATIELLO; MEZZINA,
1992). La ricostruzione di questo usso di senso è parte del processo
attraverso cui accade la recovery, e che riesce a recuperare e reincludere
anche la malattia senza “ridurla alla ragione”. Ciò ci rimanda alle ultime
elaborazioni teoriche di Basaglia:
La malattia e l’anormalità, come ogni altra contraddizione umana,
possono essere usate come strumento di riappropriazione o di
alienazione di sé; quindi come strumento di liberazione o di dominio.
[…] Ciò che determina il signicato di ogni azione è il valore che
si riconosce all’uomo e l’uso che si vuol farne, da cui si deduce l’uso
che si farà della sua salute e della sua malattia, della sua normalità e
della sua anormalità. […] Se il valore é l’uomo, la salute e la normalità
non possono rappresentare la norma, dato che la condizione dell’uomo
è di essere sano e insieme malato, normale e insieme anormale.
(BASAGLIA, 1982c, p. 380).
In questo gioco, nella concezione della recovery/guarigione
i due aspetti del “clinico” e del “personale” ci appaiono riconducibili a
una ragione sistemica, che è quella rispettivamente dell’essere operatore
e dell’essere paziente. Insieme essi di fatto confermano una cultura
SADE, R. M. S. (Org.)
56
dominante che vede separati e incomunicabili il mondo della psichiatria,
ossia il mondo istituzionale, e quello sociale, ovvero il mondo delle persone
e delle loro comunità, col primo che cerca di dominare, interpretare e
controllare l’altro.
In realtà una visione della recovery – sulla scia di Basaglia –
dovrebbe includere entrambi questi poli in un processo dialettico, di
trasformazione dell’osservante e dell’osservato, dove le visioni e le proposte
di entrambi, il terapeutico e la vita, ingaggiano un confronto, un corpo
a corpo che li muta entrambi profondamente. Ciò nella considerazione
e nella consapevolezza che la denizione di istituzione come realtà/
ideologia li comprende entrambi. Pertanto non della guarigione, ma della
trasformazione di questa relazione oggi ancora si tratta, come apertura di
nuovi equilibri di potere e di opportunità di esistenza per i soerenti e
come condizione fondante il lavoro di cura.
Il ne ultimo della nostra azione sarà ancora, ma in modi
sempre nuovi e diversi, e attraverso i cambiamenti del mondo
sociale e politico che abitiamo, il tentare di liberare la soggettività
dall’oggettivazione che istituzioni, intese anche come organizzazioni,
micro e macrosistemi sociali comportano; o forse di trasformare questi
ultimi, sperando che si modichino le condizioni che ci impediscono
di essere pienamente umani.
rIferImentI
BASAGLIA, F. Esclusione, programmazione e integrazione: Appunti sulla realtà
psichiatrica italiana. In: SCRITTI, I. Dalla Psichiatria Fenomenologica all’esperienza di
Gorizia. Torino: Einaudi (1953-1968), 1982. p. 410-423.
______. Il problema della gestione (1968). In: SCRITTI, I. Dalla Psichiatria
Fenomenologica all’esperienza di Gorizia. Torino: Einaudi, 1982a. p. 512-521.
______. Introduzione a Morire di Classe: ripubbl (1969). In: SCRITTI, I. I.
Dall’apertura del manicomio alla nuova legge sull’assistenza psichiatrica. Torino: Einaudi,
1982b. p. 73-79.
______. Il concetto di salute e malattia in collaborazione con Giannichedda M.G. e
Ongaro Basaglia F (1975). In: SCRITTI, I. I. Dall’apertura del manicomio alla nuova
legge sull’assistenza psichiatrica. Torino: Einaudi, 1982c. p. 362-381.
57
Boas práticas
______. Prefazione a Il Giardino dei Gelsi, Einaudi, Torino. Ripubbl (1979). In:
SCRITTI, I. I. Dall’apertura del manicomio alla nuova legge sull’assistenza psichiatrica.
Torino: Einaudi, 1982d. p. 467-472.
______. Conversazione: a proposito della nuova legge 180 (1980). In: SCRITTI, I. I.,
EINAUDI, T. In Dove va la Psichiatria? Pareri a confronto su salute mentale e manicomi
in Italia dopo la nuova legge, a cura di Onnis L. e Lo Russo G. Milano: Feltrinelli,
1980. p. 473-485.
BASAGLIA, F. Conferenze Brasiliane: a cura di Ongaro Basaglia F. e Giannichedda M.G.
Milano: Raaello Cortina, 2000.
BASAGLIA, F.; BASAGLIA ONGARO, F. La malattia e il suo doppio (1971). In:
BASAGLIA, F.; SCRITTI, I.I. Dall’apertura del manicomio alla nuova legge sull’assistenza
psichiatrica: La maggioranza deviante. Torino: Einaudi, 1982. p. 155-184.
BENTALL, R. Reconstructing schizophrenia. Hove, New York: Routledge, 1992.
______. Madness Explained: psychosis and Human Nature. London: Allen Lane,
Penguin Books, 2003.
BORG, M.; DAVIDSON, L. e nature of recovery as lived in everyday experience.
Journal of Mental Health, v. 17, n. 2, p. 129-140, 2008.
BORG, M. et al. What Makes a House a Home: the Role of Material Resourses in
Recovery from Severe Mental Illness. American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 8,
n. 3, p. 243-256, September-December 2005. (Special Issue: Process and Contexts of
Recovery, Part I).
BOYLE, M. Schizofrenia: un delirio scientico? Roma: Astrolabio Ubaldini, 1995.
BRACKEN, P. et al. Una psichiatria al di là dell’attuale paradigma. 2013.
BUCHANAN, R. W.; CARPENTER, W. T. Domains of Psychopathology: an
Approach to the Reduction of Heterogeneity in Schizophrenia. Journal of Nervous &
Mental Disease, v. 182, p. 193-204, 1994.
CIOMPI, L. Is there a schizophrenia? e long term course of psychotic phenomena.
British Journal of Psychiatry, v. 145, p. 636-640, 1984.
COLEMAN, R. Viaggio di guarigione dal male mentale: a cura di Longden E. Roma:
Associazione Felicità sostenibile, 2011.
DAHRENDORF, R. Il conitto sociale nella modernità. Saggio sulla politica della
libertà. Bari: Laterza, 1989.
DAVIDSON, L.; STRAUSS, J. S. Sense of self in recovery from severe mental illness.
British Journal of Medical Psychology, v. 65, n. 2, p. 131-45, 1992.
DAVIDSON, L.; ROE, D. Recovery from versus recovery in serious mental illness: One
strategy for lessening confusion plaguing recovery. Journal of Mental Health, v. 16, n. 4,
p. 459-470, 2007.
SADE, R. M. S. (Org.)
58
DAVIDSON L. et al. e Roots of the Recovery Movement in Psychiatry: lessons Learned.
Chichester: Wiley, 2010.
DAVIDSON, L. et al. A Life in the Community: Italian Mental Health Reform and
Recovery. Journal of Mental Health, v. 19, n.5, p. 436-43, oct. 2010.
DE LEONARDIS, O. Il terzo escluso: le istituzioni come vincoli e risorse. Milano:
Feltrinelli, 1990.
GALLIO, G. et al. La libertà é terapeutica: l’esperienza psichiatrica di Trieste. Milano:
Feltrinelli, 1983.
GEEKIE, J.; READ, J. Making sense of madness: contestino the meaning of
schizophrenia. Hove, New York: Routledge, 2009.
GOFFMAN, E. Asylums: Le istituzioni totali, la condizione sociale dei malati di mente
e di altri internati. Torino: Einaudi, 1968.
HARDING, C. M.; ZUBIN, J.; STRAUSS, J. S. Chronicity in schizophrenia: fact,
partial fact, or artifact? Hospital & Community Psychiatry, v. 38, n. 5, p. 477-486, 1987.
IMPAGNATIELLO M.; MEZZINA, R. Deistituzionalizzazione della crisi: agire il
senso. In: Salute Mentale: pragmatica e complessità, AA.VV., a cura di Mezzina R.,
Debernardi A. e Norcio B. Regione Friuli Venezia Giulia, DSM, U.S.L. n.1 Triestina:
Centro studi e ricerche regionale salute mentale, v. 2, p. 729-739, 1992.
JACOBSON, N.; GREENLEY, D. What is recovery? A conceptual model and
explication. Psychiatric Services, v. 52, p. 482-485, 2001.
LE BOUTILLIER, C. et al. What does recovery mean in practice? A qualitative analysis
of international recovery-oriented practice guidance. Psychiatric Services, v. 62, n. 12, p.
1470-1476, 2011.
MARMOT, M. Social determinants of health inequalities. Lancet, v. 365, p. 1099-
104, 2005.
MEZZINA R. et al. From Participation to Citizenship: how to Regain a Role,
a Status, and a Life in the Process of Recovery. American Journal of Psychiatric
Rehabilitation, v. 9, n. 1, p. 39-61, January-April 2006. (Special Issue: Process and
Contexts of Recovery, Part II).
______.e Social Nature of Recovery: discussion and Implications for Practice.
American Journal of Psychiatric Rehabilitation, v. 9, n. 1, p. 63-80, January-April, 2006.
(Special Issue: Process and Contexts of Recovery, Part II).
MEZZINA R. Il cambio paradigmatico tra sistemi globali e soggetti: in Quarant’anni
di Fogli d’informazione, psichiatria, psicoterapia, istituzioni, a cura di Paolo Tranchina e
Maria Pia Teodori. Firenze: Ed. Periferie al Centro ONLUS, 2012. p. 231-237.
MEZZINA R.; DELL’ACQUA, G.; IMPAGNATIELLO, M. La soggettività e
l’intervento: il senso della crisi all’intersezione col servizio, in Crisi e sistemi sanitari, una
ricerca italiana, a cura di R. Mezzina. Trieste: Asterios, 2005. p. 191-215.
59
Boas práticas
MEZZINA R. et al. Networking Consumers Participation in a Community Mental
Health Service: mutual Support Groups, Citizenship, Coping Strategies. e
International Journal of Social Psychiatry, v.38, n. 1, p. 68-73, 1992.
ONGARO BASAGLIA, F.; BASAGLIA, F. Follia/Delirio. In: ENCICLOPEDIA
EINUADI. Torino, Merano: Alphabeta Verlag, Einaudi, 2012. V. 4, p. 119-147.
PRIEBE, S.; BURNS, T.; CRAIG, T. K. J. e future of academic psychiatry may be
social. British Journal of Psychiatry, v. 202, p. 319-320, 2013.
READ, J.; MOSHER, L. R.; BENTALL, R. P. Models of Madness. Psychological, Social
and Biological Approaches to Schizophrenia. Rotledge, Hive, New York: Psychology
Press, 2004.
ROMME, M.; ESCHER, S. Accettare le voci. Le allucinazioni uditive: capirle e
conviverci. Milano: Giurè, 1997.
ROSE, N. La politica della vita. Torino: Einaudi, 2008.
ROTELLI, F. Modelli scientici e complessità. Taccuino di uno psichiatra negli anni
della grande riforma. Trieste: Asterios, 1990. p. 70-73.
______. Otto più otto principi. Per una strategia di psichiatria comunitaria, collettiva,
territoriale (versus salute mentale). In Per la normalità. Taccuino di uno psichiatra negli
anni della grande riforma. Trieste: Asterios, 1992. p. 94-101.
______. Ri-abilitare la ri-abilitazione. Taccuino di uno psichiatra negli anni della grande
riforma. Trieste: Asterios, 1993. p. 104-113.
SARTORIUS, N.; JABLENSKY, A.; SHAPIRO, R. Two-year follow-up of the patients
included in the WHO International Pilot Study of Schizophrenia. Psychological
Medicine, v. 7, n. 3, p. 529-541, 1977.
SLADE M. Teoria e pratica della guarigione personale: Il pensiero scientico. Roma, 2011.
TOPOR, A. Managing the Contradictions: Recovery from Severe Mental Disorders,
Stockholm University, Department of Social Work, Stockholm, 2001.
UNGER, R. Moving Beyond Clinical Recovery and Personal Recovery: Reclaiming the
Possibility of Full Recovery, 2010.Disponivel em: <http://recoveryfromschizophrenia.
org/2010>. Acesso em: 4 jul. 2013.
WARNER, R. Schizofrenia e guarigione. Psichiatria ed economia politica. Milano:
Feltrinelli, 1985.
WHITAKER, R. Indagine su un’epidemia. Lo straordinario aumento delle disabilità
psichiatriche nell’epoca del boom degli psicofarmaci. Roma: Giovanni Fioriti, 2013.
WHO. Report of the International Pilot Study of Schizophrenia. Geneva, Switzerland:
World Health Organization, 1973. (Volume I).
______. Schizophrenia An International Follow-up Study. Chichester, UK: John
Wiley, 1979.
SADE, R. M. S. (Org.)
60
______. User empowerment in mental health: a statement by the WHO Regional Oce
for Europe. With the support of the European Commission Health and Consumers
Directorate-General, 2010.
WING, J. K. Institutionalism in Mental Hospitals. British Journal of Social and Clinical
Psychology, v. 1, n. 1, p. 38–51, 1962.
61
Trajetória do Hospital Psiquiátrico para
o Território
Ernesto Venturini
a trajetórIa
Foi convidado a desenvolver, durante este Congresso, o tópico
da desinstitucionalização. O tema foi apresentado metaforicamente como
uma “trajetória”, que a partir do hospital psiquiátrico alcança o território.
Para lidar com este tópico, vou falar sobre minha prática em Gorizia, Tries-
te, e mais especicamente, referir-me a minha última atuação em Imola.
Vou começar, contudo, com uma breve digressão sobre a palavra
trajetória”, pois a reexão sobre essa metáfora tornará mais evidente o
sentido da intervenção.
A metáfora da trajetória desenha a imagem geométrica de uma
linha que descreve o percurso a partir de um ponto (ponto A) para atingir
o seu objetivo (ponto B). A linha reta é a linha mais curta. Parece também
a mais “lógica”: é a linha “normal”. Mas ela não é, no entanto, a linha que
pode representar, na minha opinião, o caminho de libertação e emancipa-
ção promovido em Gorizia, em Trieste ou em Imola. Para esclarecer esse
 Este escrito relata uma intervenção realizada em Campinas/SP no dia 9 de Setembro de 2014, em ocasião do
Congresso Internacional de Saúde Mental - International School Franca and Franco Basaglia.
SADE, R. M. S. (Org.)
62
pensamento, me referi, em outros contextos, as palavras do arquiteto Os-
car Niemeyer. Ele diz: “O que me atrai não é o ângulo reto, nem a linha
reta, dura, inexível, criada pelo homem. Me atrai a curva livre e sensual,
a curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos
rios, na onda do mar, no corpo da mulher amada. De curvas é feito o uni-
verso inteiro, o universo curvo de Einstein. Sim! A desinstitucionalização
é como a linha curva de que fala Niemeyer, uma linha oposta à rigidez
do pensamento manicomial. O paradigma do manicómio e da psiquiatria
tradicional traz a nossa mente ângulos e pontas, geometrias delimitantes,
todas homogêneas, sem invenção. O poder e a opressão, gerados por ele,
contem linhas quebradas, pontiagudas, linhas divergentes, jamais coinci-
dentes. Ao contrário, a linha curva suscita uma sensação de calor. Desenha
um sinuoso percurso, surreal. De imediato, talvez, não permite ver longe,
como a linha reta, mas isso acontece por uma razão: tal processo recusa a
pressa, exige um tempo dilatado e macio. Além disso, a curvatura da linha
contempla a surpresa: permite o bater de repente em algo de inesperado; se
adequa serenamente ao imprevisto, conduz à humildade, à simplicidade.
Hoje tentarei expandir esse pensamento, introduzindo outras
considerações, que nos levam para o mundo da losoa. Utilizarei a metá-
fora da linha-trajetória, para me referir ao pensamento expresso por uma
estudiosa italiana, Adriana Cavarero, no seu livro “Inclinações”. Mudan-
do de uma dimensão unidimensional para uma imagem tridimensional, a
linha reta assume a aparência de uma linha reta-vertical, expressão típica
da “retidão”. Entre as diversas geometrias da modernidade, a linha vertical
é a que prevalece, diz respeito ao modelo individualista ontológico, que
encontra uma correspondência signicativa em Immanuel Kant. O sujeito
autocrático, intacto, coeso e autorreferencial é o “homem reto” (o homem
justo), uma pessoa que adere à verticalidade do “eixo das ordenadas” e que
age por princípio e por norma da sua postura ética. Entretanto a linha
que se opõe à verticalidade não é tanto a outra abscisa cartesiana, a linha
horizontal, que certamente leva a um alargamento apreciável da perspec-
tiva, mas que permanece dentro de uma lógica binária, de certa forma
previsível. A alternativa real para uma linha vertical é a linha inclinada,
que subverte qualquer padrão predeterminado de ordem e estabilidade.
O impulso à inclinação mina o ego do seu centro de gravidade interno,
63
Boas práticas
afeta a estabilidade, faz com que objetos e pessoas pendurem fora. As pes-
soas correm o risco de não serem autônomas e independentes. Podemos
entender portanto por que o pensamento comum não aprecia a inclina-
ção, a contrasta e luta contra ela. Os métodos, que o pensamento comum
usa, podem ser diferentes, mas, como diria Foucault, essencialmente são
dispositivos que se propõem a produção de um homem reto vertical. Até
mesmo a linguagem losóca tende classicar, sob o lema geral da inclina-
ção, a grande série de desejos, instintos e paixões. A raiz etimológica nos
diz que inclinar-se
2
é dobrar-se, pendurar-se para baixo, abaixar-se. E se
no pensamento “comum” (melhor dizer no estereótipo comum!), quando
falamos sobre um “homem reto”, nos referimos, principalmente, ao sexo
masculino, quando, ao contrário, falamos sobre inclinações, nos referimos
geralmente à instabilidade e dependência feminina .
Mas a inclinação é também, sinônimo de propensão, de gosto, de
disposição, de tendência. Como diz Hannah Arendt: toda inclinação nos
projeta para fora, leva-nos fora de nosso “eu”. O próprio amor – pensando
bem – é um ataque ao equilíbrio, porque signica sair de si mesmo, ceder
à atração que vem de outra pessoa, deslizar em um plano inclinado; proje-
tar-se para fora, para o outro/a e depender dele/a, ao invés de preservar a
nossa autonomia.
Em essência, a postura da inclinação signica um risco, mas tam-
bém uma abertura a um modelo relacional. A inclinação nos ajuda a repen-
sar a subjetividade marcada pela dependência e vulnerabilidade. A decisão
de assumir o vulnerável como paradigma do humano – como ensinado por
Emmanuel Levinas – signica restabelecer a ética baseada na primazia do
outro. Signica pensar o relacionamento como uma dimensão de entrega
de uns aos outros, sendo todos nós seres vulneráveis, com necessidade de
ajuda. Signica tentar prevenir as práticas violentas de dominação/ exclu-
são das quais o sujeito egocêntrico e “reto” é, às vezes, o portador.
Eu reconheço neste risco da liberdade, nesta exposição a vulnera-
bilidades, nesta luta contra o fundamentalismo de um domínio de pensa-
mento – o da psiquiatria do manicómio, por exemplo – o difícil caminho
da emancipação. É um caminho caracterizado por uma trajetória, que vou
 Inclinar-se deriva de kline, que, em grego, signica “cama”.
SADE, R. M. S. (Org.)
64
descrever brevemente e que pode ser só uma linha curva, uma linha suave-
mente e surpreendentemente singular, uma linha inclinada!
estratégIas da trajetórIa
A trajetória do hospital psiquiátrico para o território signicou
reabilitar não somente os internados. Signicou reabilitar um sistema de
saúde, uma comunidade, uma sociedade. Por isso, fechar o manicômio sig-
nicou para nós, em Imola, construir o acesso real aos direitos de cidada-
nia. Signicou o exercício progressivo dos direitos, a possibilidade de reco-
nhecê-los e praticá-los. Na realidade, o verdadeiro problema não foi fechar,
o verdadeiro problema foi abrir! O problema não foi fechar o hospital. O
verdadeiro problema foi abrir a possibilidade de vida na comunidade, abrir
a prática dos direitos. Por isto tentamos, às vezes, com erros, mas sempre
com determinação, estratégias que incidissem no nível legislativo, na dis-
ponibilidade dos recursos, na produção de acesso aos valores socioculturais
e à armação dos sujeitos.
a) Estratégias que incidiram no nível legislativo, administrativo,
organizativo:
O paradoxo do hospital psiquiátrico é que ele é frágil e poderoso,
ao mesmo tempo. É frágil, porque não tem nenhuma justicativa econô-
mica (total ineciência), nenhuma justicativa cientíca. É um mecanis-
mo arcaico, que gasta recursos humanos e nanceiros. Por outro lado, o
manicômio é poderoso, porque responde a muitas necessidades: o controle
social do desvio, da pobreza, o controle da cronicidade produzida por uma
organização clínica, que exclui seus erros e que é principalmente orientada
para resolver as situações agudas, mas não é disposta a enfrentar os tempos
e a complexidade das situações não agudas.
Por isso, sempre deveríamos nos perguntar: “Quais as necessi-
dades sociais e institucionais que o asilo encontra?”. Em nossa trajetória
antiinstitucional tentamos reconhecê-las e construir novas respostas: direi-
tos sócias, por exemplo, acesso à instrução, à casa, à escola, ao trabalho, à
remuneração, à livre sexualidade, à livre opinião, à promoção de si mesmo.
65
Boas práticas
A clareza da estratégia é também clareza organizativa. Abrir uma
alternativa ao hospital signica construir um sistema de saúde comunitá-
rio: uma área territorial de referência, uma renda econômico-nanciaria
para usuários, uma única responsabilidade pública, uma integração entre
o público e o privado no-prot, uma integração entre serviços de saúde co-
munitária, atenção social, hospitais gerais, em um plano de metas, tarefas,
prazos, indicadores de avaliação.
Em essência uma lei e sua aplicação são credíveis, somente se estão
determinados prazos certos, recursos, avaliações, penalidades e incentivos.
b) Estratégias que incidiram na disponibilidade dos recursos:
Ma com quais forças nós podemos atingir a meta da nossa tra-
jetória? A solução mais óbvia, para nós, foi a transferência dos recursos
econômicos, existentes na antiga organização institucional, para a nova
organização (cada nanciamento disponibilizado por vaga fechada no hos-
pital se converteu em nanciamento para recursos comunitários).
Os prossionais que trabalharam no hospital psiquiátrico tiveram
a possibilidade de se resgatar, de recuperar sua dignidade prossional, envol-
vendo-se no novo método. Ocorreu (claro!) – como sempre acontece - uma
resistência à mudança. Havia, às vezes por razões psicológicas, a impossi-
bilidade de imaginar algo fora do quotidiano do hospital, ou havia medo
de perder privilégios. Investimos, portanto, nas motivações, nos incentivos.
Trocamos, às vezes, a equipe do hospital por aquela que trabalhava já na
comunidade. Mas, sem dúvida, a estratégia vencedora foi utilizar novos luga-
res, novas pessoas, que não traziam com eles a cultura e a memória do mani-
cômio. Neste sentido, desenvolveram um papel fundamental as cooperativas
sociais: o olhar dos trabalhadores destas cooperativas era livre, ingênuo. A
falta de preconceitos mudou positivamente a autoestima do usuário. Estes
trabalhadores tinham talvez menor experiência, menor competência, mas
conseguiram compensar estas “lacunas” com uma forte motivação. Foi um
ato de conança, que deu resultados inesperados. Foi muito importante,
também, o papel dos “voluntários”: jovens, cidadãos, sem um papel institu-
cional e sem uma qualicação prossional reconhecida, que por um tempo,
por razões de ética e solidariedade, ofereciam gratuitamente sua disponibi-
SADE, R. M. S. (Org.)
66
lidade (e quero ressaltar nesta matéria o papel considerável desempenhado
pelos voluntários brasileiros em Trieste e em Imola!). A autonomia dos vo-
luntários, no que se refere às limitações impostas, em vez, aos prossionais
pela burocracia institucional, se tornou produtora de possibilidades práticas
e de escolhas para pacientes, no dia-a-dia da reabilitação.
Mas uma instituição não se destrói a partir do seu interior. Para
produzir uma ruptura de um poder é necessário um contrapoder externo.
Esse papel foi desempenhado, por exemplo, por familiares dos usuários,
por associações dos usuários, por associações sociais e civis da comunida-
de. O ponto central desta estratégia foi pensar que a reabilitação da ins-
titucionalização não envolve só os pacientes, mas que envolve também a
comunidade. Da mesma forma da nossa abordagem terapêutica, que não
é dirigida apenas para a parte doente do indivíduo para recuperá-la, mas
é especialmente direcionada para a parte saudável para desenvolver o seu
potencial e sua capacidade de compensação, assim, o nosso olhar para a
comunidade foi dirigido para a parte saudável da comunidade, disponível
à mudança, ao invés de tentar neutralizar a parte da comunidade que era
hostil. A rede social dos cidadãos foi um recurso terapêutico fantástico. O
verdadeiro recurso consistiu, em essência, na capacidade dos usuários, dos
familiares e dos cidadãos, colaborativos e solidários, de se reconhecer como
atores concretos da própria vida.
c) Estratégias que incidiram na produção de acesso aos valores
socioculturais e armação subjetiva:
Pretendo falar aqui da autonomia individual, instrução, forma-
ção prossional, capacidade social, empoderamento da pessoa, sua capaci-
dade de expressar ecazmente o próprio ponto de vista.
O manicômio é ontologicamente incapaz de alterar o seu carácter
desumano, tornando-se um “lugar civil” (e isto não signica que no início
da mudança não devemos procurar a sua humanização). Mas a norma que
reduz a pessoa a um objeto, típica do manicômio, impede a possibilidade
que o paciente possa ser reconhecido como cidadão, e impede também que
ele mesmo possa se reconhecer como sujeito, com desejos e direitos. Só
fora do manicômio é possível a cura e a reabilitação.
67
Boas práticas
E quando não havia possibilidade de alta individual por falta de
habitação ou disponibilidade econômica, ajudámos, em Imola, as pessoas a
obter uma pensão de invalidez do estado e assumimos a tarefa de construir
residências para elas. Mas sempre tivemos presente a necessidade de con-
siderar essas estruturas como casas reais para seus habitantes e não como
instalações de reabilitação, dirigidas pelo serviço de saúde mental. Viver
em sua própria casa responde a uma exigência fundamental do ser huma-
no. A partir do reconhecimento deste direito fundamental, os habitantes
das casas, às vezes com nossa ajuda, construíram relacionamentos com vi-
zinhos, com lugares de encontro social, aprendendo ou reaprendendo à se
expressar, à se sentir cidadãos, reivindicando coisas simples, mas de grande
signicado identitário, como, por exemplo, a solução dos problemas cole-
tivos do bairro.
A partir de um contrato social efetivo (ser residentes em suas pró-
prias casas), foi possível alcançar um reconhecimento social e construir /
reconstruir novas identidades sociais.
as ferramentas da desInstItucIonalIzação
Para identicar as “ferramentas” da desinstitucionalização, usei,
às vezes, uma linguagem não técnica, semelhante ao que gostaria de utili-
zar ao me endereçar a um amigo, que, de forma “imprudente e ingênua ”,
desejaria se colocar neste empreendimento. Pensei em usar uma linguagem
metafórica e me referi à literatura. Acredito que a consciência inexprimível
da arte nos permite descobrir entre os eventos, que enchem nossas vidas
diárias, algumas conexões, que ajudam a dar transparência à opacidade,
que atravessa muitos momentos da nossa vida. Alguns anos atrás, escrevi
um artigo chamado “As palavras da desinstitucionalização”. Escrevi esse ar-
tigo em analogia com o ensaio “Lições Americanas” de Ítalo Calvino. Esse
autor escolheu cinco temas que constituem uma espécie de lista de valores
a serem salvos pela literatura do terceiro milênio: leveza, rapidez, exatidão,
visibilidade, multiplicidade.
Pareceu-me que havia uma grande proximidade entre as palavras
usadas por Calvino e aquelas implícitas na trajetória da desinstitucionaliza-
ção, assim como eu tenho vivido este processo em Gorizia, Trieste e Imola.
SADE, R. M. S. (Org.)
68
Imagino que tal mescla entre ciência e literatura possa não agradar muitos
psiquiatras. Mas eu acredito que algumas contaminações podem representar
um pensamento estimulante, fonte de desenvolvimentos potenciais. A arte
é, também, conhecimento. Ela é – para Calvino – “uma severa disciplina da
mente, temperada pela ironia e por uma consciência sempre vigilante do
caráter parcial e provisório de todo método de pesquisa e conhecimento”.
leveza
A leveza é, no meu ponto de vista, talvez a característica mais im-
portante em um caminho de desinstitucionalização. Pudera-se pensar que a
desinstitucionalização precise de um poder forte, em condições de confron-
tar as pulsões integralistas da instituição manicomial. Mas a institucionaliza-
ção (no manicômio e fora de ele, no território) é tão totalizante que qualquer
esforço para uma mudança, se usarmos seus mesmos métodos e lógica, leva a
derrotar, enquanto representa um esforço simétrico em relação ao poder que
se pretende negar. É necessário introduzir uma lógica original e imprevista,
uma lógica de outsider. Contra o manicomialismo é necessária a leveza da
ironia, a capacidade de dissolver o caráter compacto da instituição por meio
de golpes de espadim, manejado com mão leve e certeira. Faz-se necessá-
ria a leveza da fantasia e da atividade criativa. Num contexto institucional,
mesmo a fraqueza nunca deveria ser temida: ela pode se tornar uma força e
demonstrar uma valência imprevista e transbordante.
rapIdez
A rapidez expressa uma outra característica importante dessa
trajetória. O pensamento manicomial, basicamente, está focado na inér-
cia. Portanto só mantendo constante a iniciativa, só evitando os tempos
mortos, as mudanças podem ser desencadeadas. As intervenções devem
ser aproximadas e traçar um movimento contínuo. O tempo da desinsti-
tucionalização deve ser percebido como um ritmo, expandido pela drama-
tização dos momentos-chave, através uma modalidade pedagógica. Deve
ser armada, dia após dia, uma impressão de peremptório e de essencial,
em contraposição ao fatalismo da instituição, a sua inércia pantanosa, às
necessidades“ e aos compromissos da burocracia.
69
Boas práticas
Aquele que possui o poder é rápido, mas a mesma rapidez, na
atuação da mudança, gera poder.
exatIdão
A possibilidade de atingir o objetivo de um projeto depende da
clareza e precisão da sua formulação. No entanto, existem duas maneiras
de entender a exatidão. A primeira é a exatidão do pensamento tradicio-
nal psiquiátrico, que reduz o evento “sofrimento psíquico” a um esquema
abstrato, e que leva à objeticação do paciente, à sua reicação. Ela pensa
em termos de eciência. O segundo caminho é a exatidão da desinstitu-
cionalização, que tenta perceber, com a maior precisão possível, o aspecto
sensível das coisas. Ele pensa em termos de ecácia. Este segundo processo
conduz à valorização da subjetividade da pessoa. Mas a subjetividade é,
por denição, sujeita às contingências e imperfeições. Há, portanto, uma
contradição? Apenas na aparência, porque a precisão da desinstitucionali-
zação não pode ser avaliada em um único momento e com parâmetros teó-
rico-doutrinários. Ela deve ser avaliada na sua complexidade, que, como já
dissemos, é a de uma trajetória sinuosa e contínua. Estamos cientes de que,
neste caminho, às vezes temos que improvisar e ir para uma percentagem
aceitável de erros, mas não devemos perder de vista a necessidade de retor-
nar constantemente e pacientemente à precisão do projeto.
O que é importante é manter a rota!
vIsIbIlIdade
Se a lógica manicomial se constitui, por antonomásia, no seques-
tro e no ocultamento, a desinstitucionalização se representa na transpa-
rência dos procedimentos. Na perspectiva da visibilidade se orientaram as
nossas experiências da desinstitucionalização que, através de várias iniciati-
vas, zeram entrar o “fora” dentro da instituição e levaram o “dentro” para
fora da instituição.
Mas, a visibilidade não é só abertura de uma porta ou a derrubada
de uma grade e de uma parede: visibilidade é, também, tornar as coisas claras
e participativas. Visibilidade, por exemplo, é tornar compreensível a forma-
SADE, R. M. S. (Org.)
70
ção conceitual da exclusão, as representações do poder na mente dos opres-
sores e dos oprimidos. Em suma, aprofundar aquilo que outros chamaram a
pedagogia do poder” e seus mecanismos atributivos e adaptativos.
multIplIcIdade
A lógica manicomial implica uniformidade de conhecimentos,
mono dimensionalidade de signicados, separação e pobreza de saberes.
Seu instrumento é o diagnóstico, entendido como representação rígida e
esquemática do sujeito. Se, ao contrário, estimulamos a pluralidade e a
multiplicidade de abordagens, se nos medimos na complexidade, então
nos encontraremos diante de uma sucessão de eventos, que evoluem e se
tornam efetivos em tempos e espaços diferentes. Estes eventos constituem
a história das pessoas, que é sempre um “cacho de histórias”. O diagnós-
tico é redução, a história do paciente é potencialidade. O método rígido
e redutivo do diagnóstico relembra o universo explicativo de Newton. O
método complexo e aberto da história refere-se mais ao universo implica-
tivo de Einstein.
A desinstitucionalização é um processo aberto, não fechado, com
estrutura modular, combinatória, portanto plural, potencialmente extensí-
vel. Ela é riqueza na multiplicidade dos saberes.
a dIreção da trajetórIa
Para expressar ainda mais essa leitura da desinstitucionalização,
como uma trajetória inclinada e sinuosa, vou me referir ao poder evoca-
tivo das imagens e das memórias. Vou contar três momentos desta traje-
tória, bem como eles se esboçaram na superação do hospital psiquiátrico
de Imola, onde eu trabalhei a partir de 1987 até o ano 2002.
1) o projeto valerIo
A primeira cena refere-se à escolha de um nome a ser atribuído ao
projeto e que simbolicamente seria a expressão da sua losoa.
71
Boas práticas
O nome foi “Projeto Valerio”. Explico a motivação deste nome.
Poucos dias depois de ter chegado a Ímola, como diretor do Hospital Psi-
quiátrico, perguntei ao pessoal do hospital quem era, de acordo com eles,
o paciente mais grave. Eles responderam que era Valerio: um paciente de
trinta e um anos, interno numa das alas do hospital. Naquela mesma noite,
foi informado pelo médico de plantão que era hábito pedir a autorização
do diretor para amarrar Valerio, suas mãos e pés. Caso casse livre, o pa-
ciente sacudia furiosamente a cabeça ou dava cabeçadas na parede. Além
disso, Valerio sofria de incontinência, andava nu, não usava roupas nem
sapatos. Na prática, permanecia amarrado – noite e dia – desde sua entrada
no hospital, quando ele tinha 14 anos. Era um dos últimos pacientes a car
amarrado. E assim continuava, embora tivessem tentado tudo o que era
possível. Por outro lado, que forma de relacionamento se poderia imaginar
com um cerebropata grave, que não falava, que era cego e que, também,
poderia ser surdo?
Pensei, enquanto o colega me pedia aquela autorização, que Vale-
rio precisasse, como todos nós, de uma relação afetiva, feita de carícias, de
aconchego, de tons doces. Pensei em alguma forma de “maternage, com
presenças femininas, que pudessem responder à necessidade profunda de
todo ser humano de encontrar-se em simbiose e sob a proteção de alguém.
Não dei a permissão para a contenção e na manhã seguinte falei com os
enfermeiros e com as enfermeiras da única seção mista do hospital, ima-
ginando a hipótese de transferir Valerio para aquele sector. Havia natural-
mente um problema de apoios a serem construídos em torno de Valerio.
Envolvi alguns jovens voluntários que deveriam car próximos de Valerio,
dia e noite. Sabíamos que o início seria duro, que haveria noites de insônia
e muito cansaço.
Tudo o que aconteceu, surpreendeu e emocionou. Valerio enten-
dia tudo aquilo que tinha sido iniciado e, do seu jeito, respondia. Cada
vez mais se deixava convencer a não se agelar. Os enfermeiros se desdo-
bravam para além de qualquer expectativa. As enfermeiras, em especial,
tinham adotado Valerio. Alguns lhe coçavam a cabeça para que dormisse,
outros lhe ensinavam a usar os talheres. Pela primeira vez, Valerio sentia o
prazer de um banho quente numa banheira. Usava roupas e sapatos e não
estava mais incontinente. Às vezes, entoava doces canções de ninar, talvez
SADE, R. M. S. (Org.)
72
lembranças da infância... O pai havia retomado as visitas, que tinha inter-
rompido há tanto tempo. Assim, depois de 16 anos, certo dia, Valerio foi
visitar sua casa.
Valerio – claro – permanecia cego e ainda era portador de uma
deciência mental grave, mas também havia se tornado uma “pessoa”, um
amigo de que estávamos orgulhosos. Pouco depois, ele foi viver em uma
residência protegida. A mensagem derivada desta história era clara: se era
possível fazer algo útil para ele, então poderia se fazer algo para todos.
Valerio exemplicava o que temos chamado “o paradigma do último.” Na
recuperação do paciente mais difícil era avaliada a credibilidade e o poten-
cial da nova trajetória.
2) assumIr responsabIlIdades
A segunda cena refere-se igualmente aos primeiros momentos
da chegada de um “basagliano” em uma instalação psiquiátrica localizada
em um contexto sociopolítico – o da Emilia Romagna – ideologicamente
alinhado à esquerda, mas fortemente retrógrado nas práticas de mudança
antiinstitucional. Sendo o diretor do hospital psiquiátrico, tive direito a
um apartamento no interior da área hospitalar. Quando, no primeiro dia,
os faixeiros anunciaram-me que o meu apartamento – que cava no pré-
dio dos escritórios do hospital – estava pronto, declarei que iria dormir no
dormitório de uma das enfermarias mais problemáticas do asilo. Pouco
depois, a enfermeira-chefe chegou ofegante quase em um colapso nervoso.
Seu respeito pela autoridade estava em conito com a sua desaprovação:
temos um diretor totalmente louco!” Na verdade, não foi fácil dormir em
uma grande sala onde estavam outras 20 pessoas em camas desconfortáveis
de ferro e sem nenhuma mesa de cabeceira, com os pacientes que durante
a noite mexiam comigo perturbando o sono; que fumavam e agitavam-se.
Não foi fácil usar os mesmos banheiros fedorentos, assistir ao ritual da
manhã de pacientes, que, nus e em uma linha, eram submetidos a um
chuveiro feito por enfermeiros com uma mangueira. Não foi fácil comer a
mesma comida, usar os mesmos pratos. Enquanto eu fazia isso, dava siste-
maticamente instruções, porque a partir desse momento tudo teria devido
mudar. Mas não havia nenhuma objeção e os comportamentos dos traba-
73
Boas práticas
lhadores hospitalares, repetidos durante anos, mudavam radicalmente em
alguns dias. A equipe estava confusa, divertida, dizia “cobras e lagartos
de mim. Depois de alguns dias parei. Também porque foi chamado várias
vezes pelas autoridades da saúde, que apreciavam meu gesto, mas reme-
tiam-se à grande quantidade de problemas desencadeados. Mas, naquele
tempo, tinha já conseguido armar um segundo paradigma: o da assunção
total de responsabilidade. Para derrotar uma instituição total era necessário
recorrer a uma responsabilidade total.
Há nestas duas cenas, que eu descrevi, algo mais profundo do que
a ecácia comunicativa de uma linguagem simbólica. A atenção para o caso
mais difícil (o paradigma do último) e o compartilhamento da condição
dos pacientes (o paradigma da responsabilidade) deram testemunho a um
novo pacto que foi assinado entre os “prestadores de cuidados” (os terapeu-
tas) e quem precisava de cuidados (os pacientes). Um pacto que era muito
diferente do que foi sancionado por Pinel em 1793. Na ocasião, Pinel ha-
via libertado os loucos das correntes, mas os tinha obrigado a reconhecer-
-se “doentes”, necessitantes de cuidados e de interpretações pelos médicos.
Depois de Gorizia e Trieste, no entanto, tinha-se quebrado a divisão: os
pacientes tinham recuperado a sua palavra e tornaram-se protagonistas de
sua vida
3
. Como “basagliano”, expressava, naquela hora, a vontade de fazer
uma nova aliança com os pacientes e com toda a cidade: eu me colocava
totalmente e pessoalmente em jogo. A partir desse momento não haveria esca-
patória para mim, nem uma minha situação particular, nem um espaço de
poder asséptico ou soberano, decorrente de uma disciplina que me dava o
direito de interpretar e gerir as necessidades dos loucos. A minha história,
agora, estava indelevelmente ligada a essa dessas pessoa: iríamos sair dessa
aposta ou vencedores, ou perdedores, mas sempre juntos.
“Ou nós todos, ou nenhum” como teria dito Bertold Brecht. Para
superar a incerteza de seus soldados, Cortez tinha queimado os seus navios,
evitando todo o caminho de volta à Europa: se poderia apenas ir em frente,
à Cidade do México. De um modo semelhante, nós nos comportamos,
naqueles anos - em Gorizia, em Trieste, em Imola - interpretando de uma
forma radical a nossa função de prestadores de cuidados, indo mesmo além
do que nos exigiam as disposições legislativas, quando parecia haver mais
 Nos últimos anos, este processo foi “descoberto” pelo mundo anglo-saxão, que o deniu como “recovery”.
SADE, R. M. S. (Org.)
74
preocupação com a defesa dos interesses dos prestadores de cuidados do
que com aqueles que necessitavam de cuidados. Tomar partido com os
humildes, pôr em discussão o ego forte e “reto” descrito por Kant - um
ego autocrático, intacto, coeso e autorreferencial – armar, pelo contrário,
o valor da nossa fraqueza, bem tudo, paradoxalmente, dava grande força e
credibilidade a nossa trajetória. Mas não fomos tão estúpidos a ponto de
pensar em nós mesmos como heróis, narcisisticamente graticados pelo
nosso gesto. Nós estávamos procurando, simplesmente, a dignidade do
nosso trabalho – o que mais poderíamos fazer para não se tornar opresso-
res? Basicamente estávamos procurando a nossa felicidade em uma emo-
cionante aventura de emancipação coletiva.
3) o dIa do sal e das árvores
A terceira cena se refere ao momento simbólico do m desse
processo. Refere-se à grande festa, em 1997, durante o fechamento total
do asilo de Imola. Tínhamos chamado aquele momento “O dia do Sal
e das Árvores”. Às vezes eu me lembrava do quanto Basaglia costumava
me dizer: Devemos nos comportar com o manicômio, como os antigos Roma-
nos. Quando os Romanos conquistavam uma cidade inimiga a destruíam,
arando com bois e pondo sal na terra. E isso acontecia porque o sal impede
o crescimento de qualquer coisa!”. Assim, naquele dia, dentro do antigo
hospital completamente vazio, convidamos os ex-internados, os familia-
res e todas as pessoas que participaram no processo de desconstrução do
hospital psiquiátrico. Aramos a terra, com a ajuda de dois bois brancos e
todos juntos, usuários, familiares, prossionais, cidadãos, crianças, lan-
çamos o sal nos pavilhões, nas celas fortes, nos banheiros, nos quartos do
ECT. Foi uma grande emoção, uma grande festa… a gente chorava, ria,
dançava, cantava… De Trieste, veio para a festa Marco Cavalo, o cava-
lo azul, símbolo da desinstitucionalização e da liberdade: um cavalo de
papel machê construído pelos usuários. Ao nal enchemos balões, cada
um com o nome de um dos ex-internados; alguns dos usuários presentes
escreveram palavras em um pedaço de papel ligado ao o dos balões e em
seguida os balões foram liberados levantando-se no céu. No mesmo dia,
em cada uma das 24 casas, que surgiram em diferentes localidades, como
resultado do fechamento do hospital, foram plantadas 24 árvores, signi-
75
Boas práticas
cando com isso o m de um processo e o início de um outro. Morte e
vida: anatos e Eros!
No nosso caminho ocorreram vitórias e fracassos, atrasos e avan-
ços, erros e conquistas. Não estou de fato propondo um modelo. Estou fa-
lando de uma prática. Em Imola, não temos uma sociedade perfeita, onde
acabou a discriminação, a exploração dos homens por outros homens. In-
felizmente não é assim. Mas temos esta fundamental riqueza: as pessoas
experimentaram a possibilidade de uma sociedade sem manicômios. Nós
somos testemunhas de que existe a possibilidade de conseguir a libertação
da nossa alienação (aquela dos “normais”), apenas se conseguirmos a liber-
tação da marginalização dos outros, dos loucos, neste caso.
Mesmo a cena do sal e das árvores expressava um paradigma: a
importância do mito. O intenso simbolismo coletivo daquele dia, de fato,
signicava que as histórias individuais dos pacientes, seus sofrimentos,
sua reabilitação, mas também a reabilitação dos trabalhadores e de toda
a cidade, os esforços e empenhos deles faziam parte de um processo mais
amplo de emancipação e liberdade. Naquele dia, a “pequena” história de
cada paciente ou de cada cidadão, que no processo tinha-se reconhecido,
tornou-se a “grande” história da humanidade, na sua luta pela liberdade.
Alguns desses balões libertados no céu, levados pelo vento, teriam podido
se espalhar em países distantes. Alguns – quem sabe? – poderiam até mes-
mo ter cruzado o oceano e, de alguma maneira, teriam se disseminado,em
novos contextos encontrando outros balões, com outras histórias pareci-
das. Talvez fosse no Brasil. O dia do Sal e das Árvores nos representou o
mito da esperança, da conança na capacidade dos homens em superar
injustiças e violências.
Naquele dia, que marcava o m do asilo de Imola, nós entende-
mos outra coisa: que a viagem ainda não havia terminado e que iria con-
tinuar em um território fora do hospital, cheio de contradições e institui-
ções. Mas nós tínhamos já entendido que era importante para todos, não
só o “quê” – o m do asilo, o objetivo do nosso trabalho – mas também
que tinha sido, e continuava a ser importante, o “como”. Era importante a
viagem, em si mesma, a viagem que tínhamos feito e que continuávamos a
fazer, como nos lembra o prêmio Nobel da literatura Constantino Kavas,
em seu belo poema “Ítaca”. A trajetória que Ulisses percorreu na sua via-
SADE, R. M. S. (Org.)
76
gem para chegar à sua terra, levou a inesperados encontros, sofrimentos,
conhecimentos, alegrias e decepções. Quando Ulisses chegou nalmente
em Ítaca, ele entendeu que a coisa mais preciosa foi a viagem, ou melhor, a
motivação que o levou a lutar com tenacidade e coragem para chegar à sua
terra. A nossa viagem na desinstitucionalização, a sua trajetória, foi pareci-
da: foi uma parte da nossa vida dirigida à saúde, à pesquisa dos afetos e à
restauração da justiça violada.
Tem sempre Ítaca na tua mente. / Chegar lá é o teu destino. Mas não te
apresses absolutamente na tua viagem. Será melhor que ela dure muitos
anos / para que sejas velho quando chegares à ilha, rico com tudo o que
encontraste no caminho,/sem esperares que Ítaca te traga riquezas. Ítaca
deu-te a tua bela viagem./ Sem ela não terias sequer partido.
o que podes esperar?
E se acha ela pobre/Não por esta razão Ítaca terá te decepcionado.
Sendo já sábio,/na em cima da tua experiencia.
Já você entenderá/o que Ítaca quer signicar.
Constantino Kavas
referêncIas
ARENDT, H. Vita activa: la condizione umana. Milano: Bompiani, 1989.
BRECHT, B. Poesie e canzoni. Antologia dell’opera poetica di Bertolt Brecht, con una
scelta di poesie postume. Versioni di Ruth Leiser e Franco Fortini. Prefazione di Franco
Fortini, Collana NUE n. 16. Einaudi, 1962.
CALVINO, I. Lezioni Americane. Milano: Garzanti,1988.
CAVARERO, A. Inclinazioni. Critica della rettitudine. Milano: Raaelo Cortina, 2013.
KAVAFIS, C. Settantacinque poesie. Traduzione di Nelo Risi e Margherita Dalmata.
Einaudi, 1992.
LÉVINAS, E. Etica e innito. Il volto dell’altro come alterità etica e traccia dell’innito.
Traduzione di Emilio Baccarini. Roma: Città Nuova, 1984.
VENTURINI, E. As palavras da desinstitucionalização. Spazi della Mente, anno II,
fasc.&, set-des. 1990.
VENTURINI, E. La Città proibita: nascita e ne dell’Ospedale Psichiatrico di Imola.
Imola: Galeati, 1994.
77
e Hearing Voices Approach
Paul Baker
I am from Manchester in the North West of England. I have
been a mental health activist for the over thirty ve years now. By training
and profession I am a community development worker and my work and
presentation reects this perspective.
Although I have a great deal of experience in working alongside
people diagnosed with mental health problems and with mental health
professionals, the work I have been involved with has been carried out
mostly outside of formal mental health service provision.
Today I am going to share with you three examples of
overcoming institutional thinking and systems that have succeeded
through combining innovation and partnership with local communities
and communities of interest.
I am going discuss the following:
e Hearing Voices Approach
Open Dialogue and
Trialogues
SADE, R. M. S. (Org.)
78
I will consider why and how the philosophies, practices and
outcomes of these approaches should be implemented universally as part
of the deinstintitionalization agenda.
Who are the people in this picture?
Anybody want to guess?
ey are my colleagues and friends.
ey all hear voices.
ey have all been diagnosed with schizophrenia.
ey have all recovered and no longer regard themselves as having
schizophrenia.
Like me they are all involved with he international Hearing
Voices Movement (HVM) since 1989. e movement is a prominent
mental health service-user/survivor movement that promotes the needs
and perspectives of experts by experience in the phenomenon of hearing
voices, also known as auditory verbal hallucinations within psychiatry.
e main tenet of the HVM is the notion that hearing voices is
a meaningful human experience and this is why the term hearing voices
is used rather than hallucinations. It is crucial that we recognize that
importance of language in our work.
e Hearing Voices Movement questions, critiques, and reframes
traditional biomedical understandings of voice-hearing, develop coping
and recovery frameworks, redene the ownership of power and expertise
and promote political advocacy for the rights of those who hear voices.
Formed in the 1987 it is an international social movement
made experts by experience (voice-hearers, family members) working in
partnership with experts by profession (academics, clinicians, activists).
e Hearing Voices Movement is organized into local and
national networks. It began in the Netherlands and the UK and now there
are 29 National Networks throughout Europe, North America, Australia,
and New Zealand. ere are also emerging initiatives in Latin America,
the Middle East, Africa, and Asia
79
Boas práticas
e movement holds an annual world congress, the Sixth World
Hearing Voices Congress was held in Melbourne, Australia, 2013 and was
organised by people who hear voices. It attended by 800 delegates. is
year the conference is being held in essolonika, Greece.
At these events and in all of its work the Hearing Voices Movement
seeks to combine the experience of voice-hearers and professionals in
developing ways of working that draws on the value of peer support and
that help people to live peacefully and positively with their experience.
e main nding of the Hearing Voices Movement and the
challenge for mental health services is that reducing and reifying voice-
hearing to a pathological phenomenon is not benecial in helping people
to learn to cope with their voices.
On the contrary eective practice for supporting distressed
individuals should involve trying to understand the voice-hearers frame of
reference, supporting them to change their relationship with their voices
and promoting the valuable role of peer support for decreasing social
isolation and stigma.
the core values of the hearIng voIces movement are as follows
a normalizing belief that hearing voices is a natural part of the
human experience
voices themselves are not viewed as abnormal or aberrant
voices are conceptualized as meaningful and interpretable response
to social, emotional, and/or interpersonal circumstances
diverse explanations for voices are accepted and valued
it respects that people may draw on a range of explanations to
make sense of their voices
voice-hearers are encouraged to take ownership of their experience
and dene it for themselves
in majority of cases voice-hearing can be understood and interpreted
in the context of life events and interpersonal narratives
SADE, R. M. S. (Org.)
80
A process of accepting voices is regarded as more helpful than
attempting to suppress or eliminate them.
is process involves accepting the voices as a real experience,
honoring the subjective reality of the voice-hearer
Recognizing that voices are something that the voice-hearer can—
with support—deal with the experience successfully
Peer support is seen as a fruitful means of helping people to make
sense of and cope with their voices.
Mutual support groups with emphasis on group ownership rather
than following a predetermined structure
Online support forums are an increasingly common feature
One-to-One peer work is used as a means of promoting change
Embraces principles of Intentional Peer Support
e Hearing Voices approach accords with the type of psychosocial
causal explanations and treatments favored by many service-users and their
families, psychological perspectives on voice-hearing and the general drive
toward recovery-oriented mental health practice.
Over the last year there has been a growing body of empirical
research that supports this approach including the following:
there is increasing evidence for a continuum model of voices and
similar experiences
the robust associations between voices and traumatic; adversarial
life events in both clinical and nonclinical populations
voice content is psychologically signicant and meaningful
greater levels of emotional suppression are associated with more
frequent and troublesome voice-hearing experiences
the commonality in structural voice characteristics between
psychotic patients, non-psychotic patients, and nonclinical
groups
81
Boas práticas
comparable patterns of functional activation in clinical and
nonclinical voice-hearers
links between voice-hearing and mental health problems being
primarily determined by an individual’s interpretation of and/or
emotional response to their voices
the development of relational approaches to voice-hearing within
cognitive behavioral therapy
Paradigm shift an understanding of voices as a meaningful
experience that can direct personal change and recovery creating a shared
identity, a new language, and practice of hope and situating voices as an
intelligible human experience is reassuring, reduce shame, and stigma
promotes a positive a positive therapeutic alliance.
e Hearing Voices Movement has a dual focus in that it is as
concerned about the human rights, emancipation, and societal change re.
issues of systemic adversity, abuse, and injustice that research implicates
in the origins of distressing voices and support, treatment, and healing
for instance:
Voice proling – creating a construct e.g Maastricht Interview
schedule
Voice dialoguing – talking to voices
Peer Support Groups
Trauma-informed practice
Twenty-ve years after the Hearing Voices Movement rst created
the space for people to discuss voices, ‘the voice-hearer’ has become
established as an identity people can adopt, inhabit, and mobilize
in order to lay claim to a view of voice-hearing as meaningful in the
context of peoples lives. e challenge, perhaps, for the next quarter
century is for the mental health professions fully to recognize this claim
and its potentially radical implications. (WOODS, 2013, p. 263).
SADE, R. M. S. (Org.)
82
open dIalogue: a famIly and socIal network approach to psychosIs
care
e Open Dialogue approach is an innovative approach to
people experiencing a mental health crisis and their families/networks,
and a system of care, developed at Keropudas Hospital in Tornio, Western
Lapland, Finland over the last 30 years.
In the 1980s psychiatric services in Western Lapland had
one of the worst incidences of ‘schizophrenia’. Now they have the best
documented outcomes in the Western World. For example, around 75%
of those experiencing psychosis have returned to work or study within 2
years and only around 20% are still taking antipsychotic medication at 2
year follow-up.
Open Dialogue is not an alternative to standard psychiatric
services, it is the psychiatric service in Western Lapland. It is a comprehensive
approach with well-integrated inpatient and outpatient services.
e Approach involves working with families and social
networks, as much as possible in their own homes, Open Dialogue teams
work to help all those involved in a crisis situation to be together and to
engage in dialogue.
It has been their experience that if the family/team can bear the
extreme emotion in a crisis situation, and tolerate the uncertainty - in time
- shared meaning usually emerges and healing is possible.
open dIalogue has drawn on a number of theoretIcal models,
IncludIng systemIc famIly therapy, dIalogIcal theory and socIal
constructIonIsm
de-emphasizes pharmaceutical intervention and instead establishes
a dialogue with the patient,
provides immediate help, and organizes “a treatment meeting”
within twenty-four hours of the initial contact.
sees psychosis as “happening between people, not within a
person.
83
Boas práticas
putting attention on helping improve the social relationships
surrounding the person in crisis as the key to recovery.
addresses the problems in the network of relationships surrounding
a person who is “in crisis,” rather than assuming the problem is
inside the persons head.
objectIves
Help the social network – including changing attitudes of providers
– rather than just focusing on achieving change in the person in
crisis.
e problem the process seeks to resolve is seen as being between
people and in the broader social context, not in the pathology of
the individual.
Achieves treatment outcomes — avoiding hospitalization, lowering
use of medication, and getting people through crisis
socIal networks and famIlIes
Clients are not compelled to include family members if they are
against it - safety and abuse issues are given priority.
However, separation from an abusive family is not always
considered the best strategy, because by removing oneself you may lose the
opportunity to confront and challenge the abuse.
At a “rst break” there is an opportunity to bring family dynamics
out into the open and achieve power shifts in relationships.
Someone who engages with an abusive family member directly,
and successfully overcomes emotional dependency or fear, might then
have stronger resources to transform deeper problems.
When you separate from your family, you might carry unresolved
feelings and patterns that shape the rest of your relationships and life, and
nd you havent really separated at all.
Open Dialogue Meetings
SADE, R. M. S. (Org.)
84
e aim of the meeting is dened as that of dialogue, in which
the patient can nd voice, thus reducing the persons sense of isolation.
e approach emphasizes the process of nding language for
the psychotic experience that previously was inexpressible and creating a
shared understanding of the crisis within a network.
e use of ordinary words and creation of joint meanings tends
to generate a collaborative set of relationships and to open up an avenue to
peoples own knowledge, skills, and capabilities.
outcomes
e results consistently show that this way of working reduces
hospitalization, lowers use of medication, and leads to less reoccurrence
of crisis when compared with psychosis treatment as usual. For example:
A ve-year follow-up study (Seikkula et al. 2006), 83% of patients
have returned to their jobs or studies or were job seeking, thus not
receiving government disability. In the same study, 77% did not
have residual psychotic symptoms.
e Open Dialogue patients were hospitalised less frequently,
and three per cent of these patients required neuroleptic drugs, in
contrast to 100 per cent of the patients in the comparison group.
At the two-year follow-up, 82 per cent had no, or only mild
non-visible psychotic symptoms compared to 50 per cent in the
comparison group.
Patients in the Western Lapland site had better employment status,
with 23 per cent living on disability allowance compared to 57 per
cent in the comparison group.
Relapses occurred in 24 per cent of the Open Dialogue cases
compared to 71 per cent in the comparison group (Seikkula et al.,
2003).
A possible reason for these relatively good prognoses was the
shortening of the duration of untreated psychosis (DUP) to 3.6
months in Western Lapland, where the network-centred system
85
Boas práticas
has emphasized immediate attention to acute disturbances before
they become hardened into chronic conditions.
lessons
Meet clients in crisis immediately and often daily until the crises
are resolved.
Avoid hospitalization and its consequential stigma
Preferably meet in the homes of those seeking their services
Avoid the use of anti-psychotic medication wherever possible.
Work in groups, because psychosis is a problem involving
relationships.
Include in the treatment process the families and social networks
of those seeking their help
Clinicians work in teams, not as isolated, sole practitioners
Approach values of the voice of everyone in the process, most
especially the person directly in crisis.
trIalogue groups
e creation of a community forum where everyone with an
interest in mental health participates in an open dialogue
A means of communication between service users, family members
and mental health workers beyond role stereotypes
Service users, ex- service users, survivors
family and friends
mental health workers
Citizens
e collective expertise creates learning, transformation and
communication skills
SADE, R. M. S. (Org.)
86
Respectful ground rules ensures open dialogue is possible
e common denominator is an interest in mental health
characterIstIcs of open dIalogue processes and partIcIpatIon
e dialogue is based on give and take as opposed to one way
communication
All people concerned by the issue under investigation should have
the opportunity to participate
Participants are obliged to help other participants be active in the
dialogue
All participants have the same status within the dialogue arena
Experience is the point of departure for participation
At least some of the experience the participant has when entering
the dialogue is seen as relevant
It must be possible for all participants to have an understanding
for the topics under discussion
An argument can be rejected only after an investigation (and
not for instance, on the grounds that it arises from a source with
limited legitimacy)
All arguments to enter the dialogue must be represented by the
actors (participants) present
All participants are obliged to accept that other participants may
have better arguments than their own
Among discussion issues can be the roles occupied by participants
with no one exempt from such a discussion
e dialogue should be able to integrate a growing degree of
disagreement
e dialogue should continuously generate decisions that provide
a platform for joint action
87
Boas práticas
meets regularly in an open discussion forum
located on “neutral terrain” outside any therapeutic, familial or
institutional context
aim of communicating about and discussing the experiences and
consequences of mental health problems and ways to deal with
them
on an equal footing – as experts by experience and experts by
training or both.
Well over 150 groups in Germany today
5000 people involved in Trialogue at any given time (Bock & Priebe, 2005)
Trialogues in Austria, Switzerland, France, Lichtenstein, Poland
Istanbul, Beijing, Buenos Aires et al.
Growing interest in english-speaking countries:
Mental Health Trialogue Network, Ireland www.trialogue.co
what Is a mental Illness?
Good and bad experiences with services
what helps?
e role of medication
Crisis management
Stigma and discrimination
Work and social inclusion
Power, powerlessness, and empowerment
e family doctor as a trialogue partner
SADE, R. M. S. (Org.)
88
Where are the professionals?
e “good” psychiatrist – dierent perspectives
When help has more unwanted than wanted eects
Diagnosis as a trap – being put in a box
Spirituality and mental health
Hopes for recovery and healing
Day clinics – why so few?
From aftercare to prevention – easy access to early help
Clinical and eld trials – experimenting with patients
Silent users – who is helping them?
Features
Neutral setting
all expertise acknowledged on equal footing
no need for role compliance
Creative exchange and experiments with perspectives
Learning, information gathering, asking questions
Experiencing dierent interpretations of similar roles
Abundance of expertise in one room
Secure setting, rules, limits (time, communication style etc.) power
balance?
Outcomes: is openness must continue
Communication in trialogue groups is clearly dierent from clinical and
other encounters
Groups cherish and aspire to create:
Mutual concern for each other
good will
openness and truthfulness
89
Boas práticas
Clinical routine with role prescriptions, power balance and constant
pressure to act is experienced as an impediment
Trialogue facilitates a discrete and independent form of communication
and acquisition and production of knowledge
Common emes
Partnership and shared responsibility
Relationships based on trust and rapport
Recognising expertise and strengths
Nothing about me without me
Reciprocity and equality
Authenticity and congruency
Shared interests and values
Implications
Professional boundary and control issues need to be considered
We are people rst
We are visitors in people lives
We should aim to make ourselves redundant in peoples lives
We should work with social networks
Whole life recovery is the objective
recovery relatIonshIps are fostered by:
Being listened to
Feeling valued
Connectedness
Shared language
Continuity
Shared time
SADE, R. M. S. (Org.)
90
reference
WOODS, A. e voice-hearer. J Ment Health, v. 22, p. 263-270, 2013.
91
Inclusione sociale delle persone
svantaggiate: processi di capacitazione e
per lo sviluppo umano nei servizi per la
salute mentale a Trieste
Giuseppina Ridente
La società umana è diversa dal branco di animali perchè qualcuno può
sostenervi; è diversa perchè è in grado di convivere con gli invalidi,
tanto che storicamente la società umana potrebbe dirsi nata insieme
con la compassione e con l’aver cura; qualità soltanto umane […] Non
riesco a pensare a niente che sia più importante di questo. E’ da qui che
si deve cominciare (Bauman, 2009).
premessa
La tematica della lotta all’esclusione è contenuta in tutti i
documenti europei degli ultimi anni, dal Libro Verde in poi, che hanno
riguardato l’ambito sociosanitario e in particolare la salute mentale.
Il documento dell’OMS sui determinanti sociali di salute
sottolinea l’importanza dell’integrazione sociosanitaria nella risposta ai
bisogni fondamentali e alle necessità di partecipazione sociale. Secondo
tale documento i fattori principali che, a diverso titolo, hanno un impatto
sulla distribuzione della salute e del benessere degli individui e delle
popolazioni, sono il contesto politico e socio economico; la posizione
socio-economica della persona: reddito, istruzione, occupazione, genere,
gruppo etnico/razza, classe sociale.
SADE, R. M. S. (Org.)
92
In particolare il reddito e l’istruzione incidono in modo
signicativo sullo stato di salute: più elevati sono i livelli di reddito e di
istruzione più favorevoli sono gli indicatori di salute.
A tali determinanti deniti “strutturali” sono associati i
determinanti intermedi” e cioè i fattori la cui azione è più direttamente
legata all’insorgenza/aggravamento di malattia: condizioni ambientali,
psicosociali, comportamenti individuali, coesione sociale ecc.
Di fatto le variabili statistiche più signicative utilizzate per
misurare il grado di inclusione sociale sono:
il reddito disponibile,
il livello di istruzione,
la capacità di iniziativa familiare,
l’inserimento occupazionale,
l’accessibilità al mercato immobiliare,
il livello di occupazione femminile,
la capacità di lavoro in proprio.
Secondo un approccio che supera una visione strettamente
economicista, l’inclusione sociale va intesa come il processo in cui le
persone hanno l’opportunità di vivere secondo le proprie scelte e valori
con la nalità di poter migliorare le proprie condizioni di vita.
Si realizza quando tutti gli individui e i gruppi godono degli
standard essenziali di qualità di vita, le disparità tra le persone e i gruppi
sono socialmente accettabili e il processo attraverso il quale vengono
raggiunti questi risultati è partecipativo ed equo.
Gli elementi sui quali orientare politiche integrate volte a
promuovere eettiva inclusione sono (secondo autori come Bauman,
Beck, Nussbaum e Sen) l’integrazione sociale di chi è emarginato, la
partecipazione e l’empowerment, i diritti di cittadinanza, lo sviluppo delle
capabilities, il ruolo del legame sociale e l’istanza di solidarietà.
93
Boas práticas
la complessItà della qustIone InclusIone socIale
Parlare di inclusione sociale nel contesto attuale rappresenta
però una sda complessa. Viviamo una fase storica critica dello sviluppo
delle società capitalistiche: impoverimento diuso del ceto medio, povertà
nuove, disgregazione dei legami sociali signicativi, individualismo diuso
in tutte le relazioni della vita quotidiana, smagliamento del reticolo sociale
con conseguente riduzione del sostegno sociale.
Negli ultimi 10-15 anni abbiamo assistito ad un processo di
progressiva precarizzazione del lavoro accanto ad un ridotto investimento
formativo e ad un minor esercizio di potere e di autodeterminazione da
parte del cittadino fragile e non.
In questa cornice la società sembra sempre più orientarsi alla
didenza e al risentimento verso il diverso e, tranne qualche eccezione,
sembra andare verso l’aumento delle diseguaglianze che si accompagnano
ad una riduzione della sfera dei diritti della persona.
Basta osservare i dati della disoccupazione nei nostri paesi e
l’aumento della povertà sociale in tante città per rendersi conto del periodo
dicile nel quale siamo. Parlare di inclusione sociale senza interrogarsi
sul modello di sviluppo sociale costruito negli ultimi decenni, rischia di
non farci comprendere come funziona la produzione dell’esclusione e la
riduzione dei diritti più elementari per tanta gente.
L’inclusione è, dunque, un obiettivo sociale e, nonostante
l’alleanza tra le persone oggi non sia più tanto invocata, occorre invece
investire proprio sui legami di comunità per creare contesti inclusivi.
Parlare di inclusione sociale, in questa realtà, può quindi solo voler dire
rimettere al centro alcuni concetti fondamentali della pratica sociale quali
eguaglianza, giustizia, solidarietà e cooperazione. Più che mai, inoltre, in
una situazione di crisi economica e carenze di risorse parlare di costruzione
di percorsi di inclusione e salute implica costruire opportunità concrete di
empowerment e autonomia per le persone (casa, lavoro, relazioni).
Per favorire i processi di inclusione vanno messi, dunque, in
campo sistemi di azione diversi, quali la relazione di aiuto da una parte e
la promozione di contesti che integrano dall’altra. Viene così sviluppato
sia un lavoro relazionale, per riposizionare gli individui come attori del
SADE, R. M. S. (Org.)
94
proprio progetto di vita e per sostenerli nei percorsi emancipativi e di
empowerment; sia un lavoro di mediazione sociale e mobilitazione del
territorio dove vive l’individuo per migliorare le condizioni di inserimento
e contrastare i rischi di isolamento e marginalità.
Va però rilevato che nella pratica dei servizi, nella costruzione
di percorsi di inclusione sociale, l’elemento che rimane spesso poco
interrogato e valorizzato nei suggerimenti che può dare è proprio il
territorio. Sottovalutarlo nella sua potenzialità o non considerarlo aatto
priva i soggetti di un interlocutore indispensabile alla declinazione di
progetti personalizzati. Assieme ai servizi, esso contribuisce infatti a
comporre la rete attraverso la quale si costruisce salute.
Come scrive Righetti si delinea la necessità di un
programma di trasformazione prograssiva degli interventi, da forme
prevalentemente sanitarie di risposta al bisogno socio-sanitario, a
forme partecipate ed organiche al tessuto sociale, capaci di innescare
sviluppo umano esteso, scelta di opportunità per le persone, le famiglie,
le comunità locali (RIGHETTI, 2013).
L’obiettivo dell’inclusione sociale sembra però aver subito un
ridimensionamento di priorità nelle pratiche quotidiane dei servizi per la
salute mentale, rispetto al prevalere di una cultura dell’emergenza e della
crisi. La cultura “sanitaria” nei servizi sta di fatto prendendo sempre più
spazio a discapito della costruzione di percorsi di salute e benessere più
complessivi, di supporto ai progetti di vita delle persone considerate nel
loro aspetto più intero. Ciò benchè il concetto di approccio globale (whole
life - whole system), centrato sulla persona e basato sui diritti, si riconfermi
come quello che meglio risponde alla complessità dei bisogni portati
dalle persone e dalle comunità. E’ necessario dunque ricollocare strategie,
strumenti e partner, necessari alla concretizzazione di progetti di vita più
globali per le persone svantaggiate, quali cuore di ogni intervento.
La crisi dei conti pubblici ha inoltre originato una crisi dei
sistemi di welfare mettendone in discussione la sostenibilità economico-
nanziaria. Il tema della insucienza delle risorse pubbliche rispetto alla
eccedenza di bisogni e domanda di buona vita da parte di cittadini esclusi o
non sucientemente integrati nella società, accompagna infatti da sempre
95
Boas práticas
i sistemi di welfare. Come conciliare le risorse nanziarie pubbliche calanti
con i bisogni in aumento delle persone svantaggiate è la domanda che più
di ogni altra ritorna e grava, in questa fase storica, nella pratica quotidiana
delle istituzioni.
La crisi di welfare ha, d’altro canto e paradossalmente, favorito
l’emergere di nuove forme di coinvolgimento partecipativo dei cittadini a
livello di comunità locali e l’avviarsi di soluzioni organizzate nella gestione
dei servizi sociali, intermedie tra la dimensione del pubblico e quella privata
di mercato o del privato sociale, caratterizzate, a volte, nella direzione
dell’autogestione. Oggi la situazione di crisi sembra, infatti, accentuare
e accelerare la necessità di trovare soluzioni altre, spinge a dar sostanza
a parole importanti quali coesione sociale, comunità, partecipazione,
reciprocità, molto usate ma ancora troppo poco concretizzate. Le persone
sono spinte ad autorganizzarsi e a cercare in idee nuove e nuove alleanze
una possibile via di uscita attraverso i movimenti che animano la società
(associazionismo, centri sociali, attivisti delle grandi città etc.).
processI dI capacItazIone
I percorsi di cura hanno bisogno, per poter essere ecaci, di un
contesto ambientale e relazionale volto al sostegno del funzionamento
sociale delle persone con problemi di disabilità o malattia. E’ indispensabile
attivare pratiche riabilitative e per l’empowerment che promuovano la
ripresa di un funzionamento sociale accettabile e l’incremento della qualità
dell’habitat sociale che punti all’eliminazione degli ostacoli al processo di
sviluppo umano. “Sono infatti proprio gli impedimenti esterni all’accesso
ed esercizio dei diritti espressivi, formativi, lavorativi, di habitat sociale, che
trasformano una persona vulnerabile o a rischio in un caso di disabilità.
(RIGHETTI 2013).
Progettualità tese a favorire l’empowerment dei soggetti,
realizzate in partenariato con le diverse agenzie territoriali e indirizzate
a migliorare le possibilità di recovery, rappresentano oggi elementi
qualitativi imprescindibili dell’azione inclusiva messa in campo negli
interventi di carattere sociosanitario. Questo signica garantire, sia
nell’ambito della prevenzione, dell’educazione sociale che in quella della
SADE, R. M. S. (Org.)
96
riabilitazione, l’eguaglianza delle opportunità attraverso lo sviluppo
delle capacità. Oppure, per usare l’espressione di A. Sen, lo sviluppo
delle capabilities, denite come “l’insieme delle risorse relazionali di cui
una persona dispone, congiunto con le sue capacità di fruirne e quindi
di impiegarle operativamente”, cioè la “facoltà di agire e di scegliere
della persona in tutta autonomia” (SEN, 1992). Per Sen, quindi, più
che di uguaglianza dei diritti bisogna parlare di “uguaglianza delle
libertà” di ognuno nella società in una prospettiva d’inclusione e di
sviluppo di tutti.
Secondo Nussbaum, inoltre, gli individui si dierenziano a
seconda della loro capacità di convertire le risorse in funzionamenti dove
“...lo snodo è rappresentato dalle capacità necessarie per appropriarsi
delle risorse e, attraverso queste, promuovere la realizzazione della propria
persona – che cosa una persona è eettivamente in grado di fare e di
essere. [...] Ogni persona dunque deve essere messa in grado di esplicitare
il proprio ventaglio di competenze, per quanto residuali, così aermando
il principio della capacità individuale e della persona intesa come arbitro
circa i propri bisogni” (NUSSBAUM, 2011).
Processi di capacitazione sono quelli che mettono una persona in
condizioni di poter interagire positivamente con il suo contesto, di poter
accedere e utilizzare le risorse disponibili per tradurli in funzionamenti
e poter agire e scegliere la propria vita. Povertà, marginalità e privazione
riducono le capabilities e la libertà di realizzazione umana. L’istruzione e
un’assistenza sanitaria migliori risultano fondamentali per la libertà goduta
dagli individui permettendo loro una miglior qualità della vita, creando le
condizioni per favorire lo sviluppo di tutte le potenzialità della persona e
riducendo conseguentemente i costi sociali per l’assistenza. “Creare però le
condizioni che favoriscono la realizzazione dei diritti ed il funzionamento
delle capacità delle persone, in particolare quelle svantaggiate, presuppone
una comunità che si faccia carico della relazione di aiuto e della relazione
di cura” (SEN, 2001).
Quali dunque le strategie per un servizio pubblico che decide
di riarontare la questione del modo di fare salute e costruire contesti
inclusivi, rimettendo in campo ragionamenti e interventi più globali che
diano miglior risposta alla complessità di tempi e bisogni?
97
Boas práticas
Il ruolo del servIzIo pubblIco: lesperIenza dI trIeste
E’ fondamentale che i servizi territoriali, nell’organizzare il
proprio agire, si muovano nella logica di promuovere, valorizzare, sostenere
attivamente le capacità di responsabilizzazione e di protagonismo degli
utenti, delle famiglie e delle organizzazioni di utilità sociale che nascono
all’interno delle comunità locali, al ne di costruire assieme la risposta ai
diversi bisogni. Curare signica attivare più che assistere, confrontarsi con
le abilità, pure residue, più che con le disabilità, essere operatori/trici della
mediazione e facilitazione più che della tutela e dell’invalidazione, uscire da
un rapporto terapeutico duale, per mettere in connessione persone e mondi
di norma separati, ricercare pluralità di soggetti e qualità di interventi.
L’organizzazione del sistema dei servizi di salute mentale a
Trieste
1
, a partire dal processo di deistituzionalizzazione nell’approccio alla
malattia mentale, ha sperimentato modalità organizzative e terapeutico-
abilitative che hanno progressivamente portato a considerare la centralità
delle persone e dei loro diritti come l’obiettivo principale dell’intervento.
Il progetto terapeutico-abilitativo personalizzato ha assunto il ruolo
del più importante dispositivo di intervento nel percorso di cura e di
inclusione sociale, a partire dal primo contatto di un cittadino con i
servizi di salute mentale.
Appare inoltre rilevante sottolineare che nelle strategie
organizzative delle risorse disponibili, umane ed economiche, si è
continuativamente investito nella creazione, nella crescita, nello sviluppo e
nell’autonomizzazione di soggetti altri, possibili interlocutori ed alleati del
processo emancipativo e di benessere di chi vive l’esperienza del disagio. Ed
è a partire da tale logica che, oggi, in una sempre più chiara consapevolezza
dell’impossibilità strutturale del Pubblico di rispondere in modo esaustivo
alla domanda di salute della popolazione aerente ai diversi servizi, si rende
necessario consolidare o avviare pratiche di integrazione, coinvolgimento,
partecipazione informata, allargamento della rete degli attori coinvolti
A Trieste l’investimento continuativo sviluppatosi a partire dal processo di deistituzionalizzazione nell’approccio
alla malattia mentale permette, oggi, di “congurare una realtà operativa che si avvale di numerosi strumenti di
intervento. Il Centro di Salute Mentale sulle 24 ore, la domiciliarità degli interventi, la formazione, la borsa di
inserimento lavorativo, l’approccio multidisciplinare degli interventi, i programmi psicoeducativi e di sostegno
alle famiglie, il lavoro in rete con altre Agenzie istituzionali, le imprese sociali, l’accoglienza comunitaria, le
attività laboratoriali, socializzanti e ricreative rappresentano gli strumenti operativi che vengono variamente
modulati all’interno dei progetti terapeutico-abilitativi personalizzati” (DELL’ACQUA, 2003).
SADE, R. M. S. (Org.)
98
nella costruzione di politiche e assetti fortemente incardinati nel territorio
e con la comunità.
Si ricorda in tal senso il ruolo storicamente importante assunto
dalla Cooperazione Sociale nel quadro del sistema di Welfare regionale. La
Cooperazione Sociale è sorta, fra le prime in questa Regione, a partire da
forme di autorganizzazione sociale di operatori del settore e di utenti dei
Servizi socio-sanitari, permettendo la crescita di un rapporto di partnership
pubblico/privato sociale che costituisce risorsa insostituibile al ne di
incrementare il “sistema delle opportunità” nel territorio.
Nel processo di produzione di cittadinanza e empowerment
i servizi di salute mentale sono impegnati nella progettazione,
costruzione e stabilizazione di una rete di opportunità di formazione
e sviluppo di capacità, come supporto per il reinserimento sociale
delle persone in dicoltà, realizzando laboratori per l’acquisizione
di competenze del vivere quotidiano rivolto ai soggetti con disagio
o a rischio di emarginazione sociale in collaborazione con il privato
sociale. L’obiettivo è quello di sostenere le persone svantaggiate in un
percorso di riabilitazione socio-culturale e di sviluppo umano, il che
signica innanzitutto lo sviluppo delle capacità delle persone aanco
all’incremento della loro possibilità di acceso alle risorse attraverso
percorsi formativi (training, living e vocational skills) e di informazione
(psicoeducazionali e consapevolezza sociale). Ma è innanzitutto un
processo di ricostruzione dei diritti di cittadinananza, dove un buon
intervento di reintegrazione delle persone con disabilità psichica deve
fondarsi su 3 assi prioritari: la casa il lavoro e la socialità, portando le
persone a raggiungere il miglior livello di vita possibile, coinvolgendo
anche la famiglia del soggetto e quanti sono a lui vicini.
Il processo di ri-abilitazione presuppone quindi la realizzazione
di un intervento di sostegno competente alla ri-appropriazione da parte
dell’utente di abilità perse, ma soprattutto l’esistenza di luoghi e situazioni,
contesti, in cui spendere queste abilità: sistema delle opportunità. Questa
sintesi tra sostegno ed opportunità genera il ripristino del funzionamento
sociale delle persone e incide positivamente sulla prognosi delle persone
con disturbo psichico.
99
Boas práticas
Il Dipartimento di Salute Mentale deve mantenere la titolarità
della presa in carico e della cura anando sempre più, da un lato le
dimensioni clinico/terapeutiche e dall’altro un’alta funzione di governo
complessivo delle risorse in gioco nei percorsi di cura. Instaurando
relazioni di partenariato dove le risorse economiche destinate alle attività
di riabilitazione vanno interpretate come investimento per la creazione
di legami sociali e nuove opportunità di sviluppo locale. Il lavoro degli
operatori (pubblico e privato) deve essere dunque indirizzato a ricreare
reti sociali generative di relazioni e di solidarietà, e il ruolo del partner
non dovrà ridursi a gestore di strutture, più o meno protette, ma diventare
soggetto imprenditoriale che costruisce occasioni di casa, lavoro e socialità
e fornisce gli adeguati supporti non specialistici per la fruizione di queste
opportunità da parte degli utenti.
Si valuta signicativo a questo punto fare riferimento ad alcune
questioni considerate prioritarie, nell’attivazione di processi inclusivi, e
cruciali rispetto alla vita delle persone in particolare se portatrici di una forma
di disabilità. Ci si riferisce qui ai tre assi portanti dei processi ri-abilitativi:
casa-lavoro-socialità. Queste aree corrispondono ai principali determinanti
sociali di salute e costituiscono, come ampiamente riconosciuto nella
letteratura internazionale, i supporti sociali indispensabili per esercitare
protagonismo sociale e partecipazione. Per le persone svantaggiate diviene
spesso dicile esercitare questi diritti di base e ancor più sperimentare in
piena autonomia queste opportunità. E’ in queste situazioni che i servizi
aancati dai partner, in particolare del privato sociale, devono sostenere
le persone a concretizzare ed esercitare il diritto ad abitare una propria
casa, lavorare dove è possibile o in ogni caso costruire dei progetti con
senso per la propria vita. L’obiettivo è la costruzione e promozione di
ambienti supportati, da operatori e reti di sostegno, dove le persone con
disabilità possano esercitare il proprio diritto di vita quotidiana autonoma
per quanto è possibile.
laboratorI permanentI dI cIttadInanza
Nelle pratiche di lavoro dei servizi per la salute mentale a Trieste
assume una specica valenza per il processo di sviluppo umano e recovery
SADE, R. M. S. (Org.)
100
la rete dei laboratori e centri diurni diusi nella città che prendono il nome
di “Laboratori permanenti di cittadinanza”, organizzati funzionalmente in
diverse sedi e in partnership con moltelplici compagini sociali, operanti nei
diversi settori, che collaborano a vario titolo alla costruzione dei percorsi
abilitativi e di inclusione sociale. Si creano contesti che permettono alle
persone di cambiare l’immagine di se stessi, esprimendo aspetti altri di se
dierenti dalla sola malattia.
Sono laboratori di formazione, progettazione e realizzazione
di programmi che promuovono e sviluppano capacità e attitudini
espressive e relazionali, di ri-appropriazione di identità e che prevedono il
coinvolgimento diretto in tutte le fasi, delle persone portatrici di disagio,
al ne di sviluppare percorsi di progressiva autonomia.
Nell’ambito di progetti terapeutico-riabilitativi personalizzati, i
diversi programmi consentono di sperimentare e apprendere abilità nella
cura di sé, nelle attività della vita quotidiana e nelle relazioni interpersonali
individuali e di gruppo, anche ai ni dell’inserimento lavorativo, articolando
i propri programmi in luoghi dierenziati e, concertando le attività con le
cooperative sociali e le associazioni convenzionate e/o accreditate con il
Dipartimento di salute mentale.
Questi percorsi, orientati alle diverse aree di bisogno e fasce d’età,
coprono una serie di aree di signicato riabilitativo e sono organizzate in
moduli e corsi specici, tali da costituire una oerta per individui e gruppi
in relazione ad aree d’interesse diversicate in modo da dare agli utenti una
possibilità di scelta tra le diverse opportunità e proposte in relazione alla
diversità di bisogni, esigenze e propensioni:
benessere
I programmi proposti sono mirati alla promozione di benessere,
miglioramento degli stili di vita, supporto alla motricità generale e al
superamento della perdita di abilità siche. Vengono proposte attività
motorie di carattere sportivo e ricreativo anche in collaborazione con altre
realtà sportive operanti nel territorio, che facilitino la consapevolezza di se
e del proprio corpo ed il prendersene cura. Questo attraverso programmi
individuali e di gruppo che favoriscono la socialità ed il coinvolgimento
101
Boas práticas
di persone provenienti dall’area dello svantaggio in contesti condivisi con
tutta la cittadinanza.
aggragazIone, socIalIzzazIone
Vengono proposte attività di socializzazione, programmi e
iniziative culturali e aggregative che permettano lo sviluppo degli interessi
e delle attitudini personali dei partecipanti al ne di sviluppare capacità e
attitudini espressive e relazionali e percorsi di progressiva autonomia. Si
tratta di percorsi modulari di formazione socioculturale e di conoscenza di
sé e della realtà territoriale, organizzati in sinergia con diverse associazioni.
I programmi sono nalizzati al raorzamento e all’inclusione sociale di
persone in situazioni di marginalità, facilitando l’accesso e la conoscenza di
nuovi punti di riferimento presenti nel territorio e costruendo contesti che
facilitino la socializzazione e la condivisione. Le attività proposte prestano
particolare attenzione, inoltre, alle fasce orarie serali ed i giorni festivi che
spesso sono contraddistinti da solitudine e isolamento.
espressIone e lotta allo stIgma
Vengono realizzati programmi a carattere espressivo culturale
quali laboratori di carattere teatrale, musicale, pittorico e, più in generale,
artistico, nalizzati all’organizzazione di performance, mostre, piece
teatrali, concerti.
Si organizzano eventi pubblici di lotta allo stigma e di
sensibilizzazione della cittadinanza, partecipando ad eventi cittadini,
nazionali ed internazionali per la sensibilizzazione sul tema dell’inclusione
sociale e del contrasto a forme di emarginazione e pregiudizio in
collaborazione con teatri, locali pubblici, associazioni e diversi soggetti
pubblici e privati.
partecIpazIone
Vengono attivati gruppi trasversali di protagonismo dell’utenza,
costituiti da familiari e persone con esperienza del disagio psichico, operatori
SADE, R. M. S. (Org.)
102
del settore, rappresentanti di associazioni e cittadini per promuovere
l’informazione e la sensibilizzazione dell’opinione pubblica.
Questi gruppi promuovono il sostegno tra pari attraverso percorsi
formativi nalizzati a valorizzare la gura del peer supporter nei servizi
di salute mentale per un suo coinvolgimento nell’attività di accoglienza,
nell’organizzazione di gruppi di self-help, nella costruzione di ricerche
partecipate sulla qualità dei servizi stessi. Viene promosso lo sviluppo di
contesti innovativi nalizzati alla valorizzazione dell’esperienza soggettiva
per la diusione di saperi fondati sulla recovery.
specIfIcItà dI genere
Vengono organizzati programmi nalizzati alla crescita della
consapevolezza di genere attraverso il raorzamento dell’identità
soggettiva e di gruppo, facilitando un continuo confronto favorente la
partecipazione, lo scambio, il sostegno tra pari. Si promuovono attività
culturali e di sensibilizzazione sulle tematiche di genere, programmi di
accoglienza e di sostegno pratico, anche a domicilio, progetti formativi
e abilitativi improntati all’approccio di genere, attività di reciproco
sostegno nalizzata alla promozione della salute della donna. Tutti
i programmi vengono realizzati in rete con altre agenzie associative e
istituzionali del territorio.
abItare/abIlItare
La questione dell’abitare è questione fondamentale nei processi
di autonomia e soggettivazione, l’assenza o l’impossibilità ad abitare
una propria casa costituiscono fattori di aggravamento di ogni forma di
disagio e marginalità, se non ne sono causa principale laddove obbligano a
convivenze indesiderate e dannose o impediscono alla persona la possibilità
di sperimentare situazioni più emancipanti.
Le persone che accedono alle strutture residenziali sono
prevalentemente quelle con minor contrattualità, a maggior rischio di
stigma e invalidazione sociale, ostacolate nell’esercizio di essenziali diritti
di cittadinanza. Ed è proprio con queste persone che è più facile correre
103
Boas práticas
il rischio di proporre modalità di gestione spersonalizzanti e di ricreare
condizioni di istituzionalizzazione.
In Italia si è registrato nella seconda metà degli anni 90 un forte
incremento dei posti letto in strutture psichiatriche residenziali. Dopo la
riforma si è sviluppata una vasta e controversa tipologia di residenzialità
assistita e rimane carente una più chiara denizione della progettualità più
complessiva riferita alla residenzialità come strumento di inclusione sociale
e di come vengono investite le risorse in queste, qualicando e valutando
gli esiti degli interventi.
Risulta importante distinguere tra residenzialità terapeutica,
bisogno abitativo, e ancora dierenti sono le strutture abitative a prevalente
connotazione assistenziale. Il più delle volte le strutture residenziali sono
un misto di tutto ciò e rispondono molto spesso innanzitutto alla domanda
del “dove lo metto”, più che a tempi e priorità delle persone ospitate.
C’è inoltre uno scarto tra l’aspettativa ottimistica che il percorso
residenziale debba considerarsi un segmento della presa in carico
complessiva del paziente grave, e che quindi, come tale, debba avere un
inizio ed una ne, e la constatazione della problematicità di chiudere
tale segmento” (GALLIO, 2005).
Il prolungamento dei tempi di trattamento residenziale rappresenta
un forte elemento di criticità dell’intero sistema di salute mentale, e come
tale deve essere osservato, descritto e sottoposto a discussione.
La residenzialità è, nel sistema dei servizi per la salute
mentale, uno degli strumenti che favorisce e sostiene il processo di
deistituzionalizzazione quando costituisce fase di transizione verso un
abitare supportato a più pieno diritto per le persone, restituisce strumenti
di capacitazione e competenze per poter abitare il sociale in un processo
continuo di inclusione. Al contrario quando perde la spinta verso il “fuori
e l’attenzione a far crescere la contrattualità degli ospiti, blocca il processo
stesso fermandolo ad una tappa che di fatto nisce con l’immobilizzare i
soggetti ad un ruolo di perenni ospiti e mai “padroni di casa”, orendo alle
persone un luogo dell’abitare che poco risponde al riconoscimento di un
diritto all’abitare.
SADE, R. M. S. (Org.)
104
Quanto il fornire alle persone servizi e strutture si tramuta in
un obbligo a barattare in cambio la loro libertà e autodeterminazione,
avallando e rinforzando così la creazione di sacche di cronicità?
Una struttura residenziale deve rimanere un luogo transitorio
in continuo divenire, dove è previsto il passaggio da una situazione più
assistita ad una meno e dove le persone che vi sono ospitate possano in
ogni caso progressivamente spostarsi in una casa che sia, inne, la propria
casa; scena abitativa che parla della vita di una persona soggetto e non
oggetto passivo di cura.
Gli operatori e le operatrici che operano nelle strutture
residenziali, il cui lavoro consiste nell’occuparsi giorno dopo giorno di
persone che spesso hanno basse capacità di contrattazione, sono quelli che
più di altri rischiano costantemente di cadere in una dimensione di routine
nella gestione del quotidiano, e di incorrere nell’errore di sostituirsi alla
persona nelle scelte e nelle decisioni. E’ proprio in queste situazioni che
personalizzazione dei progetti, interventi che si modicano adeguandosi
costantemente al cambiare delle situazioni, risultano importanti per
mantenere presenza e attenzione alle singole persone.
Nell’esperienza di Trieste negli ultimi 10 anni c’è stata una
progressiva trasformazione dell’assetto della rete delle strutture residenziali
esistenti. L’intero processo, avviato nel 2005, è stato indirizzato alla
disarticolazione e trasformazione di strutture residenziali verso situazioni
più vicine ai bisogni delle persone coinvolte, favorendo e sostenendo
la riappropriazione degli spazi dell’abitare in un processo di forte
personalizzazione dei progetti. Lo strumento utilizzato, per sostenere
questo processo, è stato quello del Budget di salute-progetto personalizzato.
Il passaggio operativo e concettuale attuato, da strutture residenziali
a percorsi personalizzati di abitare supportato, ha prodotto una serie di
ricadute positive su tutti i soggetti coinvolti nel processo stesso.
L’introduzione della metodologia del Budget di salute/Progetto
personalizzato
2
ha permesso una riconversione della risorsa economica
Nella complessità dello scenario che la crisi del Welfare e le politiche di integrazione sociosanitaria hanno
prodotto, il budget individuale di salute si presenta come lo strumento di nanziamento innovativo, che
riguarda le forme contrattuali nel rapporto tra pubblico e privato sociale, che permette di sostenere i progetti
personalizzati tenendo conto e coinvolgendo tutti gli attori e le possibili risorse che sono in gioco, trasformando
i costi assistenziali in investimenti produttivi.
105
Boas práticas
investita nelle strutture (retta per l’accoglienza) in risorsa indirizzata alla
persona, permettendo un sostegno personalizzato anche presso il proprio
domicilio. In questo modo è stato possibile, con la chiusura di alcune delle
strutture residenziali esistenti, attivare progetti individualizzati di abitare
supportato e di inclusione lavorativa.
Dopo circa 10 anni dall’avvio della metodologia del Budget di
Salute è stato possibile riconvertire risorse economiche indirizzate alla
gestione di Strutture Terapeutico Riabilitative sulle 24 ore individuando
risposte alternative anche per persone ad alto bisogno di assistenza. In
questo arco temporale sono state chiuse cinque strutture che ospitavano
da più di 10 anni 44 persone e, attraverso un lavoro di riformulazione dei
progetti, individuate soluzioni alternative improntate alla domiciliarità e a
un maggior livello di autonomia. Al contempo è stato possibile prevenire il
ricorso alla residenzialità (nuova domanda) avviando progetti personalizzati
in collaborazione con il Comune e con l’Ater
3
capaci di promuovere nuove
modalità di abitare assistito e potenziando forme di supporto domiciliari.
la questIone del lavoro
La tutela del diritto al lavoro per le persone con disagio
mentale è sempre stato uno strumento importante di inclusione sociale.
L’inserimento lavorativo dei soggetti fragili risulta fattore fondamentale
dei percorsi di integrazione e di superamento della condizione di assistiti.
La persona svantaggiata che lavora ed ha un proprio sistema di relazioni
cessa di rappresentare un elemento di problematicità e costi e acquisisce un
nuovo status che le consente di contrastare i meccanismi di inabilitazione
ed emargianzione.
Il diritto al lavoro va concretamente perseguito, per le persone
in condizioni di disagio, nella normalità degli scambi e delle relazioni,
in sistemi aperti, nella costruzione di mondi veri del lavoro, in contrasto
Il costo nale del progetto è composto da un mosaico di risorse che riguardano più servizi ed enti includendo
anche la risorsa privata. Ed è proprio questo mix di risorse la caratteristica del budget di salute che corrisponde
ad un costo personalizzato non solo nel suo ammontare ma anche nel modo in cui la somma complessiva viene
composta.
L’azienda territoriale per l’edilizia residenziale della provincia di Trieste (ATER) realizza e gestisce il patrimonio
di edilizia residenziale pubblica presente nella provincia di riferimento.
SADE, R. M. S. (Org.)
106
con una cultura che ancora persiste nei numerosi laboratori protetti
come eredità, dicile da estirpare, dell’ergoterapia e delle varie terapie
occupazionali, basate sull’idea di una incapacità di fondo del soggetto con
soerenza psichica.
Da ciò la necessità per i servizi di individuare spazi attraversabili,
di stringere alleanze con agenzie e soggetti, anche economici, capaci di
proporre nuove opportunità e di porsi come interlocutori attivi di un’azione
comune rivolta alla promozione dell’inserimento lavorativo di chi, per la
propria storia di disagio, non accede direttamente alle opportunità e alle
risorse del territorio.
Che signica però oggi parlare di diritto al lavoro per le persone
svantaggiate e come è possibile costruire opportunità di lavoro in un
contesto in cui c’è sempre meno lavoro per tutti? Queste domande negli
ultimi anni assillano più che mai operatori, familiari e utenti dei servizi.
Gli strumenti consueti sembrano spuntati, la crisi economica dilagante
rende sempre più dicile l’inclusione lavorativa delle persone portatrici di
disagio, e sembra sempre più urgente individuare strade nuove!
In tal senso va detto che nell’ambito del lavoro assume particolare
signicato strategico la possibilità/capacità di creare uno scambio
dialettico di risorse materiali e simboliche tra le varie gure presenti:
operatori, utenti, famiglie, associazioni, amministratori pubblici e privati,
cooperazione sociale, imprenditoria prot, ed è soltanto attraverso la rete
di contatti e scambi interpersonali tra tutti questi soggetti che è possibile
promuovere il reinserimento nell’ambiente sociale. Si può fare ben poco
infatti, in particolare in tema di lavoro, da soli come operatori nel rapporto
con l’altro soerente se non si riconducono le questioni a spazi più ampi
e complessivi in cui agire una funzione sociale e politica indirizzata ad
allargare le opportunità di scambio.
Nelle pratiche dei servizi a Trieste l’attivazione di percorsi
individualizzati di formazione, preformazione e di inserimento lavorativo
vengono sostenuti da borse di formazione al lavoro o budget di salute
nalizzati allo sviluppo di abilità e competenze relazionali e lavorative in
molteplici settori di attività. Il sostegno alla formazione e all’inserimento
lavorativo si traduce in una serie di azioni che prevedono il coinvolgimento
107
Boas práticas
di enti ed agenzie formative e del lavoro, sviluppo di iniziative di
imprenditorialità sociale, confronto con le realtà produttive e con i soggetti
economici presenti nel territorio.
Le cooperative sociali sono a Trieste, come in tutta Italia, i
partner più signicativi per i servizi di salute mentale, nella realizzazione
di percorsi e processi di inclusione lavorativa. Varie ricerche forniscono
dati a supporto delle coop. sociali, come luogo di inclusione e inserimento.
Questo sembra dovuto in particolare alla specica struttura ed al clima
accogliente che caratterizza in genere il contesto della coop. sociale basato
sui valori di self-help, auto-responsabilità, democrazia, eguaglianza,
equità, solidarietà e mutualità (anche se va detto che non tutte le coop.
sociali sono uguali e rispettano gli stessi principi). La cooperativa sociale
si pone, in particolare nella cultura regionale, come uno strumento
innovativo di deistituzionalizzazione, la cui storia si intreccia in modo
indissolubile con la storia della riforma psichiatrica in Italia e nasce con
una doppia nalità: il reinserimento sociale e lavorativo di persone con
disagio ed il coinvolgimento del territorio nel quale opera contribuendo
così concretamente a modicare l’atteggiamento culturale di esclusione e
paura del disagio psichico. La cooperazione sociale è un modello che può
potenziare i gruppi svantaggiati dandogli il potere di possedere la propria
impresa e inuenzarne le decisioni.
Ci sono in Italia 2419 coop B (4345 coop A, 315 A+B, 284
Consorzi); le coop B hanno 255.583 soci (90.122 M, 165.461 F) di cui
il 50% circa è svantaggiata (dati ISTAT del 2005). Eppure nonostante
tali evidenze la cooperazione sociale in Italia attualmente non viene,
in generale, adeguatamente sostenuta dalle politiche economiche e del
lavoro. Fino ad oggi la cooperazione sociale ha svolto un importante
ruolo per l’inclusione sociale delle persone svantaggiate accogliendole in
borsa lavoro o assumendole, oggi però, in un contesto di crisi economica,
il concetto che le coop. sociali danno lavoro alle persone svantaggiate
sembra stia franando!
Và d’altro canto detto che la cooperazione sociale è molto
cambiata dalla sua nascita, circa 40 anni fa, ad oggi. Oggi, nonostante
il moltiplicarsi della tipologia di opportunità formativa e di inserimento
lavorativo promosse dalle coop sociali negli anni, la crisi del mercato
SADE, R. M. S. (Org.)
108
ha prodotto un forte decremento della capacità di inclusione lavorativa
svolta dalla stessa cooperazione sociale. Se in un primo momento, grazie
soprattutto alle coop. sociali, si è passati dall’assistenzialismo al concetto di
lavoro per le persone portatrici di un disagio mentale, oggi essere inseriti
in una cooperativa signica lavorare anche a basso costo e spesso in una
condizione di precariato. I tipi di lavoro che vengono oerti agli utenti forse
non hanno quella connotazione di identità e creatività, capaci di produrre
recovery e il più delle volte questi lavori sono malpagati e i risultati sono
diversi rispetto alle aspettative. La cooperazione sociale oggi sembra troppo
omologata alle imposizioni del mercato. Il pensiero liberista è diventato
dominante in tutti gli ambienti dell’economia, cosa in parte logica, quello
che sembra meno logico è che le realtà che si occupano di accoglienza, di
accompagnamento alle persone svantaggiate hanno cominciato a sposare
progressivamente un approccio molto monetaristico ed utilitaristico
dell’intervento sociale.
Occorre pertanto ripensare alla funzione della cooperazione
sociale e del servizio pubblico: cosa possono e debbono modicare
singolarmente e quali le nuove forme di partnership da mettere in atto,
che tengano conto dei diretti interessati con le loro capacità, risorse e
desideri di realizzazione, anchè la cooperazione sociale ridivenga volano
di attivazione e di costruzione di ponti e reti nella comunità.
E’ importante che le coop. sociali riprendano il ruolo di
mediazione sociale e sviluppo del territorio, è necessario però, d’altro
canto, dare riconoscimento e sostegno alla funzione inclusiva dei soggetti
svantaggiati svolta dalla cooperazione. Va inoltre ripensato l’indirizzo delle
politiche economiche e sociali anchè politiche del lavoro e politiche di
protezione sociale funzionino in maggior sinergia.
Va tuttavia precisato che per inclusione sociale non si intende
solo la stabile occupazione in un’azienda, che ne rappresenta sicuramente
il pieno compimento. Vanno contemplate, anche, le soluzioni intermedie,
di prolungata transizione verso obiettivi di parziale arancamento,
che comunque includano le persone in contesti di vita e di attività non
discriminanti, formativi, relazionalmente importanti, evitando in tal modo
derive di isolamento, regressione e progressiva emarginazione per coloro
che ne sono più esposti. Permangono in ogni caso, e vanno resi esigibili,
109
Boas práticas
il diritto a poter partecipare a contesti e opportunità reali di scambio ed
il diritto ad apprendere lungo il corso della vita, che divengono elementi
centrali al ne di conferire potere contrattuale e di scambio alle persone
anche se fuori dal normale mercato del lavoro.
Il ruolo della formazIone
Il percorso di istruzione e formazione, oltre all’esperienza
lavorativa, rappresentano, dunque, momenti essenziali per la vita di una
persona portatrice di disabilità, come per ogni persona. E’ necessario
pertanto sviluppare percorsi, servizi e tecnologie nuove che permettano di
rispondere adeguatamente a tali necessità.
Come cita infatti la Convenzione dell’Onu sui diritti delle
persone con disabilità “...gli stati parti riconoscono il diritto all’istruzione
delle persone con disabilità. Garantiscono un sistema di istruzione
inclusivo a tutti i livelli ed un apprendimento continuo lungo tutto
l’arco della vita, nalizzati:
a) al pieno sviluppo del potenziale umano, del senso di dignità e
dell’autostima ed al raorzamento del rispetto dei diritti umani, della
libertà e della diversità umana;
b) allo sviluppo della propria personalità, dei talenti, della creatività,
come pure delle proprie abilità siche e mentali sino alla propria
massima potenzialità;
c) a porre le persone con disabilità in condizione di partecipare
eettivamente ad una comunità libera.
L’apprendimento permanente diventa la leva per favorire quei
funzionamenti che promuovono il cambiamento individuale e collettivo
inteso come espansione reciproca delle possibilità e delle libertà.
Promuovere politiche formative, in questa chiave, vuol dire
promuovere un sistema di apprendimento permanente attraverso
percorsi di formazione più essibili per facilitare le transizioni tra le
fasi lavorative e quelle formative in un approccio integrato di contesti
SADE, R. M. S. (Org.)
110
formativi allargati, in cui scuola, enti di formazione, università, aziende,
contesti informali e reti sociali possano concorrere alla formazione e al
potenziamento delle persone.
Porre al centro del welfare il diritto/dovere ad apprendere lungo
il corso della vita ha implicazioni profonde (Learnfare). Non vi è però
uguale dotazione di risorse individuali di fronte all’apprendimento, per cui
sono fondamentali politiche e pratiche che permettano un eettivo accesso
di tutti gli individui, nei modi e nei tempi coerenti con i loro bisogni e
caratteristiche, ad opportunità di apprendimento.
Va tenuto conto, in particolare, che nell’abilitazione psicosociale
la possibilità di entrare in percorsi di formazione costituisce un importante
strumento, sia quando sono mirati all’apprendimento di capacità lavorative
e professionali speciche, sia quando sono rivolti al recupero di potenzialità
individuali, nello sviluppo di livelli di comprensione della realtà sociale in
cui la persona vive, in modo da rimetterla nell’area degli scambi.
Una persona che entra in contatto con i servizi in condizioni di
rottura e crisi con il suo mondo, ha bisogno di poter gradatamente esplorare
la realtà per ricostruire prima di tutto in sé la possibilità di relazione.
La formazione si presta in modo ottimale nel rendere possibile
questa fase di sospensione ed esplorazione di sé, nel vericare le potenzialità
di relazione della persona con gli altri.
In queste tappe intermedie si sviluppano ambiti di capacità
generali del soggetto - di interazione, relazione, socialità, comunicazione
- intese come “competenze trasversali” necessarie per qualsiasi ripresa del
progetto di vita.
E’ importante, dunque, costruire opportunità lavorative ma è
anche importante orire opportunità di apprendimento, formazione e
socialità, puntando su un miglioramento del livello della qualità della
vita di relazione delle persone come possibilità di empowerment. Pur in
assenza di contesti lavorativi accoglienti per le persone svantaggiate, in
ogni caso, va garantito loro un miglior livello di vita sociale, di relazione
e di scambio.
111
Boas práticas
culture partecIpatIve e dI partnershIp
Come riportato in molte dichiarazioni dell’OMS l’empowerment
individuale e della comunità sono considerate strategie fondamentali
per implementare concretamente ed ecacemente la promozione della
salute. L’istanza di empowerment non proviene esclusivamente dalla
sanità pubblica bensì si aanca alle richieste degli stessi cittadini, avanzata
attraverso le loro associazioni di rappresentanza.
Le politiche sociali e le pratiche dei servizi dovrebbero, pertanto,
sempre perseguire l’obiettivo di rendere i soggetti parte attiva nei percorsi
di cambiamento della loro situazione, allo scopo di innescare una reale
trasformazione della situazione di dipendenza e rifuggire dai meccanismi
di assistenzialismo. Ci sono modalità di intervento che tendono infatti a
cronicizzare i problemi piuttosto che portarli ad evolvere e questo accade
ogniqualvolta gli utenti vengono considerati soggetti passivi piuttosto che
arteci del loro progetto di vita.
Come infatti suggerisce Sen, considerare i destinatari di
intervento come soggetti passivi, piuttosto che soggetti attivi e autonomi
che pensano, scelgono e sono responsabili, signica contrastare l’ecacia
dell’intervento stesso. “Qualunque qualica di disabile, povero, malato
con tutti gli svantaggi di sentirsi e di essere marchiati e gli eetti negativi
sull’amor proprio e sulla considerazione che gli altri hanno di te, neutralizza
i beneci che un intervento può portare” (SEN, 2013).
Compito dei servizi è dunque quello di favorire empowerment
e partecipazione di tutti gli stakeholders, reperendo e attivando risorse
nascoste e non dedicate nella comunità e nei contesti di vita delle persone,
risorse che in genere giacciono inutilizzate (famiglie, associazioni ecc)
e mettendo i soggetti nelle condizioni di poter prender parte attiva
ai progetti di salute che li riguardano. Per mettere in atto interventi
che non siano totalizzanti, ma aprano spazi alla partecipazione attiva,
all’assunzione di responsabilità dell’utenza e della comunità, gli operatori
devono dunque ripensarsi, ripensare alla loro collocazione e ruolo,
mettersi in gioco scommettendo qualcosa e perdendo anche un po
del loro ruolo e potere. La “distanza terapeutica” non è in accordo con
questa visione del lavoro, perchè sarà proprio la partecipazione emotiva
SADE, R. M. S. (Org.)
112
dell’operatore ed il suo appassionarsi, la sua capacità di reciprocità che
costituirà patrimonio terapeutico.
Il processo di deistituzionalizzazione, a Trieste come in altre
esperienze, ha favorito il raorzamento degli utenti come soggetti
di diritto dotati di contrattualità, ampliando la loro possibilità di
espressione autonoma e di emancipazione. D’altro canto potenziamento
e soggettivazione degli operatori sono avanzati in parallelo con quelli
degli utenti, e di quanti altri venivano coinvolti in un rapporto diretto col
servizio (familiari, cittadini, volontari, ecc.). Inoltre il diondersi nei servizi
di un approccio orientato alla recovery ha, negli ultimi decenni, aperto i
processi decisionali al contributo dei diretti interessati, facendo crescere la
consapevolezza dell’importanza della conoscenza apportata dagli utenti.
La personalizzazione dei percorsi di cura ha inne permesso,
attraverso un confronto più sensibile con le aspettative dei destinatari
dell’intervento e le possibilità esistenti, di costruire insieme alla persona un
progetto percorribile fatto di azioni, di tempi, di veriche, di tensione al
cambiamento; tutto in una logica di responsabilizzazione reciproca.
La concretizzazione di un progetto individualizzato di cura
centrato sui bisogni, gli interessi e le aspettative della persona e che tenga
conto dei suoi desideri di realizzazione, vede, nell’ottica n qui esposta,
coinvolto uno scenario ampio di soggetti che prendono parte in diversa
misura al suo compimento. Si vuole sottolineare che, onde facilitare
l’accesso a opportunità di sviluppo umano, le collaborazioni sinergiche con
soggetti organizzati presenti nel territorio locale, sia nella progettazione che
nell’organizzazione di iniziative, attività e servizi, assumono un importante
valore strategico nel garantire interventi sostenibili, integrati e di qualità
orientati allo sviluppo di comunità. I progetti di costruzione di salute
dovrebbero sempre collocarsi, infatti, in una logica di intervento a rete a
contrasto dell’esclusione.
La diversità delle modalità di partnership che si possono creare tra
i servizi e i vari soggetti del territorio ha grande importanza nel determinare
la qualità e la ricchezza delle opportunità inclusive realmente costruite per
le persone portatrici di soerenza psichica. Esistono infatti modi diversi
di concepire i rapporti di partnership pubblico/privato che vanno dalla
113
Boas práticas
completa delega del servizio, alle forme più avanzate di coprogettazione
e coproduzione, caratterizzate da un maggior grado di cooperazione e
interazione tra lo stato e attori non statuali.
Il budget dI salute: progetto personalIzzato
In particolare, riguardo le modalità di gestione dei rapporti di
partnership tra pubblico e privato, la metodologia del budget di salute, come
modalità di nanziamento innovativo che riguarda le forme contrattuali
nel rapporto tra pubblico e privato sociale, si è rivelato quale strumento che
permette di sostenere i progetti personalizzati tenendo conto e coinvolgendo
tutti gli attori e le possibili risorse che sono in gioco, trasformando i costi
assistenziali in investimenti produttivi. Lo strumento del budget di salute
si è, inoltre, dimostrato molto utile nel favorire, rendendola possibile, la
riconversione delle risorse destinate alla residenzialità declinando progetti
di carattere individuale, a partire dai bisogni delle persone, nella direzione
della domiciliarità e dell’inclusione sociale. La metodologia del budget di
salute permette inoltre di essere accanto alle persone là dove i loro problemi
nascono, con risposte essibili e personalizzate che meglio si adattano alle
necessità più complessive tenendo conto delle risorse che sono intorno ad
ognuno e facilitando l’accesso a più numerose e composite risorse.
Grazie a questa metodologia di nanziamento per la cogestione
di progetti terapeutico-riabilitativi personalizzati, nell’esternalizzazione ai
partner del privato sociale, non si adano più “pacchetti” di intervento
(strutture residenziali, blocchi indierenziati che riguardano più interventi
e più persone) ma singoli budget che si riferiscono a singole persone
che quindi meglio deniscono gli obiettivi, i risultati ed i processi e
garantiscono una miglior qualità del progetto ed il suo monitoraggio e
verica. Il ruolo del partner privato, quindi, non può essere quello della
produzione di un rigido set di prestazioni o la gestione di strutture più o
meno protette, ma è importante che sia quello di fornire occasioni di casa/
habitat sociale, formazione/lavoro, socialità e apprendimento/espressività
opportunamente modulate sui bisogni delle persone e fornendo gli
adeguati supporti non specialistici per la fruizione di queste opportunità
da parte degli utenti. Il progetto personalizzato di cura e il relativo budget
SADE, R. M. S. (Org.)
114
di salute, necessario per la sua realizzazione, è il principale strumento per
dar voce alle persone che sono direttamente coinvolte, rinforza il consenso
dell’utente e la sua partecipazione alla formulazione del piano di cura.
Il progetto personalizzato è come un vestito fatto su misura che quindi
necessità che le misure vengano prese e che la persona sia d’accordo con
questo. Identica bisogni e obiettivi, risultati attesi, tipologie di intervento
necessari e connessioni tra i diversi interventi, risorse necessarie, i ruoli ed
i compiti dei diversi servizi e operatori coinvolti nel progetto. E’ inoltre
uno strumento che facilita i processi di valutazione e monitoraggio dei
progetti personalizzati anche da parte dei diretti interessati, destinatari
degli interventi. Le persone possono così avere più chiarezza su dove
vengono investite le risorse e agire maggiori opzioni di scelta, favorendo
così il processo di recovery.
I servizi che basano le loro pratiche sui progetti personalizzati/
budget di salute potranno sperimentare una maggior essibilità e
dinamicità nell’utilizzo delle risorse economiche, non più vincolate a rette
e strutture, e una maggior condivisione di progettazione e responsabilità
con i partners, in un miglioramento delle culture partecipative di
partnership. Tali cambiamenti non possono che estendersi alla cultura
degli interventi, attraverso prestazioni più essibili basate su progetti
personalizzati e diversicate.
Quella del Budget di salute/Progetto peronalizzato è una delle
metodologie possibili nella governance dei rapporti tra pubblico e privato.
Occorrono, in ogni caso, strumenti che favoriscano l’implementazione e
l’utilizzo in maniera integrata di tutte le risorse presenti nella comunità,
ridenendo le modalità di collaborazione tra servizio pubblico e terzo
settore per la costruzione di processi di capacitazione che spostino il focus
dell’intervento dall’assistenza/accompagnamento all’empowerment
delle persone, promuovendo modelli evoluti di gestione condivisa che
coinvolgano i diversi soggetti del contesto sociale achè le consistenti
risorse che gli interventi sociosanitari richiedono, si riconvertano e
diventino un moltiplicatore delle risorse dei soggetti, delle famiglie,
delle comunità.
Ed è in tal senso che diviene importante attivare sempre modalità
innovative di gestione partecipata e condivisa dei servizi che valorizzino le
115
Boas práticas
forme di auto-organizzazione delle persone e delle famiglie e, più in generale,
del terzo settore. Questo richiede un approccio integrato e personalizzato
ai bisogni di salute e benessere della persona, caratterizzato da un intreccio
molto stretto e sinergico tra iniziativa pubblica e risorse comunitarie. Va data
ai soggetti della comunità, ed in particolare agli stakeholders, la possibilità di
partecipare in maniera molto più attiva alla costruzione dei progetti di salute
nelle modalità della coproduzione di un sistema di tutela e promozione del
benessere delle persone e delle comunità locali.
Gli studi di Ostrom hanno portato a consapevolezza che “la
produzione di un servizio è dicile senza la partecipazione attiva di coloro
che ne sono presumibilmente i destinatari”, “la coproduzione implica che
i cittadini giochino un ruolo attivo nel produrre beni pubblici o servizi che
li riguardano.” Ostrom (1996). Secondo Ostrom, la coproduzione di un
bene o di un servizio, si verica quando parte degli impulsi necessari alla sua
produzione provengono da coloro che ne sono, almeno potenzialmente, i
destinatari. Se il contributo dei consumatori non è condizione necessaria
per la produzione del bene/servizio, di fatto però ne accresce e ne migliora
la produzione.
La gestione della res pubblica non è più, quindi, solo appannaggio
della pubblica amministrazione ma vede la partecipazione diretta dei
cittadini in tutte o, almeno, in alcune fasi dei processi decisionali,
personalizzando i servizi attraverso la partecipazione attiva di coloro che
ne usufruiscono. In modo che sia i servizi sia le comunità locali diventino
agenti di cambiamento molto più potenti.
A conclusione si può dire che, in un contesto socio-economico
già di per se penalizzante per le persone svantaggiate, quale è quello attuale,
si evidenzia una scarsa attenzione al tema dell’inclusione sociale e al tema
della facilitazione all’accesso alla rete delle opportunità.
In tal senso al ne di sviluppare possibilità reali di inclusione si
individuano almeno tre livelli di intervento:
◦ Riorientare le risorse in un’ottica di sviluppo dei territori
investendo sui legami di comunità e riconvertire risorse
assistenziali nalizzandole maggiormente allo sviluppo
personale e del contesto di inserimento. E’ in tal senso che
SADE, R. M. S. (Org.)
116
andrebbero individuate forme di valorizzazione delle diverse
realtà formali ed informali che propongono percorsi includenti e
considerare la necessità di investimenti nalizzati all’inclusione.
Fondamentale diviene inoltre, nella spesa pubblica, passare
da una losoa del risparmio a un’etica dell’investire bene
le economie rinforzando il senso di responsabilità di tutti i
soggetti coinvolti e riconvertendo la spesa, indirizzata alla
salute, in investimento generativo di risorse e di processi
trasformativi, in un’ottica di riqualicazione e dinamizzazione
della spesa sanitaria e sociale.
◦ Stringere la rete di alleanza e collaborazioni individuando
strategie di governance maggiormente condivise allo scopo
di realizzare una eettiva integrazione di politiche attive
del lavoro e di servizi di welfare a contrasto dell’esclusione,
per non abbandonare i più deboli al loro destino. Questo
attraverso progetti collocati in una logica di intervento a rete
con il concorso delle istituzioni, degli enti preposti e delle
imprese più socialmente responsabili, mediante l’integrazione
di servizi e risorse economiche, professionali, di volontariato.
Ma saranno gli stakeholders, i destinatari degli interventi,
i soggetti principali da coinvolgere in un ruolo attivo nella
costruzione dei progetti di salute riconoscendo e valorizzando
la loro esperienza.
◦ Sperimentare forme di promozione delle competenze
trasversali capaci di incidere nell’accesso a ulteriori percorsi di
sviluppo umano e empowerment per migliorare le possibilità
di recupero delle persone all’interno di processi di recovery.
Governi, regioni e enti locali, imprese mondo non prot e società
civile sono tutti chiamati a realizzare, ciascuno con le proprie responsabilità,
una società dove le persone svantaggiate possano essere sempre più
protagoniste e libere e dove le dierenze non diventino diseguaglianza
producendo esclusione.
117
Boas práticas
referentIal
BAUMAN, Z. Modernità e globalizzazione (intervista di Giuliano Battiston). Roma:
Edizioni dell’Asino, 2009.
DELL’ACQUA, G. Fuori come va? Famiglie e persone con schizofrenia. Manuale per un
uso ottimistico delle cure e dei servizi. Editori Riuniti, 2003.
GALLIO, G. Ai conni del lavoro, politiche della formazione, culture del lavoro, strategie
della riabilitazione nella salute mentale. Edizione Asterios, 2005.
NUSSBAUM, M. Creating Capabilities. e human development approach.
Cambridge, London: e Belknap Press at Harvard University Press, 2011.
OSTROM, E. Crossing the Great Divide: Coproduction, Synergy and Development. In:
World Development, v. 24, 1996.
RIGHETTI, A. I budget di salute e il welfare di comunità: Metodi e pratiche. Bari:
Laterza, 2013.
SEN, A. Development as freedom. 2 ed. Oxford, New York: Oxford University Press, 2001.
referêncIas consultadas
ALAKESON, V.; PERKINS, R. Recovery, Personalisation and Personal Budgets. Centre
for Mental Health, September 2012. Disponível em: <www.centreformentalhealth.org.
uk/recovery>. Acesso em: 5 jn. 2016.
BIFULCO, L. Geometrie dell’integrazione: la governance di Campania. Friuli, Venezia,
Giulia, Lombardia: RPS, 2005.
BORG, M.et al. What makes a house a home: the Role of material resources in recovery
from severe mental illness. Am J Psychiatr Rehabil, v. 8, p. 243-256, 2005.
BOYLE, D.; HARRIS, M. e challenge of co-production: how equal partnerships
between professionals and the public are crucial to improving public services, Nef /
NESTA. Disponívem em: <ww.nesta.org.uk>. Acesso em: Dec., 2009
CASTEL, R. L’insicurezza sociale. Torino: Einaudi, 2004.
CHENDI, R. Non è ancora welfare community!. rivista DM, v. 149-150, 2004.
DAVIDSON, L.et al. A life in the community: Italian mental health reform and
recovery. J Ment Health, v. 19, p. 436-443, 2010.
DE LEONARDIS, O.; MAURI, D.; ROTELLI, F. L’impresa sociale. Milano:
Anabasi, 1994.
DE LEONARDIS, O. Il ciclo di una politica: una riforma psichiatrica. In
DONDOLO, C.; FICHERA, F. (a cura di). Le vie dell’innovazione: Forme e limiti
della razionalità politica, Milano: Feltrinelli, 1988.
SADE, R. M. S. (Org.)
118
DE LEONARDIS, O.; EMMENEGGER, T. Le istituzioni della contraddizione. Milano:
Feltrinelli, 2005.
GROUP, Residential Care in Italy. National survey of non-hospital facilities, British
Journal of Psychiatry, v. 181, p. 220-225, 2002.
MARMOT, M. Social determinants of health inequalities. Lancet, v. 365, n. 1099–1104
p. 10, 2006.
MONTELEONE, R. La contrattualizzazione nelle politiche socio-sanitarie: il caso dei
voucher e dei budget di cura. In: BIFULCO, L. Le politiche sociali: temi e prospettive
emergenti. Roma: Carocci, 2005.
RIDENTE, G; FURLAN, M. Applicazione dei PTRI-Budget di salute nel Dipartimento
di salute mentale di Trieste, in Starace F, Manuale pratico per l’integrazione
sociosanitaria. Il modello del Budget di salute. Roma: Carocci, 2011.
ROTELLI, F. Per la normalità: Taccuino di uno psichiatra negli anni della grande
riforma. Trieste: Asterios, 1994.
______. L’istituzione inventata. Atti del Convegno: La pratica terapeutica, tra modello
clinico e riproduzione sociale. Trieste, 1988.
______. Modelli scientici e complessità, Intervento al seminario Modelli scientici e
complessità”. Milano, 1990.
______. Per un’impresa sociale. Relazione introduttiva al Convegno “L’impresa sociale,
Parma, 1991.
______. Rehabilitating rehabilitation, 1993. Disponível em: <http://www.
triestesalutementale.it/english/doc/Rehabilitation.pdf>. Retrieved April 21, 2014.
______. Dossier Nodi del Welfare Sociosanitario in Friuli Venezia Giulia. (documento
base e di approfondimento in tema di voucher e budget di salute, Trieste. Disponível
em: <www.exclusion.net>. Acesso em: 7 jan. 2016.
STARACE, F. Manuale pratico per l’integrazione sociosanitaria. Il modello del Budget di
salute, Roma: Carocci, 2011.
WHO. Psychosocial Rehabilitation: a Consensus Statement Declaration, WHO/MNH/
MND/96.2, 1996.
WHO. International Classication of Functioning, Geneva: 2001, Disability and
Health (ICF). Disponível em: <http://www.who.int/classications/icf/en/>. Acesso
em: 19 fev. 2017.
WHO. Social Determinants of Mental Health. WM 101. WHO, Geneva, 2014.
119
Habitar
Rossana Maria Seabra Sade
O processo de desinstitucionalização
1
da Reforma Psiquiátri-
ca brasileira (Lei 10.216) apoiou-se na Psiquiatria Democrática italiana
que, por sua vez, baseou-se nos princípios iluministas da Revolução Fran-
cesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que permitiram a aprovação
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pela Assembleia
Nacional Constituinte francesa, em 1789, tornando público os direitos
fundamentais do homem. Essa declaração, com mais de dois séculos,
forneceu as bases para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, ainda em vigor.
Nesta perspectiva, é preciso repensar o que signica ser cidadão
no contexto da reforma psiquiátrica e que lugar ocupa na sociedade a pes-
soa com sofrimento psíquico.
A palavra cidadania tem a sua origem no latim civitas, que signica
cidade. Desta forma, cidadania derivou-se de cidade sendo usada na
Roma Antiga (séculos VII a III a.C.) para designar a condição polí-
tica e social de uma pessoa, dos seus direitos e deveres (DALLARI,
1998, p.14).
Desinstitucionalização é uma palavra de origem anglo-saxã e indica a superação das “instituições totais”.
SADE, R. M. S. (Org.)
120
Cidadania, para Dallari (1998), é um conjunto de direitos que
dá à pessoa oportunidade de participar ativamente da vida e do governo
de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da
vida social e das decisões, cando numa posição de inferioridade dentro do
grupo social, visto que não tem direito à moradia, à educação, ao trabalho,
ao lazer e ao voto.
Respeitar o outro em sua diversidade, desconstruindo valores e
reconstruindo novos olhares, tem por base os ideais da Revolução France-
sa, princípios norteadores do processo de desinstitucionalização.
O processo de transformação da assistência em saúde mental em
curso no nosso país iniciou-se no nal da década de 1970 e foi inuen-
ciado por diversas experiências que ocorreram na Europa e nos EUA, no
período posterior à Segunda Guerra Mundial: transformações no interior
das instituições, como as propostas pela psicoterapia institucional de Fran-
çois Tosquelles e Jean Oury e pela comunidade terapêutica de Maxwell
Jones; mudanças no conceito de doença para saúde mental, propostas pela
psiquiatria de setor, na França e pela psiquiatria comunitária norte-ame-
ricana; e, nalmente, as propostas mais radicais de mudança paradigmáti-
ca, propostas pela antipsiquiatria de Ronald Laing e David Cooper e pela
psiquiatria democrática de Franco Basaglia, na Itália. Todas elas serviram
como referência em determinados momentos do processo de construção
da reforma psiquiátrica brasileira. Algumas foram apoiadas, como nos mo-
delos a seguir, e outras, criticadas.
Abordagem teórica da desinstitucionalização e a Psiquiatria Demo-
crática italiana (BASAGLIA, 1985; ROTELLI et al.1990; DELL’ACQUA;
MEZZINA, 1991; MEZZINA et al. 1992; AMARANTE,1994; 1995;1996;
BARROS,1994). O movimento tem como contribuições teóricas o marxismo
de Gramsci, Foucault, a fenomenologia existencial e teorias do desvio social.
Franco Basaglia foi o principal idealizador do processo de desinstitucionaliza-
ção, tendo como marco sua obra “A Instituição Negada” (1968).
O paradigma da desinstitucionalização deslocou a estrutura orga-
nizacional do sistema de saúde mental, descentralizando-a e ultrapassando
a visão sanitarista, renovando todo um sistema de saber e de cuidados em
saúde mental.
121
Boas práticas
Desinstitucionalização, para Rotelli (1990), não reside na cura,
mas na emancipação, na criação de novos modelos e oportunidades, des-
misticando a loucura. Desconstruindo um saber que sustentou as bases
da Psiquiatria desde o Iluminismo, a noção de loucura como alienação,
como erro, como periculosidade, pode ser substituída pela noção de di-
ferença, de produção de vida e de subjetividade. A construção de novos
modelos favorece possibilidades de inserção social e apropriação do di-
reito de cidadania.
Tal paradigma, em saúde mental, enfatiza a ‘reinvenção da saúde’, a
existência-sofrimento dos pacientes, no sentido da produção de vida,
de sentido de sociabilidade, a utilização de formas (dos espaços coleti-
vos) de convivência dispersa. (ROTELLI, 1990, p.30).
O conceito de doença mental é descaracterizado, resgatando o
olhar na existência e no sofrimento das pessoas; as estruturas institucionais
de controle e normatização deverão exercer outro saber, não mais centrado
no modelo doença-cura.
Assim, toda transformação dos modelos psiquiátricos não deve se
limitar simplesmente à abolição das estruturas manicomiais, mas à cons-
trução de novas formas de possibilidades, nas quais o ator com sofrimento
psíquico, empodere-se como construtor de sua vida. Nesse sentido, o ha-
bitar e o trabalho são fundamentais.
O habitar, para o ator social, tem uma conguração, na medida
em que ele assume o seu lugar em sua casa, resgata seu papel na sociedade
e ganha o status de cidadão, o que implica a conquista do direito de admi-
nistrar o seu tempo e espaço, o controle de sua própria vida, podendo ser
o protagonista de sua história.
Para alcançar esta autonomia social, ele deve ultrapassar as tênues
barreiras do estigma social que permeia o desvio e a normalidade. De acordo
com Rotelli (2014), não se vence nunca a batalha contra a exclusão; parte-se
de níveis mais brutais, mais violentos, como acontece no manicômio, por
exemplo; entra-se gradualmente no tecido urbano e nas políticas sociais.
Ainda segundo Rotelli (2014), para fazer uma política séria e per-
correr passo a passo esse caminho, devemos colocar-nos na relação entre
SADE, R. M. S. (Org.)
122
exclusão e inclusão, fazendo com que os serviços públicos e os serviços de
saúde mental sejam um serviço forte, pois os direitos são fracos e para de-
fender os direitos fracos dos loucos é preciso ter serviços fortes.
Além disso, é necessário propor constantemente uma normalida-
de enriquecida, pois a lentidão das políticas sociais causa uma normalidade
empobrecida. Sem um sistema eciente de serviços e de apoio terapêutico,
corre-se o risco de conrmar a anormalidade dessas pessoas.
Conforme Mezzina et.al. (1992), a saúde mental se insere neste
novo modelo no campo da conquista e reinvenção da cidadania, que passa
pelos direitos civis, políticos e sociais e amplia-se no reconhecimento dos
direitos particulares dos usuários e familiares. Esta cidadania deve ser in-
ventada, não podendo estar associada à concepção convencional, que trata
do indivíduo racional, livre e autônomo, devendo ser revisados os disposi-
tivos jurídicos e legais.
A pessoa com uma longa história de internação psiquiátrica per-
de sua identidade, seu direito de liberdade e de habitar em casa própria.
De acordo com Saraceno (1999), a história da Psiquiatria é uma história
de moradas fechadas, isoladas e mais ou menos vigiadas. Reetindo sobre
modos de viver”, a questão que se apresenta é: como direcionar este para-
digma para recuperar a história perdida desses moradores, que foi expro-
priada pela cultura manicomial?
Não basta levá-los para uma casa! O desao está no cotidiano dos
lares e das residências terapêuticas. E ainda: como assegurar a não repro-
dução do manicômio difuso? Para Dell’Acqua (2014), este termo signi-
ca uma condição em que as pessoas, embora não institucionalizadas, têm
diculdade de viver sua dimensão de cidadania, permanecendo em uma
dimensão de perda, na periferia do viver, reproduzindo a mesma dinâmica
manicomial. A problemática está em interrogar-se continuamente, entre as
disciplinas, os saberes, para buscar compreender o todo. Como se incluir
em um espaço excludente, connado à margem da sociedade?
Precisamos fechar os manicômios. Enquanto tivermos a institui-
ção manicomial aberta, teremos para onde encaminhar os sem lugares, pois
a família não consegue conviver com esta pessoa, a escola não dá conta
de seu comportamento, a sociedade lhe confere o rótulo de desviante. Na
123
Boas práticas
psiquiatria há um lugar para ele: o manicômio. Portanto, só desmontando
a estrutura manicomial e implantando serviços substitutivos atuantes é que
se assegura o direito de cidadania.
A implantação dos serviços residenciais terapêuticos (SRTs) e dos
programas de reinserção social dos atores sociais com sofrimento psíquico
são alguns dos suportes que representam a desinstitucionalização dessas
pessoas, marcadas pela opressão manicomial.
Tanto do ponto de vista social como do econômico, o custo/be-
nefíciode tais programas é mais vantajoso. Knapp (1995), do Instituto de
Psiquiatria de Londres, aponta os custos de serviços psiquiátricos e comu-
nitários, vericando que os custos nanceiros com internações são maio-
res. Outro aspecto favorável é que os programas substitutivos permitem o
resgate e a apropriação dos vínculos com a sociedade, muitas vezes empo-
brecidos pelo processo de abandono e de institucionalização.
O estado de São Paulo tem um importante papel na organização
da política de saúde mental do Brasil e nas implementações dos programas
substitutivos. Na década de 1980, surgiram experiências que são referência
nacional, como por exemplo, o Centro de Atenção Psicossocial Luiz Cer-
queira (CAPS), da cidade de São Paulo, e a organização da rede de cuidado
em saúde mental da cidade de Santos, a partir da intervenção, pela prefei-
tura, no hospital psiquiátrico Casa de Saúde Anchieta.
Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) – ou residência te-
rapêutica (RT) ou simplesmente “habitar” – integram esta rede de serviços
e são alternativas de moradia para milhares de pessoas que estão internadas
há anos em hospitais psiquiátricos por não contarem com suporte adequa-
do na comunidade.
São casas localizadas no espaço urbano, organizadas para aten-
der e responder às necessidades de moradia para atores sociais com so-
frimento psíquico, institucionalizadas ou não. O número de moradores
pode variar de um indivíduo até um pequeno grupo de oito pessoas.
Cada casa conta com um prossional que atua como suporte. Além dele,
a casa tem o apoio de uma equipe interdisciplinar de referência que pode
ser do CAPS mais próximo ou dos prossionais do serviço de atenção
primária em saúde.
SADE, R. M. S. (Org.)
124
A equipe considera a singularidade de cada um dos moradores,
e não apenas projetos e ações baseadas no coletivo. O acompanhamento
a um morador prossegue, mesmo que ele mude de endereço ou eventual-
mente seja hospitalizado. O processo de reabilitação psicossocial busca de
modo especial a inserção do indivíduo na rede de serviços, organizações e
relações sociais da comunidade. Ou seja, a inserção em um SRT é o início
de longo processo de reabilitação, que busca a progressiva inclusão social
do morador. A Portaria n° 3.090, de 23 de dezembro de 2011, estabeleceu
modalidades para a habilitação.
Os SRTs Tipo I - devem proporcionar espaços de construção
de autonomia para retomada da vida cotidiana e reinserção social dos
moradores, que não necessitem de cuidados intensivos, do ponto de vista
da saúde em geral. Os SRTs Tipo II, da mesma forma, são moradias que
devem proporcionar espaços de construção de autonomia para retomada
da vida cotidiana e reinserção social dos moradores que necessitam de
cuidados intensivos especícos do ponto de vista da saúde em geral, e
que demandam ações mais diretivas com apoio técnico diário e pessoal,
de forma permanente.
Divididos os moradores em modalidades Tipo I ou II, são 289
SRTs habilitados pelo Ministério da Saúde até dezembro de 2014
2
, no
território nacional, totalizando 2.031 moradores. Vários destes participam,
também, do Programa de Volta para Casa que concede uma bolsa por dois
anos, no valor de cerca de meio salário mínimo.
Muitos atores sociais, antes de irem para uma RT, viveram em
unidades fechadas e quase não exerceram sua autonomia. Foram levados à
dependência, tais como: alimentação na boca, banho dado pelo auxiliar de
enfermagem, uso de fralda, (o banheiro da instituição é trancado e a chave
ca com os auxiliares, que justicam: “Os pacientes vão fazer bagunça, be-
ber água do vaso, enm não sabem utilizar o mesmo”; portanto, havendo
um controle das necessidades siológicas dessas pessoas e sendo mais cô-
modo colocar fraldas).
Fonte: Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas/DAPES/SAS/MS. Ano 10, n. 12, out.
2015.
125
Boas práticas
Nessas unidades fechadas, a socialização é pouca e, na maior par-
te do tempo, os atores sociais cam deitados ou sentados sem atividade.
Muitos acabam apresentando comportamentos alterados tais como: agres-
sividade, irritação, agitação, devido à ociosidade de suas vidas. Quando
isto ocorre, são isolados. Seu tempo e espaço não existem, é o tempo da
instituição que regula suas vidas; com horários para acordar, tomar banho,
alimentação, remédios, este é o resumo de muitas vidas, cujo argumento é
que todas essas formas de intervenções são terapêuticas.
Os internados, depois de serem “tapeados”, frustrados e oprimidos,
são agora distraídos com recitais, bailes, atividades variadas, trabalhos
– tudo utilizado como terapia. E isso para prepará-los, para as duas
soluções alternativas previstas pela instituição: a reabilitação forçada
ou a aceitação do local que deverá ser, de ora em diante, sua casa. Nas
duas possibilidades isso é feito através da perda da personalidade e da
emergência de uma profunda dependência dos outros. A infração à
norma do “viver civil”, a incapacidade de “jogar o jogo” e a angústia de
viver num mundo que limita e oprime paga-se com esta passagem pela
instituição total
3
. (BASAGLIA, 1985, p. 178).
De acordo com Goman (1974), alguns dos mecanismos das ins-
tituições totais são: a separação do internado do mundo externo, a perda
do seu nome, a obrigação de realizar uma rotina diária (que ele considera
estranha) e de aceitar um papel (com o qual não se identica), além da
violação da fronteira entre o ser e o ambiente, mecanismos esses que oca-
sionam a perda da privacidade e identidade.
Nesse contexto, a residência terapêutica (RT) torna-se um espaço
fragilizado para independência, relações sociais e liberdade, pois os mo-
radores foram por anos cerceados de sua independência, sendo tratados
como inecientes e doentes. A tentativa de recuperação da sociabilidade dos
moradores esbarra no forte vínculo com a instituição que os abrigou. Se-
gundo Venturini (2010), em muitas vezes se efetiva e se teoriza a impos-
sibilidade da alta do paciente do circuito psiquiátrico, produzindo uma
simbiose “crônica” entre paciente e o serviço.
Caracterizam-se por serem estabelecimentos fechados, funcionam em regime de internação, no qual um
grupo numeroso de internados vive em tempo integral e, em contrapartida uma equipe dirigente exerce o
gerenciamento administrativo da vida na instituição. Goman, E. (1974). Manicômios, prisões e conventos.
SADE, R. M. S. (Org.)
126
Ainda hoje, no sistema psiquiátrico brasileiro, nos indagamos:
Que coisa é a psiquiatria? De acordo com Ribeiro (2005), no Brasil, o
sistema psiquiátrico, enquanto ciência e instituição, está voltado para o
conceito de doença e as instituições fundam suas ações terapêuticas sobre
a manifestação dos sintomas.
A partir das razões e desrazões que permeiam o sistema psiquiá-
trico, é importante repensar as bases que fundamentaram a nossa reforma.
A psiquiatria democrática italiana demonstrou ser possível a desconstrução
do manicômio como possibilidade única de entender e tratar a loucura.
O objetivo não é negar a doença mental e, consequentemente, deixar de
tratá-la. É a negação do manicômio, como representante de uma estrutura
repressivo-custodial. Só nos espaços de liberdade e nos exercícios de cida-
dania, é que se pode promover saúde.
De acordo com Rotelli (1990), a desinstitucionalização psiquiá-
trica é a ruptura do paradigma que sustentava a relação de causa e efeito
na análise da constituição da loucura. A negação da instituição, mais que a
desmontagem do manicômio, foi e é, a desestruturação desta causalidade
linear e a reconstrução de possibilidade-probabilidade.
Faz-se necessário ressaltar que estas possibilidades são construí-
das sobre um novo paradigma: cuidar, desmisticando a insanidade. Não
basta promulgar leis; precisa-se de mudanças concretas e efetivas, para
que se concretize a desinstitucionalização e se consiga integrar outros ser-
viços em regime aberto, substitutivos ao manicômio, que proporcionem
reabilitação psicossocial e qualidade de vida. A reforma psiquiátrica é um
processo contínuo, passando por fases marcantes, da instituição negada
à instituição inventada.
Conforme Basaglia (1985), a instituição negada não é apenas a ne-
gação do hospital psiquiátrico, e sim, a psiquiatria enquanto ideologia. Para
ele, o ator social é visto como um objeto complexo, e essa complexidade é
que vai possibilitar a mudança de olhar sobre o fenômeno doença. É a renún-
cia do poder terapêutico dos técnicos, da instituição e do saber psiquiátrico;
a negação é a superação e invenção de novas formas de intervenção.
Portanto, a instituição negada é a desconstrução do saber que
vai culminar na extinção do manicômio. O caminho da “instituição ne-
127
Boas práticas
gada” para a “instituição inventada” possibilitou o processo de desinstitu-
cionalização do sistema psiquiátrico italiano, não ocorrendo mais a busca
da cura da doença e, sim, a “invenção de saúde” e de “reprodução social
do ator social”.
Os serviços territoriais na Itália assumiram a desinstitucionali-
zação como um sistema sanitário universalista e igualitário. De acordo
com Venturini (2010), cuidar das pessoas no território, e não no ambien-
te institucional.
Para Amarante (2003), o território não é somente o bairro ou o
lugar da cidade onde moramos, não é o setor (no entendimento francês)
nem a comunidade (na concepção americana), é muito mais, é o espaço
social onde tecemos nossas referências de vida e estabelecemos nossa rede
de relações sociais.
O serviço de residência terapêutica faz parte desta rede, é um
espaço de trocas, descobertas de novas subjetividades, reencontro da me-
mória e história pessoal de cada morador. Neste contexto, as relações de
poder são transparentes e os sentimentos são verbalizados. O desao é criar
novas construções de intervenções. Os atores sociais, neste novo cenário,
começam a resgatar sua identidade: vão retirar documentos, participam
das reuniões de equipe na elaboração e discussão dos projetos terapêuticos,
bem como na gestão da casa; enm, começam a retomar suas vidas.
Rotelli et al. (1990) enfatiza a reinvenção da saúde, a existência-
-sofrimento dos pacientes, na acepção da produção de vida, de sentido de
sociabilidade, de utilização dos espaços coletivos. Para que isso ocorra, os
moradores da RT devem ser inseridos no território.
De acordo com Amarante (2003), o trabalho no território pro-
move a saúde mental, sendo reprodução de vida, de subjetividade. Nele se
estabelecem as relações entre as pessoas, revelando um espaço dinâmico e
direto com a comunidade.
A intersetorialidade é uma forma indireta de solidicar a trans-
formação na assistência: o serviço não deve assumir só o tratamento, deve
construir ações que rompam com a segregação e restituam o direito desses
indivíduos a participarem dos espaços públicos, trabalhando com as insti-
tuições localizadas no território: lazer, educação, arte, esporte, etc.
SADE, R. M. S. (Org.)
128
Várias experiências internacionais contribuíram para avaliação de
como vivem os atores sociais em diversos modelos de residências terapêu-
ticas. Le e Knapp(2000) realizaram, na Inglaterra, pesquisa sobre a temá-
tica de atitudes da comunidade em relação ao ator social com sofrimento
psíquico. Os resultados obtidos mostraram bom nível de receptividade da
vizinhança em relação aos moradores. A pesquisa apontou um dos estere-
ótipos em que o ator social com sofrimento psíquico aparece como uma
pessoa de comunicação muito difícil e imprevisível.
Os pesquisadores vinculam esse estereótipo à mídia, que apon-
ta para comportamentos extremos dessas pessoas, sendo que 80% dos
entrevistados tiveram atitudes positivas em relação a conviver com esses
atores sociais em seu bairro; o restante acredita que seria necessária uma
preparação, com informações sobre transtornos mentais e como lidar
com essas pessoas.
Essa pesquisa não ponderou o direito de habitar, porém foi rea-
lizada em um país que possui experiências avançadas nos serviços residen-
ciais terapêuticos de dispositivos residenciais em saúde mental. De acordo
com De Luca e Frattura (1996), nos Estados Unidos a privatização das
políticas sociais deu uma grande ênfase na construção de serviços residen-
ciais por intermédio do setor privado, nas chamadas casas de enfermagem,
porém, há sérios questionamentos a respeito da qualidade do atendimento
oferecido e da pouca integração com a rede de serviços. Este tipo de serviço
é voltado para desospitalização e não para desinstitucionalização.
No atendimento europeu, os serviços são mais amplos e variados.
Em Estocolmo, na Suécia, a modalidade de serviços residenciais integra-
dos inclui várias unidades residenciais como apartamentos individuais ou
duplos, integrados a um serviço de suporte aberto 24 horas, abrigando
também moradores mais dependentes. Este tipo de serviço deve estar aten-
to para não isolar e segregar os moradores, devendo estimular a reinserção
social, pois corre-se o risco do manicômio difuso.
No Reino Unido, de acordo com Ramon (1996), as casas coleti-
vas Group Homes são experiências bastante positivas. Essas estruturas exi-
gem investimento em planejamento, infraestrutura e preparo dos residen-
tes, qualidade na supervisão e acesso à rede de serviços de suporte e atenção
129
Boas práticas
psicossocial. Algumas pesquisas apontam que os melhores resultados para
este tipo de moradia têm sido o baixo índice de readmissões, melhora no
autocuidado e na qualidade de vida dos atores sociais. Em relação ao custo
nanceiro, é inferior ao sistema hospitalar.
Bélgica e França adotam esquemas de recolocação em famílias:
são famílias adotivas para adultos recém-saídos do hospital psiquiátrico,
alguns com deciência intelectual. A pesquisadora Jodelet (2001), abor-
da em sua pesquisa alguns aspectos desta proposta: as famílias ganham
uma ajuda nanceira, sendo um estímulo para famílias pobres e pessoas
desempregadas. Essa não é uma boa opção de intervenção, pois o estigma
continua, o ator social torna-se, em muitos casos, o meio de sobrevivência
deste núcleo social, não ocorrendo sua integração na sociedade, no traba-
lho e em um núcleo familiar real. Um ponto desfavorável dessa pesquisa
foi o fato de não se avaliar a opinião dos protagonistas sobre a vivência na
família adotiva.
Outro dispositivo residencial são os residenciais adaptados dentro
do ambiente hospitalar, hostels ou hospital wards in thecommunity. Surgi-
ram nos anos de 1970, na Itália e, na década seguinte, espalharam-se por
vários pontos da Europa. São adaptações das unidades hospitalares em pe-
quenos apartamentos, suítes ou casas. Normalmente os moradores têm
suporte constante de técnicos.
Em Trieste e Arezzo (Itália), foram criadas casas para os hóspedes,
estruturas com suporte de operadores 24 horas: são núcleos com seis a
oito pessoas e cadaum possui seu quarto. As portas das casas estão sempre
abertas para o morador ir e vir. Em Trieste, no complexo de San Giovanni,
as quatro residências que haviam estão sendo desativadas. Os atores sociais
que moravam nesses lares, viveram internados no ex-hospital psiquiátrico
por longos anos. Esses moradores reconquistaram o direito de se constitu-
írem enquanto pessoas, exercendo sua liberdade e autonomia e passaram a
viver no território.
Hoje, em Trieste, as habitações são pequenas, para uma ou até três
pessoas, alguns moradores preferem não morar sozinhos, devido à solidão.
Em países como o Brasil, que ainda estão em um processo entre
a estrutura manicomial e os centros de atenção psicossocial, é importante
SADE, R. M. S. (Org.)
130
o conhecimento desses mecanismos para a avaliação dos serviços residen-
ciais, pois são processos de passagem das instituições fechadas para espaços
abertos, implicando verdadeiros rituais.
Penso na emoção coletiva provada durante a cerimônia de “o sal e as
árvores” em Imola, quando na hora do fechamento do manicômio,
lembrando as palavras de Basaglia, nos comportamos como os antigos
romanos que destruíam a cidade inimiga. Convidamos todos os que
viveram naquele lugar – pacientes, enfermeiros, familiares e também os
cidadãos – e jogamos sal nos quartos, nos pavilhões, e usamos bois para
ararmos o terreno em volta do hospital, para que nunca mais nascesse
um outro manicômio, e depois plantamos uma árvore em cada uma
das 23 casas que surgiram para acolher quem não tinha mais uma casa
própria. E naquele dia estávamos todos juntos, sólidos, em plena saúde
(VENTURINI, 2010, p.9).
O grande desao da desinstitucionalização é compreender que o
serviço residencial terapêutico (SRT) não se trata de dar casa a quem não
possui, mas de possibilitar ao ator social protagonizar sua dimensão de
vida, reconstruindo laços e afetos. Entretanto, o processo de transformação
e invenção no circuito psiquiátrico não se restringe apenas aos Centros de
atenção psicossocial (CAPS), mas amplia-se num complexo conjunto de
serviços e estratégias.
Concluo este artigo com a premissa de que a moradia é direito
fundamental de cidadania em qualquer parte do mundo. Em Trieste, várias
medidas políticas se zeram presentes ao longo dos anos, como: disponi-
bilização de apartamentos, adquirido pelo sistema de casa própria, há uma
lei que autoriza o órgão que administra a habitação a reservar uma cota dos
imóveis populares para pessoas com transtorno mental e destinar aos ser-
viços públicos, certo número de apartamentos, para hospedar indivíduos
com problemas psiquiátricos, dependência química ou outros tipos.
Trieste, hoje, continua buscando respostas para algumas ques-
tões: como continuar com uma cultura que se renova constantemente a
partir dos novos protagonistas – tanto usuários como técnicos – revendo
e reconstruindo saberes, reciclando conhecimento? Como não perder a
historicidade do movimento basagliano e nem prender-se à bandeira basa-
gliana? A dinâmica da história é ardilosa e depende dos homens e mulheres
131
Boas práticas
concretos para ser vivida e desdobrada. É neste tecido social que os atores
da saúde mental podem se reconhecer, para poder reinventar novos ritmos
e estilos e reconstruir a história.
referêncIas
AMARANTE, P. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 1994.
_______. Loucos pela vida: a trajetóriada reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro:
Panorama/ENSP, 1995.
_______. O Homem e a Serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 1996.
_______. A (Clínica) e a reforma psiquiátrica. In: Archivos de Saúde Mental e Atenção
Psicossocial. Rio de Janeiro: Nau, 2003. Coleção Archivos.
BARROS, D. D. Jardins de Abel: desconstrução do Manicômio de Trieste. São Paulo:
EDUSP, 1994.
BASAGLIA, F. et al. A instituição negada. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras
Drogas. Saúde Mentalem Dados. SAS/DAPES, Ano 10, n. 12, out. de 2015.
COLAPIETRO, R. Entrevista. In: SADE, R. M. S.Portas Abertas: do manicômio ao
território: entrevistas triestinas. Marília: Ocina Universitária, 2014. p. 111-127.
DALLARI, D.A. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
DELL’ACQUA, G.; MEZZINA, R. Resposta à crise. In: DELGADO, J. A Loucura na
Sala de jantar. Santos: Resenha, 1991.
DELL’ACQUA G.Entrevista. In: SADE, R. M. S. Portas Abertas: do manicômio ao
território: entrevistas triestinas. Marília: Ocina Universitária, 2014. p. 55-73.
DE LUCA, L.F.; FRATTURA, L. Ruolo e funzioni dele strutture residenziali nelle
politiche e Nei Programi di Salute Mental e: materiali per uninventario. In: LETTERA,
P. Bibliograci in Psichiatria,XXI; Milano: Instituto di Reserche Farmacologiche Mario
Negri,1996.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1974.
JODELET, D. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.
KNAPP, M. e economic evaluation of mental health care. Hants: Ashgate, 1995.
LEFF, J.; KNAPP, M. Psychiatric bulletin. American Journal of Psychiatriy Online, n.24,
p.155-158, 2000.
SADE, R. M. S. (Org.)
132
LOBOSQUE, A. M. Princípios para uma Clínica Antimanicomial e Outros Escritos.
SãoPaulo: Hucitec, 1997.
MEZZINA, R. et al. Networking Consumer’s Participation in a Community Mental
Health Service: mutual support groups, ‘citizenship’ and coping strategies. Intern Journal
of Psychiatry, v. 38, n. 1, p. 68-73, 1992.
NICÁCIO, F.Utopia da realidade: contribuições da desinstitucionalização para a
invenção de serviços de saúde mental. Tese de doutorado em Saúde Coletiva da
Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 2003.
_______. Mental health in Europe: end, beginnings and rediscoveries. London: MIND/
Macmillan, 1996.
ROTELLI, F. et al. Desinstitucionalização: uma outra via. In: ROTELLI, F. et al,
Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1990.
ROTELLI, F. Entrevista. In: SADE, R. M. S. Portas Abertas: do manicômio ao
território: entrevistas triestinas. Marília: Ocina Universitária, 2014. p. 37-53.
SARACENO, B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania
possível. Rio de Janeiro: Instituto Franco Basaglia/Te Corá, 1999.
VENTURINI, E. II Encuentro Nacional de los residenciales terapéuticos y del programa de
volta para casa. Porto Alegre, 2010.
referêncIas consultadas
AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. FIOCRUZ, 2007.
BARROS, D. D. Autobiograa di um Movimento: 1961-1979. Dal manicômio ala
Riforma Sanitaria. Fotocomposizione e stampa, 1979.
______. A psiquiatria alternativa: contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática.
São Paulo: Brasil Debates, 1979.
BASAGLIA. F. Che Cos’è La Psichiatra? Milano, Baldini&Castoldi,1997.
______. Il Circuito delcontrollo: dalmanicomioal decentramento psichiatrico. Torino:
Einaudi, 1982.
______. Escritos selecionados em saúde mental e reforma psiquiátrica. Garamond, 2005.
DELL’ACQUA, G. Non ho L’armacheuccide Illeone. Stampa alternative, 2007.
_______. Incertiluoglidiospitalità. abitarelasoglia. Abitare La soglia. Architettura e
Psichiatria. Rev.do Dipartimento di Salute Mentale di Trieste, 2009.
MEZZINA, R. Crisipsichiatrica e sistemisanitari: uma ricerca italiana. Asterios, 2005.
RAMON, S. (Ed.). Beyond Community Care: normalization and integration care.
London: Macmillan, 1991.
133
Boas práticas
SADE, R. M. S. Portas Abertas: do manicômio ao território: entrevistas triestinas.
Marília: Ocina Universitária, 2014.
SALDIVIA, S.; GRANDÓN, P.; SILVA, F.; MELI-PILLÁN, R. Informe nal:
evaluacióndel programa de hogaresprotegidos para pacientes com esquizofrenia.
Santiago Del Chile: Ministério de Salud, 2004.
SARACENO, B. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio.
In: PITTA, A. M. (Org) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec; 1996.
VENTURINI, E. A desinstitucionalização: limites e possibilidades. Revista Brasileira de
crescimento e desenvolvimento humano, v. 20, n.1. abr.2010.
______. Em memória de uma mulher Maya. Conferência de abertura proferida no I
Encontro de Pesquisadores em História de Saúde Mental. Florianópolis, 2011.
135
Cooperativa de Trabajo en
Salud Mental
Valeria Dimitro
resumen
Somos una Cooperativa de Trabajo en Salud Mental que surge a
n de recuperar un servicio de Hospital de Día. Entendiendo por Hospital
de Día a un dispositivo de tratamiento ambulatorio para personas con
padecimiento mental, su acompañamiento y reinserción social, y el
sostenimiento a sus grupos de pertenencia.
Dicho servicio en el cual trabajábamos cerró abruptamente
sus puertas en marzo de 2013, dejando sin asistencia a las personas que
recibían tratamiento allí, así como también dejó sin fuente de trabajo a los
profesionales que trabajábamos en él.
Luego de un año, hemos podido constituir la Cooperativa de
Trabajo “Ser arte y Parte” Matrícula Nacional Número 50064, cuya
razón de ser es construir un nuevo Hospital de Día para personas con
padecimiento mental.
Vale la pena resaltar que no encontramos antecedentes de que
una cooperativa de trabajo se constituya para brindar un servicio de estas
características, ajustada en ideología y trabajo técnico acorde a lo que
SADE, R. M. S. (Org.)
136
determina la Ley Nacional 26.657 de Salud Mental y Adicciones. Lo
antedicho da la pauta de la originalidad del proyecto y lo dicultoso que
signica llevar adelante un emprendimiento pionero. Nos sostiene la
plena convicción en los principios de cooperatividad y de Salud Mental
velando por los derechos de las personas con padecimiento mental; y la
vasta experiencia del personal idóneo que lo constituye.
nacImIento de la cooperatIva
La cooperativa Ser Arte y Parte, es fruto del trabajo de un equipo
de profesionales de diversas áreas, que se constituyó a partir del trabajo
conjunto en un Hospital de Día perteneciente a una clínica privada de la
ciudad de La Plata, Provincia de Buenos Aires, Argentina
Durante el período de tiempo que funcionó y brindo servicios
dicho hospital de día, conformamos un equipo y dinámica de trabajo con
ideales y objetivos comunes, surgidos de la experiencia adquirida dentro del
trabajo mismo y enriquecidos por experiencias que nuestros profesionales
fueron recorriendo en instituciones locales (Hospital Alejandro Korn,
Hospital Moyano, Centros de Atención en Salud Mental de la Provincia
de Buenos Aires, Clínicas Privadas), y de rotación por dispositivos de salud
mental en Trieste, Italia etc.
El trabajo en el dispositivo, era realizado en un marco de amplias
libertades, pero con las limitaciones que toda entidad privada determina.
Los sueldos no eran acordes con el trabajo, el modo de contrato laboral
no era regular ni acorde a los ingresos que percibía la institución, así como
tampoco existía la posibilidad de desarrollar actividades que excedieran lo
institucionalmente pautado.
La limitación más perjudicial con la que nos encontramos
fue que en agosto del año 2012, la Clínica privada a la que pertenecía
el Hospital de día, fue vendida a inversores desconocidos, sucediéndose
desde ese momento, una serie de irregularidades de distinta índole
(económicas, legales, administrativas) que desencadenaron – en marzo de
2013 – el cierre obligado del hospital de día y posteriormente de la clínica
en su conjunto, Esta situación, no solamente dejó al equipo cesado de
actividades y de fuente de trabajo, sino también dejó sin asistencia a los
137
Boas práticas
usuarios del hospital de día, necesitados de un tratamiento correspondiente,
serio, ético y responsable, como el que hasta el momento recibían. El cese
de actividades, dió como resultado en los usuarios del servicio, recaídas,
recurrentes internaciones y otro tipo de dicultades, no solamente en su
tratamiento, sino también para sus familias y grupos de pertenencia.
Durante los meses de marzo y agosto de 2013 la desazón y
el duelo por la situación que atravesamos al tener que cerrar nuestro
lugar de trabajo, nos llevó a continuar encontrándonos. Deseábamos
continuar ejerciendo nuestras profesiones en esta temática, manteniendo
un formato horizontal e interdisciplinario, y necesitábamos también de
una fuente laboral.
Paralelamente a las situaciones adversas que atravesábamos, el
intercambio mutuo y el crecimiento del equipo en sus accionar ante la
adversidad, llevó a vislumbrar la necesidad de continuar con nuestro
trabajo. Algunos integrantes del equipo decidieron alejarse, mientras que
otros profesionales que habían sido parte del equipo en tiempos anteriores,
se acercaron convocados por el deseo de continuar trabajando en el modo
en el que lo hacíamos.
Luego de largas averiguaciones, surgió la idea de crear una empresa
para poder brindar un dispositivo de hospital de día propio, como servicio
de salud. Evaluamos detenidamente qué gura legal sería la que podría
adecuarse a nuestra propuesta.
A partir de conocer diversas experiencias nacionales e
internacionales que se han desarrollado en esta línea, entendimos que el
único camino posible para poder desarrollar una empresa con principios
de cooperación, horizontalidad y transparencia, erala conformación de
una cooperativa de trabajo. Para brindar un servicio ético y no volver
a padecer la incertidumbre que genera el hecho de que nuestra fuente
de trabajo dependa de personas que no comparten los mismos valores
que nosotros, y cuyos intereses no corren del lado del trabajo digno y
responsable en Salud Mental. Para dejar de estar expuestos a los contratos
laborales precarizados a los que muchas veces somos sometidos los
profesionales de la salud, y poder así dar la estabilidad y contención que
usuarios y trabajadores necesitamos.
SADE, R. M. S. (Org.)
138
La cooperativa como concepto, solamente representa el espíritu y
losofía que queremos transmitir, sino que resume nuestros principios éticos
y profesionales, así como también a los principios ideológicos que sostienen
el trabajo en salud mental que llevamos adelante, referenciados en la nueva
legislación Nacional de Salud Mental, que adhiriere a la tendencia mundial
en la atención (O.M.S, O.P.S) ley n. 26657. En dicha reglamentación,
se establece que se limitaran la creación de clínica neuropsiquiatrías y
hospitales monovalentes, privilegiando los tratamientos ambulatorios en:
casas de medio camino; hospitales de día; centros de día; etc.
Fue así que nació lacooperativa de trabajo en salud mental Ser
arte y Parte, constituida por profesionales Psicólogos, Musicoterapeuta,
Profesor de teatro, Comunicadora Social, Licenciada en Administración
de Empresas, Psiquiatra, Artista Plástica y Profesora de educación física.
Dicha cooperativa brindaría como servicio un dispositivo de Hospital de
Día para personas con padecimiento mental. El sostenimiento económico
para solventar este trabajo, provendrá de las obras sociales y prepagas de los
usuarios del servicio, siendo que las mismas tienen la obligación de deben
solventar económicamente el tratamiento para sus aliados.
los prImeros pasos
El recorrido no fue, ni es, sencillo. En Argentina, las cuestiones
administrativas y burocráticas resultan muy obstaculizantes. En primer
lugar, los tiempos que se requieren para registrar legalmente una
cooperativa, son muy largos. Tuvimos que ocuparnos personalmente de
seguir el proceso de adquisición del número de personería jurídica, para
que no sea demorado innecesariamente. Aun así, ese primer trámite
demoró 8 meses.
Mientras esperábamos obtener la personería jurídica anteriormente
mencionada, las redes empezaron a tenderse. Nos contactamos con una
Federación de Cooperativas de Trabajo FECOOTRA, quienes además
de ofrecernos gran cantidad de información, nos brindó la ayuda
económica que necesitábamos a partir de un préstamo que nos facilitó
“Fuerza Solidaria”, una entidad que a partir de fondos del estado de la
Provincia de Buenos Aires, otorga préstamos a cooperativas para promover
139
Boas práticas
su fundación y desarrollo. Con ayuda de FECOOTRA y nuestros
especialistas en administración empresarial, realizamos una proyección
de gastos y requerimientos económicos que necesitaríamos para poner en
funcionamiento el hospital de día.
A partir de dicho préstamo solventamos los primeros gastos que
conlleva comenzar a construir el proyecto, ya que antes poder comenzar
a trabajar, y generar ingresos propios, es necesario – en primer lugar –
conseguir un inmueble donde funcionará el dispositivo, acondicionarlo
acorde a las normativas requeridas por el Ministerio de Salud para el
funcionamiento de una institución de esta índole, solicitar las habilitaciones
comerciales requeridas, abonar los costos de las mismas, y poder sostenerlo
el tiempo que tarden estas en nalizarse.
El único modo al que podíamos acceder a un inmueble fue
alquilando una casa, ya que no contábamos con un inmueble propio ni
cedido para dicho n, y lo acondicionamos en parte con nuestras propias
manos. Pero nuevos obstáculos aparecieron: ejecutar las habilitaciones
edilicias y comerciales requeridas resultan mucho más complejas y demoran
más tiempo del que en un principio nos habían informado. Nuevamente
la burocracia demora la ejecución de un proyecto, y el lucro cesante que
esto genera, signica mayores gastos de los que habíamos contemplado en
la proyección que minuciosamente habíamos realizado.
sItuacIón actual
En la actualidad, y a un año de haber comenzado con la
constitución de la cooperativa, nos encontramos en una situación delicada:
el dinero prestado no alcanza para solventar los gastos venideros, anexados
a posteriori de la proyección realizada. Nos vemos entonces en la necesidad
de buscar otros modos de producir ingresos económicos para poder sostener
el proyecto, y salir de la coyuntura dramática en la que estamos.
Fue así que decidimos darle utilidad al inmueble que obtuvimos,
para realizar diversas actividades, que si bien no responden especícamente
al trabajo de hospital de día, son un medio para lograr el n que nos
imaginamos. Dichas actividades son diversas y reeren múltiples áreas:
SADE, R. M. S. (Org.)
140
- Realizamos mensualmente de ferias de ropa usada y venta de
algunos platos de comida para vender de manera personalizada.
- Ofrecemos talleres y cursos abiertos a la comunidad, similares a
los que se ofrecerán en el hospital de día, pero en este caso los
usuarios de los mismos deben abonarlos de manera particular.
Los talleristasson tanto nuestros profesionales, como por otras
personas que necesitan un espacio para desarrollar sus actividades.
Clases de idioma, talleres de teatro, escultura, fotografía, clases
de idioma, estimulación cognitiva, pintura, son algunas de las
ofertas de actividades que aparecen en la cartilla.
- Habilitamos espacios como consultorios para que profesionales
de salud realicen su práctica privada.
Un capítulo aparte merece el eje que sostiene este proyecto: el
grupo de personas que lo constituyen. En este tiempo recorrido, hemos
atravesado momentos de gran entusiasmo, desazón, angustias, discusiones,
diferencias, preocupaciones, alegrías, etc. Y con estas vivencias hemos
entendido que lo único que sostiene y posibilita sostener un proyecto,
más allá de las arbitrariedades, es la constitución de un equipo de
trabajo sólido, comprometido, idóneo y respetuoso. Empezamos siendo
compañeros de trabajo, cada cual con un rol denido, para que con el
devenir de la historia, cada cual pueda desplegar, a partir de que el mismo
equipo lo posibilita, el potencial que cada uno de nosotros tienen, tanto
en su capacidad profesional, como en sus características personales y
capacidad de acción.
No sabemos cómo continuará esta historia, solo sabemos que el
tiempo recorrido nos ha hecho aprender lo inimaginable, pero sobre todo
hemos aprendido que solo es posible construir, a partir de un colectivo, y
que es un maravilloso placer compartir el andar del camino con personas
que persiguen un mismo sueño.
Anexo:
A continuación detallamos qué Hospital de Día es el que queremos
141
Boas práticas
construir, su fundamentación, objetivos, destinatarios, qué actividades se
desarrollarán y los ejes éticos con los que nos regimos
fundamentacIón
Los hospitales de día, surgen inicialmente como unidades
asistenciales dedicadas a la administración de cuidados prolongados y
especícos, en los que se llevan a cabo tratamientos especializados que
no podían ser asumidos por la atención primaria. El hospital ha de tener
una estructura dinámica que sepa adaptarse a su entorno, facilitando una
atención integral dentro del continuo de los cuidados que requiere cada
paciente, y a la vez, evita desarraigar de su medio habitual a las personas que
tiene que atender. Estos cambios están teniendo lugar en un marco similar
en todo el mundo occidental, con énfasis en la optimización de los recursos
que los Estados dedican a la atención sanitaria. Esta estructura nueva ha
demostrado sus benecios clínicos y su rentabilidad social, mejorando la
calidad de vida del paciente y disminuyendo los costos económicos propios
de la estancia hospitalaria tradicional.
En Italia, luego una crítica radical de las instituciones totales,
consideradas antiterapéuticas se llegó a la decisión concreta de cerrar los
hospitales psiquiátricos de toda la nación. Como resultado surge la Ley
180 en 1978, la cual incluye entre otras cosas, el cierre progresivo de
los hospitales psiquiátricos, prohibiéndose la construcción de nuevos, la
apertura de salas destinadas a Salud Mental en los hospitales generales o
en centros de Salud Mental, garantizando la libertad de las personas, en la
medida de lo posible.
Actualmente en Trieste no existe ningún otro lugar de internación
psiquiátrica. En lugar de las estructuras manicomiales han surgido una
gran variedad de servicios y lugares de intervención.
Una de ellas son los centros de salud mental. Estos servicios
tienen la responsabilidad de responder a la totalidad de las necesidades
en materia de Salud Mental de la población a su cargo. Los Centros
también son usados como lugar de encuentro, socialización y recreación.
Funcionan talleres de pintura, cine, gimnasia, etc. los cuales están abiertos
a la comunidad.
SADE, R. M. S. (Org.)
142
En 2010 en nuestro país, se aprobó la ley 26 657 de Salud
Mental y Adicciones, adhiriendo a la tendencia anteriormente descripta y
superándola aún en la apuesta del cierre de toda institución manicomial,
pública o privada, así como también proponiendo como medidas de
tratamiento los propuestos en el proyecto que presentamos.
objetIvos del hospItal de día
El objetivo esencial del hospital de día es ofrecer una asistencia
sanitaria especializada y técnicamente cualicada, en régimen ambulatorio,
sorteando la estancia hospitalaria en régimen de internado. Mediante las
actividades que se realizan se apunta a que el concurrente pueda recuperar
y/o construir lazos sociales propios, evitando ser segregado de la comunidad y
retome así la circulación social interrumpida por la patología o el aislamiento.
objetIvos generales
• Mejoría de la calidad de vida de los concurrentes.
• Minimizar el aislamiento social y familiar asociado a la
hospitalización.
• Acompañamiento en la externación y re-inserción comunitaria.
• Conformar una red fuerte pero exible entre los profesionales,
la familia y la comunidad para evitar la caída psicosocial de las
personas.
• Proporcionar una atención integral.
objetIvos específIcos
• Incluir activa y permanentemente en el tratamiento a las familias.
• Generar una posición activa del concurrente, que debe renovar cada
día su contrato en el tratamiento.
• Favorecer la socialización de los concurrentes, a partir de actividades
grupales.
143
Boas práticas
• Brindar espacios exibles de contención, que favorezcan la expresión
y canalización de los conictos.
• Fortalecer las capacidades individuales actuales y potenciales de los
concurrentes.
• Evitar futuras internaciones.
• Recuperar las capacidades sociales y laborales.
• Brindar herramientas de formación y capacitación para la reinserción
laboral.
destInatarIos
En nuestra institución atendemos las demandas de personas con
algún grado de padecimiento mental, derivadas de otras instituciones
o profesionales y aquellas que se acercan de manera espontánea.
Habitantes de la ciudad de La Plata, Berisso y Ensenada. Esto criterio
de admisión responde a uno de los fundamentos básicos determinados
en la ley 26 657: realizar los tratamientos ambulatorios en la zona de
residencia de las personas.
funcIonamIento
El hospital de día está formado por un equipo interdisciplinario
de profesionales que trabajan de manera conjunta, abordando las
problemáticas de forma integral, con objetivos comunes inherentes a las
problemáticas de cada concurrente.
El horario es de 8 a 17 de lunes a viernes, dividiéndose en dos
turnos. En una cantidad aproximada de 15 a 20 concurrentes por turno.
A continuación se describen las actividades llevadas a cabo por los
profesionales que conforman el dispositivo.
entrevIstas de admIsIón
Es el primer contacto del consultante con la institución. Consiste
en una entrevista dirigida por un equipo interdisciplinario, en la cual por
SADE, R. M. S. (Org.)
144
un lado se responde a la demanda de tratamiento y por otro se evalúa si
las necesidades del consultante pueden ser atendidas por el dispositivo o si
requiere una derivación.
Con la información recabada en dicha entrevista se diseña una
estrategia terapéutica con objetivos especícos y un tiempo estimado
de tratamiento.
talleres con orIentacIón artístIca
La modalidad de taller estimula el trabajo cooperativo, prepara
para el trabajo en grupo y ejercita la actividad creadora y la iniciativa.
Posibilita la producción de soluciones de conjunto, basándose en la
actividad constructiva del concurrente. Es un modo de organizar la actividad
que favorece la participación y propicia que se comparta en el grupo lo
aprendido individualmente, estimulando las relaciones horizontales en el
seno del mismo.
Es uno de los puntos centrales del programa considerar al
taller como un espacio exible, sensible a las dinámicas grupales e
individuales, que se rija por los tiempos lógicos y no cronológicos,
pero a la vez sostenido por un encuadre. Un espacio que potencie las
capacidades y facilite el despliegue de las personas, acompañando y
conteniéndolas durante el proceso terapéutico.
Todos los talleres que se desarrollan en esta institución poseen
una orientación artística, entendiendo al arte como cualquier actividad o
producto realizado por el ser humano con una nalidad expresiva, a través
del cual se comunicanideas,emocioneso, en general, una visión delmundo
mediante diversos recursos, como los plásticos, lingüísticos, sonoros,
corporaleso mixtos, sin tener como n único: la estética.
Se intenta crear un ambiente que reeje la ausencia total
de actitudes que juzguen o sugieran algo bueno, malo, fuerte, débil,
que aman u odian. Las diferentes modalidades de terapias expresivas
han reemplazado las más tradicionales que se basaban en curar la
enfermedad, el estrés, la ansiedad, trastornos psicóticos, neuróticos,
etc. y se concentran en el potencial creativo y expresivo de la persona
145
Boas práticas
para buscar estilos de vida signicativos, promoviendo así el bienestar
físico, mental y espiritual de una persona que puede expresar sus
sentimientos, pensamientos e ideas de una forma creativa.
El enfoque es no-interpretativo, el concurrente hace sus propias
interpretaciones del arte y encuentra sus signicados propios. La persona
expresa mediante mensajes visuales, tonos de voz, lenguaje corporal y
contenido verbal. El concurrente comparte su expresión con imágenes, y
el terapeuta ayuda al concurrente con su expresión mediante movimiento,
verbalización y otros usos de los materiales.
Los talleres que forman parte del cronograma de actividades del
hospital de día son: taller de teatro, de educación física, reciclado, higiene,
plástica, terapia ocupacional, musicoterapia, danza terapia, cocina,
comunicación y cine.
Teatro: a partir de la expresión dramática crear la conanza
mutua, erradicar el miedo al ridículo y a la crítica. Fomentar la creatividad
individual y grupal a partir del desenvolvimiento físico, vocal y afectivo,
teniendo en cuenta las habilidades individuales. Tomar las artes teatrales
con sentido autocrítico y grupal a partir de improvisaciones y técnicas
de expresión.
Educación física, deporte y recreación: este espacio apunta a la
búsqueda del reencuentro con el cuerpo, despertar las ganas de moverlo y
descubrir sus posibilidades expresivas y potencialidades físicas a través de
la gimnasia, el deporte y la danza. Vivir es moverse. Moverse a conciencia.
Ser independientes y felices a través del movimiento.
Artes plásticas: es un espacio plástico para recorrer el mundo
de las imágenes propias y ajenas, nuevas y anteriores. En la búsqueda del
análisis e intercambio de percepciones, descubrir los que las imágenes
tienen para decir. Experimentar y producir con diferentes materiales,
formas y colores.
Comunicación: es un espacio que apunta a trabajar en el
reconocimiento, análisis y ejercitación de actividades comunicativas del
concurrente, en el contexto institucional del Hospital de día como así
también, en el entorno familiar, laboral, recreativo, entre otros.
SADE, R. M. S. (Org.)
146
Entendemos a la comunicación como medio de sociabilidad, aprendizaje
e interrelación humana. A partir de esta perspectiva consideramos importante
que los pacientes reconozcan que, en todo acto de comunicación participan
individuos contextualizados. El espacio apunta a trabajar sobre “identidad”,
modos de actuar acorde a la historicidad y roles (individuales y grupales).
Son fundamentales los espacio de producción, reexión, debate y
análisis crítico. La lectura de distintos medios, nos permite un acercamiento
con el entorno y distintas problemáticas sociales cotidianas, lo cual
consideramos fundamental en toda interacción social fuera del dispositivo.
Y desde las individualidades, el desarrollo de actividades lúdicas da lugar a
trabajar de forma distendida sobre los miedos, vergüenzas e inhibición a la
hora de comunicarse.hora de comunicarse.
Estimulación cognitiva: estimular las capacidades cognitivas
(atención, concentración, orientación, lenguaje) a través de diferentes
actividades lúdicas.
Reciclado: contribuir a la educación del cuidado del medio
ambiente a través de la reutilización de materiales de deshecho como:
madera, metal, plástico, entre otros. Fomentar el desarrollo creativo y
artístico, resignicando lo que ya no se utiliza, en un objeto artístico.
Musicoterapia: La música se encuentra presente en diferentes
momentos y ámbitos de nuestra vida. Mediante este espacio se buscara
poner en contacto con experiencias musicales las cuales permitirán el
despliegue de las distintas problemáticas, creando propuestas o validando
las surgidas del grupo de la mano de la creatividad, la improvisación y el
juego. Propiciando oportunidades para percibir, discriminar, experimentar,
representar y organizar las diferentes propuestas musicales.
grupos terapéutIcos
La terapia llevada a cabo en un grupo implica que varias personas
se encuentren dispuestas a compartir la experiencia de relatar y pensar
sus conictos delante (y junto) con otros. Está dirigida por profesionales
psicólogos o psiquiatras y se realiza semanalmente.
147
Boas práticas
entrevIstas psIcológIcas y psIquIátrIcas
El tratamiento también cuenta con atención individual y
periódica, psicológica y psiquiátrica, para abordar la singularidad de cada
persona.
reunIón de famIlIares
Estos espacios están dedicados brindar una escucha y contención
a las familias de los concurrentes. Se apunta que mediante el relato
de cada integrante, se compartan experiencias y se adquieran nuevas
herramientas para sobrellevar la angustia que genera el padecimiento de
un familiar.
Establecer con las familias relaciones y comunicaciones internas
son elementos que constituyen un factor de protección para la salud de los
concurrentes. El contacto con las familias es un momento indispensable,
de valor informativo y de reconstrucción de la historia de la persona, ayuda
a un involucramiento positivo de ambas partes dentro de una red más
ecaz y real.
InsercIón comunItarIa
El área de inserción comunitaria es parte fundamental del
proceso terapéutico ya que no se puede concebir el tratamiento de un
individuo aislándolo de su contexto cultural, social, laboral, familiar.
Desde este espacio se busca que los concurrentes no pierdan estos vínculos,
tomándolos como eje central y motor del proceso terapéutico.
Contamos con un grupo de personas que orientaran y acompañaran
a los concurrentes en actividades extra-institucionales: entrevistas laborales,
cursos de capacitación y formación, microemprendimientos, actividades
recreativas y educativas, etc. Así como también se hace especial hincapié en
la recuperación y sostén de los hábitos de la vida diaria.
IntervencIón comunItarIa
Siendo la principal causa de las recaídas y las crisis, los conictos
con el entorno social, familiar, laboral, etc. de los concurrentes, creemos
SADE, R. M. S. (Org.)
148
que el abordaje de los mismos es imprescindible para su recuperación.
La intervención comunitaria consiste en la atención del conicto dentro
del ámbito donde se genera, con el objetivo de su rápida resolución y
prevención de posibles descompensaciones.
Consideramos imperiosa la necesidad de crear casas de medio
camino, cooperativas de trabajo para los concurrentes, crear posibilidades
de inserción laboral, etc., para que nalmente se concreten los objetivos
planteados y se sostengan a largo plazo.
conclusIón
La desinstitucionalización no signica cerrar los hospitales
psiquiátricos, abandonando así a quienes estaban internados; no signica
desplazar a los internados a otras instituciones similares; no signica
reproducir la misma lógica, que totaliza a los enfermos en la enfermedad.
Signica empezar otra vez, teniendo en cuenta la complejidad de la
persona humana, la necesidad de fortalecer sus lazos sociales e interiores,
respetando su derecho a ser protagonista de su cura y libre para elegir el
tratamiento que alivie su padecer.
El cambio debe darse progresivamente, creando nuevas
instituciones, más pequeñas, más humanas, atentas a la vida cotidiana de
los ciudadanos, abiertas y accesibles, donde la persona se sienta contenida,
respetada y cuidada. Donde se trabaje sobre las potencialidades de los que
asisten y que, mediante la interacción con otros, se creen actos de salud.
Se trata de una propuesta que considera la importancia de
liberar y potenciar las energías residuales de la persona ocultadas bajo los
síntomas,basándose en la idea de que los conictos e inquietudes pueden
ser trabajados por la persona mediante la producción artística.
referencIas consultadas
A PSYQUIATRÌA alternativa. Cantra o pessimismo da razao, o otimismo da pratica.
Conferencias no Brasil. São Paulo: Brasil Debates, 1979.
BASAGLIA, F. La condena de ser pobre y loco: alternativas al manicomio. Buenos Aires:
Topía Editorial, 2008.
149
Boas práticas
______. L’istituzione negata. Milano: Baldini e Castoldi, 1998.
BAULEO, A. Ideología, grupo y familia. Buenos Aires, 1970.
BLEGER, J. Psico higiene y psicología institucional. Buenos Aires: Editorial Paid6s, 1966.
GALENDE, E. De un Horizonte Incierto. Espanha: Paidos, 1997.
LEY NACIONAL de Salud Mental y adicciones. n. 26.657. Decreto reglamentario
603/2013. Presidencia de la Nación Argentina, 2010.
MANUAL de recursos de la OMS sobre Salud Mental. Derechos Humanos y
Legislación Organización Mundial de la Salud, 2006.
PASQUALE, E. Psiquiatria y salud mental. Trieste: Asterios, 2000.
PICHON-RIVIÈRE, E. El proceso creador. Buenos Aires: Nueva Visión, 1987.
______. El proceso grupal. Buenos Aires: Nueva Visión, 1999.
ULLOA, F. Psicología de las instituciones: una aproximación psicoanalítica, 1967.
151
Dimensão individual e social do
processo de recovery
Izabel Marin
Nestes últimos 15 anos tenho me dedicado, junto a outros pros-
sionais, familiares e usuários
1
dos serviços de saúde mental, a estudar, des-
crever e compreender o que facilita e o que diculta o processo de recovery
de um transtorno mental severo.
As principais fontes desse conhecimento são três: (a) como base,
os estudos epidemiológicos clássicos que, entre 1970 e 1990, questionaram
a própria ideia de que o transtorno mental severo fosse “incurável” (de
Ciompi, 1980, e Harding, 1987, à Recovery from schizophrenia de Warner,
só para mencionar alguns; (b) as pesquisas qualitativas dos anos 90 sobre
o protagonismo das pessoas na superação do sofrimento mental (DAVID-
SON; STRAUSS, 1992); (c) os relatos das próprias pessoas que vivencia-
ram um transtorno mental e conseguiram reconquistar uma vida social
satisfatória – que apresentarei a seguir.
Na Itália, o termo “usuário” tem sido criticado por alguns grupos de portadores de transtorno mental, que
o consideram redutivo e estigmatizante e preferem usar a denição “pessoa com experiência de sofrimento
mental”. Será mantido neste breve texto, todavia, pelo seu imediato entendimento, da mesma forma que o
termo operatore é utilizado, na Itália, para denir um prossional de saúde mental.
SADE, R. M. S. (Org.)
152
Começo falando da denição da noção de recovery. O termo in-
glês recovery possui uma ampla gama de signicados: desde o conceito de
readquirir possesso ou controle” ou obter uma compensação por meios
legais até a denição de “recuperar-se” ou “restabelecer-se”, da mesma for-
ma como se diz que uma pessoa “se recuperou” ou “se restabeleceu” de
uma doença ou de uma experiência incapacitante. Nestes casos, costuma-
-se dizer que essa pessoa realizou um percurso de recovery. Hoje, aquilo que
denimos como recovery, no campo da saúde mental, corresponde a uma
ideia de (re)apropriação, em primeira pessoa, do percurso e do processo
que levam as pessoas que sofrem de um transtorno mental severo a superar
suas maiores diculdades existenciais, sociais e psíquicas.
Essa é uma ideia que surgiu na década de 1990 e que se difundiu
e consolidou na primeira década deste século, quando a noção de recovery
obteve pleno reconhecimento no âmbito da saúde mental. A partir de en-
tão, esse conceito foi adquirindo cada vez mais importância na literatura
cientíca que trata da reestruturação dos serviços de saúde mental; hoje,
a recovery de um transtorno mental possui um valor programático que a
distingue de concepções mais tradicionais, como a de “cura clínica”.
A recovery como visão (e práxis) transformadora foi impulsionada
pelos nascentes grupos e movimentos de luta pelos próprios direitos por
parte dos usuários de serviços de saúde mental. O surgimento tanto de nar-
rativas de experiências vivenciadas em primeira pessoa quanto de formas
de organização dos usuários, com a constituição de grupos de auto e mútua
ajuda e de empoderamento coletivo, incidiu fortemente no que hoje pode
ser denido como prática orientada para a recovery.
Patricia Deegan (1988), líder do Mental Health Consumer Move-
ment nos Estados Unidos, baseando-se na própria experiência comparti-
lhada com outros que, como ela, sofriam de problemas graves relacionados
às habilidades físicas ou mentais, alerta para a necessidade de compreender
que as pessoas com um sofrimento psíquico não devem ser “consertadas”,
como se conserta um carro, não são recipientes passivos de programas de
reabilitação. Ao contrário, elas se experimentam como pessoas capazes de
cosntruir ativamente um novo sentido para si e estabelecer novos propósi-
tos para suas vidas.
153
Boas práticas
O percurso de redenição de si mesmo é marcado por uma nova
consciência a respeito da própria condição, mas isso não signica nem
recuperar uma condição anterior ao problema mental, nem aceitar passi-
vamente o problema e suas limitações.
Os relatos “de dentro” da experiência de sofrimento psíquico re-
velam como é possível subtrair-se ao destino do transtorno mental como
uma doença incurável: como é possível, apesar do sofrimento mental, re-
conquistar uma identidade social signicativa e retomar a própria vida.
Gostaria agora de citar algumas palavras de Silva Bon, líder da
Associação “Luna e l’altra”, uma associação de voluntariado de Trieste,
criada por e, sobretudo, para mulheres. Para Bon (2012), os percur-
sos de recovery podem ser realizados por meio de duas metodologias
relacionadas ao fazer: a primeira, diz respeito ao fazer para si mesmo,
pois “só conseguindo interiorizar uma metodologia de fazer para nós
mesmos e para quem amamos podemos construir regras de vida que
se tornem sustentáveis, sólidas dentro de nós e, por m, necessárias,
mas principalmente úteis para que possamos crescer e caminhar rumo
ao bem estar”. A segunda metodologia relacionada ao fazer se refere aos
contextos de cuidados e de facilitação: “nos centros de saúde mental,
as prossionalidades, as competências, as energias dos vários prossio-
nais precisam ser renovadas, sustentadas, formadas para construir um
apropriado modelo de atenção à pessoa que busca os cuidados ofere-
cidos pelo Centro e que se coloca como um protagonista que julga: a
unicidade da sua experiência lhe permite selecionar situações, relações,
contatos”. É o caminho que deve ser percorrido, acrescenta Bon, “para
desenvolver uma consciência sobre os próprios direitos como pessoas,
cidadãos que reivindicam o valor da experiência do sofrimento mental
e não querem retroceder nas garantias de proteção e respeito que já
conquistaram” (2012, p. 67).
Esses dois aspectos indicados por Bon, que são interligados, tor-
nam-se imprescindíveis para a promoção da saúde mental, sobretudo para
as pessoas que enfrentam situações de prolongado sofrimento psíquico:
a dimensão subjetiva da recovery, que se dá pelos esforços que a própria
pessoa faz para melhorar e que aumentam o sentido de autoecácia e de
agency; e a dimensão social, que sustenta ativamente este processo no qual
SADE, R. M. S. (Org.)
154
todos estão envolvidos – prossionais, usuários, familiares, políticos, cida-
dãos em geral.
Para ilustrar concretamente o papel dessa dupla dimensão, gos-
taria de mencionar duas experiências realizadas em Trieste consideradas
signicativas pelos usuários para o desenvolvimento de um sentimento de
self ativo e de pertencimento à própria comunidade.
A primeira é uma experiência de pesquisa baseada em entrevistas
aprofundadas realizada na primeira metade da década de 2000, cujo tema
era os fatores da recovery de um transtorno mental severo na perspectiva dos
usuários. A ideia principal desse estudo era permitir que emergisse a expe-
riência/competência de cada pessoa no que se refere aos fatores que con-
tribuíram para o próprio percurso de recovery. Num primeiro ciclo de en-
trevistas, a tarefa da entrevistadora era favorecer, mediante perguntas que
incentivassem o relato de vivências e signicados, conforme os construtos
pessoais do protagonista da experiência. Em um segundo ciclo, algumas
pessoas entrevistadas foram envolvidas em um grupo para planejar e elabo-
rar novas entrevistas. Isso possibilitou focalizar e enriquecer mais ainda os
conhecimentos sobre os fatores de recovery, na interação entre a experiência
do usuário entrevistador e a experiência de novos usuários entrevistados.
Posteriormente, o material coletado e elaborado serviu como base para
discussões e percursos de formação em contextos mais amplos, dos quais
participaram outros prossionais, usuários e familiares em contato com os
serviços de saúde mental de Trieste. Dessa forma, a ideia de “copesquisa
2
que nos tinha inspirado foi realizada por meio da circularidade das ex-
periências e de competências especícas que permitiram tanto obter um
conhecimento mais aprofundado como promover o que pode ser chamado
de uma cultura da recovery
3
.
2
A copesquisa (em italiano, conricerca) é uma metodologia de produção de conhecimento de campo
“horizontal” (não de mera observação) e, ao mesmo tempo, de subjetividade, bem como uma metodologia de
análise e organização de transformação social: “a pesquisa como um momento de conhecimento da realidade
e, paralelamente, de atividade prático-críticas que visam a sua transformação” (MONTALDI, 1971, p. 11).
Danilo Montaldi publicou estudos pioneirísticos relacionados às mudanças ocorridas nas classes subalternas,
como Milano, Corea. Inchiesta sugli immigrati, em coautoria com Franco Alasia e Autobiograe della leggera
(1961).
3
Este trabalho resultou em algumas publicações na Itália e nos Estados Unidos. Junto com o grupo de pesquisa
multicêntrico denominado International Recovery Research Group, foi publicado o volume coletivo Processes of
recovery in serious mental illness: ndings from a multi-national study, que inclui:della salute mentale).
155
Boas práticas
O segundo exemplo se refere à tentativa de traduzir o conteúdo
desta ação inicial de difusão cultural em alguns princípios operacionais que
reestruturassem as práticas dos serviços, para orientá-las explicitamente para
processos de recovery. Entre 2011 e 2012, foi constituído um grupo mis-
to, composto por usuários, prossionais, familiares e voluntários: este grupo
confrontou os diversos saberes práticos para fazer emergir um conhecimento
compartilhado sobre princípios, nalidades e funções de um serviço de saú-
de mental. O resultado desse trabalho foi um documento intitulado “Para
uma Carta dos serviços orientados para a recovery”, contendo 10 pontos-cha-
ve, que retomarei adiante e que se referem principalmente a: espaços e ins-
trumentos que fornecem suporte às pessoas com experiência de sofrimento
mental; estratégias de inclusão social e de empoderamento; organização dos
usuários mediante associações e suporte entre pares; necessidade de enfren-
tar o preconceito e o estigma associados ao transtorno mental. Nesse caso,
também, ampliou-se o campo de discussão, com a criação de diversos gru-
pos focais, distribuídos nos quatro centros de saúde mental de Trieste, que
discutiram e aprovaram o primeiro esboço do documento; desta segunda
etapa, desenvolvida em 2013, participaram cerca de 100 pessoas, das quais
60 eram usuários. É importante salientar que, nessa segunda fase, os usuá-
rios que tinham participado da elaboração do esboço da Carta, na primeira
fase, assumiram o papel de formadores dos outros usuários e participantes,
ou seja, assumiram uma responsabilidade tanto na exposição do conteúdo
quanto na coordenação dos grupos de discussão. Darei agora alguns exem-
plos desse processo de elaboração, citando opiniões expressas pelos usuários
sobre alguns pontos qualicantes da Carta dos serviços, intitulada Carta
della Recovery 2014. Breves comentários reassumirão as palavras-chave mais
representativas que emergiram nessa discussão
4
.
1. O primeiro item da Carta diz respeito ao “Serviço centrado
na pessoa”. Essa característica – que, aliás, faz parte da experiência de
Trieste desde a época de Basaglia – foi denida mediante diversas indica-
ções concretas, pormenorizadas, sobre como é percebido e vivenciado o
contato com o serviço desde o momento do acolhimento. Alguns exem-
plos revelam como este tema do contato inicial é particularmente sentido
pelos usuários.
 As citações são dos usuários participantes do projeto, os nomes são ctícios.
SADE, R. M. S. (Org.)
156
Foi proposta a imagem de um “abraço metafórico”: algo muito
diferente de um acolhimento formal, pois requer que o usuário encontre
antes de tudo uma pessoa e, depois, um prossional.
O acolhimento é um momento importante, em que a necessidade de
ser compreendido é grande. Não bastam os medicamentos... é preciso
uma forte relação no momento do acolhimento; às vezes, uma pessoa
que vive a mesma experiência também poderia ser um interlocutor
apropriado para compartilhar todo o nosso sofrimento. A escuta é
fundamental (Anna).
Dessa forma, ser escutado e não somente “ouvido”. A capacidade de
escuta depende da capacidade humana de quem acolhe:
Quando você é acolhido, é bom perceber que as pessoas estão realmente
interessadas no que lhe aconteceu e que não lhe impõem uma forma
de tratamento. No início, o principal é ser bastante escutado. Antes
de propor os medicamentos, é preciso deixar que a pessoa relate
longamente a sua experiência, mesmo que às vezes seja difícil contar
tudo imediatamente porque a sua cabeça esta confusa (Anna).
Um importante aspecto evidenciado é o fato de poder recorrer a
um Centro sem medo de ser rotulado:
O diagnóstico não coincide com a pessoa. É necessário questionar o
próprio conceito de diagnóstico, pois para lidar com ele é necessária
uma cultura de acolhimento. O diagnóstico não é um fato objetivo;
é subjetivo, porque o indivíduo é único e as respostas a serem dadas
devem considerar as variáveis que têm a ver com a existência de cada
pessoa. Os ingredientes são innitos, assim como é innita a nossa
mente (Carlo).
2. Com base nessas premissas, foi identicado pelos usuários o
percurso che constrói a conança em si mesmo, junto com a conança no
papel dos prossionais como acompanhadores: desta forma, é possível recu-
perar um sentimento de pertencimento a uma comunidade, que constitui
um dos objetivos fundamentais do serviço (aspecto tratado principalmente
no item número 5 da Carta: “Rede social e pessoas signicativas”). Aqui,
a opinião dos usuários evidencia a relação dinâmica, processual, entre au-
mento da autonomia pessoal e abertura à sociabilidade.
157
Boas práticas
O processo de mudança tem início quando começamos a nos aceitar.
É um processo que nasce dentro de nós e o prossional se torna
importante quando sabe estimular a pessoa a encontrar o próprio
caminho. Quer dizer aprender a chegar à raiz do problema, perceber a
necessidade de mudar, de começar a mediar com o mundo. Signica
compreender as outras pessoas, os outros pontos de vista, saber mediar
entre o que existe e o que queremos (Dario).
Desenvolver uma capacidade de análise da realidade está relacio-
nado a uma reexão sobre o conceito de empoderamento, que salienta a
importância de um serviço que não se limite ao mero assistencialismo:
[o serviço] deveria assimilar o princípio do “empoderamento”,
que literalmente signica “enriquecimento, fortalecimento,
potencialização”. As pessoas que chegam ao serviço deveriam ser
cuidadas num momento de crise, mas depois acompanhadas de volta
ao mundo. Isso requer um enorme esforço de todos os atores sociais
envolvidos: prossionais, usuários, cooperativas sociais. Quando falta
um desses aspectos, o empoderamento da pessoa em sofrimento torna-
se muito complicado e ligado a circunstâncias casuais (Dario).
Nesta ótica deve ser considerado o empenho organizativo do ser-
viço e a promoção de formas associativas diversicadas:
Não dá para imaginar que uma pessoa possa emancipar-se frequentando
somente um centro de saúde mental, assim como não dá para imaginar
que uma pessoa, após uma crise, mantenha o mesmo ritmo de vida da
chamada normalidade. Associações frequentadas por pessoas sensíveis
aos temas da saúde mental também desempenham um papel de vital
importância. Possibilidade de praticar esportes, tocar um instrumento,
escrever, viajar, “colocar os pés no mundo” são indispensáveis (Dario).
A reconstrução de vínculos sociais, ou seja, sentir-se parte de con-
textos gradativamente ampliados de sociabilidade, é compreendida como
um processo que pode expandir-se da dimensão interna de um serviço à de
uma mais ampla inclusão social:
Os vínculos entre pessoas que frequentam o mesmo serviço podem tornar-
se duradouros. São vínculos que dizem respeito tanto aos prossionais
quanto aos usuários. E é no plano da sociabilidade e da afetividade que
desenvolvemos as nossas capacidades relacionais e construímos referências
para relacionamentos dentro e fora do serviço (Elena).
SADE, R. M. S. (Org.)
158
3. Um passo seguinte neste processo é desenvolvido no item 6 da
Carta: “Suporte entre pares”. A importância desse aspecto, amplamente
reconhecido pelos usuários como fator propulsor para a saúde e a tomada
de consciência, também é evidenciada nos testemunhos sobre como surge
a motivação para assumir a responsabilidade por outra pessoa.
O impulso interior é fundamental; é preciso encontrar o próprio eixo
para enfrentar a tempestade. Ser ativo também quer dizer “começar
a preocupar-se com o outro” (um parente ou outras pessoas que
frequentam o Centro), oferecer as próprias experiências positivas ao
serviço para contribuir para a própria melhora e de outros (Fábio).
Certamente, a capacidade de ajudar num momento de crise é
vista como um aspecto qualicante dos “pares”.
[...] a crise é um momento diferente de todos os demais, é avassaladora;
encontrar uma pessoa competente, que já viveu essa experiência,
poderia ajudar muito... (Elena).
Nas discussões realizadas em Trieste também emergiu um aspecto
recorrente nas experiências mais consolidadas de suporte entre pares, espe-
cialmente nos EUA e no Reino Unido: o valor de exemplo que é oferecido
pelos pares para “conseguir superar as diculdades”, fonte de uma esperan-
ça que dá apoio à continuidade da experiência.
As pessoas têm necessidade e direito de ter esperança. Eis que o suporte
entre pares torna-se, assim, um instrumento essencial. Pessoas que
conseguiram resolver os seus problemas e que conhecem o sofrimento
do transtorno mental podem ajudar muito os que ainda o estão
vivenciando (Dario).
Do ponto de vista organizativo, a Carta aborda as modalidades
com as quais o suporte entre pares pode ser incentivado e apoiado pelo ser-
viço, prevendo também que os novos saberes oriundos da experiência entre
pares possam obter um reconhecimento econômico (para que se tornem,
no futuro, uma prática comum).
159
Boas práticas
notas conclusIvas
Para esta breve exposição, foram selecionados alguns aspectos sig-
nicativos que podiam fornecer uma imagem mais evidente de um proces-
so de amadurecimento que não foi, como disse anteriormente, nem breve
nem linear. Sem dúvida, não era possível abordar nem a extensão sistemá-
tica dos aspectos tratados na elaboração da Carta, nem a riqueza das con-
tribuições individuais dos participantes. Apesar disso, creio que podemos
concluir destacando uma característica fundamental, um “o condutor”
que atravessa os diversos testemunhos e conteúdos reunidos.
Nesta experiência, foi possível observar e elaborar uma ideia de
recovery como amadurecimento gradual: uma trajetória que parte (a) da
condição de fragilidade de uma pessoa que precisa de ajuda; (b) leva ao
reconhecimento de si como parte de uma comunidade; e (c) desenvolve-se
na capacidade de ajudar os outros. Desta forma, não signica somente
melhora de uma condição psíquica, mas também ampliação das possibili-
dades que envolvem profundamente a dimensão existencial e, diria, ética
e civil. Um processo de amadurecimento que transformou não somente as
pessoas que mais sofrem, mas também a consciência dos prossionais e de
outros que dele também participaram.
Paolo, uma das pessoas mais ativas nas discussões, escreveu:
Os outros somos nós. Talvez seja o fato de ter mais consciência do que
sou e do que poderia ser que me permite olhar ao redor e reconhecer
o outro como um meu semelhante, uma pessoa a quem pedir e, ao
mesmo tempo, doar experiência. Um encontro.
Isto é: “O outro não é uma cópia de mim, é a inteligência e a sen-
sibilidade que reconheço e com as quais desejo compartilhar um momento”.
referêncIas
CIOMPI, L. e natural history of schizophrenia in the long term. British Journal of
Psychiatry, v. 136, p. 413-420, 1980.
HARDING, C. M.; ZUBIN, J.; STRAUSS, J. Chronicity in Schizophrenia: Fact,
Partial Fact, or Artifact? Hospital and Community Psychiatry, v. 38, n. 5, p. 477-
486, 1987.
SADE, R. M. S. (Org.)
160
MARIN, I.; BON. Guarire si può. Persone e disturbo mentale. Archivio critico della
Salute Mentale, Edizioni Alphabeta Verlag, p. 27-31.
MONTALDI, D. Militanti politici di base. Torino: Einaudi, 1971. p. 11.
WARNER, R. Recovery from schizophrenia. Psychiatry and political economy. 2. ed.
London, New York: Routledge, 1994.
referêncIas consultadas
DAVIDSON, L.; STRAUSS, J. Sense of self in recovery from severe mental illness.
British Journal of Medical Psycology, v. 65, p. 131-145. 1992.
DAVIDSON, L. Living outside mental illness: qualitative Studies of Recovery in
Schizophrenia. New York, London: University Press, 2003.
COLEMAN, R. Recovery an alien concept?. Gloucester: Handsell Publishing, 1999.
DEEGAN, P. E. Recovery: the Lived Experience of Rehabilitation. In: COHEN,
M. et al. (Ed.). Assessing & Developing Readiness. Boston: Center for Psychiatric
Rehabilitation, 1993.
MARIN, I. La riabilitazione psico-sociale nella prospettiva dell’utente: cinque percorsi di
recovery in salute mentale. Tesi di diploma universitario in servizio sociale, Università
degli Studi di Trieste, 2000.
MARIN, I.; MEZZINA, R. Percorsi soggettivi di guarigione. Studio pilota sui fattori
di recovery in salute mentale. Rivista Sperimentale di Freniatria, v. 130, n. 1, p. 129-
152, 2006.
MARIN, I. et al. e Persons role in recovery. American Journal of Psychiatric
Rehabilitation, v. 8, n. 3, p. 223-242, 2005.
MEZZINA, R. et al. From participation to citizenship: how to regain a role, a status
and a life in the process of recovery. American Journal of Psychiatric Rehabilitation. v. 9,
n. 1, p. 39-61, Jan/Apr. 2006. Special Issue: Process and Contexts of Recovery, Part. II.
STRAUSS, J. e Person: key to understanding mental illness: towards a new
dynamic Psychiatry, III. British Journal of Psychiatry, v. 161, p. 19-26, 1992.
UNZICKER, R. On My Own: A Personal journey rough Madness and Re-
Emergence. Psychosocial Rehabilitation Journal, v. 13, p. 75-77, 1989.
161
Deistituzionalizzazione delle
istituzioni, della cultura e delle tecniche
psichiatriche, col loro budget
Evaristo Pasquale
L’Ospedale Psichiatrico è l’istituzione civile più forte: negli ultimi
secoli ha segnato netto il conne fra normalita’ e follia. E’ diventato il
capola delle Istituzioni Totali (carceri, riformatori, Case per Anziani,
Centri per immigrati clandestini).
Le culture Psicanalitica, Fenomenologica, Esistenzialista,
Antropologica, Femminista, Umanistica, dei Diritti Umani..hanno
relativizzato e scardinato questo conne. E lo psichiatra italiano Franco
Basaglia, sostenitore di queste nuove idee, ha contribuito molto a questo
scopo, combattendo contro questo simbolo potente di alienità ed esclusione
delle persone fragili dal consesso umano, che faceva perdere potere e senso
alla loro vita.
Basaglia ha letto e combattuto i passaggi di progressiva Esclusione
Sociale delle persone svantaggiate: scuole speciali, riformatori, ghetti, carceri
no all’Ospedale Psichiatrico (Op); quindi nel lavoro all’ interno dell’Op
segue un lo teorico-pratico per eliminare l’ esclusione/reclusione dei diversi.
Chiamato nel 1971 a dirigere l’OP di Trieste dal Presidente della
Provincia (allora gestore politico-amministrativo dell’Op), convinto dalle
sue idee innovative, dopo riessioni quotidiane con la sua equipe, inizia a
SADE, R. M. S. (Org.)
162
smontare a gradi il Moloc Manicomiale, lottando contro culture e poteri
professionali, politici, amministrativi, della stampa e della giustizia ..
Coinvolge professionali e ricoverati in assemblee quotidiane
nei reparti per renderli coscienti della comune condizione di “prigionia
ed insieme umanizzano progressivamente le relazioni e le regole
interne a Op e modicano le regole di ingresso e di uscita , intaccando
regolamenti secolari.
Vengono ridotti i letti ed i padiglioni manicomiali con la
contemporanea organizzazione di un’assistenza extraospedaliera attraverso
visite domiciliari ai dimessi da Op e apertura di ambulatori diurni (poi
CSM, Centri di Salute Mentale) nei quartieri per assistere-sostenere i
dimessi (in famiglia o in appartamenti comunitari) ed i nuovi pazienti.
Poi viene creata una Reperibilità in Pronto Soccorso e
successivamente un piccolo Servizio di Emergenza (Servizio Psichiatrico
di Diagnosi e Cura) nell’Ospedale Civile per ltrare le ricadute ed i nuovi
ingressi in Op, iniziando a indirizzarli nei CSM.
Si comprano auto per le Visite Infermieristiche e Mediche
Domiciliari quotidiane nel territorio, a cui anche i vecchi ricoverati in Op
vengono progressivamente restituiti, coinvolgendo anche i Medici di Famiglia
(Pubblici) nella assistenza complessiva ai loro pazienti, pur psichiatrici.
Si lavora per strutturare relazioni di ducia non solo coi pazienti,
ma con tutto il loro contesto familiare e comunitario, sensibilizzando i vicini
ad una maggiore comprensione dei “matti” e spesso anche arontando
problemi di qualità di vita nella comunità.
Si elimina ogni forma di contenzione sia nel residuo dell’OP, sia in
ogni luogo di assistenza psichiatrico, combattendo l’idea della pericolosità
del folle con maggior informazione, presenza e coinvolgimento umano.
Si valorizzano i diritti civili delle persone, le loro scelte soggettive,
talvolta da dialettizzare,..in qualunque luogo di assistenza o di vita.
Si completa la costruzione dei CSM nei quartieri (oggi 1per 50-
100 mila abitanti), accessibili a tutti i cittadini perché il contesto di vita è
un sostegno forte per le fasce deboli (IPS WHO, 1973).
163
Boas práticas
Si spostano tutte le competenze di cura, le risorse di budget e di
personale dall’OP alla rete dei CSM 24h, organizzati in Dipartimento di
Salute Mentale.
Amministrativamente in tutta l’Italia gli Op vengono chiusi
denitivamente da una norma nazionale dopo quasi 20 aa dalla
Legge180/’78, che sancisce il lavoro di apertura degli Op. Questa
trasformazione enorme ed impegnativa dell’istituzione più violenta e
costrittiva degli ultimi secoli ha richiesto lotte sociali e politiche..oltre che
una cultura convinta di civiltà ed umanizzazione.
Esemplare fu il percorso di F. Basaglia a Trieste per l’attenzione
alle persone ed ai loro diritti di cura reale, ma anche alla sostenibilità
economica-politica del processo, chiudendo reparti mentre si aprivano
strutture nel territorio e gli operatori dai reparti vi transitavano, ovviamente
cooptati e coinvolti nel percorso.
La “Rivoluzione psichiatrica” collegata ai nuovi saperi e diritti
che si stavano diondendo progressivamente in Europa, America…ha
cominciato a radicarsi parzialmente ed in modalità diverse anche in USA,
Inghilterra, Spagna... e in Brasile; e si spera che le legislazioni e poi la
trasformazione delle culture e dei Servizi diventi realtà anche in Argentina,
in Cile ed in tutta l’America e poi altrove e che “la barbara carcerazione dei
folli” scompaia.
Purtroppo con percorsi totalmente opposti l’istituzione
manicomiale è stata anche l’ esempio a cui i regimi politici più disumani
dei vari continenti si sono rifatti per controllare i loro popoli nell’ultimo
secolo in Europa, SudAmerica, Asia... (lager, gulag...), il che evidenzia che
questi metodi “terapeutici” sono quelli che permettono il controllo più
disumano possibile degli esseri umani.
Ora passiamo al funzionamento delle Nuove Istituzioni di Salute
Mentale, nate dal lavoro di Trieste,che si raggruppano nel Dipartimento
di Salute Mentale (DSM), per vericare la loro ecacia nell’arontare
la soerenza ed i disturbi delle persone, delle famiglie e delle comunità
umane..partendo però dal rispetto e non dalla coazione e negazione
dei loro diritti civili, aiutandoli anzi a recuperarli dove sono stati lesi, a
riappropriarsi delle proprie abilità, interessi, desideri... con un percorso di
SADE, R. M. S. (Org.)
164
recupero, tendenzialmente accompagnato verso i comuni bisogni umani e
di relazione , fuori dall’isolamento e dalla soerenza.
Ci si coinvolge con i familiari delle persone, anch’essi in soerenza
per la condizione del congiunto, si accoglie il loro disagio e si cerca di
accompagnare tutto il nucleo verso il possibile superamento dei problemi
od almeno verso una condizione accettabile, costruendo terapeuticità con
gesti sensati in quello specico percorso.
Le nuove istituzioni “basagliane”comunitarie che soppiantano
l’ospedale psichiatrico sono:
• il Servizio Psichiatrico di Diagnosi e Cura nell’ospedale generale
(uno ogni 200-300.000 abitanti) con pochi letti e brevi degenze
per le emergenze; inoltre svolge consulenze psichiatriche in Pronto
Soccorso e in reparti internistici.
• Il Centro di Salute Mentale 24h in ogni quartiere (uno ogni 50-
100000 abitanti), con massimo otto letti per le persone in crisi del
suo territorio; è il perno della nuova assistenza in salute mentale,
svolge continuità di cura diurna interna e domiciliare per tutte le
richieste del suo territorio e notturna per gli ospiti in crisi e per le
consulenze. Svolge un’azione di regia per tutti i progetti di cura
e di riabilitazione psichica per le persone della sua area dislocate
ovunque (domicilio, case di riposo, reparti ospedalieri civili...);
partecipa con gli altri attori sociosanitari pubblici alle iniziative
locali per la prevenzione del malessere psicosociale dell’area
(Mmg, Distretti sanitari per le cure mediche extraospedaliere,
Servizi Sociali per sostegni economici ed abitativi...).
• Il Servizio di Abilitazione e Residenze, che coordina gruppi
di convivenza inizialmente in appartamenti nell’ex Op e poi
nella città, con un sostegno modulato alle carenze degli ospiti
(abitazione, risocializzazione e attività ricreative, recupero di
abilità …) e team di inserimento lavorativo in Cooperative o
aziende private.
• Dipartimento di Salute Mentale, che è il coordinamento di tutti i
Servizi suddetti, del personale, dei progetti e del budget di S. M.
in quell’area (200-500.000ab).
165
Boas práticas
Indicatori di questa organizzazione coesa di Servizi di Salute
Mentale pubblici, verso un’unicita’ di risposta pubblica (non comune
altrove, anche in Brasile, per la sovrapposizione di circuiti di cura statali,
regionali, comunali, universitari.. complementari e non sostitutivi
dell’internamento..), sarebbero potenzialmente trasferibili in ogni realtà:
1) una rete sanitaria unica e coerente sul territorio di Servizi Pubblici
di Salute Mentale Comunitari (DSM) accessibili 24 ore, con ospitalità
notturna ed organizzazione proattiva, totalmente sostitutiva dell’Op.
Invece spesso si incontrano nel circuito psichiatrico: ospedali psichiatrici
pubblici, reparti psichiatrici di Ospedali Civili o Cliniche Psichiatriche
Universitarie , poliambulatori vari ecc contemporaneamente appartenenti
a varie Istituzioni Pubbliche e Private diverse (Ospedali Civili, Cliniche
Universitarie, Ospedali psich Privati, Servizi Comunitari di Municipalità,
Strutture Benemerite...) senza alcun collegamento o coordinamento fra di
loro, con risposte contraddittorie e quindi dannose, creando più mercato
di cronicità che di salute. Le crisi psichiatriche non necessiterebbero
prevalentemente di ricovero, ma di essere lette nel loro contesto ed
arontate non solo nei sintomi, ma nel senso più profondo ed evolutivo.
Ed è fondamentale la continuità delle cure nei casi gravi, costruendo
relazioni, percorsi abilitativi nell’integrazione con la comunità, facilitando
l’accesso ai comuni diritti.. Anche i Servizi Comunitari richiedono
continua autoriessione per evitare meccanismi cronici.
2) tutta la riconversione del budget dell’Op, mentre si lavora per
chiuderlo, nei Servizi del DSM, trasferibile in tempo quasi reale.
Purtroppo nchè rimane attivo anche solo parte dell’Op non si può
trasferire il budget sulle nuove strutture, che quindi rischieranno di
essere asttiche e non poter svilupparsi, mentre l’Op resterà centrale.
3) la continuità dell’attenzione e dell’empatia per le persone con
disturbi signicativi (“mi interessa la persona e la sua storia di vita più
che la malattia”)(F. Basaglia), superando l’identità totalizzante della
follia, con la costruzione intorno di reti reali di ducia ed appoggio,
SADE, R. M. S. (Org.)
166
in un modello complesso di intervento biopsicosociale. Le patologie
psichiche dipendono molto dal contesto e dalle sue potenzialità
di arontarle correttamente. La qualità dello “ sguardo dell’altro”,
l’aettività.. più che i protocolli cambiano le persone.
4) per l’integrità psichica e sica delle persone soerenti e per la loro
qualità di vita serve un progetto coi Servizi medici di cure siche con
un’attenzione maggiore per pazienti psichici , spesso poco attenti ai loro
disturbi sici. Per cui è importante il coinvolgimento di MmG, Distretti
Sanitari... ed anche sostegno sociale coi Servizi Sociali comunali,
Case Popolari pubbliche, Associazioni di quartiere, Microaree...). Si
è lavorato successivamente per collegare questo circuito sociale di poli
diversi che, quando è uido, produce risposte coerenti e integrate per
un salto di qualità nella vita e nella salute delle persone.
5) una strategia riabilitativa continua nei suoi percorsi esistenziali reali
(e non articiali), particolarmente lavorativi, sia nel mercato del lavoro
che in Cooperative Sociali, ma dentro relazioni sociali che rompano
la cronicita’. Un luogo “psichiatrico” tende sempre a connotarsi
come gestore e riproduttore di miserie, mentre altrove è più facile
agire le contraddizioni con minore istituzionalità. Per cui le strutture
psichiatriche del territorio devono essere attente e ben integrate fra loro
e capaci di accompagnare la persona verso l’autonomia ed il lavoro, o il
risultato di emancipazione per la persona rischia di essere scarso.
6) favorire l’incontro fra normalità e diversità (che in parte può rimanere
nelle persone in aspetti poco accettati o originali), riconoscendo diritto
all’inclusione ad entrambe. Rompere l’incomprensibilità, la paura della
diversita’, i passaggi esistenziali bloccati o destinati solo al consumo..,
facendo ripartire la costruzione di realtà per la riproduzione sociale, le
pratiche di comunità, le contaminazioni, le narrazioni, le potenzialità
di connessioni ed umanizzazioni dentro una dimensione temporale ed
un habitat... Ma l’armonica complessità di questi poli è molto dicile
da raggiungere.
167
Boas práticas
7) lavorare per la deistituzionalizzazione, e mantenersi fedeli agli
obiettivi originari, quindi combattere l’istituzionalizzazione, cioè
l’involuzione che ogni struttura e gruppo umano, anche se nuovi,
rischiano di subire/favorire nel tempo per ansia di controllo o per
inerzia, compromessi, cronicizzazione.. e poi inglobare assoggettando
ai suoi meccanismi le persone più fragili. “Mi interessa la persona più
che la malattia”(F.Basaglia)
Ora per continuare ad essere pedagogico rispetto al mio obbiettivo
di facilitare i percorsi professionali a chi lavora in strutture completamente
diverse da quelle di Trieste, può essere utile evidenziare le discriminanti
positive ubiquitarie delle categorie del nostro operare, fra operatività
Manicomiale e Comunitaria per riconoscere e facilitare la scelta pratica di
lavorare ogni giorno verso Servizi di Salute totalmente sostitutivi all’O.P.
1. Eziopatogenesi: dalla Medicina Positivistica che vede malattie
ad eziopatogenesi cerebrale ed evoluzione infausta, pericolosità da
contenere sicamente o chimicamente.. indirizzarsi invece verso
la lettura di un disturbo multifattoriale con vulnerabilità variabile
proporzionale agli stress esistenziali, e per arontarlo accentuare le
risorse personali ed ambientali. Riuscire a “leggere l’alterità più che
l’alienità, la dierenza più che l’incomprensibilità, coinvolgendo
il contesto nell’interpretazione della crisi psicotica per evitare
il sequestro specialistico e mummicante. Bisogna ristabilire
la cultura della diversità, che non è infermità, della malattia
che non è incomprensibilità e dei momenti incomprensibili che
non sono cronici ed irreversibili..verso possibilità alternative di
interpretazione della follia”(A.Gaston). “La schizofrenia non esiste
al principio della evoluzione, ma solo alla ne” in una lettura di
carriera predenita(H. Ey).
2. Terapia e Riabilitazione: lungo internamento(talora indenito)
in OP con terapie siche di isolamento, contezione, shock,
ergoterapia, abuso di psicofarmaci..versus cura biopsicosociale, con
SADE, R. M. S. (Org.)
168
breve trattamento (ospedaliero?) farmacologico e poi riabilitazione
psicosociale e “accompagnamento” nel suo percorso esistenziale.
3. Luoghi di cura: Op o Cliniche Private o Ambulatori per indeniti
trattamenti farmacologici versus DSM coi loro diversicati luoghi
volontari di cura nella comunità.
4. Attori della cura diversicati: in Op ruoli prevalentemente per
psichiatri e infermieri custodi e stigmatizzanti; nella Comunità oltre a
Medici ed Infermieri con ruolo minore di controllo, anche familiari,
amici, psicol, ass soc, , volontari, accompagnatori, helpers..ed il clima
di una comunità libera.
5. Prognosi: il potere fondante del sistema manicomiale va oltre
la resistenza culturale della iniziale “tara ereditaria” e dello stigma,
organizzando la gestione istituzionale della “inguaribilità” su
meccanismi di negazione e annichilimento delle persone e non di
cura versus almeno parziale recupero proporzionale al contesto
sociofamiliare esterno.
6. Diritti: in Op nessun diritto (internato perché pericoloso,
“interdetto” dai diritti civili) versus diritti di cittadinanza come
tutti nella Comunità, se non soggetto a TSO (obbligo di cura per 1
settimana, ev ripetibile) o interdetto dal Tribunale per incapacità a
gestire i beni o in AdS (Amministrazione di sostegno) per supporto
alla propria gestione (leggi italiane).
7. Modello Culturale: le istituzioni presenti in un Paese riproducono
intorno a sé il proprio modello culturale; nche permane anche solo
un reparto di Op, che è l’istituzione più forte nel settore, irradierà il
suo diritto e le sue regole a difendere la comunità da una patologia
potenzialmente criminale e non curabile, controllabile solo lì nella
commistione di interventi repressivi, sedativi, moralistici, con
prognosi infausta e senza prospettive alternative.. Queste regole
sono comuni all’etica medica degli infermieri-secondini e degli
altri lavoratori dell’istituzione. Gli eventuali Servizi Psichiatrici
Territoriali non potrebbero ignorare un Op operante nel loro
territorio, che fagocita i loro pazienti con una dinamica conittuale
con la loro, che rilancia lo stigma, impedendo il cambiamento degli
169
Boas práticas
atteggiamenti sociali. Così non lo sostituiscono, ma solo ne diventano
complementari e quasi succubi.
Ora invece operatori sociosanitari, familiari e cittadini...
giusticano il diritto istituzionale alla sopravvivenza delle persone umane
con disturbi psichici dentro la comunità, e quindi il diritto a riappropriarsi
della follia come condizione umana.
“Il buono della psichiatria è sempre venuto da altrove.
Dal suo interno essa non ha elaborato che pratiche perverse, saperi
dissociati dall’oggetto, in una tragica caricatura di rapporti umani
(ROTELLI, 1994).
8. Politiche di cambiamento: dicoltà di budget e rischio involutivo
nel mantenere la contemporaneità dei due sistemi, di quello
manicomiale e di quello comunitario. Se lo smontaggio degli schemi
deve essere inizialmente a piccoli passi per coinvolgere e rispettare
i ritmi delle persone, oltre che la burocrazia.. poi se lo switch non
accelera(periodo di trasformazione di strutture e fondi assistenziali),
diventa troppo lento, incerto, non convinto e rischia la retromarcia.
Basaglia col suo gruppo credette nell’utopia, coinvolseil contesto,
accelerò e raggiunse l’obiettivo più civile del suo tempo.
Però nessuno è perfetto ed in Italia abbiamo ancora aperto il
problema OPG :nelle Corporazioni Mediche prevalentemente psichiatriche
e medicolegali si è aperto negli ultimi tempi un dibattito arretrato sulla
nuova legge sugli OPG (5 Ospedali Psichiatrici Giudiziari con totale circa
1400 internati), strutture sotto l’amministrazione del Ministero della
Giustizia e non della Sanità.
Si sta battagliando in Parlamento, che ha già legiferato (L.9/2012 e
DL52/2014) per chiuderli, e settori medici a difesa corporativa su basi pseudo
diagnostiche, restii su chi (Psichiatri dei Dsm o dei Sert-Tossicodipendenza,
Medici Legali) e dove vigilare i “folli” che compiono reati.
SADE, R. M. S. (Org.)
170
referêncIas consultadas
DEL GIUDICE, G. P.; REALI, E. M. How can mental hospital be in psychiatry in
transition. In: RAMON, S.; GIANICHEDDA, M. G. How can mental hospital be in
psychiatry in transition. London: Pluto, 1988.
EVARISTO, P. Manual del Operador en Salud Mental Comunitaria. La Havana:
Cooperacion Italia-Cuba, 2000.
______. Psiquiatria y Salud Mental. Trieste: Asterios, 2000.
______. La Reforma Psiquiatrica hoy dia en Trieste y Italia, Madrid: AEN, n.
110/2011. In: LEON, N. et al. Abrazos: experencias y narrativas acerca de la locura y la
salud mental. Montevideo, 2013
FOUCAULT, M. Il potere psichiatrico. Itália: Feltrinelli, 2004.
GASTON, A. Genealogia dell’alienazione. Itália: Feltrinelli, 1987.
MEZZINA, R.; TORESINI, L. La deistituzionalizzazione nelle migliori pratiche europee.
Bolzano: Verlag, 2010.
PICCIONE, R. Manuale di Psichiatria. Roma: Bulzoni, 1996.
ROTELLI, F. Per la normalità. Roma: d.E, 1994.
WARNER, R. Schizofrenia e guarigione. Roma: Feltrinelli, 1994.
171
Famiglie, Disturbo e
Salute Mentale
Evaristo Pasquale
La famiglia è una micro comunità, il luogo quotidiano privilegiato
delle vicende siche umane (nascita, convivenza, morte..), delle iniziali
relazioni culturali e sociali, dei progressivi conitti, delle tensioni evolutive
verso l’emancipazione nel mondo esterno e talora anche del senso
dell’esistenza.
Ma da tempo ovunque questo nucleo di aggregazione vive una
crisi profonda, per l’accelerazione dei cambiamenti sociali, dei meccanismi
economici e del lavoro (non più agricolo ed intrafamiliare), della
ridistribuzione dei poteri dal “pater familias” verso le rivendicazioni ed
emancipazioni femminili della partner sulla parità dei diritti (L.1975 in
Italia) e le autonomie dei gli dentro e fuori del nucleo contemporanee
all’iperprotezionismo dei genitori.
Nel Diritto Italiano si è passati dalla potestà alla responsabilità
genitoriale, alla moltiplicazione dei tipi di relazione.
Non è solo la famiglia occidentale euroamericana in rapida
evoluzione, ma anche quelle asiatiche ed africane, pur con variazioni.
SADE, R. M. S. (Org.)
172
I legami paiono meno coesi, l’insicurezza e i conitti aumentati,
i signicati esistenziali e gli obiettivi prima comuni, ora diventano sfumati
e spesso divergenti.
Dalla Rivoluzione francese, da Freud, dal femminismo, dall’
aumentata durata della vita umana, dagli sfrenati meccanismi economici
capitalistici e dalla crisi economica attuale... le mutazioni sociali galoppano
ed oggi non sappiamo prevedere le loro future direzioni.
Quindi l’insicurezza ed il disagio psicologico sono parte della
nostra vita e dei nostri progetti, fatichiamo ad arontarli, come individui
come famiglia e come società, che si trovano spesso disarmati, diventando
il vulnerabile e ironico oggetto di scrittori, registi.
Se colleghiamo questi accenni storico-sociologici alle patologie
psichiche, i punti di riferimento diventano più labili ma ancor più necessari.
Se anche le stesse forme codicate degli incontri e delle convivenze
umani si sono modicate e quasi disintegrate, come ci possiamo orientare
noi, ma ancor più le fasce di popolazione più deboli e disorientate? E
quali risposte siamo in grado di costruire per le persone soerenti nel loro
insicuro contesto, spesso senza indicatori del cambiamento?
Se oggi le famiglie hanno riferimenti culturali ed obbiettivi più
incerti e fragili, anche i loro membri sono più deboli e spesso confusi.
Fino a pochi decenni fa quasi tutta la psichiatria mondiale riteneva
positivo l’allontanamento sociale dei “folli” dalla vita familiare, orendo ai
più gravi una sistemazione indenita più che una cura nei manicomi; oggi
questa modalità è molto in crisi, anche se ancora ben presente.
L’Italia non ha più internati negli Ospedali Psichiatrici (Op) da
circa 20 anni, (il Brasile ha ridotto di 2/3 i suoi internati rispetto a 20 anni
fa) e molti altri paesi, seguendo le indicazioni dell’OMS sono in evoluzione:
ma come convincere i colleghi di altre nazioni ad arontare ed accelerare
lo stesso dicile percorso? Cioè combattere la “prigionia manicomiale
con le sue torture ed orire sostegno con dignità alle persone soerenti di
disturbi psichici?
Certo gli esseri umani, anche i terapeuti e i pazienti, tendono
all’inerzia ed alla riproduzione comportamentale; ma quando queste
173
Boas práticas
abitudini diventano troppo distanti dalle nuove conoscenze di possibilità
di cura e dai diritti umani, forse è necessario aggiornarsi e schierarsi.
Oggi in Italia tenere rinchiuso in Op per anni un congiunto non
sarebbe più né legalmente, né eticamente e forse neanche economicamente
sopportabile; subentrerebbe il senso di colpa (non per tutti) per il familiare
innocente segregato con la sua malattia/ quasi recluso.
Da varie lettere/scritti di parenti di “matti” in manicomio, già in
passato emergeva questo sentimento, quando non c’era ancora il riuto di
tale struttura.
La maggioranza delle famiglie che convivono con i loro “pazienti
familiari sono a metà del guado oggi, fra controllo dei comportamenti del
loro congiunto e sde evolutive per sé ed i propri familiari.
Il “Progetto di Cura” deve essere organizzato fra Servizio
Pubblico, Famiglia, Contesto Sociale e Paziente, esprimendo i reciproci
dubbi, proposte..e poi collaborando nell’esecuzione: ricostruendo
la storia di vita coi suoi intralci, le tappe progressive e concrete di
un percorso, assumendosi insieme la responsabilità quasi alla pari,
recuperando le energie nascoste dietro il sintomo” (D. Bennet), al
calore della solidarietà sociale e verso il recupero della relazione di
ducia col mondo.
Quindi le famiglie che hanno al loro interno un membro con
disturbo mentale serio, non possono essere aiutate dai Servizi di S. M.
solo con una diagnosi, un trattamento farmacologico ed un eventuale
aiuto economico.
La loro soerenza interiore si esprime a molti livelli, più oscuri e
pesanti che di fronte ad una malattia sica: incertezza per un disturbo poco
chiaro e multiforme, eventuale senso di colpa rispetto a carenze (una volta
genetiche, ora più educative ed aettive), responsabilità ed accudimento
non ben denibili e variabili, paura per comportamenti aggressivi o
imprevisti, insicurezza esistenziale ed economica per il futuro.
Le famiglie con le loro eventuali carenze, resistenze, manipolazioni..
devono incontrare un Servizio Pubblico attento, disponibile, dialettico su
livelli diversicati (informazioni, progetto di cura, disponibilità a sostenere
SADE, R. M. S. (Org.)
174
la famiglia impreparata anche emotivamente con sfumature diverse nei
singoli membri..).
Gli strumenti per la salute mentale non sono mai completamente
sucienti o adeguati, per l’estensione del campo dalle multiformi
evenienze, evoluzioni e soggetti.
Anche per le famiglie le scommesse sono sempre un
rischio, ma senza non c’è evoluzione, per cui devono puntare su
possibilità nuove e non ancora direttamente sperimentate; alcune
però cominciano a provarci, spesso con risultati buoni, soprattutto
se non sono sole, ma accanto hanno un’associazione o degli operatori
esperti di indirizzo e sostegno.
Un “utente psichiatrico” con un disturbo severo e la sua famiglia
devono poter contare su un Servizio Pubblico specico, che li accompagni
nel loro travagliato percorso non solo a livello medico, ma anche psicologico,
sociale e che crei tramiti di relazione col mondo circostante.
Il mondo dell’”utente” è prima di tutto la famiglia, anche se
ambivalente, che ha gli dato la vita e inculcato la sua lettura del mondo, e
che è in prima linea per le necessità di sopravvivenza, di cura, di relazioni
sociali, aettive ed eventualmente lavorative.
Ma queste necessità spesso richiedono qualcosa in più
dell’assistenza individuale medico-psicologica-assistenziale, cioè interventi
di sistema e di progetto.
Bisogna accompagnare i percorsi reciproci di autonomia, i
conseguenti conitti, le distanze e vicinanze, i progetti della famiglia e
quelli individuali dei vari membri, i sensi di colpa, i vissuti di rabbia..e
pure le interferenze o disagi del vicinato e della comunità.
E’ dicile mantenere vivi legami positivi e non troppo conittuali
nella rete di appartenenza, viste le dicoltà e discontinuità di chi ha un
serio disturbo psichico!
Quindi i Servizi di S. M. devono organizzarsi anche per uidicare
o condividere il carico familiare di cura ed evitare troppi disagi e scontri
nella famiglia ed involuzioni dentro i percorsi di sviluppo.
175
Boas práticas
Accanto a ciò sono possibili specici trattamenti delle relazioni
patologiche attraverso interventi sull’intero sistema familiare , con modalità
gruppali, psicanalitiche, relazionali, sistemiche.
Lo sguardo sul sistema famiglia può essere psicanalitico,
concentrandosi sulla relazione madre-bimbo coi suoi inconsci rapporti
emotivi n dal concepimento, che potrebbero determinare meccanismi
psichici patologici.
Lo sguardo sistemico all’opposto vede un insieme familiare ad
ogni età di persone collegate fra loro, con dicoltà comunicative e conitti
di potere fra soggetti per l’emancipazione di fasce diverse.
Ciompi (1994) ritiene patogene le aspettative eccessive degli
adulti sui giovani, che possono soccombere sotto questo peso.
Ogni sguardo può orire qualcosa in più al puzzle del disturbo
psichico, utilizzandolo però senza determinismi e totalizzazioni.
Tornando verso il trattamento familiare del nostro “utente o
cliente”, quando il disturbo è già consolidato, è importante favorire l
organizzazione di gruppi di familiari per un confronto senza vergogna della
comune patologia e della specica condizione dei congiunti, tutti simili ma
tutti diversi, con dicoltà e potenzialità da sviluppare senza stigmatizzare.
Questi familiari partecipanti ai gruppi inizialmente vengono stimolati dai
professionali ad interagire fra loro sulle problematiche e preoccupazioni
comuni e a condividere da angolature diverse la ricerca di nuove soluzioni
e di progetti di sostegno; talora invece l’aiuto professionale viene richiesto
per conitti col membro in cura, o comunque per la complessità eccessiva
dei problemi e delle emozioni in campo.
Lo sguardo dierenziato e distanziato di altri familiari e/o di
operatori può evidenziare o innescare soluzioni, potenzialmente già
presenti nel contesto ma non visibili dall’interno. Inoltre non sentirsi
unici con un problema e soli ad arontarlo, rende la vita meno pesante,
con meno vissuti di abbandono in trincea, ma parte di una squadra con
obbiettivi simili.
Questa posizione psicologica ridà coraggio, nuove visuali ed altre
possibilità di fronte agli stessi ostacoli oggettivi.
SADE, R. M. S. (Org.)
176
Da decenni ormai dalla Gran Bretagna si è diusa nel
mondo questa strategia parzialmente autogestita dell’unione di
sguardi e di sforzi fra famiglie con problemi simili, inizialmente con
un’ottica psicopedagogica e poi con varie altre sfumature (cognitive,
comportamentiste, sistemiche).
Il gruppo è utile a superare la solitudine, il proprio vissuto auto o
etero-colpevolizzante, a socializzare situazioni simili ma con livelli diversi
di evoluzione, a confrontarsi anche con successi ed insuccessi di altre
famiglie, a distanziarsi un po’ dal problema perché comune e non solo
personale, a condividere e scambiare con altri strategie nuove.
All’inizio del percorso molto spesso è utile la direzione
gruppale di un operatore esperto, poi progressivamente chiunque dei
familiari può trovare dentro di sé l’energia e la lucidità per coinvolgersi
ed essere investito a turno di quel ruolo. Occorre un po’ di empatia e
valorizzazione degli altri, narrazione e storicazione degli eventi, lucidità
per sottolineare i percorsi ed i legami positivi, favorire le potenzialità
inespresse, ranare le competenze genitoriali, la comunicazione ed il
sostegno, modulare le aspettative, condividere o spostare sul gruppo il
carico eccessivo del singolo nucleo.
Il gruppo di familiari in sé può diventare una risorsa specica
perché l’unione di soggetti con alcuni obiettivi comuni può interagire
culturalmente, emotivamente e politicamente (contenimento
dell’emotività, confronto sulle ripercussioni delle varie sfaccettature del
disturbo psichico, relazione di potere come gruppo con i Servizi sanitari o
Sociali coinvolti sul problema, proposte per arontare il problema locale di
disagio psicosociale anche con amministratori e politici).
Sostanzialmente la famiglia e le famiglie, pur ricorrendo ai
Servizi, devono attrezzarsi per sostenere il “carico familiare” del disturbo
nei casi più complessi del percorso di vita del congiunto e per non lasciarsi
schiacciare dalla fatalità e dalla colpa della malattia.
Un possibile schema operativo di confronto fra familiari di un
severo paziente psichiatrico potrebbe essere:
1) incontri informativi e formativi mensili gestiti da un “operatore
esperto”, aperti ed organizzati per i familiari per conoscere e riettere
177
Boas práticas
su temi caldi (cos’è la malattia psichica e le sue categorie, possibili
strategie preventive, come arontarne le crisi e prevenirne le ricadute,
i tempi delle prognosi, il senso ed il valore del sostegno del contesto, le
comunicazioni intrafamiliari, il ruolo possibile verso l’autonomia del
paziente, come usare i Servizi Pubblici, le possibilità lavorative, i diritti
di cittadinanza).
2) incontri di “aggregazione e salute” fra un gruppo di genitori, per
confrontarsi, condividere i loro carichi assistenziali e le loro vulnerabilità,
allargare anche la loro rete sociale, impoverita dall’isolamento e dallo
stigma della “malattia”, riettere e progettare percorsi di salute per sé,
oltre che per i loro gli.
3) incontri operativi di familiari organizzati in Associazione per
confrontarsi anche politicamente con Istituzioni Pubbliche ed ottenere
risposte su bisogni e diritti civili dei loro familiari malati (sostegni
economici, lavoro, facilitazioni assistenziali, normative).
Invece altre modalità temporanee di arontamento con progetti
concreti fuori casa per i gli possono essere il sostegno all’autonomia
individuale, micro convivenze fra persone simili ed ado etero familiare.
Sostegno all’autonomia individuale: serve quando in una famiglia
i conitti fra genitori e glio con problemi psichici diventano cronici
e senza prospettive; il CSM , partecipando al progetto ravvicinato su
questa situazione, può suggerire alla famiglia che insieme favoriscano una
dislocazione temporanea esterna del giovane, che vive troppo male questa
conittualità e che non gli permette di organizzarsi autonomamente in
una coabitazione con i genitori.
Micro Convivenze: quando la conittualità familiare innescata
dalla crisi psichica di un membro diventa troppo acuta e prolungata
anche per le dicoltà dei congiunti, il CSM può favorire delle
convivenze, autogestite ma sostenute istituzionalmente, fra giovani
con condizioni compatibili e con un programma abitativo organizzato
che permetta l’allontanamento dalle dinamiche familiari ed ora uno
spazio di autonomia socializzata verso la maturazione con altri coetanei,
costruendo delle relazioni alla pari con un discreto margine di libertà.
SADE, R. M. S. (Org.)
178
Le persone dell’appartamento autogestito secondo il livello di abilità,
durante la giornata potrebbero svolgere attività lavorative magari in
una Cooperativa e poi dopo il lavoro organizzarsi a casa pasti, pulizie,
visite di amici, piccole feste ecc. Operatori del CSM come referenti
dell’alloggio potrebbero mantenere contatti e veriche del programma di
ognuno di questi giovani che d’altronde possono coinvolgersi anche in
altre situazioni sociali.
Ado etero familiare: quando anche nelle crisi psicotiche con
gravi risvolti relazionali fra il giovane e gli altri membri della famiglia la
convivenza diventa impossibile e l’evoluzione si blocca, esiste da tempo in
vari luoghi del mondo, l’ opzione di cooptare normali famiglie disponibili,
in cambio di un gettone di ospitalità, ad accogliere, per un periodo di
distanziamento, il giovane con disturbo psichico dentro le relazioni di
un normale altro contesto familiare per favorire il rareddamento delle
tensioni con la famiglia originaria, con incontri formativi e supervisione del
Servizio di Cura. Queste modalità, già sperimentate secoli fa soprattutto
in Europa, sono da decenni tornate alla ribalta per dare risposte più
dierenziate possibili quando il conitto generazionale diventa troppo
acuto e la dislocazione in un altro contesto diventa quasi automaticamente
terapeutica. Ovviamente la struttura pubblica partecipa economicamente,
dove la famiglia non può, crea occasioni di verica anche per evitare
la riproduzione di dinamiche già pregresse, ed insieme ai vari soggetti
coinvolti denisce il programma ed il termine di questo distanziamento
parzialmente articiale.
Forse nel contesto brasiliano ci sono speciche risorse culturali o
istituzionali (Equipe sanitaria della famiglia), che aiutano ad arontare la
complessa convivenza fra persone con disturbo psichico e la loro comunità,
oltre gli interventi suddetti. Quando vicini, professionisti o no, motivati
e riconosciuti dalla comunità, hanno il potere di intervenire in profondità
non solo sui singoli, ma su problemi di cultura e salute più collettivi, e
quindi anche di salute mentale, possono innescare strategie di benessere
per tutto l’ambiente.
Se la famiglia non è più all’altezza dei suoi compiti (“La famiglia
è morta” diceva D. Cooper), bisognerà inventare qualche altro legame
sociale perché pochi esseri umani sceglierebbero a lungo il destino solitario
179
Boas práticas
di Robinson Crusoe. La salute mentale dell’individuo nella solitudine
cronica, anche nelle metropoli, vacilla.
Gli umani hanno bisogno di relazioni ed aetti, pur riutando
spesso il loro gruppo di appartenenza, ma per cercarne rapidamente un altro.
rIferImentI
BASAGLIA, F. Conferenze brasiliane. Ed. Cortina, 2000.
CIOMPI, L. Logica aettiva: una ricerca sulla schizofrenia. Roma: Feltrinelli, 1994.
DELL’ACQUA, G. Fuori come va?. Roma: Riuniti, 2003.
EVARISTO, P. Gestao da psiquiatria na comunidade. UNOPAR Cient, Londrina, v. 2,
n. 1, 2000.
______. Psicosi, fra riuto e bisogno del mondo. In: Quaderni di Psicoterapia, IREP,
Roma, 2006.
FALLOON, I. Trattamento integrato per la salute mentale. Roma: Ecomind
Pubblications, 2000.
GOMES, N. V. F.; EVARISTO, P. Situacao de crise e atendimento psicossocial a
familia. Clinica Psicossocial. Recife: UFPE, 1998.
PERRIS, C. La terapia cognitiva con i pazienti schizofrenici. Roma: Bollati B.,1996.
SARACENO, B. La ne dell’intrattenimento. Manuale di Riabilitazione Psichiatrica.
Roma: Etas, 2000.
181
Saúde mental e uso de drogas:
possibilidades para o cuidado integral
Clarissa Mendonça Corradi-Webster
Mariane Capellato Mel
Eduardo Augusto Leã
Fernanda Sousa Vieir
Um dos desaos atuais da assistência em saúde mental que vem
sendo descrito por usuários, familiares, prossionais e pesquisadores refe-
re-se ao uso de drogas por pessoas em intenso sofrimento psíquico, que re-
cebem diagnósticos psiquiátricos e tornam-se usuárias de serviços de saúde
mental. O consumo de drogas entre pessoas com estes quadros parece estar
aumentando nos últimos anos e prossionais relatam diculdades para li-
dar com esta situação.
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro vem se construindo
baseado em diretrizes como a integralidade do cuidado, torna-se impor-
tante que as pessoas atendidas em serviços de saúde mental recebam aten-
ção integral, o que inclui o estabelecimento do vínculo e a conversa apro-
fundada e curiosa, a m de conhecer como a pessoa vem compreendendo o
que acontece com ela e qual o lugar que o uso de drogas ocupa em sua vida.
Neste capítulo trataremos sobre esta questão, fazendo uma breve
revisão sobre a assistência oferecida a usuários de saúde mental no Brasil,
discutindo a organização da rede assistencial em saúde mental e a voltada
SADE, R. M. S. (Org.)
182
aos cuidados especícos a usuários de drogas e apresentando alguns signi-
cados que pessoas com quadros clínicos psiquiátricos atribuem ao uso de
drogas. Esperamos que esta narrativa possa dialogar com as experiências
dos leitores e ampliar as reexões e possibilidades de práticas na área.
assIstêncIa em saúde mental no brasIl
O movimento de Reforma Sanitária que serviu de alicerce para a
construção do Sistema Único de Saúde (SUS), ocorreu em concomitância
com o movimento antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica e caminham
em paralelo até o momento. Esses movimentos, iniciados na década de
80 no Brasil transformaram o campo da Saúde mental tendo como mar-
cos as Conferências Nacionais de Saúde Mental (AMARANTE; TORRE,
2001; PRADO; LEMOS, 2012). Assim como as propostas do SUS os
movimentos na Saúde Mental também tinham como pressupostos a luta
pelos direitos humanos, equidade e participação de prossionais, familia-
res e usuários dos serviços para a construção de novos modelos de atenção
(MORAIS; FERFFERMAN; FERNANDES; FIGUEIREDO; PAULA;
VENANCIO, 2009).
Tratando mais especicamente sobre a Reforma Psiquiátrica Bra-
sileira, essa propunha a construção de um novo modelo de cuidado à saúde
mental, voltado para o âmbito social, através de mudanças como a im-
plantação de redes fora dos hospitais psiquiátricos, a integração da saúde
mental em outros programas de saúde, superando os paradigmas da clínica
psiquiátrica, como único modelo (BRASIL, 2001; CONSELHO FEDE-
RAL DE PSICOLOGIA, 2013). Anterior à Lei da Reforma Psiquiátrica
10.216 (2001) o Ministério da Saúde havia determinado 11 portarias que
instituíam medidas que abarcavam desde o controle dos hospitais em fun-
cionamento até a criação e regulamentação dos serviços alternativos, pos-
teriormente remodelados como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
(HIRDES, 2009; CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013).
Assim, alternativas foram desenvolvidas, como a participação dos
usuários do serviço de saúde e de seus familiares, abertura de novos serviços
comunitários e territorializados, que buscavam atender as particularidades
de cada território, baseadas em novas apreensões do sujeito e da saúde
183
Boas práticas
mental, ampliando assim o cuidado para a vida cotidiana dos sujeitos e
considerando suas relações sociais (AMARANTE; TORRE, 2001; GUI-
MARÃES; MEDEIROS; SAEKI; ALMEIDA, 2001). Amarante (1995)
descreve sobre o processo de diferentes países que tentaram criar mode-
los mais humanizados e críticos de oferecer tratamento na saúde mental;
alguns foram tiveram grande importância para o processo brasileiro de
Reforma Psiquiátrica, como a psiquiatria democrática italiana de Franco
Basaglia (HIRDES, 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
No Brasil, o primeiro Projeto de Lei foi o 3.657, foi apresentado
em 1989 e proposto pelo então deputado federal Paulo Delgado. Entretan-
to, apenas em 2001 estas mudanças foram aprovadas através da Lei 10.216
(2001). Nesse período de espera, leis estaduais foram criadas controlando
a internação psiquiátrica involuntária e ampliando a rede de serviços extras
hospitalares (COSTA-ROSA; LUZIO; YASUI, 2001). Após 2001 o pro-
cesso continuou buscando o fortalecimento do modelo de atenção psicos-
social e a desinstitucionalização de pacientes dos manicômios e hospitais
psiquiátricos (LUZIO; YASUI, 2010). Isso ocorreu por meio da criação do
Programa “De Volta para Casa” e da Lei 10.708 de 2003 que determina o
auxilio-reabilitação psicossocial para egressos de internações psiquiátricas
entre outas ações (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Todo o processo
de Reforma ocorreu e ainda ocorre de forma dinâmica e contínua, sempre
enfrentando novos desaos sociais, legislativos e prossionais.
A exclusão social e a ausência de cuidados para determinadas po-
pulações consideradas marginais fazem parte da história e atinge continua-
mente as pessoas que estão em sofrimento devido a algum transtorno men-
tal (FOUCAULT, 1993). No Brasil, historicamente, na luta pelos direitos
aos usuários de saúde mental, a questão do uso de drogas foi negligenciada,
embora a Portaria nº 336 de 2002 tenha denido as diretrizes de funcio-
namento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) I, II, III, nas moda-
lidades geral, infantil e especializado em problemas relacionados ao uso de
álcool e outras drogas (BRASIL, 2002). O Ministério da Saúde (2004) em
documento sobre a política de saúde para usuários de álcool e outras dro-
gas, reconhece a importância e necessidade de ultrapassar o atraso histórico
de abandono dos que necessitam de tratamento de problemas relacionados
a essa problemática por meio de reformulação dos modelos assistências
SADE, R. M. S. (Org.)
184
para essa população. A contínua negligência nesse campo possibilitou que
propostas de intervenção focadas unicamente no proibicionismo, na absti-
nência e de caráter total ditassem o cenário de tratamento para usuários de
drogas (FERNANDES; FUZINATTO, 2012; CORRADI-WEBSTER,
2013; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
De acordo com a política do Ministério da Saúde, os transtornos
devido ao consumo de álcool e outras drogas deveriam ser tratados
nos três níveis de atenção, sendo o Centro de Atenção Psicossocial –
álcool e outras drogas (CAPS-Ad) o gerenciador desta rede e a principal
referência de cuidados, articulando a atenção básica e atenção terciária
(internações hospitalares de curta duração) (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
Mais recentemente, visando fortalecer as premissas dos SUS algu-
mas estratégias jurídicas foram utilizadas, como a determinação da Portaria
4.279, de 2010, da qual institui diretrizes para a organização dos SUS por
meio das Redes de atenção á saúde (RAS), como forma de melhorar o
funcionamento político-institucional do SUS e oferecer uma alternativa
para as diculdades em torno da fragmentação da atenção e gestão dentro
Saúde. Seguindo o que foi estabelecido por essa portaria (BRASIL, 2010),
em 2011, foi publicada a Portaria 3.088 de 2011 que institui a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), voltada para pessoas com necessidades de
cuidado devido a sofrimentos mentais ou derivadas do uso de drogas (líci-
tas ou ilícitas) no âmbito do SUS. A RAPS caracteriza-se por um conjunto
de serviços de saúde e saúde mental que articulados em níveis de comple-
xidade crescente e disponibiliza ações em conjunto buscando garantir a
integralidade da assistência à saúde. Fazem parte da RAPS: 1) Atenção Bá-
sica em Saúde; 2) Atenção Psicossocial Estratégica; 3) Atenção de Urgência
e Emergência; 4)Atenção Residencial de Caráter Transitório; 5) Atenção
Hospitalar; 6) Estratégias de Desinstitucionalização; 7) Estratégias de Rea-
bilitação Psicossocial (BRASIL, 2011).
Além da reorganização da rede, através dessas políticas públicas
há também uma busca pela desconstrução do senso comum de que os
usuários de drogas são representados como antissociais, imorais e crimi-
nosos, e por isso necessitavam de exclusão/separação do convívio social,
por meio de internações longas ou prisões e acabam por negligenciar
185
Boas práticas
a complexidade desse campo (PEREIRA; JESUS; BARBUDA; SENA;
YARID, 2013).
Modelos que se aproximam das propostas da Reforma Psiquiá-
trica e do atendimento em rede têm buscado incentivar modalidades de
tratamento que abarquem os aspectos sociais e econômicos sobre o uso
de drogas. O modelo de Redução de Danos como direcionador do cui-
dado reconhece a singularidade de cada usuário propõe uma construção
conjunta com os pacientes de estratégias de enfrentamento, aumentando
a liberdade e preservando a vida e os laços sociais, considerando as di-
mensões biológicas, psicológicas e sociais, do indivíduo e da coletividade
(QUEIROZ, 2001).
Em oposição a esses esforços, observamos a tentativa de forta-
lecimento de modelos focados na internação e afastamento social, que
embora regulamentados e vistoriados pelo governo, podem acabar por
rearmar discursos morais e a demanda por internação. Assim, a mesma
rede que pode respeitar a singularidade de cada um e oferecendo espaços
de cuidado e garantia dos direitos humanos pode ser fonte de aprisio-
namento, padronizações, despotencialização das pessoas em sofrimento
com a argumentação de propiciar recuperação (CLEMENTE; LAVRA-
DOR; ROMANHOLI, 2014). Para Basaglia (1995), tanto a violência
quanto a exclusão são efeitos de um divisão hierárquica daqueles que têm
o poder e de quem não o tem, em que os direitos igualitários, humanos e
de bem estar não são considerados. Para o autor o processo de tratamen-
to deveria propiciar compreensão sobre a experiência de exclusão social.
Condição muito diferente de adequar e excluir as pessoas que vivenciam
o sofrimento mental.
Assim observa-se, através dos artifícios legislativos, a constante
tentativa de garantir o funcionamento proposto pelo SUS e pela Lei 10.216
da Reforma Psiquiátrica. Fato que aponta para as constantes diculdades
enfrentadas na implantação desses modelos de cuidado (BRASIL, 2001).
Outra questão que podemos pensar é sobre o desenvolvimento histórico
dado em duas frentes na saúde mental: os serviços para pacientes com
diagnóstico de transtornos psiquiátricos e outra frente de serviços voltados
para o uso de álcool e outras drogas.
SADE, R. M. S. (Org.)
186
Embora haja um esforço através da Portaria 3.088 de 201 para
o funcionamento em rede dos diferentes dispositivos de saúde, os serviços
ainda atuam, em muitos locais, de forma segmentada (BRASIL, 2011).
Outra questão que apresenta inúmeros desaos aos serviços de saúde men-
tal se dá a cerca do atendimento para pacientes que apresentam tanto diag-
nóstico psiquiátrico como consumo de álcool e outras drogas, sendo o uso
problemático ou não.
atenção a pessoas em sofrImento psíquIco que fazem consumo de
drogas
Devido à percepção de que há grande consumo de drogas en-
tre pessoas com transtornos mentais, apontada costumeiramente pela
literatura na área, aparece muitas vezes nesta literatura a importância
de se pensar treinamentos especícos para que prossionais de saúde
mental saibam lidar com questões relacionadas a essas demandas. Além
disso, os efeitos decorrentes da associação entre o uso de drogas e o so-
frimento mental têm sugerido a necessidade dos prossionais também
terem uma visão mais ampla e empática da questão e uma postura pro-
ssional que os ajude a trabalhar com estas pessoas. Williamson et al.
(2012) apontam que um dos fatores causadores do efeito “porta gira-
tória” nos serviços de saúde na Escócia era devido à presença de uso de
substâncias e da inexperiência da equipe em lidar de maneira adequada
com a questão, além do número incipiente de serviços especializados
no tratamento do uso de drogas.
Dentre as atribuições dos prossionais inseridos nos serviços
de saúde mental para com a questão levantada surgem algumas questões
fundamentais a serem investigadas. Haja vista a importância já ressaltada
a respeito dos efeitos advindos da interface entre o uso de drogas e do
sofrimento psíquico e mais especicamente do transtorno mental, sur-
gem questões sobre os esforços concentrados na identicação do uso de
drogas em pacientes de serviços de saúde mental. Ademais, como seria
possível pensar estratégias e identicar demandas acerca do uso de dro-
gas pelos pacientes da saúde mental, sem saber quais as características e
motivos desse uso?
187
Boas práticas
Historicamente, os serviços de saúde mental foram pensados de
modo não articulado aos serviços especializados no uso de drogas (MA-
GURA; ROSENBLUM; FONG, 2012). Uma das diculdades da aborda-
gem terapêutica nesses casos se dá pela divisão muito marcada entre estes
serviços, dicultando as avaliações diagnósticas e atrapalhando a assistên-
cia integral (SILVA et al; 2009). Ainda que por um lado as divisões dentro
da rede de atenção à saúde sejam necessárias para a organização da deman-
da dentro dos serviços, por outro lado, tal divisão proporciona que certo
tipo de paciente, que não se encaixa claramente na demanda de cuidados
para o uso de drogas ou na demanda dita psiquiátrica, que muitas vezes
sem encontrar espaço no uxograma da rede de atenção á saúde. Nesse
sentido, aparece a necessidade de prevenção, identicação e encaminha-
mento do uso de drogas de forma integrada aos procedimentos do serviço
de tratamento psiquiátrico, além da atenção primária e dos serviços de
emergência. É especialmente importante que os prossionais possam con-
versar sobre o consumo de drogas com seus pacientes para possibilitar um
tratamento mais adequado e de maneira mais coordenada com a situação
(SCHULDEN; LOPEZ; COMPTON, 2012).
Segundo Nehlin, Grönbladh et al. (2012), unidades psiquiátricas
ambulatoriais em geral demandam muito trabalho da equipe e, com isto,
a avaliação e prevenção do uso problemático de drogas acaba por não ter
grande prioridade. Assim, as estratégias nesse campo também necessitam
ser breves e ecazes para se adaptar a esses contextos. Corradi-Webster,
Laprega e Furtado (2009) apontam que a importância da identicação e da
conversa a respeito do uso de drogas recai principalmente sobre os efeitos
causados pelo uso de drogas em pessoas com transtornos psiquiátricos. O
uso do álcool pode, por exemplo, prejudicar a adesão ao tratamento, inte-
ragir com a medicação e piorar o prognóstico da doença. Nehlin, Fredriks-
son e Jansson (2012) apontam para a importância da conversa a respeito
do uso de drogas, mesmo que inicialmente apenas sobre o uso de álcool.
Estes autores também discorrem sobre pacientes que, a princípio, preferem
não conversar sobre o assunto, mas na disponibilidade de maior tempo
para conversarem sobre o tema, cariam mais a vontade para fazê-lo e até
poderiam se beneciar caso houvesse um instrumento mais completo de
avaliação sobre o consumo, tempo hábil para a construção de um vínculo
SADE, R. M. S. (Org.)
188
com o prossional que os atendem questão de maneira que possam falar
do consumo de drogas. Assunto esse muitas vezes tratado como tabu nos
serviços de atendimento psiquiátrico.
Corradi-Webster, Laprega e Furtado (2009) apontam para o fato
de ser comum a subnoticação do consumo problemático de álcool em
serviços de saúde mental, referindo que até 50% dos casos não são identi-
cados. Segundo os autores, um dos fatores dessa subnoticação do uso pro-
blemático de álcool seria que alguns prossionais teriam diculdades em
fazer perguntas relacionadas a este consumo. Mordal et al. (2011) aponta
que identicar o uso de drogas em pacientes psiquiátricos em seu estado
agudo pode ser difícil também devido a efeitos do uso de drogas que se
confundem com os sintomas de patologias psiquiátricas.
Comumente, a detecção do uso de drogas é feita por meio de
entrevista clínica, relato dos pacientes ou exame toxicológico. Avaliar as
histórias clínica e familiar pode ser maneiras efetivas de conseguir da-
dos a respeito do tema, entretanto, um diagnóstico diferencial se torna
complicado sem um tempo sucientemente longo de avaliação e absti-
nência. Existe também uma diferença entre os serviços de saúde mental
e os serviços que lidam com pessoas que fazem uso de drogas no que diz
respeito ao modo como vêm seus clientes. Enquanto os serviços voltados
a problemas relacionados ao consumo de drogas muitas vezes têm uma
postura de que o cliente deva procurar ajuda por si só, em instituições de
saúde mental. Uma visão geralmente impera: a de que o paciente neces-
sita de ajuda e muitas vezes não tem condição de buscá-la por si próprio
(HAMILTON, 2010).
Em estudo realizado com prossionais de um CAPS-III a res-
peito dos sentidos atribuídos por eles ao uso de drogas de pessoas em
sofrimento psíquico, foi possível perceber falta de protocolos especícos
para a identicação do uso de drogas em pacientes do serviço (LEÃO,
2015). Ainda assim, os prossionais destacaram a importância de se pro-
curar identicar o uso de drogas em pessoas em tratamento psiquiátrico.
Isso poderia sugerir que, ainda que o uso de drogas que localizado no
espaço da saúde mental; na prática, muitas vezes esse uso é visto pela
equipe como um elemento à parte dentro da demanda da saúde mental.
Um indício disso é a política de encaminhamento quase imediato dos
189
Boas práticas
pacientes que têm relação com qualquer uso de drogas dentro do serviço
pesquisado. Ainda que haja um clima de aparente desestrutura a respei-
to deste assunto por não haver protocolos claros no serviço pesquisado,
os prossionais entrevistados trazem reexões acerca de como o víncu-
lo do prossional com o paciente é utilizado como principal estratégia
(aparentemente relatada como bem sucedida) na identicação do uso de
drogas por pacientes em tratamento de saúde mental.
Em nosso estudo com prossionais de um serviço de saúde men-
tal, a fronteira entre a saúde mental e o uso de drogas aparece como uma
muralha intransponível em alguns aspectos, e como uma linha bastante
tênue em outros (LEÃO, 2015). Por um lado, parece imperar uma insis-
tente tentativa de delimitar qual paciente ca em qual serviço (no de saú-
de mental ou no especializado em problemas com o uso de drogas). Por
outro lado, há dúvidas quando se identica que há interfaces recorrentes
entre as duas áreas. Os dados mostram uma preocupação muito grande
dos trabalhadores em relação ao que poderia acontecer (ou o que acon-
tece) no uso concomitante de drogas e da medicação psiquiátrica. Além
disso, parece ocupar muitas vezes os questionamentos dos prossionais
se haveria causalidade entre o transtorno mental e o uso de drogas, sem
aparentemente poderem reunir dado a respeito do que provocaria o quê,
ou se existiria tal causalidade.
Com relação á interfaces entre o uso de drogas e o sofrimento
psíquico emergem tanto na literatura quanto nos dados trazidos por nos-
sos estudos diferentes alternativas de como poderia ser o tratamento que
envolva o cuidado do indivíduo compreendendo seu quadro clínico psi-
quiátrico e o consumo que faz de drogas. Tal tratamento para Schlosser
e Hoer (2012) parece ter mais ecácia quando considera as diferentes
diculdades e recursos do paciente, bem com a interação farmacológica
entre as drogas e os medicamentos. Além disso, faz-se importante a cons-
cientização da equipe de que muitas vezes o paciente usuário de drogas
continuará a fazer uso durante o tratamento psiquiátrico, não baseando
as práticas de cuidado na meta da completa abstinência por parte do
usuário. Mesmo prossionais que consideram a redução de danos como
uma proposta pertinente a sua pratica de cuidado, estes parecem ter di-
culdades de visualizá-la no contexto do serviço.
SADE, R. M. S. (Org.)
190
Quanto a isto, na Espanha tem se desenvolvido material educati-
vo voltado a pessoas com diagnóstico de esquizofrenia e que fazem uso de
maconha. Neste livreto, são explicados os principais sintomas da esquizo-
frenia e o modo como a maconha pode interagir com estes. São aponta-
das também orientações voltadas à redução de danos, como por exemplo,
evitar usar maconha antes de ir a lugares que não são familiares e, caso a
pessoa se sinta paranóica em determinado ambiente, que busque ir para
um lugar familiar em que se sinta protegido (LINNELL; HOLLAND,
2007). São tentativas de se aproximar das necessidades do indivíduo, de
suas práticas e hábitos de consumo e, ao mesmo tempo, ajudá-lo a pensar
no modo como vem usando drogas, em como se sente com este consumo e
em como poderia fazer para não piorar suas vivências psíquicas caso queira
continuar usando a droga.
No Brasil, autores sugerem que não há a necessidade de criação
de serviços especializados no cuidado dos transtornos mentais e na ocor-
rência concomitante do uso de drogas e sugerem como melhor alternativa
o investimento na formação dos prossionais da rede de saúde mental para
identicarem e atuarem nesta questão (MENEZES; RATTO, 2004). En-
tretanto, a rede de atenção à saúde, conforme prevista pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), ainda funciona de modo falho e ineciente, prejudican-
do ações nesta área. Questões relacionadas ao tratamento de usuários de
drogas foram inseridas no SUS e em discussões sobre a rede de atenção
psicossocial apenas recentemente.
o consumo de drogas por pessoas com sofrImento psíquIco
Apesar de a literatura biomédica prescrever em muitos momentos
que pessoas com grave sofrimento psíquico não devem consumir álcool e ou-
tras drogas (MENEZES et al., 1996; MOROJELE; SABAN; SEEDAT, 2012;
RIBBE et al., 2011), muitas destas pessoas fazem este consumo e têm di-
culdades em deixar de usar, ou em concilia-lo com as demais experiências da
vida. Assim, torna-se importante conhecer como estas pessoas vivenciam este
consumo e se considera que, essa experiência, embora possa trazer problemas
importantes de saúde e de saúde mental, pode ser que existam também outros
aspectos a serem considerados na questão do consumo de drogas.
191
Boas práticas
As pesquisas que buscam conhecer a perspectiva das pessoas que
vivenciam sofrimento psíquico e uso de drogas parecem ter como local
de pesquisa serviços comunitários de saúde mental, cujos diagnósticos
estudados têm sido transtornos mentais graves, especicamente trans-
tornos psicóticos e transtornos do humor, sendo a esquizofrenia o diag-
nóstico mais estudado (CHARLES; WEAVER, 2010; COSTAIN, 2008;
GREGG; BARROWCLOUGH; HADDOCK, 2007; LOBBANA et
al., 2010; PETTERSEN; RUUD, 2013; SCHOFIELD et al., 2006;
THORNTON et al., 2012). Nesses estudos, o consumo de drogas pare-
ceu ser diversicado quanto ao tipo de substância, sendo a maconha, a
substância mais estudada.
São diversas as possibilidades de construção de sentidos da ex-
periência de usar drogas por pessoas com sofrimento psíquico que apre-
sentam quadros clínicos psiquiátricos. Com a proximidade com o campo
é possível perceber que os sentidos relatados sobre o consumo de drogas
parecem mudar ao longo das situações, tempo e dose de consumo, bem
como das diferentes combinações de drogas e estados emocionais experi-
mentados. Cada droga utilizada, por ter efeitos diferentes entre si, pare-
ce ter sentido especíco diante da experiência vivida, produzindo formas
pessoais de expressão e manejo de sentimentos e comportamentos (VIEI-
RA, 2016). Lobbana et al. (2010) descrevem que as motivações para o
consumo são dependentes da escolha ativa do indivíduo, mas também há
motivações externas como aquelas inuenciadas por outras pessoas e pela
referência cultural.
Assim, os sentidos sobre o consumo de drogas parecem ser cons-
truídos de acordo com as relações estabelecidas entre a pessoa e a droga usa-
da ao longo da vida, mas também interferem nessa construção o entorno
onde ela se situa, ainda que sejam experimentados de maneira indiscrimi-
nada e com tonalidades diferentes a cada momento da vida. Um exemplo
é o caso do consumo de substâncias em situações sociais cotidianas, como
por exemplo, o álcool como festas e reuniões, ou mesmo o consumo do
cigarro como uma atitude valorizada socialmente pelos veículos midiáticos
como o cinema e televisão.
Em nosso estudo, realizado com pessoas em sofrimento psíquico
identicadas como fazendo consumo problemático de drogas e que faziam
SADE, R. M. S. (Org.)
192
tratamento em serviços de saúde mental ou de serviços de tratamento do
consumo de drogas, os participantes que eram de gerações entre os anos
1970 e 1980, relataram que quando iniciaram o consumo de cigarro, esse
comportamento era valorizado socialmente (VIEIRA, 2016). Por outra
perspectiva, o consumo de cigarro tem sido relatado no cotidiano das pes-
soas com sofrimento mental como uma prática grandemente difundida em
ambientes de trabalho e psiquiátricos (THORNTON et al., 2012).
Nesse sentido, o consumo também pode fazer parte da constru-
ção da identidade e fazer parte do processo de socialização. E essas expe-
riências, quando compartilhadas em grupo e valorizadas por ele, podem
envolver a vontade pertencer a ele e estar associados ao início do consumo
e vontade de experimentação de algumas drogas (LAUDET; MAGURA,
2004). Além disso, algumas drogas parecem favorecer o entrosamento
em grupos de pares, podendo ser percebido como promovendo melhora
na habilidade de conversar e se comunicar com as pessoas, sendo um as-
pecto que parece ligar as pessoas diagnosticadas com transtornos mentais
ao sentimento de normalidade e busca por compartilhamento de sensa-
ções agradáveis com outras pessoas (ASHER; GASK, 2010; COSTAIN,
2008; THORNTON et al., 2012). Estão implícitas nessas experiências
questões de valorização de aspectos da personalidade que cam exacerba-
dos quando estão sob o efeito de drogas, conforme relatado por pessoas
diagnosticadas com transtornos psicóticos, como a habilidade de oscilar
entre a realidade da vida cotidiana e experiências de sair da realidade, o
que de outra maneira seria impossível, sendo utilizada como estratégia
de descontração e de intoxicação, mas também á melhora da atenção,
clareza e rapidez do pensamento (ASHER; GASK, 2010; CHILDS et al.,
2011; THORNTON et al., 2012).
Embora algumas substâncias legais pareçam ter seu consumo le-
gitimado, o consumo de maconha e de outras substâncias ilícitas parece
não ser legitimado pela cultura hegemônica, sendo considerado desviante
(BECKER, 1953). Em nosso estudo, foi relatado com certa reserva e dis-
tância por pessoas que consumiam álcool ou cigarro ou mesmo não sendo
declarado por pessoas que consome drogas consideradas menos legitima-
das, embora na descrição das experiências fosse possível perceber o consu-
mo de outras substâncias além das declaradas (VIEIRA, 2016). E nesses
193
Boas práticas
casos, o consumo de maconha estava associado à melhora na habilidade
criativa, embora essa percepção nem sempre seja compartilhada por outros
que convivem com pessoas em sofrimento psíquico (COSTAIN, 2018).
Nesse contexto sociocultural que pode legitimar o uso de cer-
tas substâncias, mas não outras, o consumo de certas drogas parece ser
vivenciado individualmente com diversos sentidos, sendo descrito como
estratégia de lidar com sentimentos negativos vividos no cotidiano, sendo
relacionado a uma forma de escape de “tudo que é difícil” (PETTERSEN;
RUUD, 2013). Talvez seja possível fazer relação entre essas experiências
e o relato de algumas pessoas que atribuem uso de drogas à diculdade
de fazer amigos e se engajar em relacionamentos pessoais ou mesmo es-
tratégia de enfrentar sentimentos de perdas, desesperança, frustração e
pensamentos perturbadores; mas também de ansiedade, irritação e estresse
(ASHER; GASK, 2010; CHILDS et al., 2011; LAUDET; MAGURA,
2004; THORNTON et al., 2012). Experiências nesse sentido associadas
com o consumo de cigarro, descrito como promotor de alívio do estresse
teriam características de uso ritual e hábito, dando às pessoas com diagnós-
ticos psiquiátricos, que podem vivenciar o processo de institucionalização,
a sensação de controle da própria vida (THORNTON et al., 2012). E
esses momentos têm sido relatados como de difícil abstinência, nesses ca-
sos, em nosso estudo, tem sido descrito pelos participantes como um vício
(VIEIRA, 2016).
O consumo de drogas tem sido descrito pela literatura como as-
sumindo função medicamentosa para o controle de sensações negativas
e mesmo sintomas do transtorno mental como sentimentos de ansieda-
de, mania e depressão entre as pessoas com intenso sofrimento psíquico
(ASHER; GASK, 2010; BIZZARRI et al., 2009; LAUDET; MAGURA,
2004; MUESER; DRAKE; WALLACH, 1998; PETTERSEN; RUUD,
2013; THORNTON et al., 2012). Associada a essa função, algumas
pessoas relatam o consumo de determinadas drogas como promoção do
esquecimento de situações traumáticas como abusos sexuais e violências
sofridas ao longo da vida, pelo menos durante o efeito do álcool, cocaína
ou crack, como se esse consumo pudesse diminuir o sentimento de dor e
sofrimento (ASHER; GASK, 2010; COSTAIN, 2008; HUANG et al.,
2012; SCHÄFER et al., 2010; SOU; DANTAS, 2009). Em nosso estudo,
SADE, R. M. S. (Org.)
194
ao consumo dessas drogas, foram relacionados a experiências de pessoas
que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade social e sofri-
mento psíquico, associado à ausência de recursos como dinheiro, comida
ou excesso de trabalho em que os efeitos podem levar á inibição da fome,
frio e cansaço, possibilitando a essas pessoas lidar com essa situação de
precariedade (VIEIRA, 2016). Essas experiências foram descritas por Bor-
dieu (1999), Borgois (2003) e Das (1997) como estratégias de lidar com
sofrimentos sociais.
No campo das experiências descritas como sintomatologia psi-
quiátrica, o consumo de drogas pareceu inuenciar o modo como a
pessoa percebe essa questão (ASHER; GASK, 2010). Nesses casos, o uso
da maconha, em especial, esteve associado ao controle das experiências
de alucinações auditivas, e sob seu efeito, as vozes se calavam ou dimi-
nuíam o volume (VIEIRA, 2016). No estudo de Costain (2008) algu-
mas pessoas relatam sentir maior clareza das vozes, permitindo que a
pessoa tivesse maior acesso e compreensão em relação questões de espi-
ritualidade ligadas a essas experiências; enquanto a medicação psiquiá-
trica dicultava esse acesso (ASHER; GASK, 2010). O consumo dessa
droga também foi percebido como facilitador do sono e da sensação de
fome, potencializando nesse caso, os efeitos da medicação antipsicótica,
mas também contrabalanceando seus efeitos colaterais. A maconha, por
exemplo, foi descrita como um medicamento “natural” e nesse sentido,
droga foi percebida como participando do controle da sensação de perse-
guição (COSTAIN, 2008).
Associado a essa questão, o consumo de múltiplas drogas foi des-
crito como uma tentativa de contrabalancear os efeitos indesejados das
diferentes substâncias usadas. Embora também acontecesse quando o con-
sumo da droga já não fazia o mesmo efeito ou havia vontade de ter outros
efeitos além daquele já alcançado. Assim a combinação de diferentes subs-
tâncias seria procurada por vezes, com o objetivo de combinar diferen-
tes efeitos desejados. Nessa lógica, a escolha do tipo de droga utilizado
pareceu ser de acordo com os efeitos desejados e efeitos indesejados desse
consumo (VIEIRA, 2016).
Algumas pessoas perceberam que o consumo de drogas pode
promover crises psicóticas em que as alucinações e delírios são vividos
195
Boas práticas
com intenso sofrimento e isso parece ser percebido pelas pessoas que bus-
cam tratamento para o consumo de drogas compreendido como proble-
mático. Laudet e Magura (2004) buscaram conhecer razões para parada
e recaída do consumo de substâncias entre pessoas com comorbidade e
para essas pessoas, as razões de parada do consumo das drogas pareceram
estar associadas a desejos de melhora na qualidade de vida, consequências
negativas do consumo de drogas. O crack e a cocaína foram descritos
como promotores de alucinações, o que era motivo para querer parar de
consumir essas drogas e buscar aderência ao tratamento do consumo.
A diculdade encontrada nisso se relacionava ao conteúdo das vozes,
sendo compreendidas por quem as experimentava como capazes de “le-
var” a pessoa a não conseguir parar de consumir, como se essas vozes
mandassem” continuar o consumo (VIEIRA, 2016). Um aspecto inte-
ressante comentado Costain (2008) é que seus participantes relataram a
persecutoriedade talvez estivesse relacionada ao status de ilegalidade de
algumas drogas e que se fosse legalizada, essas sensações talvez não fossem
compreendidas da mesma maneira.
Dessa maneira, a percepção da associação entre o transtorno
mental e o consumo de drogas, envolve um processo complexo de cons-
trução de sentidos, e as pessoas que vivenciam essa situação pareceram
perceber piora nos sintomas quando usavam drogas; entretanto, em alguns
relatos, as pessoas não estabeleçam essa relação (CHILDS et al., 2011;
LAUDET; MAGURA, 2004). Com isso, a abstinência ou o controle do
consumo pode ser prejudicado, merecendo atenção quanto aos sentidos
dados a essas experiências de consumo de drogas e sua relação com o sofri-
mento psíquico por parte dos prossionais de saúde de serviços de saúde
mental e tratamento para o consumo de drogas, no sentido de favorecer a
construção de sentidos dessa experiência, integrando esses aspectos e au-
xiliando na escolha do paciente de como fazer uso de drogas de maneira a
não aumentar os prejuízos, já vivenciados pelo sofrimento psíquico.
consIderações fInaIs
Muitos avanços foram realizados na reorganização da rede de
cuidados a pessoa em sofrimento mental no Brasil. Também se percebem
SADE, R. M. S. (Org.)
196
avanços no cuidado aos usuários de drogas, que por muito tempo foram
atendidos apenas por grupos religiosos e de autoajuda. Atualmente, há
uma rede de atenção prevista para cuidar de pessoas com estas problemá-
ticas. Entretanto, ainda percebe-se um hiato relativo ao cuidado que deve
ser oferecido a pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico e que
também fazem uso de drogas.
Apesar de diversos estudos abordarem consequências negativas
desta interação, muitos usuários relatam fazer o consumo de drogas pois
percebem benefícios com este. Dentre estes benefícios, podemos destacar
a redução da tensão e ansiedade, a melhora na qualidade do sono e do
apetite, um maior controle das vozes e a melhora do humor. Muitos rela-
tam também que, com a experiência de consumo, conseguem identicar
momentos em que o uso de drogas irá melhorar sua condição psíquica e
momentos em que irá piorar esta. Assim, faz-se importante que prossio-
nais envolvidos no cuidado a estas pessoas consigam estabelecer um bom
vínculo com estas, adotem uma postura de curiosidade e atenção e bus-
quem conhecer o signicado que o uso de drogas tem para cada um dos
usuários. A partir desta postura de respeito pela experiência do outro, será
possível pensar conjuntamente em modos de lidar com estas experiências
e hábitos, buscando maior bem estar da pessoa que procura ajuda em ser-
viços de saúde mental.
referêncIas
AMARANTE, P. Loucos pela Vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de
Janeiro: SDE/ENSP, 1995.
AMARANTE, P. Novos Sujeitos, Novos Direitos: O Debate em Torno da Reforma
Psiquiátrica. Caderno Saúde Pública, v.11, n.3, p.491-494, 1995.
AMARANTE P.; TORRE, E. H. G. A constituição de novas práticas no campo da
Atenção Psicossocial: análise de dois projetos pioneiros na Reforma Psiquiátrica no
Brasil. Saúde em Debate, v.25, n. 58, p. 26-34, 2001.
ASHER, C. J.; GASK, L. Reasons for illicit drug use in people with
schizophrenia: Qualitative study. BMC psychiatry, v.10, n. 1, p. 94, jan.
2010. Disponível em: <http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.
fcgi?artid=2999587&tool=pmcentrez&rendertype=abstract>. Acesso em: 3 jan. 2013.
197
Boas práticas
BECKER, H. S. . Becoming a Marihuana User. e American Journal of Sociology, v.59,
n. 3, p. 235–242, 1953.
BIZZARRI, J. V. et al. Substance use in severe mental illness: self-medication and
vulnerability factors. Psychiatry research, v.165, n. 1-2, p. 88–95, 30 jan. 2009.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2007.10.009>. Acesso em: 25
mar. 2013.
BOURDIEU, P. e weight of the world: Social suering in contemporary society. [s.l.]
Stanford University Press, 1999.
BOURGOIS, P. Crack and the Political Economy of Social Suering Addiction Research &
eory. 2003.
BRASIL. Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental, 2001.
________. Portaria/GM nº 336 - de 19 de fevereiro de 2002. Estabelece CAPS I, CAPS
II, CAPS III, CAPS i II e CAPS ad II, 2002.
________. Lei n° 10.708, DE 31 DE JULHO DE 2003. Institui o auxílio-reabilitação
psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações.
2003.
________. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. Conferência
Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas.2005.
Disponível em: www.saude.gov.br/saudemental.
________. Portaria MS nº 3.088, de 23 de Dezembro de 2011. Institui a Rede de atenção
Psicossocial-RAPS, no âmbito do SUS para pessoas com sofrimento ou transtorno mental
e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.
CHARLES, V.; WEAVER, T. A qualitative study of illicit and non-prescribed drug use
amongst people with psychotic disorders. Journal of mental health (Abingdon, England),
v.19, n. 1, p. 99–106, 2010.
CHILDS, H. E. et al. e journey through cannabis use: a qualitative study of the
experiences of young adults with psychosis. e Journal of nervous and mental disease,
v.199, n. 9, p. 703–8, set. 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/21878786>. Acesso em: 10 nov. 2014.
CLEMENTE, A.; LAVRADOR, M. C. C.; ROMANHOLI, A. C. Desaos da rede
de atenção psicossocial: problematização de uma experiência acerca da implantação de
novos dispositivos de álcool e outras na rede de saúde mental da cidade de Vitória. Polis.
e Psique, v.3, n.1, p.80-99, 2013.
CORRADI-WEBSTER, C. M. Consumo de drogas: considerações sobre a clínica no
contexto do SUS. Saúde & Transformação Social, v.4, n.2, p.10-20, 2013.
CORRADI-WEBSTER, C. M.; LAPREGA, M. R.; FURTADO, E. F. Residentes
em psiquiatria têm documentado problemas relacionados ao álcool em pacientes
ambulatoriais? Revista de psiquiatria do Rio Grande do Sul, v.31, n.3, p.187-191, 2009.
SADE, R. M. S. (Org.)
198
COSTA-ROSA, A.; LUZIO, B.; YASUI, S. As Conferências Nacionais de Saúde Mental e
as premissas do Modo Psicossocial. Saúde em Debate, v.25, n. 58, p.12-25, 2001.
COSTAIN, W. F. e eects of cannabis abuse on the symptoms of schizophrenia:
Patient perspectives. International Journal of Mental Health Nursing, v.17, n. 4, p. 227–
235, 2008.
FERNANDES, V. R.; FUZINATTO, A. M. Drogas: proibição, criminalização da
pobreza e mídia. 1º Congresso Internacional de Direitos e Contemporâneidade: Mídias
e Direitos da Sociedade em Rede. UFSM - Universidade Federal de Santa Maria, 2012.
FOUCAULT, T. M. História da Loucura. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
GOTTLIEB, J. D.; MUESER, K. T.; GLYNN, S. M. Family erapy for
Schizophrenia: Co-Occurring Psychotic and Substance Use Disorders. Journal of
Clinical Psychology, v.68, n. 5, p. 490–501, 2012.
GREGG, L.; BARROWCLOUGH, C.; HADDOCK, G. Reasons for increased
substance use in psychosis. Clinical psychology review, v.27, n. 4, p. 494–510, maio
2007. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17240501>. Acesso em:
29 out. 2012.
GUIMARÃES, J.; MEDEIROS, S M. de ; SAEKI T. E ALMEIDA M. C. P. de.
Desinstitucionalização em Saúde Mental: considerações sobre o paradigma emergente.
Saúde em Debate, v.25, n.58, p.5-11, maio/ago.200.
HAMILTON, I. Ensuring integrated treatment for people with mental health and
substance use problems. Nursing times, v. 106, n. 11, p. 12-15, 2010.
HIRDES, A. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão. Ciência & Saúde Coletiva,
v.14, n.1, p.297-305, 2009.
HUANG, M.-C. et al. Impact of multiple types of childhood trauma exposure on
risk of psychiatric comorbidity among alcoholic inpatients. Alcoholism, clinical and
experimental research, v.36, n. 6, p. 1099–1107, jun. 2012.
LAUDET, A.; MAGURA, S. Perceived reasons for substance misuse among persons
with a psychiatric disorder. American Journal of Orthopsychiatry, v.74, n. 3, p. 365–375,
2004. Disponível em: <http://psycnet.apa.org/psycinfo/2004-16798-014>. Acesso em:
9 nov. 2014.
LEÃO, E. A. Sentidos e Práticas produzidos com prossionais a respeito do consumo
de drogas no contexto da saúde mental. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Filosoa, Ciencias e Letras de Ribeirão Preto; Universidade
de São Paulo, 2015.
LINNELL, M.; HOLLAND, M. Mental illness and Maconha – the story of David – the
man with transparent head. Lifeline Publications, 2007.
LOBBANA, F. et al. Understanding factors inuencing substance use in people
with recent onset psychosis: A qualitative study. Social science & medicine, v.70,
n. 8, p. 1141–1147, abr. 2010. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/20137846>. Acesso em: 29out.2013.
199
Boas práticas
LUZIO, C. M.; YASUI, S. Além das Portarias: Desaos da política de saúde mental
Psicologia em Estudo, v.15, n. 1, p. 17-26, jan./mar. 2010.
MAGURA, S.; ROSENBLUM, A.; FONG, C. Factors associated with medication
adherence among psychiatric outpatients at substance abuse risk. e Open Addiction
Journal, v.4, p. 58-64, 2012.
MENEZES, P. R.; RATTO, L. R. Prevalence of Substance Misuse among Individuals
with Severe Mental Illness in São Paulo. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology,
v.39, p. 212-217. 2004.
MENEZES, P. R. et al. Drug and alcohol problems among individuals with severe
mental illness in south London. e British journal of psychiatry : the journal of mental
science, v.168, n. 5, p. 612–619, maio 1996.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. SVS/CN-DST/AIDS. A
Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas.
2. ed. Ministério da Saúde , 2004.
MORAIS, M. L. S.; FERFFERMANN, M.; FERNANDES, M.; FIGUEIREDO, R.;
PAULA, S.H.B.; VENANCIO, S.I. Um estudo avaliativo das ações de saúde mental no
estado de São Paulo. Saúde em debate, v. 33, n. 81, p. 112-128, 2009.
MORDAL, J. et al. Psychoactive substance use among patients admitted to an acute
psychiatric ward: Laboratory ndings and associations with clinical characteristics.
Nordic Journal of Psychiatry, v.65, p. 208-215, 2011.
MOROJELE, N. K.; SABAN, A.; SEEDAT, S. Clinical presentations and diagnostic
issues in dual diagnosis disorders. Current Opinion in Psychiatry, v. 25, n. 3, p. 181–186,
2012.
MUESER, K. T.; DRAKE, R. E.; WALLACH, M. A. Dual diagnosis: a review of
etiological theories. Addictive behaviors, v. 23, n. 6, p. 717 – 734, 1998. Disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9801712>.
NEHLIN, C.; FREDRIKSSON, A.; JANSSON, L. Brief alcohol screening in a clinical
psychiatric population: Special attention needed. Drug and Alcohol Review, v. 31, p. 538
- 543, 2012.
NEHLIN, C., GRÖNBLADH, L., et al. Brief alcohol intervention in a psychiatric
outpatient setting: a randomized controlled study. Addiction Science & Clinical Practice,
v.7, n.1, p. 23-27, 2012.
PEREIRA, L. C; JESUS, I. S; BARBUDA, A. DE S.; SENA, E. L. DA S; YARID,
S. D. Legalização de drogas sob a ótica da bioética da proteção. Rev. Bioét. [online],
vol. 21, n. 2, p. 365-374, 2013. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/S1983-
80422013000200021. > Acesso em: 24 Fev. 2014.
PETTERSEN, H.; RUUD, T. Walking the ne line: Self-reported reasons for substance
use in persons with severe mental illness. International Journal of Qualitative studies
onHealth and Well-Being, v.1, p. 1–11, 2013.
SADE, R. M. S. (Org.)
200
PRADO, K. F.; LEMOS, F. C. S. Uma breve cartograa da luta antimanicomial no
Brasil. Contemporânea, v. 2, n. 1, p. 45-63. 2012.
QUEIROZ, I. S. Os programas de redução de danos como espaços de exercício da
cidadania dos usuários de drogas. Psicologia. Ciência e Prossão, v. 21, n. 4, 2001.
RIBBE, K. et al. Prediction of the risk of comorbid alcoholism in schizophrenia by
interaction of common genetic variants in the corticotropin-releasing factor system.
Archives of general psychiatry, v. 68, n. 12, p. 1247–1256, dez. 2011. Disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21810631>. Acesso em: 29 ago. 2013.
SCHÄFER, I. et al. Childhood trauma and dissociation in patients with alcohol
dependence, drug dependence, or both-A multi-center study. Drug and alcohol
dependence, v. 109, n. 1-3, p. 84 – 89, 1 jun. 2010. Disponível em: <http://www.ncbi.
nlm.nih.gov/pubmed/20092967>. Acesso em: 9 fev. 2014.
SCHOFIELD, D. et al. Reasons for cannabis use in psychosis. Journal compalation e
Royal Australian and New Zealand College of Psychiatrists, v. 40, n. 6, p. 570-574, 2006.
SCHULDEN, J. D.; LOPEZ, M. F.; COMPTON, W. M. Clinical Implications of
Drug Abuse Epidemiology. e psychiatric clinics of North America, v.35 n.2, p. 411-423,
2012.
SILVA, C. R. et al. Comorbidade psiquiátrica em dependentes de cocaína/crack e
alcoolistas: um estudo exploratório. Aletheia, v. 30, p. 101-112, 2009.
SOU, H. DE; DANTAS, Z. Transtorno de estresse pós-traumático associado ao abuso
e dependência de álcool e drogas: estudo de uma amostra da população da região
metropolitana de São Paulo. [2009].
THORNTON, L. K. et al. Reasons for substance use among people with psychotic
disorders: Method triangulation approach. Psychology of Addictive Behaviors, v. 26, n. 2,
p. 279-288, 2012.
DAS, V. Language and Body: Transactions in the construction of pain. In:
KLEINMAN, A.; DAS, V.; LOCK, M. (Ed.). Social Suering. Berkeley, Los Angeles,
CA: University of California Press, 1997. V. 125, p. 67–91.
VIEIRA, F. D. S. Consumo de drogas por pessoas sofrimento psíquico: sentidos, signicados
e percursos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosoa,
Ciencias e Letras de Ribeirão Preto; Universidade de São Paulo, 2016.
WILLIAMSON, A. E.; et al. e disappearance of the “revolving door” patient in Scottish
general practice: successful policies. BMC Family Practice, v.13, p. 95-99, 2012.
201
A Psicologia e a invenção de
práticas psicossociais
aís omé Seni da Silva e Oliveira
Franco Rotelli, psiquiatra italiano e sucessor de Franco Basaglia,
nos conta da “instituição inventada” (ROTELLI, 2015), que se dá conti-
nuidade à “instituição negada” de Basaglia. O autor nos convida a inventar
novos modos de estar no mundo e de produzir saúde. De inventar-criar
maneiras de enfrentar os riscos permanentes de institucionalização e “re-
-institucionalização” de pensamentos e práticas. É nesse sentido que fala-
mos da “invenção” de práticas psicossociais na Psicologia.
O Modelo de Atenção Psicossocial é o modelo de assistência em
saúde mental vigente atualmente no Brasil. Resulta do movimento da luta
antimanicomial e da reforma psiquiátrica, sendo inspirado principalmente
na Psiquiatria Democrática Italiana (AMARANTE, 2011). Foi incorpo-
rado como política pública de assistência em saúde mental no Brasil, espe-
cialmente após a publicação da lei 10.216 em 2001 e consolidado em uma
rede de serviços de saúde mental pela portaria publicada dez anos depois
(Ministério da Saúde, 2011).
O presente modelo não constitui somente uma rede de serviços
que se propõe a substituir o manicômio, mas representa outro paradigma
SADE, R. M. S. (Org.)
202
de cuidado: o paradigma psicossocial, que busca superar o paradigma bio-
médico e asilar (COSTAROSA, 2000), e que tem sua correspondência no
cenário internacional como psychosocial approaches (MEZZINA, 2005).
A mudança de paradigma na saúde mental tem seu percurso his-
tórico (PESSOTI, 1994; FOUCAULT, 1978; MEZZINA, 2005; OLI-
VEIRA-PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011) e congura em ema
ruptura com o modelo médico-biológico de tratar a doença e com as ins-
tituições totais para a organização de serviços inseridos nas comunidades e
que consideram o paciente como sujeito e não como objeto. Isso implica
na mudança de concepção sobre o que seja tratar/cuidar, que vai da busca
de controlar sintomas e comportamentos, da fragmentação do paciente
e da distância entre este e o prossional, à busca de compreensão do so-
frimento da pessoa em sua totalidade, com suas necessidades concretas,
incluindo aquelas psicológicas e subjetivas.
Assim, a saúde mental passa a integrar o campo da saúde coleti-
va, sendo o processo saúde-doença resultante de processos biopsicossociais
complexos, que demandam uma abordagem interdisciplinar e interseto-
rial, com ações inseridas em uma diversidade de serviços e dispositivos
territorializados de atenção e de cuidado, sendo um deles o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS).
No Paradigma Psicossocial ou Biopsicossocial a comunidade é
aceita como o novo cenário para o cuidado em saúde mental, aceitação essa
que ainda é incompleta em termos sócio-culturais e políticos. Nesse con-
texto, um grande desao é construir práticas que, de fato, sejam substituti-
vas às instituições totais. Assim, este paradigma é desaado especialmente
pelas práticas realizadas cotidianamente nos serviços de saúde mental, na
medida em que para a construção de serviços comunitários efetivamente
inovadores é necessário evitar os riscos de se produzir uma “neo-institucio-
nalização” (FIORATI; SAEKI, 2013; OLIVEIRA; CALDANA, 2016).
Concordamos com Yasui e Costa-Rosa (2008) que entendem que
os prossionais das equipes de saúde mental cotidianamente têm a tarefa
de expandir e consolidar a mudança paradigmática. Os principais instru-
mentos dos prossionais são a sua formação e o desenvolvimento prossio-
nal permanente, que devem permitir a redeni ção e reorganização de seu
203
Boas práticas
processo de trabalho, a articulação das alianças entre os diferentes setores
da sociedade; viabilizando a criação e expansão concreta de uma rede de
atenção e cuidado de base territorial e pautada nos princípios de integrali-
dade e participação popular.
construIndo as prátIcas: psIcologIa e atenção psIcossocIal
Visando compreender as práticas em psicologia no contexto da
saúde mental, é importante entender o processo histórico da atuação des-
te prossional no Brasil. Desde a regulamentação da prossão no país, a
atuação do psicólogo passou por um processo de transformação bastan-
te importante, resultante de uma diversidade de fatores como: a história
da psicologia como ciência no mundo e no Brasil, o contexto histórico e
social da atuação prossional e dos cursos de formação, a conguração
socioeconômica e política do país, os paradigmas de conhecimento, de
educação e de saúde, entre outros.
Os primeiros cursos de Psicologia do Brasil tiveram início no
ano de 1957, inaugurando a trajetória da Psicologia como prossão
no país (PEREIRA; PEREIRA NETO, 2003). A regulamentação da
prossão de psicólogo ocorre em 27 de agosto de 1962, com a publi-
cação da Lei 4.119. Em 1971 foram criados o Conselho Federal e os
Regionais de Psicologia, e em 1975 é publicado o primeiro Código de
Ética dos psicólogos, nalizando o processo de prossionalização da
área no país.
Ainda conforme Pereira e Pereira Neto (2003), a respeito da atua-
ção do psicólogo no país, entre os anos de 1970 e 1980 houve um aumento
da demanda por serviços de psicologia nas grandes cidades, atendendo
principalmente as classes média e alta, com atuação em três grandes áre-
as: educação, trabalho e clínica, sendo nesta última sempre concentração
maior de número de prossionais.
É importante destacar que nesse período o Brasil vivia o momen-
to histórico da repressão e da ditadura militar, o que contribuiu para o
direcionamento do desenvolvimento da psicologia e de outras áreas pros-
sionais de determinada maneira.
SADE, R. M. S. (Org.)
204
A escolha dos psicólogos era em sua maioria pela área clinica
no contexto privado com atendimentos individuais em psicoterapia, evi-
denciando a predominância do modelo médico/prossional liberal, ou
do chamado modelo clínico tradicional, que perdura ainda nos dias de
hoje (CFP, 2005; DIMENSTEIN, 2000; DIMENSTEIN; MACEDO,
2012; FIGUEIREDO; RODRIGUES, 2004, YAMAMOTO, 2012;
OLIVEIRA; CALDANA, 2016). Tal escolha pela área clínica coloca em
evidência este outro fator de extrema relevância: a característica dos cur-
sos de formação em psicologia no Brasil, com predomínio do ensino da
área clinica em seus moldes tradicionais, como área privilegiada para a
atuação do psicólogo.
o processo de amplIação das ptIcas
Os anos de 1990 marcam uma transformação e aumento dos es-
paços de atuação dos psicólogos no cenário nacional, mantendo-se a pre-
ferência pela área clínica, seguida pelas áreas da saúde e organizacional.
Yamamoto (2012) conrma a predominância dessas áreas de atuação nos
tempos atuais, em seu estudo 53% dos prossionais trabalhavam em clí-
nica, 27,9% na área da saúde, 25,1% na área do trabalho e organizações
e 9,8% na área educacional. Entretanto, as modalidades de inserção do
prossional no país sofreram uma transformação, pois apenas 20% dos
prossionais autônomos atuavam exclusivamente nessa condição. Dos
psicólogos participantes da pesquisa, 40% trabalhavam no setor público,
35% no setor privado e 25% no terceiro setor.
O estudo mencionado aponta uma ampliação para além do mo-
delo tradicional de atuação como prossional autônomo em clínica privada.
Na área da saúde pública, a entrada do psicólogo se intensicou no nal
da década de 1980, sendo que nas últimas décadas o psicólogo se tornou o
prossional com maior número de contratações para compor equipes multi-
prossionais (YAMAMOTO, 2012, OLIVEIRA; CALDANA 2016).
E aqui temos um outro dado importante: a ampliação dos con-
textos de atuação do psicólogo não correspondeu à transformação das
práticas psicológicas. Estudos indicam a permanência de estratégias tra-
dicionais de intervenção, como a avaliação psicológica, o psicodiagnósti-
205
Boas práticas
co e a psicoterapia individual. Assim, nos deparamos efetivamente com
a permanência do modelo clinico tradicional (YASUI, 2010, YAMA
MOTO, 2012; DIMENSTEIN; MACEDO, 2012) acompanhado por
inúmeras críticas em função da inadequação e não-resolutividade, tra-
zendo um forte conteúdo ideológico individualista e desconsiderando
problemas sociais. Nessa direção, a atuação do psicólogo na saúde públi-
ca, exige a criação de novas estratégias de atuação, para além do citado
modelo clínico tradicional (DIMENSTEIN, 2000; 2006; FERREIRA
NETO, 2008; FIGUEIREDO; RODRIGUES, 2004; SPINK, 2003;
YASUI, 2010).
No campo da saúde pública o ponto de partida não pode ser ou-
tro que as demandas da população usuária dos serviços públicos de saúde,
e a formação em psicologia precisa dar conta disso. A produção do cuidado
em saúde implica em escolhas teóricas e metodológicas, como também na
criação de estratégias de intervenção que possibilitem de um fazer com-
prometido com os processos intersubjetivos e com a produção de sujeitos
sociais ativos em nível individual e coletivo para a produção de saúde.
(DIMENSTEIN, 2006).
A criação de estratégias de atuação deve ter como base a pessoa
em sua totalidade, inserida em um contexto de relações, permeado por
aspectos sociais, econômicos e culturais, e deve produzir autonomia e pro-
tagonismo social.
O desao da formação prossional se encontra em ultrapassar
a ampliação de disciplinas e conteúdos relacionados ao Sistema único de
saúde (SUS) e ao paradigma psicossocial, devendo proporcionar ao psi-
cólogo em formação uma visão ampla e a capacidade de operar análises
conjunturais a respeito das necessidades sociais e de saúde da população.
Deve também promover o desenvolvimento da escuta e a intervenção so-
bre processos psicológicos e psicossociais mobilizados pelas condições de
vida das pessoas, como também a capacidade de articulação com as redes
de diversos setores para operar a integralidade das práticas (OLIVEIRA;
CALDANA, 2016).
Ressalta-se que o movimento de construção de práticas assis-
tenciais coerentes com os pressupostos do paradigma psicossocial (AMA
SADE, R. M. S. (Org.)
206
RANTE, 2011; YASUI; COSTA-ROSA, 2008) está presente na área da
psicologia e nas diversas áreas de saúde, constituindo uma proposta inter-
disciplinar. Em termos da formação, existem atualmente diversas ações e
projetos de ensino, pesquisa e extensão das universidades em parceria com
órgãos governamentais e outros programas.
O movimento de mudanças descrito deve se intensicar na for-
mação e alcançar também as estratégias de educação permanente para os
prossionais, para que as práticas cotidianas de fato se transformem.
transformações paradIgmátIcas: cIêncIa, saúde mental e psIcologIa
Para compreender em maior profundidade a mudança paradig-
mática que é base para o cuidado em saúde, para as equipes e suas práticas,
faz-se necessário compreendê-la num contexto maior, que envolve a mu-
dança na forma de conceber a “realidade”, a construção do conhecimento
e a subjetividade humana.
Temos na atualidade diversos elementos epistemológicos e meto-
dológicos propostos como tendência alternativa para a ciência contempo-
rânea. Tais elementos são agrupados com diferentes graus de articulação,
sob o rótulo de “novo paradigma” (ALMEIDA FILHO, 2005). Os propo-
nentes desses novos paradigmas sugerem o desenvolvimento de uma nova
ciência, que demanda categorias epistemológicas próprias, novos modelos
teóricos e novas formas de análise.
Os novos paradigmas buscam superar o paradigma cartesiano,
substrato epistemológico da ciência moderna, no qual conhecer implicava
necessariamente uma etapa inicial de fragmentação do objeto do conheci-
mento e sua redução aos seus componentes elementares.
No campo do método cientíco, tal orientação se traduz nas ideias
de objetividade, neutralidade e identicação/isolamento de variáveis do objeto
de estudo. No campo da saúde, o pensamento cartesiano se traduz na cisão
corpo/mente e na fragmentação do corpo, o corpo mecanizado que deve ser re-
parado em partes que geram o mau funcionamento. Esta é a lógica do paradig-
ma biomédico, em que a doença deve ser identicada (diagnosticada) por seus
sintomas, combatida e removida do corpo para que a saúde seja restaurada.
207
Boas práticas
No campo da saúde mental, temos a identicação de sintomas
e o diagnóstico de doenças mentais, porém, como o sintoma loucura não
tem “cura”, não podendo ser removido denitivamente, isolou-se o lou-
co para restaurar a normalidade social. Nos tratamentos para a loucura,
foram desenvolvidas ao longo do tempo estratégias e terapêuticas para
remover os sintomas: dos banhos frios, choques elétricos e isolamento
aos medicamentos.
Segundo Almeida Filho (2005), desde o nal do século XX vem
crescendo, no campo cientíco, a consciência de uma ciência congurada
como prática de construção de modelos, de formulação e solução de pro-
blemas em um mundo em constante transformação, valorizando cada vez
mais a descentralização e a relatividade. Em muitos campos cientícos,
anuncia-se atualmente que o paradigma da simplicidade e reducionismo
cartesianos teria exaurido sua capacidade de apreender as complexas reali-
dades concretas da natureza, história e cultura humanas, alcançando seus
limites como estratégia de produção de conhecimento.
Assim, diversos pensadores e cientistas de diferentes áreas de pes-
quisa, como Wiener, Von Bertallanfy, Progogine,om, Boulding, Matu-
rana, Simon, Atlan, Lorenz e Morin vem lançando propostas de superação
do reducionismo, resultando no chamado “Paradigma da Complexidade
ou Paradigma C (MORIN, 2005).
O paradigma da complexidade parte da premissa de que, ao
contrário da abordagem reducionista do positivismo, que tem como ob-
jetivo uma simplicação da realidade, a pesquisa cientíca deve respeitar
a complexidade inerente aos processos concretos da natureza, da socie-
dade e da história, sendo ele mesmo um produto da cultura e da história
humanas. Tal paradigma é, dessa maneira, o marco transformador da
ciência contemporânea.
Almeida Filho (2005) dene os seguintes elementos teóricos
da complexidade:
• Sistemas dinâmicos: compreendem estruturas sistêmicas aber-
tas, em constante transformação, totalidades formadas por partes
inter-relacionadas, elementos, conexões e parâmetros mutantes.
“Complexidade implica a noção de transformação” (p.35);
SADE, R. M. S. (Org.)
208
• Não-linearidade: propriedade de interconexões sistêmicas que vão
além das relações dose-resposta, ou causa-efeito. Traz o sentido de
não nalístico, recursivo ou interativo, e também da relação entre
séries de eventos, que entendemos trazer a ideia de multicausalidade;
• Caos: na descrição dos sistemas de relações não lineares, indica
a abertura para a consideração de paradoxos ou contradições. Na
prática é denido como a sensitividade às condições iniciais mais a
imprevisibilidade do sistema como um todo;
• Emergência: é a ocorrência imprevista, de algo que não existia
previamente no sistema. Tolera-se o paradoxo “o novo a partir
do existente”;
• Borrosidade: propriedade de imprecisão de limites entre elementos
dos sistemas. São as fronteiras borradas entre elementos do sistema
e podemos transpor para as fronteiras borradas das disciplinas, que
dariam o sentido da transdisciplinaridade. O autor aponta ainda
que, no que se refere à ciência, a crítica à noção de limite resulta
no questionamento da categoria epistemológica da objetividade,
retomando o clássico problema do observador/pesquisador como
efeito de um borramento, neste caso referido à delimitação uida,
ambígua, contraditória e confusa entre sujeito e objeto;
• Fractalidade: segundo o autor, a noção de “fractais” seria de grande
utilidade para o desenvolvimento de modos alternativos de produ-
ção do conhecimento cientíco. Trata-se de uma nova geometria,
baseada na redução das formas e propriedades dos objetos ao “in-
nito interior”, como, por exemplo, na possibilidade de dividir uma
linha em duas partes iguais, que poderão por sua vez ser divididas, e
assim sucessivamente, mantendo-se sempre a forma original de uma
linha dividida pela metade. Desta maneira, pode-se representar de
um modo altamente sintético a constatação da permanência de cer-
tas propriedades através dos diferentes níveis do sistema. A fractali-
dade pode ser encontrada, com as devidas especicidades, na famosa
questão local versus global, que tem alimentado uma discussão de ex-
trema atualidade nas ciências sociais contemporâneas, especialmente
no que concerne às abordagens qualitativas de pesquisa.
209
Boas práticas
As abordagens da complexidade em geral, seriam capazes de
produzir as novas possibilidades de compreensão e superação do dis-
tanciamento entre o mundo natural e o mundo histórico, descrevendo
sistemas dinâmicos complexos, autorregulados, mutantes, imprevisíveis,
produtores de níveis emergentes de organização. De modo geral, valo-
rizam a fragmentação fractal, a relatividade, o dinamismo, a indetermi-
nação e a contingência como características da formulação alternativa,
para a construção de uma nova família de entes cientícos: os objetos
complexos. O objeto complexo é sintético, não linear, múltiplo, plural e
emergente. Como um objeto-modelo sistêmico, faz parte de um sistema
de totalidades parciais e pode ser compreendido ele mesmo como um
sistema. Em sua forma de objeto heurístico (BUNGE, 1972 apud AL
MEIDA FILHO, 2005), não pode ser explicado por modelos lineares de
determinação. Assim, o objeto complexo não possibilita a predição e me-
todologicamente pode ser apreendido em múltiplos estados de existên-
cia, dado que opera em distintos níveis da realidade. O objeto complexo
é multifacetado, alvo de diversos olhares, fonte de múltiplos discursos,
extravasando os recortes disciplinares da ciência.
A subjetividade humana, a loucura/doença e o tratamento/cuida-
do são objetos complexos, que exigem das ciências humanas e das ciências
da saúde – o que inclui a psicologia – múltiplas abordagens, estratégias e
ferramentas tanto para a produção de conhecimento quanto para produ-
ção do cuidado em saúde.
O giro do conceito biomédico de saúde para o biopsicos social,
ou para as abordagens psicossociais, implica uma série de recongurações
e a complexicação de sentidos de saúde-doença-cura, do tratar-cuidar,
bem como de noções de saúde coletiva, comunidade, controle social,
avaliação, corpo, culturas, saberes populares/especializados, participação,
cooperação, entre outros. Esse é o giro da complexidade, do olhar para
nossa ação sobre o mundo, sobre o outro e sobre nós mesmos na tensão
das múltiplas histórias, contextos, afetividades e sentidos que se (re)con-
guram permanentemente.
Com as lentes de aumento sobre os aspectos subjetivos do huma-
no, esses objetos complexos, os sentidos apresentam-se como forma ções
dinâmicas, uidas, imprevistas, sempre em movimento, o que nos encoraja
SADE, R. M. S. (Org.)
210
a questionar, sempre, as formas habituais, tradicionais e institucionalizadas
de atuação. Essas lentes ressaltam o momento assistencial como subjeti-
vador, que inscreve os processos corporais e psíquicos como fenômenos
sociais, que têm história e articulação com outros processos da vida, resga-
tam os simbolismos, afetividades, potencialidades e capacidade de criação
na atenção à saúde. São lentes que ampliam possibilidades para as políti-
cas e práticas, pois evitam apriorismos, requisitando mais espaços para as
diversas expressões do humano. Espaços que possibilitem a produção de
sentidos para além do diagnóstico, da doença e do rótulo (OLIVEIRA
PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011).
No campo da saúde mental, diversos autores (AMARANTE,
2011; YASUI; COSTAROSA, 2008; MEZZINA, 2005) apontam que
a mudança de paradigma envolve transformações que vão do conceito de
saúde mental até as formas de tratamento e as tecnologias de cuidado.
Amarante (2011) considera que essa transição paradigmática na saúde
mental acompanha a transformação da própria ciência, na medida em que
supera o modelo asilar biomédico, passando a se inserir na ideia de com-
plexidade, de simultaneidade, de transversalidade de saberes, de “constru-
cionismo” e de “reexividade”.
Nesse ponto, entendemos que todas as considerações realizadas
até aqui conuem para o mesmo ponto: o trabalho em grupo, a equipe,
as práticas do psicólogo na clínica ampliada, a formação e o desenvolvi-
mento prossional se inserem no paradigma da complexidade, e trazem a
marca da produção de subjetividade e o compromisso com a produção de
tecnologias de cuidado que coloquem o sujeito como centro e em movi-
mento. No movimento de protagonizar, fazer escolhas, se responsabilizar
e agir no mundo.
Nesse sentido, o usuário é sujeito e o prossional é sujeito. São
sujeitos humanos se encontrando e construindo novos olhares, sentidos e
fazeres para a vida que acontece em tramas complexas.
consIderações fInaIs
Em relação à atuação do psicólogo no Modelo de Atenção Psi-
cossocial, mais especicamente nos serviços CAPS, encontramos diversos
211
Boas práticas
trabalhos cientícos (CAMBUY; AMATUZZI, 2012; DIMENSTEIN,
2000; 2004; 2006; FERREIRA NETO, 2008; FIGUEIREDO; RO
DRIGUES, 2004; OLIVEIRA; CALDANA, 2016), que trazem im-
portantes discussões acerca da necessidade de mudança na formação e o
desenvolvimento para uma atuação menos tradicional e mais ampliada, na
direção das considerações realizadas até aqui.
Nesse sentido, concordamos com os apontamentos da pesquisa
realizada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2013) em âmbito na-
cional, sobre as práticas de psicólogos nos CAPS, a saber:
• A necessidade de desinstitucionalização da prática psicológica e
sua ampliação e intervenção na cultura, lembrando que tal des-
institucionalização só poderá ocorrer por meio de mudanças nos
cursos de formação e estratégias de educação permanente em saúde
mental;
• A essencialidade do trabalho em rede em função da complexidade
do cuidado no modelo de atenção psicossocial, considerando que
tal complexidade do cuidado se dá em função da consideração da
complexidade do humano.
No que se refere às práticas da Psicologia nos CAPS pesquisados,
a partir dos relatos dos participantes é possível inferir que, além dos pontos
ressaltados acima, os prossionais têm realizado de modo crescente ações
e estratégias de clínica ampliada, mas que muitas vezes não se reconhecem
em tais práticas, evidenciando que a identidade prossional do psicólogo
ainda se atrela de modo signicativo ao modelo clínico tradicional. A falta
de identicação do psicólogo com o fazer psicossocial e a clínica amplia-
da, e a apropriação destas práticas como práticas psicológicas legítimas,
resulta, em nossa opinião, tanto dos modelos de formação em psicologia –
que vêm sofrendo um processo de transformação de forma heterogênea no
país, quanto da falta de reexão e diálogo entre os prossionais dos serviços
de saúde mental na construção de suas práticas cotidianas, em função dos
processos de trabalho e gestão já mencionados.
Em nosso entendimento, a proposta da clínica ampliada colo-
ca um m na oposição entre práticas clínicas e práticas psicossociais em
SADE, R. M. S. (Org.)
212
psicologia no contexto dos serviços de saúde mental. Tal proposta norteia
e convida à composição/criação de práticas e estratégias de intervenção
dentro de seus princípios
Não se deve perder de vista, dessa maneira, a discussão sobre a
clínica, norteada pelas idéias de Campos e Amaral (2007), com as quais
concordamos, de que a ampliação mais importante da clínica tradicional
para a clínica ampliada é a consideração de que as ações em saúde devem
ser como foco a pessoa em sua integralidade, com suas necessidades e con-
dições concretas de existência.
Além disso, outro norteador para a prática psicossocial de psi-
cólogos e dos outros prossionais de saúde é a ampliação da nalidade
do trabalho clínico para além da cura ou remoção de sintomas: a clínica
poderá contribuir para a ampliação do grau de autonomia dos usuários, ou
seja, para a ampliação da capacidade do usuário de lidar com sua própria
rede, em seu próprio território e com seus próprios recursos. Nesse sentido
pensamos a clínica ampliada também na psicologia como potencializadora
de protagonismo social, autonomia e invenção, trabalhando em rede para
promover o encontro do usuário com suas redes.
Para nalizar, ressalta-se que para a construção- invenção de prá-
ticas inovadoras e efetivas nos serviços de saúde mental (ROTELLI, 2015),
na psicologia e em todas as áreas da saúde, é evidente a necessidade de
se desenvolver estratégias também inovadoras – “inventivas” em todas as
instituições envolvidas nos processos de ensino (formação), de pesquisa
(universidade) e de extensão (atuação/desenvolvimento prossional), en-
volvendo uma verdadeira articulação entre estas três áreas e considerando a
complexidade da construção do conhecimento, da subjetividade humana
e do cuidado em saúde.
referêncIas
ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e o paradigma pós-disciplinar na saúde.
Saúde e Sociedade, v. 14, n. 3, p. 30-50, 2005.
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2011.
CAMBUY, K.; AMATUZZI, M. M. Experiências comunitárias: repensando a clínica
psicológica no SUS. Psicologia e Sociedade, v. 24, n. 3, p. 574-683, 2012.
213
Boas práticas
CAMPOS, G. W. S.; AMARAL, M. A. A clínica ampliada e compartilhada, a gestão
democrática e redes de atenção como referenciais teórico-operacionais para a reforma do
hospital. Ciência e Saúde Coletiva, v. 12, n. 4, p. 849-859, 2007.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Pesquisa de Opinião WHO: quem é o
psicólogo brasileiro. Ano 2001, Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.pol.org.br/
pol/export/sites/default/pol/publicacoes/publicacoesDocumentos/Pesquisa_WHO.pdf
>. Acesso em: 4 mar. 2011.
______. Referências técnicas para atuação de Psicólogas (os) no Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS). Brasília, 2013. Disponível em: <http://crepop.pol.org.br/novo/wp-
content/uploads/2013/07/MIOLO_TECNICAS_DE_ATUACAO2.pdf>. Acesso em:
6 set. 2013.
COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas
ao modo asilar. In: AMARANTE, P. (Org.) Ensaios: subjetividade, saúde mental,
sociedade. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2000. p. 141-168.
DIMENSTEIN, M. A cultura prossional do psicólogo e o ideário individualista:
implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia,
v. 5, n. 1, p. 95-121, 2000.
______. A reorientação da atenção em saúde mental: sobre a qualidade e humanização
da assistência.Psicologia, ciência e prossão,v. 24, n. 4, p. 112-117, 2004.
______. A prática dos psicólogos no Sistema Único de Saúde(SUS). In: CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha do I Forum Nacional de Psicologia e Saúde
Pública: contribuições técnicas e políticas para avançar o SUS, p. 08-16. Brasília, 2006.
DIMENSTEIN, M.; MACEDO, J. P. Formação em Psicologia:requisitos para atuação
na atenção primária e psicossocial.Psicologia, Ciência e Prossão, v. 32, n. spe., p. 232-
245, 2012.
FERREIRA NETO, J. L. Intervenção psicossocial em saúde e formação do psicólogo.
Psicologia e Sociedade, v. 20, n. 1, p. 62-69. 2008.
FIGUEIREDO, V. V.; RODRIGUES, M. M. P. Atuação do psicólogo nos CAPS do
Estado do Espírito Santo. Psicologia em Estudo, v. 9, n. 2, p. 173-181, 2004
FOUCAULT, M. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978.
MEZZINA, R. Paradigm Shift in Psychiatry: processes and Outcomes. In: RAMON,
S.; WILLIAMS, J. E. Mental Health at the Crossroads: the promise of the psychosocial
Approach. London: Ashgate, 2005. p. 81-93.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria GM/MS n. 3.088/2011. Preconiza o atendimento
a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso
de crack, álcool e outras drogas. Brasília, 2011.
MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
OLIVEIRA, T. T. S. S.; CALDANA, R. H. L. Psicologia e práticas psicossociais:
Narrativas e concepções de psicólogos de Centros de Atenção Psicossocial. Estudos
interdisciplinares em Psicologia, v. 7, n. 2, p. 02-21, 2016.
SADE, R. M. S. (Org.)
214
OLIVEIRA-PEREIRA, T. T. S.; BARROS, M. N. S.; AUGUSTO, M. C. N. O
cuidado em saúde: o paradigma biopsicossocial e a subjetividade em foco. Mental
(Barbacena), v. 9, n. 17, p. 523-536, 2011.
PEREIRA, F. M.; PEREIRA NETO, A. O psicólogo no Brasil: notas sobre seu processo
de prossionalização.Psicologia em estudo. v.8, n. 2, p. 19-27, 2003.
PESSOTTI, I. A loucura e as épocas. São Paulo: Editora 34, 1994.
ROTELLI, F. L´istituizione inventata. Almanacco Trieste 1971-2010. Merano: Alpha
Beta Verlag, 2015.
SPINK, M. J. Psicologia social e saúde: prática, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes,
2003.
YAMAMOTO, O. H. 50 anos de prossão:responsabilidade social ou projeto ético-
político?Psicologia, ciência e prossão, v. 32, n. espe., p. 6-17, 2012.
YASUI, S.; COSTAROSA, A. A estratégia atenção psicossocial: desao na prática dos
novos dispositivos de Saúde Mental. Saúde em Debate, v. 32, n. 78/79/80, p. 27-37, 2008.
YASUI, S.Rupturas e encontros: desaos da reforma psiquiátrica brasileira. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 2010.
referêncIas consultadas
FOUCAULT, M. O nascimento do hospital. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder.
Rio de Janeiro: Graal, 2000. p. 99-112.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Topics in Mental Health. Genebra, [s.d.].
Disponível em: <http://www.who.int/topics/mental_health/en/>. Acesso em: 3 jun.
2012.
______. Mental Health Policy and Service Guidance Package: human resources and
training in mental health. Genebra, 2005.
______. Collaborating centres: designation form. Genebra, 2010. Disponível em:
<http://www.deistituzionalizzazione-trieste.it/oms/Oms/OMS_designation_form.pdf >.
Acesso em 4 jul. 2013.
215
El Café Basaglia
1
Ana Ines Heller
Claudia López Mosteiro
Marilina Salvi Antonelli
A RAffAele DovenA
El propósito de quienes formamos parte del Café Basaglia
consistió en construir y poner en práctica un dispositivo nuevo, por fuera
de las instituciones psiquiátricas, bajo el modelo conceptual de la Empresa
Social y de la Salud Mental Comunitaria, diseñado especialmente para la
capacitación para la reinserción socio-laboral de personas usuarias de los
servicios de salud mental de la Ciudad de Buenos Aires; personas que por
su vulnerabilidad social tienen dicultades en su inserción laboral.
la prehIstorIa
La historia del Café Basaglia tiene su prehistoria, como la
mayoría de las cosas. No nos detendremos en ella, pues en verdad muchos
de los que formamos parte de esta parte de la historia, no participamos de
1
Este texto está basado en el trabajo que recibió el Premio otorgado al Café Basaglia en el concurso organizado
en 2013 por el Instituto Nacional contra la Discriminación, la Xenofobia y el Racismo (INADI) Ministerio
de Justicia y Derechos Humanos de la Nación, para su publicación en el Libro: “Prácticas Inclusivas en Salud
Mental y Adicciones con Enfoque de Derechos Humanos. En el marco de la Ley Nacional de Salud Mental y
la Convención sobre los Derechos de las Personas con Discapacidad. Mesa Federal de Salud Mental, Justicia y
Derechos Humanos”.
SADE, R. M. S. (Org.)
216
aquella otra. Sí podemos mencionar que hubo varios intentos de iniciar un
proyecto similar y que por diversos motivos se fueron diluyendo.
los mIsterIos de los InIcIos
¿Cómo y cuándo empezó todo?¿Habrá sido cuando estuvimos en
Trieste? Muchos de nosotros nos conocimos allí, en ocasión de una pasantía
en 2010-2011. Coincidimos en un espacio y un tiempo que signicó una
fuente de inspiración y motivación para regresar con otra perspectiva.
O tal vez cuando Federico Bejarano nos convocó en marzo de
2011, estando Raaele Dovenna en Buenos Aires, para empezar a pensar
en armar este proyecto.
Queremos a veces fechar los inicios, como en las historias de amor.
Sin amor no se pueden sostener estos proyectos. Amor entre las personas
que los impulsan, amor a las ideas que los unen, deseos de aprender algo
juntos. Y como en todo amor, está el esfuerzo por tolerar las diferencias,
las tensiones, los obstáculos. En los inicios de muchas formas asociativas
que se van institucionalizando, sucede que estos obstáculos suelen motivar,
impulsar el movimiento.
¿con qué contábamos? un contexto hIstórIco favorable
En el marco de la promulgación de la Ley Nacional de Salud
Mental 26.657
2
y de la Ley de Salud Mental n. 448
3
ya vigente en la Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, la comunidad es convocada a promover y ser
Ley Nacional de Salud Mental n. 26.657. Artículo 9: El proceso de atención debe realizarse preferentemente
fuera del ámbito de internación hospitalario y en el marco de un abordaje interdisciplinario e intersectorial ba-
sado en los principios de la atención primaria de la salud. Se orientará al reforzamiento, restitución y promoción
de los lazos sociales. Articulo 11: La Autoridad de Aplicación debe promover que las autoridades de salud de
cada jurisdicción, en coordinación con las áreas de educación, desarrollo social, trabajo y otras que correspon-
dan, implementen acciones de inclusión social, laboral y de atención en salud mental comunitaria. Se debe
promover el desarrollo de dispositivos tales como: consultas ambulatorias; servicios de inclusión social y laboral
para personas después del alta institucional; atención domiciliaria supervisada y apoyo a las personas y grupos
familiares y comunitarios; servicios para la promoción y prevención en salud mental, así como otras prestaciones
tales como casas de convivencia, hospitales de día, cooperativas de trabajo, centros de capacitación socio-laboral,
emprendimientos sociales, hogares y familias sustitutas.
Ley de Salud Mental n. 448, CABA. Artículo 14: [Efectores] A los efectos de la conformación de la Red, se
deben respetar las acciones y servicios, establecidos en los artículos precedentes, determinándose una reforma de
los efectores actuales, e incorporando los recursos necesarios para la implementación de las nuevas modalidades.
217
Boas práticas
partícipe de un cambio de paradigma que subvierta el asistencialismo por
una atención denida desde un modelo comunitario con la perspectiva de
derechos de las personas con padecimiento mental.
En este sentido, el proyecto de inserción para la capacitación
laboral que propone el Café Basaglia se presenta dentro de este marco
legislativo como un punto de partida y un medio creativo para promover el
ejercicio efectivo de los derechos de las personas con padecimiento mental,
partiendo de sus capacidades para aprender y desarrollar diferentes tareas.
¿con qué recursos? fuentes de fInancIacIón
Al inicio contamos con fondos de la Cooperación Internacional
a través del Asociazione Recreativa e Culturale Italiana (ARCI) de la
Ciudad de Trieste, Italia; la Asociación Ecco (en Camino con Otro por
la Integración Sociolaboral) como contraparte nacional en el proyecto
ISOLE (Integración Socioeconómica y Lucha contra la Exclusión Social en
áreas prioritarias de la Argentina), a partir de una gestión asociada entre el
Estado y el Tercer Sector conanciado con la Cooperación Italiana a través
de la Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popolo (ONG CISP); se
gestionaron becas del Programa Promover la Igualdad de Oportunidades
de Empleo -línea de actividades asociativas de Interés Comunitario- del
Ministerio de Trabajo de la Nación.
¿con quIénes?
El equipo de trabajo responsable de la ejecución del proyecto
contempló al inicio la función de técnico gastronómico y operador en
salud mental, con roles jos y funciones especícas.
El resto de las funciones con el correr del tiempo se fueron
delineando en áreas: difusión y promoción, gestión de recursos,
comercialización, articulación con efectores públicos de salud para la
incorporación de nuevos usuarios y su seguimiento con los equipos
tratantes, docencia, articulación con universidades y espacios de educación
no formal, articulación con otros emprendimientos sociales.
Para ello se establecen (entre otros) los siguientes efectores: Centros de capacitación sociolaboral promocionales;
Talleres.
SADE, R. M. S. (Org.)
218
Estas áreas fueron llevadas a cabo por los distintos miembros del
equipo en función de las necesidades del proyecto, las aptitudes y el deseo
de cada integrante. El obstáculo fue que muchas veces costó organizarnos,
y se producía una dispersión de energías, que nos provocaban cierto
malestar interno.
personas a quIénes estaba dIrIgIda la experIencIa
Los destinatarios de esta práctica han sido personas mayores de
dieciocho años usuarias del sistema público de salud mental, y que por su
condición se encontraran en situación de vulnerabilidad socio-laboral y
desventajas relacionales.
Al inicio del proyecto formaron parte de la capacitación en tareas
a puertas cerradas diez usuarios. Con el transcurso de dicha etapa formativa
se fue conformando el grupo más estable de trabajo, que llegó a contar
con seis usuarios que desempeñaban tareas especícas (mozo, bachero,
cocinero, adicionista, etc).
Luego de la conformación del equipo original, realizamos
entrevistas periódicas para la incorporación de nuevos usuarios en vistas
a un progresivo crecimiento del proyecto. En nuestro segundo año
hicimos algunos ajustes; fuimos aprendiendo que esta incorporación
debía ser paulatina, acordando un mes de prueba, a n de poder evaluar
conjuntamente la integración al proyecto. También diseñamos otro modo
de participar, que es la gura de tallerista (concurrencia de dos días por
semana) para aquellos que por diversas razones no podían asumir la
responsabilidad de una asistencia diaria.
artIculacIón con la red de emprendImIentos socIales del gobIerno de
la cIudad autónoma de buenos aIres (gcaba) y con unIversIdades
Remeras con el logo del Café Basaglia se encargaron al
emprendimiento social Viva Estampa; panes, pizzas y dulces, a los
emprendimientos Delicias, y Hierbas y Especies; ensaladas al emprendimiento
de la Red FUV (Familiares, usuarios y voluntarios por los derechos de
las personas con padecimiento mental); los individuales, porta azúcar
219
Boas práticas
y servilleteros que se presentan en las mesas, a Artesanías Urbanas;
La Huellahizo la pizarra y realizó la reparación de sillas y mesas. El
emprendimiento Ciclopapel ofrecía sus productos los días que se realizaban
los eventos culturales.
Se han acercado universidades (Universidad de Buenos Aires,
Universidad Maimónides) para ofrecer pasantías de alumnos; recibimos
alumnos de diversas cátedras para realizar trabajos de formación dentro
de la cursada (Carrera de Comunicación Social; Facultad de Psicología
(Cátedra de Psicología Institucional, Psicología Preventiva).
Estas pasantías de alumnos y de profesionales que inician
su formación fue también una estrategia de sensibilización hacia la
transformación que estábamos proponiendo.
estrategIa de desmanIcomIalIzacIón
Café Basaglia nace como una iniciativa autónoma en un espacio
dentro de la comunidad, no dentro de un hospital y se propone como un
lugar de invención de salud y cultura; lugar de socialización, de expresión
físico-artístico-cultural, de actividad y trabajo conjunto. Con el deseo de
ser un dispositivo que produzca nuevas tramas de relaciones.
economía socIal y solIdarIa
La nalidad de la empresa social, no es el lucro; pero como arma
Franco Rotelli, es necesario asumir la noción positiva del mercado como
lugar de intercambio que permite nuevas subjetividades. De este modo
invertimos sobre los recursos humanos, alejándonos de un concepto de
beneciarios pasivos y de la nalidad lucrativa de una empresa.
La empresa social implica crear condiciones que faciliten a la
persona obrar con impulsos propios, lo cual supone asumir la “dignidad
del riesgo”. Esta expresión está vinculada por un lado al derecho de todas
las personas de transitar el mundo con todas sus posibilidades y peligros, y
por otro, al riesgo que se asume en el desafío de construir conjuntamente
un proyecto que implica otro modo de pensar la salud y el trabajo.
SADE, R. M. S. (Org.)
220
Como antecedente y orientador de nuestra práctica en el
ámbito internacional, tomamos el aporte de la trayectoria italiana
ligada a la empresa social; mientras que en el ámbito nacional ha
sido una referencia la Empresa Social de Salud Mental de El Bolsón,
emprendimiento gastronómico iniciado en el año 2001 y que continúa
funcionando articulado desde sus inicios con el sistema público de la
Provincia de Río Negro.
Entendemos que la articulación con el sector público es un factor
fundamental para potenciar este tipo de empresas, sin dejar de lado el
empeño en lograr la calidad en los servicios y productos ofrecidos, que
garanticen estar a la altura de las competencias del mercado.
contexto en el que se desarrolla la experIencIa
En marzo de 2011, avalados por una coyuntura favorable para
promover este tipo de emprendimientos a partir de la promulgación de la
Ley Nacional de Salud Mental n. 26.657, un grupo de personas decidimos
dar inicio al “Café Basaglia” – retomando y concretando un proyecto que
venía siendo soñado desde hacía tiempo.
Lo instituido hasta el momento suponía que el mejor lugar
donde puede estar la persona con problemáticas mentales es en una
institución especializada, depositando de este modo el saber en los
técnicos, en los profesionales.
La reforma epistemológica que propone el contexto actual implica
pensar en la integración de recursos no convencionales en los equipos de
salud mental, en la socialización del conocimiento y el empoderamiento
de diferentes actores, a n de que la comunidad misma supere su tendencia
excluyente (como manifestación del estigma, el miedo y la vergüenza), y
que pueda constituirse en un agente de inclusión.
Los dispositivos laborales creados y gestionados desde la
comunidad, promueven no sólo la inclusión laboral sino también la
circulación de las personas con padecimientos mentales, favoreciendo
su inclusión social y derribando mitos vinculados a la peligrosidad,
incapacidad, cronicidad e irreversibilidad de las problemáticas mentales.
221
Boas práticas
La empresa social produce valores y bienes materiales, y su ámbito
de intervención es prevalentemente el territorio.
nuestros objetIvos
Construir y poner en práctica un dispositivo, por fuera de las
instituciones psiquiátricas, bajo el modelo conceptual de la Empresa Social
y de la Salud Mental Comunitaria, diseñado especialmente para personas
que por su vulnerabilidad social tienen dicultades en su inserción laboral.
Constituir un colectivo que a través de mecanismos de autogestión
y en articulación con otros efectores de salud comunitaria del sistema
público, gestionen acciones de inclusión fundamentadas en las leyes de
salud mental vigentes.
Promover y facilitar la capacitación para la inserción laboral de
personas con vulnerabilidad socio-laboral y desventajas relacionales.
Crear un espacio de trabajo y de integración social que posibilite
la capacitación en tareas gastronómicas, de atención al público y de
administración dentro del café.
Ofrecer un servicio de calidad, con criterios de competitividad en
el mercado y de rentabilidad para todos los emprendedores que lo integran,
sustentado en el modelo conceptual de Empresa Social.
Articular con otras empresas sociales que produzcan insumos
relacionados al café –ofreciéndolos como productos que pueden ser
comercializados en el espacio del Café- a n de promover el fortalecimiento
de las redes de la economía social y solidaria.
Lograr una progresiva visibilidad y sustentabilidad del proyecto
Producir eventos culturales, que puedan ser la ocasión de
encuentro e intercambio entre espacios anes.
descrIpcIón de la experIencIa: ¿cómo lo hIcImos? donde?
La puesta en marcha del Café Basaglia se realizó por medio de la
articulación con el centro cultural “La Casona Cultural de Humahuaca
SADE, R. M. S. (Org.)
222
que desde hacía más de diez años se encontraba trabajando con la
comunidad en el barrio del Abasto, formando parte de una red más amplia
de emprendimientos culturales con alta visibilidad en el barrio.
La Casona ofreció al Café Basaglia la posibilidad de utilizar su
infraestructura para dar inicio al proyecto; de esta manera el Café comenzó
a funcionar de lunes a viernes de 9 a 15 hs, franja horaria en que la Casona
se encontraba cerrada. Y esto es una de las premisas de la empresa social:
poder aprovechar recursos que están ociosos, no utilizados por otros.
¿y por qué un café?
Porque el café representa un espacio cotidiano de encuentro, de
trabajo y de intercambio con otros, que ya forma parte de la idiosincrasia
cultural de nuestra ciudad.
cómo encontramos a las personas que Iban a desempeñarse en el café?
Las entrevistas para la inclusión en el dispositivo fueron enfocadas
hacia el deseo de formar parte de un proyecto de trabajo en grupo,
apuntando a sus desempeños anteriores, a sus capacidades y a sus anhelos
personales; intentamos despegarnos de la historia de la enfermedad o de
la constitución de un diagnóstico. Podríamos decir que se asemejaban
más a una entrevista de trabajo que a una entrevista psicológica, aunque
reunieran un poco de ambas.
¿q decían?
- “Yo ya trabajé dentro del Moyano (Hospital neuropsiquiátrico de mujeres
de la Ciudad de Buenos Aires), ahora quiero trabajar afuera”.
- “Quiero conocer gente nueva”.
- “Yo ya tengo la pensión, tal vez los otros muchachos lo necesiten más que yo”.
- “Quiero aprender, capacitarme”.
223
Boas práticas
Palabras que hablan del afuera, de relaciones nuevas, de dinero
con el que contar para ser más independientes, dela necesidad de aprender
como reconocimiento de que faltan herramientas para la autonomía.
capacItacIón
Se propuso un programa de capacitación en tareas de todos
los roles necesarios para el funcionamiento de un café (mozo, cocinero,
adicionista, bachero, etc.). Dicho programa fue coordinado por un técnico
gastronómico y un operador en salud mental junto a diez muchachos. Este
programa se realizó a puertas cerradas de septiembre a noviembre de 2011,
momento en que el Café abrió sus puertas al público.
Los muchachos se fueron perlando en lo que eran sus fortalezas
y debilidades. A algunos les resultaba más accesible desarrollar tareas
prácticas, manejándose en el espacio de la barra y de las mesas, presentando
más dicultades en la dimensión relacional con el otro, cliente o compañero
de trabajo; otros mostraron más debilidades en el trabajo operativo, pero
se manejaron con mayor facilidad en las relaciones personales, en el trato
con los clientes. De todos modos, todos han expresado sus opiniones y
propuesto ideas y alternativas de trabajo para el café.
organIzacIón/funcIonamIento
Así se fueron distribuyendo durante los cinco días de la semana,
y a su vez la organización posibilitó que cada uno tuviera un día libre,
considerando sus necesidades particulares.
Cada jornada contemplaba actividades que se centraron en el
servicio que se ofrecía: funcionamiento práctico del café (abastecimiento
de productos, limpieza, organización del espacio y el tiempo) y la atención
a los clientes. Las tareas realizadas se dividían en aquellas más orientadas
al trato con los clientes (saludar, recibir, indicar la mesa, proponer
promociones, aconsejar productos, tomar pedidos), y las operativas (armar
y desarmar las mesas, llevar platos, reponerlos, servir las mesas, preparar los
productos de cafetería y los platos de almuerzo del día).
SADE, R. M. S. (Org.)
224
Implementamos un dispositivo grupal de asamblea semanal, para
los muchachos y parte del grupo de promotores (responsables de la ejecución
del proyecto), en el cual se trataban los temas relativos al funcionamiento
del café y del grupo de trabajo: se compartían experiencias y se discutían
los eventuales problemas organizativos y relacionales, las propuestas y
soluciones con una óptica horizontal y compartida del proyecto.
El objetivo era facilitar la circulación de la palabra, la expresión
de los problemas cotidianos que el grupo enfrentaba y los modos de
resolverlos, favoreciendo la adquisición de herramientas prácticas, sociales e
interpersonales para promover una mayor autonomía tanto personal como
grupal. Fuimos observando que este espacio promovía para todos nosotros
la progresiva adquisición de responsabilidad, pertenencia e implicación
dentro del proyecto.
A su vez, se realizaban semanalmente reuniones de promotores,
en las que nos ocupábamos de favorecer el mejor funcionamiento del café,
buscando nanciamiento, tratando de solucionar los problemas prácticos
y legales que iba surgiendo, difundiendo el proyecto en diversas redes, y
siguiendo el recorrido de cada uno de los muchachos – en comunicación
con sus equipos tratantes, en caso de ser necesario.
Asimismo, realizamos un seminario interno de capacitación en
Empresa Social dirigido a usuarios y promotores, a n de profundizar
nuestra formación en dicha temática. Organizamos espacios de encuentro
mensuales, en los que se han dado obras de teatro, títeres, funciones de
cine, exposiciones de artistas, cuenta cuentos, ferias de exposición y venta
de productos de diversos emprendedores, con una buena aunque variable
repercusión de público (la franja horaria del mediodía era una importante
limitación para la convocatoria).
aspectos que facIlItaron la ejecucIón de la experIencIa
- Articulación con la Casona Cultural de Humahuaca.
- Disponibilidad de nanciamiento que posibilitó el inicio del desarrollo
de la actividad.
- Becas Promover.
225
Boas práticas
- Haber contado con dos cargos rentados (técnica gastronómica y
operadora en salud mental) para las tareas de capacitación.
- El trabajo voluntario del grupo de promotores/emprendedores.
- Diseño de una primera etapa de capacitación de los usuarios, previa
a la apertura del Café, que posibilitó el aanzamiento del grupo, del
espacio de trabajo y la incorporación paulatina de pautas y objetivos;
continuidad en el acompañamiento.
- Capacidad de articulación con otros emprendimientos y asociaciones,
tanto del ámbito privado como del público y del tercer sector.
- Ejercicio de la tolerancia a la incertidumbre, a la convivencia con las
tensiones que iban surgiendo, a las responsabilidades con múltiples y
diversos requerimientos de gestión.
aspectos que obstaculIzaron la ejecucIón de la experIencIa
- El trabajo voluntario, si bien fue un facilitador al inicio del proyecto,
por momentos conguró también un obstáculo para el sostenimiento
de la práctica a largo plazo.
- El grupo de promotores estaba conformado en su mayoría por
profesionales de la salud mental, careciendo de formación y experiencia
en empresas sociales y gestión de negocios.
- Franja horaria en la que se disponía del lugar, de lunes a viernes de 9
a15 hs.
- Dicultad de incorporar el rol de administrador/contador.
- Tensión entre la autogestión y la heterogestión.
- La multiplicidad de acciones y funciones que se distribuían entre
pocos emprendedores, lo cual muchas veces implicó una carga difícil
de gestionar.
- Asociación Civil: iniciamos el trámite a poco de iniciar el proyecto y
cuando salió el trámite, ya estábamos considerando la continuidad o
no del proyecto..
SADE, R. M. S. (Org.)
226
evaluacIón de resultados
- Formación del grupo de promotores, en un seminario interno sobre
Empresas Sociales, dado que este dispositivo requiere que los que lo
conformamos nos capacitemos en esta temática especíca.
- Integración de los usuarios en el proyecto y conformación de un
grupo de trabajo, lo que posibilitó el aprendizaje de las tareas especicas
dentro del Café, potenciando las capacidades previas de cada uno.
- Conformación del equipo de trabajo de promotores autónomo y
autogestivo, comprometidos con la ejecución de un dispositivo de
inserción laboral en la comunidad.
- Progresivo desarrollo de autonomía e implicación en la toma de
decisiones del grupo de promotores y usuarios.
- Muy buena experiencia de construcción de la convivencia con La
Casona y las personas que allí trabajan (los “casoneros”).
- Articulación con diferentes emprendimientos sociales públicos,
privados y del tercer sector.
- Algunas de las situaciones más críticas que tuvieron lugar (la muerte
de uno de los usuarios, las crisis de varios, un episodio de crisis por
hipoglucemia, por citar algunas) contaron con la presencia de los
casoneros que signicaron un apoyo para todos los que allí estaban,
en sus propias palabras. A su vez para los casoneros signicó la
posibilidad de enfrentar situaciones para las que no sabían que estaban
instrumentados.
a modo de conclusIón
Iniciar esta experiencia ha implicado saber que existían otras
tantas, locales e internacionales, en las que nos podíamos referenciar.
Pero esto no eliminaba ni el vértigo ni su contrapartida de entusiasmo
propio de esta manera de emprender, con un elevado grado de autonomía
y autogestión.
El Café Basaglia, ha producido y sigue produciendo un conjunto de
relaciones sociales, de recursos y sinergias antes inexistentes o solo potenciales;
227
Boas práticas
no sin atravesar numerosos desafíos organizativos, barreras sociales, culturales
y disciplinarias que tuvimos que reconocer para intentar superar.
De hecho, una de las dicultades con las que nos encontramos, era
cómo darle forma -formalizar, organizar-, a algo que a veces se nos escapaba.
Se nos han presentado dos grandes desafíos, la visibilización del
Café Basaglia como Empresa Social y su sustentabilidad.
Se han acercado diversos grupos de trabajo, voluntarios, equipos
de acompañantes terapéuticos, organizaciones de la economía social,
universidades, cátedras, grupos que festejan un cumpleaños o despiden el
año en este espacio; sintiéndose de alguna manera parte de este proyecto
a la vez que clientes, soporte económico de un consumo responsable e
inteligente, produciendo inclusión social y salud.
Se generaba así una trama de diversos actores sociales,
multiplicándose el protagonismo de los socios, promotores y vecinos.
Nuestro gran desafío ha sido animarnos a sostener estas
tensiones, lo que abre y lo que cierra, lo que vitaliza o lo que detiene,
llenando nuestras mesas de personas que junto al almuerzo o al café
tomen” también noción del valor social de esta otra economía, a la vez
que de su propia condición ciudadana.
Al inicio del recorrido, nos hemos encontrado muchas veces
sorprendidos por la potencia de lo que este modelo propicia, lo cual
contribuía a atenuar el temor a la “irracionalidad” de toda experiencia
innovadora. La solidaridad local e internacional nos iba alentando,
dando avisos del apoyo generado para la sustentabilidad del Café en
el tiempo; lo cual disminuía el riesgo de quedar como una experiencia
fragmentada e inconclusa.
la decIsIón de cerrar: no todo lo que termIna, termIna mal
Estamos convencidos que lo que sucedía muchas veces al estar
juntos era algo del orden de las pasiones alegres, como algo que vitaliza,
que abre, que proyecta, que entusiasma, que contagia; lo encontramos en
las ganas que se generaban cada vez que otros proyectos se acoplaban, se
SADE, R. M. S. (Org.)
228
interesaban en hacer algo juntos, por un tiempo, compartir algo de este
recorrido incierto.
Y también como todo proyecto en permanente construcción,
aparecía a veces el peligro de las pasiones tristes como algo que cierra, que
detiene, que amenaza, que resta fuerzas.
Al cumplir los dos años, debíamos renovar las Becas Promover,
no teníamos más fondos, se acercaba el verano con el seguro declive en las
ventas. Varios de los promotores por diversos motivos se habían distanciado
del proyecto. Percibíamos algo así como dos cafés funcionando, el del grupo
de promotores, que iba diluyéndose, y el que trabajaba dentro del café,
que seguía con la misma energía. Y las tensiones que antes nos parecían
livianas, se fueron haciendo más difíciles de cargar. Decidimos cerrar.
Era nuestra última asamblea. Habíamos decidido que el CB, al
menos en la forma en que lo conocíamos, llegaba a su n. Decíamos n
de ciclo, para no decir n, o cierre. Y aún no se había anunciado que dos
de las que formaban parte de este proyecto, habían decidido continuarlo,
bajo otra forma.
Estábamos los que estábamos. Ni uno más, ni uno menos. No
todos. Los que pudimos estar. Los que quedamos. Éramos ocho.
Como siempre, comenzamos proponiendo los temas del día.
Alguien propone un: ¿Cómo sigue? que luego se despliega en: cómo sigo,
cómo seguimos, como sigue el Café. Otro dice: estuve pensando en cómo
podríamos hacer para seguir los viernes, ya que tenemos los clientes de siempre,
en otro lado, tal vez. Y otro: yo pensé que un trabajo normal no puedo hacer,
quisiera seguir acá.
Seguir, seguir; insiste el seguir.
Despreocupados, sin atisbo de dramatismo o tristeza, por el
contrario, con alegría, empezamos a contarnos lo que fue el CB para
nosotros. Para todos y cada uno. Cada uno dijo algo de este recorrido.
J: “aprendí cosas que no sabía”.
A: “puedo tener más conanza en mí; pude ver cómo se armó y aceitó el grupo,
desde que empecé, hace un año; y por eso duele que se pierda”.
229
Boas práticas
C: “esto signicó abrirse, expandirse”.
P: “me gustó hacer de mozo, fue más fácil de lo que pensaba al principio.
No quiero usar el certicado de discapacidad. Quise comprar dólares, y no
pude porque salta eso. Me siento una persona normal, no un discapacitado.
Siento que trabajo en un café, no en un lugar donde hay un grupo que está
ayudando”.
Alguien le acota que pese a esa sensación, cuando presenta el Café
a las personas que se acercan, trasmite todo eso.
En cuanto a los proyectos, dicen:
C: “no pensé nada”.
J: “en marzo egreso de Gorriti (la residencia protegida en la que vive),
tengo que buscar un trabajo y hacer algo para no estar encerrado. Tal vez
estudiar computación”.
P: “quiero estudiar música y terminar el secundario. Ya invertí plata, me
compré equipos de música, y estuve tocando la guitarra en bares, pasando
la gorra, y gané plata”.
A: “quiero hacer un emprendimiento gastronómico, es mi sueño, y si lo
logro los llamo a todos ellos, sin dudarlo”.
Y siguió:
Con otro nombre, Franca Matina. En esa última asamblea que
relatamos, dos de las operadoras cuentan acerca de su nuevo proyecto, un
Bar Cultural, que se llamará Franca Matina y abrirá sus puertas un par de
días por semana y con actividades concretas. Quieren hacerlo sin prisa,
pero sin pausa, dicen.
Invitan a los muchachos a participar, proponemos que no es
necesario que contesten ese día; hay uno que sí acepta sin dudarlo; los
demás, lo van a pensar.
Me vuelve a sorprender cómo cuando hablamos del proyecto, o
de lo realizado, por momentos se centran en sus logros o en sus dicultades
SADE, R. M. S. (Org.)
230
de siempre (C. sus dicultades para llegar temprano, J. su satisfacción por
el lugar habitual que ocupa, el de bachero, P. que no le gusta hablar de
sus virtudes); y en otros, cómo se descentran para percibirse desde otra
perspectiva, seguramente ganada en el estar juntos, en su relación con el
compañero y con el conjunto.
En los meses siguientes hemos seguido teniendo contacto con
Franca Matina. Durante este tiempo ninguno ha cobrado ningún subsidio,
y si bien se está gestionando esa posibilidad, abriendo dos días por semana
al público, lo que entra se reparte entre todos. Se sigue percibiendo el
mismo clima acogedor como el que se respiraba en Café Basaglia. Pero en
sus dichos, todos los integrantes muestran ahora un nivel de participación
distinta, más implicada, responsable, relajada; se los ve más instalados en el
lugar, haciéndolo cada día más propio.
En esa asamblea aparece la idea – parafraseando y contradiciendo
la canción de Calamaro – de que no todo lo que termina, termina mal;
alguien acota, siguiendo con la letra, que si no termina, se contamina mal.
Luego me surge la imagen de lo que se suele decir al jugar a la
ruleta: hay que retirarse a tiempo, cuando aún se está ganando. Eso estamos
haciendo, acuerdan varios.
También se me aparece la imagen de que si alguien nos mirara de
afuera, se preguntaría: ¿por qué están cerrando, si está todo tan bien? ¿No
están equivocados? Están locos! dice uno que dirían.
una hIstorIa más
Sucedió en el Primer Encuentro Nacional de Empresas Sociales,
realizado en octubre de 2011 en Puerto Madryn, Argentina. En ese
momento estábamos armando el Café Basaglia, al mes siguiente abríamos
las puertas. Era nuestra primera presentación en público, pero más que
nada la oportunidad de participar de un encuentro de alrededor de cien
emprendedores de a lo largo de todo país.
Uno de los muchachos que se incluirían en el Café participaba
en ese momento de otro emprendimiento en el Hospital Borda, y fue
uno de los que tomaron el micrófono y contó su experiencia. Era la
231
Boas práticas
primera vez que hablaba en público y por micrófono, dijo luego entre
contento y asombrado. También había contado que era la primera vez
que veía el mar, y que viajaba tan lejos – fueron veinte horas de viaje en
micro. Esa noche se sintió mal, tuvo una crisis, y fue acompañado todo
el tiempo por los operadores que viajaban con él; a la mañana siguiente
ya estaba bien.
Recordé varias veces ese episodio en los años siguientes, cuando
íbamos a presentar nuestro Café en distintos lugares; el mismo muchacho
pudo tomar el micrófono y hablar en el Congreso Argentino de Salud
Mental, muy suelto y seguro de sí mismo; y hablar no sólo de él sino
también de los compañeros. Y esa noche no tuvo ninguna crisis.
otros datos de nuestra hIstorIa
publIcacIones y aparIcIones en medIos:
CAFÉ BASAGLIA. En: Prácticas Inclusivas en Salud Mental y Adicciones con enfoque
de Derechos Humanos. Mesa Federal de Salud Mental, Justicia y Derechos Humanos.
Publicado por el Instituto Nacional contra la Discriminación, la Xenofobia y el Racismo
(INADI). Buenos Aires, 2014. Disponible en: <http://inadi.gob.ar/promocion-y-
desarrollo/publicaciones/practicas-inclusivas-en-salud-mental-y-adicciones-con-enfoque-
en-derechos-humanos/>.
CAFÉ BASAGLIA. Nuevas formas emprendedoras en Salud Mental. Federico Bejarano
y Claudia López Mosteiro. Revista Campo Grupal. n. 145, Buenos Aires, Junio, 2012.
REVISTA EL ABASTO, Buenos Aires, Abr. 2012.
DIARIO CRÓNICA. Ciudad de Bs. As. 21 jul. 2012.
REVISTA CULTRA. Reportaje. Año 1, n. 9. Ago. 2012.
TV CANAL DE LAS MADRESCN23. Entrevista La Clementina. Argentina.
Diversos programas radiales.
DEPARTAMENTO DE SALUD MENTAL DE TRIESTE, Italia. Disponible en:
<http://www.deistituzionalizzazione-trieste.it/informazioni/index.php#top775>.
SADE, R. M. S. (Org.)
232
premIo:
PREMIO OTORGADO AL CAFÉ BASAGLIA EN EL CONCURSO
ORGANIZADO EN 2013 POR EL INSTITUTO NACIONAL CONTRA LA
DISCRIMINACIÓN, LA XENOFOBIA Y EL RACISMO (INADI) Ministerio de
Justicia y Derechos Humanos de la Nación, publicación en el Libro: Prácticas Inclusivas
en Salud Mental y Adicciones con Enfoque de Derechos Humanos. En el marco de la Ley
Nacional de Salud Mental y la Convención sobre los Derechos de las Personas con
Discapacidad. Mesa Federal de Salud Mental, Justicia y Derechos Humanos.
presentacIones en hospItales
HOSPITAL ALVAREZ, Buenos Aires. Ateneo en el Hospital de Día, turno mañana del.
Abr. 2012.
Ateneo de la Residencia de Salud Mental. Jun. 2012.
HOSPITAL PAROISSIEN, La Matanza, Provincia de Buenos Aires. Residencia de
Salud Mental, ago. 2012.
presentacIones en unIversIdades
FACULTAD DE PSICOLOGÍA, Universidad de Buenos Aires. Cátedra de Psicología
Preventiva. En el contexto del proyecto de investigación “Epidemiología territorial
y participativa y derecho a la salud. Exigibilidad y justiciabilidad en la zona sur de la
Ciudad Autónoma de Buenos Aires”. Participación de instituciones barriales. Jun. 2012.
CHARLADEBATE: Crisis y Alternativas en Salud Mental. Abr. 2012.
presentacIones en jornadas:
CONGRESO “PORTAS ABERTAS: DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO AO
TERRITÓRIO”. Políticas e Ações de boas práticas em Saúde Mental, La Universidade
Estadual Paulista (UNESP) (Org.). Campus de Marília. Marília, SP, Brasil, sep. 2014.
Campinas, Brasil.
VIII CONGRESO ARGENTINO DE SALUD MENTAL, AASM (Asociación
Argentina de Salud Mental) (Org.), 2013.
2. ENCUENTRO NACIONAL DE EMPRESAS SOCIALES DE SALUD
MENTAL. Gaiman, Chubut, Argentina. Sep. 2012.
UNIVERSIDAD NACIONAL DE LANÚS. Jornadas de Salud Mental Comunitaria.
233
Boas práticas
Panel central: “El abordaje de los trastornos mentales severos y la atención primaria de la
salud”. Ago. 2012.
UNIVERSIDAD NACIONAL DE QUILMES. Jornada de Economía social.
Mayo, 2012.
VII CONGRESO ARGENTINO DE SALUD MENTAL. AASM (Org.). Mesa
redonda El estigma en las prácticas en salud: de la reproducción a la transformación.
Mayo, 2012.
II JORNADAS POLÍTICAS PÚBLICAS EN SALUD MENTAL.UNIVERSIDAD
DEL SALVADOR, Facultad de Psicología y Psicopedagogía. Mayo, 2012.
1. ENCUENTRO NACIONAL DE EMPRESAS SOCIALES DE SALUD
MENTAL. Puerto Madryn. Chubut, Argentina. Sep. 2011.
235
Uso de substâncias psicoativas entre
universitários
Meire Luci da Silva
Introdução
O uso e abuso de substâncias psicoativas vêm crescendo de forma
signicativa, sendo considerado um fenômeno complexo e dinâmico que
atinge a população de todos os países, incluindo o Brasil.
Atualmente, o uso abusivo e descontrolado de substâncias psi-
coativas caracteriza-se como uma doença crônica e social, constituindo-
-se como grave problema não só de ordem médica, mas também de saúde
púbica, justiça, social e política. Este uso descontrolado e abusivo acar-
reta ao indivíduo, usuário de substâncias psicoativas, prejuízos físicos,
psíquicos, emocionais, comportamentais, sociais, jurídicos e nanceiros,
afetando não somente o usuário, mas também sua família e a sociedade,
como um todo.
A dependência química é considerada um fenômeno de transição
epidemiológica, no qual a maioria das mortes costumava ser por doenças
infectocontagiosas e passou a ser por doenças ligadas ao estilo de vida. Se-
gundo relatório de uso de drogas publicado de World Drug Report (2013) os
acidentes de trânsito representam a segunda causa mais comum de morte de
SADE, R. M. S. (Org.)
236
pessoas entre 5 a 29 anos de idade. No Brasil, um estudo com 3.398 moto-
ristas teve resultado positivo para o uso de alguma substância ilícita 4,6% do
total da amostra, sendo a principal substância ilícita, a cocaína, seguida da
maconha, anfetamina e benzodiazepínicos. (WDR, 2013).
adolescêncIa e uso de substâncIas psIcoatIvas
O início do uso de substâncias psicoativas geralmente se dá em
fases de vulnerabilidade, sendo crescente o número de jovens que fazem o
uso descontrolado destas substâncias.
O VI Levantamento Nacional sobre o consumo de drogas psico-
trópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio das redes pública
e privada de ensino nas 27 capitais brasileiras, desenvolvido de Centro Bra-
sileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) em parceria
com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) em 2010,
em pesquisa com estudantes entre 10 a 19 anos de idade, apontou que
25,5% dos estudantes já fez uso de substâncias psicoativas ilícitas na vida.
Dentre estes, 10,6% dos estudantes referiram uso no ultimo ano e 5,5%
no último mês. Quanto ao uso de substâncias psicoativas lícitas, como
álcool e tabaco, 42,4% referiram uso de bebida alcóolica no ano e 9,6%
referiram uso de tabaco. Dentre as substâncias ilícitas mais consumidas,
no ano, estão por ordem de consumo, os inalantes, seguidos de maconha,
ansiolíticos, cocaína e anfetaminas.
O uso de substâncias psicoativas pelos estudantes tem aumenta-
do signicativamente e diminuindo a expectativa de vida destes. Portanto
investigar sobre fatores de risco ao uso de substâncias psicoativas lícitas e
ilícitas e ações preventivas no combate e redução do uso de substâncias
psicoativas por jovens universitários é de grande relevância, uma vez que
estes exercerão papel fundamental na sociedade. Para tanto, deve-se estar
atento ao início precoce do uso, o qual está diretamente associado a preju-
ízos negativos para a saúde deste individuo no futuro.
A adolescência é uma fase de alteração biológica e instabilida-
de psicossocial em que os jovens estão mais vulneráveis, é um período
em que mudanças estão ocorrendo em seu corpo, em sua mente e em
relacionamentos pessoais. Atrelado a estas mudanças vem a vontade de
237
Boas práticas
tornar-se independente da família, juntamente com situações de pressão,
medo, insegurança e também a responsabilidade da escolha de um futuro
prossional. Neste período, estes jovens cam propensos à experimentação
e exploração de uma série de comportamentos de risco, como a inges-
tão de álcool, tabaco e outras substâncias. É durante esta fase que ocorre
o aumento da disponibilidade e acessibilidade de substâncias psicoativas,
principalmente quando os jovens estão passando pelo ensino médio ou
superior, em que muitas vezes são incentivados à experimentação de álcool
e outras substâncias.
Acredita-se que as atividades e políticas de prevenção junto a esta
população são primordiais, podendo ser mais ecazes, uma vez que estes
adolescentes podem ainda se encontrar no início do uso, com poucos pre-
juízos instalados e não caracterizados com a síndrome de dependência.
uso de substâncIas psIcoatIvas por jovens unIversItárIos
Nos dias de hoje é comum o uso de substâncias psicoativas por
estudantes universitários, pois ao ingressarem na universidade descobrem
um mundo novo, no qual muitas vezes encontram diculdades, pelo peso
da responsabilidade de escolher e aprender uma carreira prossional, pela
mudança de cidade e a distância da família, por questões nanceiras, em
que alguns casos a pessoa tem que arcar com os gastos dos seus estudos e
trabalhar, ou pelo fato de estar ingressando em um grupo no qual a droga
é um meio para socialização. Esta fase é então marcada por uma instabili-
dade emocional, permeada por sentimentos de insegurança, estresse e sau-
dade da família, destacando-se a necessidade de inserção social e aceitação
pelos novos colegas.
O ingresso em uma universidade inaugura um período de maior
autonomia, e, consequentemente um período de novas experiências. O
meio acadêmico caracteriza-se como um ambiente que propicia a sensação
de liberdade e independência, exacerbando comportamentos de curiosida-
de, alegria e euforia. Esta sensação e sentimentos associados à participação
em festas, com disponibilidade de substâncias psicoativas e inuência de
outros colegas que fazem uso, possibilita o acesso a estas substâncias e a
possível experimentação, bem como a adoção de comportamentos de risco.
SADE, R. M. S. (Org.)
238
Silva et al. (2014) através de um levantamento epidemiológico do
uso de drogas entre estudantes universitários devidamente matriculados no
primeiro e no quarto ano de seis cursos da área de humanas e três cursos
da área da saúde apontou que 68% (183) dos alunos que participaram da
pesquisa, já zeram uso de alguma substância psicoativa na vida, destes,
70% cursavam os primeiros anos e 87% cursavam o quartos anos. Ainda
nesta pesquisa, os autores referem que 79% ainda fazem uso de algum tipo
de substância. Referente ao inicio do uso, 82% dos participantes usaram
pela primeira vez antes de entrarem na faculdade e 18% zeram uso após o
ingresso na universidade, sendo a média do início do uso de 13,9 anos de
idade. As substâncias psicoativas mais citadas foram por ordem de frequ-
ência: álcool, tabaco e maconha.
Atualmente, poucos são os usuários de drogas que usam apenas
uma única substância, acarretando múltiplos prejuízos. Dentre as substân-
cias psicoativas ilícitas, a maconha foi a substância mais frequentemente
consumida, seguida pelos inalantes, anfetamínicos, ansiolíticos, inalantes e
alucinógenos. (SILVA et al. 2014).
O álcool foi citado como a substância psicoativa lícita mais usa-
da, possivelmente, justicado por esta substância fazer parte da cultura do
país e estando associado aos eventos de confraternizações. Seu uso também
pode ser estimulado pela falta de scalização e inobservância das restrições
legais para sua venda, bem como o baixo custo e propaganda sem controle.
Outro fator que corrobora para o uso abusivo é a convivência de univer-
sitários(as) menores de 18 anos com outros mais velhos, que adquirem e
compartilham a substância entre si.
Durante esta fase há diculdades por parte do jovem universitá-
rio para reconhecer o uso como sendo abusivo, uma vez que os prejuízos
não são concretos e, quase sempre sutis, sendo um deles o declínio do
desempenho acadêmico.
fatores de rIscos ao uso de substâncIas psIcoatIvas por jovens
unIversItárIos
O consumo abusivo de substâncias psicoativas está associado a
vários fatores que podem representar riscos a própria pessoa e a sociedade,
239
Boas práticas
por isso é importante atentar-se para a detecção de fatores de risco para o
início e manutenção do uso dessas substâncias. Dentre os fatores de riscos
identicados no ambiente universitário por Silva et al. (2013) estão a maior
acessibilidade e oferta de substâncias psicoativas, conitos familiares, pro-
blemas nanceiros e emocionais, diculdade de se relacionar, inuência e
companhia de amigos que incentivam o início e a continuidade do uso.
Silva et al. (2013) em referência aos locais que os universitários
citaram como propiciador ao uso, refere que as festas universitárias foi o
item mais citado e ainda apontam que este ambiente é estimulante e fa-
vorece o uso de substâncias. Já em relação aos sentimentos que motivam
o uso, a maioria dos universitários citou a alegria, curiosidade, euforia,
estresse e cansaço.
De forma geral, os efeitos desejados por um jovem ao fazer
uso de uma substância estão associados à diversão ou prazer, quebra da
rotina e sensação de liberdade. A inabilidade ou diculdade dos jovens
em lidar com situações de conitos e frustrações podem ser acarreta-
das por excessivas cobranças e responsabilidades do próprio ambiente
acadêmico, propiciando, muitas vezes, a busca por alternativas de en-
frentamento. Em momentos de diculdades, o uso de uma substância
psicoativa pode ser utilizada como válvula de escape, dando-lhes a falsa
sensação de alívio das tensões e conitos, gerando assim, um circulo
vicioso e, toda vez que este jovem estiver frente a situações de conito,
o mesmo poderá recorrer novamente à substância e, assim colaborando
para seu uso abusivo.
fatores protetIvos ao uso de substâncIas psIcoatIvas por jovens
unIversItárIos
Ao se falar e pensar no uso de substâncias psicoativas faz-se ne-
cessário uma reexão não somente dos fatores de risco, mas também dos
fatores protetivos ao uso desta(s) substância(s). Entende-se por fatores pro-
tetivos, aqueles que proporcionam ao indivíduo o sentimento de segurança
e proteção frente a situações consideradas, por este, como risco.
Como fatores protetivos a esta faixa etária destaca-se a estabilida-
de do ambiente familiar e social, espaços de apoio e promotor da autoes-
SADE, R. M. S. (Org.)
240
tima, presença de habilidades sociais, aperfeiçoamento da espiritualidade,
vínculo com instituições sociais (grupos de jovens, religião) e amigos com
hábitos saudáveis.
A boa estrutura familiar pode estimular comportamentos saudá-
veis e ser fonte de apoio quando pautadas na boa comunicação, afeto e
estímulos frente a situações de conitos e dúvidas. A participação e apoio
da família podem contribuir signicativamente para o desenvolvimento e
realização de metas, proporcionando ao indivíduo, o desenvolvimento e
fortalecimento de estratégias de enfrentamento em situações adversas (SIL
VA et al. 2014).
A espiritualidade auxilia na promoção da fé, fornecendo a este
jovem, o apoio para lidar com adversidades e diminuição da ansie-
dade, além de oferecer estímulos aos hábitos saudáveis, melhora da
autoestima, possibilitando mudanças nos aspectos éticos, culturais e
comportamentais em relação à saúde, e consequentemente promoção
da qualidade de vida.
Amigos com hábitos saudáveis podem ser considerados como fator
protetivo, pois através das trocas de experiências e reexões oferecerem alívio
dos sentimentos de solidão, tensão, evitando o isolamento social deste.
consIderações fInaIs
Diante da problemática referente ao uso crescente de substâncias
psicoativas por jovens universitários, são necessários discussões e reexões
acerca de estratégias de enfrentamento ao uso abusivo. Para tanto, deve-se
pensar em ações voltadas a diminuição dos fatores de risco e o aumento e
fortalecimento dos fatores de proteção.
Tais ações devem ser focadas na criação e implantação de novos
programas e políticas sociais nas universidades que contemplem estratégias
de prevenção e tratamento como: detecção precoce do potencial para uso
abusivo, serviços de aconselhamento e auxílio frente às emoções, desen-
volvimento de grupos de orientação e apoio, criação de espaços que pro-
porcionem o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades sociais e
oportunidade de tratamento a quem faz uso abusivo.
241
Boas práticas
Para tanto, é necessário ir além e, pensar não somente na preven-
ção do uso abusivo de substâncias psicoativas, mas na promoção de saúde
e qualidade de vida aos universitários.
referêncIas
SECRETARIA NACIONAL de Políticas sobre Drogas e Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas. VI Levantamento nacional sobre o consumo de
drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio das redes pública e
privada de ensino nas 27 capitais brasileiras. São Paulo: Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas, 2010.
SILVA, M. L. et al. Risk factors that may signify a propensity to the use of drugs in
students at a public university. Journal Human Growth Development, v. 23, n. 3, p. 346-
351, 2013.
SILVA, M. L. et al. Use of psychoactives substances in students at a public university.
Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, v. 39, n. 3, 2014.
UNODC, World Drug Report. Sales: United Nations publication, n. 13, v. XI, 2013.
referêncIas consultadas
ORTEGA-PÉREZ, C. A; COSTA JUNIOR, M. L; VASTERS, G. P. Perl
epidemiológico de la drogadicción en estudiantes universitarios. Revista Latino-
Americana de Enfermagem, v. 19, p. 665-672, 2011.
SCADUTO, A. A; BARBIERI, V. O discurso sobre a adesão de adolescentes ao
tratamento da dependência química em uma instituição de saúde pública. Ciência em
Saúde Coletiva, v. 14, n. 2, p. 605-614, 2009.
SILVA, M. L; GUIMARÃES, C. F.; SALLES, D. B. Risk and protective factors to
prevent relapses of psychoactive substances users. Revista da Rede de Enfermagem do
Nordeste, v. 15, n. 6, p. 1007-1015, 2014.
243
A Participação de Usuários
de Saúde Mental na Produção do
Conhecimento no Campo da Atenção
Psicossocial no Brasil: uma Revisão
Exploratória da Literatura
Regina Céli Fonseca Ribeiro
Maria Aline Gomes Barboza
Izabel Christina Friche Passos
Introdução
Este trabalho é parte integrante de dois projetos de pesquisa vin-
culados ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Fe-
deral de Minas Gerais e desenvolvidos no Laboratório de Grupos, Institui-
ções e Redes Sociais (L@gir). Um deles de investigação das redes pessoais
de usuários da Rede de Atenção Psicossocial em Saúde Mental e o outro de
pesquisa da construção da autonomia e o real empoderamento de usuários
que participam de experiências autonomistas.
O paradigma psicossocial requer uma ruptura radical com a lógica
manicomial e propõe transformações nas práticas político-assistenciais no
campo da saúde mental brasileira (COSTA-ROSA, 2000, 2013; COSTA-
-ROSA et al., 2001; COSTA-ROSA; LUZIO; YASUI, 2003). Essas trans-
formações vêm acontecendo desde meados dos anos de 1980, a partir da
construção de uma política de saúde mental que introduziu uma nova con-
cepção de processo saúde-doença e também das práticas prossionais que
passaram a ser reconhecidas em sua dimensão ético-política. Tais práticas
afetam ações e valores culturais e éticos (YASUI; COSTA-ROSA, 2008).
A efetivação da proposta de uma atenção psicossocial como “es-
tratégia”, que se realiza em redes territoriais e toma por modelo a Estraté-
gia de Saúde da Família (YASUI; COSTA-ROSA, 2008), tem enfrentado
SADE, R. M. S. (Org.)
244
resistências e tensões de um campo em que o modelo tradicional – hos-
pitalocêntrico e medicalizante – coexiste com as novas ações e rupturas
epistemológicas propostas pelos movimentos da Reforma Psiquiátrica e da
Reforma Sanitária.
Passados quase quinze anos da promulgação da Lei nº 10.
216/2001, observamos a expansão de uma rede descentralizada, diversi-
cada e complexa, composta por serviços territoriais cujo trabalho, de acor-
do com Emerson Merhy,
se dirige para desinterditar a produção do desejo e, ao mesmo tempo,
gerar redes inclusivas, na produção de novos sentidos para o viver
no âmbito social, é de alta complexidade, múltiplo, interdisciplinar,
intersetorial e interprossional; que, em última instância, só vinga se
estiver colado a uma “revolução cultural” do imaginário social, dos
vários sujeitos e atores sociais, ou seja, se constituir-se, também, como
gerador de novas possibilidades anti-hegemônicas de compreender a
multiplicidade e o sofrimento humano, dentro de um campo social de
inclusividade e cidadanização (MERHY, 2004, p. 3-4).
Essas mudanças geraram muitos desaos, especialmente para os
trabalhadores e gestores da saúde, de quem se espera, nesse novo paradig-
ma, a superação das práticas estritamente especialistas e a abertura para o
trabalho interdisciplinar, intersetorial e comunitário.
A emergência de novas práticas e políticas exige, por outro lado,
a produção de conhecimento consoante com o que se pretende construir.
Observa-se que a pesquisa em saúde mental no âmbito da Reforma Psi-
quiátrica brasileira tem aumentado e impactado a conguração do campo
acadêmico. As novas perguntas de pesquisa que se anunciam rejeitam toda
forma de exclusão das pessoas em sofrimento psíquico, mas ainda preci-
sam avançar em temas importantes como a coparticipação de usuários na
feitura das pesquisas, de modo a fortalecer o combate ao estigma e ampliar
a participação político-social das pessoas em sofrimento, dentre outros
(ONOCKO-CAMPOS, 2011).
O contexto da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciada com o
movimento de trabalhadores da área, buscou envolver usuários e fami-
liares na denição das políticas para o setor, principalmente a partir da II
Conferência Nacional de Saúde Mental, que ocorreu em 1992. Consta no
245
Boas práticas
relatório nal que 20% dos delegados eram representantes dos usuários
dos serviços e seus familiares. Calcula-se ainda que houve a participação
de 20 mil pessoas em todo o processo de construção da conferência, por
intermédio das 24 conferências estaduais e de 150 municipais e regionais
(BRASIL, 1994).
O fortalecimento da defesa da participação, do protagonismo e
da autonomia dos usuários dos serviços de saúde mental também se obser-
va na IV Conferência Nacional de Saúde Mental, a primeira com pretensão
de ser intersetorial, que ocorreu em Brasília, no ano de 2010. Segundo re-
latório nal, foram realizadas 359 conferências municipais e 205 regionais,
com a participação de 1.200 municípios. Nas três etapas, estimou-se a
participação de 46.000 pessoas SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, 2010.
O tema da participação do usuário aproxima-se das formulações
presentes na coalização de movimentos, coletivos e pesquisadores,
reunidos sob denominações diversas, mantendo especicidades
relevantes, e que defendem uma mudança de paradigma na atenção
psiquiátrica, de modo a armar a autonomia do usuário como
um norte ético, o território e o cotidiano como lugares e tempos
privilegiados para o cuidado, e a construção de formas autônomas
de superação das limitações impostas pelo sofrimento mental
(PRESOTTO et al., 2013, p. 2838).
Além da participação em dispositivos de controle social, usuários
e familiares passaram a participar também de pesquisas cientícas no cam-
po da saúde mental, em especial em estudos de avaliação de serviços, na
qualidade de sujeitos de pesquisa. Uma das deliberações sobre Formação,
Educação Permanente e Pesquisa em Saúde Mental, da IV Conferência
Nacional de Saúde Mental, destaca-se por incluir a população na proposta
de constituição de “comunidades ampliadas de pesquisa no âmbito da rede
de saúde mental”, junto a trabalhadores e gestores (SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE, 2010, p. 55). Apesar dessa menção, não se observa, ao longo
de todo o documento, proposições que incentivem a atuação protagonista
dos usuários também no campo da pesquisa.
Observa-se que com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS)
no Brasil, a participação do usuário torna-se obrigatória e necessária nos
conselhos, conferências e comissões que scalizam e deliberam políticas
SADE, R. M. S. (Org.)
246
para a área (BRASIL, 1990a; 1990b), mas sua presença ainda é incipiente
enquanto coparticipante na produção do conhecimento (PRESOTTO et
al., 2013; VASCONCELOS, 2013).
Este estudo propõe apresentar uma revisão crítica exploratória da
literatura recente sobre pesquisas que envolvem a participação de usuários
de serviços de saúde mental vinculados à Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS). A pergunta que se coloca aqui é: como tem se dado a partici-
pação do usuário na produção do conhecimento sistemático no campo
da saúde mental? Nosso objetivo é identicar pesquisas em saúde mental
que se reportam ao paradigma da Atenção Psicossocial e que envolvam a
participação de usuários. Como desdobramento, pretendemos produzir,
posteriormente, um estudo aprofundado sobre as formas de interação dos
usuários nas pesquisas que se mostrarem mais participativas.
metodologIa adotada
Para este trabalho, utilizamos, como fonte principal, consultas
às bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do Portal de
Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-
perior (Capes). Além dessas duas bases, zemos uma busca adicional no
periódico Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, por ser, desde 2009,
ano de sua criação, o veículo mais representativo em termos de circulação
de artigos relacionados ao campo da Reforma Psiquiátrica, com a qual está
explicitamente identicado.
Inicialmente, a busca foi feita a partir dos descritores controlados:
saúde mental” e “pesquisa participativa baseada na comunidade”, ambos
referenciados pelo DeCS ‒ Descritores em Ciências da Saúde. Diante do
baixo número de trabalhos encontrados (oito trabalhos diretamente rela-
cionados ao tema, e apenas dois mencionando a participação de usuários),
optamos por realizar a busca com a seguinte associação de palavras-chave:
saúde mental” e “pesquisa com usuários”. Cabe ressaltar que incluímos
na seleção dos artigos também aqueles em que os familiares eram sujeitos,
mesmo porque, em pesquisas com crianças e adolescentes, os respondentes
eram os familiares e/ou os responsáveis.
Não foi demarcado o período de tempo inicial para a busca, por-
247
Boas práticas
que os descritores utilizados e o critério de inclusão, que priorizou artigos
inseridos no campo da Atenção Psicossocial foram bastante para se fazer
uma delimitação temporal sucientemente abrangente para o escopo deste
trabalho, sendo os textos mais antigos encontrados datados de 1996 (SIL-
VA FILHO, 1996; VIEIRA FILHO, 1996). O processo inicial de busca
aconteceu em agosto de 2014. Em maio de 2015, a mesma busca foi no-
vamente realizada, para incluir os trabalhos do ano de 2014. Portanto, o
período abrangido vai de 1996 a 2014. O universo selecionado incluiu
artigos cientícos, resumos expandidos e monograas, dissertações e teses
não publicadas na forma de artigo, mas constantes dos bancos de dados.
Para analisarmos o grau de participação do usuário nas pesquisas
selecionadas, foi construída uma categorização inspirada nos três enfoques
historicamente denidos para a prática de entrevista de pesquisa (MA
CHADO, 2002) e na fundamentação teórico-metodológica de autores
que tratam de pesquisa-ação e pesquisa-intervenção, reconhecidamente
participativas em seus fundamentos (THIOLLENT, 1987, 2000; BRAN-
DÃO, 1987; MACHADO, 2002, 2004).
Machado (2002) delimita três tipos de enfoques possíveis em
uma situação de entrevista, tomando como referência central o grau de
interação pesquisador/pesquisado. No primeiro enfoque, a entrevista
tem por nalidade a busca por respostas objetivas e que podem ser quan-
ticáveis. As perguntas e a forma de registro das respostas pelos pesquisa-
dores devem ser padronizadas, e acredita-se que o rigoroso treinamento
destes garante o controle do processo da entrevista e da padronização dos
dados coletados, geralmente por meio de questionários e escalas. Nesse
enfoque, o entrevistado é um informante secundário, ou seja, seleciona-
do por algum critério aleatório ou estatístico. O grau de interação com
o pesquisador é mínimo, mesmo que o método de coleta de dados seja
a entrevista semiestruturada (MACHADO, 2002). O segundo enfoque
de entrevista apresentado por Machado (Ibidem) enfatiza a apreensão do
signicado dado pelo entrevistado sobre temas relacionados ao proble-
ma pesquisado, este denido pelo pesquisador. Aqui a padronização da
pergunta não é o mais importante, “mas a padronização do seu signica-
do para o entrevistado, que é tomado como um sujeito a-histórico, que
controla o que diz e a quem se permite uma expressão livre” (Ibidem, p.
SADE, R. M. S. (Org.)
248
34-35). O terceiro e último enfoque de entrevista apresentado por Ma-
chado (Ibidem) valoriza a interação pesquisador/pesquisado e permite
obter o discurso de sujeitos sócio-históricos. O entrevistado é considera-
do sujeito único e central no processo. Os dados são coletados de forma
não diretiva, e a qualidade da entrevista está diretamente relacionada à
qualidade da interação estabelecida. Essa maneira de pensar a situação de
entrevista está presente na concepção da pesquisa-intervenção psicosso-
cial (MACHADO, 2004).
Para efeito deste trabalho, foram incluídos no primeiro enfoque:
os estudos epidemiológicos; os estudos que, apesar de apresentarem simul-
taneamente métodos quantitativos e qualitativos, deram ênfase aos dados
produzidos por meio da metodologia quantitativa; e os estudos nos quais
o usuário foi inserido apenas como sujeito respondente de pesquisa que
forneceu informações para subsidiar a análise de questões relacionadas ao
serviço e às políticas de saúde, por exemplo.
Os estudos enquadrados no segundo enfoque foram aqueles que
utilizaram métodos de coleta mais interativos que os anteriores, como a
observação sistemática, a observação participante, os grupos focais e as en-
trevistas semiestruturadas, mas que mantiveram a participação do usuário
somente na fase de coleta dos dados. Pesquisas caracterizadas como pesqui-
sa-participante, conforme denições de Brandão (1987) e iollent (1987,
2000), foram incluídas nesse enfoque.
iollent (2000, p. 7) considera que as metodologias pesquisa-
-participante e pesquisa-ação não são sinônimas, uma vez que a última
supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico
ou outro, que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa-partici-
pante”. Além disso, apesar do autor não restringir a concepção e o uso da
pesquisa-ação a “uma orientação de ação emancipatória e a grupos sociais
que pertencem às classes populares ou dominadas”, a pesquisa-ação pode
ser considerada como “forma de engajamento sociopolítico a serviço da
causa das classes populares” (Ibidem, p. 14), sendo
concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com
a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores
e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo e participativo (Ibidem).
249
Boas práticas
Embora iollent (2000) faça essa distinção, reconhece que as
duas propostas ‒ pesquisa-ação e pesquisa-participante ‒ buscam ser al-
ternativas ao padrão convencional de pesquisa. Essa distinção entre pes-
quisa-participante e pesquisa-ação dene os limites entre o enfoque 2 e o
enfoque 3 propostos neste trabalho.
Para iollent (2000), a pesquisa-participante é baseada em uma
metodologia de observação participante na qual os pesquisadores
estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação
investigada com o intuito de serem melhor aceitos. Nesse caso, a
participação é sobretudo participação dos pesquisadores e consiste em
aparente identicação com os valores e os comportamentos que são
necessários para sua aceitação pelo grupo considerado (THIOLLENT,
2000, p. 15).
No enfoque 2, registramos estudos que apresentaram objetivos
próximos ao que propõe a pesquisa-intervenção ou a pesquisa-ação, po-
rém não foi possível identicar a coparticipação do usuário na construção
do problema e objetivos da pesquisa, assim como nas reexões e registros
nais do processo de produção de conhecimento. Por essa razão, qualica-
mos esses trabalhos como participativos, mas não coparticipativos, por não
terem indicado no texto a interação e o compartilhamento de ações e de
decisões, presentes nas propostas metodológicas da pesquisa-intervenção e
da pesquisa-ação. A intenção de uma participação mais ampla e comparti-
lhada entre todos os atores e em todas as fases do processo de pesquisa está
presente parcialmente no terceiro enfoque.
A opção metodológica da pesquisa-intervenção psicossocial con-
sidera a ampliação do escopo da clínica e é fundamentada pelas contribui-
ções teóricas da psicologia social e de correntes institucionalistas, como a
Análise Institucional, a Psicossociologia, a Socioanálise, a Esquizoanáli-
se etc. (BAREMBLITT, 2002). Segundo Baremblitt (Ibidem), o objetivo
máximo dos movimentos institucionalistas é a autogestão, o que coloca o
engajamento ético-político dos participantes como elemento central.
De acordo com Machado (2004), só é possível a realização da
pesquisa-intervenção psicossocial a partir do estabelecimento de relações
de colaboração entre pesquisadores e pesquisados caracterizadas pela
SADE, R. M. S. (Org.)
250
atuação conjunta nas análises, interpretações e reexões ao longo de todo
o processo de pesquisa. Os sujeitos pesquisados “não apenas demandam
a intervenção, mas também analisam, elaboram suas representações do
conjunto social, da pesquisa-intervenção, da interação estabelecida
(Ibidem, p. 15). Dessa forma, todos são agentes da pesquisa e da
intervenção, na medida em que buscam solucionar os problemas do
contexto social estudado e aqueles presentes no processo de mudança
desse contexto. A pesquisa-intervenção aprofunda os questionamentos de
pressupostos gerais da pesquisa cientíca, como “verdade”, “objetividade”,
universalização de saberes”, já desenvolvidos pela pesquisa-participante
(BRANDÃO, 1987; ROCHA, 2006).
Encontramos aqui aproximações com a proposta da pesquisa-
-ação (THIOLLENT, 1987, 2000) que, além de problematizar a relação
pesquisador/pesquisado e teoria/prática, apresenta, como já exposto, a
preocupação em unir investigação e ação. Em resumo, as características
da pesquisa-ação que inspiraram a denição do enfoque 3 estabelecem
que: a) a prioridade dos problemas a serem investigados é decidida na
interação entre todas as pessoas implicadas na situação investigada; b)
a interpretação da realidade observada e as ações de transformação são
objetos de deliberação conjunta; c) há um acompanhamento das deci-
sões, das ações e de toda a atividade intencional dos (e pelos) atores da
situação; d) a pesquisa não se limita à ação, apesar da estar centrada na
questão do agir: “pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisa-
dores e o conhecimento ou o ‘nível de consciência’ das pessoas e grupos
considerados” (THIOLLENT, 2000, p. 16).
As duas propostas teórico-metodológicas apresentadas anterior-
mente fundamentaram a denição do terceiro enfoque, nomeado neste
artigo como “coparticipativo”. Nele, foram incluídos os trabalhos que
apresentaram processos de pesquisa que mais se aproximaram da pesquisa-
-intervenção e da pesquisa-ação e/ou que apresentaram a participação de
usuários também nas etapas iniciais e na construção teórica nal da pes-
quisa. As características da ampla interação em espaços democráticos entre
os diferentes atores da pesquisa, a ênfase no engajamento ético-político
dos sujeitos, em especial de usuários e familiares, e o compromisso com a
mudança são as principais características desse enfoque 3.
251
Boas práticas
resultados e dIscussão
Na BVS foram encontrados 387 trabalhos, no Portal Capes, 334
e nos Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 81. Após a leitura dos tí-
tulos e dos resumos, com a retirada dos estudos repetidos e daqueles que
fugiam do tema proposto, chegou-se a 396 títulos que envolviam estudos
no contexto da Atenção Psicossocial.
Uma segunda leitura dos títulos, dos resumos e, quando neces-
sário, da metodologia, foi realizada para identicar os sujeitos envolvidos
em cada pesquisa, a m de selecionar apenas os estudos nos quais identi-
camos algum tipo de participação dos usuários. Nessa leitura, foram tam-
bém excluídas as revisões de literatura, o que resultou em 188 trabalhos
selecionados.
Em seguida, para complementar e validar a busca anterior, re-
tornou-se às bases de dados e ao periódico mencionado para cruzar as pa-
lavras-chave “saúde mental” e “pesquisa participante”; “saúde mental” e
pesquisa-ação”; “saúde mental” e “pesquisa intervenção”; “saúde mental
e “pesquisa participativa”. Esse procedimento acrescentou mais 15 estu-
dos aos achados, totalizando, então, 203 trabalhos. Durante o processo de
análise, foram excluídos quatro artigos, porque estavam fora do contexto
da Atenção Psicossocial. Chegamos, ao nal, a um total de 199 estudos.
A maioria dos estudos encontrados utilizaram metodologias qua-
litativas que nem sempre foram explicadas de forma clara pelos autores. Os
mais participativos detalharam o percurso metodológico escolhido. A pre-
sença de estudos quantitativos não foi signicativa, representando somente
4% dos estudos (oito artigos).
O Gráco 1 demonstra a evolução das pesquisas que envolvem a
participação de usuários no campo da saúde mental. Constata-se o cresci-
mento da produção desse tipo de pesquisa, com destaque para o período
compreendido entre os anos de 2007 e 2009, quando se observa uma evo-
lução crescente da produção. Já no período compreendido entre os anos de
2009 e 2014, observamos oscilações na curva com tendência à queda do
número de publicações relacionadas a pesquisas que envolveram os usuá-
rios da saúde mental. Por outro lado, neste último período também se con-
centram a maior parte dos estudos em que o protagonismo dos usuários
SADE, R. M. S. (Org.)
252
cou mais evidenciado, como será abordado mais adiante. Considerados
os limites deste estudo, colocamos em questão se esta tendência aparente
de diminuição de publicações de pesquisas com participação de usuários
é reexo das fragilidades e desaos que a Reforma Psiquiátrica Brasileira
enfrenta na contemporaneidade, em especial na sustentação de saberes e
práticas contra-hegemônicos, os quais a universidade encontra resistências
em incorporar e que buscam rupturas com a racionalidade médico-cientí-
ca e psiquiátrica (YASUI, 2010).
Gráco 1 - Evolução geral das pesquisas que envolvem usuários
Fonte: Dados da pesquisa
Chama a atenção o baixo número de pesquisas que envolveram
usuários de serviços de saúde mental especializados no atendimento de
crianças e adolescentes; apenas 3% do total (seis trabalhos), sendo que
nestes a participação se deu por meio de entrevistas realizadas com os pais
ou responsáveis. Os usuários adultos, vinculados aos serviços substitutivos,
são os que se destacam em 97% dos artigos analisados (193). Também se
destaca o baixo número de pesquisas que apresentaram a participação de
usuários de álcool e outras drogas, totalizando 8% (16 estudos).
Os trabalhos analisados em nossa pesquisa priorizaram a coleta
dos dados por meio da situação de entrevista. Ao analisarmos o grau de
participação dos usuários nos estudos encontrados, conforme demons-
trado no Gráco 2, detecta-se um crescimento importante nas produções
do enfoque 2, com um pico na produção desse grupo em 2011, que
permanece em 2012 e cai nos dois anos que se seguem, mas mantendo
um patamar bem mais elevado que o dos outros dois enfoques. Por ou-
253
Boas práticas
tro lado, pode-se vericar uma tendência de crescimento do número de
pesquisas em que a participação do usuário adquire características per-
tinentes ao terceiro enfoque, o que não se sustenta ao longo do período
estudado, apresentando pequenos picos que parecem estar associados a
relatórios nais de pesquisas vinculadas a editais de fomento e a números
temáticos de periódicos da área.
Gráco 2 - Tendência da produção cientíca que envolve usuários, de acor-
do com a categorização proposta
Fonte: Dados da pesquisa
As produções incluídas no enfoque 1 apresentaram uma pequena
tendência de crescimento, como pode ser observado no Gráco 2. Os prin-
cipais tipos de estudo classicados nesse enfoque foram os estudos trans-
versais (MELO et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2008; KANTORSKI et al.,
2012; PEREIRA et al., 2013; FARIAS et al., 2014; WURDIG SAYAGO
et al., 2014) e as pesquisas de avaliação de serviços (SILVA FILHO et al.,
1996; HECKERT, TEIXEIRA e TRINDADE, 2006; MELO et al., 2007;
BANDEIRA et al., 2009; TOMAZI et al., 2010).
De um total de quatro trabalhos classicados como enfoque 1,
no pico de produção desse enfoque no ano de 2012, destacam-se dois
artigos decorrentes do Projeto de Pesquisa de Avaliação dos Centros
de Atenção Psicossocial da Região Sul do Brasil (CAPSUL), vincula-
da a edital conjunto do Ministério da Saúde, Ministério da Ciência e
Tecnologia e CNPq e realizados pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em
Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental (GEPESM), numa parceria
entre professores e prossionais vinculados às Universidades Federais
SADE, R. M. S. (Org.)
254
do Rio Grande do Sul e de Pelotas e à UNIOESTE, da cidade de Cas-
cavel/RS. Este grupo de pesquisa, como veremos mais à frente, é tam-
bém o responsável por 52,2% das publicações classicadas como sendo
do enfoque 3 (12 artigos), atuando, portanto, em dupla inserção em
pesquisas quantitativas e coparticipativas.
Podemos identicar ainda, no Gráco 2, que o ano de 2009 re-
gistrou um primeiro pico de produção referente ao enfoque 2, associado
à publicação do volume 1 dos Cadernos Brasileiros de Saúde Mental,
que registrou os Anais do I Congresso Brasileiro de Saúde Mental, ocor-
rido em 2008. Das 19 publicações desse enfoque, registradas nesse ano,
seis estão nesse volume do periódico (BRANDALISE; ROSA, 2009;
ONOCKO-CAMPOS, 2009; FURTADO et al., 2009; KANTORSKI
et al., 2009; NETO et al., 2009; VASCONCELOS, 2009).
O enfoque 3 também apresentou um pico em 2009, com 9
trabalhos publicados, sendo que 5 deles pertencem ao grupo de pesquisa
que trabalha com a metodologia de Avaliação de Quarta Geração (WET-
ZEL et al., 2009; KANTORSKI et al. 2009a; SCHNEIDER et al., 2009;
OLSCHOWSKY et al., 2009; KANTORSKI et al., 2009c). Estes estu-
dos estão relacionados à pesquisa CAPSUL, que foi apoiada pelo MCT-
-CNPq e Ministério da Saúde por meio do edital MCT-CNPq 07/2005,
o que demonstra o impacto na produção de pesquisas induzidas.
Outro pico de produção no enfoque 2 pode ser observado em
2011 e teve a contribuição do número temático sobre pesquisas em saú-
de mental da Revista Ciência & Saúde Coletiva, responsável por 4 dos
22 artigos do ano (MURAMOTO; MANGIA, 2011; WAGNER et al.,
2011; PANDE; AMARANTE, 2011; CAVALCANTE; SILVA, 2011).
O pico da produção do enfoque 3 no ano de 2013 também
está associado a outro número temático da Revista Ciência & Saúde
Coletiva, responsável pela publicação de quatro dos cinco artigos deste
enfoque no ano (ONOCKO-CAMPOS et al., 2013; PALOMBINI et
al., 2013; SADE et al. 2013; PASSOS et al., 2013). Todas estas publi-
cações foram produzidas pelo grupo que traduziu, adaptou, testou e
validou o dispositivo Guia de Gestão Autônoma da Medicação (GAM)
para a realidade brasileira.
255
Boas práticas
Durante a análise, 22 trabalhos que, inicialmente, estavam ca-
tegorizados no enfoque 3, foram reclassicados para o enfoque 2. Al-
guns deles foram considerados pelos respectivos autores como pesqui-
sa intervenção, pesquisa-ação e/ou pesquisa-participante (CAMPOS;
KANTORSKI, 2008; WACHS et al., 2010; VIEIRA FILHO; ROSA,
2011; COSTA; PAULON, 2012; MIRANDA; ONOCKO-CAMPOS,
2012; LUCCHESE et al., 2013; FREITAS, 2013), ou caracterizados
por eles como relatos de caso (FILIZOLA; RIBEIRO; PAVARINI,
2003; BRANDALISE;ROSA, 2009; PIERETTI;GOMES, 2013). Nos
primeiros, observamos que as experiências de pesquisa são nomeadas
por seus autores como participativas, pois utilizam de técnicas que pos-
sibilitam a interação mais próxima e constante entre pesquisadores,
usuários e também com outros atores envolvidos na produção de da-
dos, como técnicos e familiares. No entanto, a dimensão participativa
apresentada nesses trabalhos, apesar da proximidade e tentativa de re-
dução da assimetria nas relações de poder entre pesquisador e usuário,
ainda não qualica a prática de pesquisa como coparticipativa. Obser-
va-se que os usuários aparecem em cena na pesquisa apenas na etapa de
coleta de dados, o que sugere que sua participação se restringe ao for-
necimento de informações objetivas ou relacionadas às suas percepções
sobre determinado tema ou problema de pesquisa. Com isso, pode-se
concluir que a dimensão participativa enfatizada nesses trabalhos se
refere ao lugar do pesquisador na realidade estudada, à capacidade de
imersão e de construção de vínculos com os sujeitos e com o cenário de
pesquisa. O que está em jogo são a maior (ou menor) pró-atividade do
pesquisador, o reconhecimento da subjetividade desse ator e a crítica à
neutralidade na prática de pesquisa.
Na análise dos relatos de caso, assim como nas experiências de
pesquisa-intervenção, observa-se o esforço dos autores em apresentar uma
sistematização teórica desenvolvida a partir das intervenções. O que ca
em destaque nesses textos é a dimensão terapêutica das intervenções. A
interação na relação entre pesquisador e usuário existe, tende a ser intensa
no processo de intervenção, porém não apresenta nenhuma inovação para
também ser reconhecida como parte de uma relação de coparticipação em
pesquisa. O que ocorre é que a interação entre pesquisador e sujeito de
SADE, R. M. S. (Org.)
256
pesquisa, em sua intensidade e frequência, já aconteceria mesmo sem a in-
tenção de produção de conhecimento cientíco, ou seja, de qualicar essa
experiência como uma prática de pesquisa.
Nos estudos que foram reclassicados do enfoque 3 para o enfoque
2, não observamos a produção compartilhada do conhecimento cientíco
entre pesquisadores e usuários. Apesar de algumas experiências de interven-
ção estudadas serem coparticipativas (MIRANDA, 2007; CAMPOS; KAN-
TORSKI, 2008; GUADAGNIN, LEWIS E CARVALHO, 2011; SIQUEI-
RA-SILVA, MORAES; NUNES, 2011; TRAVIA; KOHLS, 2013), o que
prevaleceu foi o olhar do pesquisador sobre a experiência estudada.
Nota-se que a produção de saberes em saúde mental extrapola o
conhecimento sistematizado vinculado a periódicos e a outros meios formais
utilizados para a denição do conjunto dos trabalhos analisados neste estu-
do. Um dos limites desta pesquisa foi a não inclusão desse tipo de material
cujo acesso exigiria um trabalho de garimpagem em registros das equipes ou
mesmo em produções próprias, construídas de forma solitária, ou coletiva-
mente, por técnicos, usuários, familiares, gestores, comunidades. No entan-
to, reconhecemos a importância dessa produção local e de seus efeitos na
construção de uma cultura de produção compartilhada de saberes em saúde
mental, campo que se destaca pelas ricas e inovadoras práticas instituintes
que repercutiram mudanças no âmbito jurídico-político e técnico-assisten-
cial mais amplo. A inclusão de trabalhos não publicados também se mostrou
um aspecto limitante em pesquisa semelhante que realizou a cartograa da
publicação brasileira em saúde mental (PASSOS, 2003).
Evidencia-se uma concentração de estudos coparticipativos em
grupos de pesquisa situados no eixo Sul-Sudeste do Brasil. A maior par-
te deles diz respeito aos resultados da pesquisa CAPSUL, com ênfase na
avaliação de serviços, em especial com a utilização de metodologia deno-
minada “Avaliação de Quarta Geração”. Em seguida aparecem os artigos
que apresentam a adaptação e validação do dispositivo Guia da Gestão
Autônoma da Medicação (GAM) para a realidade brasileira.
Ao todo encontramos 12 trabalhos sobre a pesquisa CAPSUL
classicados no enfoque 3 (WETZEL et al., 2009, 2010, 2011; WILL-
RICH, et al., 2013; KANTORSKI et al., 2009a, 2009b, 2011; SCH-
257
Boas práticas
NEIDER et al., 2009; OLSCHOWSKY et al., 2009; CAMATTA et al.,
2011; WETZEL, KANTORSKI; SOUZA, 2008; HECK et al., 2008).
Os trabalhos apresentaram, de forma detalhada, experiências de avaliação
de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) utilizando a Metodologia de
Avaliação de Quarta Geração proposta por Guba e Lincoln (1988, 1989).
Segundo os autores dos trabalhos analisados, a metodologia de avaliação
utilizada na pesquisa
extrapola a consulta a informantes e a coleta e análise das informações
obtidas, propondo que o avaliador “ganhe o direito de entrada” no
campo empírico por meio de uma etnograa prévia e, a partir de
então, estabeleça compromissos éticos e pactuações que garantam
a participação dos sujeitos nos diferentes momentos da avaliação.
(KANTORSKY et al., 2009c, p. 353)
No enfoque 3, também se destacam os estudos referenciados
na experiência canadense, produzidos pelo grupo que traduziu, adaptou,
testou e validou o dispositivo Guia de Gestão Autônoma da Medicação
(GAM) para a realidade brasileira (JORGE et al., 2012; ONOCKO-
-CAMPOS et al. 2013; PALOMBINI et al., 2013; PASSOS et al., 2013;
SADE et al., 2013, EMERICH, FERRARI; ONOCKO-CAMPOS,
2014). Pesquisadores brasileiros desenvolveram, a partir do ano de 2009, o
projeto multicêntrico chamado “Pesquisa avaliativa de saúde mental: ins-
trumentos para a qualicação da utilização de psicofármacos e formação
de recursos humanos”, que envolveu a Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) e a Universidade de Montreal, no Canadá, em parceria
com o movimento de usuários e serviços públicos de saúde mental (PA-
LOMBINI et al., 2013; SADE et al., 2013).
A GAM é uma abordagem de intervenção desenvolvida a partir
da experiência de usuários da saúde mental, em parceria com organizações
comunitárias de saúde mental e de grupos de defesa de direitos da Pro-
víncia de Quebec, no Canadá. É um processo que acontece na forma de
entrevistas coletivas, onde os usuários, em conjunto com familiares e tra-
balhadores de saúde mental, podem reetir sobre sua qualidade de vida e
bem-estar a partir do papel que a medicação e outros dispositivos de trata-
SADE, R. M. S. (Org.)
258
mento exercem sobre seu cotidiano, lazer, trabalho e sobre suas trajetórias
de vida (DEL BARRIO et al., 2013; ONOCKOCAMPOS et al., 2014.
Além dos estudos relacionados à pesquisa CAPSUL e à Pesqui-
sa GAM, outros seis artigos foram incluídos no Enfoque 3, por envolve-
rem os usuários em várias das fases do processo da pesquisa (SILVEIRA,
BRAGA; PETIT, 2007; ONOCKO-CAMPOS et al., 2009; ONOCKO-
-CAMPOS, 2009; MECCA e CASTRO, 2009; NUNES; TORRENTÉ,
2009; SURJUS; ONOCKO-CAMPOS, 2011).
conclusão
A pergunta da qual partiu nosso estudo foi: Como tem se dado a
participação do usuário na produção do conhecimento no campo da saúde
mental? Não só em termos de produzir a informação para o pesquisador,
mas de se apropriar dela e de participar do processo como um todo, inclu-
sive da construção da pesquisa e de seus resultados.
O estudo realizado nos permite concluir que no Brasil ainda é
pequeno o investimento em estudos participativos nos quais o usuário es-
teja implicado em todas as suas fases, desde a concepção até a análise e
divulgação dos resultados. O paradigma da Atenção Psicossocial, marcado
pela horizontalização nas relações de poder, impõe um desao que precisa
ser enfrentado: como envolver os diferentes atores, usuários, trabalhadores,
gestores e pesquisadores na produção do conhecimento.
Nosso estudo, entretanto, apresenta limites próprios que podem
ser superados em outros possíveis levantamentos. Observamos que os des-
critores e palavras-chave utilizados em nossa busca por si sós limitam o
alcance do rastreamento de artigos, sendo possível que outros estudos im-
portantes tenham cado de fora do universo selecionado.
O alcance das análises feitas para dar conta da pergunta também
é limitado, uma vez que nos detivemos aos textos publicados e não a outras
fontes como relatórios de pesquisas ou depoimentos pessoais dos envolvi-
dos, que poderiam se constituir em outro tipo de abordagem que permitisse
uma discussão qualitativa mais aprofundada sobre as pesquisas selecionadas.
Uma ideia das autoras é realizar um trabalho subsequente visando a uma
259
Boas práticas
próxima publicação. A partir de um estudo mais detalhado, e até mesmo de
um contato direto com os autores de algumas pesquisas sobre as quais ainda
pairaram dúvidas no momento de sua classicação em um dos três enfoques,
bem como daquelas que apresentaram fortes indícios de um grau maior de
participação dos usuários em todo o processo, o que nos levou a enquadrá-las
no terceiro enfoque, pensamos em aprofundar as análises ora apresentadas.
Outra limitação é que as análises se restringiram aos trabalhos pu-
blicados na forma de artigos cientícos, resumos expandidos, monograas,
dissertações e teses (nestes três últimos casos, quando não havia publicação
relacionada na forma de artigo). Sabemos quão importante é para o campo
da saúde mental, especialmente em sua interface com as ciências huma-
nas e sociais, com a losoa, a literatura e as artes em geral, a divulgação
em formato de livro, tipo de publicação não contemplada neste estudo.
Embora haja uma tendência hegemônica de sobrevalorização de artigos
cientícos no meio acadêmico, o livro e mesmo publicações consideradas
menores e não indexadas são importantíssimas para o campo que pretende
democratizar, horizontalizar e transversalizar a produção de conhecimento.
A produção sistemática de conhecimentos é certamente uma das atividades
fundamentais para a potencialização da reexividade em nossa sociedade.
Esperamos, com este trabalho, ter dado uma contribuição no sentido de
problematizar essa produção e de provocar novas reexões sobre o tema.
referêncIas
ARRAES, A. K. M et al. Empoderamento e controle social: uma análise da participação
de usuários na IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial em Natal (RN).
Rev. Psicol. Polít., São Paulo, v. 12, n. 23, jan. 2012.
BANDEIRA, M.; Avaliação de serviços de saúde mental: adaptação transcultural de
uma medida da percepção dos usuários sobre os resultados do tratamento. J. Bras.
Psiquiatr., Rio de Janeiro, v.58, n.2, p. 107-114, 2009.
BAREMBLITT, G. F. Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: teoria e
prática. Belo Horizonte: Instituto Félix Guattari, 2002.
BOURDIEU, P. Contrafogos. Táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998.
BRANDALISE, F.; ROSA, G. L. Velhas estradas: caminho novo. Acompanhamento
terapêutico no contexto da Reforma Psiquiátrica. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.1, jan-
abr. 2009.
SADE, R. M. S. (Org.)
260
BRANDÃO, C. R. Repensando a pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense,
1987.
BRASIL. Lei nº 8. 080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para
promoção, proteção e recuperação da saúde, da organização e funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências (Lei Orgânica da Saúde). 1990a.
Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/LEI8080.pdf>. Acesso
em: abr. 2016.
BRASIL. Lei nº 8. 142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos nanceiros na área da saúde e dá outras providências.
1990b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8142.htm>. Acesso
em: abr. 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Assistência à Saúde, Departamento de
Assistência e Promoção à Saúde, Coordenação de Saúde Mental. Relatório nal da 2ª
Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília, 1994.
CAMATTA M. W.; SCHNEIDER J. F. A visão sobre o trabalho de prossionais de
saúde mental. Esc. Anna Nery Rev. Enferm., v.13, n.3, p. 477-484, 2009.
CAMATTA, M. W. et al. Avaliação de um centro de atenção psicossocial: o olhar da
família. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.11, p. 4405-4414, nov. 2011.
CAMATTA, M. W.; WETZEL, C.; SCHNEIDER, J. F. Expectativas de usuários sobre
ações de saúde mental: um estudo fenomenológico. Online Braz. J. Nurs., v.11, n. 3,
dez. 21, 2012.
CAMPOS, N. L., KANTORSKY, L. P. Música: abrindo novas fronteiras na prática
assistencial de enfermagem em saúde mental. R. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v.16,
n.1, p. 88-94, jan-mar. 2008.
CAVALCANTE, A. C.; SILVA, R. M. Experiências psíquicas de mulheres
frequentadoras da rede pública de saúde em Teresina (PI, Brasil). Ciênc. Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v.16, n.4, abr. 2011.
COSTA, D. F. C.; PAULON, S. M. Participação Social e protagonismo em saúde
mental: a insurgência de um coletivo. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v.36, n.95, p. 572-
582, dez. 2012.
COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas. In: AMARANTE,
Paulo (Org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 2000.
COSTA-ROSA, A. Atenção Psicossocial além da Reforma Psiquiátrica. São Paulo:
UNESP, 2013.
COSTA-ROSA, A., LUZIO, C. A., e YASUÍ, S. As conferências nacionais de
Saúde Mental e as premissas do modo psicossocial. Saúde em Debate, Rio de
Janeiro, v.25, n. 58, p. 12-25, 2001.
261
Boas práticas
COSTA-ROSA, A.; LUZIO, C. A.; YASUI, S. Atenção Psicossocial: rumo a um novo
paradigma na Saúde Mental Coletiva. In: AMARANTE, Paulo (Org.). Archivos de
Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2003.
DEL BARRIO, L. R. et al. Gaining Autonomy & Medication Management (GAM):
New Perspectives on Well-Being, Quality of Life and Psychiatric Medication. Ciênc.
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18, n.10, p. 2879-2887, out. 2013.
EMERICH, B. F.; ONOCKO-CAMPOS, R. O.; PASSOS, E. Direitos na loucura: o
que dizem usuários e gestores dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Interface,
Botucatu, v.18, n.51, p. 685-696, dez. 2014.
FARIAS, C. A. et al. Sobrecarga em cuidadores de usuários de um centro de atenção
psicossocial infanto-juvenil no sul do Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.19,
n.12, dez. 2014.
FILIZOLA, C. L. A.; RIBEIRO, M. C; PAVARINI, S. C. I. A história da família de
Rubi e seu lho leão: trabalhando com famílias de usuários com transtorno mental
grave através do modelo Calgary de avaliação e de intervenção na família. Texto Contexto
Enferm., v.12, n. 2, p. 182-190, 2003.
FREITAS, A. C. H. A fotograa como recurso terapêutico em um CAPS: a possibilidade de
novos olhares. 2012. 34 p. Monograa (Residência Integrada em Saúde, Saúde Mental)
– Grupo Hospitalar Conceição, Residência Integrada em Saúde, Porto Alegre, 2013.
FURTADO, J. P. at al. Inserção social e habitação: pesquisa avaliativa de moradias
de portadores de transtorno mental grave. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.1, jan-
abr. 2009.
GUADAGNIN, A. P.; LEWIS, M. S. R.; CARVALHO, S. G. As muitas intenções de
um programa de rádio como um dispositivo em saúde mental. 2011. 18p. Monograa
(Especialização em Práticas Pedagógicas para a Educação em Serviços de Saúde) –
Grupo Hospitalar Conceição, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2011.
GUBA, E.; LINCOLN, Y. Eective evalution. San Francisco: Jossey Bass, 1988.
GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. S. Fourth Generation Evaluation. London: Sage, 1989.
HECK, R. M. et al. Gestão e saúde mental: percepções a partir de um centro de
atenção psicossocial. Texto Contexto - Enferm., Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 647-655,
dez. 2008.
HECKERT, U.; TEIXEIRA, L. S.; TRINDADE, A. S. Avaliação da satisfação dos
usuários do Centro Regional de Referência em Saúde Mental (CRRESAM) da Região
Central de Juiz de Fora, MG. HU Revista, v. 32, n. 1, p. 15-19, 2006.
JORGE, M. S. B. et al. Experiências com a gestão autônoma da medicação: narrativa
de usuários de saúde mental no encontro dos grupos focais em centros de atenção
psicossocial. Physis, v.22, n. 4, p. 1543-1561, 2012.
SADE, R. M. S. (Org.)
262
KANTORSKI, L. P. et al. Avaliação da estrutura e processo na visão dos familiares de
usuários de saúde mental. Cienc. Cuid. Saúde, v.11, n.1, p. 173-180, 2012.
KANTORSKI, L. P. et al. Avaliação qualitativa de ambiência num Centro de Atenção
Psicossocial. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.4, abr. 2011.
KANTORSKI, L. P. et al. Contribuições do Estudo de Avaliação dos Centros de
Atenção Psicossocial da Região Sul do Brasil. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.1, jan-abr.
2009a.
KANTORSKI, L. P. et al. Ocinas de reciclagem no CAPS. Nossa casa: a visão dos
familiares. Reme - Rev. Min. Enferm., v.13, n. 1, p. 34-42, jan.-mar. 2009b.
KANTORSKI, L. P. et al. Avaliação de quarta geração: contribuições metodológicas
para avaliação de serviços de saúde mental. Interface: comunicação, saúde, educação, v.13,
n. 31, 2009c.
KANTORSKY, L. P. et al. O cuidado em saúde mental: um olhar a partir de
documentos e da observação participante. R. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v.14, n.3, p.
366-371, jul-set. 2006.
LUCCHESE, R. et al. a busca por ajuda de usuários de álcool e outras drogas em um
centro de atenção psicossocial. Indagatio Didáctica, Portugal, 5, out. 2013.
MACHADO, M. N. M. Entrevista de Pesquisa: a interação pesquisador/entrevistado.
Belo Horizonte: C/Arte, 2002. 152 p.
MACHADO, M. N. M. Práticas Psicossociais: pesquisando e intervindo. Belo
Horizonte: Edições do Campo Social, 2004.
MECCA, R. C.; CASTRO, E. D. Epifania do acontecer poético: aspectos da
experiência estética na relação sujeito-obra em terapia ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ.
São Paulo, v.20, n.3, p. 180-187, set./dez. 2009.
MEHRY, E. Os CAPS e seus trabalhadores: no olho do furacão antimanicomial. Alegria
e Alívio como dispositivos analisadores, 2004. Disponível em: <http://www. u. br/
saudecoletiva/professores/merhy/capitulos08.pdf>. Acesso em: abr. 2016.
MELO, A. P. S. et al. Avaliação de serviços de saúde mental: assistência e prevenção às
doenças sexualmente transmissíveis no contexto do Projeto PESSOAS. Rev. méd. Minas
Gerais, v.7, n.1/2, supl. 4, p. S240-S248, dez. 2007.
MIRANDA, L.; ONOCKO-CAMPOS, R. T. Funções clínicas do trabalho de referência
junto a pacientes psicóticos: uma leitura winicottiana. Estud. Psicol., Campinas, v.29,
n.4, p. 519-529, dez. 2012.
MIRANDA, L. L. Consumo e produção de subjetividade nas TVs comunitárias. Rev.
Dep. Psicol. UFF, Niterói, v.19, n.1, p. 199-213, 2007.
MURAMOTO, M. T.; MANGIA, E. F. A sustentabilidade da vida cotidiana: um
estudo das redes sociais de usuários de serviço de saúde mental no município de Santo
André (SP, Brasil). Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.4, abr. 2011.
263
Boas práticas
NETO, D. L. et al. Atenção à saúde mental no Amazonas, Brasil: um olhar sobre os
centros de atenção psicossocial. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.2, jan-abr. 2009.
NUNES, M.; TORRENTE, M. Estigma e violências no trato com a loucura: narrativas
de centros de atenção psicossocial, Bahia e Sergipe. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.43,
supl. 1, p. 101-108, ago. 2009.
OLIVEIRA, G. C. Expectativas de familiares sobre uma unidade de internação
psiquiátrica. 2014. 103 p. Tese, Doutorado em Enfermagem, Escola de Enfermagem,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2014.
OLIVEIRA, H. N. et al. Avaliação da conabilidade de entrevista aplicada a indivíduos
com transtornos mentais: Projeto PESSOAS. Rev. Med. Minas Gerais, v.18, n.4, supl. 4,
p. S40-S45, 2008.
OLSCHOWSKY, A. et al. Avaliação de um Centro de Atenção Psicossocial: a realidade
em Foz do Iguaçu. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v.43, n.4, p. 781-787, dez. 2009.
ONOCKO-CAMPOS, R. T. Pesquisa avaliativa de uma rede de Centros de Atenção
Psicossocial: entre a saúde coletiva e a saúde mental. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.1,
jan-abr. 2009. (CD-ROM)
ONOCKO-CAMPOS, R. T. Pesquisa em Saúde Mental no Brasil: through the looking-
glass. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.4, p. 2032, abr. 2011.
ONOCKO-CAMPOS, R. T. et al. A Gestão Autônoma da Medicação: uma intervenção
analisadora de serviços em saúde mental. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18,
n.10, out. 2013.
ONOCKO-CAMPOS, R. T. et al. Avaliação da rede de centros de atenção psicossocial:
entre a saúde coletiva e a saúde mental. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 43, supl. 1, p.
16-22, ago. 2009.
ONOCKO-CAMPOS, R. T. et al. Avaliação de estratégias inovadoras na
organização da Atenção Primária à Saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 46, n. 1,
p. 43-50, fev. 2012.
ONOCKO-CAMPOS, R. T. et al. Gestão autônoma da medicação. Guia de apoio a
moderadores, 2014.
PALOMBINI, A. D. L. et al. Relações entre pesquisa e clínica em estudos em
cogestão com usuários de saúde mental. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18,
n.10, out. 2013.
PANDE, M. N. R.; AMARANTE, P. D C. Desaos para os Centros de Atenção
Psicossocial como serviços substitutivos: a nova cronicidade em questão. Ciênc. Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.4, abr. 2011.
PASSOS, E. et al. O Comitê Cidadão como estratégia cogestiva em uma pesquisa
participativa no campo da saúde mental. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18,
n.10, out. 2013.
SADE, R. M. S. (Org.)
264
PASSOS, I. C. F. Cartograa da publicação brasileira em saúde mental: 1980-1996.
Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v.19, n.3, p. 231-239, dez. 2003.
PEREIRA, M. O. et al. Busca ativa para conhecer o motivo da evasão de usuários em
serviço de saúde mental. Acta paul. enferm., São Paulo, v.26, n.5, p. 409-412, 2013.
PIERETTI, A. C. S.; GOMES, C. A. M. O cuidado à família em sofrimento com
psicose na atenção primária é possível? Relato de experiência exitosa no Alto Sertão
Paraibano. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, Florianópolis, v.5, n.12, p. 81-93,
2013.
PRESOTTO, R. F. et al. Experiências brasileiras sobre participação de usuários e
familiares na pesquisa em saúde mental. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.18,
n.10, out. 2013.
ROCHA, M. Psicologia e as práticas institucionais: A pesquisa-intervenção em
movimento. Psico, Porto Alegre, v.37, n.2, p. 169-174, maio/ago, 2006.
ROCHA, M.; AGUIAR, F. Pesquisa intervenção e a produção de novas análises.
Psicologia: Ciência e Prossão. Brasília: CFP, 2003. p. 64-73.
SADE, C. et al. O uso da entrevista na pesquisa-intervenção participativa em saúde
mental: o dispositivo GAM como entrevista coletiva. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v.18, n.10, out. 2013.
SCHNEIDER, J. F. et al. Avaliação de um centro de atenção psicossocial
brasileiro. Ciencia y Enfermería: Revista Iberoamericana de Investigacíon, v.15, n.
3, p. 91-100, 2009.
SILVA FILHO, J. F. et al. Avaliação de qualidade de serviços de saúde mental no
município de Niterói-RJ: a satisfação dos usuários como critério avaliador. J. Bras.
Psiquiatr., v. 7, n. 45, p. 393-402, jul. 1996.
SILVEIRA, L. C. et al. A sociopoética como dispositivo para produção de
conhecimento. Interface, Botucatu, v.12, n.27, p. 873-881, dez. 2008.
SILVEIRA, L. C.; BRAGA, V. A. B.; PETIT, S. H. A produção de subjetividade dos
usuários de um hospital-dia: uma Experiência sociopoética. Online Braz. j. Nurs.
(Online); v. 6, n. 1, abr. 2007
SIQUEIRA-SILVA, R; MORAES, M.; NUNES, J. A. Grupos musicais em saúde
mental: atores em ação no cenário da reforma psiquiátrica no Rio de Janeiro, Brasil.
Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 94, p. 87-107, 2011.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde. Comissão
Organizadora da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial. Relatório
Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, 27 de junho a 1º de julho
de 2010. Brasília: Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, 2010. 210 p.
SURJUS, L. T. L. S.; ONOCKO-CAMPOS, R. T. A avaliação dos usuários sobre os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinas, SP. Rev. Latinoam. Psicopatol.
Fundam., São Paulo, v.14, n.1, p. 122-133, mar. 2011.
265
Boas práticas
THIOLLENT, M. Notas para o debate sobre pesquisa-ação. In: BRANDÃO, C. R.
Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 82-103.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez. 2000.
TOMASI, E. et al. Efetividade dos centros de atenção psicossocial no cuidado a
portadores de sofrimento psíquico em cidade de porte médio do Sul do Brasil: uma
análise estraticada. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 807-815, abr.
2010.
TRAVIA, R. H.; KOHLS, M. B. Folha de lírio: o jornal virtual da saúde mental.
Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, Florianópolis, v. 5, n. 11, p. 88-101, 2013.
VASCONCELOS, E. M. Empoderamento de usuários e familiares em saúde mental
e em pesquisa avaliativa/interventiva: uma breve comparação entre a tradição anglo-
saxônica e a experiência brasileira. Ciênc. Saúde coletiva, v. 18, n. 10, p. 2825-2835, out.
2013.
VASCONCELOS, E. M. Perl das organizações de usuários e familiares no Brasil, seus
desaos e propostas. Cad. Bras. Saúde Mental, v.1, n.1, jan.-abr. 2009.
VIEIRA FILHO, N. G. Emergência psiquiátrica: o circuito institucional dos internados
sem renda. J. Bras. Psiquiatr, v. 45, n. 8, p. 471-475, ago. 1996.
VIEIRA FILHO, N. G.; ROSA, M. D. Clínica psicossocial: articulando saúde mental e
a estratégia saúde da família. Mental, Barbacena, v.9, n.16, jun. 2011.
VIEIRA FILHO, N. G.; ROSA, M. D. Inconsciente e cotidiano na prática da atenção
psicossocial em saúde mental. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 26, n. 1, p. 49-55, mar. 2010.
WACHS, F. et al. Processos de subjetivação e territórios de vida: o trabalho de transição
do hospital psiquiátrico para serviços residenciais terapêuticos. Physis, Rio de Janeiro,
v.20, n.3, p. 895-912, 2010.
WAGNER, L. C. et al. Cuidado en salud mental: percepción de personas con
esquizofrenia y sus cuidadores. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.4, p. 2077-
2087, abr. 2011.
WETZEL, C., KANTORSKI, L. P.; SOUZA, J. Centro de Atenção Psicossocial:
trajetória, organização e funcionamento. R. Enferm. UERJ, v.16, n. 1, p. 39-45, 2008.
WETZEL, C. et al. Avaliação de famílias de um Centro de Atenção Psicossocial da Região
Sul do Brasil: uma proposta metodológica. Online Braz. J. Nurs, v.9, n. 1, abr. 2010.
WETZEL, C. et al. A inserção da família no cuidado de um centro de atenção
psicossocial. Ciênc. Cuid. Saúde, n. 8 (supl.), p. 40-46, 2009.
WETZEL, C. et al.Dimensões do objeto de trabalho em um Centro de Atenção
Psicossocial. Ciênc. Saúde coletiva, v.16, n.4, abr. 2011.
WILLRICH, J. Q. et al. Ambiência de um centro de atenção psicossocial: fator
estruturante do processo terapêutico. Rev. Enferm. UFSM, v.3, n. 2, p. 248-258, 2013.
SADE, R. M. S. (Org.)
266
WURDIG SAYAGO, C. B. et al. Perl clínico e cognitivo de usuários de crack
internados. Psicol. Reex. Crit., Porto Alegre, v.27, n.1, p. 21-28, mar. 2014.
YASUI, S. Rupturas e encontros: desaos da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 2010.
YASUI, S.; COSTA-ROSA, A. A Estratégia Atenção Psicossocial: desao na prática dos
novos dispositivos de Saúde Mental. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v.32, n.78-80, p.
27-37, jan./dez. 2008.
267
Os brasileiros na prática de saúde
mental de Trieste: histórias de laços e de
construções
1
Maria Stella Brandão Goulart
Ernesto Venturini
Henrique Galhano Balieiro
Adelaide Lucimar Fonseca Chaves
Introdução
No campo da saúde mental, a referência a Franco Basaglia é sim-
plesmente fundamental. É já amplamente sabido que este notório psiquia-
tra e ativista dos Direitos Humanos conquistou protagonismo na história
da política de saúde mental brasileira desde o nal dos anos 70 (século
XX). Ele foi, inicialmente, convidado a vir ao Brasil para falar de sua prá-
tica de desinstitucionalização em 1978, no I Simpósio Internacional de
Psicanálise, Grupos e Instituições, ocorrido no Rio de Janeiro
2
.
A partir de então, nasceu uma densa conexão na luta contra
os manicômios e instituições totais, articulando brasileiros e italianos.
1
Este artigo atualiza e aprofunda a discussão publicada, em italiano, no periódico “Fogli d’informazine”, intitu-
lado “La presenzastorica dei brasilianinella pratica dellasalutementaledi Trieste: ‘venite a vedere’ o fare insieme?”
(2015).
2 Esta foi uma iniciativa interdisciplinar do Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições (IBRAP-
SI), ocorrida entre 19 a 22 de outubro de 1978. Nela, se reuniram, com a coordenação de Chaim Katz, Luis
Fernando de Mello Campos e Gregório Baremblitt, grandes nomes nacionais (Sergio Arouca, Peter Fry entre
outros) e internacionais - da antipsiquiatria, contracultura, psicanálise e do movimento institucionalista - como
Robert Castel, omas Szasz, Emilio Rodriguè, Shere Hite, Felix Guattari entre outros. As subsequentes vindas
de Franco Basaglia ao Brasil seriam uma decorrência destes contatos e outros que se estabeleceram na ocasião.
SADE, R. M. S. (Org.)
268
Basaglia retornou ao Brasil em 1979, realizando uma série de iniciativas,
com grande envolvimento pessoal e político. Proferiu palestras, realizou
diversas visitas e discussões nestes dois breves anos, impactando a vida e
a cultura prossional de psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes
sociais, usuários dos serviços de saúde e tantos outros, além da mídia e
da opinião pública.
Estes encontros, especialmente os ocorridos em Belo Horizonte,
São Paulo e Rio de Janeiro, tiveram um efeito profundo sobre os proces-
sos de Reforma na assistência psiquiátrica do século XX – que ocorreram
nos anos e décadas sucessivos. As suas intervenções e ainda repercutem no
Brasil e determinaram a cooperação de vários setores da saúde coletiva, da
saúde mental e da sociedade civil no que concerne ao tema do que cou
conhecido como: Reforma psiquiátrica.
Através das conferências e ações realizadas por Basaglia no Brasil,
a concepção acerca das instituições psiquiátricas mudou, aprofundando-se
a crítica sobre sua epistemologia e prática, apontando para a necessidade
de construção de respostas concretas e emancipadoras. Segundo Nicácio,
Amarante e Barros (2000, p. 241):
Os encontros realizados convidaram vários “caminhantes” a aceitarem
o desao de pesquisar novos itinerários e outros percursos, estimulando
jovens que trabalhavam no Serviço de Saúde Mental a irem conhecer
diretamente a experiência de Trieste, aceitando o convite de Basaglia
que os estimulava dizendo, “venham ver”!
Estimulados pela presença carismática e pelos convites de Basa-
glia, muitos brasileiros e brasileiras de diferentes idades, regiões e prossões
decidiram ir à Itália, particularmente a Trieste, para conhecer o trabalho de
desconstrução manicomial ali realizado e os efeitos da nova legislação, a lei
180, que revolucionara a prática e o pensamento de tantos italianos. Foi a
partir de então, que se realizou um uxo incessante, que continua ativo até
a atualidade, de “caminhantes”, com realização de verdadeiras peregrina-
ções: visitas e intercâmbios.
Muitos expoentes da Reforma Psiquiátrica brasileira desenvol-
veram atividades relevantes em Trieste. Destacamos, a título ilustra-
tivo, alguns nomes, em função de sua relevância, como os de Paulo
269
Boas práticas
Amarante, Denise Barros, Nilson Gomes, Jair de Jesus Mari, Fernanda
Nicácio, Roberto Tykanori, que realizaram períodos de média e longa
permanência, de vários meses. Paulo Delgado e Pedro Delgado, Sandra
Fagundes, Ana Pitta, Willians Valentini realizaram visitas e participa-
ram de eventos, mas a lista poderia ser muito extensa se considerásse-
mos este último item.
Este artigo se propõe a documentar algumas características
deste complexo processo de cooperação e se orienta pelas informações
resultantes da pesquisa “A história da política de saúde mental: Minas
Gerais e vínculos com a Itália” – realizada entre 2012 e 2014, nanciada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG
(GOULART et al, 2015).
O estudo, que mobilizou uma equipe composta por brasileiros e
italianos, se concentrou em duas direções. A primeira focalizou o trabalho
desenvolvido pelos brasileiros que, através de diversos tipos de inserções,
viajaram à Itália para contribuir com a atuação dos processos da Reforma
psiquiátrica no Brasil.
A segunda direção documentou, paralelamente, a contribuição
dos italianos ao Brasil, a partir do que foi desencadeado, a princípio, por
Franco Basaglia, e aqueles que atuaram como ativistas da luta antimanico-
mial e gestores públicos na área da saúde, construindo um relacionamento
signicativo com as instituições brasileiras.
Neste artigo, iremos nos focar particularmente no estudo de bra-
sileiros e brasileiras que participaram diretamente dos processos de desins-
titucionalização desenvolvido em Trieste. Genericamente, são nomeados
como “voluntários”: metáfora bastante contraditória que delineia um tipo
de vínculo marcado pela informalidade, mas que oculta a densidade insti-
tucional dos prossionais e das visitas e estágios que ocorreram e ainda se
realizam nos mais diversos formatos de cooperação.
à procura doscamInhantes
A pesquisa e este artigo abordam, portanto, o perl dos brasileiros e
brasileiras que se engajaram como “voluntários” nos serviços de saúde mental
SADE, R. M. S. (Org.)
270
de Trieste desde o nal dos anos 70 até recentemente. Este vínculo remete
a diversos tipos de inserção, como já dissemos: estágio de médio e longo
prazo, participação em eventos, visitas breves e com objetivos diversos.
Para a realização deste estudo, operamos com fontes orais e documen-
tais, numa perspectiva de história social e história oral, atenta a atores, institui-
ções e acontecimentos relevantes, mas com um foco especial para os encontros
e “simpatias” (amizades) tecidas nas relações informais e afetivas, tão caras ao
ativismo, à formação dos movimentos sociais e dos processos de mudança.
Inicialmente, procuramos identicar e descrever as características
dos voluntários que vivenciaram este modelo. A execução do levantamento
de dados se mostrou desaadora, devido ao número elevado de mudanças
organizacionais que ocorreram na estrutura do Departamento de Saúde
Mental nos últimos 35 anos. Contudo, contamos com a colaboração dos
integrantes da Associação de Voluntariado Franco Basaglia (Associazione di
Volontariato Franco Basaglia)
3
. Esta registrou uma signicativa parcela de
voluntários”, oriundos de diversos países, que participaram e participam
ainda da prática triestina.
A Associação de Voluntariado Franco Basaglia disponibilizou,
em visita realizada pela equipe de pesquisadores em 2014, o registro de
247 brasileiros (dentre 484 registros de diferentes nacionalidades), que
frequentaram o Departamento de Saúde Mental de Trieste ao longo de
três décadas. Embora a fundação da Associação tenha ocorrido no ano de
1993, nos registros obtidos, constava registrada a presença de brasileiros
desde 1984. Por isso, consideraremos aqui os dados referentes ao período
de 1984 a 2014. A adesão à Associação, vale ressaltar, delineia um universo
que não é exaustivo. Nem todas as presenças e participações se converte-
ram em inscrições nesta Associação. No entanto, ela delineia um conjunto
que pode ser tratado como uma amostragem quantitativa e qualitativa, que
se articulava a um esforço organizativo sistemático. Não existem, por outro
lado, outros registros formais da presença dos colaboradores estrangeiros,
sem vínculo empregatício, em Trieste.
Identicamos também que os primeiros visitantes e voluntários
brasileiros começaram a frequentar Trieste já a partir do nal da década
 Agradecemos a Carla Prosdocimo que colaborou no acesso à documentação em Trieste.
271
Boas práticas
de 70, quando não havia nenhuma preocupação com seu registro formal.
No entanto, nos registros da Associação de Voluntariado, como enfatizou
Carla Prosdocimo, encontram-se registrados tanto usuários dos serviços de
saúde mental de Trieste, como importantes nomes da Reforma Psiquiátrica
italiana: Franco Rotelli, Peppe Dell’Acqua, Giovanna Del Giudice e Mi-
chele Zanetti (entre os sócios fundadores) e Franca Ongaro Basaglia (entre
os sócios honorários).
Para obter maior número de informações e contornar a limitação
dos dados do arquivo a respeito da participação brasileira, foram realizadas
algumas entrevistas com ex-voluntários e com os três diretores do Depar-
tamento de Saúde Mental de Trieste desses últimos trinta anos.
Na listagem elaborada pela Associazione di Volontariato Franco
Basaglia de Trieste sobre o cadastro dos voluntários, na forma de três ar-
quivos, constavam as seguintes informações: nome; prossão; sexo; cidade
de origem; estado de origem; data de nascimento; ano do voluntariado; 1ª.
chegada / 1ª. partida; 2ª. chegada / 2ª. partida; 3ª. chegada / 3ª. partida.
Os dados desta listagem estavam, no entanto, incompletos, fora
de ordem e com algumas informações incongruentes. Por isso, durante o
trabalho de análise de dados, foi necessário reorganizar o material, retirar
duplicidades e pesquisar os dados inconsistentes.
Considerando o total de 484 inscritos da Associação, surpreendeu
a constatação de que mais da metade dos seus membros registrados fosse
composta por brasileiros. Isso sugere a relevância da experiência de volun-
tariado em Trieste e congura uma presença muito especíca, do ponto de
vista de identidade, na prática do Departamento de Saúde Mental triestino.
Por se tratar de uma referência mundial na luta antimanicomial,
a rede de saúde mental de Trieste recebeu, anualmente, ao longo dos anos
citados, um grande número de interessados entre pesquisadores, estudan-
tes e prossionais de várias áreas e nacionalidades. A vinculação propiciava
conhecer e experimentar este modelo substitutivo aos hospitais psiquiátri-
cos, implementado a partir do início década de 70 (AMARANTE, 1996;
BARROS, 1994; GOULART, 2007).
No entanto, os brasileiros e as brasileiras, sempre de nível supe-
rior de escolaridade, conguraram com uma média de 8 por ano. Apesar
SADE, R. M. S. (Org.)
272
do número variar de ano a ano, se considerarmos a presença constante,
congura-se um ator social e coletivo bastante regular, sinalizando con-
tinuidade nas ações e interesses, mesmo que sem o amparo de nenhum
tipo de convênio institucional: auto custeados em sua grande maioria
e, em poucos casos, com bolsas de pesquisa vinculadas a instituições de
ensino brasileiras.
perfIl dos e dasvoluntárIos
Identicamos que os voluntários brasileiros em questão eram
predominantemente do sexo feminino, sendo 74% dos associados volun-
tários em contraste com 21% do sexo masculino. Em 5% não foi possível
identicar o gênero a partir do nome disponibilizado apesar das buscas nas
plataformas lattes e outros sites de internet.
Na investigação sobre os estados brasileiros de origem destas pes-
soas, destacou-se uma grande ocorrência de paulistas: 52%. O segundo
estado da federação mais presente no relato dos voluntários foi o de Minas
Gerais. Os mineiros representam 9% dos voluntários em Trieste. O Rio de
Janeiro aparece como o terceiro estado, com 6%. Chamou, no entanto, a
atenção da equipe, a pluralidade de estados e regiões. Tais dados apontam
que esse “voluntariado”, ocorrido em Trieste, contou com a participação
de brasileiros originários de quase todas as regiões do Brasil, contemplan-
do 15 estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do
Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Hipotetizamos que a maior ocorrência de voluntários da região
sudeste seja consequência do legado de Franco Basaglia nesta região, reali-
zando visitas e conferências nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro
e São Paulo, apesar ter visitado outras cidades como: João Pessoa, na Paraí-
ba, e Salvador, na Bahia.
No que se refere à formação destas pessoas, congurou-se um inte-
ressante cenário. Para 91% dos nomes que conseguimos vericar, foi possível
identicar 12 tipos de formações em diferentes áreas. São elas: psicologia
(44%), terapia ocupacional (19%), medicina psiquiátrica (9%), enferma-
gem (8%), serviço social (2%), medicina (2%), artes plásticas (2%), educa-
273
Boas práticas
ção física (2%), biologia (1%), ciências sociais (1%), turismo (1%) e geolo-
gia (1%). Em 9% dos casos não foi possível identicar a prossão.
As formações que apareceram com maior evidência foram as da
área da saúde: psicologia, terapia ocupacional, enfermagem, medicina psi-
quiátrica. O principal destaque é para a psicologia. No entanto, trata-se de
um leque bastante amplo que indica a dimensão interdisciplinar da prática
em saúde mental de Trieste, com seus diversos projetos culturais e artísticos
de inclusão social.
Assim, o espaço de prática ofertado em Trieste operava como
uma estratégia de formação complementar para os prossionais. O cur-
rículo ofertado no Brasil tinha, até os recentemente, especialmente para a
psicologia, grande enfoque clínico individualizado, voltado para o consul-
tório privado, com poucas referências à saúde mental e ou às políticas em
saúde pública de um modo geral. Dessa maneira, podemos inferir que o
modelo de Trieste serviu de referência para aqueles que buscavam respostas
renovadoras para a realidade brasileira que superava o longo período de
ditadura militar.
Devemos considerar também a importância do terapeuta ocupa-
cional. Apesar de não ter sua relevância bem explicitada e documentada
na Reforma psiquiátrica brasileira, os dados analisados de Trieste parecem
indicar o contrário. Os terapeutas ocupacionais constituíram uma das re-
presentações mais numerosas (19%), após a dos psicólogos (44%).
Em relação à idade dos voluntários, foi possível inferir algumas
informações. Através da data de nascimento e da data da primeira chegada
a Trieste, foi possível projetar, de forma aproximada, a idade dos prossio-
nais por determinada época. Identicamos a média de 28 anos de idade,
sendo que a grande presença é a de jovens adultos com idade que variava
entre 24 a 30 anos, representando um total de 126 registros identicáveis,
ou seja, quase metade do total. Esta faixa etária seria coerente com a de
recém-graduados, pós-graduandos e jovens prossionais. Mas, além disso,
pudemos destacar outras informações: 41 pessoas eram muito jovens, com
menos de 23 anos. Por outro lado, identicamos outras 25 pessoas com a
idade entre 31 a 36 anos, e 20 pessoas entre 37 e entre 42 anos, e por m
9 pessoas com idade entre 43 a 48 anos. Este último grupo se consolida
SADE, R. M. S. (Org.)
274
como mais maduro e experiente, totalizando 54 pessoas, que poderiam es-
tar prossionalmente bem estabelecidas e ser esta uma informação indica-
tiva de construção de vínculos particularmente consequentes: professores,
pesquisadores e gestores públicos.
No que concerne ao tempo de permanência, a média de dias do
conjunto de prossionais voluntários em Trieste foi de 138 dias: cerca de
4 meses e meio.
Se considerarmos os períodos acima de três meses (52%), se con-
gura outro tipo de inserção que poderíamos qualicar como mais com-
prometida ou atenta do que a metáfora do voluntariado indica. Aumenta a
possibilidade do exercício de prossionais capazes de efetivamente se apro-
priar do cotidiano e do conhecimento.
É necessário ressaltar que boa parte do pessoal vinculado ao
voluntariado permanecia por cerca de um mês (21%): um período ra-
zoavelmente curto, que indica a realização de, praticamente, uma visita
técnica aprofundada.
Outro dado examinado se refere à distribuição de voluntários
por ano, indicando os períodos de maior presença. A grande participação
de brasileiros e brasileiras ocorreu nos anos 1980 (26%) e 1990 (59%).
Esta informação pode ser indicativa também da disseminação das ideias
de Franco Basaglia e o aprofundamento da cooperação com os italianos.
Trata-se de uma presença numerosa e permanente por duas décadas, com
claro declínio após o nal dos anos noventa (15%), quando se inicia a ins-
titucionalização da Reforma psiquiátrica brasileira, com a intervenção na
Casa de Saúde Anchieta, ocorrida na cidade de Santos (São Paulo), o sur-
gimento das legislações estaduais (Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará
e Minas Gerais), dos dispositivos de atenção em saúde mental substitutivos
aos hospitais psiquiátricos: os CAPS, os NAPS, os CERSAMS, os Centros
de Convivência e outros.
Sobre o declínio da presença brasileira, este pode ser identicado
a partir do ano 2000, após a construção e aprovação da Lei federal 10.216,
sancionada em 2001, inspirada na lei italiana 180/1978 que compunha a
legislação de Reforma sanitária. A nova rede de serviços de saúde mental
substitutiva aos hospitais psiquiátricos gerou demanda por prossionais
275
Boas práticas
e passou a ofertar a possibilidade da prática de desinstitucionalização, de
fato, no Brasil.
Faz-se necessário indicar como relevante, também, as mudanças
nas condições de ida e permanência para esses prossionais. Nas duas pri-
meiras décadas, 80 e 90, havia possibilidade de alojamento nos pavilhões
desativados do Hospital Psiquiátrico de Trieste (San Giovanni). Conside-
ra-se também as diculdades enfrentadas pelos estrangeiros e a Associazione
di Volontariato Franco Basaglia, devido à nova política de imigração estabe-
lecida na Itália em 2002. A conhecida como Lei Bossi-Fini, que atualiza a
Lei Turco-Napolitano de 1998, acarretava na burocratização da obtenção
de vistos e de permanência no país numa situação de informalidade carac-
terizada pelo vínculo através do voluntariado.
Além disso, em torno dos anos 2000, se desenvolveu, no Brasil,
uma rede de serviços de saúde mental alternativos aos hospitais psiquiátri-
cos. Assim, é possível supor que um dos motivos da signicativa queda dos
números de voluntários brasileiros em Trieste, a partir deste período, de-
corra a uma possível diminuição do interesse, já que práticas semelhantes
passaram a ser ofertadas nas instituições de saúde mental brasileiras.
Assim, a metáfora do voluntário, e mesmo a dos “caminhantes”,
cede lugar ao prossional comprometido, aos militantes que se empenham
na incorporação de know-how para a construção ativa da Reforma psiquiá-
trica brasileira. Mas não apenas: ocorreram também casos relevantes de
prossionais que optaram por permanecer na Itália e participar ativamente
da rede de saúde mental, como veremos em seguida.
É possível que, a presença de tantos psicólogos, terapeutas
ocupacionais e tantos outros prossionais, tenha também contribuído
para o estilo da prática triestina, ao longo dos anos, fortalecendo o cará-
ter interdisciplinar dos operadores sociais e agregando a atitude ativista
e o olhar clínico.
a “venturaem trIeste: atravessando o oceano
Para descrever a qualidade da experiência do voluntariado reali-
zado, apresentaremos três casos, dentre as 36 entrevistas realizadas. Inicial-
SADE, R. M. S. (Org.)
276
mente, compartilharemos o depoimento de duas voluntárias, de São Paulo
e Minas Gerais, respectivamente, cujo depoimento enriquece o perl até
então delineado. Trata-se de uma psicóloga e a outra assistente social, que
permaneceram na Itália, aderidas ao projeto basagliano e trabalhando com
a Reforma (ambas entrevistadas). Na sequência, tomaremos o caso de um
psicólogo, que retornou ao Brasil, seguindo um percurso acadêmico que se
organiza a partir dos desaos da desinstitucionalização italiana e brasileira.
Os dois primeiros casos ilustram a experiência dos anos 80 e
90, além de informar sobre a opção pela permanência na Itália. Optamos
aqui por não apontar para os nomes notórios do ponto de vista institu-
cional e já amplamente conhecidos. Procuramos deslocar a atenção para
os casos de “pessoas comuns” tal como foi o perl delineado através da
Associação de Voluntariado: presenças sem visibilidade,que conguram
testemunhos densos, que qualicam o fenômeno da presença brasileirae
atestam a radicalidade da aderência pessoal ao projeto triestino. Já o úl-
timo caso retoma o conteúdo de uma dissertação de mestrado que nos
remete a um período sucessivo e mais recente de experiência no volun-
tariado, em que a vitalidade política dá lugar à reexão sistemática. No
entanto, trata-se de um prossional que retorna ao Brasil para constituir
sua vida prossional. As entrevistas e o relato ilustram bem a densidade
da experiência vivida em Trieste: desde a disposição ao desconforto da
incerteza da vivência da condição de estrangeiros até a construção de um
lugar, permanente ou provisório, no diálogo com a Reforma Psiquiátrica
italiana ou mais além.
1) a psIcóloga
O extenso depoimento da psicóloga congurou-se uma rica des-
crição. Mineira, natural da cidade de Sete Lagoas, esta psicóloga se graduou
em Belo Horizonte (capital de Minas Gerais), após ter frequentado duas
instituições de formação diversas, o Instituto Newton de Paiva Ferreira e a
Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC).
Vale registrar que a formação desta psicóloga remete, segundo
ela, a “referências em matéria de militância, neste campo, que eram in-
uenciadas pelas críticas ao manicômio”. Refere-se a conteúdos críticos
277
Boas práticas
às instituições psiquiátricas muito relevantes, nos anos 80: as reportagens
veiculadas pela imprensa mineira intitulada ”Nos Porões da Loucura”, de
Hiram Firmino (1982), o documentário “Em nome da razão”, de Helvécio
Ratton, e todo um conjunto de fontes que remetiam ao movimento dos
psicanalistas argentinos do grupo Plataforma (como Armando Bauleo) e
aos autores franceses da Análise Institucional (como René Lourau).
A psicóloga relatou que sua primeira experiência e indignação
com os hospitais psiquiátricos se deu ainda quando atuava na Secretaria do
Trabalho e Ação Social do estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, na
assistência a adultos moradores de rua, que transitavam muito frequente-
mente pelos manicômios.
Antes de optar denitivamente pela Itália, a psicóloga mineira
trabalhou também, durante alguns anos, na Secretaria do Menor, no mu-
nicípio de São Paulo desenvolvendo um projeto especico com os, então,
chamados “meninos de rua”.
A sua aproximação com a Itália aconteceu depois de conhecer
alguns prossionais brasileiros que haviam sido “voluntários” em Trieste,
e traziam novidades sobre a experiência italiana. Sua opção pelo volun-
tariado, ocorre quando militava no Movimento Antimanicomial, tendo
participado, em 1987, do Congresso Nacional de saúde mental em Bauru/
SP. Em fevereiro de 1989, ela decide “atravessar o oceano”.
Em Trieste, a jovem psicóloga mineira se deparou com uma si-
tuação inicial que chamou de “caótica” e, conjuntamente com outros bra-
sileiros, organizou assembleias entre os voluntários, reivindicando maior
organização e melhores condições de moradia e aprendizado.
No entanto, com o passar do tempo, esta psicóloga, desaada
pela prática triestina, conclui que “o voluntariado, desde o início da Re-
forma psiquiátrica, foi uma ação política e social, uma militância”. Ela
viu, como protagonistas, várias guras não só de prossionais da área de
saúde mental, mas, “cidadãos comuns que acreditavam naquela luta, na-
quele ideal”. Trata-se de uma denição que dispensa comentários e remete
a compreensão dos desaos ali empreendidos.
A voluntária, de Minas Gerais, relata que a situação era desorga-
nizada, mas que a direção dos serviços de saúde mental optava por receber
SADE, R. M. S. (Org.)
278
a maioria das pessoas que faziam pedidos de voluntariado, pois queriam
que fosse uma prática aberta e inclusiva. A política era a de receber todos
que quisessem participar sem qualquer tipo de seleção.
Esta sua reexão nos mostra com clareza os laços de solidarieda-
de e de cooperação existentes na experiência triestina, projetando a gura
do voluntário em uma lógica de militância e generosidade. Porém, nos
evidencia um sofrimento especíco e uma importante identicação com
o “outro” que nos ameaça – uma identicação que une o louco e o estran-
geiro (extracomunitário). Segundo ela:
Eu pude perceber a importância daquela abertura, pois com o tempo
pude observar a importância das diferenças que cada um de nós,
cidadãos de várias partes do mundo, traziam consigo. Importantes
porque diversos. Diversos: como eram também os usuários dos
serviços de saúde mental. E estávamos ali para aprender a lidar com a
diversidade. Eu ainda era pouco consciente de que aquela diversidade,
nossa, dos usuários, uns dos outros, nos levaria ao conhecimento de
uma nova forma de agir que se baseava na “complexidade”. Complexo
porque diferente, porque novo, porque único, porque subjetivo. Daí a
necessidade de respostas complexas, fora dos padrões preestabelecidos.
Logo percebi também que a aceitação da diversidade não era uma ideia
dominante na sociedade triestina, pois era notória a discriminação
da população para com os “pacientes”’ psiquiátricos. Em situações
públicas, como nos ônibus, escolas, repartições públicas, era comum
ouvir comentários e críticas aos serviços de saúde mental, preferindo
os velhos hospitais psiquiátricos e atribuindo aos atuais serviços uma
desassistência aos doentes mentais. Se tratava de uma luta pelos direitos
das pessoas portadoras de sofrimento mental e o que os novos serviços
propunham era uma assistência de fato: respeitando os direitos de
cidadania dos usuários, direitos de participação, de ter voz, de poder
ocupar espaços públicos, contrariando a antiga lógica de exclusão e
sequestro da pessoa. Confesso que, às vezes, em espaços públicos
de Trieste, me sentia no mesmo barco dos usuários e duplamente
discriminada. De uma parte, por impor a presença de uma pessoa
diversa” (um usuário), e, de outra, por ser eu mesma “diversa” (uma
estrangeira naquela época – os fenômenos de racismo e intolerância
eram já presentes).
Apesar do sentimento de exclusão por parte da sociedade italiana,
nossa entrevistada armou que, no Centro de saúde mental, havia grande
receptividade para com os chamados voluntários. Eles tinham a possibili-
279
Boas práticas
dade de se expressar como prossionais e desenvolver diversas atividades
com grupos de jovens usuários ou grupo de mulheres. Ela nos recorda o
seu trabalho:
Se fazia terapia, acompanhando no aprendizado social como pegar um
ônibus (criando autonomia de movimento), ajudando a utilizar uma
repartição pública para fazer uma inscrição, pagar uma conta, receber
salários, mediando a relação com a família, ajudando a organizar
uma jornada ou um divertimento, procurando construir um projeto
de trabalho e etc. Ou seja, aqui a criatividade era a grande aliada da
complexidade, pois, para cada pessoa, cada situação, precisava inventar
uma nova resposta, uma nova sugestão, uma nova ideia.
Em um outro contexto, a jovem psicóloga, nos relata a sua par-
ticipação em um outro tipo de experiência e participação, em um “grupo
apartamento”, uma residência protegida, com duas jovens usuárias italia-
nas, de pouco mais de 20 anos, com diagnóstico de esquizofrenia grave.
O trabalho no grupo apartamento se mostrava bastante desaador, pois se
convivia “constantemente com o delírio, a obsessão e a repetição do coti-
diano”. O cotidiano de trabalho era difícil:
Tudo era feito em companhia das duas usuárias, seja dentro de casa,
nas atividades diárias (cozinhar, limpar, lavar, organizar armários etc.),
tentado envolvê-las o máximo possível, como também nas atividades
externas, tais como: fazer compras, visitar as próprias famílias, tentar
inserção em atividades esportivas ou culturais etc.
Ela, particularmente, enfrentou situações de risco e grande tensão
emocional. Sentiu falta de uma supervisão com perspectiva clínica, apesar
do apoio que havia por parte do Centro de saúde mental. Relatou descon-
forto em relação ao que identicou como uso excessivo de psicofármacos.
A entrevistada nos aponta para um episódio muito importante
para o desenvolvimento e o estreitamento das relações entre Brasil e Itália.
Após visita ao Brasil, o psiquiatra Franco Rotelli, então diretor do departa-
mento de saúde mental de Trieste, teria percebido uma carência de mate-
rial bibliográco referente ao pensamento de Franco Basaglia. Segundo ela,
Ao retornar a Trieste, ele convidou os voluntários brasileiros para uma reu-
nião onde “nos informou da sua visita e nos propôs um trabalho de seleção
SADE, R. M. S. (Org.)
280
e tradução de textos a serem publicados no Brasil, em colaboração com os
serviços de Trieste”. Assim, delineou-se ainda um outro tipo de atividade,
de natureza intelectual “Tivemos ainda o privilégio de entrevistar o diretor
Franco Rotelli, sobre a Reforma psiquiátrica triestina, mas principalmente
sobre as condições atuais (daquela época) dos serviços, o que daria ao nosso
livro um caráter não somente histórico, mas também atual”.
Encerrando o caso paradigmático desta psicóloga recém-formada
e militante da luta antimanicomial, ca a questão relativa às consequências
da experiência de voluntariado. Após trabalhar durante algum período em
Trieste, sem nenhum reconhecimento formal, esta prossional se desloca,
a convite do diretor do Departamento de Saúde Mental de Ímola, para
outra prática de desinstitucionalização em território italiano, com víncu-
lo empregatício formalizado e renumerado como “operadora social”, no
qual permaneceria por mais de dez anos. Mesmo assim, nos muitos anos
de trabalho com saúde mental que se seguiram na Itália, ela não teve sua
prossão e formação em psicologia formalmente reconhecidas. Trabalha
atualmente como autônoma, sem vínculos com a Reforma psiquiátrica na
Itália. Porém, colabora, como pesquisadora, com as reexões sobre a saúde
mental brasileira e italiana comointegrantedo grupo de Psicologia Demo-
crática do CNPq, vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais.
2) a assIstente socIal
Dando consistência à presença prossional brasileira e feminina
em Trieste, tomemos o caso de uma assistente social, que permaneceu na
Itália e atualmente integra o Departamento de Saúde Mental de Trieste.
Ela chegou em Trieste, em fevereiro de 1988. Sua formação ocor-
reu na Escola de Serviço Social de Lins – São Paulo, onde já lidava com
os temas da psiquiatria social e da saúde mental. Nessa época, já tinha
conhecimento da dura realidade dos manicômios brasileiros. Era ocasião
de denúncias e, assim como a psicóloga, teve contato com os escritos de
Alfredo Moatt, o livro Psicoterapia do Oprimido (1984), que, para ela,
fora uma cartilha, assim como para tantos outros autores latinoamericanos
nos anos 80.
Formou-se no Brasil, em 1983 e seguiu para a cidade de São Pau-
281
Boas práticas
lo, onde em 1984, começou a trabalhar na Clínica Psiquiátrica do Hospital
das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP). Em dezembro de
1986, ela e seu grupo de trabalho do hospital zeram uma viagem à Ar-
gentina, para participar do Encontro da Rede de Alternativas à Psiquiatria
(RÉSEAU) em Buenos Aires. Lá, ela conheceu Franco Rotelli e a experiên-
cia triestina compartilhada pelos italianos. Assim, despertou a vontade de
conhecer essa experiência de perto. Ela já ouvira falar da experiência italia-
na. Paralelamente à organização deste evento, nascia o Movimento de Luta
Antimanicomial, do qual essa assistente social participou ativamente. Co-
laborou com o evento, em 1987, em Bauru, que foi um marco histórico, o
II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental. Neste evento,
foi lançada a palavra de ordem do movimento antimanicomial brasileiro:
por uma sociedade sem manicômios”. Em função disso e de pressões po-
líticas no Hospital das Clínicas, a ativista paulista se demite e segue para a
Itália, na perspectiva da abertura de horizontes.
Esta paulista aportou em 1988, acompanhada de outra colega
brasileira, em Trieste, no ex-Manicômio San Giovanni. Porém, se lembra,
assim como a psicóloga entrevistada, que não havia lugar para carem
quando chegaram. A estrutura de alojamento era desorganizada e não ha-
via um quarto para hospedagem dos voluntários. Porém, o trabalho da
equipe do Centro de saúde mental para qual foi endereçada era “fantásti-
co”, conforme relatou. E Trieste logo se revelou, diferentemente da psicó-
loga, como uma cidade receptiva, onde planejou car por um ano que se
converteram em uma vida.
Entre 1989 e 1990, ela retornou brevemente a São Paulo, onde
trabalhou por cerca de um ano. Porém, decidiu voltar para Itália logo de-
pois. Como desdobramento deste retorno, em 1994, ela foi para a Grécia,
para trabalhar no projeto de intervenção no manicômio de Leros, inte-
grando a equipe técnica em um projeto de Trieste (com nanciamento
europeu), e permaneceu lá por um ano. Depois deste período, na Grécia, é
que ela retornou para a Itália decidida a permanecer.
Começou, então, estimulada pelos italianos, a traduzir os docu-
mentos e papéis sobre a sua experiência no voluntariado. Como conse-
quência, teve início um período produtivo mais consistente, de caráter aca-
dêmico: uma nova inscrição na universidade italiana (teve que passar por
SADE, R. M. S. (Org.)
282
quatro exames e fazer a monograa de graduação – tesi di laurea – para o
reconhecimento de seu diploma brasileiro em Serviço Social). Ela escreveu,
no nal do processo, um livro sobre sua monograa, que foi recentemente
publicado pela editora Collana 180, “Guarire si può: persona e disturbo
mentale cuja tradução seria “Melhorar é possível” (MARIN; BON, 2012).
Em março de 2004, começou a trabalhar com cooperação social,
sendo aprovada em um concurso público e até hoje está fortemente inseri-
da nos serviços de saúde mental de Trieste, como assistente social, na equi-
pe de reabilitação, Servizio Abilitatizione e Residenze (SAR) –, uma unidade
do Departamento de saúde mental com interface com todos os centros de
saúde mental, cooperativas, associações e centros diurnos. Foi inserida em
uma equipe que dá retaguarda na questão dos projetos terapêuticos, das
residências, da reabilitação psiquiátrica, dos processos de inclusão.
Essa assistente social, que também optou pela Itália, entende que
a história de desinstitucionalização italiana que foi fortemente marcada
pela colaboração dos voluntários. As pessoas, a seu ver, iam com uma sig-
nicativa “clareza das coisas”, movidas por interesses políticos, com mo-
tivação para fazer o trabalho libertador. Esse voluntário era alguém com-
pletamente disponível ao serviço. Era difícil, porém, segundo ela, propor
alguma mudança de projeto terapêutico elaborado pelas equipes italianas.
No entanto, sua experiência, particularmente com o trabalho em grupo
apartamento, envolvia grandes responsabilidades.
O voluntariado brasileiro construiu, segundo esta entrevis-
tada, “uma relação internacional forte, entre os dois países [Itália e
Brasil]”. Foi uma relação que provocou mudanças no Brasil e grandes
conquistas. Para Itália foi a possibilidade de reconhecimento interna-
cional, a “capacidade de reproduzir no Brasil, o que não se conseguiu
no restante da Europa”. A assistente social reconhece que, no Brasil,
há, atualmente, um esforço enorme em fechar os manicômios, e ela
não vê esse esforço no restante dos países europeus, que agora possuem
manicômios reestruturados, mas que ainda se mantém como institui-
ções totais com novas roupagens. Essa experiência de voluntariado pos-
sibilitou, segundo ela, uma relação intercontinental que existe até hoje
e que se modica com o tempo.
283
Boas práticas
A assistente social paulista, que construiu sua cidadania italiana,
concluiu sua entrevista com uma reexão bastante interessante, no que
diz respeito a sua identidade: não se reconhece atualmente “nem como
brasileira e nem como italiana”, e não sabe como explicar isso. Conquis-
tou um reconhecimento prossional, mas, as pessoas com quem trabalha
atualmente, sabem que ela é brasileira, mas não sabem da sua experiência
pregressa no Brasil. Sua origem cou “sacricada”. Fica a impressão de que
tudo começou apenas na Itália e não é bem assim. Atualmente, ela diz per-
manecer com a identidade prossional brasileira, trabalhando com grupos;
com empowerment, enfrentando o poder psiquiátrico. Todavia para ela, a
Itália se constitui um país dominante no campo da saúde mental em razão
de sua receptiva cultura antimanicomial.
3) o psIcólogo
Passemos a um relato, que nos projeta em 2002 e de alguém que,
como a grande maioria dos voluntários, retornou ao Brasil, onde exerce a
sua prossão atualmente, investindo concomitantemente na vida acadê-
mica. Sua experiência em Trieste tomou a forma de uma dissertação de
mestrado (BUENO, 2011). Trata-se de um psicólogo mineiro, formado
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Ele
relatou, em sua dissertação, uma experiência de voluntariado de 8 meses,
que teve início em março de 2002. Posteriormente, ele retornou à Trieste,
brevemente, em 2004, com objetivos acadêmicos de conclusão de sua pós-
-graduação (mestrado em psicologia).
A dissertação que resultou deste processo foi defendida em 2011,
com o título: “O pensamento de Franco Basaglia e a estruturação da de-
sinstitucionalização na psichiatria democratica italiana vistos por um brasi-
leiro”. Nela, ele se detém sobre sua vivência como voluntário, ao longo de
um extenso capítulo, remetendo-se a Trieste como um símbolo da Refor-
ma basagliana. Neste trabalho, ele descreve e discute sua prática de “acom-
panhante terapêutico” de usuários, revelando suas diculdades e a riqueza
do trabalho, além de descrever os serviços da rede de saúde mental italiana.
O deslocamento deste prossional, posterior ao ano 2000, se fun-
da em interesses muito diversos. Já não se trata especicamente de uma
SADE, R. M. S. (Org.)
284
motivação militante, e sim, de um interesse, pessoal, de formação pros-
sional, particularmente vinculadas a inexistência do hospital psiquiátrico,
aos modelos de residência para os usuários e à prática do que ele qualica
como “acompanhamento terapêutico”:
Me instigavam relatos de trabalhos feitos em “casas na cidade” que
dispensavam a permanência das pessoas em hospitais, além de atividades
das mais diversas, como cursos de formação prossionalizante e inserção
dos usuários em cooperativas sociais, onde muitos trabalhavam após
encaminhamento das equipes de saúde mental. (BUENO, 2011, p.85).
Ele cita Passos (2009), que critica a recepção dos estagiários:
[...] [a pessoa] sabe apenas a qual dos sete 23 CSM da cidade cará
vinculado. Muitos, nessa situação liberalizada, acabam se perdendo em
outros atrativos da cidade e esquecendo o trabalho para o qual foram
até lá. Outros acabam desistindo, pela incapacidade de se darem, a si
e por si mesmos, um lugar interessante na rotina do trabalho, ou por,
nalmente, se surpreenderem desempenhando um papel estereotipado
e empobrecido de meros acompanhantes de pacientes em suas rotinas
diárias (saídas para compras, organização pessoal e da casa etc.)
(BUENO, 2011, p. 87, apud PASSOS, 2009, p. 160).
Ele reclama da falta de estatuto formal para o voluntário, mas
conclui, com Barros (1994), que: “Os espaços não são apresentados ao
recém-chegado, que deve procurar a ‘sua Trieste’. Tudo dependerá do que
veio buscar e da disposição em criar um lugar próprio” (BUENO, 2011, p.
88, apud BARROS, 1994, p. 22).
A informalidade do primeiro impacto é superada pela riqueza do
inesperado e pela complexidade da cena que se descortina. Inovar, inventar
e criar, são palavras recorrentes, segundo ele, na prática italiana. Ele cita,
em particular, o grupo musical Berimbau, como um exemplo de espaço
inclusivo, onde ocorria a não diferenciação entre usuários e sta. O nome
do grupo não deixa dúvidas acerca do legado da cultura brasileira na Re-
forma italiana.
Esse psicólogo, atualmente, vive no Brasil e segue com sua prática
prossional privada e com sua formação acadêmica. A sua tese de mestrado
testemunha um padrão de voluntariado que atravessa décadas e persevera
285
Boas práticas
na proposta de uma inserção desaadora e rica para aqueles que estiverem
dispostos a construir.
hIstórIas de construção do tratamento em lIberdade
São muitas as histórias que falam sobre a experiência do foi cha-
mado de “voluntariado” em Trieste: às vezes em sintonia entre si, outras,
em plena discordância. Permanece, todavia, a importância da participação
dos brasileiros e brasileiras dando vida aos percursos e conexões entre su-
jeitos e instituições de diferentes países.
Trata-se de uma participação numerosa, constante e ativa. Esta,
se congura através da prática clínica, da sustentação de cotidiano assisten-
cial, da contribuição nas frentes de reinserção e reabilitação psicossocial,
no compartilhamento de material informativo e nas atividades culturais e
políticas da Reforma psiquiátrica italiana ocorridas em Trieste.
Com o levantamento destas informações, delineia-se a gura de
um voluntariado que sustentou, ao longo de décadas, diversos projetos
prossionais e políticos. Muitos deles compartilharam sua potência, ca-
pacidade crítica e inventividade na atenção à saúde mental triestina e em
outras localidades italianas que este artigo não se propôs a abordar.
Os dados estatísticos correm o risco de delinear um retrato este-
reotipado, se não é integrado e interpretado através do testemunho de seus
protagonistas. Acontece, neste caso, uma característica relevante: aquela
de um sujeito que, através da prática, às vezes difícil e contraditória, se
projeta na expectativa de construção de mudanças institucionais possíveis
e concretas. É um quadro extremamente rico e complexo, que se abre criti-
camente, perguntando, de maneira geral, acerca dos valores da prática, do
signicado da formação, do aprendizado através do envolvimento pessoal
e a força da militância na construção de políticas sociais.
A nossa pesquisa demonstra como os brasileiros e as brasileiras,
em Trieste, representaram, sem dúvida, uma fonte de enriquecimento co-
letivo, porém é clara a exigência de se desenvolver melhor a oportunidade
ofertada através desta cooperação. É o que nos demonstra a experiência da
psicóloga e da assistente social que relatamos.
SADE, R. M. S. (Org.)
286
As suas histórias, com diferentes resultados, nos mostram o difí-
cil e contraditório percurso por parte de alguns de nossos prossionais na
Itália. De fato, no início não puderam se posicionar dentro dos serviços, de
modo prossional, mesmo se na realidade praticassem com riqueza o que
traziam como bagagem e aprendizado brasileiro.
A assistente social teve que refazer todo o seu percurso de for-
mação prossional, pela diculdade burocrática do reconhecimento for-
mal de seu título de graduação obtido no Brasil e a psicóloga teve que
trabalhar em uma condição que não condizia com a sua qualicação,
apesar de ter realizado uma inserção consistente em uma ONG. O psicó-
logo, quando voltou ao Brasil, conseguiu colher frutos de sua experiência
triestina, através de publicações acadêmicas, tematizando a prática anti-
manicomial e sua teoria.
Por intermédio desta pesquisa delineia-se uma perspectiva, a ser
investigada, sobre a inuência que os prossionais, os pesquisadores e os
estudantes de graduação e pós-graduação, “voluntários e voluntárias” em
Trieste, promoveram na luta antimanicomial no Brasil. Naturalmente, não
podemos nos esquecer do “peso” exercido por outros sujeitos, processos
históricos internos e escolhas políticas. Mas, devemos reconhecer que os
resultados obtidos foram possíveis em função da motivação e formação
de pessoas, que retornaram e se propuseram de levar adiante este novo
modelo desinstitucionalizador. Assim, o voluntariado resultou também no
desenvolvimento de trabalhos cientícos relevantes, que estão baseados na
experiência nos serviços de saúde mental de Trieste e reetem sobre ela
(VASCONCELOS, 1992; BARROS, 1994; GOULART, 2007; PAS
SOS, 2009). Alguns desses produtos foram, e ainda são, norteadores da
prática prossional no Brasil, como o exemplica as inúmeras contribui-
ções organizadas e escritas por Paulo Amarante (1996; Amarante; Basaglia,
2005) – o principal editor da obra de Franco Basaglia no Brasil. Não po-
demos também deixar de citar os estágios e visitas daqueles que, além de
divulgar e reetir sobre o processo de desinstitucionalização se tornaram
gestores da política de saúde mental brasileira, como Roberto Tykanori
Kinoshita, que é um exemplo elucidativo dentre tantos outros.
Do outro lado, parece claro que o processo da consolidação da
experiência triestina também foi inuenciado pela contribuição destes pro-
287
Boas práticas
ssionais que ensejavam uma criativa, corajosa e comprometida prática
– clínica e política – relevantes. Vários permaneceram “além-mar”, engaja-
dos nos projetos de reinvenção institucional italianos ou vinculando-se a
outras frentes antimanicomiais internacionais.
Substancialmente, é evidente o valor da reciprocidade, seja pelo
processo de desinstitucionalização realizado no Brasil, seja para a consoli-
dação da Reforma realizada na Itália. A prática do voluntariado, a maneira
no qual o voluntário, ou melhor, a voluntária, se dispôs a colaborar, desa-
ando modelos e expectativas, geralmente com muito entusiasmo e o seu
modo de aprender em situações participativas, foram características reco-
nhecidas por todos os três diretores do Departamento de Saúde Mental de
Trieste entrevistados. A conduta dos voluntários brasileiros foi fortemente
elogiada pela qualidade do trabalhado ofertado, pelas novas ideias que fo-
ram introduzidas, pela força de proposições culturais e pela importância
da troca afetiva. Estes foram elementos essenciais para a realização deste
relacionamento de conança e para uma autêntica construção de cultura
antimanicomial.
Concluímos reetindo sobre o convite inicial de Franco Basaglia,
que estimulou a ida dos brasileiros a Trieste. Interrogamo-nos se este pro-
cesso de troca e cooperação, assim como aparece em nossa pesquisa, pode
reduzir-se apenas em um simples momento de aprendizagem que respon-
dia ao chamado: “Venham para ver!”. Para além disso, sinaliza-se uma rica
e ativa contribuição, não apenas subjetiva, mas prossional. Aquilo que
ocorreu e ainda acontece na forma de cooperação signica, na grandeza da
liberdade de escolha que sustenta o voluntariado: “fazer juntos!”.
referêncIas
AMARANTE, P. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria.
Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996.
BARROS, D. Jardins de Abel: desconstrução do manicômio de Trieste. São Paulo: Ed.
USP, 1994.
BASAGLIA, F. Conferenze brasiliane. Milano: Raaello Cortina, 2000.
BASAGLIA, F; AMARANTE, P. (Org.). Escritos selecionados em saúde mental e Reforma
psiquiátrica. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
SADE, R. M. S. (Org.)
288
BUENO, R. C. O pensamento de Franco Basaglia e a estruturação da
desinstitucionalização na psichiatria democrática italiana vistos por um brasileiro. PUC
Minas, 2011. Dissertação (mestrado). Pontifícia Universidade Católica. Programa de
pós-graduação em Psicologia. Belo Horizonte, 2011.
DI FLORA, G. F. Direitos humanos x políticas migratórias: os centros de detenção
paraimigrantes na Itália. GT 22. Migrações internacionais: interações entre estados,
poderes e agentes. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 36., 2012, Anais...
Águas de Lindóia, SP, 2012. Disponibile in: <http://portal.anpocs.org/portal/index.
php?option=com_docman&task=doc_details&gid=8091&Itemid=217>. Acesso em: 4
jul, 2016.
FIRMINO, H. Nos porões da loucura. Rio de Janeiro: CODECRI, 1982.
GOULART, M. S. B. As raízes italianas do movimento antimanicomial. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2007.
GOULART, M. S. B. Relatório nal: a história da política de saúde mental. Minas
Gerais e vínculos com Itália. Belo Horizonte: FAPEMIG, 2014.
GOULART, M. S. B. et al. La presenza storica dei brasiliani nella pratica della salute
mentale di Trieste: “venite a vedere” o fare insieme? Fogli d’Informazione, v. 35-36,
luglio-dicembre, p. 16-27, 2015.
MARIN, I.; BON, S. Guarire si può: persone e disturbo mentale. Collana 180. Merano/
Itália: Edizioni Alphabeta, 2012.
MOFFATT, A. Psicoterapia do oprimido. São Paulo: Cortez, 1984.
NICÁCIO, F. AMARANTE, P. E BARROS, D. D. Postfazione: I movimenti per la
salute mentale in Brasile dagli anni Ottanta. In: BASAGLIA. F. Conferenze brasiliane.
Milano: Raaello Cortina, 2000.
PASSOS, I. F. Reforma psiquiátrica: as experiências francesa e italiana. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 2009.
VASCONCELOS, E. M. Do Hospício à comunidade: mudança sim, negligência não.
Belo Horizonte: SEGRAC, 1992.
289
Boas práticas
Sobre os autores
adelaIde lucImar fonseca chaves
Psicóloga de dupla nacionalidade: brasileira e italiana. Formou-se (1984)
pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC) de Belo Hori-
zonte/MG. Trabalhou no Centro de Triagem e Encaminhamento Social da
Secretaria do Trabalho e Ação Social de Minas Gerais, com a assistência aos
moradores de rua e posteriormente em São Paulo, como educadora de rua
com menores, na Secretaria do Menor do Estado de São Paulo. Participou
da constituição do movimento pela luta antimanicomial como ativista. A
partir de 1989, parte para a Itália para participar das iniciativas de volun-
tariado do Departamento de Saúde Mental de Trieste (Itália). Em 1992,
integrou-se nos Serviços de Saúde Mental da cidade de Imola (Itália), par-
ticipando do processo de reforma psiquiátrica ali desenvolvida. Trabalhou
em residências terapêuticas e um centro diurno, além e participar de to-
dos os eventos de promoção de cultura antimanicomial, como operadora
social, e colaborou na realização dos eventos formativos para Gestores de
serviços de Saúde Mental da América Latina que eram organizados pelo
Departamento de Saúde Mental de Imola: dois cursos patrocinados pela
Organização Mundial da Saúde (promovidos pelos Serviços de Saúde
Mental da Região da Emilia Romagna). Trabalhou ainda em projeto de
recuperação e salvaguarda da antiga biblioteca do ex-manicômio de Imola.
Participou da equipe de pesquisa sobre História da reforma psiquiátrica
mineira –conexão Brasil – Itália, executada pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e integra o Grupo de Psicologia Democrática do
CNPq. (lufonseca@libero.it)
SADE, R. M. S. (Org.)
290
ana Ines heller
Medica especialista en Psiquiatra UBA. Trabaja como psiquiatra de guardia
en el Hospital General de Agudos Dr. Teodoro Alvarez y en el Programa
ADOP-ADOPI (Dispositivo de Atención Psiquiatrica Psicologica Progra-
mada en situaciones de crisis) en la Ciudad de Buenos Aires. En ambos se
desempeña como integrante de equipos interdisciplinarios de salud mental
com psicólogos y trabajadores sociales. Participo del grupo organizador del
Café Basaglia (empresa social en salud mental) del 2011 al 2013. Colabo-
radora docente en las Practicas Hospitalarias de la Facultad de Psicologia
UBA. (aiheller@intramed.net)
clarIssa mendonça corradI-webster
Professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosoa, Ciên-
cias e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. É coordenadora
do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e Socieda-
de (LePsis) no qual são produzidas pesquisas na área de saúde mental, uso
de drogas e políticas públicas de saúde e também são realizadas interven-
ções, através de estágios para alunos de psicologia, em serviços públicos de
saúde mental. (clarissac@usp.br)
claudIa lópez mosteIro
Psicóloga (Universidad de Buenos Aires), Psicóloga Social (Primera Escue-
la Privada de Psicología social Enrique Pichon Rivière) y Doctora en Salud
Mental Comunitaria (Universidad Nacional de Lanús. Argentina). Ex Do-
cente de la Universidad Nacional de Lanús y de la Universidad de Buenos
Aires. Trabaja como Psicóloga en el CESAC 22 (Centro de Salud y Ac-
ción Comunitaria) dependiente del Hospital Durand, y en el AdoP-AdoPi
(Programa de Atención Domiciliaria Psiquiátrica-Psicológica Programada
en Situación de Crisis) ambos de la Ciudad de Buenos Aires. Participó
del grupo organizador del Café Basaglia (Empresa social en salud mental)
2011–2013. Ha obtenido en co-autoría el Premio Dr. Arturo Ameghino
1999 a la Investigación Clínica. Otorgado por el Centro de Salud Men-
tal Nº 3 Dr. Arturo Ameghino, por el trabajo de investigación: “Entre
291
Boas práticas
el imaginario social y sus instituciones, el lugar de la Salud Mental”. Ha
realizado rotaciones en servicios de salud mental y cooperativas sociales en
Andalucía, Bologna, Latiano, Trento (2012) y Trieste (2010). Obtuvo el
Primer Premio al trabajo: “Sobre los encierros”, en el Quinto Concurso In-
ternacional de Ensayo Breve 2014–2015, 25 años de la Revista Topia, en el
área Problemáticas en Salud mental. Autora del libro Trabajo vivo enacto.
Clínica de los encierros. Topia Editorial. 2015. Buenos Aires. Argentina.
(mariclolopezm@gmail.com)
eduardo augusto lo
Psicólogo clínico e Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia
da Faculdade de Filosoa, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universida-
de de São Paulo. Membro do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psico-
patologia, Drogas e Sociedade (LePsis). Pesquisa a relação do uso de álcool
e drogas com a saúde mental. (eduardoleaopsi@hotmail.com)
ernesto venturInI
Médico psiquiatra e Colaborador de Franco Basaglia no processo de
desinstitucionalização, em Gorizia e Trieste (Itália). Contribuiu ativamente
para o êxito da lei de reforma psiquiátrica na Itália. Desempenhou papeis
de responsabilidade na Saúdeblica na Região Emilia Romagna.
Colaborador de Universidades italianas e internacionais. Autor de alguns
livros de psiquiatria entre outros. Cooperou com a OMS (WHO) em
países da África. Acompanhou a reforma psiquiátrica brasileira desde
1992. (eventurini250@mail.com)
evarIsto pasquale
Medico psichiatra. Ex.Direttore SC CSM 3 del DSM dell’ ASS1 TS. –
Itália. Titoli Di Studio: Laurea in Medicina e Chirurgia ed abilitazione
all’esercizio della professione medica a Università di Torino nel 1978.
Specializzazione in Psichiatria a Torino nel 1983. Risultato idoneo alla
posizione apicale di Primario in Psichiatria nell’esame a Roma del 1990.
SADE, R. M. S. (Org.)
292
Iscritto all’Albo Psicoterapeuti di Trieste Capacità linguistiche scritte:
francese e inglese; scritte e parlate: spagnolo e portoghese. (pasqualino.
evaristo@gmail.com)
fernanda sousa vIeIra
Psicóloga, mestre e doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia
da Faculdade de Filosoa, Ciências e Letras e Ribeirão Preto, Universidade
de São Paulo. Membro do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psico-
patologia, Drogas e Sociedade (LePsis). Vem pesquisando temáticas em
saúde mental e sua relação com o consumo de drogas. Suporte: Conse-
lho Nacional de Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico - Processo nº
449623/2014-9. (fernanda.vieira1985@gmail.com)
gIuseppIna rIdente
Psychiatrist and has worked for the Trieste Mental Health Department
since 1981 – Director of the Rehabilitation, and Residences Operating
Unit, working especially on: continuous qualifying of community based
residential facilities; promotion of work skills and employment programs
for people in contact with mental health centers; active support to social
cooperatives to improve employment opportunity. Primary no center Do-
mio – Trieste/Itália. (pina.ridente@asuits.sanita.fvg.it)
henrIque galhano balIeIro
Psicológo, membro do Instituto Gregorio Baremblitt – Instituto Felix
Guattari e Conselheiro titular no CONEDH–MG Conselho Estadual
de Direitos Humanos (2016–2019). Atua como pesquisador nas áreas de
Saúde Mental e Migração. (henriquegb@gmail.com)
Izabel chrIstIna frIche passos
Professora Titular do Departamento de Psicologia, do Programa de Pós-
-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosoa e Ciências Humanas e
293
Boas práticas
do Mestrado Prossional de Promoção da Saúde e Prevenção da Violência,
da Faculdade de Medicina, da UFMG, líder do Laboratório de Grupos,
Instituições e Redes Sociais (L@GIR). Autora dos livros: “Reforma Psiquiá-
trica: as experiências francesa e italiana”, Ed. Fiocruz; “Loucura e Sociedade:
discursos, práticas e signicações sociais”, Ed. Argvmentym-Finotraço. Orga-
nizadora do livro “Poder, normalização e violência: incursões foucaultianas
para a atualidade”, Ed. Autêntica. (izabelfrichepassos@gmail.com)
Izabel marIn
Assistente social. Trabalha para o Departamento de Saúde Mental de Tries-
te desde 2004. Como voluntária, chegou à Trieste em fevereiro de 1988.
Publicou em 2012, junto com Silva Bon, Guarire si può. Persone e disturbo
mentale, um ensaio sobre percursos de recovery de pessoas com transtornos
mentais graves. Atualmente coordena um projeto pelo Departamento de
saúde mental Recovery House. (izabel.marin@asuits.sanita.fvg.it)
marIa alIne gomes barboza
Psicóloga, Mestre em Psicologia Social pela UFMG e doutoranda em Psi-
cologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFMG.
Analista de Políticas Públicas da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/
MG, membro do Laboratório de Grupos, Instituições e Redes Sociais (L@
GIR). (linepur@gmail.com)
marIa stella brandão goulart
Psicóloga social, natural de Belo Horizonte, Brasil. Tem doutorado em
Ciências Humanas – Sociologia e Política – pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), tendo realizado a pesquisa de tese durante estágio
na Universitàdegli Studi di Bolognae no Instituto Gian Franco Minguzzi
(Bologna, Itália). É mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Mi-
nas Gerais (UFMG), onde também se graduou, e é especialista em Saúde
Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENS/FIOCRUZ) e Escola
de Saúde de Minas Gerais (ESP MG). Leciona na UFMG, onde atual-
SADE, R. M. S. (Org.)
294
mente preside a Comissão Institucional de Saúde Mental. É fundadora e
foi a primeira coordenadora do Programa de Extensão em Atenção à Saúde
Mental (PASME). Lidera o Grupo de Pesquisa “Psicologia Democrática
do CNPq, congregando pesquisadores de diversas instituições e participa
do GT de História da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
em Psicologia (ANPEPP). As suas principais experiências de pesquisa e
docência se concentram na área de políticas públicas e sociais, com ênfase
em: Saúde Coletiva e Saúde Mental, Cultura, Educação, Orçamento Par-
ticipativo, Infância e Adolescência. É autora do livro “As raízes italianas
do movimento de luta antimanicomial”. Dentre diversas iniciativas de in-
vestigação e colaboração com as instituições de saúde mental italianas, a
professora coordenou as pesquisas: “A história da política de saúde mental:
Minas Gerais e vínculos com a Itália”, realizada entre 2012 e 2014, e o
convênio internacional de pesquisa com a UNIBO, Universidade de Bo-
logna, intitulado “Modelos de reabilitação psicossocial para usuários dos
serviços de psiquiatria: um confronto de experiências de Minas Gerais e
Emilia Romagna”. (goulartstella2011@gmail.com)
marIane capellato melo
Psicóloga e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Fa-
culdade de Filosoa, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade
de São Paulo. Membro do LePsis (Laboratório de Ensino e Pesquisa em
Psicopatologia, Drogas e Sociedade), realizando pesquisas sobre o campo
de álcool, drogas e construcionismo social. (marianecapellato@gmail.com)
marIlIna salvI antonellI
Psicóloga (Universidad de Buenos Aires), nalizó sus estudios de Posgrado
en Salud Social y Comunitaria dependiente del Ministerio de Salud de la
Nación. Coordina el Equipo de Salud Mental de la Dirección de Salud de
Capitán Sarmiento, Provincia de Buenos Aires. Trabaja como psicóloga
en el Hospital Municipal San Carlos de la Ciudad de Capitán Sarmiento,
Provincia de Buenos Aires. Participó del grupo organizador del Café Basa-
glia (Empresa social en salud mental) 2011–2013. Ha realizado rotaciones
en servicios de salud mental y cooperativas sociales en la ciudad de Trieste,
295
Boas práticas
Itália (2010). (marilinasalvi_antonelli@hotmail.com)
meIre lucI da sIlva
Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade de São Paulo (USP)
em 1995, mestrado e doutorado em Engenharia Biomédica pela Univer-
sidade de Mogi das Cruzes (2010) Atualmente Professora Assistente Dou-
tora do Curso de Terapia Ocupacional – Departamento de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional da Universidade Estadual Paulista UNESP/Marília.
Tutora da Residência Integrada Multiprossional em Saúde Mental da Fa-
culdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Experiência na área de Te-
rapia Ocupacional com ênfase em Saúde Mental e Dependência Química.
(meire@marilia.unesp.br)
paul baker
Formado em sociologia e assistência social na Universidade de Manches-
ter e Pós-graduação em Saúde Mental. Secretário na International Mental
Health Collaborating Network (IMHCN), coordenador de mídias sociais
da Intervoice e um dos fundadores da Intervoice no Reino Unido. Desen-
volveu projetos na área da saúde mental em Trieste (Itália), Sérvia, Croácia,
Inglaterra e País de Gales. Realizou workshops em mais 15 países. Paul
publicou o livro “e Voice Inside” (A Voz Interior). Escreveu capítulos e
artigos sobre: Recovery House, pessoas que ouvem vozes e medicalização
da vida. (paul@imhcn.org)
regIna célI fonseca rIbeIro
Terapeuta Ocupacional, Doutora em Psicologia Social pela UFMG.
Professora Adjunta do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional da
UFMG, membro do Laboratório de Grupos, Instituições e Redes Sociais
(L@GIR). (rribeiro@ufmg.br)
roberto mezzIna
Psychiatrist, graduate and specialized in Psychiatry at the University of
Bari, contributed for the last 30 years to the experience begun by Franco
SADE, R. M. S. (Org.)
296
Basaglia in Trieste (Who inspired the Italian Mental Health Reform Law
in 1978), with the de-institutionalization of the local psychiatric hospital
and the subsequent development of alternative Community Services. He
has been invited as teacher, keynote speaker and expert in hundreds of
Scientic Institutes, Universities, Mental Health Services in Italy, Europe
(Belgium, Spain, Great Britain, Ireland, France, Slovenia, Bulgaria, Neth-
erlands, Norway, Sweden, Switzerland, Slovakia, Serbia, Greece, Finland,
Romania, Albania) and overseas (USA, Canada, Australia, New Zealand,
India, Sri Lanka, Palestine, Iran). (roberto.mezzina@asuits.sanita.fvg.it)
rossana marIa seabra sade
Rossana é natural de Curitiba/Paraná, radicada em Marília – São Paulo.
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (1982), espe-
cialista em Educação Especial pela Universidade Federal do Paraná (1991),
mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (1995), dou-
tora em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (2002). Em 2011, concluiu o pós-doutorado em Desinstitucionali-
zação realizado em Trieste – Itália, bolsista FAPESP. É Professora Assisten-
te Doutora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Membro da Internacional Association Of Applied Psychology e da Rede
International Mental Health Collaborating Network (IMHCN), represen-
tando o Brasil, como membro do Conselho. Parecerista de várias publica-
ções cientícas nacionais e autora de diversos artigos e capítulos de livros.
(rossana@marilia.unesp.br)
thaís thomé senI da sIlva e olIveIra
Possui graduação, mestrado, e doutoradoem Psicologia pela FFCLRP –
Universidade de São Paulo. É especialista em Coordenação de Grupos
Operativos pelo Instituto Pichón-Rivière de Ribeirão Preto e em Psico-
logia Clínica. É membro da International Mental Health Collaborating
Network – IMHCN e da Franca e Franco Basaglia International School.
Atuou como docente em cursos de Psicologia de IES do Paraná, Mato
Grosso do Sul e São Paulo. Desenvolveu pesquisa de Pós-doutorado pela
Universidade de São Paulo em parceria com a Università degli studi di
297
Boas práticas
Trieste e com o Dipartimento di Salute Mentale di Trieste. Atualmente tra-
balha como pesquisadora colaboradora no Dipartimento di Salute Menta-
le di Trieste. (thasenne@gmail.com)
valérIa dImItroff
Nacida en Argentina, Ciudad Autónoma de Buenos Aires el 4 de marzo
de 1983. Cursó sus estudios universitarios en la Universidad Nacional
de La plata, las carreras de licenciatura y profesorado en psicología en-
tre los años 2001 y 2008. Complementó su capacitación en salud men-
tal y derechos humanos en Universidad Popular de Madres de Plaza de
Mayo. Ayudante alumna y graduada de la cátedra libre Marie Langer
de la UNLP, participó de diversos espacios de extensión universitaria
en prácticas referidas a reinserción comunitaria de personas con padeci-
miento mental en hospital psiquiátrico Alejandro Korn y centro de salud
Franco Basaglia, en la ciudad de la plata, Buenos Aires, Argentina. Desde
2008 se desempeña en psicóloga comunitaria en la actual Subsecretaría
de determinantes sociales de la salud y la enfermedad física, mental y de
las adicciones, Ministerio de Salud – gobierno de la provincia de Buenos
aires. Pasante del sistema de salud mental de Trieste Italia año 2010. Pre-
sidente de Cooperativa de Salud Mental “Ser arte y parte” desde 2013 a
la fecha. Psicóloga comunitaria en centro de salud mental comunitaria
Dr. Franco Basaglia, La Plata Argentina – Psicóloga clínica en psico-
terapia individual para adultos – Magister en curso sobre patologías y
problemáticas del desvalimiento. (valedimitro@gmail.com)
299
Catalogação
Telma Jaqueline Dias Silveira
CRB - 8/7867
Normalização e Revisão
Karenina Machado
Capa e diagramação
Gláucio Rogério de Morais
Produção gráca
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
Assessoria Técnica
Maria Rosangela de Oliveira
CRB - 8/4073
Renato Geraldi
Ocina Universitária
Laboratório Editorial
labeditorial@marilia.unesp.br
2017
Impressão e acabamento
Gráca e Editora Shinohara
Marília, SP
Formato
16X23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 70g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Acabamento
Grampeado e colado
Tiragem
300
sobre o lIvro
A sociedade em que vivemos produz continuamente falsas mudanças,
constrói continuamente ideologias, mecanismos de misticações para que as
pessoas permaneçam em uma espécie de liberdade limitada e vigiada; portanto
qualquer movimento que busque modicar essa liberdade vigiada é visto como algo
preocupante, insidioso, algo que ameaça a ordem constituída. É fundamental reetir
sobre o que é romper a lógica manicomial e como a reforma psiquiátrica no Brasil
está enfrentando este paradigma. Este livro é uma coletânea dos artigos oriundos
das conferências do I Congresso Internacional Franca e Franco Basaglia.
Processo FAPESP Nº. 2016/25965-7
ISBN 978-85-7983-932-0