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(O)
Marília/Ocina Universitária
São Paulo/Cultura Acadêmica
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
Diretor:
Prof. Dr. Marcelo Tavella Navega
Vice-Diretor:
Dr. Pedro Geraldo Aparecido Novelli
Conselho Editorial
Mariângela Spotti Lopes Fujita (Presidente)
Adrián Oscar Dongo Montoya
Ana Maria Portich
Célia Maria Giacheti
Cláudia Regina Mosca Giroto
Giovanni Antonio Pinto Alves
Marcelo Fernandes de Oliveira
Maria Rosangela de Oliveira
Neusa Maria Dal Ri
Rosane Michelli de Castro
Ficha catalográca
Serviço de Biblioteca e Documentação – Unesp - campus de Marília
L533 Leitura documentária : estudos avançados para a indexação / Mariângela
3. Indexação. 4. Organização da informação. 5. Recuperação da
informação. I. Fujita, Mariângela Spotti Lopes. II. Neves, Dulce Amélia
de Brito. III. Dal’Evedove, Paula Regina.
CDD 025.4
Editora aliada:
Cultura Acadêmica é selo editorial da Editora Unesp
Parecerista
Marisa Bräscher
Departamento de Ciência da Informação - UFSC
Spotti
Lopes Fujita, Dulce Amélia de Brito Neves, Paula Regina
Dal’Evedove [organizadoras]. – Marília : Ocina Universitária ; São
Paulo : Cultura Acadêmica, 2017.
318 p. : il.
Inclui bibliograa.
ISBN 978-85-7983-916-0 (Impresso)
ISBN 978-85-7983-917-7 (Digital)
DOI https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7
1. Análise documentária. 2. Análise de conteúdo (Comunicação).
Sumário
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Mariângela Spotti Lopes Fujita,
Dulce Amélia de Brito Neves, Paula Regina Dal’Evedove .................... 07
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Mariângela Spotti Lopes Fujita .......................................................... 15
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Milena Polsinelli Rubi ...................................................................... 69
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Wendia Oliveira de Andrade, Dulce Amélia de Brito Neves ................. 93
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Brisa Pozzi de Sousa ......................................................................... 113
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Roberta Caroline Vesu Alves .............................................................. 133
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Walter Moreira, José Carlos Francisco dos Santos,
Érica Fernanda Vitorini ................................................................... 157
I :  ,   
María del Carmen Agustín Lacruz,
Juan-Francisco Torregrosa Carmona .................................................. 195
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Carlos Cândido de Almeida .............................................................. 217
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  
Luciana Beatriz Piovezan ................................................................ 241
C       
Daniela Majorie Akama dos Reis ...................................................... 263
Apêndices 1
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  ....................................................................... 283
Apêndices 2
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  ............................................................................. 301
S  A ......................................................................... 309
7
Apresentação
O dOcumentO e suAs leiturAs
Mariângela Spotti Lopes Fujita
Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove
Vivemos leituras diversas
em nossa vida cotidiana em casa, no
trabalho, no mundo... Essas leituras são interpretações baseadas em nossa
história de vida, em nossas crenças e armações.
A leitura faz parte da nossa vida como um hábito trivial, cuja
implementação é de fácil aplicação. Na perspectiva do senso comum, é
considerada como a simples junção das letras do alfabeto para a formação
de palavras, um ato automático, mecânico (NEVES, 2004, p.34).
Lemos o mundo dentro de uma perspectiva pessoal interpretan-
do-o de acordo com nossa idade, vivência, escolaridade e leituras informa-
cionais do mundo que nos rodeia.
Mesmo a leitura documentária uma técnica aplicada a extração
de conceitos importantes e significativos no contexto de uma unidade de
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p7-14
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
8
informação (biblioteca, arquivo e/ou museu), não se exime direcionar-se
para um “leitor-modelo”, aquele que usa o sistema.
Com essa necessidade é que denimos o documentalista (bi-
bliotecário, arquivista, museólogo) como leitor preferencial desse livro,
cujo objeto de trabalho é o documento com objetivo de recuperação
do conteúdo por um leitor do sistema de sua unidade de informação.
Considerando que o documentalista possa estar em formação inicial na
graduação ou na pós-graduação, recomendamos a leitura desse livro aos
professores e pesquisadores.
Nessa perspectiva, consideramos pertinente mencionar que as
pesquisas e publicações sobre leitura documentária em Ciência da In-
formação têm abordagens teóricas metodológicas cognitivas, semióticas,
lingüísticas e psicopedagógicas por ser a leitura um processo mental asso-
ciado ao pensamento, memória, conhecimento e informação de um in-
divíduo. Muitas tarefas de processamento e tratamento da informação de
documentos são realizadas pela leitura para execução de procedimentos
de indexação, classicação, elaboração de resumos que exigem compre-
ensão para decisões, como por exemplo, a identicação de conceitos que
representam conteúdos para futura recuperação pelo leitor da unidade
de informação.
Esse leitor que realiza a leitura documentária é a principal vari-
ável de investigação na abordagem cognitiva e psicopedagógica, porém,
a leitura é documentária não somente porque seus ns são a represen-
tação e recuperação documentárias, mas também porque o documento
é o objeto da leitura e, para isso, as abordagens semiótica e lingüística
propiciam conhecimentos sobre o texto e o contexto, as outras variáveis
da leitura documentária.
Nas variáveis texto e contexto podemos armar que existe grande
diversidade de tipos e estruturas e nisso reside, em muitos casos, a comple-
xidade da leitura. Ler um romance é diferente de ler um texto cientíco
quando o contexto sociocognitivo é de trabalho prossional com ordena-
ções e nalidades distintas. Por isso, a investigação do processo de leitura
documentária, como ato cognitivo ou semiótico, precisa ir além e combi-
nar as variáveis para descobrir como a leitura de um texto narrativo poderá
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
9
ser realizada a partir da nalidade de um sistema de recuperação de uma
biblioteca universitária.
Assim, para atender diferentes lacunas que acreditamos existir,
convidamos autores da área de Ciência da Informação que investigam dife-
rentes nalidades de leitura documentária para diferentes estruturas textu-
ais em diferentes contextos para compor esta coletânea buscando aprofun-
dar o tema “leitura documentária”, ampliar a literatura produzida e buscar
ampliar a reexão sobre esta prática.
Com os resultados das investigações realizadas em torno da leitu-
ra documentária obtivemos os textos dos 11 capítulos desse livro que, além
de revisar a literatura cientíca sobre o tema em Ciência da Informação e
de áreas interdisciplinares, demonstram avanços e inovações com a nali-
dade de contribuir com atualização teórica e a elaboração de metodologias
aos processos de Organização e Representação do Conhecimento
No primeiro capítulo temos o enfoque da leitura documentária
e o processo de compreensão do indexador, um relato do memorial de
investigação cientíca da Professora Mariângela Spotti Lopes Fujita. Este
texto é não apenas enriquecedor em seu aporte teórico, mas também
como um relato de pesquisa que nos auxilia em seu percurso metodoló-
gico. Ao nal, traz resultados importantes obtidos de 6 projetos de pes-
quisa no período de mais de uma década de investigações: as “Diretrizes
teórico-metodológicas sobre leitura documentária para indexação” e o
“Modelo de leitura para indexação de textos cientícos: manual explica-
tivo” que, certamente, serão de muita valia para professores, pesquisado-
res, estudantes e prossionais.
O capítulo seguinte “Os processos cognitivos na leitura docu-
mental” traz reexões teóricas para responder a pergunta “o que faz o
indexador quando lê?” durante a análise de assunto para indexação. Com
uma redação que envolve o leitor, este capítulo, tem abordagem cognit-
va para apresentar as operações que ocorrem no cérebro de um leitor e,
assim, fazer uma análise dos processos cognitivos (microprocessos, ma-
croprocessos, processos de integração, de elaboração e metacognitivos)
durante a leitura documental. Ao nal, apresenta a compreensão de lei-
tura em ambiente de aprendizagem.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
10
Com enfoque mais voltado às estratégias do prossional docu-
mentalista, o terceiro capítulo, descreve as estratégias de leitura documen-
tária para indexação ao examinar, com uso da técnica introspectiva do Pro-
tocolo Verbal, os indexadores e o contexto de um sistema de informação
especializado, o Centro de Informações Nucleares da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CIN/CNEN). A principal conclusão do estudo é a
prociência do indexador em leitura documentária da documentação es-
pecializada em energia nuclear e áreas correlatas. O estudo contribuiu com
a observação e demonstração das estratégias cognitivas e metacognitivas
desse indexador prociente.
Na perspectiva do documento de arquivo, o quarto capítulo inves-
tiga as convergências e divergências entre a análise documental no âmbito
arquivístico e a representação descritiva e temática da informação no âmbito
da Organização e Representação do Conhecimento. Considerando que tanto
a análise documental quanto a representação temática e descritiva necessitam
da leitura documentária, o estudo traz à tona pontos em comuns e incomuns
nos diferentes âmbitos que inuenciam o trabalho do documentalista.
O estudo apresentado no quinto capítulo investiga as possíveis
orientações sobre leitura documentária no modelo Functional Require-
ments for Subject Authority Data (FRSAD) da International Federation
of Library Associations and Institutions (IFLA). O objetivo é descobrir a
relação da leitura documentária para a representação de assunto na cons-
trução de catálogos por meio do modelo, tendo em vista que designa,
em nível conceitual, os aspectos referentes às entidades que representam
atributos dos assuntos dos documentos de interesse para os usuários.
O tema indexação de literatura infantil do gênero fábula do
sexto capítulo tem como variável a estrutura textual narrativa ccional
do gênero fábula infantil investigada pela leitura documentária. Com
fundamento no Modelo de Leitura Documentária para indexação de
textos cientícos o estudo teve como resultado a proposta do Modelo
de Leitura Documentária para identicação de conceitos ccionais da
literatura infantil do gênero discursivo fábula infantil com uso de estra-
tégias de inferência ao texto por questionamento para a identicação de
conceitos mediante conhecimento da superestrutura e macroestrutura
textual.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
11
O trabalho apresentado no capítulo 7 investiga recursos auxi-
liares semiautomáticos de indexação de textos com o objetivo principal
de vericação de aplicabilidade dos padrões de Hearst no contexto da
leitura documentária. Para observar, de modo semiautomático, a identi-
cação de termos e suas relações hierárquicas, foi realizado experimento
de aplicação do algoritmo de Hearst com uso do software Word Smith
Tools, versão free 4.0. para a modalidade de análise semiautomática com-
parada à análise manual de artigos do fascículo mais recente da Revista
Latino-Americana de Enfermagem. Os resultados obtidos demonstram,
por um lado, a complexidade da leitura documentária ao se realizar a
extração semiautomática de padrões léxico-sintáticos e, por outro lado,
sua utilidade como recurso semiautomático aplicado ao crescente acrés-
cimo de textos em formato eletrônico e os hipertextos possibilitarem o
tratamento semiautomático de conceitos em função de seus formatos,
estruturas e suportes.
Quando a leitura documentária se refere a documentos textuais
com grácos, tabelas e infográcos precisamos compreender a vizualiza-
ção da informação. Essa informação visual é complementar ao texto do
documento, porém, merecedora de atenção por revelar aspectos não ditos
ou que complementam a idéia do texto, principalmente na comunicação
jornalística e em publicações digitais na Internet que utilizam técnicas e
ferramentas para representar a informação e ajudar na compreensão da
leitura que cada vez mais se interessa em aportar grácos e infograas que
sintetizam idéias e conceitos. O capítulo 8 desenvolve estudo sobre a co-
municação gráca e a tipologia de visualização da informação presentes na
comunicação cientíca que contribuem para a compreensão das investiga-
ções cientícas dedicadas ao aprimoramento da representação do conteúdo
textual durante a leitura documentária.
Os três capítulos (9, 10 e 11), que fecham a proposta deste
livro, trazem a abordagem da Semiótica nos estudos teóricos sobre lei-
tura documentária. O capítulo 9 que se refere à semiótica documental
considera a indexação de assunto como processo semiótico e a leitura
como etapa anterior determinante para os resultados de representação
para a recuperação da informação. A questão a ser respondida por esse
estudo do capítulo 9 é: qual disciplina, campo ou área dá suporte e abriga
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
12
contribuições para a compreensão do processo de leitura documental.
Com o objetivo de explicar a importância epistemológica da Semiótica
Documental para o acréscimo de elementos conceituais à leitura docu-
mental, o estudo apresenta a Linguística Documental e depois a idéia da
Semiótica Documental, considerada pelo autor, como capaz de abrigar as
variáveis da leitura documentária.
O capítulo seguinte propõe categorias de análise identicadas
em contribuições de estudos semióticos aplicadas à análise de protocolos
verbais coletados durante a leitura documental de catalogadores de bi-
bliotecas universitárias para indexação de livros. As categorias de análise
selecionadas com base em estudos teóricos são a semiose, níveis de inter-
pretante, experiência colateral, estado de dúvida/crença e hábito/mudan-
ça de hábito. Essas categorias foram utilizadas para analisar trechos das
transcrições de protocolos verbais que resultaram na discussão da leitura
documental na perspectiva da teoria proposta por Peirce. As discussões
teóricas que permeiam a análise da prática de leitura documentária por
prossionais ressaltam a conclusão de que o processo de indexação cons-
titui-se de interpretação e representação, conceitos relevantes na teoria
semiótica proposta por Peirce.
Para fechar a tríade de trabalhos com abordagem semiótica o
capítulo 11 trata das contribuições teóricas da semiótica para a leitura
documentária. Por meio da visão de Peirce, a teoria semiótica explica
três tipos de raciocínio, Abdução, Dedução e Indução, que podem es-
clarecer o processo de leitura documentária. O estudo apresentado no
capítulo coloca em discussão comparada os três raciocínios e demons-
tra, com trechos de Protocolos Verbais de catalogadores, que fazem par-
te de um processo inferencial de indexação realizado em etapas seqüen-
ciais de raciocínio do indexador observados na leitura documentária.
Buscamos, dessa forma, estender o conhecimento referencial e de
inovação sobre leitura documentária para a motivação de novas pesquisas
com resultados para os leitores do sistema de informação e leitores docu-
mentários dos mais diferentes contextos.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
13
referênciAs
NEVES, D. A. de B. Aspectos metacognitivos da leitura do indexador. 131 f.
Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2004. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.
ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/EARM-73FMVG/doutorado___dulce_
am_lia_de_brito_neves.pdf?sequence=1>. Acesso em 06 jun. 2017.
14
15
A leiturA dOcumentáriA e O prOcessO de
cOmpreensãO dO indexAdOr: memOriAl de
investigAçãO científicA
Mariângela Spotti Lopes Fujita
A situação ideal para o processo de compreensão da leitura, se-
gundo a teoria interacionista, é a indissociabilidade entre as três variáveis,
texto, leitor e contexto, o que nos leva a considerar que as diculdades
da análise de assunto para a indexação devem ser analisadas a partir de
cada variável e não somente do leitor/indexador. Dessa forma, o autor
como emissor e o texto como mensagem escrita desempenham papel im-
portante na transmissão da informação, pois é a crença na racionalidade
do autor, na sua intenção de ser informativo dizendo algo coerente, que
leva o leitor a interagir com o texto, realizando esforços para construir
um signicado viável.
Em função da leitura como processo comunicativo é preciso
destacar o princípio cooperativo de Grice (1982), considerado como
base de toda comunicação humana. Segundo esse princípio, o autor no
momento da escrita deve ter em mente o princípio cooperativo para que
o leitor possa compreender suas idéias, que estão representadas no tex-
to, a m de garantir que a leitura seja um ato comunicativo coerente.
Segundo Grice, o princípio cooperativo depende de uma norma com-
portamental dividida no que denominou de máximas conversacionais, a
saber: a da quantidade (seja sucientemente informativo), a da qualida-
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p15-50
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
16
de (arme apenas o que acredita ser verdadeiro), a da relação (diga algo
relevante) e a do modo (seja claro).
A variável texto representa as idéias do autor e pode inuenciar
na compreensão do leitor quando utiliza recursos apelativos que mexem
com seu emocional, omite informações relevantes sobre o assunto, quando
o texto está impresso em letras pequenas demais que dicultam a leitura,
ou a escrita apresenta problemas como orações muito complexas ou curtas
demais, ou ainda, incoerentes. Kato (1985b), citada por Cintra (1987),
considera a legibilidade inuente no processo interativo leitor/texto e a
qualidade do texto como fator básico de legibilidade, acompanhado do
conhecimento prévio do leitor e o tipo de estratégia que o texto exige. Na
qualidade do texto aponta vários fatores que a promovem: manutenção do
tema, correção gramatical, adequação lexical e estrutura do texto.
Vale ressaltar que o conhecimento lingüístico e textual deverá fa-
cilitar sobremaneira a escrita, para o autor, e a leitura, para o leitor. Portan-
to, na comunicação escrita, tanto o autor como o leitor devem conhecer
os benefícios de coerência e coesão para que o texto seja compreensível
(KATO, 1986 e KLEIMAN, 1989).
A coerência e a coesão são denidas por Beaugrande e Dressler
(1981), citados por Koch (1989, p. 18), da seguinte maneira:
[...] a coesão concerne ao modo como os componentes da superfície
textual - isto é, as palavras e frases que compõem um texto – encon-
tram-se conectadas entre si numa seqüência linear, por meio de de-
pendências de ordem gramatical. [...] a coerência diz respeito ao modo
como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e rela-
ções subjacentes ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e re-
levantes entre si, entrando numa conguração veiculadora de sentidos.
Koch (1989, p.19) completa as denições, esclarecendo que a
coerência é a responsável pela continuidade de sentido no texto porque é
resultado de “uma complexa rede de fatores de ordem lingüística, cognitiva
e interacional.”; por outro lado, a coesão garante a legibilidade do texto
pela explicitação de tipos de relações estabelecidas entre os elementos lin-
güísticos e, em muitos tipos de textos, é um mecanismo de manifestação
supercial da coerência.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
17
A leitura é, evidentemente, a base para o aprendizado da lingua-
gem escrita, principalmente quando o leitor reconhece o tipo de texto
por meio de sua estrutura. Cada texto possui suas próprias convenções
de apresentação, tipograa e estilo que os torna distinto de outros. Assim,
livros-textos não possuem os mesmos esquemas que os artigos de jornais,
poemas, cartas etc. Essas distintas características de estruturas para a orga-
nização do conteúdo textual fornecem importantes subsídios ao conheci-
mento de leitores e escritores, facilitando a previsão. Quanto mais o leitor
se familiariza com diferentes tipos de texto, mais experiente e hábil se torna
para ler variadas espécies de textos.
Com a armação de que é necessário o conhecimento lingüístico
e textual, tanto para o autor quanto para o leitor, a m de se garantir a
codicação e decodicação da mensagem transmitida no processo de co-
municação pela leitura, estamos adicionando à compreensão o recurso da
previsão. Conforme Smith (1989, p.35), “previsão e compreensão podem
estar interligadas”. De forma simples e genérica, previsão é a elaboração
de perguntas sobre os assuntos que o leitor pretende encontrar no texto,
possível pelo conhecimento da estrutura textual. Compreensão constitui as
respostas às perguntas feitas na previsão.
Se a previsão leva à compreensão, isso signica que a leitura é
uma atividade que envolve o pensar simultâneo, pois o leitor utiliza seu
conhecimento prévio sobre o assunto para melhor compreender o texto.
O pensamento pode ocorrer após a leitura, neste caso o leitor realiza uma
reexão subseqüente sobre o texto.
É importante considerar, além do recurso de compreensão e pre-
visão, que a leitura pode apresentar quatro características primordiais - ser
objetiva, seletiva, antecipatória e baseada na compreensão (SMITH, 1989):
é objetiva porque as pessoas lêem com a nalidade de encon-
trar algo; esta característica de leitura é central porque o leitor
antecipa a sua compreensão por meio das suas intenções.
é seletiva porque o assunto que lhe interessa é colocado
em evidência, ou seja, despreza-se o que é considerado
redundante.
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
18
é antecipatória porque o leitor tem um objetivo estabelecido
e suas expectativas são denidas a partir dele, isto é, sabe o
que pode encontrar no texto.
é baseada na compreensão, ou seja, o leitor deve eliminar as dú-
vidas quanto à ambigüidade referente ao conteúdo ou palavras.
O conhecimento prévio para a compreensão em leitura depende
do conhecimento existente na memória a longo prazo, um repositório de
conhecimentos com tempo e capacidade de armazenagem permanente e
ilimitado e que possui uma estrutura de conhecimento baseada em uma
rede semântica de informações que liga seus “nós” mediante associações
signicativas entre conceitos, fatos, ações, etc., ali representados. Para se
realizar o processo de compreensão é preciso, também, que a memória
a longo prazo tenha os chamados “esquemas” ou representações genera-
lizadas de ambientes, situações familiares e informações para que se faça
associação com tudo aquilo que se está vendo, ouvindo e lendo.
Esquemas são “estruturas abstratas, construídas pelo próprio
indivíduo, para representar a sua teoria do mundo. Na interação com o
meio, o indivíduo vai percebendo que determinadas experiências apresen-
tam características comuns com outras.” (LEFFA, 1996, p.35). Na mente
humana, tudo vai sendo transformado a partir do que o indivíduo já pos-
sui e, assim, os esquemas vão sendo incorporados na estrutura cognitiva
para entrelaçar-se com outros esquemas. Para isso, os esquemas possuem
variáveis que se associam aos diferentes aspectos de uma situação ou pro-
blema, como, por exemplo, o ato de vestir-se pode associar variáveis de
temperatura, cor, nalidade da atividade para a escolha de uma roupa.
Essas variáveis são subesquemas que constituem os esquemas. A cada vez
que acionamos um esquema, podemos acionar subesquemas ou esquemas
superordenados que comportam esquemas com uma mesma característica.
Os “esquemas” são objeto de estudo da área de cognição que os
vincula ao conhecimento prévio armazenado na memória a longo prazo
porque “são considerados como representações de padrões ou regularida-
des mais gerais que ocorrem em nossa experiência.” (SMITH, 1989, p.30).
Isso signica que o esquema existe por nosso conhecimento prévio e nos
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
19
dá condições de prever ou de antecipar atividades, acontecimentos, ações e
informações ao considerar o certamente provável e não o improvável.
Assim, um texto sob a forma de um artigo cientíco será mais
rapidamente compreendido se o leitor já souber como é a organização
característica deste tipo de texto e estiver familiarizado com a estrutura
tradicional. Essa capacidade de predição aumentará à medida que o leitor
aumentar a sua compreensão, sobrepondo informações umas às outras e
aumentando sua estrutura de conhecimento.
Quando lemos algum texto, sempre estamos prevendo encontrar
algum aspecto ou padrão compatível aos nossos esquemas que nos ajude a
compreendê-lo.
Sem o acionamento de um esquema, a compreensão não é possível. Ao
iniciar a leitura de um texto, a primeira coisa que o leitor normalmente
faz é vasculhar a memória em busca de um esquema em que ele possa
xar as informações do texto (LEFFA, 1996, p.38).
A teoria de esquemas foi elaborada a partir de várias pesquisas
que investigaram o processo de leitura e desenvolveram modelos classica-
dos a partir de três critérios (PINTO e GÁLVEZ, [1996], p.42):
1) Segundo sua estrutura:
- modelos seriais (Foster, 1979), (Garret, 1975), (Mitchell, 1982);
- modelos em paralelo (Marslen-Wilson, 1985), (Dell & Reich, 1981),
Stemberger, 1985);
2) Segundo a direção do uxo de informação:
- Modelos ascendentes - bottom-up: (Gough, 1972), (Laberge & Sa-
muels, 1974)
- Modelos descendentes - top-down: (Goodman, 1971)
- Modelos interativos: (Rumelhart, 1977), (Vega et al., 1990)
3) Segundo seu funcionamento:
- modelos modulares: (Fodor, 1983)
- modelos globais: (Anderson, 1983)
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20
A leitura, segundo o modelo interativo de Rumelhart, é um ato
duplo: de recepção ou percepção visual e de compreensão ou atividade
mental (PINTO MOLINA,1993, p.161). Isso signica que ao ler, o leitor
realiza dois movimentos inversos e, ao mesmo tempo, complementares:
“bottom-up, ascendente ou indutivo e “top-down, descendente ou dedutivo.
Kato (1985a, p.82) indica que a noção de “esquemas
(schemata), proposta por Rumelhart e Ortony (1977) e retomada por
Rumelhart (1977), é considerada uma proposta atrativa por pretender
ser “...uma teoria do conhecimento que engloba uma teoria prototípica
do signicado e ser, ao mesmo tempo, uma teoria de procedimento...”,
o que signica que os movimentos bottom-up e top-down são processos
necessários para a compreensão.
Durante o processo de leitura, o leitor pode ativar seus “esque-
mas” mediante dois movimentos complementares:
movimento botton-up, em que o leitor vai lendo na dependência
do contexto escrito, ou seja, vai extraindo, linearmente, dos símbolos
impressos o signicado, caminhando das partes para o todo, e movi-
mento top-down, no qual há maior dependência de conhecimento
prévio do leitor, pois ele vai fazendo generalizações e predições a par-
tir de “esquemas” que tem armazenados em sua memória, formu-
lando hipóteses que ajudarão na compreensão do texto. (CINTRA,
1987, p.31)
Kato (1985a) considera leitor experiente aquele que utiliza os
dois tipos de estratégias, as ascendentes (dependentes do texto, da análise
cuidadosa do Input visual) e as descendentes (baseadas no conhecimento
prévio do leitor e na sua capacidade de inferência, de predição), relacio-
nando ora um tipo, ora outro, de maneira consciente, no momento em
que cada uma delas se zer necessária. Há momentos na leitura em que
um trecho difícil para o leitor exige que ele leia linear e cuidadosamente, e
há outros em que apenas inferências contextuais permitem a compreensão
sem problemas.
Acreditamos que o leitor estratégico e prociente seja aquele que,
além de utilizar apropriadamente estratégias ascendentes e as descenden-
tes, mantém em mente o objetivo da leitura.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
21
Kato (1985a, p. 87) arma que os esquemas, além de regras e ta-
xonomias, contêm um componente de procedimentos (estratégias) que dita
como utilizar suas partes (esquemas para subesquemas e superesquemas).
De acordo com Nardi (1993, p. 25), a ativação de subesquemas
e superesquemas determina o acionamento dos movimentos top-down e
bottom-up, ou seja, “Se na interpretação de um evento, a ativação de um
esquema, ativa seus subesquemas, dizemos que houve processamento top-
-down (do todo para as partes); se por outro lado, ativar superesquemas, o
processamento terá sido bottom-up (das partes para o todo).
Kato (1985a, p.83) esclarece que “...a adivinhação é parte da es-
tratégia top-down, por ser esta mais preditiva, mas a bottom-up seria res-
ponsável pela conrmação, pelo renamento...
A característica principal deste modelo do processo de leitura de Ru-
melhart é a interação dos componentes de cada nível, a ativação de todos os
subprocessos e a inuência da informação contextual em todo o processamento.
Pinto e Gálvez ([1996], p. 45) consideram o modelo interativo
de Rumelhart (1977) é o que melhor representa a atuação do sujeito do-
cumentalista
1
porque:
[...] quando está lendo um texto cujo assunto lhe seja desconhecido,
procederá dos níveis mais inferiores ao superiores, fará uma leitura lenta,
detalhada, ascendente ou bottom-up. Ao contrário, quando o texto
for familiar realizará uma leitura “entre linhas” - descendente ou top-
down -, antecipando informações e dirigindo-se a uma representação
do conteúdo global do texto.
De outra forma, os movimentos ascendentes e descendentes do
processo de leitura, a partir do modelo de Rumelhart, são diretamente
relacionados a duas denições opostas que esclarecem melhor a função de
cada movimento na leitura (LEFFA, 1996, p.11):
- Ler é extrair signicado do texto;
- Ler é atribuir signicado ao texto.
Documentalista para os teóricos espanhóis signica o mesmo que indexador em ciência da informação no
Brasil
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Na primeira armação, o movimento é bottom-up e a leitura é
um processo ascendente. A compreensão sobe do texto ao leitor na medi-
da exata em que o leitor vai avançando no texto. Na segunda armação, o
movimento é top-down e a leitura é um processo descendente, pois desce
do leitor ao texto. Enquanto vai lendo, o leitor prevê hipóteses sobre
o que irá tratar o documento e, no decorrer da leitura, suas hipóteses
podem ou não ser conrmadas. As hipóteses serão elaboradas de acordo
com o conhecimento prévio do leitor (LEFFA, 1996, p.13).
A diferença entre as duas concepções de leitura está justamente na
interação, pois no processo ascendente, não existirá uma interação entre o
leitor e o texto, o leitor lê o texto linearmente, palavra por palavra, extrain-
do o seu signicado de acordo com a seqüência lingüística apresentada pela
estrutura do texto, enquanto que, no processo descendente, a obtenção
do signicado do texto se dá por meio da contribuição do leitor com suas
hipóteses e previsões.
Segundo Kato (1985a, p.74), enquanto o movimento ascendente
(bottom-up) é usado para designar os processos lineares, sintéticos e indu-
tivos, o movimento descendente (top-down) é usado para o processo não
linear, analítico e dedutivo.
É preciso, entretanto, reconsiderar que durante a leitura os mo-
vimentos ascendentes e descendentes poderão se alternar, daí a prevalência
do modelo interativo de leitura de Rumelhart (1977), pois os movimentos
são complementares.
Em estudo de John Farrow (1991), observa-se que os movimen-
tos bottom-up e top-down são considerados, respectivamente, perceptual e
conceitual e referem-se à leitura de indexadores e resumidores.
Farrow (1991, p. 153), baseado em estudos de observação de
Masson (1982) com leitores rápidos (skimmers) que realizaram pro-
cessamento perceptual (bottom-up) e conceitual (top-down), considera
que o método de processamento de texto de indexadores e resumi-
dores é semelhante ao processo perceptivo, com o qual os skimmers
procuram dicas, palavras em itálico, utilizando seu conhecimento de
estrutura textual para fixar o olhar em áreas relevantes do texto. Po-
rém os estudos de Masson, segundo Farrow (1991), também indicam
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
23
que os leitores rápidos realizaram um processo seletivo de informação
essencial baseado mais no processo conceitual do que perceptivo por-
que tinham um objetivo específico na leitura. No caso de indexadores
e resumidores, Farrow (1991, p.155) aponta que, apesar da indexação
possuir um objetivo específico, não existe nenhuma evidência de que
os sujeitos realizaram um processo seletivo da informação essencial
baseado amplamente em processamento conceitual a partir de um
objetivo específico.
Tais modelos de compreensão, baseados no conhecimento pré-
vio, são considerados interativos no que diz respeito à interação entre os
processos bottom-up e top-down, bem como do leitor com o texto, mas não
à interação do leitor com o autor (KLEIMAN, 1989, p.31).
Deste ponto de vista, a leitura é um processo interativo e co-
municativo que se dá entre o leitor (determinado pelo seu contexto) e o
autor por meio do texto. Segundo Kleiman (1989, p.33), dentro de uma
perspectiva interacionista, as relações entre o leitor e o texto estabelecem,
também, uma relação daquele com o autor.
Reportando-se ao princípio cooperativo de Grice (1982), Cintra
(1987, p.29) considera que na leitura para ns documentários o princípio
de cooperação autor/leitor é rompido porque o autor não previu o docu-
mentalista como leitor. Considerando que o indexador é, em princípio,
um leitor, acredito que não foram previstos seus objetivos de análise, dife-
rentes de um leitor que busca conhecimento ou informação, pois o inde-
xador, de acordo com seus objetivos e contexto, é também um leitor que
compreende o texto para interpretação e produção de uma representação
condensada de seu signicado.
Ao avançarmos na concepção de esquemas, podemos deduzir
que o indexador, como leitor, terá o conhecimento lingüístico prévio,
implícito e importante para a compreensão da organização textual. Por-
tanto, na “...leitura para ns documentários o leitor não lê palavra por
palavra, letra por letra, e muitas vezes não lê freqüentemente todas as pa-
lavras do texto, quando as seqüências são previsíveis.” (CINTRA, 1987,
p. 30). Ao contrário, o leitor indexador saltará trechos em busca da
informação relevante.
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Pelo processo top-down, o leitor realiza inferências ao conteú-
do textual para deduzir e predizer, baseando-se em seus esquemas que
incluem um quadro de referências composto de entidades lingüísticas
e conceituais.
A construção do sentido do texto, segundo Kleiman (1989, p.
13), depende da “...interação de diversos níveis de conhecimento, como o
conhecimento lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo.” Segun-
do a autora, o conhecimento textual desempenha um papel importante na
compreensão de textos.
Cintra (1987, p.31), baseada em pesquisas que demonstram a
facilidade de leitura para leitores com conhecimento de estruturas textuais,
considera que “o leitor que domina as superestruturas textuais capta com
mais facilidade as idéias centrais do texto, pois tem como parâmetro a
identicação dos constituintes básicos.
Para o indexador, o domínio da tipologia documentária e da estru-
tura textual são dois tipos de conhecimentos prévios que poderão aumen-
tar sua compreensão durante o processo descendente de leitura. Segundo
Ginez de Lara (1993, p.55), “...envolve, portanto, tanto o reconhecimento
da tipologia textual, como a identicação dos elementos referenciais para
uma interpretação apropriada.
De acordo com Giasson (1993, p.25), “o leitor aborda a atividade
de leitura com as estruturas cognitivas e afetivas que lhe são próprias. Além
disso recorre a diferentes processos que lhe permitem compreender o texto.
Os processos de leitura são utilizados pelo leitor como habilida-
des para abordagem do texto durante o desenvolvimentos das atividades
de cognição. Existem diferentes tipos de processos para cada ação de
compreensão que se realizam em diferentes níveis e simultaneamente.
Segundo Giasson (1993), existem processos para a compreensão da frase
(microprocessos - nível da frase); para a busca de coerência entre as frases
(processos de integração - entre as frases); para construir um modelo
mental do texto (macroprocessos - nível do texto); para permitir ao leitor
captar os elementos essenciais e levantar hipóteses (processos de elabora-
ção - extensão do texto) e; para gerir a compreensão (processos metacog-
nitivos - compreensão do texto).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
25
A interação entre o texto e o leitor desenvolve-se pelo uso de
estratégias, denidas. As estratégias de leitura, ou as ações que o leitor re-
aliza no ato de ler, têm sido denidas por vários autores. Essas estratégias,
segundo Faerch e Kasper (1980), citados por Nardi, (1993), são planos
potencialmente conscientes do leitor para resolver algo que se apresenta
como um problema na compreensão. Brown (1980, p.456) dene estra-
tégia como “qualquer controle deliberado e planejado de atividades que
levam a compreensão”. Para Oxford (1989, apud Nardi, 1993, p.19), es-
tratégias “são ações direcionadas para um objetivo, potencialmente obser-
váveis, potencialmente ensináveis e exíveis”. Para a autora, as estratégias
não podem ser prontamente observáveis e sim as ações comportamentais
do leitor (como, por exemplo, o virar de páginas, ou a procura de uma
palavra no dicionário), mas as ações mentais como associações e deduções
durante a leitura não podem ser vistas.
Contudo, o ponto de contradição entre os autores é o grau de
consciência. Brown (1980) acredita que as ações são intencionalmen-
te selecionadas, enquanto Faerch e Kasper (1980) referem-se a ações
potencialmente conscientes. Por isso, autores seguidores de Brown,
fazem distinção entre estratégias e habilidades automáticas. Palincsar
e Brown (1984) acreditam que leitores procientes freqüentemente
usam “Skills”, e consideram estratégias apenas o comportamento me-
tacognitivo (consciente) frente a um problema. Com base em Brown
(1980), Nardi (1993, p.20) distingue “Skill” de “Estratégia” com a
explicação de que:
Skill seria uma estratégia que teria sido adquirida em algum mo-
mento da aprendizagem e se tornado automática (raramente “recu-
perada” pelo leitor prociente), e estratégia seria o uso consciente
de uma “Skill” ou de uma nova “tática”, em momentos de solução
de problemas.
Kato (1985a) distingue dois tipos de estratégias que denem o
comportamento do leitor: as estratégias cognitivas, que são aquelas auto-
máticas e subconscientes, utilizadas durante a leitura uida, sem obstá-
culos, e as estratégias metacognitivas, que são ações conscientes do leitor
frente a um problema.
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As estratégias cognitivas de Kato (1985a) são denominadas, por
Cavalcanti (1989), estratégias automática, e as metacognitivas são denomi-
nadas estratégias controladas.
Como visto anteriormente, o uso de estratégias não é facilmente
observável porque ações mentais, como associações e deduções durante a
leitura, não podem ser vistas, ainda que, possam ser verbalizadas.
Para conferir natureza metacognitiva às ações mentais, Brown
(1980, p.456) indica as seguintes atividades:
• explicitação dos objetivos da leitura;
• identicação de aspectos importantes da mensagem;
• alocamento de atenção a áreas importantes;
• monitoração do comportamento para ver se está ocorrendo
compreensão;
• engajamento em revisão e auto-indagação para ver se o objetivo
está sendo atingido;
• tomada de ações corretivas quando são detectadas falhas na
compreensão;
• recobramento de atenção quando a mente se distrai ou faz
digressões.
O critério geralmente usado para separar as atividades cognitivas
das metacognitivas é o do envolvimento da consciência: as atividades cog-
nitivas estariam abaixo do nível da consciência; as metacognitivas envolve-
riam uma introspecção consciente (BROWN, 1980, p.455)
A metacognição em leitura permite ao leitor uma compreensão de
sua própria compreensão, ou melhor, o acompanhamento e avaliação de seu
processo de compreensão durante a leitura de um texto e, além disso, a to-
mada de providências quando a compreensão falha (LEFFA, 1996, p.45).
Na classicação das atividades cognitivas e metacognitivas, Lea
(1996, p.49) propõe que sejam diferenciadas não apenas pelo critério de
envolvimento da consciência, mas também pelo tipo de conhecimento
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
27
utilizado para executar a atividade, seja declarativo ou processual.
Segundo Tardi (1997, p.186), na interação com um texto, o leitor trata
as informações baseando-se em seus conhecimentos declarativos, assim
como em seus conhecimentos condicionais e de procedimento. Tardi
(1997) acrescenta o conhecimento condicional, junto ao conhecimento
processual, ambos integrados às estratégias metacognitivas, porque
correspondem ao “quando agir”, o conhecimento da estratégia de leitura
adequada a ser usada no momento certo e “por que agir”, o conhecimento
que justica as razões pelo uso de determinada estratégia.
Conforme Lea (1996, p.49), o conhecimento declarativo faz par-
te das atividades cognitivas envolvendo a consciência apenas da tarefa a ser
executada, ou seja, o leitor usa o conhecimento para realizar, por exemplo, a
indexação de um documento e a realiza porque sabe que é capaz, ou mesmo
para ler um livro, pois tem conhecimento que sabe ler. Com o conhecimento
processual, porém, a consciência vai além da tarefa a ser executada, o leitor
tem a consciência de sua própria consciência, ou seja, tem controle do próprio
conhecimento e do processo que deve seguir para atingir o resultado. Neste
sentido, o conhecimento declarativo, e vale a pena entender, pelo exemplo
de Lea (1996, p.49-50), engloba o conhecimento declarativo pela atividade
cognitiva e o conhecimento processual pela atividade metacognitiva,
Um exemplo de consciência do processo pode ocorrer, por exem-
plo, na leitura de um romance em que o leitor está absorvido pelos
acontecimentos narrados pelo autor. A leitura vai uindo rápido, os
processos ascendentes e descendentes trabalhando numa orquestra-
ção perfeita. O leitor não tem nenhuma consciência do processo da
leitura, mas concentra toda sua atenção no efeito que obtém da lei-
tura. Tem consciência do que o personagem principal está fazendo,
mas não tem consciência de sua própria leitura; não se dá conta, por
exemplo, se está lendo rápido ou devagar. De repente, porém, pode
surgir um problema. O que o leitor pensava ser a fala de um persona-
gem é a fala de um outro, que não consegue mais identicar. O leitor
dá-se conta de que não está mais compreendendo o texto. A leitura
que seguia uida e rápida é bruscamente interrompida e o leitor deci-
de voltar algumas linhas para poder retomar o o do enredo. A leitura
rápida e fácil, concentrada no conteúdo, é uma atividade cognitiva.
A descoberta de que houve um problema e de que uma correção no
rumo da leitura tinha que ser feita para recuperar o texto é uma ati-
vidade metacognitiva.
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O conhecimento processual permite que a leitura seja conscien-
te, que o leitor perceba a forma como o texto está sendo lido e o nível de
compreensão que está sendo atingido por ele. Cavalcanti (1989) considera
que as estratégias se tornam mais observáveis quando ocorre algum tipo
de ruptura na compreensão, momento em que o leitor deverá desacelerar
a leitura e tornar-se metacognitivo. Essa ruptura pode ser causada por um
décit em algum dos componentes lingüísticos da competência comunica-
tiva. Portanto, é possível observar o processo de leitura pela verbalização do
conhecimento processual do leitor por meio de Protocolo Verbal.
O uso de estratégias cognitivas e metacognitivas certamente de-
verá tender a um equilíbrio, pois, segundo Cintra (1987, p.32), “Ainda
que toda leitura envolva esses dois tipos de estratégias, é provável que
quanto menos atividades metacognitivas exigir, mais legível será o texto.
Entretanto, é também provável que a leitura apenas automática conduz
à incompreensão”.
Os dados obtidos em pesquisas feitas sobre a metacognição da
leitura sugerem quatro conclusões principais (LEFFA, 1996, p.64):
• A metacognição desenvolve-se com a idade;
• A metacognição correlaciona-se com a prociência em leitura:
leitores uentes têm mais consciência de seus comportamentos
de leitura e possuem maior exibilidade para ajustar a leitura a
objetivos especícos;
• O comportamento metacognitivo melhora com a instrução:
o treinamento especíco das habilidades metacognitivas tem
feito o aluno responder de modo mais ecaz a mensagens am-
bíguas do falante;
• A ecácia de uma determinada estratégia depende do objetivo
de uma determinada leitura. Em termos absolutos, as estraté-
gias que consomem mais tempo, tais como reler ou sublinhar
palavras-chave, são as que levam a uma compreensão mais pro-
funda e crítica de um texto.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
29
Kato (1985b) considera que as estratégias cognitivas são regidas
pelos princípios de Canonicidade e Coerência. O princípio da Cano-
nicidade signica que o leitor possui conhecimento da ordem natural
sintática e semântica permitindo-lhe predizer, por exemplo, a categoria
gramatical de uma palavra desconhecida e assim facilitando a inferência
de seu signicado.
Para a tarefa do indexador esses princípios são importantes,
considerando-se que um texto sob a forma de artigo cientíco, por
exemplo, possui uma estrutura de tópicos e parágrafos já conhecida e
o indexador possua habilidade em indexação de uma determinada área
de assunto, a legibilidade do referido texto aumenta, assim como o uso
de estratégias cognitivas.
O leitor deve, então, buscar detectar a estrutura do texto, pois
o reconhecimento das superestruturas textuais favorece a captação das
idéias principais do texto e seus conhecimentos prévios, a inferência de
signicados e levantamento de hipóteses que o ajudarão a apreender a
temática global.
A esse respeito, Cintra (1987), em seu estudo sobre estratégias de
leitura em documentação, apóia-se em Kato (1985b) para explicar que a
legibilidade da leitura depende de três fatores básicos: a qualidade do texto,
o conhecimento prévio do leitor e o tipo de estratégias que o texto exige.
Apesar de o primeiro fator, conforme explica Cintra (1987), não depender
do indexador, os outros dois estão, de alguma forma, vinculados à habili-
dade do indexador.
Entendemos que as atividades indicadas pela Norma 12.676 (AS-
SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992) são me-
tacognitivas no caso do leitor indexador ao identicarmos nelas aspectos
análogos às atividades de natureza metacognitiva de acordo com Brown
(1980). A análise demonstrada no QUADRO 1 (FUJITA, NARDI, SAN-
TOS, 1998) pautou-se nas considerações teóricas realizadas em torno da
natureza metacognitiva da leitura documentária, procurando identi-
car todos os aspectos da natureza das estratégias metacognitivas listadas
por Brown (1980) - algumas reformuladas sob o ponto de vista de Kato
(1985a) - e associadas às estratégias da Norma 12.676.
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30
Atividades durante a leitura (BROWN, 1980;
KATO, 1985a)
Leitura Documentária (Norma 12.676)
Explicitação dos objetivos da leitura e/ou
manutenção dos objetivos na mente
Identicação de aspectos importantes da
mensagem
• Identicação de conceitos (abordagem
sistemática mediante questionamento)
Alocamento de atenção a áreas importantes
Exploração da estrutura textual
• Análise do documento com domínio da
estrutura textual, considerando partes
do texto
Monitoração do comportamento por meio de:
Engajamento em revisão e auto-indagação
para ver se o objetivo está sendo atingido
Tomada de ações corretivas quando são
detectadas falhas na compreensão
Recobramento de atenção quando a mente
se distrai ou faz digressões
Seleção de conceitos
Quadro 1: Identicação da natureza metacognitiva na leitura documentária
Fonte: FUJITA, NARDI, SANTOS, 1998
Considera-se que, sob o ponto de vista cognitivo da literatura
revisionada, o indexador/classicador/resumidor são leitores aptos à com-
preensão pela própria estrutura cognitiva inata e construída: possuem co-
nhecimento prévio, constituído de conhecimento lingüístico, textual, e
conhecimento de mundo; utiliza seu conhecimento prévio por meio de
esquemas acionados pelos movimentos bottom-up e top-down e realiza pro-
cessos de compreensão, principalmente os metacognitivos.
A análise, quanto aos movimentos do leitor durante a leitura, pro-
piciará a identicação de estratégias relacionadas à compreensão da leitura
que envolvem a análise das atividades de cognição. A partir dessa análise é
possível observar se o leitor indexador/classicador/resumidor utilizou estra-
tégias de natureza metacognitiva ou cognitiva e assim determinar seu grau
de prociência para a leitura documentária que resultarão na melhor identi-
cação de conceitos válidos para a recuperação do documento. Além disso, é
possível observar procedimentos de análise de assunto e a seqüência adotada,
visto que a leitura documentária é mais direcionada aos objetivos de indexa-
ção, classicação ou elaboração de resumos e, portanto, diferente de outras.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
31
O indexador/classicador/resumidor é entendido como leitor
prossional que realiza uma leitura documentária com objetivos de-
nidos. O prossional da informação, visto como leitor é considerado
individualmente na abordagem cognitiva pelo processamento de infor-
mações que realiza para tratamento temático da informação documen-
tária. Contudo, como leitor prossional deve ser visto dentro de seu
contexto sociocultural que abrange atuação e formação prossional em
abordagem sociocognitiva.
A linha de investigação sobre leitura documentária desenvol-
veu, durante o período de 1993 a 2010, seis projetos de pesquisa com
produção cientíca e formação de recursos humanos a partir dos eixos de
abordagem cognitiva e abordagem sociocognitiva. No eixo de abordagem
cognitiva a investigação, desenvolvida no período de 1993 a 2004, tinha
como objeto de pesquisa a cognição do prossional da informação para
observar seus procedimentos e estratégias de leitura de textos. Por outro
lado, a investigação desenvolvida no período de 2004 a 2010, passou a
explorar o contexto do leitor prossional no eixo da abordagem socio-
cognitiva. Em síntese, as variáveis de leitura, leitor e texto, foram investi-
gadas nos projetos de pesquisa com abordagem cogntiva e a variável con-
texto nos projetos de abordagem sociocognitiva, conforme se apresenta,
resumidamente abaixo, um cronograma dos projetos de pesquisa.
Projetos com abordagem cognitiva – Eixo I
1993 - 1995 - A organização do pensamento através da estruturação lógica do conhecimento:
uma proposta de aplicação do Sistema de Indexação PRECIS para análise e compreensão literal
de leitura
1996 - 2000 - Leitura em análise documentária
2000 - 2004 - Leitura em análise documentária: uma contribuição à formação do pesquisador
Projetos com abordagem sociocognitiva – Eixo II
2004 - 2007 - A leitura documentária na formação inicial do indexador: a abordagem sóciocog-
nitiva na investigação de estratégias de ensino
2006 - 2009 - Política de tratamento da informação documentária da rede de bibliotecas da
UNESP
2007 – 2010 - O contexto da leitura documentária de indexadores de bibliotecas universitárias
em perspectiva sócio-cognitiva para a investigação de estratégias de ensino.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
32
O estudo teórico e metodológico da leitura teve como objetivos:
• fornecer subsídios teórico-práticos para a compreensão do sig-
nicado e dos procedimentos de leitura com ns de análise
documentária; e
• realizar observação dos procedimentos de leitura documentária
utilizados pelo indexador para exame do documento e identi-
cação de conceitos.
A investigação sobre leitura documentária teve uma evolução na-
tural que se iniciou com o projeto de aplicação da fundamentação teórica
de indexação do sistema de indexação PRECIS, “A organização do pensa-
mento através da estruturação lógica do conhecimento: uma proposta de
aplicação do Sistema de Indexação PRECIS para análise e compreensão
literal de leitura” (1993-1995), porque o PRECIS preconizava uma loso-
a de preservação do contexto documentário durante e após a indexação
com a nalidade de recuperação do assunto do documento e para isso
indicava uma análise conceitual por meio do que denominava “conceitos
universais”, a ação, o objeto da ação, o agente que praticou a ação, tempo
em que foi realizada a ação e da ação.
A temática desse projeto também se apresentava como continui-
dade, tendo em vista que o sistema PRECIS continuava sendo o o condu-
tor. O interesse partiu dos subsídios apresentados pela metodologia de aná-
lise conceitual do PRECIS para facilitar a análise de assunto de conteúdos
de documentos por meio da compreensão de leitura, o que resultaria em
uma organização lógica do conhecimento pelo leitor. Os resultados obti-
dos conrmaram que a análise conceitual do PRECIS é uma metodologia
que facilita a compreensão de leitura e resulta em uma síntese objetiva
do conteúdo do documento analisado. As conclusões propiciaram o de-
senvolvimento dos Projetos Integrados “Leitura em análise documentária
(1996-2000) (FUJITA, 1999b) e “Leitura em análise documentária: uma
contribuição à formação do indexador” (2000-2004) e sua divulgação em
artigo publicado no periódico Informare (FUJITA, 1999a) e em resumos
de trabalhos apresentados em eventos nacionais e internacionais.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
33
A análise conceitual do PRECIS funcionou como esquema de
organização lógica do conhecimento para o leitor e, mais do que isso, é um
dos elementos essenciais para a etapa de identicação e seleção de concei-
tos durante a leitura do texto com a nalidade de análise de assunto para
indexação, classicação ou elaboração de resumos. A análise conceitual do
PRECIS é compatível com o questionamento da Norma ABNT para a
identicação dos conceitos. Dessa forma, a análise conceitual do PRECIS
é um dos elementos fundamentais da metodologia de leitura documentária
do Modelo de leitura documentária (Apêndice 1), criado durante o desen-
volvimento do Projeto de Pesquisa “Leitura em análise documentária” e
parte fundamental do “Programa de Orientação à formação e capacitação
do indexador em leitura documentária” (Apêndice 2).
Com a evidência, obtida no relatório da pesquisa anterior, de que
o leitor para atingir seu objetivo de leitura precisa compreender o conte-
údo do texto e que tal processo de aquisição apresenta diculdades sem
uma metodologia de análise, passamos a inferir sobre as diculdades de um
indexador frente à análise de um texto com o objetivo de identicar con-
ceitos representativos para futura recuperação pelos usuários. A principal
premissa, portanto, era de que a leitura constitui atividade fundamental
da Análise Documentária e, dessa perspectiva, estudos aprofundados sobre
leitura poderão causar maior inuência sobre o desempenho de indexado-
res e melhorar o uso de metodologias de indexação.
O Projeto “Leitura em Análise documentária” foi desenvolvido,
no período de 1996 a 2000 em duas etapas: a primeira, no período de
1996 a 1998 e a segunda de 1998 até o ano 2000. Na primeira etapa foram
realizados estudos teóricos sobre leitura e estratégias de leitura em Análise
documentária e estudo de caso com bibliotecas universitárias brasileiras na
área de Ciências da saúde oral.
O estudo formal da leitura foi importante no desenvolvimento
da primeira etapa, porque, no contexto da análise, é a fase inicial que de-
sencadeia o desempenho de todas as outras operações. A leitura em análise
documentária é mais direcionada aos objetivos de indexação, diferente,
portanto, de outras leituras. Assim sendo, o desenvolvimento do estudo
sobre leitura em análise documentária direcionou seu foco de observação
para o indexador, como agente que pratica a leitura, com a nalidade de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
34
observar os procedimentos de leitura para exame do documento e identi-
cação de conceitos. Com esses resultados foi possível a proposição do Mo-
delo de Leitura Documentária (Apêndice 1) para identicação e seleção de
conceitos durante a análise de assunto.
O estudo de caso analisado propiciou a caracterização do docu-
mentalista/indexador, do ambiente, das condições e variáveis em que atua,
fez o levantamento das atividades de análise documentária para estudo dos
procedimentos executados para a leitura documentária e, principalmente,
realizou entrevista introspectiva e retrospectiva com Protocolo Verbal para
observação da leitura dos indexadores, gravando o “Pensar Alto” para co-
leta e análise dos dados.
A observação do processo com Protocolo Verbal foi importante
porque respaldou o depoimento do entrevistado e, para a pesquisa, tor-
nou-se uma descrição ideal das estratégias de leitura.
Desenvolveram-se, assim, dois estudos caso para observação: o
primeiro com bibliotecas universitárias na área de Odontologia, em São
Paulo e interior, cooperantes da Sub-Rede Nacional de Informação em
Ciências da Saúde Oral da BIREME, em que os sujeitos são bibliotecá-
rios e a tipologia documentária, o texto cientíco na área de Odontologia;
e o segundo, no Centro de Informações Nucleares (CIN) da Comissão
de Energia Nuclear, na cidade do Rio de Janeiro, em que os sujeitos são
especialistas em energia nuclear sem formação em Biblioteconomia e a
tipologia documentária do artigo de periódico cientíco na área de energia
nuclear. Essas investigações foram desenvolvidas com a colaboração das
instituições que tornaram disponíveis dados institucionais, para estudo do
contexto físico, social e psicológico de indexação, bem como seus indexa-
dores que se submeteram à metodologia do Protocolo Verbal.
A técnica introspectiva do Protocolo Verbal passou a ser utili-
zada pelas pesquisas em leitura documentária e trouxe resultados impor-
tantes da observação do pensamento de leitores procientes e aprendizes
durante a tarefa de indexação, elaboração de resumos e classicação que
aprimoraram a metodologia de leitura documentária e a aprendizagem
de leitores prossionais.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
35
O desenvolvimento da segunda etapa do Projeto “Leitura em
análise documentária” (1998/2000) investigou a fundamentação teórica
sobre estrutura textual e identicação de conceitos e realizou estudo de
caso com o Centro de Informações Nucleares - como outro serviço de aná-
lise - para observar e comparar resultados de estratégias de leitura quanto
a diferentes objetivos: elaboração de resumos e indexação, em diferentes
áreas de assunto (odontologia e energia nuclear).
O indexador, uma das variáveis inuentes na leitura documen-
tária, além do texto e do contexto, é também o ponto de partida para se
obter um depoimento quanto aos fatores mais inuentes na análise de as-
sunto e sua concepção de análise. Com a análise dos protocolos verbais foi
possível a obtenção de subsídios relativos à inuência de toda a formação
do indexador na leitura documentária e proporcionar contribuições para
o Programa de Orientação à formação do indexador. Essa segunda análise
dos protocolos verbais teve como parâmetro a classicação de Albrechtsen
(1993) quanto às concepções de análise de assunto, caracterizadas confor-
me seus aspectos mais representativos devidamente esclarecidos em tabela
realizada para essa nalidade.
A investigação procurou aprofundar a investigação em torno da
análise de assunto para indexação e suas concepções de análise em busca
de um referencial teórico. Obteve-se, no estudo de concepções de análise,
a necessária conrmação de que a identicação e a seleção de conceitos são
etapas imprescindíveis da análise de assunto e que são realizadas durante
a leitura. Com a importância do processo de identicação de conceitos
para a leitura do indexador realizou-se revisão de literatura que considerou
os principais estudiosos da área bem como as normativas e manuais de
serviços de análise expondo a discussão a respeito da preservação da tema-
ticidade inerente do documento durante a identicação de conceitos. Pela
subjetividade que envolve a análise de assunto, tomou-se conhecimento
das teorias sobre a determinação do assunto, operação delicada da análise
de assunto e abordada em estudos teóricos, ora sobre o conceito de assun-
to (“subject”) ora sobre tematicidade (“aboutness”). Indiscutivelmente, a
determinação de assunto é a etapa crucial em que o indexador como leitor
é a principal variável, ainda que sujeito às suas concepções de análise de
assunto e à política de indexação do sistema de informação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
36
A pesquisa da segunda etapa foi complementada, ainda, com o
estudo de estratégias de leitura em diferentes estruturas textuais: texto jor-
nalístico (utilizando o arquivo do jornal “O Estado de S. Paulo” como
outro estudo de caso) e, também, o estudo de avaliação de ecácia de in-
dexação e de resumos mediante uso de linguagens documentárias, tendo
em vista a observação de resultados tanto a respeito da ‘associação com lin-
guagem’ durante a leitura do indexador de literatura odontológica, quanto
a respeito da compatibilidade dos termos com descritores da linguagem.
Na seqüencia foram realizados os projetos “Leitura em análise do-
cumentária de artigos de jornal” e “Avaliação de linguagem documentária
em catálogos cooperativos online: um estudo de caso para levantamento de
indicadores de avaliação do banco de dados bibliográcos ATHENA”, com
desenvolvimento vinculado ao Projeto “Leitura em análise documentária”.
O estudo teórico e metodológico da leitura desenvolveu-se com a
revisão de literatura em leitura e leitura documentária para reunir subsídios
teóricos sobre as condições da leitura e os procedimentos de leitura docu-
mentária em indexação, sucientes para entender o indexador como leitor.
No estudo da literatura teórica, muitas investigações foram re-
alizadas em torno da leitura e da leitura documentária, analisando seus
aspectos cognitivos e lingüísticos com especial enfoque para o indexador
como leitor e sua interação com o texto e seu contexto, tendo em vista a
abordagem teórica e metodológica dentro da perspectiva interativa de Ca-
valcanti (1989) e Giasson (1993).
O aspecto cognitivo da leitura teve embasamento principalmen-
te em Brown (1980), Kato (1985a, 1986), Cavalcanti (1989), Kleiman
(1989, 2000), Giasson (1993), e Nardi (1993) além de abordar a teoria
de esquemas de Rumelhart (1977). Em leitura documentária foi realizada
dupla abordagem: cognitiva e lingüística. Na abordagem cognitiva a base
teórica foi formada com Cintra (1987), Farrow (1991,1995,1996), Pinto
Molina (1993) e Pinto e Gálvez ([1996]). Na abordagem lingüística cons-
tituída, principalmente, pelos estudos do texto e sua estrutura textual, o
direcionamento realizou-se a partir de Van Dijk (1992) e Kobashi (1994).
Adotando-se a visão interacionista do processo de leitura, confor-
me Cavalcanti (1989) e Giasson (1993) foi realizado estudo com aborda-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
37
gem da leitura documentária a partir da perspectiva de cada uma das três
variáveis: o texto, o leitor e o contexto. A investigação, nos dois eixos de
abordagem cognitiva e sociocognitiva, acompanhou a perspectiva intera-
cionista entre as três variáveis, texto-leitor-contexto, passando a assentar,
nesse tripé, toda a visão acerca da leitura documentária.
Dessa forma, examinaram-se e organizaram-se todas as condições
e requisitos que se referem especicamente à leitura documentária e ao
indexador como leitor prossional dentro de uma perspectiva diferente
que, certamente, propiciou uma conduta teórica inovadora para a área de
Tratamento Temático da Informação.
O Projeto de Pesquisa “Leitura em análise documentária: uma
contribuição à formação do indexador”, realizado no período de 2000 a
2004 teve a proposição de elaborar um programa de orientação à formação
e capacitação do indexador em leitura documentária para alertar os
responsáveis pela formação de indexadores/resumidores, ou seja, os Cursos
de Graduação e de serviços de análise da informação para a necessidade de
uma preparação conceitual e losóca em torno da concepção de análise
orientada para o conteúdo e para a demanda, contendo subsídios teóricos
e metodológicos tanto da área de leitura quanto de indexação, observando-
se os aspectos cognitivos, lingüísticos e lógicos que inuem na análise de
assunto. Os resultados dessa pesquisa propiciaram a elaboração do Manual
de orientação ao uso do Modelo de Leitura Documentária (Apêndice 1)
após aplicação com leitores prossionais procientes e alunos de graduação
aprendizes. O Manual de Orientação e o Modelo de Leitura Documentária
são parte integrante do “Programa de Orientação à formação e capacitação
do indexador em leitura documentária” e foram experimentados várias
vezes para obter o aprimoramento necessário.
A elaboração do programa de orientação para a leitura documen-
tária implicou a necessidade de investigação:
Primeira etapa (2000 a 2002)
♦ Fundamentação teórica em prática de indexação com enfâse
em leitura documentária;
♦ Os serviços de análise e sua política de indexação;
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
38
♦ Formação e capacitação do indexador em leitura documentária
no Brasil: bases conceituais e técnicas;
♦ A concepção e objetivos de leitura para o indexador: inuência
da formação do indexador na leitura documentária.
Segunda etapa (2002 a 2004)
♦ O indexador como leitor;
♦ Compreensão de leitura documentária em análise de assunto
para identicação e seleção de conceitos;
♦ Formação do indexador em leitura documentária;
♦ Diretrizes do programa de orientação à formação do indexador
em leitura documentária.
O Programa de orientação à formação do indexador a ser adotado
por Cursos de biblioteconomia e cursos de educação continuada considera
que a leitura documentária torna o indexador um leitor prossional uma
vez que seu conhecimento prévio está vinculado ao contexto especíco de
seu trabalho e à sua formação prossional.
A proposição do Programa de Orientação à formação do indexa-
dor em leitura documentária elaborado com subsídios teóricos e metodo-
lógicos tanto da área de leitura quanto da indexação e observando-se os as-
pectos cognitivos, lingüísticos e lógicos que inuem na análise de assunto,
tem os seguintes objetivos:
• contribuir com a elaboração de diretrizes teóricas e metodoló-
gicas sobre leitura documentária para a orientar a formação de
indexadores; e
• indicar procedimentos de elaboração de modelos metodológicos
para a leitura documentária;
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
39
O Programa de Orientação à formação do indexador em leitura do-
cumentária (Apêndice 1) desenvolveu-se a partir da necessidade de uma pre-
paração conceitual e losóca em torno do processo de indexação e da impor-
tância de uma leitura estratégica voltada para os objetivos da análise documen-
tária. Constitui-se de duas partes principais: a parte conceitual sobre Leitura
em análise documentária e a parte metodológica dedicada à orientação para a
elaboração de um modelo de leitura documentária para textos cientícos.
1. pArtes dO prOgrAmA de OrientAçãO
1.1 pArte cOnceituAl: subsídiOs teóricOs e metOdOlógicOs
A parte conceitual consta essencialmente de subsídios e recomen-
dações à formação em leitura documentária, organizados dentro da visão
interacionista das variáveis texto, leitor e contexto, contendo principal-
mente:
1 Leitura e compreensão de leitura
- Abordagens conceituais sobre a leitura e compreensão de leitura;
- Perspectivas interdisciplinares da leitura para ns documentários;
- Desenvolvimento de habilidades e estratégias de compreensão de leitura.
2 Leitura documentária em análise de assunto
- Leitura documentária como leitura prossional;
- Estratégias de leitura documentária para compreensão do conteúdo
com objetivo da demanda.
3 Leitura em análise documentária: interação das variáveis texto, leitor e
contexto
3.1 O texto: tipologias e estruturas textuais
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
40
3.2 O leitor: o indexador como leitor prossional
a) Para o indexador como leitor:
- Auto-conhecimento em leitura
- Desenvolvimento de habilidades e estratégias de leitura
- Aprofundamento de seu conhecimento prévio (lingüístico/
textual)
b) Para o indexador como leitor prossional:
- Compreensão do processo de análise documentária e da função
da linguagem documentária;
- Domínio da linguagem documentária para conhecimento
prévio da área de assunto;
- Indexação e análise de assunto: as concepções de análise
derivadas da formação e da capacitação;
- Identicação de conceitos e tematicidade: modelos de análise
conceitual;
- Seleção de conceitos durante a análise de assunto orientada
para a demanda: perspectiva do usuário e da política de
indexação do sistema de informação;
- Estratégias de leitura documentária em análise de assunto;
- Experimentações de leitura documentária em área especializadas;
- Conhecimento das tipologias documentárias e suas estruturas
textuais;
- Análise de assunto, formação orientada para o conteúdo e para
a demanda.
3.3 O contexto: físico, psicológico e sociocognitivo
a) Contexto físico: diagnóstico de infra estrutura e objetivos dos
serviços de análise dos sistemas de informação;
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
41
b) Contexto psicológico: intenção, interesse e objetivos do
indexador na leitura documentária para indexação;
c) Contexto sociocognitivo: o manual de indexação com as
regras, procedimentos e política de indexação do sistema de
informação; a linguagem documentária adotada pelo sistema.
1.2 pArte metOdOlógicA: mOdelO de leiturA pArA indexAçãO
- Identicação e seleção de conceitos: o processo de leitura do-
cumentária em Modelo de Leitura.
- Evidências da complementaridade das concepções orientadas
para o conteúdo na fase de identicação de conceitos e para a
demanda na fase de seleção de conceitos
A observação sobre a falta de procedimentos sistemáticos para a
identicação de conceitos reforça a evidência, já mencionada a partir do
estudo de aplicabilidade da análise conceitual do PRECIS, de que é neces-
sária uma metodologia de análise de assuntos durante a leitura documen-
tária para diminuir diculdades. Considerando, ainda, que a exploração da
estrutura textual foi uma estratégia observada freqüentemente na leitura
documentária dos indexadores, indicamos a elaboração de modelo de lei-
tura documentária em indexação de textos cientícos com a possibilidade
de uso combinado da exploração da estrutura textual com questionamento
para identicação de conceitos.
O modelo de leitura é uma proposição de aprimoramento e
evolução da metodologia de indexação a partir da metacognição do
indexador que poderá ser oferecida na formação do indexador em leitura
documentária. A divulgação dos resultados do estudo quanto ao processo
de leitura documentária aos responsáveis pela formação e capacitação do
indexador - Cursos de Graduação e Sistemas de análise da informação -
visa à disseminação da importância e da inuência que a leitura exerce
sobre todo o desempenho da atividade de análise documentária.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
42
Os projetos de pesquisa desenvolvidos no período de 2004 a
2010, do eixo II, tiveram abordagem sociocognitiva sob inuência da pers-
pectiva interacionista entre as três variáveis, texto-leitor-contexto.
O projetoA leitura documentária na formação inicial do inde-
xador: a abordagem sóciocognitiva na investigação de estratégias de ensi-
no” (2004-2007) teve a proposta de investigação do uso de estratégias de
ensino de leitura documentária para a formação inicial do indexador. Para
isso, foi desenvolvida a aplicação pedagógica do modelo de leitura a partir
de duas variáveis: o uso do Protocolo Verbal Interativo como recurso de
aprendizagem de indexadores aprendizes e a vinculação do contexto pros-
sional em abordagem sociocognitiva para idealização dos objetivos de lei-
tura documentária. A leitura documentária na formação do indexador foi
investigada por revisão de literatura para considerações acerca de: aspectos
sócio-cognitivos e elaboração de metodologias de ensino com aplicação de
Protocolo Verbal como recurso de aprendizagem.
Os estudos de perspectiva sociocognitiva forneceram indicações
de estratégias de ensino que consideram o contexto como facilitador da
compreensão de leitura. Para a vinculação do contexto prossional, consi-
derou-se a interação do usuário individual com o ambiente social/organi-
zacional. A pesquisa desenvolveu a aplicação do protocolo verbal individu-
al e protocolo verbal em grupo com alunos do curso de Biblioteconomia.
Os resultados esclareceram as dúvidas surgidas quanto ao texto
utilizado, à compreensão dos sujeitos como um todo e ao Modelo de
Leitura Documentária para indexação de artigos cientícos provocando
seu aprimoramento e conseqüente adequação de seu Manual Explicativo
como Manual de Ensino. Considerando a abordagem sócio-cognitiva,
foi aplicado o protocolo verbal interativo, com o objetivo de auxiliar o
indexador aprendiz, mediante a interação com o prossional experiente,
esclarecendo suas dúvidas no momento da indexação, com o uso do mo-
delo de leitura.
No projeto seguinte, “O contexto da leitura documentária de in-
dexadores de bibliotecas universitárias em perspectiva sócio-cognitiva para
a investigação de estratégias de ensino” (2007-2010), ainda no Eixo II de
abordagem sociocognitiva, o enfoque foi dado ao contexto.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
43
Nesse sentido, o contexto de leitura documentária na formação
inicial do indexador precisou de fundamentação teórica e metodológica
baseada no conhecimento de Ciência da Informação e áreas interdiscipli-
nares para o desenvolvimento de estratégias de ensino que proporcionem,
ao aprendiz, a visão da demanda em perspectiva sociocognitiva.
Realizou-se, com esse objetivo, a investigação do contexto de tra-
tamento de conteúdo de bibliotecas universitárias, mediante perspectiva
sociocognitiva da Análise de Domínio, com enfoque na leitura documen-
tária para análise de assunto de livros. A nalidade dessa investigação foi a
elaboração de um manual de ensino em leitura documentária com proce-
dimentos de análise de assunto e de observação de contextos prossionais
mais amplos.
O estudo do contexto de tratamento de conteúdo de bibliote-
cas universitárias com base em procedimentos de Análise de Domínio em
Ciência da Informação pelas abordagens de indexação e recuperação em
domínios especícos teve como enfoque a indexação no catálogo das bi-
bliotecas universitárias da UNESP.
O desenvolvimento desse projeto precisou da elaboração do Pro-
jeto “Política de tratamento da informação documentária da rede de bi-
bliotecas da UNESP”, que realizou-se no período de 2006 a 2009, para a
aplicação da metodologia que consistiu de estudo diagnóstico para coleta
de dados com uma amostra de nove bibliotecas universitárias do sistema
de bibliotecas da UNESP em três áreas do conhecimento – Odontologia,
Engenharia Civil e Pedagogia.
Para realizar a coleta e análise dos dados a estrutura da investigação
foi composta de três partes: funcionamento do tratamento de informações
documentais na perspectiva da gerência do sistema de bibliotecas universi-
tárias; procedimentos do tratamento de informações documentais na pers-
pectiva do catalogador; e, avaliação do acesso e recuperação da informação
on-line pelo usuário à distância.
A primeira parte constou de aplicação de questionário junto aos di-
rigentes; a segunda parte foi realizada com aplicação da metodologia intros-
pectiva de Protocolo Verbal Individual junto aos catalogadores e de Protocolo
Verbal em Grupo com grupos formados, em cada biblioteca, pelo dirigente,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
44
catalogador, bibliotecário de referência, pesquisador e aluno de graduação;
e a terceira parte constou da aplicação do Protocolo Verbal Individual com
alunos de graduação de cada uma das três áreas do conhecimento.
Os resultados demonstraram que os catalogadores seguem uma
metodologia sistematizada e consolidada pela literatura para cataloga-
ção de forma (tratamento físico), porém não demonstram metodologia
para a catalogação de assunto (tratamento temático). Além disso, devido
à automatização dos processos de catalogação houve uma unicação dos
procedimentos técnicos da biblioteca – a seção que cuidava da forma dos
documentos (catalogação) e a seção que tratava do conteúdo (classica-
ção e indexação), o que não ocorria quando os serviços ainda eram feitos
manualmente. A recuperação da informação apresenta falhas no que diz
respeito à pesquisa por assunto, além disso, a linguagem documentária não
atende de maneira satisfatória à demanda, não havendo compatibilidade
entre os termos utilizados na catalogação de assunto e aqueles utilizados
nas pesquisas pelos usuários.
Concluiu-se que a política de tratamento da informação docu-
mentária e tudo aquilo que a compõe – metodologias para representação
descritiva e temática, linguagens documentárias, estudo de usuário, en-
tre outros – necessita de maior atenção no que diz respeito à elaboração
de normas, procedimentos e técnicas, sua implantação, implementação e
avaliação para que a função das bibliotecas universitárias seja mantida e
atualizada de acordo com as mudanças da sociedade.
Para isso, foi desenvolvida a adaptação do Modelo de Leitura
Documentária para indexação na catalogação de assuntos de livros em bi-
bliotecas universitárias e seu Manual de ensino com base na revisão de
literatura e análise de procedimentos de catalogação de assuntos a partir
dos protocolos verbais individuais dos catalogadores das bibliotecas uni-
versitárias e elaboração da metodologia de estudo do contexto de leitura
documentária para ensino de indexação.
Os resultados do diagnóstico do contexto de tratamento te-
mático da informação documentária coletados em nove bibliotecas da
UNESP foram publicados no artigo “O contexto sociocognitivo do ca-
talogador em bibliotecas universitárias: perspectivas para uma política
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
45
de tratamento da informação documentária” (FUJITA, RUBI, BOCCA-
TO, 2009), e do Livro Eletrônico “Indexação de livros: a percepção de
catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias” (FUJITA, 2009)
publicado pela Editora da UNESP em parceria com a Pró-Reitoria de
Pós-Graduação, no qual constam, além dos resultados dos relatórios dos
dois projetos de pesquisa, também, os principais resultados obtidos de
duas teses de doutorado e uma dissertação de mestrado. As repercussões
dessa pesquisa propiciaram as condições necessárias para o desenvolvi-
mento dos projetos de pesquisa “A política de indexação para bibliotecas
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prOcessOs cOgnitivOs nA leiturA dOcumentAl:
O que faz O indexAdOr quAndO ?
Ana Lúcia Terra
i
ntrOduçãO
Um ponto nuclear na análise de assunto é a compreensão do texto,
a qual depende do processamento da informação por parte do indexador,
resultante do ato leitor. Assim, o estudo da leitura realizada pelo indexa-
dor torna-se um tópico fundamental para desenhar uma metodologia que
possa amparar e melhorar a compreensão do texto e, consequentemente,
otimizar o processo de análise de assunto e os seus produtos. Neste pressu-
posto, um dos fatores mais relevantes a interferir no processo de análise de
assunto é o fator humano, envolvendo aspetos cognitivos, linguísticos ou
socio-culturais, na medida em que o ato leitor é realizado por indivíduos.
Se Moura (2004) qualicou o leitor-bibliotecário como uma es-
tranha criatura”, Waller (1999, p. 35) explicitou as premissas dessa estranhe-
za ao declarar «(…) dans sa vie professionnelle, le documentaliste ne lit plus
pour lui, mais pour d’autres; il ne choisit pas ce qu’il a à lire et ne lit plus ja-
mais un texte dans son intégralité». Este é um leitor-mediador na medida em
que o resultado da sua leitura irá possibilitar aos utilizadores dos serviços de
informação o acesso aos documentos através das representações de assunto
(REDIGOLO, FUJITA, 2015). Assim, o indexador posiciona-se no centro
de uma rede de interações, visíveis e invisíveis, pois é um mediador com uma
dupla preocupação de partilha já que tem de fazer uma ligação ao autor e ao
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p51-68
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
52
utilizador nal. Nesta perspetiva, Fondin (2006) enquadra a leitura docu-
mental no contexto da comunicação interativa e da leitura “partilhada” bem
como da intersubjetividade. Na sua opinião, este último conceito é espe-
cialmente importante porque «l’intersubjectivité permet ainsi de prendre en
compte à la fois le caractère “subjectif” de la lecture, c’est-à-dire l’espace de
débordement reconnu à chaque lecteur du fait de sa singularité, et le souci
d’une saisie “objective” du contenu du texte du fait du partage communica-
tionnel attendu» (FONDIN, 2006, p. 27).
Portanto, coloca-se a questão do que será ler para o prossio-
nal da informação, especicamente quando exerce funções de indexação.
No presente texto, iremos procurar responder a esta interrogação. Para o
efeito, iremos começar por enquadrar genericamente a leitura documen-
tal no processo de indexação, nomeadamente na análise de assunto. De
seguida, procuraremos sublinhar brevemente a complexidade das opera-
ções que ocorrem no cérebro do leitor. A análise dos processos cognitivos
que ocorrem aquando da leitura documental, à luz da classicação que
Giasson (1993) desenhou para a compreensão da leitura em ambiente de
aprendizagem, será o corolário deste percurso, que terminará com algumas
considerações nais.
O prOcessO de indexAçãO cOmO cOntextO dA leiturA dOcumentAl
Segundo Fujita (1999), os indexadores estão sujeitos a condições
especícas de leitura, nomeadamente em termos de limite de tempo, de
propósito denido, de produção de resultados, de vinculação a um sistema
documental comprometido com as necessidades de pesquisa dos seus utili-
zadores, os quais irão condicionar os seus procedimentos de leitura. Neste
sentido, precisam de realizar uma leitura bem estruturada e seguir um mé-
todo sistematizado que apoie a identicação dos conceitos do documento,
permitindo a compreensão da temática, e o reconhecimento dos termos
representativos equivalentes usando a linguagem documental em uso no
serviço de informação. A nalidade especíca da leitura realizada pelo
prossional da informação é igualmente sublinhada de forma clara por
Moura (2004, p. 164) que postula uma “leitura técnica” consistindo «(…)
na abordagem global dos itens informacionais, tem por objetivo recolher
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
53
os dados que permitirão o estabelecimento da representação desses itens
nos sistemas de informação» e que procura «(…) a reconstituição bruta
da informação veiculada no texto original». Assim, a leitura documental
enquadra-se no processo de indexação, pelo que importa caracterizá-lo ge-
nericamente para melhor a compreender.
A revisão da literatura evidencia que não há unanimidade nas eta-
pas que conguram o processo de indexação, sendo certo que independen-
temente da efetividade de cada uma, para os indexadores mais experientes,
as etapas ocorrem frequentemente de modo simultâneo. Vários autores
(SOUSA, FUJITA, 2014; MAI, 1999, 2001; entre outros) concluíram
que o processo de indexação é apresentado como envolvendo duas, três
ou quatro etapas. Assim, a abordagem baseada em duas etapas considera
a existência de uma fase de determinação do conteúdo do documento e
outra de tradução do assunto usando uma linguagem de indexação. A pers-
petiva que considera três etapas inclui uma etapa intermédia, a da reformu-
lação do assunto do documento na linguagem natural. Já a corrente que
preconiza quatro etapas identica a determinação do assunto, a sua refor-
mulação com termos da linguagem natural, a reformulação desse assunto
em linguagem de indexação e, por m, a sua tradução usando termos da
linguagem de indexação.
Por seu lado, Hudon (2013, p. 34-40), preconiza que o processo
de tratamento dos itens informacionais, tendo em vista a representação do
seu conteúdo, compreende cinco etapas sucessivamente interdependentes.
Assim, distingue as seguintes etapas: familiarização com o documento, aná-
lise, tradução do assunto em termos de indexação, validação e registo dos
dados. O resultado deste procedimento deve ser uma representação conci-
sa, completa, clara e ável do(s) assunto(s) abordado(s) no documento. Na
etapa da familiarização com o documento, o indexador identica as princi-
pais características do recurso informacional e dene o tipo de tratamento
mais adequado, idealmente seguindo as orientações explicitadas numa po-
lítica de indexação de âmbito institucional. Na fase da análise em sentido
estrito, são determinados os assuntos do documento, são selecionados os
que devem ser representados no catálogo ou no índice e decompõem-se os
assuntos a serem representados em cada um dos seus elementos. Na eta-
pa da tradução em linguagem de indexação, os assuntos selecionados são
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
54
representados através dos termos usados na(s) linguagem(ns) usadas pelo
sistema de informação. A quarta etapa, da validação, visa garantir a ecácia
do resultado do processo de tratamento analítico, recorrendo-se a instru-
mentos e métodos de vericação e aprovação. Por m, o registo dos dados
dá origem ao resultado de todo o processo, o qual pode ser uma entrada
num repositório de metadados, um registo bibliográco ou metainforma-
ção incluída no próprio recurso informacional objeto de todo o processo.
Contudo, como notou Mai (2001), entender a indexação como
um conjunto simples de etapas claramente identicadas implica ignorar a
complexidade deste processo. Por outro lado, sublinha que o processo de
indexação não produz uma representação neutra e objetiva do(s) assunto(s)
de um documento mas antes uma interpretação da representação do docu-
mento. Só entendendo este pressuposto se poderá apreender a natureza do
processo de indexação. Para este autor (MAI, 1999), é fundamental com-
preender a índole interpretativa e incerta do processo de indexação. Neste
pressuposto, criou um modelo do processo de indexação constituído por
quatro elementos e três etapas (MAI, 2001). O primeiro elemento é o item
informativo que origina o processo de indexação, é o documento que vai
ser analisado. A primeira etapa corresponde ao processo de análise do do-
cumento e consiste no exercício de examinar o item informativo, incidindo
sobre partes especícas (título, sumário, resumo, etc) de modo a identicar
o assunto. O segundo elemento é um produto resultante da primeira etapa
e abrange as representações mentais que o indexador formulou acerca do
assunto do documento. É ainda um conjunto desordenado de impressões,
frases, termos que foram surgindo durante o processo. A segunda etapa é
uma resposta desencadeada no indexador pelo segundo elemento e con-
siste no processo de descrição do assunto. É uma tentativa de criar uma
formulação coerente do assunto por meio da linguagem. Se o resultado da
primeira fase é um conjunto desordenado de impressões mentais, frases e
termos, o produto da segunda fase é resultante de um esforço concertado
para lhes conferir ordem e estrutura. Assim, o terceiro elemento, produzi-
do no decurso da segunda fase, consiste numa formulação do assunto do
documento usando a linguagem. A terceira fase é denominada de processo
de análise do assunto e consiste na tradução do terceiro elemento numa
expressão formal usando linguagem de indexação apropriada. Implica,
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
55
por exemplo, converter uma frase numa notação da Classicação Decimal
Universal, num cabeçalho de assunto ou em palavras-chave. Nesta fase,
pressupõe-se a utilização correta das regras e convenções de cada lingua-
gem de indexação. O quarto elemento é o produto da etapa anterior e
consiste no(s) termo(s) de indexação ou na(s) notação(ões) atribuídas para
representar o assunto do documento.
É neste contexto funcional que a leitura documental é efetivada
com objetivos bem delimitados mas sem uma explicitação consciente de
como é realizada por parte do indexador, nomeadamente ao nível dos pro-
cessos e das operações cognitivas em ação. Ora, tudo se passa no cérebro.
O cérebrO: Onde acontece A leiturA
Na escrita primitiva não existiam espaços a separar as palavras.
Era a scriptura continua, a primeira forma de escrita, em que as palavras
se sucediam ininterruptamente no espaço das linhas de todas as páginas,
reetindo a origem oral da linguagem, pois não inserimos pausas entre
cada palavra já que emitimos longas sequências de sílabas sem intervalos.
Por essa razão, não se lia em silêncio mas mesmo assim a leitura era um
operação lenta e cognitivamente intensa. A colocação de espaços entre as
palavras escritas atenuou o esforço cognitivo para ler o texto, permitindo
aos indivíduos ler rapidamente, de modo silencioso e com maior compre-
ensão. Serve este breve enquadramento para sublinhar que esta uência na
leitura teve de ser aprendida e que exigiu profundas e complexas modica-
ções no cérebro, tal como hoje em dia os recursos digitais e a Internet estão
a modicar este órgão humano (CARR, 2012).
Assim, é compreensível que, tal como evidenciam muitos estudos
cientícos, os leitores experientes desenvolvem regiões especializadas do
cérebro para decifrar o texto rapidamente. Nestes sujeitos, as áreas res-
ponsáveis pela representação e recolha visual, fonológica e semântica da
informação importante estão ligadas para operar à velocidade da luz. Por
exemplo, o córtex visual desenvolve atividade em conjuntos de neurónios
dedicados a reconhecer imagens visuais de letras, padrões de letras e pala-
vras em intervalos de milissegundos (CARR, 2012). Fica, portanto, evi-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
56
dente que, para compreender o ato leitor, é fundamental o conhecimento
e a compreensão das ações que ocorrem no cérebro aquando da sua prática.
A competência leitora convoca três capacidades neuronais (desco-
dicar, compreender e interpretar), exigindo a intervenção sincronizada dos
dois hemisférios cerebrais. Com efeito, no hemisfério esquerdo estão situa-
das as áreas responsáveis pela capacidade de descodicar e compreender. A
descodicação implica mecanismos neuronais associados a sistemas de leitu-
ra, como a perceção da relação fonema-grafema e o conhecimento da sintaxe
e morfologia. O compreender implica a procura na rede de signicação de
informação semelhante ou relacionada com a informação recebida. Envolve
interpretação e compreensão de índole semântica e pragmática.
Como sintetiza Silveira (2013, p. 72), «(…) a relação de proxi-
midade estreita entre estruturas da linguagem e da leitura acaba por ser
um outro aspeto importante dentro dos factos que permitem ao cérebro
ler competentemente. Não há competência leitora sem a existência prévia
de uma linguagem capaz de representar conceitos, atribuir signicados (se-
mântica) e saber onde e como dar uso aos mesmos (pragmática), utilizando
sons (fonologia), sintaxe e léxico (morfologia) corrente do contexto social
em que se está inserido.». Já o hemisfério direito estará associado à com-
preensão geral da informação, entendida como interpretação que convoca
a associação/integração da informação na rede de signicação e propicia a
criação de novos conceitos. É o hemisfério direito que faz a reconstrução,
operação essencial ao ato leitor porque faculta a ização espacial das palavras
e a atribuição do sentido global da informação. É aqui que se concretiza
a criação de signicado com base na recordação do conhecimento prévio
sobre o contexto. Além disso, o córtex pré-frontal intervém na tomada de
decisão sobre a ação leitora. Esta complexidade da decisão e da ação leitora
é ainda amplicada com a intervenção do córtex visual e dos lobos parietal,
temporal e frontal. Assim, ca evidente que o ato leitor exige a intervenção
total do cérebro, apresentando-se do ponto de vista neurobiológico como
altamente intrincado (SILVEIRA, 2013, p. 55-74). Esta complexidade
tem de ser igualmente atendida no entendimento da leitura documental.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
57
prOcessOs cOgnitivOs nA leiturA dOcumentAl: prOpOstA de tipificAçãO
Apesar da sua relevância, como sublinha (HUDON, 2013) os pro-
cessos cognitivos inerentes à determinação do assuntos dos itens informacio-
nais, por parte do indexador, são pouco conhecidos porque têm sido pouco
estudados. Isso não invalida a consciência de que a compreensão dos aspetos
humanos convocados para as operações de representação informacional é um
contributo valioso para a melhoria do exercício prossional (MOURA, 2004).
Neste âmbito, a leitura documental apresenta uma visibilidade destacada por-
que é a atividade cognitiva que desencadeia todo o processo de análise de as-
sunto, também designado pelas expressões análise temática, análise documen-
tária ou análise de conteúdo (SOUSA, FUJITA, 2014).
De acordo com Giasson (1993), do ponto de vista do leitor, a lei-
tura/compreensão de um texto envolve cinco tipos de processos: 1) micro-
processos, 2) integração, 3) macroprocessos, 4) elaboração e 5) metacogni-
ção [Figura 1]. Os microprocessos sustentam a compreensão da informação
contida numa frase. Os processos de integração servem para procurar criar
ligações entre as proposições ou as frases, pois estes processos centram-se
na procura da coerência entre as frases. Os macroprocessos estão orien-
tados para a compreensão global do texto e, nesse sentido, focalizam-se
na compreensão da coerência entre as frases. Os processos de elaboração
permitem ao leitor ir além do texto. Os processos metacognitivos denem
a compreensão e permitem ao leitor alinhar-se com o texto ou situação.
Figura 1 - Os processos de leitura documental e as suas componentes (Adaptado de GIASSON, 1993)
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
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De seguida, iremos descrever genericamente as operações/com-
petências inerentes a cada tipo de processo e analisar em que medida estão
envolvidas ou são relevantes para a análise documental.
os microprocessos
Os microprocessos envolvem competências ao nível da identica-
ção das palavras, da leitura de grupos de palavras e da microseleção.
Quando a identicação das palavras é automática, a atenção do lei-
tor pode car disponível para outros processos, além de tornar a leitura mais
rápida. Para o trabalho de análise documental estão especialmente convoca-
das as duas últimas. De facto, a leitura por grupos de palavras implica a utili-
zação de pistas sintáticas para identicar nas frases os elementos signicativos
de sentido, sendo que a compreensão assenta na passagem da memória de
curta duração, onde são tratados os conjuntos de palavras, para a memória
de longa duração, onde são armazenados. Já a microseleção consiste em deci-
dir e memorizar a informação pertinente numa frase. Na leitura de um texto,
uma parte da informação das frases lidas deve ser memorizada pela memória
de curta duração, de modo a que a nova informação seja integrada na que
já existe. Como o indexador tem de fazer uma leitura seletiva, já que não é
viável a leitura na integra dos documentos, a leitura por grupos de palavras e
a microseleção são muito relevantes. A primeira aumenta a cadência da lei-
tura, poupando tempo e esforço cognitivo, enquanto a segunda proporciona
a focalização da atenção e da memória nas componentes sintáticas e semân-
ticas mais relevantes para extrair o(s) assunto(s) pertinentes no documento.
Aliás, a literatura sobre análise de assunto sublinha que não é necessário,
nem aconselhável realizar uma leitura linear, palavra por palavra, pois o leitor
deve progredir no texto conforme lhe for possível antever o seguimento das
ideias (FUJITA, NARDI, 1998). Estará assim, a convocar a capacidade de
previsão umas das competências dos processos de integração.
os processos de integração
Os processos de integração permitem compreender as pistas ex-
plicitas, que esclarecem a relação entre as frases (são os referentes ou anáfo-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
59
ras e os conectores), e as relações implícitas entre as frases e as ideias,através
de inferências baseadas no texto ou nas referências do leitor. As inferências
permitem adivinhar o implícito e levam a uma compreensão do texto que
ultrapassa o nível literal, pressupondo que o leitor recorre ao seu conheci-
mento pré-existente para conferir sentido a uma mensagem. Quanto mais
intensa e profunda for a experiência prossional do indexador, maior será
a sua capacidade de realizar inferências, podendo antecipar, ponderar ou
relativizar a importância dos textos, de identicar aspetos inovadores e de
selecionar a informação útil (WALLER, 1999). As inferências podem ser
lógicas ou pragmáticas.
No contexto da análise documental, quanto melhor o indexador
identicar as pistas explicitas mais rapidamente poderá centrar-se nas par-
tes essenciais do texto para entender o seu sentido. Note-se ainda que a
frequência da ocorrência de referentes ou anáforas ajudará a determinar o
assunto do documento, sendo aliás um critério fundamental na indexação
automática baseada na contagem de palavras. Contudo, este indício quan-
titativo não invalida a necessidade de uma aferição qualitativa do signi-
cado da ocorrência dessas palavras e dos seus equivalentes para determinar
com exatidão a temática do item informativo.
No que respeita às relações implícitas, o indexador precisará de
usar inferências lógicas de modo a compreender mais profundamente
o sentido o texto e também irá recorrer a inferências pragmáticas, sen-
do que nestas últimas deve conrmar as suas suposições através de uma
análise cuidada do documento objeto do processo de tratamento docu-
mental. Note-se ainda que, quanto maior for a sua experiência e o seu
conhecimento das temáticas, mais inferências pragmáticas fará o indexa-
dor. Contudo, isto também aumentará a subjectividade já que este tipo
de inferências está eminentemente ligado às características cognitivas e
vivências de cada indivíduo.
Pinto Molina (1995, p. 229), explicitando o contributo da leitura
para a elaboração de uma metodologia para elaborar resumos, também
alude ao papel das inferências, considerando que «(…) these inferences
allow us to create a coherent text representation, connecting meanings
of dierent and successive sentences (…)» e acrescentado que «the infe-
rences themselves are frequently the main point of the message». Na sua
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
60
opinião, para ns documentais, devem ser consideradas quatro categorias
distintas de inferências: lógicas (usadas para denir causas e motivações
ou as condições que permitem factos especícos), de avaliação (nas quais
os indexadores aplicam as suas crenças às situações apresentadas), integra-
tivas (aplicadas no momento da compreensão e baseadas em conceitos e
propriedades de uma organização hierárquica) e construtivas (derivadas do
conhecimento de base do indexador).
os macroprocessos
Os macroprocessos incidem sobre a apreensão global do texto,
desvendando as ligações que o tornam um todo coerente. Estes macropro-
cessos incluem a identicação da ideia principal, a elaboração do resumo
e a apreensão/utilização da estrutura do texto, todos essenciais no trabalho
de tratamento documental.
Existe uma grande diversidade no que respeita à noção de ideia
principal de um texto mas podem distinguir-se duas categorias fundamen-
tais: a) a informação é importante porque o autor a apresenta como tal, e
nesse caso é uma informação textualmente importante; b) a informação é
importante porque o leitor a considera como tal, tendo em conta a inten-
ção da sua leitura, pelo que nessa situação a informação é contextualmente
importante. No caso do indexador, importa que este foque a sua atenção
na informação textualmente importante ainda que deva ter em conta a
informação contextualmente relevante em função das necessidades dos
utilizadores para os quais está a realizar o tratamento documental. Note-se
ainda que pode ser relevante distinguir a temática do texto e a ideia princi-
pal do texto, a qual pode ser explicita, implícita (devendo ser inferida) ou
ambígua (não estando claramente exposta).
A elaboração do resumo implica uma maior diculdade de rea-
lização porque requer seleção e hierarquização para eliminar os elemen-
tos secundários e redundantes. O resumo consiste em reescrever um texto
pré-existente, mantendo a informação importante, havendo equivalência
informativa, através de uma economia de meios e a adaptação a uma nova
situação de comunicação. No resumo, as operações de eliminação dos da-
dos supéruos, de substituição de um conjunto de elementos ou de ações
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
61
por um termo genérico, capaz de englobamento, bem como a macrosela-
ção e a invenção, escolhendo a frase que ilustra a ideia principal ou criando
uma caso não exista, constituem operações estruturantes.
A estrutura do texto condiciona a organização das ideias e cada
tipo de texto (narrativo, informativo, cientíco, etc) apresenta uma es-
trutura própria. O leitor precisa de apreender e utilizar essa estrutura do
texto para compreender e memorizar a informação. No fundo, trata-se de
formas de organização convencionadas que os leitores “armazenam” na sua
mente e que ativam ao ler os textos de forma automática.
Relativamente à leitura documental, conforme sublinhado por
Fujita (1999, p. 109) «Considera-se, ainda, que o leitor com facilidade de re-
conhecer as superstruturas textuais capta melhor as ideias principais do tex-
to, do que um leitor que lê linearmente. Apoiando-se na estrutura textual e
em seus conhecimentos prévios o leitor infere signicados e levanta hipóteses
que o ajudarão a apreender a temática global». Esta perspetiva é igualmente
sublinhada por Naves (2001) ao enfatizar que, para realizar a leitura com ns
especícos, é necessário que o indexador conheça as estruturas de diferentes
tipos de textos. Para Waller (1999) esta apreensão da estrutura do texto faz-se
antes da leitura e focaliza-se nos elementos de apresentação do texto, como
os carateres tipográcos, a disposição do texto (organização dos capítulos,
títulos, notas de rodapé, etc), as ilustrações (imagens, grácos, legendas, etc),
o uso de parágrafos e de alíneas, além da pontuação.
Esta identicação da estrutura dos textos permitirá categorizá-los
em tipologias (monograas, artigos, textos descritivos, textos teóricos, tex-
tos problematizadores, etc) às quais será possível aplicar grelhas de leitura
documental adaptadas (cf. WALLER, 1999 ou Fujita & Rubi, 2006). Estas
grelhas, que constituem ltros de abordagem ao documento, incidem sobre
a apresentação visual da estrutura textuale especicam as “lentes” através das
quais o texto deve ser lido (ver por exemplo, FUJITA, RUBI, 2006).
os processos de elaboração
Os processos de elaboraçãopermitem ao leitor ir além do texto,
criando inferências não previstas pelo autor. Estes processos incluem cinco
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
62
componentes: previsões, imagens mentais, respostas afetivas, ligações com
os conhecimentos e raciocínio
As previsões dizem respeito às ideias e incidem sobre as frases, e
não sobre as palavras, podendo ser relativas ao conteúdo do texto (o que
é expectável encontrar no texto) ou à sua estrutura (o que já se sabe sobre
o tipo de texto em análise). As imagens mentais podem ocorrer de for-
ma espontânea durante a leitura mas a produção consciente de imagens
mentais favorece a compreensão da leitora. As imagens mentais consis-
tem em criar na mente uma representação do que se lê. Esta atividade
aumenta a capacidade de memória de trabalho durante a leitura, ao reu-
nir os detalhes em grandes conjuntos, facilita a criação de analogias e de
comparações, serve para estruturar e memorizar a informação, aumenta
o grau de comprometimento com o texto e melhora o interesse pela
leitura. As respostas afetivas incidem sobre as emoções convocadas pela
leitura, sendo que um leitor envolvido emocionalmente com uma obra
irá compreendê-la melhor. Contudo, o envolvimento afetivo pode susci-
tar erros levando a enfatizar aspetos que não são realmente importantes.
Assim, as reações emotivas nem sempre são adequadas, dependendo do
texto. A ligação com os conhecimentos signica que o leitor estabelece
uma relação entre o texto e os seus conhecimentos pessoais, os quais não
sendo indispensáveis à compreensão do texto, e não se afastando muito
dele, podem facilitar a memorização da informação. Por m, nos proces-
sos de elaboração estão incluídas as competências de raciocínio. De facto,
compreender não é suciente pois é necessário que os leitores formulem
um julgamento crítico sobre o texto, o que implicará distinguir os factos
das opiniões, conhecer as fontes de informação e estar sensibilizado para
os “preconceitos” do autor.
No que respeita ao envolvimento dos processos de elaboração no
decurso da análise documental, importa fazer algumas anotações. Assim,
se as previsões ajudam à compreensão do texto, elas devem basear-se em
pistas, motivadas por factos ou pela estrutura do texto, e nessa medida
são previsões e não procedimentos de adivinhação/imaginação. Contudo,
o indexador deve usar com cuidado estas pistas, nomeadamente, no que
toca ao título, o qual muitas vezes, por razões de marketing editorial, entre
outras, traduz uma ideia pouco precisa do conteúdo que identica.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
63
Por sua vez, a produção de imagens mentais implica que o leitor
esteja atento ao texto e favorece a sua compreensão, apoiando a estrutura-
ção e a memorização da informação, além de facilitar a criação de analogias
e de comparações, operações essenciais ao indexador não só para a apre-
ensão do texto mas igualmente para as fases subsequentes à análise. Com
efeito, a criação de analogias e de comparações serão relevantes para o mo-
mento em que os assuntos serão traduzidos em termos da linguagem docu-
mental em uso na instituição. A integração com os conhecimentos prévios
do indexador é também uma operação fundamental para o procedimento
de análise documental, sendo certo que a experiência em determinada área
temática irá facilitar a realização de um trabalho de qualidade, apoian-
do a compreensão do conteúdo informativo do texto porque o leitor já
possui referentes que o ajudam a enquadrar-se no assunto (REDIGOLO,
FUJITA, 2015). Assim, é mais fácil compreender um texto produzido no
âmbito da mesma matriz cultural ou numa mesma área cientíca já que os
referentes são os mesmos. Com efeito, quanto mais informação um sujeito
tiver sobre uma temática mais apto estará para compreender, memorizar e
produzir inferências a partir da sua leitura. Ainda assim, também é verdade
que os conhecimentos prévios podem afastar o leitor dos aspetos essenciais
do texto, desviando o objetivo da leitura. Por outro lado, é também essen-
cial ter cautela com os conhecimentos erróneos pois a natureza do conhe-
cimento prévio afeta a aquisição de novos conhecimentos. Neste sentido,
se o indexador tiver conhecimentos pouco precisos ou errados sobre uma
matéria terá tendência a distorcer o que ler, de modo a adequar esse conte-
údo aos seus quadros mentais prévios, mesmo que estejam errados. Nesta
perspetiva, será importante que o indexador tenha competências para apli-
car estratégias que o conduzam a comparar os seus conhecimentos com
os novos dados fornecidos pelo texto. Aqui, o indexador estará a acionar
a memória, comparando o que conhece com o desconhecido, tal como
sublinhado por Pinto Molina (1992 apud PINTO MOLINA, 1995).
O raciocínio é igualmente uma operação nuclear no processo
de análise documental, sustentando a distinção entre factos e opiniões ou
identicando os aspetos denotativos da linguagem (apreensão do sentido
literal) e os aspetos conotativos da linguagem (apreensão do sentido gu-
rado da linguagem). Pinto Molina (1992 apud PINTO MOLINA, 1995)
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
64
também realça o contributo desta componente e das atividades que lhe
estão associadas (indução e dedução, análise e síntese). Já as respostas afe-
tivas, enquanto reações emocionais que fazem sobrepor a individualidade
e as preferências do indivíduo, enfatizando, portanto, a subjetividade, de-
vem ser evitadas pelo indexador no momento da sua apropriação do texto
para efeitos de análise documental.
os processos metacognitivos
Por m, os processos metacognitivos gerem a compreensão e per-
mitem ao leitor adaptar-se ao texto e à situação/contexto em que decorre a
leitura. Genericamente, por cognição, pode entender-se «a forma como o
cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada
através dos cinco sentidos» (Wikipedia). A cognição envolve a compreen-
são, a memorização e o tratamento da informação. Já a metacognição diz
respeito ao conhecimento que o indivíduo tem sobre o seu próprio funcio-
namento cognitivo e as estratégias para controlar esse processo.
As competências metacognitivas desdobram-se em duas vertentes:
na autoavaliação e na autorregulação. Pela autoavaliação o leitor torna-se
ciente das suas capacidades e das limitações cognitivas, dos seus interesses,
motivações, bem como das exigências da leitura e de estratégias adequa-
das para ultrapassar problemas de leitura. Trata-se, portanto, de identicar
perdas da compreensão. Com a autorregulação o leitor consegue resolver a
perda de compreensão pois identica quando compreende e quando não
compreende, sabe o que compreende ou não e aquilo de que necessita para
compreender e sabe que pode seguir outras estratégias para compreender.
Assim, o leitor consegue aferir se compreende bem, posicionando-se numa
perspetiva de autogestão da compreensão, identicando e resolvendo as
lacunas de compreensão.
Na opinião de Fujita (1999, 108) «(…) a leitura para ns do-
cumentários exige que o leitor-indexador seja metacognitivo por ser ne-
cessário usar estratégias de interação com o texto de forma a propiciar
uma compreensão suciente para a sua representação». Mais recentemen-
te, Redigolo e Fujita (2015) trabalharam o levantamento de estratégias
metacognitivas através a aplicação do protocolo verbal a prossionais da
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
65
informação dedicados à análise de assunto em monograas em bibliotecas
universitárias. Neste contexto, concluíram que «as estratégias metacogni-
tivas demonstram que o leitor tem consciência dos objectivos da leitura e
utiliza-se de alguns artifícios para realiza-la da melhor maneira, tentando
superar suas diculdades e explorando conhecimentos» (REDIGOLO;
FUJITA, 2015, p. 365).
cOnsiderAções finAis
Ainda que o modelo de leitura de Giasson (Leitor-Texto-
Contexto) não tenha sido desenvolvido especicamente para explicar os
processos de leitura documental,tem guiado alguns estudos nesta matéria
(cf. FUJITA, NARDI,1998 entre outros). Contudo, até agora, não parece
ter sido aplicada a sua tipicação dos processos cognitivos que ocorrem
durante o ato leitor no contexto particular da leitura documental.Neste
trabalho, expusemos como a aplicação dessa tipicação dos processos cog-
nitivos e das suas componentes/operações pode ser bastante proveitosa em
termos de compreensão dos processos cognitivos apresentados pelo inde-
xador. Esta linha de análise precisa ainda de ser aprofundada em termos
teóricos e com aplicações de índole prática mas a identicação dos pro-
cessos feita por Giasson parece adequada para compreender os processo
cognitivos que ocorrem durante a leitura documental, apesar das suas par-
ticularidades. Na verdade, a leitura realizada com intuito de indexação não
apresenta peculiaridades signicativas em relação à leitura produzida em
condições naturais. Assim, com base num estudo empírico, Neves, Dias,
Pinheiro (2006, p. 150) constataram que «com exceção de maior uso da
estratégia de resumo e de alguns sinais de maior monitoramento da com-
preensão, a leitura do indexador não se diferenciou da leitura de outros
leitores procientes». Os mesmos autores adiantam que os indexadores
da sua amostra não evidenciam estratégias metacognitivas especícas, não
praticando, portanto, uma leitura diferenciada.
Por outro lado, se considerarmos que as etapas do processo de in-
dexação são desenvolvidas pelos sujeitos em simultâneo, sobretudo quando
já são prossionais experientes, poderá ser interessante perspetivá-las não
enquanto etapas ou fases mas antes como operações cognitivas. Neste sen-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
66
tido, o indexador deve investir na consciencialização dessas operações, base
para a sua análise e subsequentemente para a sua melhoria. Neste sentido,
a leitura documental também pode ser encarada como um conjunto de
processos que decorrem em simultâneo e não como um conjunto de fases
sequenciais hierarquizadas.
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68
69
estrAtégiAs de leiturA dOcumentáriA pArA
indexAçãO: um estudO de cAsO cOm O centrO
de infOrmAções nucleAres (cin)
Milena Polsinelli Rubi
1 intrOduçãO
A leitura documentária, realizada pelo indexador na fase de aná-
lise, visa propiciar a identicação de conceitos para posterior representação
nos produtos documentários – número de classicação, resumos e índices
que satisfaçam a demanda dos usuários.
Para isso, o leitor documentalista, apesar de não ser o especialista
do assunto, interage com o texto mediante o domínio de uma linguagem
documentária, da estrutura textual e da intenção do sistema de informação
para leitura.
Desenvolvido dentro do Projeto Integrado “Leitura em Análise
Documentária
1
”, esse estudo foi realizado com o Centro de Informações
Nucleares da Comissão Nacional de Energia nuclear (CIN/CNEN) que é,
desde 1970, responsável pela coleta e disseminação de informações na área
de energia nuclear no Brasil.
1
Desenvolvido pela Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita, o referido projeto visou, principalmente, à obtenção
de subsídios sobre os serviços de análise documentária em Centros de Informações especializados no Brasil. A
primeira parte do projeto realizou estudo de caso junto à Sub-Rede Nacional de Informações em Ciências da
Saúde Oral do Sistema BIREME/ OPAS para a produção da base de dados LILACS.
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p69-92
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
70
Durante a realização da pesquisa, o CIN apresentava dez inde-
xadores especialistas em áreas de assunto relacionadas à Energia Nuclear
(Biologia, Energia, Energia Nuclear, Engenharia Elétrica, Engenharia
Química, Física, Geologia, Medicina Nuclear, Meio Ambiente e Química
e outros) e em procedimentos de indexação sistematizados para a inserção
de registros na base de dados do International Nuclear Information System
(INIS), do qual o Brasil é país-membro cooperante através do CIN. Desses
indexadores apenas um era é funcionário do CIN, os outros nove eram
indexadores freelancers, tendo seus serviços de indexação terceirizados.
Nenhum era bibliotecário.
Foram coletados e analisados os dados referentes ao CIN e seus
indexadores. Dessa forma, e com o conhecimento teórico da atividade de
análise documentária, foi possível investigar, no contexto de um centro
referencial em Energia Nuclear, a prática da atividade de indexação e carac-
terizar o prossional que a executa, com os seguintes objetivos:
Identicar os procedimentos de leitura documentária utilizados
para exame de documento e identicação de conceitos;
Examinar as estratégias de leitura usadas pelos indexadores para a
identicação de conceitos que melhor representem o documento.
Como metodologia, foram utilizados o manual de indexação do
INIS e a técnica de coleta de dados introspectivos denominada “Protocolo
Verbal” ou “Pensar Alto” nos moldes de Ericsson e Simon (1987), seguida
da entrevista retrospectiva. Esta técnica permite a observação das estraté-
gias utilizadas pelos indexadores, pois privilegia o Pensar Alto durante a
realização da tarefa.
2 estrAtégiAs de leiturA dOcumentáriA pArA indexAçãO
A leitura documentária constitui-se a atividade principal da
Análise Documentária. Na indexação, o resultado será a identicação e
seleção dos termos que irão representar o documento para o usuário.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
71
O termo indexação (indexing) remonta à corrente inglesa e, de
acordo com os “Princípios de indexação” do World Information System for
Science and Technology
2
(UNISIST, 1981, p. 84) é“[...] a ação de descrever
e identicar um documento de acordo com seu assunto.
Essa publicação do UNISIST originou a primeira norma a
esse respeito publicada em 1985 pela International Standardization for
Organization (ISO), sob número 5963, com o título “Documentation -
methods for examining documents, determining their subjects, and selecting
indexing terms”.
Em 1992, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
publicou a tradução dessa mesma norma, sob número 12676, intitulada
“Métodos para análise de documentos - determinação de seus assuntos
e seleção de termos de indexação”. A indexação é denida pela Norma
12676 como “Ato de identicar e descrever o conteúdo de um documen-
to com termos representativos dos seus assuntos e que constituem uma
linguagem de indexação.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1992, p. 2).
Para Chaumier (1988, p. 63) “[...] a indexação é a parte mais
importante da análise documentária. Consequentemente é ela que condi-
ciona o valor de um sistema documentário.” Ainda segundo o autor, uma
indexação inadequada ou uma indexação insuciente representa 90% das
causas essenciais para a aparição de “ruídos” (os documentos não pertinen-
tes à questão que são recuperados em uma pesquisa bibliográca) ou de
silêncios” (os documentos pertinentes à questão existentes no acervo que
não são recuperados).
O termo indexação é denido por Van Slype (1991) como a ope-
ração que consiste em enumerar os conceitos sobre os quais trata um docu-
mento e representá-los por meio de uma linguagem combinatória – lista de
descritores livres, lista de autoridades e o thesaurus de descritores – tendo
como nalidade a busca documental que será realizada a partir dos índi-
ces ou dos catálogos. Nessa denição, referido autor destaca a representa-
ção dos conceitos, por meio de uma linguagem especíca com vistas ao
2
Sistema internacional vinculado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e conhecido pela sigla UNISIST.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
72
processo de recuperação da informação por meio de índices ou catálogos,
colaborando com nossa intenção de pesquisa ao estudarmos a política de
indexação para construção de catálogos.
Lancaster (2004, p. 1) explica que “[...] os processos de indexação
identicam o assunto que trata o documento [...]” e eles implicam “[...] a
preparação de uma representação do conteúdo temático dos documentos.
(LANCASTER, 2004, p. 6, grifo do autor).
Consideramos, portanto, que a indexação diz respeito à identi-
cação do conteúdo do documento, por meio do processo de análise, e
à representação desse conteúdo através de conceitos. Esses conceitos, por
sua vez, serão representados ou traduzidos em termos advindos de uma
linguagem documentária, com vistas à intermediação entre o documento
e o usuário no momento da recuperação da informação, seja em índices,
catálogos ou bases de dados.
O processo de indexação é composto por diferentes etapas, cujo
número varia de acordo com os autores, como veremos a seguir.
O UNISIST (1981) arma que o processo de indexação compre-
ende dois estágios:
- o estabelecimento de conceitos tratados num documento: en-
volve a compreensão do conteúdo do documento como um
todo; a identicação dos conceitos representativos desse conte-
údo; a seleção dos conceitos válidos para recuperação.
- a tradução dos conceitos nos termos da linguagem de indexação;
Segundo Chaumier (1986) existem também duas etapas:
- o reconhecimento e extração de conceitos informativos composto
pela apreensão do conteúdo do documento por meio da leitura;
pela identicação dos conceitos tendo em vista os objetivos do
sistema de informação as necessidades dos usuários e pela seleção
de conceitos segundo a exaustividade e especicidade do sistema
de informação;
- a tradução desses conceitos em linguagem natural.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
73
Para Van Slype (1991) a indexação comporta quatro operações
distintas, a saber:
- conhecimento do conteúdo do documento;
- escolha dos conceitos a serem representados, baseando-se na
aplicação da regra da seletividade e exaustividade;
- tradução dos conceitos selecionados da forma em que apare-
cem impressos no documento, para os descritores do tesauro
aplicando a regra da especicidade;
- incorporação dos elementos sintáticos.
Assim como para o UNISIST (1981) e para Chaumier (1986),
para Lancaster (2004) a indexação também envolve duas etapas:
- a análise conceitual:
- a tradução.
A Norma ABNT 12676 descreve três estágios da indexação:
- exame do documento e estabelecimento do assunto de seu con-
teúdo;
- identicação dos conceitos presentes no assunto;
- tradução desses conceitos nos termos de uma linguagem de
indexação.
Os autores divergem quanto ao número de etapas da indexação.
Porém, elas tratam basicamente das mesmas operações:
- análise: leitura e segmentação do texto para identicação e se-
leção de conceitos;
- síntese: construção do texto documentário com os conceitos
selecionados;
- representação: por meio de linguagens documentárias.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
74
Observamos, portanto, que a etapa inicial da indexação é a aná-
lise. Essa análise é realizada por meio da leitura feita pelo indexador que
procura compreender de maneira geral o documento para identicar e se-
lecionar os termos que representarão o documento para a recuperação.
Concordando com os autores Fujita (1998; 2001; 2003) e Dias
e Naves (2007), acreditamos que a leitura documentária é a etapa primor-
dial da indexação, pois corresponde à primeira fase de abordagem do leitor
indexador e desencadeará o processo de análise de assunto do texto para
identicação e seleção de conceitos.
No entanto, na prática prossional do indexador, a leitura total
de um documento é impraticável, já que a leitura documentária está
sujeita a condições especícas: limite de tempo, propósito denido, ge-
ração de produtos e serviços e grande volume de documentos de uma
mesma área de assunto.
Sendo assim, o indexador deve lançar mão de seu conhecimento
prévio – linguagem documentária utilizada pelo sistema de informação,
estrutura textual do documentoe assunto – e acionar estratégias durante a
leitura documentária a m de que seu objetivo seja atingido: identicação
e seleção de conceitos de um documento.
As estratégias de leitura, as ações que o leitor realiza no ato de
ler, têm sido denidas por vários autores. Essas estratégias segundo Faerch
e Kasper (1980, citados por NARDI, 1993) são planos potencialmente
conscientes do leitor para resolver algo que se apresenta como um proble-
ma na compreensão.
Para Brown (1980) estratégia é qualquer controle deliberado e
planejado das atividades que levam a compreensão. A autora ainda acredita
que as ações são intencionalmente selecionadas.
Kato (1987) distingue dois tipos de estratégias que denem o
comportamento do leitor: as estratégias cognitivas que são aquelas que au-
tomáticas e subconscientes utilizadas durante a leitura uida e as estraté-
gias metacognitivas que são conscientes do leitor frente a um problema.
As estratégias cognitivas de Kato (1987) são denominadas por Cavalcanti
(1978) como estratégias automáticas e as metacognitivas são chamadas es-
tratégias controladas.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
75
Sob o ponto de vista de Nardi (1993), Brown (1980) considera
estratégia cognitiva como “skill” (uma estratégia que teria sido adquirida
em algum momento da aprendizagem e se tornado automática) e estraté-
gia metacognitiva como estratégiasimplesmente (o uso consciente da uma
skill” ou de uma nova tática, em momentos de solução de problemas).
Na nossa concepção, estratégias são ações empreendidas pelo
leitor no ato de ler, potencialmente conscientes, geralmente direcionadas
para a solução de um problema.
Brown (1980) lista atividadesconsideradas de natureza metacognitiva:
• explicitação dos objetivos da leitura;
• identicação de aspectos importantes da mensagem;
• alocamento de atenção a áreas importantes;
• monitoração do comportamento para ver se está ocorrendo
compreensão;
• engajamento em revisão e auto-indagação para ver se o objetivo
está sendo atingido;
• tomada de ações corretivas quando são detectadas falhas na
compreensão;
• recobramento de atenção quando a mente se distrai ou faz
digressões.
Para Kato (1987) existem apenas duas estratégias metacognitivas
básicas, sendo as demais apenas subtipos dessas estratégias. São elas:
• estabelecimento de um objetivo explícito para leitura;
• monitoração da compreensão tendo em vista esse objetivo.
Em se tratando de leitura documentária, consideramos impor-
tante abordar as noções de estratégias de leitura em documentação apre-
sentadas por Cintra (1989), em que são apontados vários fatores que con-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
76
correm para a qualidade de um texto: a manutenção do tema, a correção
gramatical, a adequação lexical, a estrutura do texto.
Segundo a referida autora, na leitura para ns documentários é
preciso que haja uma cooperação autor/leitor, já que o autor não prevê
quem poderá ler o que ele publicou.
Sabe-se também que na leitura para ns documentários e trata-
mento da informação (leitura técnica), não é necessário, nem aconselhável
uma leitura linear, letra por letra, palavra por palavra, o leitor avança no
textona medida que consegue predizer o que vem a seguir.
O leitor deve buscar detectar a estrutura do texto. O leitor, que
tem facilidade de reconhecer as superestruturas textuais, capta melhor as
ideias principais do texto. Diferentemente, um leitor que lê linearmente,
faz esforços desnecessários para compreender trechos isolados, mas sem
apoiar-se na estrutura textual e seus conhecimentos prévios para inferir
signicados, e levantar hipóteses que o ajudarão a apreender a temática
global. O apoio na estrutura textual permite ao leitor ser seletivo e alocar
atenção a trechos importantes.
As estratégias ascendentes (bottom-up) e descendentes (top-down)
citadas por Cintra (1989) mostra que o leitor, durante o processo deleitura,
pode realizar dois movimentos: movimento botton-up, em que o leitor vai
lendo na dependência do contexto escrito, ou seja, vai extraindo, linear-
mente, dos símbolos impressos o signicado, caminhando das partes para
o todo, e movimento top-down, no qual há maior dependência de conhe-
cimento prévio do leitor, pois ele vai fazendo generalizações e predições a
partir de “esquemas” que tem armazenados em sua memória, formulando
hipóteses que ajudarão na compreensão do texto.
Kato (1987) considera leitor experiente aquele que utiliza os dois
tipos de estratégias, as ascendentes (dependentes do texto, da análise cuida-
dosa do input visual) eas descendentes (baseadas no conhecimento prévio
do leitor e na sua capacidade de inferência, de predição), relacionando ora
um tipo, ora outro, de maneira consciente, no momento em que cada uma
delas se zer necessária. Há momentos na leitura em que um trecho difícil
para o leitor exige que ele leia linear e cuidadosamente, e há outros em que
apenas inferências pelo contexto permitem a compreensão sem problemas.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
77
Além disso, acredita-se que o leitor estratégico prociente seja
aquele que além de utilizar apropriadamente estratégias ascendentes e as
descendentes, mantém em mente o objetivo da leitura.
Para essa vericação, foi realizado diagnóstico e caracterização do
indexador do Centro de Informações Nucleares (CIN) por meio de suas
atividades de análise e leitura documentária para indexação.
3 metOdOlOgiA
3.1 Centro de Informações Nucleares (CIN)
O Centro de Informações Nucleares (CIN), departamento da
Comissão de Nacional de Energia Nuclear (CNEN), faz do Brasil um país
membro cooperante do International Nuclear Information System (INIS)
que é coordenado pela InternationalAtomic Energy Agency (IAEA). O princi-
pal produto do desse sistema de informação é a base de dados bibliográca
INIS que, atualmente possui mais de 3 milhões de registros sendo afonte
mundial mais completa sobre literatura técnico-cientíca na área nuclear.
(BRASIL, 2015).
O CIN “[...] é o ponto de contato nacional para encontrar infor-
mações especícas sobre a área nuclear através do acesso a serviços automa-
tizados e à base de dados bibliográcas.” (BRASIL, 2015).
A opção por um estudo de caso com esse sistema de informação
partiu do pressuposto de que as atividades de análise documentária realiza-
das para geração da Base de Dados INIS contaria com recursos humanos
treinados e com metodologia padrão.
Com a permissão e o interesse do Sr. Luiz Fernando Passos de
Macedo, então gerente do Centro de Informações Nucleares, foi possível a
coleta de informações necessárias à caracterização funcional desse sistema.
O funcionamento do INIS depende de seus membros coope-
rantes que se encarregam de:selecionar a literatura nuclear gerada em seu
país;preparar os dados de entrada de acordo com as regras do INIS;enviar
uma cópia do texto completo de artigos da literatura que não está disponí-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
78
vel através dos canais comerciais convencionais;disponibilizar os serviços e
produtos de informação do INIS aos usuários e/ou membros do Sistema.
Para isso, a atividade de análise documentária, compreendida
pelas fases de análise, síntese e representação, é realizada no CIN para a
alimentação da Base de Dados INIS. Esses registros representam toda a
literatura (teses, artigos, livros, capítulos de livros, trabalhos de congressos
etc.) gerada e publicada por pesquisadores brasileiros.
Para a coleta desses trabalhos são feitos contatos com as institui-
ções da pesquisa, universidades, bibliotecas da área nuclear e até mesmo
com os próprios autores para que sejam enviados ao CIN os trabalhos
publicados na área de energia nuclear e ans.
Os documentos que chegam ao CIN passam por um processo de
seleção de assunto para garantir que eles estejam dentro do escopo da Base
de Dados INIS.
Para manter a uniformidade dos arquivos informacionais foram
elaboradosmanuais de referência que contém regras, padrões, formatos e
diretrizes para catalogadores e indexadores nos quais o Sistema está basea-
do. Conhecidos como INIS Reference Series, esses manuais estavam dispo-
níveis em CD-ROM e, atualmente estão disponíveis no site www.iaea.org.
Os indexadores do CIN realizam o processamento temático
dos documentos utilizando o INIS: Manual for SubjectAnalysis (IAEA-
INIS-12) produzido em conjunto pelo INIS e ETDE (Energy Technology
Data Exchange) e publicado em 1995 para substituir o INIS: Manual for
Indexing (IAEA-INIS-12, Rev.2 ), além do INIS esaurus.
O Manual descreve em sequência todos os passos da análise
de assunto em6 capítulos: 1 Introdução à Análise de Assunto; 2 Análise
Preparatória; 3 Classicação de Assunto; 4 Resumo e Aumento de título; 5
Indexação de Assunto; 6 Diretrizes e Exemplos para Análise Temática em
campos de Assuntos Particulares.
Nos procedimentos sugeridos para indexação existe apenas um
item destinado à leitura do documento. Sendo assim houve a necessidade
de leitura de todo o Manual para reconhecimento e síntese de aspectos
relacionados à leitura.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
79
Após esse reconhecimento, os aspectos sintetizados foram orde-
nados para garantir que a sequência “antes da leitura - durante a leitura
- após a leitura” fosse mantida.
recOmendAções dO sistemA pArA identificAçãO de cOnceitOs
1. O entendimento do conteúdo técnico-cientíco do docu-
mento é o pré-requisito básico para indexação, isto signica
que o indexador deverá ser especialista na área do assunto da
publicação a ser indexada, e ao mesmo tempo, familiarizado
com o esaurus e com as regras de indexação.
2. O critério a ser sempre utilizado para interpretação do docu-
mento deverá ser inteiramente baseado no usuário.
3. O indexador deverá estar atento para identicar cada parte da
literatura sob o ponto de vista do usuário
4. Identicar os conceitos principais que geralmente constituem
a razão essencial da publicação do material.
5. Identicar uma, duas ou talvez três ideias principais que
constituem a razão essencial da publicação do material.
Cada uma dessas ideias deverá ser representada por descri-
tores coordenados.
leiturA e identificAçãO de cOnceitOs
1. Leia cuidadosamente o título e resumo.
2. O mais comum é começar a indexação pelos conceitos con-
tidos no resumo e no título e depois esquadrinhar o texto
todo para encontrar itens informacionais que estão faltando
no resumo ou que requerem mais precisão.
3. Esquadrinhe o texto todo para encontrar conceitos mais de-
talhados, prestando cuidadosa atenção ao Índice de Assunto,
Introdução, Resumo, Conclusões, Grácos e Tabelas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
80
4. O indexador deve decidir se a publicação consiste de par-
tes de procedimentos com tópicos diferentes sucientemente
para que uma subdivisão seja feita no nível bibliográco e
cada parte seja tratada como um documento separado.
5. Para encontrar o descritor mais especíco apropriado, o in-
dexador deverá checar wordblock do descritor considerado
para ver se algum dos termos menores associados a ele são
apropriados.
6. Sugere-se que uma lista de trabalho dos itens informacionais
seja feita primeiramente. Durante a leitura do título e resumo
e esquadrinhamento do texto todo, o indexador lista aqueles
itens que representam a informação signicativa. Feita esta
lista, ela deverá ser “traduzida” em descritores.
representAçãO dOs cOnceitOs pOr descritOres dO thesAurus
1. Cada um dos conceitos identicados deve ser representado
por descritores retirados do esaurus
2. Selecione somente aqueles descritores que representem con-
ceitos realmente discutidos em detalhe no documento e
conceitos sobre os quais alguma informação útil pode ser ob-
tida pela leitura do documento.
3.2 Protocolo verbal
Para a observação das estratégias de leitura de indexadores do
CIN foi aplicada, como método de observação de processos, a técnica de
coleta de dados introspectivos “Protocolo Verbal” ou “Pensar Alto” nos
moldes de Ericsson e Simon (1987). Segundo os autores, as observações do
processo são como observações que fornecem informações sobre passos de
processamento individual, tais como verbalizações espontâneas, sequência
de movimentos com os olhos, exteriorizando seus processos mentais, man-
tendo a sequência das informações processadas.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
81
Cohen (1987) cita o “Pensar Alto” dentre três tipos básicos de
dados provenientes da técnicas introspectivas:
- Auto-Relato: armações generalizadas sobre o comportamento
durante a leitura;
- Auto-Observação: inspeções de comportamentos especícos de
leitura, enquanto a informação ainda está sob o foco de atenção;
- Auto-Revelação: “Pensar alto”, o pensamento é direta e automa-
ticamente externalizado.
Para Ericsson e Simon (1987), o leitor pode exteriorizar seus pro-
cessos mentais enquanto a informação processada estásob o foco de sua
atenção. O indivíduo lê e interpreta ao mesmo tempo, exteriorizando em
voz alta tudo o que “passa pela sua cabeça” durante a leitura.
Nardi (1993) esclarece que, na procura de métodos para aces-
so direto aos processos mentais dos indivíduos, os pesquisadores encon-
traram apoio na Linguística, Sociologia e Psicologia. Essas áreas utilizam
métodos introspectivos(Relatos, Protocolos, Declarações Verbais), ou seja,
declarações dos próprios informantes sobre como organizam e processam
a informação.
Segundo Cavalcanti e Zanotto (1994), protocolos são geralmente
denidos como relatos verbais dos processos mentais conscientes do infor-
mante. Em outras palavras, eles se referem ao “pensar alto” do informante
enquanto realiza uma tarefa de qualquer natureza.
Os protocolos verbais foram introduzidos na pesquisa qualitativa
em Psicologia a partir de 1980 e desde então sua validade como reveladores
de processos mentais tem sido questionada. Durante a era do behavioris-
mo, eles foram banidos da ciência. Segundo Ericsson e Simon (1987),
quando o cognitivismo entrou em evidência como um novo paradigma,
eles ressurgiram como principal fonte de dados para a pesquisa cognitiva.
Este renascimento ocorreu dentro do arcabouço teórico do processamento
da informação relacionado a estudos de solução de problemas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
82
Eles ultrapassaram os limites da Psicologia Cognitiva e passaram
a ser usados na Linguística Aplicada, área em que marcaram presença forte
na pesquisa sobre leitura em língua estrangeira.
Segundo Ericsson e Simon (1987) alguns autores criticam a
técnica do “pensar alto”, por acreditarem que ela pode modificar os
processos mentais, fazendo com que as informações dos sujeitos não
sejam precisas, completas, não sejam confiáveis. Em defesa do Relato
Verbal, Ericsson e Simon (1987) apoiam-se na teoria do processa-
mento da informação e explicam que a informação é armazenada na
memória a curto prazo (STM) - duração intermediária de retenção
e acesso rápido à informação e na memória de longo prazo (LTM)
- armazenamento e duração relativamente permanente, lenta a recu-
peração da informação.
O modelo proposto por Ericsson e Simon (1987) prevê que
a informação recém-apreendida pelo processador central é mantida na
memória de curto prazo por algum tempo e é diretamente acessível
para processamento subsequente, enquanto que na memória de longo
prazo a informação precisa ser recuperada antes de ser relatada. Dessa
forma, as informações coletadas em Relatos Verbais são as recém-apre-
endidas, diretamente acessíveis para processamento subsequente.
Cavalcanti e Zanotto (1994) argumentam que a questão da con-
abilidade dos dados provenientes de técnicas introspectivas é um proble-
ma de outras técnicas também. Apesar de ainda controvertida, essa técnica
é, segundo Nardi (1993), o único instrumento de coleta, no momento
disponível, que possibilita observar processos do leitor durante a compre-
ensão de um texto, o que justica a nossa escolha.
A seguir, descrevemos a metodologia do Protocolo Verbal para
observação da leitura documentária.
1. Seleção do texto
A seleção do Texto-Base foi solicitada ao CIN com a recomen-
dação de que fosse um texto ainda não indexado e que não fosse de uma
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
83
área muito especíca, podendo ser indexado por qualquer prossional in-
dependentemente de sua área de atuação.
O texto selecionado pelo CIN é da área de Química publicado
como artigo no periódico Química Nova:
FIGUEIRA, R.C.L.; CUNHA, I.I.L. A contaminação dos oce-
anos por radionuclídeos antropogênicos. Química Nova, São Paulo, v.21,
n.1, p.73-77, 1998.
O texto apresenta uma gura e três grácos além da seguinte es-
trutura textual:
- Título;
- Resumo (somente em inglês);
- Palavras-chaves (omitidas durante a entrevista)
- Introdução
- Dois subtítulos:
- Comportamento dos radionuclídeos no meio marinho;
- Níveis de radionuclídeos nos oceanos;
- Conclusão;
- Referências bibliográcas.
2. Seleção dos sujeitos
A seleção dos sujeitos indexadores para o propósito da pesquisa
teve como critérios o tempo de permanência da pesquisadora no Rio de
Janeiro e a disponibilidade dos indexadores externos.
De acordo com a metodologia de observação do Protocolo
Verbal, a entrevista realizada com 4 indexadores constou da leitura do
texto-base. Para esta leitura, a entrevistadora solicitou que a zessem na-
turalmente, conforme sua preferência e rotina diária, tendo como obje-
tivo a identicação e seleção de conceitos para a indexação, uma vez que
esse é o nível de leitura frequentemente mais exigido para a realização de
tarefas de um indexador.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
84
3. Contatos para conhecer a disponibilidade do indexador
O próprio CIN contatou os indexadores para vericação de inte-
resse pela pesquisa e disponibilidade para a entrevista, fazendo o agenda-
mento da mesma.
4. Conversa informal com cada sujeito
No dia de cada entrevista foi realizada uma conversa informal
com cada sujeito antes da realização Protocolo Verbal. Foram menciona-
dos os objetivos da pesquisa mostrando sua importância para o desenvol-
vimento da área, evidenciando-se a preocupação de manter a identidade
de cada um dos sujeitos oculta com o propósito da não comprometer os
dados e deixá-los a vontade durante a realização da tarefa.
5. Familiarização com a tarefa do “inkAloud” (Pensar Alto) através de “Ins-
truções aos Sujeitos
Antes da aplicação do Protocolo Verbal ou Pensar Alto, foi feita uma
familiarização com a tarefa utilizando um texto contendo “Instruções aos
Sujeitos”, elaborado com o propósito de descontrair e ao mesmo tempo apre-
sentar procedimentos que poderão auxiliar o sujeito no desempenho da tarefa.
6. Gravação do “pensar alto” durante a leitura do texto-base
Antes de começar a gravação, foi entregue ao sujeito o texto-base
lembrando que é preciso pensar alto durante toda leitura e exteriorizar seus
processos mentais, procurando esquecer a presença da pesquisadora que
estará presente apenas com o intuito de lembrar que é preciso pensar alto
e também controlar o gravador.
7. Entrevista retrospectiva
Logo após a aplicação do protocolo verbal, foi feita uma entre-
vista retrospectiva com cada sujeito com o objetivo de esclarecer alguns
pontos considerados obscuros pela pesquisadora.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
85
8. Transcrição dos Protocolos Verbais dos sujeitos
As transcrições foram feitas de maneira a destacar a compreensão
dos sujeitos, suas dúvidas, equívocos, identicação e seleção de termos.
Com a gravação do “Pensar Alto” durante a leitura e entrevista
retrospectiva dos quatro sujeitos indexadores entrevistados, foi possível a
transcrição literal completa em texto escrito e, em seguida, a análise dos
dados coletados.
4 resultAdOs e discussãO dA ObservAçãO dAs estrAtégiAs dO indexAdOr
nA leiturA dOcumentáriA
Considerando-se que as estratégias metacognitivas listadas por
Brown (1987) e associadas à Norma são as mais representativas para a
leitura com ns documentários, a discussão dos resultados obtidos reali-
zou-se a partir dos seguintes aspectos:
I. Sequência de operações (aspectos) da leitura de sujeitos;
II. Manter em mente o seu objetivo de representar o texto para
futura recuperação;
III. Exploração de seu conhecimento de estruturas textuais;
IV. Identicação de aspectos importantes da mensagem para
seleção de conceitos;
V. Domínio da linguagem do sistema como conhecimento prévio.
Sequência de operações (aspectos) da leitura dos sujeitos
A sequência de operações, sintetizada a partir dos dados coleta-
dos na entrevista, dos quatro sujeitos, revelou pela análise documentária,
que dos 10 tipos de operações consideradas indicativas de estratégias me-
tacognitivas, o sujeito 1 utilizou 8 tipos, o sujeito 2 utilizou 6, o sujeito
3 utilizou 7 tipos e o sujeito 4 utilizou 4 tipos. Com relação ao padrão
de sequências de operações, observou-se que, com exceção do sujeito 4
que repetiu somente 2 operações mais de uma vez, os outros sujeitos pos-
suem um padrão de sequência, mesmo não sendo semelhantes ou cons-
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86
tantes. Observa-se um ponto divergente entre os padrões: a operação 5
Associação com linguagem” foi utilizada somente pelo sujeito 1. Essas
constatações revelam que: a leitura feita pelos sujeitos é metacognitiva; os
indexadores se utilizam muito mais do conhecimento prévio do assunto do
que da linguagem documentária do sistema para a identicação de concei-
tos; há o domínio da estrutura textual de um artigo para ir direto às partes
do texto em que foram identicaram aspectos importantes da mensagem e
eles seguem a metodologia descrita no Manual INIS.
Manter em mente o seu objetivo de representar o texto para futura recuperação
De acordo com a análise das sequências da operações dos 4 su-
jeitos a operação “Explicitação dos objetivos da leitura” foi utilizada em 4
momentos pelo sujeito 1, em 3 momentos pelo sujeito 2, em 1 momento
pelo sujeito 3 e em nenhum momento pelo sujeito 4. Como objetivo da
leitura do indexador é representar o texto para futura recuperação pelo
usuário do sistema, é extremamente necessário a manutenção deste obje-
tivo em mente para identicação e seleção de conceitos que possam, re-
almente, expressar o conteúdo do documento, o que não cou explícito
durante a leitura do sujeito 4.
Exploração de seu conhecimento de estruturas textuais
Os sujeitos 1, 2, 3 foram os que melhor exploraram a estrutura
textual, seguindo as recomendações do Manual INIS.O sujeito 1 explo-
rou 6 partes da estrutura textual e dos 9 termos selecionados,6 são iguais
ao INIS esaurus. O sujeito 2 explorou 4 partes da estrutura textual,
selecionando 6 termos dos quais 4 são descritores. O sujeito 3 também
explorou 4 partes da estrutura textual e selecionou 8 termos dos quais 6
são descritores. Jáo sujeito 4 explorou 3 partes da estrutura textual e sele-
cionou 4 termos dos quais 3 são descritores.Os resultados demostram que
os sujeitossão muito procientes, explorando de forma ecaz a estrutura
textual resultando a identicação de conceitos. Isto mostra que o domínio
da estrutura textual facilita a exploração de modo a garantir a estratégia de
identicação de conceitos.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
87
Identicação de aspectos importantes da mensagem para seleção de conceitos
Na análise das partes da estrutura textual em que foram iden-
ticados conceitos, os resultados demonstram que o sujeito 1, além de
ter sido o que mais explorou toda a estrutura textual, também utilizou o
maior número de partes para identicação. Com relação ao sujeito 2, que
também explorou toda a estrutura textual, observou-se que, para identi-
cação de termos, limitou-se ao Título, Resumo, Introdução e Conclusão.
O sujeito 3 explorou a estrutura textual, utilizando para identicação de
conceitos, Introdução, Figura 1, Resumo e um subtítulo. O sujeito 4 limi-
tou-se somente ao Resumo. A observação da sistemática de identicação de
conceitos na leitura dos sujeitos demonstrou o uso de diferentes estratégias
mas sem uma sistemática constante, ou seja, o sujeito 1 limitou-se a grifar
conceitos que reconhece por associações com linguagem do sistema duran-
te a leitura. Já o sujeito 2 relaciona partes importantes da estrutura textual
com os termos identicados. O sujeito 3 somente grifa as palavras que
reconhece como chave. O sujeito 4 não explicitou a utilização de nenhuma
sistemática para identicação de conceitos. Os resultados dos sujeitos 1 e
2 combinam as estratégias de identicação de conceitos com o domínio
da linguagem do sistema e da estrutura textual e conhecimento prévio do
assunto, garantindo que os termos extraídos sejam mais representativos e
ao mesmo tempo, compatíveis com a linguagem de recuperação.
Domínio da linguagem do sistema como conhecimento prévio
A vericação da compatibilidade dos termos selecionados pelos
sujeitos com a linguagem do sistemaresultou em que , do total de 23 ter-
mos selecionados pelos sujeitos e pelo autor, 13 são descritores, 7 seriam
adaptados, e 3 não foram encontrados. Correspondendo a 86,95% de
compatibilidade com o sistema, conclui-se que os termos selecionados são
extremamente compatíveis. Considerando-se que o indexador é especia-
lista, o domínio do assunto se torna mais fácil e é utilizado como conhe-
cimento prévio.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
88
5 cOnsiderAções finAis
Conforme os objetivos de identicar os procedimentos de lei-
tura documentária utilizados para exame de documento e identicação
de conceitos e examinar as estratégias de leitura usadas pelos indexado-
res para a identicação de conceitos que melhor representem o docu-
mento, foi realizado referencial teórico inicial sobre estratégias de leitura
em Análise Documentária, bem como estudo de caso com o Centro de
Informações Nucleares (CIN) da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) para caracterização do indexador e levantamento das atividades
de Análise Documentária.
A partir da síntese dos resultados obtidos, pode-se concluir que
o indexador do Centro de Informações Nucleares é bastante estratégico e
prociente na realização da leitura para indexação.
Embora não sejam bibliotecários, os indexadores recebem treina-
mento especíco do Sistema e contam com uma linguagem documentária
bem estruturada e exível e com Manuais de Referências para realização
da indexação.
Sendo especialistas na sua área de atuação, os indexadores:
Utilizam o domínio do assunto como conhecimento prévio
e não a linguagem documentária do sistema, selecionando
assim termos relacionados com sua área de atuação e extre-
mamente compatíveis;
Pouco utilizam a sequência de operações, pois quanto maior
o conhecimento prévio do assunto menor a sequência de ope-
rações utilizada;
Utilizam muito a exploração da estrutura textual;
Não apresentam diculdades durante a leitura;
Seguem as recomendações do INIS para indexação.
A leiturado indexador do CIN é metacognitiva ao explorar toda a
estrutura textual do documento, ao utilizar estratégias de leitura com os as-
pectos previstos por Brown (1980) e, principalmente, ao manter em mente
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
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o objetivo da leitura – representar para recuperar. É vital para a indexação
bem sucedida que o indexador realize estratégias de compreensão da leitura
interagindo com o texto e tendo em vista o seu objetivo que é representar
para que o usuário recupere.
Quanto à observação de estratégias de leitura utilizadas, cou ex-
plícito que existem duas operações distintas utilizadas pelos indexadores
durante a leitura: Identicação de conceitos e Seleção de conceitos. Isso escla-
rece que o indexador realiza as duas operações durante a leitura e não após a
leitura. A Norma indica a realização das operações, mas não explicita o mo-
mento em que acontece, somente indicando que o estágio de Identicação
de Conceitos deve ser feita após o exame do documento. De acordo com
essa indicação, entende-se que a identicação de conceitos presentes no
conteúdo do documento será realizada após a leitura e os conceitos serão,
depois de identicados, representados por descritores de uma linguagem
adotada pelo sistema de informação.
Tendo em vista os resultados obtidos na análise das estratégias
através da técnica do Protocolo Verbal conclui-se que a presença de estra-
tégias metacognitivas é resultado da compreensão da leitura e o uso maior
ou menor de estratégias signica uma prociência maior ou menor na
compreensão do conteúdo do documento.
referênciAs
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92
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Análise dOcumentAl e representAçãO dA
infOrmAçãO: ApOrtes teóricOs à utilizAçãO
simultâneA visAndO A recuperAçãO dA
infOrmAçãO em ArquivOs
Wendia Oliveira de Andrade
Dulce Amélia de Brito Neves
1 intrOduçãO
No processo de organização da
informação, temos o desenvol-
vimento de atividades e processos técnicos que irão culminar no acesso e
uso por parte dos usuários, sejam eles internos ou externos à instituição na
qual se encontra o arquivo, a biblioteca, o museu, ou qualquer unidade
informacional que seja passível a busca de informações.
Ao longo desse processo informacional (organização, descrição,
análise, representação e classicação), indagamos se existe um momento
ímpar quando consideramos a efetiva recuperação da informação e, conse-
quentemente, o atendimento à necessidade apresentada pelo usuário quan-
do há uma lacuna (DERVIN et al., 2011) ou problema informacional
(GROGAN, 2001).
Qual o momento que merece maior atenção no desenvolvimen-
to das atividades ao lidar com o documento, seja ele impresso ou digital,
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p93-112
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
94
quando pensamos no momento de busca e recuperação documental e in-
formacional por parte do usuário?
Da chegada do documento à unidade informacional e, por conse-
guinte,até seu usuário, temos um longo caminho de processos técnicos que, ao
contrário do que se supõe, envolvem o desenvolvimento de tarefas minuciosas
que exigem do prossional da informação
1
muito mais do que conhecimento
operacional, pois o documento tem toda uma organicidade que não pode e
nem deve ser desconsiderada ao longo desse caminhar dentro da unidade in-
formacional. Aqui objetivamos reetir sobre o arquivo e seu documento, e as
atividades que procuram analisar, representar e possibilitar sua recuperação.
O documento de arquivo é criado para atender determinado ob-
jetivo, seja ele administrativo, jurídico ou testemunhal. Além disso, esse
documento tem em sua essência um caráter de prova, comprovação ou
mesmo a representação do cumprimento de um ato, assim Bellotto (2008)
nos apresenta a denição de documento de arquivo no contexto diplomá-
tico e a importância do Arquivo como unidade mantenedora de documen-
tos tão importantes.
Essa perspectiva corrobora a importância da análise documen-
tal, relacionando-a com a diplomática arquivística, buscando elementos que
comprovem a veracidade daquele documento ou, nas palavras da autora, a
comprovação de autenticidade” (BELLOTTO, 2008, p. 4). Sobre o formato,
Camargo (2015, p. 16) destaca que “os documentos de arquivo são, por ex-
celência, do gênero textual, ou seja, utilizam linguagem escrita para viabilizar
certas ações e, a posteriori, para provar que essas mesmas ações se realizaram.
Schellenberg (2006, p. 41, grifo nosso) em sua denição clássica
de documento de arquivo também ressalta o valor comprobatório quando
arma que:
[...] no exercício de seus encargos legais ou em função das suas ativida-
des e preservados ou depositados para preservação por aquela entidade
ou por seus legítimos sucessores como prova de suas funções, sua
política, decisões, métodos, operações ou outras atividades, ou em
virtude do valor informativo dos dados neles contidos.
Optamos por chamar de maneira mais genérica todos os prossionais inseridos nas unidades informacionais,
em especial nos Arquivos, por compreender que, ainda no momento atual, temos a presença de bibliotecários,
historiadores entre outros que não possuem a formação acadêmica em Arquivologia, não podendo chamá-los de
arquivistas no sentido restrito da palavra, apesar de considerarmos muito sua experiência e contribuição para a área.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
95
Nesse sentido, compreendemos que os documentos de arquivo
possuem elementos que não podem ser desconsiderados quando analisados
e representados, visando a sua recuperação futura, pois essas informações
além de dar signicação, apresentam valor informativo-comprobatório,
mostrando que o documento de arquivo, além da forma, conteúdo ou su-
porte que se apresente, tem em seu teor informacional, elementos que, em
determinado momento, zeram-no ser essencial para corroborar um ato/
ação no seu percurso de vida documental (valor primário).
Voltando nossa discussão especicamente ao contexto arquivístico
na busca pela informação pelo usuário interno ou externo
2
(ANDRADE,
2014), temos vários aspectos que poderão incorrer em sucesso ou fracasso
para a efetiva recuperação da informação arquivística. Dentre os fatores de
sucesso, destacamos como imprescindíveis: a análise documental e a repre-
sentação da informação.
Todas as informações contidas no documento são essenciais para
que possamos compreender melhor o contexto documental e, dessa forma,
melhor analisá-lo e representá-lo, tanto nos aspectos explorados pela aná-
lise diplomática e tipológica quanto na representação descritiva e temática
do documento a ser estudado.
Em certos aspectos, são símiles a análise e a representação, pois
tratam de descrever ao máximo o documento de arquivo, observando desde
suas características físicas até o conteúdo informacional, passando pela espé-
cie, tipo, fundo, gênero, entre outros elementos queconsideramos essenciais.
Devido à similaridade discricional em ambas as atividades, análise
e representação, objetivamos aqui reetir, mesmo que teoricamente, sobre o
que em essência apresentam essas teorias. Será que ambas podem ser utiliza-
das simultaneamente ao trabalhar com o documento de arquivo? Será que
tratam da mesma coisa com nomenclatura distinta, ou apresentam pontos
diferenciados que podem e/ou devem ser trabalhados em consonância?
Podemos dizer que os usuários internos são aquelas pessoas que trabalham na mesma entidade mantenedora
do arquivo. Eles conhecem a rotina administrativa, a documentação e todas as suas partes, sem necessariamente
precisarem conhecer a rotina do Arquivo como unidade informacional, mas conhecem o documento e sabem
que ele pertence à mesma instituição que ele. Por usuário externo, compreendemos aquele sujeito que não
está vinculado à instituição, nem administrativa nem metodologicamente, ou seja, não existe nenhum tipo de
contato com a unidade gestora que responda pela unidade informacional. Aqui entram os pesquisadores de
maneira geral e os cidadãos comuns. (ANDRADE, 2014).
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
96
A partir de tais questionamentos, reetimos sobre alguns tra-
balhos que apresentam ideias fundamentais sobre diplomática e sobre
análise documental com suas variantes diplomática e tipológica, espe-
cialmente o trabalho de Bellotto (2008) e de Duranti (2015). No tocan-
te à indexação ou representação da informação (temática e descritiva),
citamos Lancaster (2004), Maiomone, Silveira e Tálamo (2011), Fujita
(2009; 2003) entre outros.
Compreendemos a existência de excelentes trabalhos a respei-
to da temática escolhida para dissertar, entretanto, escolhemos aqueles
que, de acordo com nossa perspectiva, apresentam conceitos e denições
mais claras e completas, o que nos permitiu uma melhor reexão para o
desenvolvimento de um estudo ao qual se pretende relacionar duas te-
máticas que têm pontos convergentes e divergentes (análise documental
e a representação da informação) com objetivo comum: a recuperação
da informação para o usuário de arquivo, seja ele interno ou externo.
2 Análises diplOmáticA e tipOlógicA
Analisar um documento, assim como representá-lo, não é tarefa
somente objetiva ou descritiva, mas investigativa. Ao seguirmos os pre-
ceitos básicos para a recuperação da informação, estamos considerando o
aspecto físico (o suporte) e também elementos subjetivosno que se refere
ao seu conteúdo informacional (representação).
Ao adentramos no universo diplomático
3
e começamos a analisar
a relação entre matéria e conteúdo, suporte e informação, assim como
os elementos externos e elementos internos (BELLOTTO, 2008) forma
física e forma intelectual
4
(DURANTI, 2015), notamos que não é algo
simples de ser observado, pois a estrutura física nos apresenta elementos
que necessitam de descrição e até mesmo de investigação,assim como oteor
informacional do documento.
3
Com base nas discussões de Belloto (2008), podemos entender que a Diplomática no contexto arquivístico
é olhar para o aspecto formal do documento, considerando seus produtores e sua nalidade. Considera-se a
importância desse documento e toda a conjuntura ao qual ele se insere, desde a unidade informacional, os
produtores, o objetivo da criação do documento, a efetivação de sua função, sem deixarmos de observar toda a
sua relevância como instrumento de prova.
4
A diplomática dene forma como o conjunto das regras de representação utilizadas para enviar uma mensagem, isto
é, como as características de um documento que podem ser separadas da determinação dos assuntos, pessoas ou lugares
especícos aos quais se referem. A forma documental é tanto física quanto intelectual. (DURANTI, 2015, p. 197).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
97
A análise documentária ou documental pode ser entendida como
um campo pertencente à Diplomática Arquivística
5
que trata de todos os
aspectos constitutivos do documento de arquivo. Documento esse que
apresenta características essenciais de prova, reforçando a ideia de que
todo documento de arquivo é criado com ns comprobatórios, e após
o cumprimento do ato para o qual foi criado -Bellotto (2008) refere-se
ao ato jurídico – seguindo sua rotina administrativa, passando por sua
temporalidade em cada idade respectiva (corrente e intermediária) e, por
m, chega à sua destinação nal seja a eliminação ou a guarda permanente.
Dentro dessa perspectiva de análise documental, temos a análise
diplomática e a análise tipológica que podemos dizer que:
[...] são aplicações práticas dos estudos teóricos e metodológicos da
diplomática e da tipologia documental, áreas das ciências sociais
documentárias que se concentram, respectivamente, no estudo formal
do documento diplomático, quando considerado individualmente, e
no estudo das relações com o contexto orgânico de sua produção
e atuação dos enunciados do seu conteúdo, quando considerados
dentro dos conjuntos lógicos denominados séries arquivísticas.
(BELLOTTO, 2008, p. ix).
Com base nessa denição, compreendemos que tanto as análises
diplomática quanto a tipológica fazem parte de um mesmo cerne de aná-
lise ao documento de arquivo. E tal como foram apresentadas por Bellotto
(2008), necessitam, por parte do prossional da informação, de um co-
nhecimento prévio de alguns elementos que constituem a Arquivologia.
Com intuito de facilitar os pontos mais importantes a serem observados no
documento quando do uso de cada análise, apresentamos os itens descritos
pela autora para aplicabilidade das técnicas:
5
A partir do nal do século XX, a Diplomática passa a ser dividida em Diplomática histórica e Diplomática
Arquivística. Essa última, a partir da década de 80, começa a auxiliar os arquivistas na difícil tarefa de
compreender o processo de criação dos documentos contemporâneos. Dessa forma, destaca-se a apropriação do
método diplomático pela Arquivística, que passa a vê-lo como uma ferramenta si ne qua non para o tratamento
da informação no século XXI. (TOGNOLI; GUIMARÃES, 2009, p. 25).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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98
Quadro 1 – Sequência de identicação documental nas Análises Diplomática
e Tipológica
Identicação Diplomática Identicação Tipológica
1
Autenticidade relativo àespécie, ao
conteúdo e à nalidade
Origem/proveniência
2 Datação
Vinculação à competência e funções
da entidade acumuladora
3 Origem/Proveniência Relação entre espécie e tipo
4 Transmissão/tradição documental Conteúdo
5 Fixação do Texto Datação
Fonte: Elaborado com base em Bellotto (2008).
Através de uma simples compilação dos passos elencados por
Bellotto (2008), percebemos que existem elementos que estão nos dois ti-
pos de análise documental, tanto na diplomática quanto na tipológica, que
é o caso dos itens anteriormente grifados no quadro: espécie, conteúdo,
datação e origem ou proveniência.
Essa constatação nos remete a muitas coisas importantes, dentre
elas a que é o foco do nosso estudo: justamente a indissociação dos dois
tipos de análises quando mediante a avaliação documental. Todas as etapas
elencadas por Bellotto (2008) são de extrema importância no processo de
identicação do documento, objetivando com isso encontrar pontos que
venham a convergir comsua proveniência, organicidade, autenticidade e
dedignidade, princípios fundamentais da arquivologia segundo a própria
Camargo e Bellotto (1996).
Ainda nessa análise, percebemos quão fortes são os aspectos di-
plomáticos (ou mesmo formais) exigidos ao documento de arquivo, evi-
denciando que a Diplomática, mesmo agregando novos valores e técnicas,
ainda preserva sua força no tocante à originalidade, no sentido de genuíno
e não falsicado, do documento.
Mediante o exposto no quadro 1, encontramos indícios de que
ambas as análises podem ser realizadas simultaneamente pelo prossional
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
99
da informação, desde que este tenha em mente o que objetiva cada uma
delas. Se em ambas encontramos espécie, conteúdo, datação e origem e
proveniência, podemos então sugerir que sejam essas as primeiras infor-
mações a serem buscadas no processo de análise, assim como a identi-
cação da espécie documental aparecendo nos dois métodos,mas com
enfoques distintos.
Na análise diplomática, espécie se relaciona diretamente com
autenticidade e, na análise tipológica, a partir da Arquivologia ou da
Arquivística como chama Bellotto (2008), relaciona-se com o tipo docu-
mental, ou seja, a espécie documental está presente em ambas as análises
documentais, entretanto assumindo relações informacionais diferentes em
cada uma. No primeiro caso, na diplomática, temos a apresentação de ele-
mentos que comprovemque o documento pode ser considerado legítimo,
como forma, marcas, assinaturas, carimbos etc. (DURANTI, 2015) e, no
segundo caso, temos a proveniência falando mais forte, exigindo um olhar
para o produtor do documento e para que ns sejam criadosdentro da
unidade informacional.
Diferentemente da representação, a análise documentalexige do
prossional da informação um maior conhecimento arquivístico, já que
se refere a termos que são especícos da Arquivologia como espécie, tipo,
gênero, fundo, organicidade, proveniência, entre outros que assumem ca-
racterísticas especícas ao contexto informacional do Arquivo.
Aqui se faz necessário esclarecer nossa compreensão de espécie e
tipo
6
na Arquivologia, pois são denições que comumente se confundem
ainda mais quando consideramos a possibilidade de se trabalhar a análise e
a representação concomitantemente.
Por espécie podemos entender a maneira como se apresenta um
documento, ou seja, a forma textual que ele tende a ser redigido ou apre-
sentado, respeitando sempre a unidade mantenedora que poderá fornecer
um padrão de apresentação; deve conter sempre determinados elementos
que o caracterizem como tal, por exemplo: atas, alvarás, atos, contratos, de-
6
Não apenas no tocante à espécie e ao tipo, mas também quanto ao uso de outras terminologias especícas,
deparamo-nos com esse problema descritivo na Arquivologia, como exemplica Rodriguez (2015) sobre
tipologia e tipo; além de dissertar a título expositivo sobre a multiplicidade do termo título em vários
instrumentos arquivísticos normativos e sua complexidade de identicar a qual “título” se refere à norma: título
formal, atribuído, ocial ou sistemático?
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
100
clarações etc. Por tipo, entendemos a espécie tornando-se especíca, pois o
documento apresenta certa estrutura, porém, em seu interior documental,
há sua designação informacional que o torna único, como alvará de funcio-
namento, ou uma declaração de rendimentos, entre outros tipos especícos.
Aqui entra em foco a importância do conhecimento prévio da
unidade informacional por parte do prossional que está no arquivo,
para que, dessa form, haja uma melhor compreensãodas “relações orgâ-
nicas entre aquelas atividades entre si, entre elas e os documentos por ela
produzidos/acumulados e entre os documentos em si” (BELLOTTO,
2008, p. 73).
Se pudéssemos, então,listar ou mesmo comparar os elementos a
serem identicados em cada análise documental, seja ela diplomática ou
tipológica, de acordo com o apresentado por Bellotto (2008), já estando de
posse do documento e com arquivo, e tendo feita a primeira identicação
documental, teríamos na análise diplomática três momentos:
1. Protocolo Inicial:
Inovação;
Titulação;
Direção ou endereço;
Saudação;
2. Na parte Textual:
Preâmbulo;
Noticação;
Exposição;
Dispositivo;
Sanção;
Corroboração ou cláusulas nais.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
101
3. Protocolo nal:
Subscrição/assinatura;
Datação;
Precação.
No tocante à análise tipológica, apresentam-se dois tipos que
compilamos no quadro abaixo:
Quadro 2 – Análises Tipológicas a partir da Arquivologia
Análise Tipológica
(Arquivistas Municipais de Madri)
Análise Tipológica
(Modelo de Louise Gagnon-Arguin)
Tipo: espécie documental + atividade
concernente
Tipo: denominação de tipo documental
e sua categoria
Código: plano de classicação Contexto de Criação
Entidade Produtora/Acumuladora Denição
Atividade Conteúdo
Destinatário Condições de Validade
Legislação Funções
Tramitação Conservação
Documentos básicos Autoria Responsável
Ordenação Documentos Conexos
Conteúdo Informações Complementares
Vigência Leis
Prazos
Fonte: Elaborado com base em Bellotto (2008).
Com base no exposto, identicamos que a análise tipológica apro-
xima-se mais do que comumente encontramos na literatura sobre a represen-
tação da informação, não obstante, ela é bastante especíca à Arquivologia,
pois busca identicar elementos de teor documental e sua relação com a enti-
dade produtora e para que ns o documento foicriado. Assim como Bellotto
(2008) ressalta, também compreendemos que os modelos de instrumentos
de análise podem ser adaptados e adequados aos arquivos e aos seus docu-
mentos. Não há uma regra ou engessamento para realizar as análises, mas um
roteiro para o desenvolvimento de tais procedimentos.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
102
Sobre análise diplomática e tipológica, ambas podem ser consi-
deradas complementares, já que uma encarrega-se de identicar elemen-
tos estruturais e até mesmo especícos, de forma e a outra se remete aos
elementos informacionais do documento junto à entidade mantenedora
e ao seu cumprimento de função, respectivamente;cada análise observará
elementos que irão auxiliar não somente a identicação e autenticidade
documental, mas também sua relação entre forma/conteúdo informacio-
nal, o que facilitará o processo representacional temático-descritivo.
3 representAçãO descritivA e temáticA
Como vimos anteriormente, a análise documental, tanto diplo-
mática quanto tipológica, trata de explorar o que Duranti (2015) chama de
elementos extrínsecos e intrínsecos de forma de um documento de arquivo,
buscando identicar elementos descritivos quanto ao suporte e ao conteúdo
documental, elementos esses que requerem conhecimento prévio no tocante à
Arquivologia, não explorando a informação de maneira mais ampla.
Partindo da premissa de que os elementos extrínsecos são
considerados aqueles que constituem o aspecto do documento e sua
aparência externa” e os intrínsecos são “considerados como componentes
integrais de sua articulação intelectual: o modo de apresentação do
conteúdo do documento ou as partes que determinam o teor do todo
(DURANTI, 2015, p. 198-203, grifo nosso), constatamos que, apesar
dessa última atividade nos remeter à ideia de “dentro de”, “faz parte” ou
da natureza”,os elementos tratam da forma do documento e não do seu
teor informacional. Ou seja, as análises documentais buscam estudar o
documento em profundidade arquivística, podendo outros aspectos
informacionais, que seriam de grande ajuda na recuperação da informação,
serem relegados a um segundo plano.
A leitura documental é feita e são identicados elementos que
compõem literalmente o documento. É uma atividade que objetiva des-
crever o documento, isto é, dissecar item a item para melhor estudá-lo e
identicar o máximo de partes possíveis.
Entendemos que as análises diplomática e tipológica são
essenciais para um primeiro contato com o documento de arquivo,
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
103
explorar e identicar elementos que o compõem e, a partir delas, podermos
desenvolver as demais atividades, dentre as quais temos a representação da
informação, já que esta busca não somente os aspectos formais e descritivos
dos documentos de arquivo.
A representação da informação é uma atividade desenvolvida com
ns de recuperação da informação (independentemente do seu usuário
ou do suporte documental). Tal representação objetiva identicar de que
trata o documento; retirar os principais conceitos e transformá-los em
uma linguagem articial passível de recuperação manual ou informatizada.
Lancaster (2004) traz essa ideia sob a nomenclatura de indexação,
enfatizando que essa tarefa pode ser realizada em duas etapas conhecidas
por análise conceitual e tradução. Fazendo uso do exposto por Lancaster
(2004, p. 9-18), análise conceitual “implica decidir do que trata um
documento – isto é qual é o seu assunto” e, no tocante à tradução “envolve
a conversão da análise conceitual de um documento num determinado
conjunto de termos de indexação.
A análise conceitual é a retirada dos descritores, dos conceitos mais
representativos do documento. A tradução seria transformar a linguagem
natural, ou seja, a linguagem do autor, em uma linguagem de indexação:
concisa, precisa e que em poucos termos represente a informação de tal
maneira que seja possível à recuperação.
Para Lancaster (2004), essas etapas são essenciais para uma in-
dexação coerente e com o máximo de representatividade do teor docu-
mental. Chama atenção ainda para dispositivos de precisão e indicadores
de função, todos os componentes que auxiliam no procedimento de atri-
buir, em maior ou menor grau, a precisão dos termos para a recuperação
da informação.
Para Maiomone, Silveira e Tálamo (2011, p. 28, grifo nosso),a
representação da informação:
[...] é um processo que pode utilizar linguagem especíca uma vez que
possui características próprias e seu principal objetivo é proporcionar
a comunicação entre os documentos e os usuários da informação.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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Sendo um dos seus principais objetivos, disseminar a informação
aos usuários que dela necessitem, a representação da informação realizada
pelo prossional da informação, precisa estar atento quanto à responsa-
bilidade em tal atividade. “A principal característica do processo de re-
presentação da informação é a substituição de uma entidade linguística
longa e complexa – o texto do documento – por sua descrição abreviada.
(NOVELLINO, 1996, p. 38).
Representar a informação contida em um documento requer do
prossional da informação conhecimento da instituição que mantém o
arquivo (estrutura e funcionamento), da essência documental (de que tra-
ta e para que ns foi criado o documento) e de a quem se destina o uso
(KOBASHI, 1996). A indexação ou representação da informação não ocorre
sem a análise documental, principalmente quando tratamos de Arquivos.
São etapas de um processo representacional que são trabalhadas de forma tão
uníssona que é bem comum pensarmos tratar-se da mesma atividade.
Maiomone, Silveira e Tálamo (2011, p. 28, grifo nosso) chamam
atenção para a mudança de nomenclatura de atividades pertencentes à égi-
de da análise conceitual, como a descrição bibliográca e mesmo a cata-
logação para “representação descritiva” que “representa as características
especícas do documento, denominada descrição bibliográca, que per-
mite a individualização do documento.Tal denição nos remete à si-
milaridade das atribuições informacionais da análise diplomática, com sua
busca por pontos de acesso de um documento de arquivo que o torna de
certa forma único ou individualizado, fazendo uso da expressão utilizada
pelas autoras.
Já quando partimos para a representação temática, esta irá dar ên-
fase à “representação dos assuntos dos documentos a m de aproximá-los,
tornando mais fácil a recuperação de materiais relevantes no que dizem
respeito a temas semelhantes” (MAIOMONE; SILVEIRA; TÁLAMO,
2011, p. 28). Quando pensamos na representação temática,é o momento
no qual podemos fazer uso de instrumentos que auxiliem a recuperação
da informação como unitermos e tesauros, que só podem ser construídos
após uma descrição documental e uma análise prévia, identicando assim
os elementos mais expressivos daquele documento e como estes podem
relacionar-se entre si.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
105
Tanto a representação descritiva quanto a representação temática
apresentam elementos que se complementam, assim como a análise diplo-
mática e tipológica. Entretanto, no caso da representação, é muito provável
que não se logre êxito se o prossional da informação tentar começar seu
trabalho pela temática ao invés da descritiva.
No caso das análises documentais, compreendemos que estas po-
dem ser feitas simultaneamente ou a escolha de uma não irá interferir no
desempenho da outra. No caso especíco da representação, o mesmo não
acontece, pois a representação descritiva torna-se a base para o passo se-
guinte, a representação temática, pois a representação descritiva torna-se
exploratória para com o documento, possibilitando desenvolver a seguir
um aprofundamento da informação documental já trabalhada (com des-
critores, classicação e organização já realizados).
4 Análises e representAções: cOmO fAzer usO?
Após reetimos sobre essas duas atividades e também após a exe-
cução delas no contexto arquivístico, compreendemos que são atividades
distintas com tronco comum: a recuperação da informação e o atendimen-
to ao usuário da informação.
A análise tanto diplomática quanto tipológica são técnicas mais
especícas do que a representação, pois elas falam diretamente aos arqui-
vistas e supõem implicitamente um conhecimento prévio da Arquivologia,
traz em seu cerne a história da diplomática e a importância da dedignida-
de documental, além de sempre defender o documento de arquivo como
um documento criado para provar, testemunhar ou corroborar algo. Tais
efeitos chamam ainda mais a responsabilidade de se buscar elementos que
conrmem a autenticidade documental.
Segundo Rodriguez (2015, p. 174), é preciso estar atentos ao
realizar as análises, pois:
A sequência de ações definida para a identificação diplomática e a iden-
tificação tipológica constitui elemento fundamental de análise e sua
comparação permite evidenciar a diferença da abordagem própria de
cada método. É possível perceber que diversos dos elementos constan-
tes na identificação diplomática repetem-se na identificação tipológica,
consistindo a principal diferença a ordem de procedimentos adotados
para a análise documental.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
106
O processo de análise está repleto de elementos que são especí-
cos no tocante à Arquivologia como vimos em Bellotto (2008): espécie,
tipo, entidade produtora ou acumuladora, a legislação que subsidiou a
criação do documento, o estado de conservação entre outros aspectos. Já
quando pensamos na representação da informação, temos recursos como
a análise conceitual e a tradução, e também a elaboração de vocabulários
controlados que auxiliariam no processo de busca por uma linguagem mais
especíca do documento.
Assim, como fazer uso das duas técnicas?
Como estamos dentro do uma perspectiva arquivística, já te-
mos nosso ponto de partida, uma vez quediferente do que comumente
encontramos na Biblioteconomia, cada documento de arquivo possui sua
individualidade
7
. Por mais que apresente semelhanças de espécie e tipo
(BELLOTTO, 2008), é preciso primeiramente conhecer a entidade man-
tenedora do Arquivo. Isso nos dará muitas informações e indícios do teor
dos documentos produzidos e recebidos por ela.
Quando, mediante o arquivo e seu contato direto com a do-
cumentação, a leitura é indispensável, obviamente existem arquivos que
não permitem uma leitura mais aprofundada da documentação. Por isso
mesmo, dá-se a análise conceitual ou de assunto, ou seja, a retirada dos
principais conceitos do documento (representação descritiva)e conco-
mitantemente a identicação arquivística de elementos que identicam o
documento, em seus elementos extrínsecos (DURANTI, 2015) realizando
assim a análise diplomática do documento.
Nesse sentido, Fujita et al. (2009, p.122) complementa que
O processo de representação é dependente da etapa de análise de assun-
to por meio da identicação e seleção de conceitos, com vistas à “tradu-
ção” desses conceitos identicados e selecionados por meio de termos
constituintes de uma linguagem documentária. O processo de repre-
sentação mediante linguagem documentária conduzirá o bibliotecário
indexador à escolha dos termos correspondentes àespecicidadeeexaus-
tividadequealinguagem possui e, consequentemente, à especicidade e
exaustividade do sistema.
7
Duranti (2015, p. 197) assevera que “[...] apesar das diferenças quanto à origem, procedência ou data, todos os
documentos apresentam formas bastante semelhantes para possibilitar a concepção de uma forma documental
típica, ideal, mais regular e completa, com o propósito de examinar todos os seus elementos.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
107
Feita essa identicação primeira, unindo a representação descri-
tiva e a análise diplomática, temos a base informacional para realizar as
demais atividades como corrobora Bellotto (2008, p. 30, grifo nosso):
O entendimento da análise diplomática tem, entre outras vantagens,
facilitara elaboração de resumos de documentos, uma vez que o docu-
mentalista, conhecendo-a, há de realizar uma leitura documental mais
segura. Ademais, esse procedimento é pré-requisito para o da análise
tipológica, embora ela possa ser feita independentemente. Aliás, a aná-
lise tipológica pode tornar eciente o fazer arquivístico em múltiplos
aspectos, como a avaliação, classicação e descrição.
Dando prosseguimento ao trabalho de análise e representação
para com o documento de arquivo, seguimos para a análise tipológica que,
como apresentada por Bellotto (2008), pode ser adequada ao documento a
ser trabalhado. A autora apresenta dois modelos de análise tipológica dos
Archiveros Municipales de Madrid e da Gagnon-Arguin,os quais qualquer
prossional da informação pode ter como parâmetro e criar seu próprio
modelo a ser preenchido, adequando à realidade da sua unidade informa-
cional e do seu fundo documental.
Ao longo de todo este trabalho, não deixamos de pensar na com-
plexidade enfrentada pelo prossional da informação na busca por concei-
tos ou ideias que representem o teor documental, pois, sem dúvida, é um
trabalho que exige dele não apenas objetividade, mas muita coerência ao
desenvolvê-las, como Fujita (2003, p. 71) bem descreve:
[...] no momento em que o indexador está lendo e procurando iden-
ticar e selecionar conceitos para a determinação do assunto do docu-
mento, está objetivando encontrar o assunto que lhe é familiar devido
à sua prática de indexação e também denir o que pode interessar ao
usuário do sistema de informação.
Lancaster (2004, p. 17) chama-nos a atenção para a melhor ma-
neira de se representar a informação visando a sua recuperação. O autor
faz então a seguinte explanação: “Se aceitarmos que a indexação é mais
eciente quando se orienta para a necessidade de determinados grupos de
usuários, a função do indexador será prever os tipos de pedidos para os
quais determinado documento será [...] útil.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
108
Não obstante, Lancaster (2004) chama a atenção para o fato de
que não é tão simplista o objetivo da indexação ou representação da in-
formação, pois além de propiciar meios para que o usuário obtenha a in-
formação que busca e saber de que trata o documento, tem a questão de
como alimentar de forma correta o sistema de recuperação da informação
que fará toda a diferença no sucesso ou fracasso na busca informacional.
O autor ainda relata que o uso de uma linguagem muito especíca para
representar determinados documentos talvez não seja a melhor opção para
a sua recuperação, por isso entendemos que as análises diplomática e tipo-
lógica sejam de extrema importância. Mas se foremas únicas utilizadas para
descrever um documento visando a sua recuperação futura, provavelmente
apenas os usuários que dominam a linguagem espeíca da Arquivologia
irão efetivamente recuperar a informação descrita com base nos conceitos
por elas escolhidos nas análises diplomática e tipológica.
Assim, durante a realização conjunta das análisesdocumentais e
da representação descritiva, já podemos ter uma visão mais completa e
contextualizadado documento, pois já houve uma investigação profunda
de vários aspectos, tanto do documento quanto da unidade informacional
a qual ele pertence. A partir desse ponto, já se pode pensar na construção
de instrumentos elaborados com base na representação temática, ou seja,
quando já ocorreu uma descrição documental e a escolha dos termos que
mais representam o documento.
Esses instrumentos, como unitermos e tesauros, buscam trabalhar
os conceitos escolhidos nas etapas anteriores, fazendo uso de uma linguagem
especíca, visando uma melhor recuperação da informação pelos usuários
internos e externos ao arquivo, chegando, assim, ao grande objetivo da repre-
sentação e da recuperação da informação: possibilitar o acesso e uso.
5 cOnsiderAções finAis
A descrição documental, sua análise e sua representação são ele-
mentos de grande importância quando pensamos na recuperação e uso da
informação no contexto dos arquivos e de outras unidades informacionais.
Na literatura, encontramos normas que auxiliam o processo des-
critivo dos documentos de arquivo, mas sempre chamando a atenção para
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
109
o contexto no qual o documento está inserido. A norma internacional de
descrição arquivística, a ISAD(G), por exemplo, apregoa que o objetivo da
descrição arquivística:
[...] é identicar e explicar o contexto e o conteúdo de documentos
de arquivo a m de promover o acesso aos mesmos. Isto é alcançado
pela criação de representações precisas e adequadas e pela organiza-
ção dessas representações de acordo com modelos predetermina-
dos. Processos relacionados à descrição podem começar na ou antes
da produção dos documentos e continuam durante sua vida. Esses
processos permitem instituir controlesintelectuaisnecessáriosparator-
narconáveis,autênticas, signicativas e acessíveis descrições que serão
mantidas ao longo do tempo. (CONSELHO INTERNACIONAL
DE ARQUIVOS, 2001, p. 11, grifo nosso).
Com base no exposto na ISAD(G) (2000), especicamente no
trecho ao qual demos ênfase, podemos entender as “representações pre-
cisas” como as análises diplomática e tipológica, sua organização e sua
caracterização como usoda representação descritiva e temática. Apesar
de as nomenclaturas de tais processos não aparecerem de forma explícita
na referida Norma, entendemos o quão importantes são essas atividades
analítico-representacionais.
Existem instrumentos como a própria ISAD(G) (2000) e mesmo
a Norma Brasileira de descrição arquivística (NOBRADE, 2006) e suas
8 áreas com seus 28 elementos no tocante à descrição, que podem ser
utilizadas como ferramentas no mister de desenvolvimento das atividades
relativas à descrição documental não apenas no tocante ao suporte, mas
também no que refere-se ao seu teor informacional.
Não nos faltam instrumentos para auxiliar o desenvolvimento
dessas atividades tão importantes para a futura recuperação, mas o que
chamamos a atenção especicamente nesse apontamento é que a análi-
se documental e a representação, mesmo com objetivos similares, não se
tratam da mesma coisa. Enquanto a análise acaba por tonar-se exaustiva
quanto à forma, à espécie, ao tipo, à procedência, aos elementos grácos
entre outros, a representação em um momento seguinte busca tornar essas
informações operacionalizáveis quanto à busca, faz com que todas as in-
formações anteriormente exploradas possam ser selecionadas, organizadas
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
110
e até dispostas em um sistema de recuperação, facilitando seu acesso e uso.
Não adentramos no aspecto linguístico e terminológico, apesar de enten-
der que ele esteja diretamente ligado à questão descritiva e representativa.
Isto porque a complexidade desse aspecto exigiria um estudo com ênfase
apenas neste ponto. Como nosso objetivo é de dissertar e reetirsobre o
desenvolvimento das atividades em conjuntocom a análise documental e
com a representação para uma melhor recuperação da informação, não nos
dedicamos especicamente à Terminologia.
Tanto as referidas análises quanto a representação da informação no
contexto da Arquivologia podem ser realizadas conjuntamente. Sugerimos,
para tanto, começar pela análise diplomática, seguida da análise tipológica
que dá subsídios para a representação descritiva, e após a obtenção e organi-
zação desses elementos, passar à representação temática, cando a critério do
prossional da informação assim como da sua unidade gestora, a criação de
instrumentos que auxiliem a recuperação da informação.
O que não pode deixar de ser observado no desenvolvimento
dessas atividades é: a entidade que mantém o arquivo; sua dinâmica de
funcionamento, para quem ela trabalha e para que ns e, só a partir dessas
observações, tanto a análise quanto a representação irão compreender ao
máximo o teor informacional dos documentos criados e também recebi-
dos pela instituição. Assim, antes mesmo do desenvolvimento de qualquer
atividade no arquivo, voltemo-nos sempre a Capurro (2003) quando nos
indaga: informação - para quem?
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113
dO mOdelO cOnceituAl frsAd pArA O AssuntO
pelA leiturA: perspectivAs pArA A representAçãO
dOcumentáriA
Brisa Pozzi de Sousa
1 intrOduçãO
Percebe-se que uma área de conhecimento necessita de sedimen-
tação que estruture tanto sua história quanto sua fundamentação teórica e,
tal estratégia, ocupa também
a Biblioteconomia e Ciência da Informação
(BCI), temos sobre tudo ao promover discussões responsáveis por abarcar
os aspectos referentes à representação de documentos, tanto no seu aspecto
formal quanto node conteúdo, ou temático. Portanto, essa representação
compreende atividade essencial de novos cenários intelectuais, pois o obje-
tivo é disponibilizar o documento para recuperação e assimilação por parte
dos usuários.
Após a invenção da imprensa por Gutenberg e as ilimitadas pos-
sibilidades de edição eletrônica de documentos, tornou-se humanamente
impossível conhecer, na proporção em que surge, o número de publicações
de determinada área, sendo impraticável organizá-las individualmente.
Assim, decorre a necessidade da organização por conteúdo, de forma pa-
dronizada, conforme realizado nos catálogos das bibliotecas.
A análise de assunto dos documentos, de forma manual, é subsi-
diada pela leitura documentária e demanda a institucionalização de proces-
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p113-132
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
114
sos como o de resumir, representar com descritores e elaborar linguagens
documentárias. Em consequência, o contexto temático da leitura sustenta
a elaboração dos processos e produtos documentários possibilitando a bus-
ca e recuperação da informação.
Mas, por um longo período na história, a representação temática
de documentos esteve atrelada às operações empíricas do prossional e ao
seu “[...] ‘bom senso’, pelas quais se atribuía, a um texto/documento qual-
quer, uma ou várias palavras-chave destinadas a facilitar a recuperação, no
momento da pesquisa, sob um dado tema.” (CUNHA, 1990, p. 59).
O cenário perdurou até meados do século XX, pois além do pe-
ríodo do bom senso, imbuído de talento, experiência e do hábito pros-
sional (CUNHA, 1990; KOBASHI, 1994), houve também receptividade
em relação à determinação do conteúdo do documento e sua nomeação
serem constituídos por um processo altamente intuitivo (GUIMARÃES,
2003). Obviamente que pensar uma área somente pelo seu fazer e crer que
determinada atividade seria consequência de aptidões pessoais especíca se
representações unívocas não contribui com avanços signicativos para sua
teorização e sedimentação.
Remetendo ao cenário da Catalogação e a sua vinculação como
processo global de confecção de catálogos
1
, a International Federation of
Library Associations and Institutions
2
(IFLA) inseriu a modelagem concei-
tual para a representação da informação, promovendo uma nova forma de
fundamentar a área por meio dos Functional Requirements for Bibliographic
Records
3
(FRBR). No ano de 1998, a IFLA publicou o relatório sobre o
modelo FRBR, que além de contemplar o aspecto de quem faz uso das
bases de dados bibliográcas, também abrangeu conceitualmente o “[...]
universo bibliográco e independente de um código de catalogação especí-
co.” (MELO; BRÄSCHER, 2014, p. 103). Portanto, também indepen-
dente da linguagem documentária adotada pelo sistema.
1
O catálogo é a base de dados que possibilita a busca e recuperação de registros informacionais e, em seus
primórdios, por exemplo, eram utilizados como ferramenta de inventário.Assim “[...] a única exigência feita a
um catálogo de biblioteca era que revelasse os itens componentes de determinada coleção.” (SHERA; EGAN,
1969, p. 11). Todavia, da simples função de inventariar, atualmente os catálogos constituem importante
instrumento de busca e recuperação da informação.
2
Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias.
3
Requisitos Funcionais para Registros Bibliográcos.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
115
A m de estruturar a representação dos documentos, vários ins-
trumentos como código de catalogação, tabela de classicação, tesauro,
dentre outros, são utilizados para padronização dos registros, tanto em
relação ao aspecto temático, quanto ao de forma, facilitando o processo
comunicativo entre quem produz os catálogos ou bases de dados e aqueles
que as utilizam.
O modelo FRBR tem a nalidade de operar em nível conceitual
os aspectos referentes às entidades que representam os dados dos docu-
mentos, que são os objetos de interesse para os usuários, deliberando o
processo comunicativo. Além disso, a família FRBR
4
totaliza três modelos:
o próprio FRBR, o Functional Requirements for Authority Data
5
(FRAD) e
o Functional Requirements for Subject Authority Data
6
(FRSAD).
Entretanto, em 21 desetembro de 2016, a seção de Classicação
e Indexação da IFLA passou a ser denominada Seção de Análise de
Assunto e Acesso
7
. No início de 2016, outro movimento de mudança é
constatado, pois em 28 de fevereiro, a Seção de Catalogação (Cataloguing
Section) anunciou a integração dos três modelos (FRBR, FRAD e
FRSAD) em um único, denominado FRBR-Library Reference Model
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2016, on-line).
Nesse debate conceitual, ressalta-se a indagação do modelo FRSAD
comportar direcionamentos sobre a leitura documentária, pois seu foco
centra no aspecto temático e, consequentemente, seus relacionamentos.
Sendo assim, pretende-se analisar o modelo FRSAD e buscar-
se-á caracterizá-lo em seus aspectos mais gerais, com o objetivo de traçar a
existência de uma possível visibilidade em torno da leitura documentária.
4
Adotar-se-ánomeação “família FRBR” quando houver necessidade de algumapontamento concomitante aos
três modelos – FRBR, FRSAD e FRSAD.
5
Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade.
6
Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade Assunto.
7
“We propose “Subject Analysis and Access” as the new name of our section. It is short and a good compromise
among the dierent proposals identied so far. In addition to the end-user focus (“Access”) we also include the
role of the professional. “Analysis” refers to the work and thought that goes into determining “aboutness” (or
determining what a document is about”) and then creating subject access – be it assigning classication or
headings, developing thesauri, or devising tools and other automatic ways to achieve subject access.”(ŽUMER;
ROE, 2016, p. 21).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
116
2 dO mOdelO pArA AssuntO AO AssuntO pelA leiturA
Em consequência a necessidade de recuperação temática, a aná-
lise de assunto, que visa identicar o conteúdo, compreende uma das
etapas de maior importância no processo de indexação (NAVES, 1996),
pois através dessa análise o indexador terá que expressar com padrões o
conteúdo do documento e disponibilizá-lo no catálogo, em forma de
informação documentária.
Um ponto central consiste no fato da análise de assunto ser prece-
dida pela leitura documentária e ambas são consideradas etapas que cons-
tituem o trabalho intelectual do(a) prossional. Como tema de pesquisa
no Brasil, o princípio das discussões sobreleitura documentária destaca-se
nas investigações de Cintra (1989), Kobashi (1994), Fujita, Nardi e Santos
(1998) e Fujita (1999)
8
, sendo a última responsável em trabalhara referida
temática por um período de quinze anos.
A ação de representar tematicamente é a solução mais adequada
para recuperar informações organizadas por assunto, como por exemplo,
nos catálogos ou bases de dados. Na perspectiva de consolidar tais ques-
tões, houve a apropriação do modelo conceitual proveniente da Ciência
da Computação e, a IFLA, através da Seção de Catalogação
9
e, da antiga
Seção de Classicação e Indexação
10
, propôs a investigação do mode-
lo Entidade-Relacionamento (E-R), a m de priorizar as necessidades
dos usuários dos catálogos (INTERNATIONAL FEDERATION OF
LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 1998.
O modelo E-R, desenvolvido por Peter Chen, embasa estrutu-
ralmente a família FRBRe é utilizado para estruturar e projetar bases de
dados relacionais, em oposição às bases de dados hierárquicas. É con-
ceitual, pois implica na modelagem de coisas, processos ou abstrações
objetivando sintetizar e sistematizar sistemas, teorias ou fenômenos com
8
Professora Mariângela Spotti Lopes Fujita iniciou as pesquisas sobre Leitura em Análise Documentária em
1993,sendo essa sua principal linha de investigação até o ano de 2009. Trabalhou com a temática em sua tese
de livre-docência na Unesp câmpus de Marília, além de possuir várias publicaçõese inúmeras orientações de
pesquisas de TCC, mestrado e doutorado sobre o tema. Portanto, a referida professora é considerada um marco
na formação de pesquisadores que hoje atuam prossionalmente em universidades e em colaboração com outros
pesquisadores sobre a referida temática.
9
Cataloguing Section - http://www.ia.org/cataloguing
10
Section on Classication and Indexing, atualSubject Analysis and Access - http://www.ia.org/classication-and-
indexing
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
117
intuito de ser aplicável. Identica-se no modelo E-R as entidades, os atri-
butos e os relacionamentos. Considera-se entidade como algo, ou algu-
ma coisa que pode ser distintamente identicada, relacionamento como
a associação entre as entidades e, atributos, como características próprias
de uma entidade (CHEN, 1990).
O modelo FRSAD representa uma análise das entidades que cons-
tituem os assuntos de uma obra, consistindo em determinar um marco que
proporcione o entendimento dos registros bibliográcos e as respectivas
autoridades de assunto com o objetivo de atender as buscas dos usuários
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2011.
Observando a família FRBR, composta pelos três mode-
los, totaliza-se o quantitativo de 11 entidades. O primeiro modelo,
o FRBR, abrange as entidades dos produtos de trabalho intelectual
ou artístico, sendo: obra, expressão, manifestação e item (constitui o
grupo 1 de entidades). Já o segundo, o FRAD, compõe as entidades
vinculadas aos responsáveis pela produção do conteúdo, dissemina-
ção e guarda das entidades do grupo 1, sendo: pessoa, entidade cole-
tiva e família
11
(constitui o grupo 2 de entidades). E, o terceiro mode-
lo, o FRSAD, determina as entidades que exercem os assuntos de uma
obra, a saber: conceito, objeto, evento e lugar (constituem o grupo 3
de entidades) (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2011).
Todas as entidades do grupo 1 e 2 podem representar os assuntos
de uma obra (grupo 3). Várias são as relações entre as entidades do registro
bibliográco e destacam-se as relações de assunto entre a entidade obra
(grupo 1) com as demais entidades. Ilustra-se o fato com a gura que segue.
11
Inserido a partir do modelo FRAD em 2009. Antes havia duas entidades nesse grupo: pessoa e entidade
coletiva.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
118
Figura 1 - Relações de assunto propostas pelas entidadesda família FRBR
- grupo 1 (FRBR), grupo 2 (FRAD) e grupo 3 (FRSAD)
Fonte: International Federation of Library Associations and Institutions (2011)
Considera-se que os relacionamentos possuem a nalidade de
apontar ligações entre as entidades, sendo tais ligações os recursos através dos
quais os usuários poderão navegar, a m de encontrar as conexões entre uma
entidade e todas as outras que possam se relacionar a ela (TAYLOR, 2007).
É possível observar que outras duas entidades são destaque nos
relacionamentos: ema e Nomen. A primeira é denida como qual-
quer entidade utilizada como assunto de uma obra e, a segunda, como
qualquer signo ou sequência de signos (caracteres alfanuméricos, sím-
bolos, sons, etc) mediante os quais conhece, refere e aborda um ema
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2011). O modelo ainda considera ema uma
superclasse de todas as entidades da família FRBR
12
e os termos matéria,
tema e conceito são empregados como sinônimos e, nota-se que, equivo-
cadamente, o modelo dene todos como idênticos.
12
“[...] themaes una superclase de todas las entidades FRBR [...]” (INTERNATIONAL FEDERATION OF
LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2011, p. 13).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
119
O modelo explica a escolha pelo latim para nomear as pala-
vras “[...] thema (en plural themata oemas) y nomen (en plural nomi-
na o nomens), porque no tienenun signicado pre-existente em nues-
tro contexto, son culturalmente neutros y no requieren traducción.
(INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS
AND INSTITUTIONS, 2011, p. 13, itálico do modelo). Todavia, o latim
pode sinalizar um resgaste do modelo não identicado por Aristóteles
13
,
que foi quem determinou as diretrizes da classicação do conhecimento
por mais de dois mil anos. Além disso, segundo Marcondes (2007), na
gênese de Aristóteles, a Filosoa Formal, ou seja, a Lógica aponta contri-
buição à Filosoa da Linguagem.
Nesse contexto, não é denido no modelo FRSAD fundamenta-
ção sobre oema. Ademais, várias questões permeiam o seu entendimento
e, dentre elas, destacam-se:
o modelo não dene qual estrutura teórica é aporte da sua
criação;
não explora conceitualmente a questão do assunto, embora
seja um modelo com enfoque para esse m;
reduz a estruturação do assunto entreema e Nomen;
emprega os termos assunto, tema e conceito como sinônimos
de ema, sem nenhum escopo teórico para denição;
vincula-se aos exemplos dos instrumentos elencadosno
apêndice, como La Faceted Application of SubjectTerminology
(FAST)
14
ao invés da discussão teórica das entidades que
compõem o modelo;
a produção cientíca que discuta o modelo FRSAD
teoricamente e necessária e, sobretudo no Brasil, ainda é
pequena; e
13
Ao valerem-se do latim como língua neutra, os criadores dos FRSAD pressupõem isenção quando, na
verdade, não estão utilizando uma língua neutra. O latim é a língua utilizada por Aristóteles, por exemplo,
e os preceitos losócos postulados por esse lósofo guram como uma maneira de olhar a representação de
assunto.” (MILANI, 2014, p. 107).
14
La Faceted Application of Subject Terminology (FAST) é uma adaptação da Library of Congress Subject Headings
(LCSH).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
120
por último e não menos importante,indaga-se como o assunto
podeser distintamente
15
identicado pelo viés da modelagem
E-R.Aventar a possibilidade do conteúdo ser unívoco desfaz
toda fundamentação teórica construída sobre a área temática
e, portanto, nota-se ausência de discussão teórica sólida,
sistematizada e abrangente sobre o modelo FRSAD.
Os pontos elencados não são novos e retomam problemas que,
pelo modelo conceitual FRSAD, aparentemente, podem sinalizar como
resolvidos, entretanto necessitam ser enfrentados teoricamente.
Além desses, notou-se que em nenhum momento a leitura do
documento é indicada ou sinalizada como a maneira de atingir o assunto,
pois a modelagem não substitui a análise. Ela estrutura os relacionamentos,
entretanto o processo não é automático.
2.1 perpAssAndO O frsAd
Em busca de delinear essa discussão, torna-se necessário recuperar
alguns aportes teóricos e metodológicos que acenem para as necessidades de
busca e acesso à informação dos usuários. “Estas necessidades variam de acordo
com o domínio do saber, com o estado dos conhecimentos, com a natureza
dos usuários e com seus objetivos.” (GUINCHAT; MENOU, 1994, p. 28).
Nos últimos anos é possível observar o empenho no aprimora-
mento e na busca de avanços dos sistemas documentários, os quais são
responsáveis em armazenar as informações documentárias, sendo estas
[...] apreendidas, registradas e armazenadas em sistemas de informação
documentária a m de que sejam passíveis de recuperação e uso. As
informações documentárias, portanto são unidades de representação,
construídas sob uma forma e um conteúdo, a partir de decisões pau-
tadas nos tipos de informação, nas áreas do conhecimento ou de ati-
vidade, na linguagem dos usuários e nos objetivos do serviço de infor-
mação, tornando explícito o propósito de um sistema de informação.
(ORTEGA, 2008, p. 8).
15
Importante salientar que conforme já citado (ver p. 3) com base em Chen (1990), a entidade é algo, ou
alguma coisa que pode ser distintamente identicada. No dicionário consta como explicação para overbete
distinto”: que não se confunde, perceptível, claro. (FERREIRA, 2010). Consequente, a questão do assunto de
um documento ser inconfundível é simplesmente reducionista e retrógrado.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
121
Dessa forma, as informações documentárias comportam
operações no ciclo documentário, ou “cadeia documental” (GUINCHAT;
MENOU, 1994) que se inicia com a produção de documentos, passa pela
coleta, perpassa o tratamento ou organização daquilo que será armazenado
para alcançar a recuperação, a disseminação e o uso da informação. “Estas
operações são ligadas umas as outras, de tal forma que cada uma depende
da que a precede, de acordo com a lógica do processo.” (GUINCHAT;
MENOU, 1994, p. 30).
A circulação de informações em um sistema documentário ou
biblioteca, que comportem as etapas do ciclo documentário, ocasiona, por
conseguinte, a
[...] comunicação documentária e supõe a organização prévia da in-
formação em categorias aptas a circular nas várias esferas da sociedade.
Considera-se, assim, a presença de um sistema que elabora mensagens
(o sistema de informação documentário) e o enunciatário (o usuário)
que as recebe e as interpreta. A transferência de informações requer,
portanto, a elaboração de mensagens (representações) que propiciem
interpretações produtivas. (KOBASHI; TÁLAMO, 2003, p. 13).
É possível apreender que o conteúdo dos documentos se torna
passível de socialização a partir da devida importância que é dada à sua
organização. O foco não se resume na estocagem e centralização, mas no
acesso às informações e, inclusive, nas formas que os documentos podem
ser disponibilizados e acessados pelos usuários.
Passados aproximadamente 18 anos desde que o primeiro relató-
rio nal com o modelo FRBR foi estruturado, poucas pesquisas brasileiras
são constatadas e, em relação ao modelo FRSAD, relativamente recente,
pois teve versão publicada em 2010, cabe destacar duas pesquisas brasi-
leiras que envolvem discussão sobre o tema, sendo a dissertação de Melo
(2013) e a tese de Milani (2014).
O estudo de Melo (2013) investiga os tipos de relacionamen-
tos entre conceitos que são tratados e representados nos sistemas de orga-
nização do conhecimento e indica a importância do uso da modelagem
conceitual para a representação da informação. Aborda o propósito das
tarefas dos usuários e a estrutura do modelo conceitual FRSAD, consti-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
122
tuindo análise teórica do conceito (thema) e dos tipos de relacionamentos
semânticos (thema-to-thema) estabelecidos no FRSAD, sob a perspectiva
das abordagens positivista e pragmática do estudo do conceito. A autora
conclui que a coexistência de abordagens teóricas em um modelo concei-
tual é uma relevante contribuição para a prática da representação temática
da informação em sistemas de organização do conhecimento, argumento
que encontra sua base de sustentação teórica nas pesquisas de Žumer, Zeng
e Salaba (2012).
Já Milani (2014) caracteriza o fenômeno bias
16
na representação
de assunto e aponta o poder que é instaurado pela construção de produtos
por meio dos quais o usuário terá acesso à informação desejada. No entan-
to, de acordo com a autorasupracitada, há o risco de os substitutos docu-
mentais serem construídos com biases em dois contextos: negativo, quando
deixam de incluir diversas características, conferindo pouca atenção aos
grupos e temas, amparando-se em inclinações, desvios ou preconceitos; e
positivo, onde prevalecem os direcionamentos ou vieses que visam garantir
especicidade a determinadas comunidades usuárias.
O grupo de trabalho responsável pelo modelo FRSAD dispôs
como objetivo estruturar conceitualmente as entidades do grupo 3 e como
essas entidades se relacionam com os dados de autoridade assunto e as
necessidades dos usuários. Além disso, o modelo intenciona auxiliar na
avaliação do potencial de uso e compartilhamento internacional dos dados
de autoridade assunto, tanto em bibliotecas como em outras instituições.
O grupo de trabalho FRSAD, ou seja, workinggroup (FRSAD WG) aborda
esse modelo no contexto dos demais, propostos pela IFLA, e desenvolvidos
nos últimos anos (ZENG; ŽUMER, [2010?]).
Puente (2012) endossa que o modelo FRSAD pode ajudar no uso
e desenvolvimento de dados de autoridade assunto e ressalta a independên-
cia deste com qualquer sistema ou contexto especíco, permitindo assim o
compartilhamento de dados e a interoperabilidade semântica.
16
A autora destaca a opção por manter o termo original bias(es) em inglês, pois em língua portuguesa pode
haver as conotações negativas de tendência, inclinação ou desvio e as conotações de direcionamento ou viés.
Além disso, os instrumentos que embasam o processo de representação, como por exemplo, os tesauros, não
são neutros e possuem valores morais inseridos. Com isso, os valores do prossional que realiza o processo de
representação, assim como os valores do idealizador do instrumento reetirá nos produtos de representação.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
123
Em uma busca complementar sobredocumentos que abordem
especicamente o FRSAD, encontrou-se um livro publicado em inglês
(ŽUMER; ZENG; SALABA, 2012).
As referidas três autoras apontadas são destaque no cenário in-
ternacional na abordagem do modelo FRSAD e, inclusive, são as editoras
responsáveis pelo relatório nal
17
do referido modelo, aprovado em junho
de 2010, pelo Comitê da Seção de Classicação e Indexação da IFLA. Em
decorrência, Žumer, Salaba e Zeng (2007) apontam que os estudos iniciais
sobre o FRSAD, que então era denominado Functional Requirements for
Subject Authority Records (FRSAR), foi constituído em abril de 2005 pelo
grupo que estava envolvido com o desenho do modelo FRAD.
Ainda segundo as autoras supracitadas, todas as entidades dos
três grupos têm potencial para ser o tema de uma obra, e o escopo do
FRSAD consiste na abrangência de três propósitos: construir um modelo
conceitual que relacione as entidades do grupo 3 no âmbito FRBR e do
aboutness
18
das obras; fornecer denições claras e quadro de referência para
relacionar os registros de autoridade assunto às necessidades dos usuários;
e, por último, auxiliar na avaliação do potencial internacional de com-
partilhamento e uso dos dados de autoridade assunto, tanto dentro de
bibliotecas como para além desse espaço (ŽUMER; SALABA; ZENG,
2007). Ressalta-se que os três propósitos também estão incluídos no rela-
tório do modelo (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, 2010; 2011.
Considerando ainda Žumer, Salaba e Zeng (2007) é possível ra-
ticar que o modelo FRSAD não possui sustentação teórica sobre a parte
temática, objetivo principal que centra sua criação e função. Nota-se que
prevaleceu um entendimento prático para a fundamentação, ou seja, do
uso, quer de quem trabalhe ou pesquisa autoridade assunto em diferentes
espaços, conforme é possível constatar:
17
INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS.
Functional Requirements for Subject Authority Data (FRSAD): a conceptual model. 2010. Disponível em:
<http://www.ia.org/les/assets/classication-and-indexing/functional-requirements-for-subject-authority-
data/frsad-nal-report.pdf>. Acesso em: 1nov. 2016.
18
Um dos objetivos que o modelo se propõe é relacionar o aboutness das obras, fato que incita vários debates
e direcionamentos teóricos, conforme estabelecido por autores que perpassam várias áreas, dentre elas a CI,
a losoa, a semiótica.Destaque para: Hutchins (1977); Hjørland (1992); Putnam (1958); Alves, Moraes e
Almeida (2014); Guedes (2009); Moraes (2012).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
124
e FRSAR Working Group felt strongly that, in order to dene
user tasks, an actual user study was necessary, and two studies were
therefore conducted. e rst was a pilot study at the 2006 Semantic
Technologies Conference (San Jose, California, USA). Most study par-
ticipants were either creators of semantic tools, including controlled
vocabularies, taxonomies and ontologies, or developers and managers
of semantic technology systems. e second study was an international
survey sent to information professionals throughout the world during
the months of May-September 2007. Participants included authority
record creators, vocabulary creators and managers, catalogers, metada-
ta librarians, and reference librarians among others. Participants were
asked to describe their work and their use of subject authority data
in dierent contexts, including cataloging/metadata creation, subject
authority work, and searching or helping others search bibliographic
information. e results of these studies enriched our understanding
of subject authority data use and informed and further conrmed the
FRSAR user tasks
19
. (ŽUMER; SALABA; ZENG, 2007, p. 490).
Em continuidade há indicação de trabalhos apresentados em even-
tos pelas editoras do modelo FRSAD eaponta-se: Zeng e Žumer (2009a)
que aborda mapeamento do modelo FRSAD e outros modelos abstratos,
apresentado na ISKO UK Conference, em Londres; Zeng e Žumer (2009b)
que indica introdução ao FRSAD e mapeamento com uso de SKOS e
Žumer e Zeng (2015) publicação que indica aplicação do FRBR e FRSAD
em sistemas de classicação. Observa-se na abordagem das autoras a vincu-
lação do modelo FRSAD a instrumentos e não a discussões sobre possíveis
aportes teóricos para fundamentação. Os trabalhos de 2009b e 2015 estão
vinculados aos Simple Knowledge Organization System (SKOS) ou Sistemas
de Organização do Conhecimento e, inclusive, o segundo a Universal
Decimal Classication (Classicação Decimal Universal).
19
O Grupo de Trabalho FRSAR, sentiu necessidade de denir as tarefas do usuário, um estudo real foi necessário
e dois foram conduzidos. O primeiro foi um estudo piloto em 2006 durante a Semantic Technologies Conference
(San Jose, Califórnia, EUA). A maioria dos participantes do estudo eram ou criadores de ferramentas semânticas,
incluindo vocabulários controlados, taxonomias e ontologias, ou desenvolvedores e gestores de sistemas de
tecnologia semântica. O segundo estudo foi uma pesquisa internacional enviada para prossionais da informação
em todo o mundo durante os meses de maio a setembro de 2007. Entre os participantes foram incluídos criadores
de registro de autoridade, criadores e gestores de vocabulário, catalogadores, bibliotecários de metadados e de
referência, entre outros. Os participantes foram solicitados a descrever seu trabalho e a utilização de dados de
autoridade assunto em diferentes contextos, incluindo catalogação/criação de metadados, o trabalho de autoridade
assunto, e pesquisas ou auxílios a outras pessoas por buscas de informações bibliográcas. Os resultados destes
estudos enriqueceu nossa compreensão do uso de dados autoridade assunto e informou e conrmou as tarefas do
usuário no [modelo] FRSAR.(ŽUMER; SALABA; ZENG, 2007, p. 490, traduçãonossa).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
125
3 A leiturA dOcumentáriA
Nota-se que a indexação é utilizada para indicar o procedimento
de catalogação de assunto em bibliotecas. O fato é decorrente do avanço e
uso das tecnologias, que ocasionaram a transformação dos catálogos ma-
nuais em on-line, sendo estes considerados equivalentes às bases de dados
(FUJITA, 2009).
Anterior ao processo de transferência e recuperação da informa-
ção tem-se que considerar o tratamento, que decorre da necessidade de
representar os documentos, para disponibilizá-los à comunidade usuária
de maneira tratada. Salvo contrário, o acervo de uma biblioteca estaria
abnegado ao acaso, formando um conglomerado de informações dispersas.
Considerada a etapa que constitui o trabalho intelectual do
indexador, o foco nessa seção percorre a abordagem da fase inicial do
processo de indexação denominada análise de assunto. No entanto,
também pode ser concebida por outras denominações e “o processo de
extrair conceitos que traduzam a essência de um documento é conhe-
cido como análise de assunto para alguns, análise temática para outros
e ainda como análise documentária ou análise de conteúdo.” (NAVES,
1996, p. 215).
Os estudos de Cintra (1989) fundamentaram a importância da
compreensão do ato de ler para o cumprimento da atividade de indexação.
Kobashi (1994) condiciona a importância da realização da leitura no con-
texto de análise documentária. Cunha (1990, p. 141, destaque da autora)
explica que a análise do documento “[...] passa em primeiro lugar pela
LEITURA do texto e sua análise [...]” sendo esta etapa o “momento dea-
grador” da análise.
Com isso, observa-se um articulado movimento de interação en-
tre leitor e texto a ser incorporado no sistema documentário, tendo a leitu-
ra do prossional o papel de apropriação do conhecimento, que segundo
Moura (2004), remete a dois tipos especícos de apropriação textual:
De um lado, temos a apropriação terminológica caracterizada pelo
contínuo armazenamento, em enciclopédia particular, de uma lista de
descritores aplicáveis às áreas de atuação do prossional. No decorrer
do tempo, devido à familiaridade com a terminologia, tal leitor é ca-
paz de incorporar novas informações aos sistemas, formular expressões
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
126
de busca, estabelecer diálogos interdisciplinares sem, contudo, conse-
guir extrair as implicações teórico metodológicas desta ação. É uma
habilidade que o bibliotecário desenvolve ao longo de suas atividades
prossionais.
Por outro lado, a apropriação conceitual ocorre de modo mais cons-
ciente. Neste caso, o prossional busca, no desempenho de suas ati-
vidades,conhecer de forma mais especíca os conceitos e as interfaces
que os descritores representam para as distintas áreas de conhecimento.
Devido a esse fato, a representação de um dado item informacional
realizada pelo bibliotecário ganha signicação e a mediação passa a ter
mais chance de efetivação. (MOURA, 2004, p. 165).
Na segunda forma de apropriação descrita, predomina a maneira
mais consciente de assimilar as informações documentárias que são pro-
duzidas, sendo observável a ligação entre o prossional, o sistema de re-
cuperação da informação e o usuário. A autora explica a importância de o
bibliotecário atuar como um leitor-mediador, a m de “[...] exercer a capa-
cidade interpretativa sã e, às vezes, a paranóica, para melhor compreender
a dinâmica do fenômeno informacional, o que exige dos prossionais uma
postura multidisciplinar na realização do seu trabalho [...].” (MOURA,
2004, p. 167).
A m de oferecer subsídios aos prossionais em relação à ativi-
dade de determinar o assunto do documento, foi criado os “Princípios de
Indexação” pelo sistema internacional vinculado à Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
20
, conheci-
do pela sigla UNISIST
21
(WORLD INFORMATION SYSTEM FOR
SCIENCE AND TECHNOLOGY, 1981; FUJITA, 2003).
Em 1985, a publicação dos Princípios de Indexação ocasio-
nou a criação da primeira norma internacional, a ISO 5963 e, no Brasil,
somente 7 anos depois, em 1992, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) publicou a tradução, nomeando-a de NBR 12676/1992
(FUJITA, 2003).
Fujita (2003) investiga por meio da revisão de literatura, a identi-
cação de conceitos a partir da leitura documentária, da tematicidade e das
20
United Nations Educational, Scientic and Cultural Organization.
21
World Information System for Science and Technology.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
127
concepções de análise do assunto do documento, abordando, indicando
e tendo como aparato além de outros autores e a NBR 12676/1992
22
, os
Princípios UNISIST.
O processo de indexação é denido por Princípios UNISIST
(WORLD INFORMATION SYSTEM FOR SCIENCE AND
TECHNOLOGY, 1981, p. 84), como sendo:
[...] a ação de descrever e identicar um documento de acordo com
seu assunto. [...] Durante a indexação, os conceitos são extraídos do
documento através de um processo de análise, e então traduzidos para
os termos de instrumentos de indexação (tais como tesauros, listas de
cabeçalhos de assunto, esquemas de classicação, etc).
Também de acordo com os Princípios de Indexação (WORLD
INFORMATION SYSTEM FOR SCIENCE AND TECHNOLOGY,
1981, p. 85), a operacionalização do processo decorre em dois estágios
sendo: “- Estabelecimento dos conceitos tratados num documento, isto é, o
assunto; - Tradução dos conceitos nos termos da linguagem de indexação.
Focando no texto referente aos Princípios, durante o estágio de
determinação de assunto (1º estágio) é possível observar que a leitura docu-
mentária encontra-se subentendida em “partes importantes do texto [que]
necessitam ser consideradas cuidadosamente” (WORLD INFORMATION
SYSTEM FOR SCIENCE AND TECHNOLOGY, 1981, p. 86), pois mes-
mo para compreender as partes, é necessário realizar a leitura documentária.
De acordo com Fujita (2003, p. 64, destaque da autora) é possível
constatar que a leitura está subtendida nos Princípios de Indexação, na
frase grifada:
Na identicação de conceitos (segundo estágio do estabelecimento de
conceitos), o indexador, após o exame do texto, passa a abordá-lo de
uma forma mais lógica a m de selecionar os conceitos que melhor
representem seu conteúdo. Para isso, recomenda que a identicação de
conceitos seja feita obedecendo a um esquema de categorias existente
na área coberta pelo documento, como por ex.: o fenômeno, o proces-
so, as propriedades, as operações, o material, o equipamento, etc.
22
Norma Brasileira responsável em subsidiar o processo de indexação. Entre os objetivos da referida
Norma, encontra-se a xação de condições exigíveis para a prática normalizada do exame de documentos,
da determinação de seus assuntos e da seleção de termos de indexação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 1992).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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128
São nítidas as diferenças entre os Princípios UNISIST e o pró-
prio modelo conceitual FRSAD, entretanto, ambos possuem a dimensão
de terem sido articulados por entidades internacionais e, assim, carregam
visibilidade ampliada. Nessa perspectiva, tais iniciativas são de grande im-
portância para sustentar discussões sobre a nalidade e importância do
processo de representação.
O fato de resgatar o UNISIST não se vincula a tecer compara-
ções entre este e o modelo conceitual FRSAD, pois o primeiro possui uma
proposta de princípios e, o segundo, da modelagem conceitual, entretanto
ambos perseguemo mesmo resultado: a representação. Mas, nem de forma
sublimar o modelo da IFLA aponta o subsídio da leitura para a estrutura-
ção dos assuntos.
4 cOnsiderAções finAis
Através do exposto é possível perceber que a leitura documentária
possui condições de permear o contexto dos modelos propostos pela IFLA,
sobretudo pelo fato desses estarem em processo de discussão. Para tanto,se
considera que uma nova dimensão precisa ser assumida pelo modelo, na
qual o assunto do documento passe a ser desencadeado de forma relacio-
nada à leitura documentária.
O reforço teórico para estabelecera representação temática tor-
na-se uma possibilidade de derrubar o estigma do tratamento da informa-
ção documentária ser visto como resultado somenteda prática prossional,
portanto sem fundamentação.
Independente das propostas que sustentem a discussão, o foco
sempre será a disponibilização da informação documentária em catálogos
ou bases de dados, a m de facilitar a busca e a recuperação. Nesse entendi-
mento, somente a partir da integração entre os escopos teóricos e práticos
será possível consolidar a parceria entre leitura documentária, análise de
assunto, representação e recuperação, aspectos tão necessários e caros a
Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
129
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mOdelO de leiturA dOcumentáriA pArA
indexAçãO de literAturA infAntil dO gênerO
fábulA: esquemAs textuAis pArA fundAmentAçãO
de estrAtégiAs metAcOgnitivAs
Roberta Caroline Vesu Alves
1 intrOduçãO
A análise de assunto e identicação de conceitos em indexação,
para ns de representação e recuperação da informação consiste em um
processo cognitivo, que demanda análise e síntese. Também, a indexação
é constituída de etapas que se iniciam pela leitura documentária (SILVA;
FUJITA, 2004). Conforme vericado em Fujita (2013), a quantidade de
etapas para indexação pode variar, dependendo do autor que a descreve e
do que se observa durante a indexação. Mas, independentemente da quan-
tidade de etapas, a indexação tem por nalidade obter uma representa-
ção de conceitos, para ns de recuperação da informação do documento.
Ainda segundo a autora,
A representação do conhecimento contido em conteúdos documen-
tários é o objetivo principal da indexação, entendido de modo mais
amplo. Em âmbito mais especíco e considerando-se as perspectivas
teóricas da indexação conceitual, a representação por conceitos assume
função preponderante entre o signicado do conteúdo documentário e
o termo que o representa. (FUJITA, 2013, p. 44).
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p133-156
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
134
Nesse sentido, o termo utilizado para representação tem caráter
de signicante e está relacionado com o conceito, que possui caráter de
signicado, ideia e unidade de conhecimento. A representação ocorre tam-
bém mediante o referente, o contexto dado por conteúdos documentários
e a linguagem documentária para indexação e recuperação da informação
(CAMPOS, 2001; FIORIN, 2002; SAUSSURE, 1999).
A Análise Documentária, de acordo com os estudos de Silva e
Fujita (2004), é proveniente da corrente teórica francesa de J.-C. Gardin
(1925-2013), também denominada Análise Documental, e compreende
inicialmente a indexação como resultado da representação por meio de
linguagens documentárias. Além disso, apresenta diferenciação das pesqui-
sas espanholas, que a compreende enquanto o tratamento de forma e con-
teúdo, este relacionado com o “[...] tratamento temático da informação e
destina-se à representação condensada do assunto intrínseco ou extrínseco
tratado em um determinado documento” (SILVA; FUJITA, 2004, p. 137),
entre outros aspectos.
Contudo, o conceito de indexação surgiu com a elaboração de
índices, mas passou a signicar a análise e identicação de assuntos do
documento, além da representação (SILVA; FUJITA, 2004). A indexação
enquanto análise de assuntos e identicação de conceitos em conteúdo
documentário, em Análise Documentária, foi desenvolvida de modo inter-
disciplinar também com apoio teórico da Linguística Textual e Psicologia
Cognitiva, principalmente, por pesquisadores espanhóis, por exemplo,
Pinto e Gálvez (1999) e Pinto Molina (1993), e brasileiros como Fujita
(1999, 2003, 2004), Neves (2004), Fujita e Rubi (2006b), Neves, Dias
e Pinheiro (2006), Guimarães, Moraes e Guarido (2007), Alves (2008) e
Alves et al. (2016).
O Modelo de Leitura Documentária para o texto cientíco com-
preende os questionamentos para a identicação de conceitos, isso como
recurso estratégico de inferência ao texto, considerando a super estrutura e
macro estrutura textual (FUJITA; RUBI, 2006b).
Diante disso, objetivou-se propor um Modelo de Leitura
Documentária para identicação de conceitos ccionais da literatura in-
fantil, especicamente do gênero discursivo fábula infantil, embasado em
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
135
esquemas textuais e estratégias metacognitivas. Esses aspectos demandam
o entendimento e explicitação da estrutura textual e das estratégias meta-
cognitivas desejadas para fundamentar a leitura documentária. Para isso,
utilizou-se a metodologia de estudo bibliográco, com análise qualitativa
das informações da literatura cientíca para vericação e proposta de es-
quemas textuais e estratégias metacognitivas, bem como a aplicação dessa
proposta de metodologia em amostra aleatória de fábula infantil.
O Modelo de Leitura Documentária de Fujita e Rubi (2006b) e
Fujita (2009) foi considerado como base para o desenvolvimento da pro-
posta do novo modelo voltado ao texto de fábula infantil, como também
as estruturas textuais estabelecidas por Van Dijk (1996, 2000, 2004), os
processamentos mentais explicados por Neves (2011), além das teorias que
explicam as categorias conceituais ccionais, segundo aspectos teóricos da
Teoria da Narrativa (D’ONOFRIO, 2007; GANCHO, 2014).
Vericou-se por meio do desenvolvimento da proposta do Modelo
de Leitura Documentária e aplicação para exemplicação da indexação,
que o texto do gênero fábula infantil contém categorias conceituais em-
basadas em sua estrutura textual. Além disso, constatou-se que elementos
importantes para a recuperação podem ser indexados a partir de aspectos
característicos do gênero textual e da narrativa, que se referem ao gênero da
fábula infantil, tipo de narrador, aspectos de personagens, espaço, tempo,
enredo e moral da história. A proposta de modelo de leitura foi estabe-
lecida com base em esquemas textuais, que podem ser utilizados como
estratégias metacognitivas durante a leitura documentária, com o intuito
de facilitar a inferência e identicação de conceitos durante a indexação.
2 O mOdelO de leiturA dOcumentáriA pArA indexAçãO de textO
científicO
A leitura documentária para identicação de conceitos em texto
cientíco pode ser realizada com base em estratégias de exploração de estru-
turas textuais e de abordagem sistemática para identicação desses conceitos,
conforme o Modelo de Leitura Documentária. Esse modelo teve seu méto-
do desenvolvido por Fujita (2003b) e Fujita e Rubi (2006a, 2006b), tendo
como apoio a metodologia de Protocolo Verbal, conforme também Fujita,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
136
Nardi e Santos (1998), Fujita, Nardi e Fagundes (2003), entre outros pes-
quisadores, além do aprimoramento do modelo por Fujita (2009).
Além disso, vericou-se que o Modelo de Leitura Documentária
tem como base os estudos da pesquisadora Maria de Fátima Gonçalves
Moreira Tálamo, a Norma 12.676 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) e estudos sobre o sistema PREserved Context Indexing
System (PRECIS), segundo Fujita e Rubi (2006a, 2006b).
De modo geral, a abordagem sistemática para identicação de
conceitos buscou responder questionamentos sobre as categorias temáticas:
o que? (categoria essencial), quando?, onde?, como? (categorias acessórias).
Pois foram consideradas como elementos fundamentais para os modelos
de leitura de indexação (FUJITA; RUBI, 2006b).
O Modelo de Leitura Documentária, segundo Fujita e Rubi (2006b),
consiste em “[...] uma metodologia baseada no uso de estratégias de leitura”.
Essa metodologia para indexação, ainda segundo as autoras, considera para
identicação de conceitos, tanto o processo de cognição de leitura, como tam-
bém o conhecimento prévio do leitor sobre aspectos de mundo, prossionais,
linguísticos, textuais, além de conhecimentos especícos de indexadores es-
pecialistas, sendo todos esses aspectos relacionados com estratégias de leitura,
esquemas mentais e estruturas textuais (FUJITA; RUBI, 2006b).
O estudo das autoras sobre o Modelo de Leitura Documentária foi
aprimorado com observação da indexação por meio de Protocolo Verbal,
em formação de bibliotecários indexadores de bibliotecas universitárias.
Portanto, de acordo com Fujita e Rubi (2006b), as estratégias de leitura
dos indexadores que fundamentaram o Modelo de Leitura Documentária
são, principalmente, os aspectos de:
a) estratégias metacognitivas;
b) conhecimento prévio linguístico, textual e de mundo (leitor
inato sob o ponto vista linguístico e cognitivo);
c) domínio da estrutura textual;
d) exploração da estrutura textual como estratégia de leitura do-
cumentária para identicação e seleção de conceitos, durante a
análise de assunto;
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
137
e) dependência da estratégia de exploração da estrutura textual na
identicação de conceitos.
Vale destacar que outro aspecto importante para a metodologia de
Modelo de Leitura Documentária é a abordagem sistemática para identi-
cação de conceitos, que ocorre por meio de categorias de questionamentos
ao texto e análise dessas categorias temáticas, com relação às partes do texto,
ou seja, relacionando-as com a estrutura textual (FUJITA; RUBI, 2006b).
A estrutura textual, ou partes do texto cientíco, a ser explorada
em leitura documentária, ainda segundo as autoras, é prevista no Modelo
de Leitura Documentária e consiste em: Título em português; Título em
inglês; Autoria; Resumo do trabalho cientíco; Palavras-chave; Abstract;
Keywords; Introdução; Materiais e métodos; Resultados; Figuras; Discussão
dos resultados; Conclusões; e Referências bibliográcas.
Posteriormente, para a compreensão global do texto e ização do
conteúdo pertinente a cada parte, é necessário observar se as seguintes par-
tes do texto contêm aspectos relacionados com:
Introdução: explicação do assunto principal com referencial teó-
rico, contendo os objetivos com o tema principal do trabalho ao
nal da introdução;
Materiais e métodos: descrição de materiais e métodos utiliza-
dos, processos, técnicas, amostragem;
Resultados: compatibilidade com objetivos enunciados, mate-
riais e métodos utilizados, com o uso, às vezes de guras, grácos,
tabelas, fotograas, etc;
Discussão dos resultados: vericação dos resultados a partir do
referencial teórico utilizado;
Conclusões: vericação dos objetivos propostos;
Referências bibliográcas. (FUJITA; RUBI, 2006b, grifo
nosso).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
138
Desse modo, é possível compreender o conteúdo como um todo e
começar a explorar a estrutura textual para identicar os conceitos de cada par-
te importante, que são revelados por meio de questionamento para indexação.
De acordo com Fujita e Rubi (2006b), “conceito é a formulação de uma ideia
por palavras”, sendo que o conceito pode ser representado por uma palavra do
texto, também os conceitos essenciais do documento são correspondentes ao
seguinte entendimento dos componentes do texto cientíco:
* OBJETO: é algo ou alguém que está sob estudo do pesquisador.
* ÃO: processo sofrido por algo ou alguém.
* AGENTE: aquele ou algo que realizou a ação.
* MÉTODOS: métodos utilizados para realização da pesquisa.
* FÍSICO OU AMBIÊNCIA: físico onde foi realizada a pes-
quisa.
* CAUSA E EFEITO:
- causa => razão ou motivo. Aquilo ou aquele que faz com que
uma coisa exista ou aconteça (antecedente); está vinculada à iden-
ticação da AÇÃO.
- efeito => produto de uma causa. Resultado de um ato qualquer
(consequência); está vinculado ao resultado da AÇÃO realizada.
Assim, o suposto efeito ou consequente deve variar cada vez
que faz variar a suposta causa ou antecedente. (FUJITA; RUBI,
2006b, grifo nosso).
Esses componentes do texto cientíco – que são objeto, ação,
agente, métodos, físico ou ambiência, causa e efeito –, formam categorias
conceituais, que contribuem para a identicação dos conceitos correspon-
dentes a cada uma durante a leitura documentária, considerando para isso
a estrutura textual do texto cientíco. A estrutura textual mais relevante do
texto cientíco compreende: introdução (contém o objetivo com o tema
mais importante do texto), metodologia, resultados e conclusão. A seguir,
o quadro 1 demonstra as partes do texto, o conteúdo de cada parte textual
e as categorias conceituais.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
139
Quadro 1– Identicação de conceitos mediante exploração da estrutura
textual.
PARTES DO
TEXTO
CONTEÚDO PERTINENTE CONCEITOS DE
Introdução
(objetivos)
Referencial teórico
Tema: objetivos*
Objetivos
OBJETO
AGENTE
AÇÃO
Metodologia
Descrição de materiais, métodos, processos e técnicas
utilizados.
MÉTODOS
FÍSICO
MATERIAIS
Resultados
Discussão dos
resultados
Compatibilidade com objetivos enunciados e ma-
teriais e métodos utilizados, mostrados, às vezes em
tabelas;
Vericação dos resultados a partir do referencial
teórico utilizados
CAUSA E
EFEITO
Fonte: Fujita e Rubi (2006b).
Diante disso, vale destacar que o resultado da indexação poderá
ser obtido mais facilmente com a utilização do questionamento ao texto,
mesmo que nem todas as questões possam ser respondidas, isso conforme
as questões estabelecidas por Fujita e Rubi (2006b):
1. O assunto contém uma ação (podendo signicar uma opera-
ção, um processo etc.)?
2. O documento possui em seu contexto um objeto sob efeito
desta ação?
2.1 O objeto identicado pode ser considerado como parte de
uma totalidade?
2.2 O objeto identicado possui características ou atributos par-
ticulares?
3. O documento possui um agente que praticou esta ação?
4. Para estudo do objeto ou implementação da ação, o documen-
to cita e/ou descreve modos especícos, por exemplo: instrumen-
tos especiais, técnicas, métodos, materiais e equipamentos?
5. A ação, objeto e agente são considerados no contexto de um
lugar especíco ou ambiente?
6. Considerando que a ação e o objeto identicam uma causa,
qual é o efeito desta causa? Causa [...] (ação+objeto).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
140
Os questionamentos também contribuem para a compreensão
do texto e identicação de conceitos, mas a identicação de conceitos pode
ser entendida quando os conceitos são comparados com exploração da es-
trutura textual, conforme estabelecido pelas autoras no quadro 2, a seguir:
Quadro 2– Modelo de Leitura Documentária para textos cientícos:
identicação de conceitos por questionamento em partes da estrutura
textual.
CONCEITO
(ANÁLISE
CONCEITUAL)
QUESTIONAMENTO
(NORMA 12676)
PARTE DA
ESTRUTURA TEXTUAL
OBJETO
O documento possui em seu contexto
um objeto sob efeito de uma atividade?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
AÇÃO
O Assunto contém um conceito ativo
(por exemplo, uma ação, uma operação,
um processo etc?)
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
AGENTE
O documento possui um agente que
praticou uma ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
MÉTODOS DO
AGENTE
Este agente refere-se a modos especícos
pra realizar a ação (por exemplo,
instrumento especiais, técnicas ou
métodos)
METODOLOGIA
LOCAL OU
AMBIÊNCIA
Todos estes fatores são considerados
no contexto de um lugar especíco ou
ambiente?
METODOLOGIA
CAUSA E EFEITO
São identicados algumas variáveis
dependentes ou independentes?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS
PONTO DE
VISTA DO
AUTOR;
PERSPECTIVA
O assunto foi considerado de um ponto
de vista, normalmente não associado
com o campo de estudo (por exemplo,
um estudo sociológico ou religioso)?
CONCLUSÕES
Fonte: Fujita e Rubi (2006b).
O método demonstrado para o Modelo de Leitura Documentária
de Fujita e Rubi (2006b) permite a identicação de conceitos para
indexação de modo estratégico, pois considera as estruturas textuais
do texto cientíco e consciente, portanto, estabelece caminhos para o
reconhecimento de esquemas textuais e uso de estratégias metacognitivas
de leitura documentária.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
141
Vericou-se que a falta de procedimentos sistemáticos para a
identicação de conceitos reforçou a necessidade de desenvolvimento da
metodologia de análise de assuntos para a leitura documentária, buscando
diminuir as diculdades de identicação de conceitos (FUJITA; RUBI,
2006b).
Destaca-se que, a partir disso, o aprimoramento de Fujita (2009)
sobre o Modelo de Leitura Documentária, estabelecendo-o conforme qua-
dro 3, que foi adaptado do original da autora, pois foi retirado para este
estudo a última coluna com os exemplos de conceitos identicados.
Quadro 3–Versão adaptada do Modelo de Leitura Documentária.
CONCEITO
QUESTIONAMENTO
PARA IDENTIFICAÇÃO
DE CONCEITOS
PARTES DA ESTRUTURA
TEXTUAL
OBJETO e PARTE(S) DO
OBEJTO (algo ou alguém
que está sob estudo do
pesquisador)
O documento possui em seu
contexto um objeto sob efeito
desta ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVOS)
AÇÂO (processo sofrido por
algo ou alguém)
O assunto contém uma ação
(podendo signicar uma
operação, um processo etc.?)
INTRODUÇÃO
(OBJETIVO)
AGENTE
(aquele ou algo que realizou
a ação)
O documento possui um
agente que praticou esta ação?
INTRODUÇÃO
(OBJETIVO)
MÉTODO
(métodos utilizados para
relaização da pesquisa)
Para estudo do objeto ou
implementação da ação, o
documento cita e/ou descreve
modos
especícos, por exemplo:
instrumentos especiais,
técnicas, métodos, materiais e
equipamentos?
METODOLOGIA
LOCAL OU AMBIÊNCIA
( físico onde foi realizada a
pesquisa)
Todos estes fatores são
considerados no contexto
de um lugar especíco ou
ambiente?
METODOLOGIA
CAUSA E EFEITO
Causa
(ação+objeto)/
Efeito
Considerando que a ação e
objeto identicam uma causa,
qual é o efeito desta causa?
RESULTADOS;
DISCUSSÃO DE
RESULTADOS;
CONCLUSÕES
Fonte: Adaptado de Fujita (2009, p. 437).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
142
A adaptação de Fujita (2009) para o Modelo de Leitura Docu-
mentária, com ns de facilitar o ensino de indexação, permitiu mais visi-
bilidade e entendimento sobre em que consistem as categorias conceituais,
especialmente sobre métodos, bem como outros aspectos que demonstram
a mudança no modelo, conforme destacado pela autora a seguir:
Acima do quadro, recomenda-se incluir uma síntese dos
procedimentos descritos no manual explicativo como um
passo-a-passo”;
A identicação dos conceitos ação, objeto e agente merece
maior atenção na adequação do modelo com a nalidade de
esclarecer e exemplicar a identicação desses conceitos em
vários aspectos que se recomenda estarem descritos como
observações estratégicas;
alteração da denominação do conceito “Métodos do agente
para “Métodos” e a exclusão do conceito “Ponto de vista do
autor; perspectiva”, uma vez que raramente é utilizado;
incluir na primeira coluna breves explicações sobre cada
conceito de forma a orientar o indexador no uso especíco de
cada um;
incluir na coluna de “Questionamento” explicação sobre o
objetivo do questionamento;
Incluir quarta coluna com indicação de termos que representam
os conceitos para exemplicar o processo de identicação de
conceitos para análise de assunto;
A utilização e aprimoramento do Modelo de Leitura Documentária
permitiram, conforme Fujita (2009), um maior entendimento sobre os
conceitos a serem identicados no texto e sobre onde encontrá-los, por
exemplo, os conceitos de objeto, ação e agente estão interligados, são prin-
cipais e devem ser identicados nesta ordem, entre outros aspectos. Além
disso, de acordo com a mesma autora, o modelo facilita “[...] o processo de
indexação, além de mostrar-se uma ferramenta de auxílio, pois orienta os
indexadores aprendizes sobre o que procurar e onde encontrar” (FUJITA,
2009, p. 441).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
143
Outro aspecto importante que contribuiu para o aprimoramento
do Modelo de Leitura Documentária, segundo Fujita (2009), foi o uso da
metodologia de Protocolo Verbal no ensino de leitura documentária para
indexação, que propiciou a revelação de estratégias e diculdades a serem
equacionadas ou aprimoradas. Isso porque a metodologia do Protocolo
Verbal promove, entre outros aspectos, a coleta de dados introspectivos
durante a realização de uma tarefa, desvendando os processos cognitivos
como os esquemas e estratégias metacognitivas (FUJITA, 2009).
3 A literAturA infAntil e gênerO discursivO fábulA infAntil
A literatura infanto-juvenil, em geral, tem alcançado atualmente
posição de relevância no Brasil, contradizendo, segundo Souza (2006, p.
17), a “[...] desvalorização e marginalidade a que essa produção literária
cou sujeita durante muito tempo, tendo sido sempre considerada uma
literatura menor”. Essa desvalorização ocorreu não só por se tratar de um
texto voltado ao leitor infantil, mas também por ter sido tradicionalmente
utilizado para ns morais e pedagógicos até meados da década de 1970,
quando os novos autores inovaram a produção cultural para crianças e
jovens, buscando estimular o lazer e elementos artísticos (SOUZA, 2006).
Segundo Cademartori (2010), a literatura infantil é caracterizada,
entre outros aspectos, pela forma como é direcionada para a idade do leitor,
ou seja, para a competência de leitura estimada para cada faixa etária e se
tornou inseparável do universo educacional. Além disso, conforme a autora,
As obras infantis que respeitam seu público são aquelas cujos textos
têm potencial para permitir ao leitor infantil possibilidade ampla de
atribuição de sentidos àquilo que lê. A literatura infantil digna do
nome estimula a criança a viver uma aventura com a linguagem e seus
efeitos, em lugar de deixá-la cerceada pelas intenções do autor, em li-
vros usados em transportes de intenções diversas, entre elas o que se
passou a chamar de “politicamente correto”, a nova face do interes-
se pedagógico, que quer se sobrepor ao literário. (CADEMARTORI,
2010, p. 17).
Nesse contexto, segundo arma a mesma autora, a importância
das narrativas clássicas para crianças é amplamente conhecida, além disso,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
144
os conitos vivenciados por personagens ccionais desse tipo de texto per-
mitem aos ouvintes e leitores a identicação, reexão e atribuição de no-
vas perspectivas para esses conitos (CADEMARTORI, 2010). De acordo
com Souza (2006, p. 53), a importância da literatura infantil também está
em estimular a imaginação e o gosto pela leitura, e ainda,
A literatura infanto-juvenil é a primeira forma escrita de contato com
a criança e do jovem com as tradições culturais e literárias de seu povo.
Ao mesmo tempo que promove recreação também cultiva valores ne-
cessários à vida em sociedade e favorece o raciocínio e a inteligência da
criança e do jovem.
Historicamente, as primeiras literaturas para crianças, além das
religiosas, eram as histórias populares e de tradição oral, mas também agra-
davam pessoas de todas as idades. As fábulas, por exemplo, existem desde
a Antiguidade (SOUZA, 2006).
O texto da fábula, segundo Souza (2006), apresenta característi-
cas de:
a) narração e texto curtos;
b) acontecimentos ctícios relacionados com a vida humana;
c) dupla nalidade de instruir e divertir;
d) moralidade verossímil;
e) personagens animais que falam e demonstram atos e conitos;
f) animais não são escolhidos ao acaso, pois suas características
são aproveitadas;
g) animais também mostram vícios humanos;
h) críticas ao caráter, costumes e às maldades humanas.
Segundo Duarte (2013), as fábulas são famosas por conter em
seu nal a moral da história, mas essa moral pode ser apresentada de modo
explícito ou implícito no texto. Além disso, o gênero discursivo fábula
infantil pode ser apresentado em texto rimado (poesia e poema) ou em
prosa. Por isso, para este estudo foram consideradas as fábulas de Esopo
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
145
apresentadas com narrativas em prosa. Esopo, segundo Duarte (2013) e
Tufano e Nóbrega (S.d.), foi um escravo muito famoso, autor e difusor de
diversas fábulas, que viveu na Grécia a partir do nal do século V a.C., mas
os detalhes de sua vida ainda motivam divergências entre os historiadores.
As características da fábula infantil também são constituídas das ca-
racterísticas do texto ccional de narrativa em prosa, que compreendem, segun-
do D’Onofrio (2007), Gancho (2014) e Van Dijk (1996, 2000, 2004), em:
a) estruturas textuais: microestrutura (palavras da superfície tex-
tual), macroestrutura (elementos semânticos) e superestrutura
(elementos de organização do texto);
b) personagens: principais (protagonista e antagonista, com suas
características marcantes) e secundários;
c) espaço ou : cenário ou em que se passa a ação ou enredo; am-
biente psicológico, social, moral, econômico etc. (por exem-
plo, hostil, pobre, agradável, requintado etc.);
d) enredo: fatos, ações e acontecimentos vivenciados por perso-
nagens mediante espaço, tempo, contados por narrador, apre-
sentando como parte central o conito (enredo composto tam-
bém de apresentação, complicação, clímax e desfecho);
e) tempo: época da história (exemplo: Idade Média e inverno);
duração da história (enredo curto ou enredo de muitos anos);
tempo cronológico (mensurável em horas, dias, meses, anos
etc.); e tempo psicológico (ordem determinada pela imagina-
ção do narrador ou do personagem);
f) tipos de narrador: narrador personagem (verbos em 1ª pes-
soa), pode ser protagonista ou testemunha; narrador onisciente
e observador (verbos em 3ª pessoa).
Além disso, os gêneros discursivos em conjunto com essas carac-
terísticas de narrativa em prosa são elementos requisitados por usuários
de biblioteca escolar, como crianças, adolescentes e professores, conforme
pôde se observar em atuação prossional. São, pois, categorias conceituais
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
146
que expressam o que os usuários gostariam de ler, por exemplo: gêneros
de aventura, romance, fábula, poesia; temáticas que demonstram supera-
ção de preconceito, comportamento adequado, luta entre o bem e o mal;
personagens bruxos e animais favoritos; conito entre amizades; tempo da
narrativa e tipo de narrador (conforme leitura indicada pelo professor); etc.
Essas características textuais, portanto, também expressam catego-
rias conceituais importantes para a indexação, propiciando, posteriormente
à indexação, os meios de recuperação da informação, respeitando também as
necessidades de informação apresentadas pelos usuários observados.
Sabe-se que ainda muito deve ser feito no Brasil para que crianças
e adolescentes tomem contato e desfrutem da literatura ccional e da lei-
tura, de modo geral. Mas, o que não deve ocorrer em bibliotecas públicas
e escolares, é que o leitor deixe de encontrar a literatura de acordo com seu
gosto, ou com o que gostaria de ler no momento. Para amenizar essa a falta
de meios de indexação e recuperação da informação sobre a literatura in-
fantil, foi desenvolvida uma proposta de Modelo de Leitura Documentária
para ns indexação do gênero fábula infantil, visando também contribuir
com os estudos sobre indexação.
4 prOpOstA de mOdelO de leiturA dOcumentáriA de literAturA dO
gênerO fábulA infAntil: esquemAs textuAis pArA fundAmentAçãO de
estrAtégiAs metAcOgnitivAs
Os esquemas textuais ou superestruturas, segundo Neves (2011,
p. 36), consistem em um “[...] conjunto de conhecimentos adquiridos à
proporção que lemos diversos tipos de textos e efetuamos correlação entre
eles”. Nesse sentido, a superestrutura, de acordo com Van Dijk (2000,
2004), estabelece a forma e a organização textual, caracterizando o tipo de
texto em esquemas formais, contribuindo para expressar determinado sen-
tido em âmbito macroestrutural. Outros aspectos da estrutura textual são,
por conseguinte, a macroestrutura, que consiste, entre outros aspectos, em
conteúdo semântico parcial e global, como também a microestrutura em
nível supercial, com proposições básicas (VAN DIJK, 1996, 2000, 2004).
O conhecimento da organização da estrutura textual e os conhe-
cimentos prévios permitem ao leitor indexador interagir com o texto por
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
147
meio de estratégias metacognitivas, ou seja, direcionando a leitura docu-
mentária para as partes especícas do texto, ao mesmo tempo em que di-
reciona para essas partes a compreensão do texto necessária aos ns de
indexação e recuperação da informação (FUJITA, 1999).
Segundo Neves (2011), a cognição denota tipos especícos de re-
presentação, que pode ser, por exemplo, sobre objetos, fatos e informações
provenientes do meio. Mas, a metacognição signica “[...] o conhecimen-
to sobre o próprio conhecimento, avaliação, regulação e organização dos
processos cognitivos” (NEVES, 2011, p. 29). Nesse contexto, a estratégia
“[...] refere-se às informações sobre meios e processos ou ações que permi-
tem ao sujeito atingir objetivos com maior ecácia em determinada tarefa
(NEVES, 2011, p. 33).
Portanto, a estratégia utilizada para atingir objetivos de leitura
documentária e indexação é a observação e compreensão de esquemas tex-
tuais (superestruturas que apontam para o conteúdo textual), em conjunto
com a metacognição, que gerencia de modo explícito os conhecimentos e
organiza os processos cognitivos.
Vericou-se que o Modelo de Leitura Documentária é fundamen-
tado por procedimentos que consideram os esquemas textuais (domínio da
estrutura textual), as estratégias metacognitivas e abordagem sistemática,
esta, por meio de questionamentos, entre outros aspectos. Por isso, as eta-
pas para construção do Modelo de Leitura Documentária de Literatura do
Gênero Fábula Infantil consistem em:
a) identicação das estruturas textuais;
b) conceitos e questionamentos relacionados com as partes textuais;
c) exemplicações da aplicação do Modelo de Leitura Documen-
tária de Literatura do Gênero Fábula Infantil em fábulas sele-
cionadas aleatoriamente.
Para a identicação das estruturas textuais do gênero fábula in-
fantil, foi considerado, portanto, o tipo de gênero discursivo, a micro-
estrutura, macroestrutura e superestrutura, bem como as partes do texto
narrativo, que também o caracterizem. Esses elementos textuais são impor-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
148
tantes para descrever o conteúdo do texto, ao mesmo tempo em que são
importantes para recuperação da informação aos usuários a que esse gênero
textual se destina.
O quadro 4, a seguir, reúne as estruturas textuais e o conteúdo
esperado para cada parte e característica desse tipo de texto.
Quadro 4 – Estruturas textuais e conteúdos pertinentes.
PARTES DO TEXTO
NARRATIVO
CONTEÚDO PERTINENTE
ESTRUTURAS TEXTUAIS
GERAIS
Conteúdo semântico em macroestrutura, revelados pela
microestrutura;
Superestrutura conforme as partes do texto narrativo e
gênero discursivo.
GÊNERO DISCURSIVO Fábula infantil.
TÍTULO DA FÁBULA
INFANTIL
Geralmente revela os personagens principais.
ENREDO
Toda a história (apresentação, complicação, clímax
e desfecho), principalmente o conito. Portanto, é
importante desmembrar todas as partes do enredo para
indexação.
ENREDO – APRESENTAÇÃO:
PERSONAGENS
Personagens principais (protagonista/bem e antagonista/
mal) e suas características marcantes.
ENREDO – APRESENTAÇÃO:
ESPO OU
Cenário: descrição do ;
Ambiente: descrição subjetiva do ambiente.
ENREDO – APRESENTAÇÃO:
TEMPO
Época da história;
Duração da história;
Tempo cronológico ou psicológico.
ENREDO – COMPLICAÇÃO Após uma normalidade é iniciado um conito.
ENREDO – CLÍMAX Ponto máximo do conito, antes de seu desfecho.
ENREDO – DESFECHO
Desfecho ou conclusão do conito, estabelecendo outra
normalidade.
MORAL DA HISTÓRIA (NO
FINAL DO TEXTO)
Ensinamento losóco e/ou moral alertando para o bem
comum.
NARRADOR
Narrador personagem (protagonista ou testemunha);
Narrador onisciente ou observador.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em D’Onofrio (2007), Fujita e Rubi (2006b), Fujita (2009), Gancho
(2014) e Van Dijk (1996, 2000, 2004).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
149
A partir do estabelecimento da identicação das estruturas textu-
ais, passou-se a propor os conceitos e questionamentos relacionados com
cada parte, para o Modelo de Leitura Documentária para o Gênero Fábula
Infantil, conforme quadro 5.
Quadro 5 – Modelo de Leitura Documentária para o Gênero Fábula In-
fantil: conceitos e questionamentos direcionados para partes textuais.
PARTES DO TEXTO
NARRATIVO
QUESTIONAMENTOS CONCEITOS
GÊNERO
DISCURSIVO
Qual o gênero e subgênero discursivo?
GÊNERO
DISCURSIVO
ENREDO –
APRESENTAÇÃO:
PERSONAGENS
Quem são os personagens principais?
Quais as características importantes dos
personagens principais?
PERSONAGENS
ENREDO –
APRESENTAÇÃO:
ESPO OU
Em que cenário ocorrea ação ou enredo?
Em que ambiente ocorre a ação ou
enredo?
ESPO OU
ENREDO –
APRESENTAÇÃO:
TEMPO
Em que época se passa a história?
Quanto tempo dura a história?
O tempo é apresentado de modo
cronológico ou psicológico?
TEMPO
ENREDO –
COMPLICAÇÃO
Qual o conito apresentado? CONFLITO
ENREDO – CLÍMAX
Qual o clímax ou ponto máximo do
conito?
CLIMAX
ENREDO –
DESFECHO
Qual o desfecho do conito? DESFECHO
MORAL DA
HISTÓRIA (NO
FINAL DO TEXTO)
Qual a moral da história?
MORAL DA
HISTÓRIA
NARRADOR Qual o tipo de narrador? NARRADOR
Fonte: Elaborado pela autora, com base em D’Onofrio (2007), Fujita e Rubi (2006b), Fujita (2009), Gancho
(2014) e Van Dijk (1996, 2000, 2004).
O Modelo de Leitura Documentária para o Gênero Fábula
Infantil proposto acima reete os tipos de conceitos importantes para re-
presentação e recuperação da informação, bem como a abordagem siste-
mática de questionamento ao texto e a relação desses aspectos com a estru-
tura textual pertinente ao tipo de texto escolhido para esta proposta.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
150
Diante disso, o modelo foi aplicado em amostra aleatória, con-
forme quadros 6 e 7, exemplicando como pode ocorrer a indexação para
identicação de conceitos em duas fábulas infantis do autor Esopo (2013).
Quadro 6 – Exemplicação da aplicação do modelo para indexação da
fábula infantil “A cigarra e as formigas” de Esopo.
CONCEITOS QUESTIONAMENTOS
TERMOS
IDENTIFICADOS
GÊNERO
DISCURSIVO
Qual o gênero e subgênero
discursivo?
Fábula. Fábula infantil.
PERSONAGENS
Quem são os personagens principais? Cigarra. Formigas.
Quais as características importantes
dos personagens principais?
Cigarra cantora.
Formigas trabalhadoras.
ESPO OU
Em que cenário ocorre a ação ou
enredo?
[Não revela].
Em que ambiente ocorre a ação ou
enredo?
[Não revela].
TEMPO
Em que época se passa a história? Inverno.
Quanto tempo dura a história?
Narrativa em prosa
curta.
O tempo é apresentado de modo
cronológico ou psicológico?
Tempo cronológico.
Tempo psicológico.
CONFLITO Qual o conito apresentado?
Fome. Pedido de
alimento.
CLIMAX
Qual o clímax ou ponto máximo do
conito?
Não trabalhou. Cantou.
DESFECHO Qual o desfecho do conito?
Risos. [As formigas
avisaram a cigarra]:
Dance no inverno.
MORAL DA
HISTÓRIA
Qual a moral da história?
Não descuidar das
tarefas.
NARRADOR Qual o tipo de narrador? Narrador onisciente.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em D’Onofrio (2007), Esopo (2013, p. 154), Fujita e Rubi (2006b),
Fujita (2009), Gancho (2014).
A segunda exemplicação da aplicação do modelo para identi-
cação de conceitos ocorreu conforme quadro 7.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
151
Quadro 7– Exemplicação da aplicação do modelo para indexação da fá-
bula infantil “A tartaruga e a lebre” de Esopo.
CONCEITOS QUESTIONAMENTOS
TERMOS
IDENTIFICADOS
GÊNERO
DISCURSIVO
Qual o gênero e subgênero
discursivo?
Fábula.Fábula infantil.
PERSONAGENS
Quem são os personagens principais? Tartaruga. Lebre.
Quais as características importantes
dos personagens principais?
Tartaruga lenta.
Tartaruga persistente.
Lebre veloz. Lebre
displicente.
ESPO OU
Em que cenário ocorre a ação ou
enredo?
Um percurso.
Em que ambiente ocorre a ação ou
enredo?
[Não revela].
TEMPO
Em que época se passa a história? [Não revela].
Quanto tempo dura a história?
Narrativa em prosa
curta.
O tempo é apresentado de modo
cronológico ou psicológico?
Tempo cronológico.
CONFLITO Qual o conito apresentado? Disputa de velocidade.
CLIMAX
Qual o clímax ou ponto máximo do
conito?
Lebre adormeceu.
DESFECHO Qual o desfecho do conito? Tartaruga venceu.
MORAL DA
HISTÓRIA
Qual a moral da história?
O esforço vence a
natureza relapsa.
NARRADOR Qual o tipo de narrador? Narrador onisciente.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em D’Onofrio (2007), Esopo (2013, p. 496), Fujita e Rubi (2006b),
Fujita (2009), Gancho (2014).
A aplicação do Modelo de Leitura Documentária para o Gênero
Fábula Infantil demonstrou a identicação de conceitos importantes para
representação e recuperação, condizentes com o conteúdo, termos e carac-
terísticas das fábulas utilizadas para indexação. Contudo, não é possível
nesta pesquisa traçar um paralelo ou análise entre os termos identicados
e os termos que possivelmente seriam selecionados mediante a tradução
com o uso de linguagem documentária. Pois esta proposta de modelo de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
152
leitura se limita ao estabelecimento da identicação de estruturas textuais
e desenvolvimento de questionamentos para identicação de conceitos e
termos do texto.
5 cOnsiderAções finAis
A proposta de Modelo de Leitura Documentária para indexação
de fábula foi embasada em esquemas textuais para fundamentação de
estratégias metacognitivas de leitura, proporcionando um meio para
identicação de conceitos desse tipo de literatura infantil. Também
teve como base o modelo de leitura para texto cientíco, no que se
refere aos parâmetros de utilização de estrutura textual como estratégia
metacognitiva para identicação de conceitos, e abordagem sistemática de
questionamento ao texto.
A exemplicação da aplicação da proposta do modelo de leitura
elaborado demonstrou que os conceitos e termos puderam ser identica-
dos nos textos escolhidos em amostra, mas, o modelo ainda precisa ser tes-
tado por indexadores, preferencialmente, com pesquisas que comprovem o
resultado do uso desse modelo por meio de Protocolo Verbal. Ainda, suge-
re-se que outros estudos sejam realizados para demonstrar a aprendizagem
do modelo proposto, bem como seu aprimoramento mediante fundamen-
tação de novas necessidades de representação e recuperação.
As diculdades de tratamento e indexação da literatura ccional
em bibliotecas escolares e públicas ainda são grandes no Brasil. Entretanto,
é imprescindível que pesquisas e ações prossionais promovam o desen-
volvimento de procedimentos de indexação, como também as linguagens
documentárias voltadas para literatura ccional, contribuindo desse modo
para o avanço da representação e recuperação desse tipo de informação,
que é muito importante para seus usuários.
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157
Os pAdrões de heArst cOmO recursOs
AuxiliAres semiAutOmáticOs pArA A eficáciA nA
leiturA dOcumentáriA
Walter Moreira
José Carlos Francisco dos Santos
Érica Fernanda Vitorini
1 intrOduçãO
Como ponto de partida para a discussão que se faz neste capítulo,
considera-se como imperativo a aplicação de metodologias de tratamento
temático no amplo e variado conjunto da produção cientíca. A conuên-
cia
das variáveis tempo destinado à análise dos documentos em sistemas de
informação documentária e quantidade/qualidade destes documentos re-
quer que o processo de tratamento temático seja realizado de modo ecaz,
com o aproveitamento máximo dos recursos aplicados.
O tratamento temático da informação e, mais especicamente,
a análise documentária é, por sua própria natureza intelectual, dispendio-
so. Desse modo, é fundamental que a análise documentária seja realizada
com a observação atenta de princípios metodológicos e com o recurso de
ferramentas que possam torná-la mais ecaz e racional. Entretanto, como
adverte Kobashi (1994, p. 22), a análise documentária
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p157-194
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
158
não se reduz a um conjunto de regras perenes, utilizáveis em todas as
circunstâncias. Ela é, antes de tudo, uma disciplina de natureza meto-
dológica que, para avançarteórica e praticamente, deve criticar conti-
nuamente seus pressupostos, procedimentos e instrumentos; deve, ao
mesmo tempo, com base na reexão permanente, elaborar novas hipó-
teses de trabalho que contribuam para aperfeiçoar os processos que lhe
dizem respeito.
A análise documentária diz respeito ao exame do documento vi-
sando a sua representação para ns de recuperação da informação. Desse
modo, a análise documentária congura-se como metodologia por meio
da qual o conteúdo de um determinado texto é interpretado, condensado
e lhe são atribuídos descritores, tendo em vista sua representação para ns
de indexação.
A representação é um produto diferente do texto original, mas
que guarda com ele relações de equivalência e de contiguidade. A constru-
ção da representação documentária é marcada por um processo de redução
crescente, assim caminha-se
do texto para o resumo, do resumo para o enunciado, do enunciado
para a unidade de tradução via códigodocumentário. A atividade de
AD caracteriza-se, portanto, como uma sucessão de processos de trans-
formação do texto original, observando-se, a cada etapa, graus crescen-
tes de generalização” (LARA, 1993, p. 41).
Nos modelos mais tradicionais dos sistemas documentários, esta
representação documentária ocorre na forma de classicação, de indexação
ou de resumo e tais representações visam a qualicar o processo de recupe-
ração da informação pelo usuário.
Conforme Lara (2009, p. 28), o termo “análise documentária
foi criado por Jean-Claude Gardin para “designar as operaçõessemânticas
que transformam um texto original em uma ou várias palavras-chave, ou
ainda, paráfrases, visando facilitar a representação [...] de ‘conteúdos’ e a
recuperação da informação”.
No Brasil, as pesquisas desenvolvidas pelo Grupo Temma, que
passa a existir formalmente com a publicação do livro “Análise documen-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
159
tária: a análise da síntese”, em 1987 (Lara, 2009), formam grande parte do
estofo teórico e metodológico das pesquisas sobre análise documentária.
Para que se efetue a análise documentária, requer-se a realiza-
ção de leitura documentária, uma modalidade de leitura prossional que
consiste na análise do conteúdo do documento visando a identicação e
a distinção das informações essenciais e acessórias, sendo que tal distinção
ocorre conforme os interesses relativos ao contexto em que se produz a
análise. Utilizando-se de técnicas de condensação documentária adequa-
das à modalidade de representação que se deseja construir, as informações
essenciais são reelaboradas como representações documentárias e passam a
compor, nessa condição, sistemas de informação documentária.
A leitura documentária, como qualquer atividade de leitura, é um
processo de produção de sentido que tem como ponto de partida o texto.
Neste caso há, contudo, uma variável que não está presente na leitura que
se realiza para ns de lazer, por exemplo: o leitor prossional, o que realiza
a leitura documentária, não é, normalmente, previsto como leitor pelo
autor. Nas palavras de Lara (2009, p. 34): “frente ao documento, o leitor-
documentalista não se caracteriza como um leitor-modelo, uma vez que
não dispõe, necessariamente, de condições para estabelecer com o texto
uma negociação”. Além do mais, acrescenta-se o fator urgência (ou tempo
reduzido), que obriga à realização de leitura mais rápida e seletiva do se
poderia esperar a partir de um modelo convencional. Ainda citando Lara
(2009, p. 34): “o leitor-documentalista realiza uma leitura que se enquadra
num processo de produção industrial de textos (parafraseando Gardin),
não podendo dedicar mais tempo à leitura do que aquele previsto na
atividade de indexação de um grande volume de publicações”.
Em busca de uma metodologia para a leitura documentária, Gil
Leiva e Fujita (2012), estabelecem alguns procedimentos orientadores.
Rubi, Fujita e Boccato (2012, p. 224) também caracterizam a leitura
documentária e apresentam uma metodologia para a sua realização que
envolve a análise mais cuidadosa dos seguintes elementos: a) introdução:
com foco nos objetivos; b) “leitura das frases introdutórias de parágrafos
e capítulos”; c) procedimentos metodológicos, contemplando “técnicas,
instrumentos, procedimentos adotados na realização da pesquisa, bem
como o e ambiência em que esta se passa”; d) conclusão em sua relação
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
160
com os objetivos propostos; e) “grácos, tabelas, diferenciação tipográ-
ca etc.”; f) título, subtítulo, resumo e palavras-chave. Estes elementos
devem ser vericados ao nal da leitura, segundo as autoras, para que não
a direcione de algum modo.
A leitura documentária é uma modalidade de leitura prossio-
nal, mais especicamente é a leitura realizada pelo indexador em contexto
prossional. Trata-se de uma modalidade de leitura que visa a um m es-
pecíco que é construir a representação documentária. Não soa correto,
portanto, do ponto de vista da organização lógica dos conceitos, tomar os
termos “leitura documentária” e “leitura prossional” como sinônimos,
em relação de equivalência. Desse modo, a expressão “leitura prossio-
nal”, quando se refere à atividade realizada pelo indexador, deve apare-
cer adjetivada, como ocorre em Silveira e Moura (2007), com a expressão
“bibliotecário-indexador” ou em Redígolo e Fujita (2015), que utilizam
a expressão “leitura prossional do catalogador”, cuja leitura prossional
viabiliza a “consecução de seus objetivos de síntese e seleção de conceitos
(REDÍGOLO; FUJITA, 2015, p. 367)
Observado como leitor “comum”, o indexador utiliza-se de recur-
sos também “comuns” a qualquer outro leitor, acionando
o processamento humano de informações, realizado com a memória
de curto prazo (input visual), a memória de longo prazo (esquemas
e conhecimento prévio) e as habilidades operatórias de pensamento
(análise e síntese). [Observado como] leitor prossional é considerado
a partir da perspectiva de seu contexto, atuação e formação prossio-
nal” (FUJITA; RUBI, 2006, p. 1).
Deste modo, são as técnicas empregadas na leitura que vão dife-
renciar o leitor “comum” do leitor prossional. De outro lado, é a tipologia
de recursos empregados que irá diferenciar a leitura documentária no con-
junto das leituras prossionais.
No trabalho em que sistematiza e apresenta uma abordagem te-
órico-metodológica para a construção de informações documentárias (es-
pecialmente o resumo), Kobashi (1994), quando discute a relação entre a
prática documentária e o seu processamento automatizado, aponta que,
naquele contexto, sem o conhecimento profundo das operações relativas
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
161
ao tratamento da informação documentária, os recursos da computação
eram subutilizados. Citando-a textualmente, pode-se ler:
Os fracassos [da incorporação da informática às tarefas da bibliote-
conomia/documentação] não se deveram unicamente à limitação das
máquinas. As experiências revelaram que, muitas vezes, as diculdades
provinham de lacunas da própriaárea: especicamente, da ausência de
conhecimentos sucientemente sistematizados sobre operações por ve-
zes básicas e elementares do cotidiano prossional. Apoiada fortemente
no conhecimento empírico, na intuição e no habito, a área, por um
longo período, rejeitou a teoria, considerando-a supérua.
O quadro não é mais o mesmo e houve evolução, naturalmente.
Alguns autores, dentre eles Kobashi, no mesmo trabalho citado (1994)
e Gil Leiva e Fujita (2012), forneceram importantes subsídios teóricos e
metodológicos relativos aos processos inerentes à análise documentária.
Sobre este aspecto, apontam-se apenas alguns outros trabalhos seminais:
Smit (1989), Guimarães (1994), Lara (1999), Lucas (2000), Pinto Molina
(2001), Fujita (2003), Montesi (2006) e Dias e Naves (2013).
A análise documentária, visa, como se disse anteriormente, a
construção de representações documentárias que possam ser utilizadas tan-
to pelo indexador quanto pelo usuário pesquisador para ns de diálogos
com o sistema. Neste caso, como se trata de uma linguagem construída
para ns de comunicação entre usuários (leia-se indexador e pesquisador) e
sistema, ou seja, uma linguagem documentária, é preciso que seja aplicado
ao conjunto das representações documentárias metodologias de controle
de vocabulário.
Para Lancaster (2002) o controle do vocabulário tem os obje-
tivos de facilitar a representação dos assuntos tanto para os prossionais
como para os usuários; agrupando os sinônimos e os quase sinônimos,
diferenciando os homógrafos e relacionando os termos com signicados
próximos, sendo assim tem como fundamento diminuir essas diferenças e
padronizar o seu uso facilitando, consequentemente, o acesso.
Deste modo, acredita-se que uma representação de qualidade
pode proporcionar uma recuperação ecaz da informação. Problemas no
processo de representação, como a ausência de um vocabulário controlado,
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
162
sua falta de atualização ou até mesmo um vocabulário que não represente a
linguagem da comunidade usuária, geram falhas nessa comunicação e con-
correm para a insatisfação na recuperação da informação. Além de com-
prometer a qualidade das buscas e do processo de recuperação da informa-
ção como um todo, a incompatibilidade entre a linguagem documentária
e a linguagem do usuário, adverte Boccato (2009, p 21), compromete “a
atuação do bibliotecário na representação dos conteúdos documentários
no processo de indexação, o usuário na realização das buscas satisfatórias
desses conteúdos no processo de recuperação da informação e, consequen-
temente, a credibilidade dos sistemas”.
Embora se trate de um tema que não será explorado neste capí-
tulo, é preciso reforçar o argumento de que não será possível estabelecer
um diálogo ecaz entre usuários, linguagens documentárias, sistemas de
informação documentária e indexadores (bibliotecários) sem a adoção de
políticas de indexação coerentes e consistentes. A este respeito, pode-se
consultar o já clássico artigo de Carneiro (1985) e os trabalhos de Rubi
(2004; 2008), Gil Leiva e Fujita (2012) e Fujita (2016).
A política de indexação funciona como eixo orientador para o
prossional indexador no momento da análise documentária, pois por
meio dela é possível estabelecer o perl da instituição e da comunidade
usuária, entre outros critérios, e assim denir os parâmetros orientado-
res para a leitura e seleção dos descritores mais adequados à representação
documentária.
A construção ecaz da representação como resultado da análise
documentária requer, portanto, como condição sine qua non, um leitor
orientado por uma política de indexação que: a) seja consciente a respeito
da complexidade do ato de ler e que esteja munido de estratégias metacog-
nitivas de leitura (um leitor prossional prociente); b) conheça o perl
de interesse da comunidade usuária a que atende e c) conheça os diver-
sos modelos de organização textual e saiba aplicar recursos adequados à
identicação e seleção de informação essencial observando-se as diferentes
tipologias de estrutura textual.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
163
2 OrgAnizAçãO dA infOrmAçãO textuAl
O ponto de partida para a realização da análise documentária, con-
forme a compreensão do Grupo Temma relatada por Lara (2009, p. 30), é o
texto, e não o discurso. A opção justica-se pelo fato de se encontrarem no
texto “as estruturas informacionais, elementos que respondem pela coesão e
progressão textual, bem como pelo seu fechamento e autonomia”.
Desse modo, é no texto que se verica a condição de registro, o
que lhe dá características de permanência no tempo e de portabilidade no
espaço. Essas mesmas condições são apontadas como requisito para que o
que vai ser denido como informação por Smit e Barreto (2002).
A análise documentária é constituída por três atividades espe-
cícas: análise, síntese e representação (Kobashi, 1994). As duas pri-
meiras fases dizem respeito à desestruturação do texto e a última à sua
reestruturação.
Na etapa de análise propriamente dita é que ocorre a leitura docu-
mentária, momento em que o leitor prossional (indexador) realiza a leitura
do texto e identica o seu assunto. Neste momento, a concepção clara do
que representa a ideia de texto, de suas tipologias e de como se conguram
suas estruturas são recursos essenciais ao pleno êxito da operação.
Um texto, na denição funcional apresentada por Dias e Naves
(2013, p. 27), é tomado como meio, na condição de
veículo que permite a comunicação de ideias entre o sujeito que cria e
dissemina informação (emissor, no caso autor) e o sujeito que necessita
e adquire informação(receptor, no caso o leitor). É o objeto que per-
mite a transmissão das informações contidas em documentos, sendo
também visto como uma coleção de símbolos, os quais são intencio-
nalmente estruturados pelo emissor para mudar a estrutura de imagem
do receptor.
Na fase de análise, o leitor prossional precisa lançar mão de
estratégias de leitura que possibilitem a compreensão do texto de modo
completo, preciso e rápido. Para isso, utiliza-se, essencialmente, “de repre-
sentações mentais, que estão ligadas ao conhecimento linguístico, social
e de representação” (REDÍGOLO; FUJITA, 2015, p. 357). Um texto é
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
164
composto por uma rede interna e externa de relações. É essa rede que,
entre outros elementos, irá viabilizar a construção de sentido pelo leitor.
A compreensão do texto condiciona-se às melhores condições de
interação entre o texto, o leitor e o contexto de ocorrência da atividade de
leitura. Desse modo, é preciso rearmar o papel ativo do leitor durante o
processo, mormente no processo de leitura prossional.
Cintra (1989, p. 34) distingue dois tipos de estratégias relativas
ao processo de leitura: estratégias cognitivas e estratégias metacognitivas.
As primeiras “compreendem comportamentos automáticos e inconscien-
tes”, as últimas “supõem comportamentos desautomatizados, na medida
em que o leitor tem consciência de como está lendo”. O acionamento
dos conhecimentos prévios como estratégia metacognitiva de leitura, por
exemplo, dá ao leitor prossional uma perspectiva ampliada de análise,
compreensão e representação do texto nas tarefas de leitura documentária.
O conhecimento prévio, também chamado algumas vezes de “co-
nhecimento de mundo”, refere-se a todo o conhecimento que o indivíduo
possui, isto é, o conhecimento que o indivíduo armazenou na mente como
resultado da capacidade inata de organização das suas experiências com o
mundo (MEURER, 1985), diz respeito à “memória semântica” e à “me-
mória episódica” do indivíduo, ou seja, a todo o conhecimento generaliza-
do e particularizado armazenado na mente.
O acionamento do conhecimento prévio, bem entendido, não
se congura como um mecanismo de acionamento “liga-e-desliga”. Está
presente em qualquer atividade de leitura. O modo como isso ocorre, de
forma consciente ou não é que irá determinar a natureza das estratégias
metacognitivas ou cognitivas de leitura. A considerar-se (hipoteticamente)
um nível zero de conhecimento prévio, a interpretação de um objeto de
natureza complexa como o texto escrito torna-se, mais do que difícil, lite-
ralmente desprovida de sentido e impraticável.
A ecácia da leitura depende também, como se disse anterior-
mente, da qualidade do texto, naturalmente. Neste caso, há variáveis inter-
venientes que independem do leitor (como o estilo de redação e os recursos
argumentativos do autor) e há as que são perfeitamente apreensíveis, como
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
165
ocorre com a percepção consciente da estrutura textual e dos recursos lin-
guísticos utilizados.
O sentido geral que se procura alcançar com o texto é baseado
na sua estrutura, a qual compreende suas micro, macro e superestrutura.
Dias e Naves (2013, p. 29) apresentam as seguintes denições para estes
termos: microestrutura: “estrutura supercial, que corresponde a realidade
física do texto e seus símbolos de signicação, as palavras”; macroestrutu-
ra: “concebida como um tópico representativo hierárquico e coerente da
unidade textual, envolvendo mínima estrutura da representação textual,
sintático-semântica” e superestrutura. “estrutura retórico-esquemática, um
tipo de esquema de produção convencional para o qual o texto é adaptado,
podendo ser considerado como transição entre estruturas de superfície e
de profundidade”.
Nesta perspectiva, quanto mais conhecimento a respeitos dos gê-
neros e das estruturas textuais o leitor prossional tiver, maiores serão suas
chances de identicar com clareza a ização das informações consideradas
essenciais no texto, ou seja, maiores as possibilidades de análise e compre-
ensão do texto visando a sua representação para ns documentários.
Considerando-se uma abordagem top-down, compreende-se o
documento, objeto da leitura documentária, como uma complexa rede de
relações conceituais. Em sentido inverso, em abordagem bottom-up, obser-
va-se o conceito como unidade mínima de signicação na comunicação de
conhecimento que tem o texto como veículo. Trata-se de um “jogo” por
meio do qual autor codica as relações entre os conceitos que pretende tra-
tar no texto (percurso onomasiológico, do enunciador) e estabelece comu-
nicação com o leitor, cuja tarefa é decodicá-las (percurso semasiológico,
do interpretante).
Não se pode ler prossionalmente e de modo prociente, por-
tanto, sem o recurso de estratégias metacognitivas de leitura. A leitura é
um processo de interação entre texto, leitor e contexto e requer, para sua
plena efetivação, a presença de um leitor ativo, consciente da sua função na
construção de sentidos, na reconexão entre os conceitos.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
166
3 Os pAdrões de heArst
Marti A. Hearst, professora e pesquisadora na School of
Information, University of California, Berkeley e que tem dentre seus te-
mas de pesquisa interesses na linguística computacional, propõe em alguns
textos (HEARST, 1992; 1998) métodos para a identicação automática e
a utilização de padrões léxico-sintáticos como recursos para a expressão de
relações léxico-semânticas.
As pesquisas de Hearst tomam como base grandes corpora de
textos que estão disponíveis na internet para extração das informações lexi-
cais, sintáticas e semânticas. O método de “extração de padrões léxico-sin-
táticos” (Lexico-Syntactic Pattern Extraction - LSPE), conforme apresenta-
do em Hearst (1998, p. 1, tradução livre), “pretende ser útil como uma
ajuda automatizada ou semiautomatizada para lexicógrafos e construtores
de bases de conhecimento dependentes de domínio”.
Os padrões de Hearst, respeitando-se a terminologia que a pes-
quisadora prefere utilizar, possibilitam a identicação de relações conceitu-
ais de hiperonímia e de hiponímia que ocorrem por meio das posições que
tais conceitos assumem relativamente uns aos outros.
Uma análise etimológica breve dos termos deixa ver claramente
seus signicados. O prexo “hiper” diz respeito a algo que está em posição
superior (ou em excesso), como ocorre, por exemplo, em “hipertensão
(def.: “Med. Pressão excessiva exercida pelo sangue nas paredes dos vasos
sanguíneos”); o prexo “hipo”, por sua vez, relaciona-se a algo que está em
posição inferior (ou em escassez), como ocorre, por exemplo, em “hipo-
tensão” (def.: “Med. Pressão do sangue nas paredes dos vasos sanguíneos
inferior à normal; pressão baixa”).
Assim, hiperonímia é a palavra que transmite o sentido do todo e
hiponímia remete à ideia de parte, tipo ou item do todo. Um hiperônimo
é um termo que está superordenado em relação a um hipônimo; este, por
sua vez, está subordinado em relação ao hipônimo. Trata-se, como se vê,
de uma relação assimétrica. O termo “árvores frutíferas” é hiperônimo de
macieiras”, “abacateiros” e “mangueiras”. Tomando-se a relação em sen-
tido oposto, “macieiras”, “abacateiros” e “mangueiras” são hipônimos de
árvores frutíferas”. Trata-se também de um tipo de relação estrutural, ao
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
167
mesmo tempo em que “árvores frutíferas” é hiperônimo de “macieiras
pode ser também hipônimo de “árvores”.
Para que se possa compreender com mais clareza a natureza dos
padrões utilizados por Hearst, pode-se observar um dos exemplos que a
autora apresenta (HEARST, 1998, p. 3, tradução livre): “Agar é uma subs-
tância preparada a partir de uma mistura de algas vermelhas, tais como
Gelidium, para uso laboratorial ou industrial”.
A maioria dos leitores desta frase (considerando-se o domínio es-
pecíco em que se inserem este texto que ora se desenvolve e seus leitores
potenciais), desconhece o signicado do termo “gelidium”. O modo como
estão estruturadas as informações na frase, entretanto, permite inferir que
gelidium”’ é uma espécie de “algas vermelhas”. Neste caso, não ocorre
uma denição clássica, não se está deliberadamente denindo o termo. O
que possibilita a construção semântica é a presença de um padrão léxico-
-sintático, nomeadamente o padrão “tais como” que conecta os conceitos
algas vermelhas” e “gelidium”.
Observe-se outro exemplo com a aplicação do mesmo padrão:
A arquivística é tratada como a disciplina que agrupa todos os princípios,
normas e técnicas que regem as funções de gestão dos arquivos, tais como a
criação, a avaliação, a aquisição, a classicação, a descrição, a comunicação e
a conservação” (GARCIA; SCHUCH JÚNIOR, 2002, p. 46, grifos acres-
centados). Neste caso, a organização léxico-sintática das informações possi-
bilita a identicação de relações hierárquicas entre os conceitos envolvidos
que estão mediados pelo padrão “tais como”. Estas relações, utilizando-se o
modelo de visualização normalmente adotado nos tesauros, pode ser apre-
sentada da seguinte forma:
-----
funções de gestão de arquivos
TE criação
avaliação
aquisição
classicação
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
168
descrição
comunicação
conservação
-----
Os padrões de Hearst, acredita-se, possuem potencial de aplica-
ção na organização da leitura documentária. Tal potencial pode ser detec-
tado nas características que Hearst (1998, p. 4, tradução livre) aponta re-
lativamente ao conjunto de padrões léxico-sintáticos que indicam relações
hierárquicas:
a) eles ocorrem frequentemente em muitos gêneros textuais;
b) eles (quase) sempre indicam a relação de interesse;
c) eles podem ser reconhecidos com pouco ou nenhum
conhecimento pré-codicado”.
Os padrões identicados por Hearst (1998) em seu estudo relati-
vo à língua inglesa, são descritos no Quadro 1.
Quadro 1 – Os padrões de Hearst
Padrão Exemplo
NP
0
such as NP
1
{,NP
2
... , (and
| or) NP
i
}
Obs.: NP = noun phrase
sintagma nomimal
Agar is a substance prepared from a mixture of red algae, such as
Gelidium, for laboratory or industrial use.
-- agar
---- gelidum
such NP
0
as {NP
1
,}* {(and | or)}
NP
2
... works by such authors as Herrick, Goldsmith, and Shakespeare.
-- author
---- Herrick
---- Goldsmith
---- Shakespeare
NP
1
{, NP
1
}* {,} or other NP
0
Bruises, ..., broken bones or other injuries ...
-- injury
---- broken bones
---- bruises
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
169
NP
1
{, NP
2
}* {,} and other NP
0
... temples, treasuries, and other important civic buildings.
-- civic buildings
---- temples
---- treasuries
NP
0
{,} including { NP
1
,}* {or
| and} NP
2
All common-law countries, including Canada and England ...
-- comom-law countries
---- Canada
---- England
NP
0
{,} especially { NP
1
,}* {or
| and} NP
2
... most European countries, especially France, England, and
Spain.
-- european countries
---- France
---- England
---- Spain
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Hearst (1992; 1998)
Os padrões de Hearst foram identicados para aquisição automá-
tica de relações lexicais hiponímicas em língua inglesa. Considerando-se,
contudo, seu potencial de aplicação também em outros idiomas, alguns
estudos têm sido desenvolvidos para a identicação de padrões léxico-
-sintáticos que evidenciam relações léxico-semânticas também em língua
portuguesa.
Machado e Lima (2015) descrevem em sua pesquisa alguns
trabalhos correlatos, tanto com aplicação em língua estrangeira, princi-
palmente o inglês, quanto em língua portuguesa. Os autores fazem re-
ferências enfáticas aos trabalhos de Hearst (1992, 1998) e apontam de
modo mais genérico os autores que utilizaram os padrões de Hearst como
base para aplicações em línguas estrangeiras, entre eles estão Maedche e
Staab (2002), Cederberg e Widdows (2003) e Degeratu e Hatzivassiloglou
(2004). Machado e Lima (2015) também indicam trabalhos em que apa-
recem traduções dos padrões de Hearst visando a sua aplicação em língua
portuguesa, tais como Freitas (2007), Freitas e Quental (2007), Baségio
(2007), Taba (2013), Taba e Caseli (2014) e Machado (2015).
Não foram identicados trabalhos relativos aos padrões de Hearst
com aplicações no domínio da ciência da informação. Os trabalhos citados
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
170
anteriormente que discutem a aplicação dos padrões de Hearst em língua
portuguesa são academicamente relacionados às áreas da linguística ou da
ciência da computação. A pesquisa de Freitas (2007), e.g., está vinculada
ao Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro; Freitas e Quental (2007) publicaram seu trabalho no Workshop de
Tecnologias da Informação e da Linguagem Humana; Taba e Caseli (2014)
publicaram sua pesquisa no International Conference on Language Resources
and Evaluatione o trabalho de Machado e Lima (2015) foi publicado na
Revista Estudos da Linguagem. Os trabalhos mais próximos da ciência da
computação são: Taba (2013), que desenvolveu sua pesquisa no Programa
de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal
de São Carlos, Baségio (2007) e Machado (2015), cujas pesquisas vin-
culam-se ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação da
Pontifícia Universidade Católica - RS.
Freitas (2007) optou por utilizar três padrões de Hearst e identi-
cou adicionalmente três outros padrões com observações do corpus utili-
zado em sua pesquisa, como pode ser observado na Quadro 2.
Baségio (2007) trabalhou com os padrões de Hearst (1992) e fez
uma adaptação na expressão “sintagma nominal” (noun phrase – NP) para
substantivo (SU). Isto foi necessário, justica o autor, porque a composi-
ção do corpus não permitia dispor da informação que era necessária, des-
te modo simplicou-se o sintagma nominal. O autor supracitado utiliza
outros padrões além dos que foram propostos por Hearst (1992) e outros
autores citados, porém não compõem o interesse deste estudo por se refe-
rirem de modo especíco à língua francesa.
Taba (2013) trabalhou com dois dos padrões de Hearst, a partir
das adequações realizadas por Freitas (2007) e Freitas e Quental (2007),
como pode ser observado no Quadro 2. Taba (2013) utilizou de modo
manual em seu estudo dois padrões criados por Freitas (2007) e Freitas e
Quental (2007) e identicou, para os ns de sua análise e de seu corpus,
a necessidade de criar mais três padrões. Estes padrões estão relacionados
com a extração de hiponímia, considerada pelos autores como resultante
da relação semântica “is-a”.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
171
Machado (2015) refere-se aos padrões como “regras”, e, como
pode ser observado no Quadro 2, fez uso de cinco padrões de Hearst, ob-
servando as adaptações de Freitas (2007), Baségio (2007) e Taba (2013). A
partir destes estudos Machado (2015) desenvolveu quatro “regras”.
Quadro 2 – Os padrões de Hearst e suas adaptações
Padrão Hearst
(1992, 1998)
Freitas (2007)
Freitas e
Quental (2007)
Baségio (2007)
Taba (2013)
Taba e Caseli
(2014)
Machado
(2015)
Machado e
Lima (2015)
NP
0
such as
NP
1
{,NP
2
... ,
(and | or) NP
i
}
SN HHiper
(tais como |
como_PDEN)
SN1 { , SN2 …
, } (e | ou) SNi
SN Hiper, (tais
como | como_
PDEN) SN1 {
, SN2 ... ,}(e |
ou) SNi
SUB como
{(SUB,)*(ou|e)}
SUB
SUB tal(is)
como
{(SUB,)*(ou|e)}
SUB
SN_Hiper (tais
como | como)
SN {, SN}
*(e|ou) SN
SN( ,)? como
(SN , )*(SN
(e|ou) )*SN
such NP
0
as
{NP
1
,}* {(and |
or)} NP
2
não utilizado
tal(is)
SUB como
{(SUB,)*(ou|e)}
SUB
não utilizado
SN( ,)? ta(is|l)
como (SN ,
)*(SN (e|ou)
)*SN
NP
1
{, NP
1
}*
{,} or other NP
0
SN HHipo {
,SN Hipoi } * {
, } e|ou outros
SN Hiper
SUB {, SUB}*
{,} ou outro(s)
SUB
SN {, SN}* , ?
(e|ou) outros
SN_Hiper
SN (ou|e|,)
)*<outr(a|o)(s)?
sn>
NP
1
{, NP
2
}*
{,} and other
NP
0
SUB {, SUB}*
{,} e outro(s)
SUB
NP
0
{,}
including { NP
1
,}* {or | and}
NP
2
não utilizado
SUB {,}
incluindo
{SUB,}*{ou|e}
SUB
não utilizado
SN( ,)?
incluindo (SN
, )*(SN (e|ou)
)*SN
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
172
NP
0
{,}
especially { NP
1
,}* {or | and}
NP
2
não utilizado
SUB {,}
especialmente
{SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,}
principalmente
{SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,}
particularmente
{SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,} em
especial {
SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,} em
particular {
SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,} de
maneira especial
{ SUB,}*{ou|e}
SUB
SUB {,}
sobretudo {
SUB,}*{ou|e}
SUB
não utilizado
SN( ,)?
especialmente
(SN , )*(SN
(e|ou) )*SN
-
tipos de SN
Hiper: SN1{
, SN2... ,} (e |
ou) SNi
-
tipos de SN_
Hiper: SN {,
SN}* (e|ou) SN
<... tipo(s)?
de sn> : (SN
, )*(SN (e|ou)
)*SN
-
SN HHiper
chamado/s/a/as(
de ) SN Hipo
-
SN_Hiper
chamad(o|a|os|as)
de? SN
SN( ,| é| são|
foram)? chamad
(o|a|os|as)( de)?
(SN , )* (SN
(e|ou) )*SN
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
173
-
*SN Hiper
conhecido/s/a/as
como SN Hipo.
- -
SN(( ,)?
também)?
(,|é|são|foram)?
conhecid
(o|a|os|as) como
(SN , )*SN
(e|ou) )*SN”
- - -
SN {,SN} * ,?
(e|ou) (qualquer|
quaisquer)
outro{s}? SN_
Hiper
(SN (ou|e|,) )*
< (qualquer|
quaisquer)
outr(a|o)(s)? sn>
- - -
SN é
(o|a|um|uma)
SN_Hiper
SN é < (o|a) sn>
SN é <
(um|uma) sn>
- - -
SN são SN_
Hiper
SN são SN
Fonte: Elaborado pelos autores
Cabe salientar que as pesquisas desenvolvidas levaram em con-
sideração, como era de se esperar, os trabalhos previamente publicados.
Desse modo, Machado (2015) utilizou o artigo da Taba e Caseli (2014) e
Taba (2013) utilizou o artigo de Freitas e Quental (2007). Tendo-se isto
em mente, neste estudo que se apresenta foram observados mais proxima-
mente os trabalhos dos autores tomados como “seminais”: Freitas (2007),
Baségio (2007), Taba (2013) e Machado (2015). Foram estes trabalhos
que serviram de base para o desenvolvimento da fase experimental desta
pesquisa e que subsidiaram as adaptações necessárias à análise.
A literatura atesta a potencialidade dos padrões de Hearst para
a identicação de relações hierárquicas no texto. Esta literatura forma,
contudo, um grande mosaico a respeito das questões particulares a cada
contexto de análise. Os trabalhos realizados por Freitas (2007), Baségio
(2007), Taba (2013) e Machado (2015), foram desenvolvidos a partir de
corpus já analisados e etiquetados sintaticamente. Baségio (2007), Taba
(2013) e Machado (2015) desenvolveram em suas pesquisas um protótipo
de software. Em Taba (2013) este software é denominado “Anotador de
Relações Semânticas (ARS)”.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
174
Para ns de vericação de aplicabilidade dos padrões de Hearst
no contexto da leitura documentária, observando-se de modo especíco a
identicação de termos e suas relações hierárquicas de modo semiautomá-
tico, foi realizado um experimento cujos procedimentos estão descritos na
seção subsequente.
4 prOcedimentOs metOdOlógicOs
O experimento realizado neste estudo foi desenvolvido a partir
de um corpus selecionado da Revista Latino-Americana de Enfermagem
(RLAE) da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São
Paulo. Utilizou-se o seu volume mais recente (v. 25), contendo 26 artigos
e um editorial. A escolha do referido periódico deu-se de modo aleatório,
mas considerou-se sua qualicação no estrato “Qualis/Capes A1” da área
de saúde, mais especicamente em enfermagem. Conforme informações
disponíveis na página da RLAE, trata-se de um periódico bimestral que
circula desde janeiro de 1993.
Para a realização da análise, foram executados os procedimentos
de download dos textos em formato PDF e em língua portuguesa (a revista
disponibiliza também versões em língua espanhola e inglesa dos artigos). A
ferramenta escolhida para análise do corpus foi o softwareWordSmith Tools
versão 4.0, com a licença free. Executou-se o procedimento de conversão
para arquivos no formato TXT, legível pelo WordSmith, e realizou-se o
tratamento manual dos textos para evitar a separação de parágrafos, já que
acontece, muitas vezes, que na conversão de arquivos alguns parágrafos
quem separados por quebras de páginas, guras, tabelas, entre outros.
O WordSmith Tools é um conjunto integrado de funções para
análise do comportamento das palavras nos textos; as principais funções
são: WordList, Concord e KeyWords. O WordList possibilita visualizar uma
lista de palavras ou um agrupamento. A função Concord, permite a iza-
ção de termos em textos e apresenta o contexto que aquele termo apa-
rece, ou seja,possibilita listar as ocorrências e consultá-las na íntegra. O
KeyWordspossibilita a ização de um conjunto de palavras-chave nos textos.
Além destas funções principais é possível obter outras informações estatís-
ticas dos textos, como padrões, frequências, entre outras.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
175
O WordSmith Tools foi desenvolvido por Mike Scott na Oxford
University Press para o desenvolvimento de seu próprio trabalho lexicográ-
co e atende a diversos idiomas, inclusive o português.
Nesta pesquisa, trabalhou-se com duas modalidades de análise:
a) semiautomática, a partir do uso da ferramenta WordSmith e b) manual.
Na análise semiautomática foi utilizado o corpus em sua totalidade. Esta
opção foi possível por conta do retorno rápido e preciso que a ferramenta
tecnológica proporciona. Já na análise manual, foram utilizados os três
primeiros artigos da revista.
A opção pela aplicação dos padrões de Hearst (1992, 1998) nes-
te estudo foi fundamentada, como já se disse anteriormente, nos resulta-
dos dos trabalhos desenvolvidos por Freitas (2007), Baségio (2007), Taba
(2013) e Machado (2015). Assim, foram utilizados os padrões descritos
no Quadro 3, já com as devidas adaptações para efeitos de simplicação
quanto ao seu entendimento e aplicação, mas mantendo-se, de qualquer
modo, sua relação com os padrões de Hearst (1992, 1998). Como ocorre
em quase toda simplicação, há, neste caso, alguma redução em relação ao
algoritmo apresentado nos padrões originais.
Quadro 3 – Os padrões léxico-sintáticos aplicados na pesquisa
PADRÕES DE HEARST (1992, 1998) PADRÕES APLICADOS
NP
0
such as NP
1
{,NP
2
... , (and | or) NP
i
} (1) SN (tais como | como) SN { , SN … , } (e | ou) SN
such NP
0
as {NP
1
,}* {(and | or)} NP
2
(2) tal(is) SN como {(SN,)*(ou|e)} SN
NP
1
{, NP
1
}* {,} or other NP
0
(3) SN {, SN}* {,} ou outro(s) SN
NP
1
{, NP
2
}* {,} and other NP
0
(4) SN {, SN}* {,} e outro(s) SN
NP
0
{,} including { NP
1
,}* {or | and} NP
2
(5) SN {,} incluindo {SN,}*{ou|e} SN
NP
0
{,} especially { NP
1
,}* {or | and} NP
2
(6a) SN {,} especialmente {SN,}*{ou|e} SN
(6b) SN {,} principalmente {SN,}*{ou|e} SN
(6c) SN {,} particularmente {SN,}*{ou|e} SN
(6d) SN {,} em especial { SN,}*{ou|e} SN
(6e) SN {,} em particular { SN,}*{ou|e} SN
(6f) SN {,} de maneira especial { SN,}*{ou|e} SN
(6g) SN {,} sobretudo { SN,}*{ou|e} SN
Fonte: Elaborado pelos autores
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
176
Em relação aos procedimentos de aplicação, o algoritmo de
Hearst (1992), é orientado pelos seguintes passos: 1) escolher a relação
semântica; 2) obter uma lista de termos para validar as relações; 3) izar no
corpus onde essas relações ocorrem sintaticamente próximas e registrar as
ocorrências; 4) izar similaridades entre esses registros e a possível indicação
da relação de interesse; 5) identicando-se positivamente um novo padrão,
utilizá-lo para coletar mais instâncias da relação alvo e retornar à etapa 2.
Em relação ao passo 1, foram denidas as relações semânticas
de hiperonímia e de hiponímia. Para a consecução do passo 2, utilizou-
-se a ferramenta parserWordSmith, anteriormente descrita, para izar no
próprio corpus as relações que foram tomadas como relações positivas.
Considerando-se que a lista de relações e seus termos foram extraídos do
próprio corpus por meio da ização do termo-chave de cada padrão, os pas-
sos 3 e 4 foram executados juntamente com o passo 2.
Foram esgotadas as buscas por meio do termo-chave de cada um
dos padrões e as ocorrências foram analisadas de maneira manual, homo-
logando-se as hierarquias encontradas. A partir das identicações das rela-
ções, foram realizadas as análises visando ao atendimento do passo 5, isto
é, avaliar positivamente as relações hierárquicas.
5 identificAçãO de estruturAs hierárquicAs cOm recursO dOs pAdrões
de heArst
Os resultados estão estruturados tomando-se os padrões como
categorias de análise. Apresentam-se, para cada padrão, excertos do cor-
puscom a nalidade de ilustrar a sua aplicação. Apresentam-se adicional-
mente, para os casos possíveis, a estrutura hierárquica conforme poderia
ocorrer sua conguração em um tesauro.
Os exemplos apresentados variam em conformidade com o inte-
resse da exposição dos resultados. Assim, tanto são apontados e discutidos
casos em que os padrões permitiram a identicação de relações hierárqui-
cas como casos em que isso não foi possível.
Na categorização das relações extraídas, vericou-se também al-
gumas situações de atendimento parcial dos padrões, ou seja, casos em que
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
177
as ocorrências apresentavam algum conectivo não previsto entremeando os
sintagmas nominais e os padrões.
Houve também casos em que não foi possível identicar a quali-
dade e a identidade lógica da relação hierárquica pela ausência de sentido
geral no contexto do corpus analisado. Estes casos demandavam pesquisas
como forma de homologar a relação hierárquica que não estão entre os
objetivos deste trabalho.
Os resultados estatísticos gerais relativos às aplicações dos
padrões de Hearst e seus índices de ocorrência no corpus podem ser
vericados na Tabela 1, apresentada após as subseções que apresentam e
discutem os padrões.
5.1 pAdrãOtAis cOmO” / “cOmO
O padrão originalmente proposto por Hearst, adaptado e utili-
zado por Freitas (2007), Baségio (2007), Taba (2013) e Machado (2015),
foi utilizado neste estudo. Este padrão é representado da seguinte forma:
• SN (tais como | como) SN { , SN … , } (e | ou) SN.
Aplicou-se parte do padrão “tais como” para recuperar os regis-
tros de ocorrência por meio da ferramenta WordSmith, obtendo-se como
resultado 23 ocorrências no corpus. Posteriormente aplicou-se a consulta
utilizando-se “como”. Considerando-se que a relação lógica entre os com-
ponentes “tais como” e “como” neste padrão se dão pela presença de um
ou” exclusivo e observando-se que os resultados alcançados com o uso
do “como” foram praticamente todos contemplados com o uso de “tais
como”, procedeu-se a exclusão dos registros recuperados em duplicidade,
resultando, no total, 494 ocorrências.
Apresentam-se, na sequência, exemplos de aplicação do padrão
tais como | como”, os quais podem ser visualizados por meio dos ex-
certos 1 e 2 e de suas estruturas hierárquicas correspondentes. Estes dois
exemplos, são considerados como positivos pelo sucesso na sua aplicação,
isto é, pela extração de relação hierárquica pode meio da identicação dos
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
178
padrões léxico-sintáticos. O hiperônimo está izado no primeiro sintagma
nominal antes da identicação do padrão (destacado em negrito) e os hi-
pônimos logo depois.
Excerto 1 - “Mas alguns trabalhos rotineiros têm duplicações
com os cuidados hospitalares, tais como infusões intravenosas, injeções e
curativos”.
-----
cuidados hospitalares
curativos
infusões intravenosas
injeções
-----
Excerto 2 - “[...] Na atenção primária e em centros de atendimen-
to ambulatorial, a atenção com a NP para pacientes com doenças crônicas,
como doenças cardíacas, hipertensão e diabetes, resultou em melhores in-
dicadores de controle das doenças [...]”.
-----
doenças crônicas
diabetes
doenças cardíacas
hipertensão
-----
O excerto 3 é uma amostra de caso em que o padrão não se aplica
por não se vericar a ocorrência de sintagmas nominais, mas sim a presen-
ça de sintagma verbal antes do “como” previsto no padrão. Na verdade, a
ocorrência “como”, neste caso, tem aplicação completamente diversa do
que prevê o padrão “como”.
Excerto 3 - “[...] Seria mais apropriado empregar como denomi-
nador uma estimativa da exposição à gravidez de meninas de 10 a 14 anos
de idade, no entanto estes dados não estavam disponíveis. [...]”.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
179
Vale observar que, em relação ao padrão “tais como”, não foi veri-
cada nenhuma ocorrência que impossibilitasse um enquadramento posi-
tivo, ainda que os aspectos semânticos das relações hierárquicas não sejam
facilmente visíveis de modo automático. O excerto 4 ilustra este caso.
Excerto 4 - “[...] Na Parceria de Apoio, os prossionais de saúde
apoiam os membros da comunidade conforme necessário de acordo com
suas situações, tais como doenças ou condições de envelhecimento”.
-----
situações de apoio da Parceria de Apoio
condições de envelhecimento
doenças
-----
5.2 pAdrãOtAl(is)”
O padrão de Hearst denominado “tal(is)” não foi utilizado por
Freitas (2007) e Taba (2013), mas aparece em Baségio (2007) e Machado
(2015). Este padrão está representado como segue:
• tal(is) SN como {(SN,)*(ou|e)} SN.
O padrão “tal(is)” foi izado em apenas duas ocorrências. Em am-
bas não foi possível a extração positiva das relações hierárquicas, por suas
inadequações em relação ao padrão. No excerto 5 é possível observar a
satisfação parcial do que contempla o padrão.
Excerto 5 - “[...] Em tal contexto, o enfermeiro, como prossio-
nal de saúde, tem papel fundamental na elaboração e prática de interven-
ções que modiquem essa realidade”.
No excerto 6 há uma distância considerável entre “tal” e “como”,
o que inviabiliza o estabelecimento seguro de aplicação do padrão.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
180
Excerto 6 - “[...] Tal categoria apreendeu conteúdo para cinco
subcategorias que, no referido programa de computador, são traduzidas
como codes”.
5.3 pAdrãOOu OutrO(s)”
Este padrão foi utilizado por Freitas (2007), que incorporou a
este padrão o padrão “e outro(s)” (objeto da próxima subseção, de número
5.4). Do mesmo modo zeram Taba (2013) e Machado (2015). Baségio
(2007) tratou separadamente os dois padrões, do mesmo modo como
ocorreu em relação a este trabalho de pesquisa. Este padrão apresenta-se
do seguinte modo:
• SN {, SN}* {,} ou outro(s) SN.
Para o padrão “ou outro(s)”, foram obtidas cinco ocorrências no
texto, destas somente uma não compreende de modo positivo o padrão,
demonstrada no excerto 7. Este exemplo reforça o argumento de que não
se pretende, a partir do que é traçado nesta pesquisa, eleger abordagens
completamente automáticas de leitura.
Excerto 7 - “[...] ou seleção aleatória, para os grupos, todas as partici-
pantes tiveram uma chance igual de serem incluídos em um ou outro grupo”.
As demais ocorrências todas atendem ao padrão. No excerto
8, que ilustra um caso positivo, é possível observar que o hiperônimo
está logo após o “ou outro(s)” e o hipônimo antes. Este exemplo ilustra
também que não se pode dispensar, em qualquer caso, o recurso aos ins-
trumentos de controle de vocabulário, como os tesauros. Neste caso, o
próprio texto faz menção à substituição da expressão “líquidos corporais
por “uidos corporais”.
Excerto 8 - “[...] Eu limpo imediatamente com desinfetante (álcool)
superfícies após derramamento de sangue ou outros líquidos corporais.
-----
uidos corporais
sangue
-----
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
181
5.4 pAdrãOe OutrO(s)”
Este padrão é representado como segue:
• SN {, SN}* {,} e outro(s) SN.
No total, foram izadas no corpus, 22 ocorrências relativas a este
padrão. Destas, duas não atenderam, três atenderam parcialmente e 17
atenderam de modo positivo a aplicação do padrão em destaque.
Apresenta-se no excerto 9 um dos casos em que a aplicação do
padrão ocorreu de modo positivo.
Excerto 9 - “[...] É impossível planejar a APS sem ter claros os
papéis para os médicos, enfermeiras, parteiras e outros prossionais de saúde.
-----
prossionais da saúde
enfermeiros
médicos
parteiros
-----
Pode-se observar que hiperônimo ca izado após a ocorrência do
padrão “e outro(s)” e os hipônimos antes dele, de modo semelhante ao que
ocorreu com o padrão “ou outro(s)”.
O excerto 10 demonstra o não atendimento ao padrão. A expres-
são “e outro”, neste caso, é recurso estilístico para diferenciar os dois tipos
de agentes envolvidos no que se relata, sem que apresentem relações de
hierarquia entre si.
Excerto 10 - “[...] Além delas, foram escolhidos dois prossionais
– um que realizou as intervenções comportamentais e outro que realizou
as intervenções educativas por telefone”.
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182
5.5 pAdrãOincluindO
Este padrão não foi utilizado por Freitas (2007) e Taba (2013).
Baségio (2007) e Machado (2015), entretanto, aplicaram-no em suas
pesquisas. Eis sua representação:
• SN {,} incluindo {SN,}*{ou|e} SN.
Foram identicadas 57 ocorrências deste padrão no corpus. Em
trinta delas, houve total compatibilidade com o que se esperava da apli-
cação do padrão, isto é, permitiram a identicação de hiperônimos e hi-
pônimos. Em dezenove ocorrências houve resposta parcial e em oito casos
a expressão identicada guardava apenas relação de similaridade com o
padrão, ou seja, não havia relações hierárquicas entre os termos que a ex-
pressão tomada como padrão mediava.
No excerto 11 é possível observar a relação hierárquica identi-
cada com a aplicação do padrão “incluindo”. Identicam-se o hiperônimo
como seu antecessor e os hipônimos como sucessores.
Excerto 11 - “[...] Resultados: participaram do estudo 573 pro-
ssionais, incluindo técnicos e auxiliares de enfermagem 292 (51%), en-
fermeiros 105 (18,3%), médicos 59 (10,3%), e outros prossionais 117
(20,4%)”.
-----
prossionais
auxiliares de enfermagem
enfermeiros
médicos
técnicos de enfermagem
-----
Cabe mais uma vez a advertência: os casos são apresentados como
exemplos e procurou-se manter o máximo possível de delidade em re-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
183
lação ao contexto de ocorrência para que fosse possível compreender a
aplicação dos padrões de Hearst. O termo “prossionais” no excerto 11,
por exemplo, mantido na estrutura hierárquica apresentada, é vago. Além
do próprio contexto de ocorrência do padrão (uma revista de enferma-
gem) informar, há menção explícita no texto aos “prossionais da saúde”.
Independentemente disto, contudo, a utilização de um tesauro como re-
curso para a tradução no processo de indexação resolveria, pela sugestão de
termos mais precisos, a questão.
O exemplo apresentado no excerto 12 é um dos casos em que a
relação hierárquica não pôde ser identicada plenamente e de modo for-
mal pela aplicação automática do padrão “incluindo”. Um leitor pros-
sional, ou mesmo um outro tipo de leitor prociente, percebe facilmente
que as expressões que aparecem depois da palavra “incluindo” (“utiliza-
ção de EPI”, “uso de sistemas de exaustão ” e “ventilação ecaz nas salas
operatórias”) são relativas às “medidas preventivas nos CC para a mini-
mização dos riscos químicos devido à exposição à inalação da fumaça
cirúrgica”, funcionando com seus hipônimos. Ocorre que a expressão é
muito longa para funcionar de modo adequado como descritor e nem
mesmo a utilização pura e simples de um vocabulário controlado pode
resolver prontamente a questão.
Excerto 12 - “[...] Portanto, tem-se como prioridade a adoção
de medidas preventivas nos CC para a minimização dos riscos químicos
devido à exposição à inalação da fumaça cirúrgica, incluindo a utilização
de EPI e o uso de sistemas de exaustão e de ventilação ecaz nas salas
operatórias”.
O que se busca identicar nesta pesquisa, rememora-se, é a iden-
ticação de relações semânticas hierárquicas de modo semiautomático
com o recurso de padrões léxico-sintáticos. Neste caso especíco em análi-
se, a resposta não é completamente satisfatória, justamente porque a tarefa
maior de identicação dos sentidos atribuídos aos termos ca por conta
do leitor, o que torna a utilização do padrão com recurso de leitura no
mínimo discutível.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
184
5.6 pAdrãOespeciAlmentee semelhAntes
Este padrão foi utilizado por Baségio (2007) e Machado
(2015). Freitas (2007) e Taba (2013) não o aplicaram em suas pesqui-
sas. Machado (2015) fez uso apenas do padrão “especialmente”, Baségio
(2007) ramicou este padrão para “principalmente”, “particularmente”,
em especial”, “em particular”, “de maneira especial” e “sobretudo”. Para
os efeitos desta investigação, optou-se pela aplicação e análise de todos
estes padrões.
Como resultado geral da análise, vericou-se que os padrões “es-
pecialmente”, “principalmente”, “particularmente”, “em especial”, “em
particular”, “de maneira especial” e “sobretudo” são menos precisos, de
modo geral, que os demais. No interior deste grupo, apenas o padrão “es-
pecialmente” destaca-se dos demais.
O índice de ocorrências positivas para este grupo de padrões foi
de 29 acertos. Destes, o padrão “especialmente” responde por vinte acertos
(em 39 ocorrências) e o padrão “principalmente” por quatro acertos (em
22 ocorrências). Considerando-se isto, optou-se por descrever apenas os
resultados destes últimos padrões.
O padrão “especialmente” (e suas variações), pode ser representa-
do do seguinte modo:
• SN {,} especialmente {SN,}*{ou|e} SN.
Como resultado da aplicação do padrão “especialmente”, foram
identicadas 39 ocorrências, sendo que vinte satisfazem totalmente ao que
se espera do padrão, onze atendem parcialmente e oito não atendem, isto
é, não possibilitam a extração de relações hierárquicas.
No excerto 13 é possível observar o hiperônimo, que antecede ao
padrão “especialmente”, e seus respectivos hipônimos.
Excerto 13 - “[...] São necessários mais serviços de promoção da
saúde, prevenção e gestão para reduzir a carga de doença e a mortalidade
associada a doenças crônicas, especialmente a saúde mental, câncer, doen-
ças cardiovasculares e diabetes”.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
185
-----
doenças crônicas
câncer
diabetes
doenças cardiovasculares
saúde mental
-----
Neste caso, embora a aplicação e o resultado obtido com o padrão
estejam qualicados como positivos, percebe-se claramente um erro lógico
causado pela ambiguidade da redação do texto original: “saúde mental”
não é, evidentemente, hipônimo de “doenças crônicas”, talvez a ausência
desta o seja. Conforme já dito anteriormente, procurou-se ater de modo
especíco ao corpus justamente para que se pudesse observar o compor-
tamento na aplicação dos padrões de Hearst. Além disso, é importante
lembrar que a qualidade da relação lógica não pode ser depreendida de
um ou outro excerto, de um ou outro corpus, mas sim de uma vericação
sistemática deles.
O excerto 14, reproduzido na sequência, ilustra um caso em que
não há resposta satisfatória com a aplicação do padrão. A presença de sin-
tagmas verbais antecedendo o padrão “especialmente” diculta, neste caso,
a extração conável das relações hierárquicas.
Excerto 14 - “[...] Para suprimir as restrições nanceiras de cui-
dados com a saúde, é importante melhorar o estilo de vida para prevenir
as DNT e promover saúde, reforçando especialmente o conhecimento e
alfabetização em saúde para todas as idades.
Em relação ao padrão “principalmente”, uma derivação ou varia-
ção do padrão “especialmente”, foram identicadas 22 ocorrências no cor-
pus: quatro positivas, dez parciais e oito em que a identicação do padrão
não apresentou resposta satisfatória.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
186
No excerto 15 reproduz-se um caso positivo em que se verica
uma relação meronímica.
Excerto 15 - “[...] Desse modo, torna-se necessário o desenvol-
vimento de pesquisas para que se possam obter melhores conhecimentos
sobre o ambiente de trabalho, principalmente nos serviços de emergência
e como o mesmo interfere na prática prossional.
-----
ambientes de trabalho
serviços de emergência
-----
Na Tabela 1, que apresenta os resultados estatísticos gerais
relativos às aplicações dos padrões de Hearst e seus índices de ocorrência
no corpus, foramconsideradas ocorrências todas as instâncias das expressões
indicativas do padrão.
Tabela 1–Distribuição geral dos padrões no corpus
PADRÃO OCORRÊNCIAS RELAÇÕES % ACERTOS %
1
SN (tais como | como
) SN { , SN … , } (e |
ou) SN
518 228 44,02 130 25,1
2
tal(is) SN como
{(SN,)*(ou|e)} SN
2 1 50 - -
3
SN {, SN}* {,} ou
outro(s) SN
5 4 80 4 80
4
SN {, SN}* {,} e
outro(s) SN
22 20 90,91 17 77,27
5
SN {,} incluindo
{SN,}*{ou|e} SN
57 49 85,96 30 52,63
6a
SN {,} especialmente
{SN,}*{ou|e} SN
39 31 79,49 20 51,28
6b
SN {,} principalmente
{SN,}*{ou|e} SN
22 14 63,64 4 18,18
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
187
6c
SN {,} particularmente
{SN,}*{ou|e} SN
2 2 100 1 50
6d
SN {,} em especial {
SN,}*{ou|e} SN
1 1 100 1 100
6e
SN {,} em particular {
SN,}*{ou|e} SN
6 2 33,33 - -
6f
SN {,} de maneira
especial { SN,}*{ou|e}
SN
0 - - - -
6g
SN {,} sobretudo {
SN,}*{ou|e} SN
10 7 70 3 30
TOTAL 684 359 52,49 210 30,7
Fonte: Elaborada pelos autores
A coluna “relações” refere-se às quantidades de relações positivas ex-
traídas, incluindo-se as que atenderam parcialmente ao padrão. Considerou-se
acertos” todas as relações positivas, isto é, casos em que foi possível identicar
relações semânticas a partir da identicação de relações lexicais.
cOnsiderAções finAis
Pode-se considerar que há dois macro-processos orientados ao
tratamento da informação encontrada em conjuntos textuais: a extração e
a abstração. O primeiro relaciona-se aos padrões léxico-sintáticos, refere-se
ao que está presente no texto, o segundo diz respeito ao que não está for-
malizado no texto. Os computadores, sabe-se, são mais ecientes na pri-
meira tarefa, isto é, produzem resultados mais conáveis quando aplicados
em atividades de extração do que em atividades de abstração.
A atividade de leitura documentária para ns de indexação é,
pelo conjunto de variáveis que envolve (já apresentadas anteriormente),
extremamente complexa. Trata-se de uma atividade que demanda algum
nível de extração, mas cuja natureza congura-se como essencialmente
abstrata. Indexa-se não o que está no texto, ou pelo menos não neces-
sariamente o que está no texto, mas sim o que não está nele. O que se
quer identicar e representar com processo de leitura documentária são
os conceitos; o acesso aos conceitos (o que está ausente), entretanto, é de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
188
natureza representacional, intermediado pelos termos (o que está presen-
te) nos textos cientícos.
Os aspectos teóricos e os resultados apontados neste trabalho
apontam para dois aspectos distintos e inter-relacionados referentes à leitu-
ra documentária: os quase insondáveis e complexos aspectos sociocogniti-
vos que a envolvem, e formam o seu núcleo, e alguns aspectos formais que,
a partir do conhecimento da estrutura textual do documento que se analisa
e do recurso a algumas ferramentas adequadas, podem ser identicados a
partir de determinados padrões léxico-sintáticos que correspondem a de-
terminados “padrões” léxico-semânticos.
É preciso rearmar que, conforme aponta este estudo e também
os que foram apontados ao longo do trabalho, não existem, a rigor, pa-
drões universais (nem se pretendia encontrá-los, aliás). Para cada cultura,
para cada domínio, para cada corpus estabelece-se um padrão próprio
que pode, como é próprio dos artefatos culturais, alterar-se. A noção de
padrão, portanto, deve ser formada a partir de análises periódicas siste-
máticas, originadas de corpus representativos dos domínios que se pre-
tende representar.
Dada esta complexidade, nem sempre os padrões funcionam, ou
melhor, nem sempre as expressões tomadas como padrão são empregadas
da mesma forma. A língua, mesmo nas terminologias, não é apenas códi-
go. Por este motivo, não se insinua, em nenhum momento, o recurso aos
padrões léxico-sintáticos como substituto ao leitor prossional, o que seria,
nestas condições, ingenuidade, para dizer o mínimo. Compreendeu-se apli-
cação de tais recursos como relativos a uma forma de abordagem semiau-
tomática, que visa a instrumentalizar o processo de leitura documentária.
Os usos dos padrões léxico-sintáticos indicados no estudo não
estão livres das ambiguidades e das alterações de sentido que podem sofrer
em função dos recursos estilísticos de quem os emprega. O padrão “tais
como”, por exemplo, foi identicado nos resultados como um dos que
mais positivamente responderam à identicação de relações hierárquicas
às quais entremeava. A expressão “tais como”, entretanto pode ser perfei-
tamente empregada para indicar relações de outra natureza, como – para
empregar um último exemplo – a que se pode observar na citação extraída
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
189
de Assumpção (2011, p. 95, grifos acrescentados): “Na literatura é possível
encontrar algumas variaçõesterminológicas para denominar um arquivo
de autoridade, tais como ‘catálogo de autoridades’, ‘lista de cabeçalhos au-
torizados’, ‘lista de autoridades’, ‘catálogo de identidade’, ‘catálogo de for-
mas autorizadas’, entre outros”. O leitor prossional, atento e com algum
conhecimento acerca do domínio, percebe que não são de natureza hie-
rárquica as relações entre os termos envolvidos. Essas relações referem-se
a relações de equivalência: “catálogos de autoridade”, “lista de cabeçalhos
autorizados” etc. não são tipos-de ou parte-de “arquivos de autoridade”,
são antes variações terminológicas (ou sinonímicas), como está, aliás, ex-
plicitamente indicado no texto.
Acredita-se, por m, que o acréscimo contínuo de textos em for-
mato eletrônico e o incremento do volume de hipertextos não apenas reque-
rem como possibilitam, em função de seus formatos, estruturas e suportes,
o tratamento semiautomático da identicação de informações textualmente
e contextualmente importantes. Às habilidades tradicionalmente requeridas
ao bibliotecário relativas às operações da análise documentária devem ser
acrescentados conhecimentos oriundos das ciências cognitivas, da linguística
textual e da análise do discurso, entre outras.
Este estudo limitou-se à análise da aplicação dos padrões de
Hearst a um corpus relativamente pequeno, visando testar a viabilidade
de aplicação dos padrões léxico-sintáticos para identicação de relações
léxico-semânticas. O volume do corpus não lhe dá caráter de representati-
vidade em relação á área da enfermagem.
Conclui-se que a aplicação de dos padrões léxico-sintáticos sele-
cionados para o estudo é potencialmente útil como recurso semiautomáti-
co para a realização da leitura documentária. Em estudos futuros, preten-
de-se ampliar o corpusincluindo outros domínios e o conjunto de padrões
para que possam incluir, além das relações de hiperonímia e hiponímia,
outras relações lexicais, como a meronímia e a holonímia, as relações de
equivalência e as sempre mais complexas relações associativas.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
190
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194
195
infOrmAción visuAlizAdA: leyendO gráficOs,
tAblAs e infOgrAfíAs
María del Carmen Agustín Lacruz
Juan-Francisco Torregrosa Carmona
1. el nuevO entOrnO de lA infOrmAción: mass media y cOmunicAción
científicA.
Los seres humanos hemos sido forjados por la evolución para ser
una
especie visual. Una parte de nuestro cerebro está dedicada a procesar
información que captamos a través de los ojos. No tiene sentido que no
aprovechemos esa capacidad para comunicarnos con más ecacia, rigor
y originalidad. Esto puede parecer obvio, pero no lo es. La imagen tiene
mucha importancia en la comunicación, porque entendemos mejor lo que
vemos que lo que nos cuentan. Durante siglos, la imagen como forma
de comunicación y conocimiento fue relegada a un espacio secundario,
menos noble, que el texto. Y sin embargo, parece muy lógica la frase que
se atribuye a Goethe: “El órgano con el que he comprendido el mundo ha
sido el ojo”.
A modo de ejemplo de esa infravaloración de la ilustración
frente al texto, también en el ámbito de la prensa hasta fechas recientes,
baste recordar que no fue hasta el 27 de diciembre de 1983 cuando el
prestigioso periódico francés Le Monde rompió su tradición de no publicar
https://doi.org/10.36311/20217.978-85-7983-917-7.p195-216
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
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reproducciones en color como ilustración de su primera página. Un consejo
de redacción decidiría entonces acabar con esa costumbre publicando el
cuadro Mujer ante el sol,en el que un gran astro rojo gura como detalle
rotundo de la obra del artista catalán Joan Miró (1893-1983)
1
. Fue un
homenaje al artista, uno de los grandes representantes del surrealismo
pictórico, que había fallecido el día 25 de ese mes de diciembre.
Este ejemplo demuestra que, incluso cuando era posible
técnicamente aprovechar el potencial cromático de la imagen, existían
recelos al considerar que una ilustración en color no tenía cabida en una
publicación diaria de prensa de calidad por su supuesto nivel inferior
de seriedad respecto al blanco y negro de siempre. No es menos cierto
tampoco que, hoy como ayer, cualquier reproducción en colores encarece
de forma notable el producto editorial en el que se incluya.
Fig 1. Mujer ante el sol. Joan Miró.
Treinta y cinco años después, la situación es radicalmente distinta.
Hoy es la imagen, fotográca o de otra naturaleza, la que gana terreno
al texto, tanto en la comunicación periodística convencional (impresa)
como sobre todo en las nuevas publicaciones digitales que dominan el
1
El País, edición impresa del 29 de diciembre de 1983. Disponible en http://elpais.com/diario/1983/12/29/
cultura/441500402_850215.html [Consultado el 18 de abril de 2017].
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
197
panorama informativo de Internet en todo el mundo industrializado, con
una presencia creciente del vídeo y de la imagen en movimiento como
elemento primordial.
En ese mismo contexto, nos enfrentamos en estos momentos al
enorme desafío que supone la sobreabundancia y la complejidad de los
datos y de la información. Ante esta situación, los seres humanos hemos
ideado numerosas técnicas y herramientas para representar de forma
gráca, bella y comprensible la información (ALCALDE, 2015, p.10-13).
De hecho, muchas veces ni siquiera leemos la información que
recuperamos en Internet y ojeamos a través de la pantalla. Saltamos de un
sitio a otro leyendo solo lo que nuestro cerebro, a través de nuestros ojos,
considera interesante. Esta nueva forma de consumir información nos
obliga a sintetizar, esquematizar y a disponer la información de la forma
más atractiva posible y así provocar una mejor comprensión, asimilación y
retención en la memoria.
Por ello, el aporte documental de grácos e infografías puede
ser muy valioso valioso cuando aparece sintetizado y presentado de la
forma adecuada y ecaz a la que están acostumbrados los lectores en el
ámbito de la red, especialmente para los denominados nativos digitales,
pues las generaciones más jóvenes prácticamente no se plantean acceder a
los soportes tradicionales, a los que no consideran vehículos idóneos para
recuperar información.
Es una realidad que los diarios convencionales pierden lectores,
mientras que los ganan estas mismas cabeceras de prensa y otras nuevas
en el vigente y muy reñido –desde el punto de vista de la atención, la
inuencia social y la rentabilidad económica– ecosistema digital.
El llamado periodismo de datos, dentro de la investigación
informativa, es un ámbito de particular interés para la visualización y la
comunicación gráca.
En el caso de la comunicación cientíca, Cairo (2008) encuentra
en el pensamiento y la polifacética obra artística de Leonardo da Vinci su
idea central sobre la ilustración al servicio de la ciencia y por extensión
–entendemos– de la cultura y la investigación: “las imágenes que los
cientícos crean, usan y manipulan no son meros aderezos, simples apoyos
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
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visuales de argumentos tejidos con palabras; en ciencia, las imágenes son
pensamiento” (la cursiva es del autor).
2. ArquitecturA, diseñO y visuAlizAción de lA infOrmAción: cOnceptOs
básicOs y cArActerísticAs.
La representación gráca se considera un potente mecanismo
de transmisión de información y se ha convertido en una forma habitual
de comunicar contenidos, tanto de carácter cientíco como divulgativo,
en prensa especializada, Internet y medios audiovisuales. La creación y
difusión de grácos e infografías se ha extendido y democratizado gracias al
acceso a potentes equipos informáticos y a la red, lo que a su vez, también
favorece un crecimiento inusual de nuevos datos.
Las disciplinas que se ocupan del diseño de la información
consideran que los datos son la materia prima, pero carecen de valor
informativo por sí mismos y, solo si están organizados, se convierten en
información que puede ser comprendida, memorizada y transformada en
conocimiento por el usuario (Vid. Fig. 2).
El diseño de la información comprende el conjunto de técnicas
y herramientas que preparan la información para que pueda ser usada
fácilmente por los lectores, a menudo fatigados y sobrecargados con la
abundancia de estímulos informativos
abundancia de estímulos informativos.
Fig. 2. La cadena de los datos, la información y el conocimiento
Fuente: elaboración propia
Dentro de esta disciplina, bebiendo también de las técnicas de la
comunicación gráca, se enmarca la visualización de la información, que
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
199
de forma especíca se ocupa de la presentación diagramática de los datos
y de su transformación visual para facilitar la comprensión de los mismos.
Comprende dos áreas interrelacionadas: el modelado estructural y su
representación gráca y dene tanto los procesos de análisis y preparación
de los datos como la representación mediante el constructo gráco. El
diseñador de visualizaciones identica, selecciona relaciones y patrones en
los conjuntos de datos y posteriormente los representa grácamente sobre
un soporte (CAIRO, 2008, p. 27-28).
Se puede denir la visualización de la información como una
disciplina transversal que “utiliza el inmenso poder de comunicación
de las imágenes para explicar de manera comprensible las relaciones de
signicado, causa y dependencia que se pueden encontrar entre las grandes
masas abstractas de información que generan los procesos cientícos
y sociales” (MEDIALAB PRADO, 2016), puesto que “se encarga de
la representación visual de contenidos proposicionales mediante el
uso de diagramas, grácas y esquemas para facilitar la aprehensión, la
interpretación, la transformación y la comunicación de esos contenidos
a través de esas representaciones visuales” (PÉREZMONTORO, 2009).
El diseño y la visualización de la información son conceptos
estrechamente ligados al más genérico de arquitectura de la información,
utilizado por primera vez por Richard Saul Wurman en 1975, para
designar el estudio de la organización de los datos con el objetivo de
permitir al usuario encontrar su vía de navegación hacia el conocimiento y
la comprensión de la información.
Wurman, arquitecto de profesión, estaba interesado en la clase
de interacción que se producía entre las personas y su ámbito urbano y en
el tipo de medios que podían ayudar a transmitir la información de estos
entornos a los profesionales de la arquitectura, ingenieros, turistas y a los
ciudadanos en general. La suya era una concepción más próxima al mundo
del diseño gráco y a la visualización de información. Pero, unos años
más tarde, en1998, Louis Rosenfeld y Peter Morville adoptaron el término
extrapolándolo al ámbito del diseño de sitios web y sistematizaron por
primera vez los principios de la emergente disciplina.
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
200
La arquitectura de la información es un proceso interactivo y
transversal, que no busca denir una metodología de diseño universal sino
articular un conjunto de técnicas para ayudar al desarrollo y producción de
espacios de información como los sitios web.
Los tres conceptos –arquitectura, diseño y visualización de la
información– son partes especícas, intrínsecamente relacionadas con el
marco global que proporciona la denominada experiencia de usuario, en la
que intervienen tanto la arquitectura de la información como el diseño de
interacción, la usabilidad, la accesibilidad, el diseño gráco, la estética y la
psicología cognitiva, entre otras disciplinas (Vid. Fig. 3).
Fig. 3. Interrelaciones entre la arquitectura, el diseño y la visualización de la información
Fuente: elaboración propia
El conjunto de factores que determinan la interacción satisfactoria
del usuario con un entorno o dispositivo concreto, siendo capaces de generar
en él un conjunto de percepciones y emociones positivas sobre el medio y
su uso, conforman lo que se conoce justamente con esa denominación ya
mencionada: experiencia de usuario. Esta disciplina, como la arquitectura
y la visualización de la información se articula en torno a los conceptos
clave de diseño de la información, percepción e interactividad. La madurez
de dicha disciplina hace que hoy sea una tautología decir lo que había que
armar y justicar hace años: que el diseño (también) comunica.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
201
3. unAs breves pincelAdAs históricAs sObre lA cOmunicAción gráficA
A lo largo del tiempo el ser humano ha sido capaz de plasmar de
diversas formas grácas determinada información cientíca, cultural o de
cualquier otra naturaleza. Es el caso de disciplinas como la cartografía –con
su “naturaleza abstracta, simbólica y relacional” CAIRO, 2008, p. 39)–, la
estadística o la ilustración cientíca propiamente dicha, mediante mapas,
tablas y grácos y dibujos cientícos, respectivamente.
Se considera que los mapas, que muestran esquemáticamente
relaciones entre elementos geográcos, son las representaciones visuales no
gurativas más antiguas. Se conservan ejemplos pertenecientes al antiguo
Egipto y China.
Podemos citar, por poner un ejemplo ya del siglo XX, el famoso
plano del Metro de Londres, obra del ingeniero Henry Beck, considerado
uno de los mejores diseñadores de información del mundo contemporáneo.
Su creación se publicó en 1933, estaba inspirada en los diagramas de la
red eléctrica y su éxito consistió en obviar las distancias reales entre las
estaciones, utilizar pocos símbolos y colores distintos para cada línea. En
un principio, la empresa del metropolitano fue escéptica frente a la radical
propuesta de Beck, pero tuvo una rápida aceptación por el público, que
lo encontró útil y simple. Su propuesta triunfó y determinó la forma de
diseñar los planos de todos los suburbanos del mundo.
Fig. 4. Metro de Londres, diseñado por Henry Beck (1933).
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
202
También las primeras infografías en la prensa abrirían un camino
evolutivo que alcanza hoy cotas de indudable calidad e incluso brillantez
técnica y estética. El caso de los periódicos lo trataremos más ampliamente
en el siguiente apartado. Digamos tan sólo que capítulo aparte habría que
dedicar a la sección de grácos del e New York Times, fundado en 1851
y que todavía hoy está considerado la biblia del periodismo, el diario más
prestigioso del mundo.
Todos los casos expuestos son muestras históricas de la
visualización de información creadas a lo largo del recorrido de los siglos.
Han sido estudiadas con amplitud y precisión por Alberto Cairo (2008
y 2011), especialista de referencia que proporciona en su trabajos un
excelente acercamiento a cada uno de estos tipos de ilustración.
4. gráficOs pArA lA cOmunicAción científicA: cArActerísticAs, tipOs y
usO pArA lA cOmunicAción y lA divulgAción de lA cienciA
Los grácos son representaciones visuales que enriquecen la
información proporcionada por cualquier tipo de estudio o investigación,
al aportar diversas fuentes semióticas –verbales, icónicas, numéricas– que
contribuyen a comunicar el signicado de los textos cientícos de forma
más condensada y ecaz. Se caracterizan por atraer y captar la atención del
lector presentando los datos y la información de forma clara y precisa.
Los grácos se pueden clasicar en grácos de tipo estadístico y
grácos de tipo no estadístico.
Los grácos de tipo estadístico son las más utilizadas por la
comunidad cientíca para comunicar y difundir los resultados de las
investigaciones realizadas. Dentro de ellos, existen distintos tipos, según
se busque comparar, detectar mayorías o minorías, determinar tendencias,
incidencias, evoluciones, etc.
Los grácos estadísticos más usuales son: el diagrama de barras;el
gráco o diagrama de sectores; el histograma y el polígono de frecuencias.
A) El diagrama de barras se utiliza para presentar datos cualitativos o
datos cuantitativos de tipo discreto, comparando dos o más valores.
Los datos se representan mediante barras de una altura proporcional
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
203
a la frecuencia, sobre unos ejes de coordenadas o ejes cartesianos. Las
barras pueden tener una orientación vertical u horizontal.
Fig. 5. Diagrama de barras.
B) El gráco o diagrama de sectores es una representación circular de
las frecuencias relativas de una variable cualitativa o discreta que
permite, de una manera sencilla y rápida, su comparación. El círculo
representa la totalidad que se quiere observar y cada porción, llamada
sector, representa la proporción de cada categoría de la variable
respecto el total. Suele expresarse en porcentajes. Son útiles cuando
las categorías son pocas. Si el gráco tuviera muchas variables, no
aportaría casi información y sería prácticamente incomprensible.
Fig. 6. Diagrama de sectores.
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204
C) El histograma se usa para representar las frecuencias de una variable
cuantitativa continua.En uno de los ejes se posicionan las clases de la
variable continua y en el otro eje las frecuencias. No existe separación
entre las barras.
Fig. 7. Tipos de histogramas.
D) El polígono de frecuencias es un tipo de gráco que se crea a partir
de un histograma de frecuencia. El polígono surge de unir los puntos
medios de las bases superiores de las barras de un diagrama de barras,
e incluso también de un histograma.
Fig. 8. Polígono de frecuencias.
Entre los principales grácos de tipo no estadístico destacan los
pictogramas y los cartogramas
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
205
A) Los pictogramas son grácos en los que se usan signos que representan
de forma gurativa, más o menos realista, elocuente y esquemática,
objetos o ideas. Se encuentran en los orígenes de la mayoría de los
sistemas de escritura.
Fig. 9. Ejemplo de pictograma.
B) Los cartogramas son esquemas estadísticos y cartográcos de una
supercie, que muestran el tamaño de esa supercie en función
del determinado valor estadístico que ella represente, siendo ese
valor más importante de cuanticar que el valor de la supercie. Su
objetivo es ilustrar de forma impactante una distribución temática
sobre un territorio considerando que la supercie de las unidades
territoriales adquiere un tamaño proporcional al valor de la variable
representada.
Fig. 10. Ejemplo de cartograma.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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206
Los modelos de grácos presentados integran fuentes semánticas
variadas – verbales, icónicas y numéricas– caracterizadas por una alta
condensación temática. Requieren por tanto, una lectura multimodal que
interrelacione los signicados lingüísticos, visuales y matemáticos para
construir la coherencia global de los textos (GUZMÁN SIMÓN, 2016,
p. 26-27).
5. infOgrAfíAs pArA lA infOrmAción de ActuAlidAd: cArActerísticAs,
tipOs y usOs infOrmAtivOs y periOdísticOs.
La infografía es “una representación diagramática de datos”. En
tanto que un diagrama es “una representación abstracta de una realidad”.
Se trata de un acrónimo derivado del término anglosajón infographics y éste
de la expresión information graphics. Las infografías se popularizan como
consecuencia de la informatización de las redacciones periodísticas, a nes
de los años ochenta y principios de los noventa (CAIRO, 2008, p. 21).
Ha sido denida por algunos autores, en los albores de su abordaje
académico dentro de esa etapa, como un nuevo género periodístico
(PABLOS, 1991, p. 153), una concepción reiterada después por otros
investigadores.
Más allá de esa catalogación teórica, en cierta medida discutible,
no es menos cierto que en realidad se trata de una forma de expresión
que adopta enfoques novedosos, y se muestra en auge progresivo por la
sosticación de la tecnología y el diseño gráco e interactivo, que suele
estar al servicio de los grandes géneros periodísticos clásicos.
De este modo, un reportaje en profundidad o un informe o dossier
especial (como el que mostraremos después sobre el tren AVE español)
ganarán mucho con la presencia de infografías. Estas raras veces se presentan
aisladas, sino como un elemento que forma parte de un conjunto que le da
solidez y lógica informativa, al ser complementarios texto e imagen. Eso no
signica que carezcan de la autonomía y el valor informativo y documental
intrínsecos a la infografía en sus diversas tipologías de plasmación, que
serán expuestas más adelante.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
207
De hecho, la hoy conocida como primera Guerra del Golfo
(1990-91) supuso un antes y un después en la cantidad y la calidad de
infografías publicadas por la prensa. Se elaboraron unas piezas cuya carga
semántica –desde el punto de vista del periodismo y la documentación,
pero también en su dimensión estética o artística– proporcionaba mucho
más que un brillante apoyo a las crónicas de guerra de los reporteros y
enviados especiales.
En el caso español, los periódicos ofrecieron un trabajo de gran
calidad, a la altura de la prensa europea de referencia, que también vivió
una eclosión en este terreno, en sintonía con los recursos desplegados para
contar al mundo la considerada como primera guerra televisada en directo,
en concreto por la indiscutible supremacía en aquella época de la cadena
norteamericana CNN.
Hoy se ha producido un salto cualitativo mediante la generalización
del color en los grasmos de la prensa, también de la impresa, frente al
blanco y negro de los primeros años noventa en esas infografías bélicas a
las que nos hemos referido.
Los estudios sobre mensajes visuales constatan la relevancia de
los grasmo tanto en los relatos publicitarios (MARTÍNEZ PASTOR,
MONTES VOZMEDIANO, 2015) como en los periodísticos
(MONTES VOZMEDIANO, 2015).
Es de nuevo Alberto Cairo (2008, p. 31) quien ha expuesto que
los malentendidos son habituales incluso en la propia denición de lo que
es infografía. Y repasa diversas formas de concebirla: Almeida la describe
como “info + grafía = texto + imagen”, sugiriendo inadvertidamente que la
imagen no informa, sino que es el texto el que aporta el necesario empaque
para que la infografía pueda ser considerada producto periodístico.Por su
parte, González Díez y Pérez Cuadrado (2001) la consideran como un tipo
especíco de ilustración y la denominan “ilustración informativa”.
Diferentes autores ofrecen formas muy disímiles de concebir la
visualización de la información: como uso más o menos intercambiable con
la fotografía (PABLOS, 1999) o como “simplemente un recurso gráco
al servicio del reportaje (YANES MESA, 2004). También es considerada
parte de una serie de “nuevos formatos grácos” que permiten apelar a un
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208
lector que cada vez con mayor frecuencia y asiduidad se encuentra frente a
una pantalla (LÓPEZ HIDALGO, 2002).
Como expone Rosana Larraz (2016), las infografías, “son más
sintéticas que los vídeos, más narrativas que un esquema, más atractivas que
las tablas de datos, más exploratorias que las presentaciones tradicionales
y, a diferencia de los textos escritos, permiten visualizar la información
que presentan. Las infografías transmiten hechos, procesos, noticias,
acontecimientos o datos de forma amena, sintética y visual, facilitando la
comprensión de información árida o compleja y estimulando el interés del
lector que, de un golpe de vista, puede seleccionar en ellas lo que le interesa,
lo que ya conoce y lo que no. En formatos estáticos o animados, impresos o
digitales integrando elementos multimedia y a menudo interactividad, las
infografías ofrecen muy variadas posibilidades de explotación didáctica”.
Continúa la autora: “pueden ser canteras de información y motores
para la expresión oral y escrita en el aprendizaje de lenguas, facilitadoras de
la comprensión de los contenidos curriculares, estímulos para el repaso o la
ampliación, recursos que motiven el conocimiento de la actualidad o bien
vehículos de expresión y creatividad utilizando las nuevas tecnologías para
su producción. La existencia en Internet de gran cantidad de información
narrada en este género añade a su utilización la oportunidad de contar
con contenidos siempre actualizados. Trabajar con infografías en el aula
supone, además, introducir en la enseñanza los nuevos modos de expresión
visual y multimedia
2
.
En el caso de la infografía digital, presente en el
ciberperiodismo, esta modalidad, “tiene capacidad de expresión
periodística y documental con importantes desarrollos visuales que le
son propios” (VALERO SANCHO, 2008):
1. En el contenido, presenta temas recurrentes y muy apropiados
como las guerras, actos de terrorismo, elecciones, grandes
catástrofes, documentales, acontecimientos deportivos y cualquier
tipo de informaciones relevantes que suelen desplegarse en toda su
extensión.
2
Rosana Larraz, “Infografías como recursos didácticos” (2016). Cuaderno intercultural, disponible en http://
www.cuadernointercultural.com/infograas-recurso-didactico/) [consulta 25 abril 2017].
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
209
2. En la forma de presentación y estructura, por medio de sus recursos
de tipo digital e incluso multimediático.
3. Empleando herramientas características de los principales
programas de edición y diseño web.
Como ejemplo de ello, puede consultarse el dossier especial sobre
los 25 años del tren de Alta Velocidad (AVE) en España, publicado por la
edición digital del diario El País(Vid. Fig. 11, 12 y 13).
En él se incluyen números grácos e infografías, como la
imagen simétrica que permite deslizar el cursor de un lado a otro
para ver la fotografía en blanco y negro del primer tren que circuló
en 1992 entre Madrid y Sevilla o la mostrada en color de un convoy
actual. Ambas imágenes superpuestas permiten descubrir un tren más
moderno que el que aparece en la fotografía que muestra un vehículo
que a ojos de hoy parece obsoleto, por sus líneas menos dinámicas y su
diseño menos avanzado.
Sirve de ejemplo sobre cómo se utilizan estos recursos, muy
vistosos, particularmente en ocasiones que trascienden la información
diaria, las noticias cotidianas. Se debe al esfuerzo que supone la
elaboración de esos materiales, a cargo de profesionales especializados
y de alta cualicación, algo que no todos los medios de comunicación
pueden permitirse.
Suponen creaciones que actúan como elementos de
jerarquización de la información, para conceder relevancia a determinados
temas o acontecimientos. Esta función se ejercía, y se ejerce todavía, de
forma muy evidente en la prensa convencional –la de papel– mediante
el espacio dedicado (un faldón o cuarto inferior de página, media, una
completa, dos…) y el lugar ocupado (en la parte superior o no de la
página par o impar).
Sin embargo, en las publicaciones digitales, aunque lógicamente
las noticias y reportajes tienen igualmente una extensión determinada, y
aparecen en la parte superior, central o inferior del diario electrónico, el
propio ritmo y lógica de la navegación hacen menos visibles y marcados
esos elementos de la prensa tradicional, que en parte se compensan con la
presencia de imágenes y el despliegue de recursos interactivos visuales.
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Fig. 11. Fotografía en blanco y negro de 1992.
Fig. 12. Superposición de dos fotografías de épocas diferentes.
Fig. 13. Fotografía en color de 2017-2018.
Fuente: elpaís.com, 20 de abril de 2017:
http://economia.elpais.com/economia/2017/04/20/actualidad/1492675474_811055.html
[consulta 20 abril 2017].
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
211
De acuerdo con Valero Sancho, Catalá Domínguez y Marín
Ochoa (2014), ofrecemos a continuación una tipología de visualizaciones
o infografías. Tanto la clasicación como las deniciones son de los
autores citados. A su trabajo teórico y análisis aplicado remitimos para
ver sus ejemplos y sus explicaciones extensas y particulares, que incluyen
aclaraciones sobre el procedimiento profesional, como cuando resulta
necesaria la activación, algoritmos y datos introducidos en el documento
para un determinado cálculo.
Los distintos tipos de visualizaciones de la información son los
siguientes:
1. Visualización espacial: es la comparación de espacios, conuencias
de puntos, líneas o zonas coloreadas a partir de datos.
2. Visualización tabular: son estudios de propiedades registrales,
interrelaciones comparadas, relaciones entre registros o campos, etc.
3. Visualización posicional: la posición en el espacio y el tipo de
lenguaje empleado según la importancia que tengan puede denotar
signicación o relaciones de inuencia.
4. Visualización topográca: la representación por medio de territorios
(mapas, planos, recintos o microplanos) puede o no tener objetivos
ubicativos y también puede ser un soporte para la distribución
de datos o guras, con diversas propiedades multiescalares,
anamórcas, multicolores, interactivas, etc.
5. Visualización teledinámica: por la importancia que tienen,los
autores mencionados distinguen las presentaciones dinámicas
cambiantes, procesos de automatismos, entre otros.
6. Visualización de arrastre interactivo (Drag and drop): se puede
considerar la más interactiva en general. Se presenta con funciones
de arrastre o elección por parte del intérprete que activa, cálculos o
proposiciones en diagramas de resolución, calculadoras, etc.
7. Visualización de identicación aumentada: se trata de evoluciones
grácas de un proceso a partir de datos e imágenes fotográcas de
alta resolución de escenas captadas y datos asociados, que aparecen
al solicitarlas el intérprete.
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212
8. Miscelánea de varias visualizaciones: son multitud de posibles
representaciones conjuntas de grácos, simultáneas o sucesivas,
que se pueden presentar mezcladas plurimórcas y multipropuesta,
como complementos, etc.
6. cOnclusiOnes
Hoy es un lugar común aseverar que el diseño gráco también
comunica. Sin embargo, no hace tanto tiempo se infravaloraba en muchos
ámbitos, incluido el campo del periodismo y la comunicación profesional,
todo lo que tuviera que ver con la imagen y con sus posibilidades frente
al texto, ya fuese fotografía o cualquier otro elemento visual o gráco. Las
posibilidades que brinda el desarrollo tecnológico, junto con la progresiva
generalización y aceptación y uso social, han acabado con esa visión y esos
tratamientos injusticados.
Si la fotografía en el ámbito informativo-periodístico se ha
convertido –tanto en su propio presente como, especialmente, al pasar del
tiempo– en un auténtico documento social, reejo de épocas, situaciones,
personajes y ambientes (TORREGROSA CARMONA, 2010), esa
realidad se comparte hoy con la visualización de la información mediante
infografías que explican hechos del presente.
En este sentido, se cumple a la perfección en el universo
signicativo de la imagen, fotoperiodística o infográca, aquella verdad de
la documentación según la cual a medida que disminuye el valor inmediato
o incluso administrativo de un documento de cualquier clase, aumenta
su valor patrimonial o histórico, al dar testimonio de valores étnicos,
antropológicos, ideológicos, sociales, culturales, etc.
En los momentos actuales, tanto los grácos como las infografías
juegan claramente a favor de la ecacia comunicativa, la comprensión y la
contextualización de las informaciones proporcionadas.
Los periódicos lo están sabiendo aprovechar, en parte gracias a un
lector más acostumbrado a ello y mucho más exigente con la visualización
de la información, y en parte gracias a profesionales especializados y bien
formados.
Leitura documentária: estudos
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213
Unos especialistas que conocen y sacan partido a las nuevas
aplicaciones y posibilidades tecnológicas en este campo en expansión
que sigue explorando lenguajes y códigos icónicos. De alguna manera,
esa audiencia juega con la nueva forma de exposición y comunicación
de la información, recreándola y renovando el pacto entre creadores y
consumidores de la información.
Una nueva oferta y demanda en la visualización informativa
que constituye una realidad creciente en los medios de comunicación,
que cabe enmarcar dentro de la denominada experiencia del usuario. Y
que contribuye, en un proceso bidireccional de causa y consecuencia, al
llamado periodismo de datos gracias a los grácos interactivos, los diagramas
estadísticos y otros elementos visuales similares que apoyan los trabajos
más relevantes de investigación periodística.
Esa denominación de periodismo de datos, tan en boga ahora, es
comparable a la de periodismo de precisión, que estuvo en vigor decenios
atrás. En realidad, son parcelas parecidas, que otros autores engloban en las
actividades generales de la investigación.
Y es que tanto la información como la documentación disponen
con estas creaciones profesionales de un recurso valioso para suscitar
el interés del lector y promover la mejor comprensión tanto de las
investigaciones cientícas, como de las informaciones de actualidad.
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217
A semióticA dOcumentAl cOmO um espO
interdisciplinAr pArA O estudO dA leiturA em
indexAçãO
Carlos Cândido de Almeida
1 intrOduçãO
A questão que nos cabe discutir neste trabalho está intimamen-
te
ligada ao processo semiótico denominado de indexação de assunto.
Recorremos a denição de Lancaster (1993) para quem a indexação cor-
responde às atividades de representação do conteúdo de partes de um do-
cumento com o objetivo de produzir índices que levem ao assunto de uma
obra. Sabemos que esta linha se relaciona à catalogação de assunto e à
classicação. Para Lancaster, a etapa de indexação tem como processos a
análise conceitual e a tradução. Há um ligeiro contraste entre esta perspec-
tiva e o entendimento de indexação dos autores ligados à matriz francesa
da análise documental (GARDIN, 1966; CHAUMIER, 1971; CUNHA,
1989). Para estes últimos, a indexação é uma fase que tem como etapa
anterior à segmentação do conteúdo dos documentos (extração, análise,
fase analítica ou leitura). Nesta etapa anterior ao processamento dos docu-
mentos que se instaura o problema da leitura documental, isto é, a leitura
voltada aos interesses da representação e, consequentemente, da recupera-
ção da informação (FUJITA, 2004).
https://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p217-240
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Não estamos interessados em contrapor ou endossar argumentos
sobre a querela terminológica entre indexação de assunto e análise docu-
mental francesa, se é de fato que ela existe. A questão que nos interessa
responder é qual disciplina, campo, área, núcleo de pesquisa ou ciência po-
deria dar o suporte devido e abrigar as diversas contribuições para compre-
ender o processo de leitura documental. Em outras palavras, que nicho a
leitura documental pode supor como sua estrutura teórica. Primeiramente,
devemos pensar a leitura documental de uma maneira pouco usual que a
vê como um processo mais amplo, neste caso, o processo de leitura pros-
sional não se restringiria à decomposição de conceitos de livros e identica-
ção do assunto principal para a representação de textos escritos. Em outras
palavras, a leitura documental, como o próprio nome sugere, analisaria a
linguagem de toda sorte de documentos, de uma variedade de códigos. Em
segundo lugar, acreditamos que a base teórica que daria suporte à leitura
documental não poderia se restringir a uma Linguística que lhe é própria,
tal como concebida nos anos 1980 por García Gutiérrez.
Entendemos que a Linguística Documental, sob o ponto de vista
do impacto que teve em seu país de origem, foi um projeto de disciplina
associada à documentação, tal como esta se congurava na Espanha no iní-
cio dos anos 1980. Chamamos projeto em virtude da tentativa malograda
de impulsionar a criação de disciplinas de Linguística Documental nos
currículos dos cursos de Diplomatura e Licenciatura em Biblioteconomia
e Documentação. O que se impôs nestas tentativas foi a já conhecida dis-
ciplina Linguagens Documentais nos cursos para formação de documen-
talistas na Espanha.
O processo de leitura documental, como uma das fases do pro-
cesso geral de indexação, deve requerer um campo teórico especíco que
não restrinja o número de variáveis envolvidas. Para tanto, devemos cogitar
a possibilidade de realocar a leitura documental de campo disciplinar.
Desse modo, o objetivo aqui é explicar a importância episte-
mológica de uma Semiótica Documental que acrescentasse, em extensão,
elementos conceituais à leitura documental. Com esse objetivo em vis-
ta, devemos apresentar sumariamente a Linguística Documental e como
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
219
procura recobrir a área de interesse da Documentação
1
, para, daí então,
apresentar a ideia básica da Semiótica Documental, a qual pode abrigar
plenamente as variáveis do processo de leitura documental.
2 A linguísticA dOcumentAl: espAçO pArA refletir sObre A leiturA
dOcumentAl?
A Linguística Documental é um intento disciplinar fundamental
para compreender as linguagens documentais na Documentação espanhola.
Com alguma reserva utilizamos a palavra “disciplina” pois não nos parece
consensual a sua posição diante da Documentação, e principalmente da
Linguística. Contudo, na versão espanhola da Linguística Documental –
muito utilizada por autores brasileiros (LARA; TÁLAMO, 2006, 2007)
–, as questões ligadas à leitura e à indexação de assunto cam em segundo
plano ou são totalmente desconsideradas em comparação a atenção
colocada às linguagens documentais.
Uma das obras mais inuentes sobre o assunto foi publicada
por García Gutiérrez, em 1984. Na oportunidade propôs a Linguística
Documental como uma “interdisciplina de lenguajes documentales”, ou
melhor, “[…] una disciplina impregnada de outros campos cientícos,
como son basicamente la Lógica, la Estadística, y la Informática y más
concretamente, la Lexicología, la Archivística, la Biblioteconomía y la
Telemática, bajo los imperativos especícos de ámbito del saber que va a
ser controlado por un lenguaje documental.” (GARCÍA GUTIÉRREZ,
1984, p.138).
As bases teóricas gerais da Linguística documental, arroladas
por García Gutiérrez (1990) em outro trabalho, são provenientes da
Linguística Geral, da Semântica, da Linguística Textual, da Sociolinguística,
do Estruturalismo, do Gerativismo, da Teoria da Comunicação e da
Informação, da Teoria do Contexto, da Teoria da representação e da Teoria
da Tradução. Sem perder a sua individualidade e pretensa autonomia dian-
te destes campos, a Linguística Documental recorre a estas abordagens para
cobrir aspectos de interesse à Documentação. A Semiologia e a Semiótica
aparecem como disciplinas indiretamente relacionadas à Documentação,
1
Utilizamos neste trabalho o termo “Documentação” como equivalente à “Ciência da Informação”.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
220
ora como contexto geral à descrição da Linguística Saussureana (GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1990, p. 44), ora como teoria vinculada à Semântica,
Comunicação e Teoria da Representação. É sugestiva a seguinte citação: “Sin
embargo, el documentólogo no está especialmente interesado por las fun-
ciones simbólicas (terreno de lingüistas y semiólogos) o por las funciones
simbólicas (terreno de psicólogos).” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p. 46).
Esta disciplina vale-se da linguagem documental que, segundo o
autor, é seu principal objeto. Por linguagem documental entende um sis-
tema de signos naturais ou articiais para a identicação dos documentos,
empregados na análise e no recuperação dos documentos. Essa linguagem
funciona como meio de expressão criado para, de um lado, o controle, por
outro, para a comunicação, isto é, uma função intermediária.
O autor põe em evidência uma acepção de linguagem. Nesse sen-
tido, linguagem seria um sistema de signos inscrito em um documento.
“El sistema de signos escritos en el documento es lenguaje humano pero
el sistema de signos naturales o articiales utilizados para identicar ese
documento, entre un conjunto de ellos, es lenguaje documental, aunque
éste no pueda existir si el documento carece del contenido que le otorga la
acción intelectual humana.” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1984,p. 136).
A linguagem é um sistema de signos, fato que contrasta com a
denição estruturalista de linguagem que se aduze em Barthes e Saussure.
O dispositivo de execução da linguagem – fala ou outro mecanismo de
expressão - está ausente nesta denição de García Gutiérrez. Devemos su-
blinhar ainda que esta compreensão de linguagem que focaliza o sistema
e o código, tem sido amplamente aceita na literatura da Documentação,
dentro e fora da Espanha.
O conceito de Linguística empregado pelo autor é sintetizado
pela famigerada fórmula: ciência que estuda a linguagem humana. De um
ponto de vista aplicado, García Gutiérrez (1984, p.139) enumera os con-
ceitos derivados ou relativos ao cruzamento disciplinar com a Linguística,
a saber: descritor, ou unidade signicativa mínima da mensagem documen-
tal; frase documental, que entendemos por conjunto de descritores ligados
ou não por relações sintáticas articiais e resumo documental, um produto
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
221
resultante da aglutinação de mensagens de um documento que são expres-
sáveis em linguagem controlada.
Estas novas aplicações, concretamente novas acepções conceituais,
parecem ser resultado da comparação teórica entre as disciplinas em ques-
tão, utilizando como parâmetro os termos especializados da Linguística
para explicar fenômenos afeitos à Documentação. De uma maneira mais
especíca, esta explicação resolveria a lacuna da denição de linguagem
que se tem adotado, pois não é apenas um sistema de signos, mas um códi-
go que pode ser combinado e executado, mesmo que não seja por obra de
um falante em “documentês”.
A proposta de García Gutiérrez ampara-se em uma linha semi-
ótica distinta da proposta de Charles Peirce (1839-1914), ainda que se
distancie de uma supercial aproximação à Linguística, pois seu trabalho
é criterioso em termos de armação conceitual. Contudo, a leitura, a qual
poderia ser admitida como processo de decomposição da linguagem dos
documentos para a representação da informação no contexto documental,
ou seja, não é elencada como objeto principal de análise. Nesse sentido, a
tentativa de instauração da Linguística documental, que poderia signicar
a verdadeira conuência entre Linguística e Documentação nos diversos
temas de interface – entre os quais a leitura – negligenciou objetos canden-
tes das relações disciplinares entre os campos citados.
A despeito da escolha da Linguística Documental pela lingua-
gem documental, há importantes questões associadas ao processo de lei-
tura para a indexação, como foi o caso do debate sobre linguagem cientí-
ca e técnica que é entendido pelo autor (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1984,
p. 140) como um léxico especializado, empregado por uma comunidade
em uma disciplina ou setor cientíco. Como a ciência depende da co-
municação entre várias comunidades cientícas, o documentalista, assim
como linguistas e terminólogos, seriam os guardiães da língua (GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1984, p.141). Essa linguagem é um léxico, pois não é
diferente da língua dominante, uma vez que extrai dela a estrutura, a
despeito do uso de um distinto vocabulário (GARCÍA GUTIÉRREZ,
1984, p.140).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
222
O autor defende que as linguagens documentais não podem
ser apenas vocabulários técnicos, como assevera Trujillo (apud GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1984, p. 144).
Este razonamiento no es válido con el de los lenguajes documentales, en
los que, si bien a niveles simples, se dan relaciones semánticas entre los
conceptos e incluso sintácticos, por tanto hay que hablar de lenguajes
dinámicos frente al estatismo interno de un vocabulário. (GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1984, p.144)
O autor defende a tríade documentação-terminologia-norma-
lização. O que procura argumentar com a armação é que o documenta-
lista deve ter conhecimentos de terminologia e normalização (GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1984, p. 147). Assim, as teses gerais da Linguística do-
cumental a colocam em um espaço de encontro entre disciplinas, cujo
propósito nem sempre foi contemplado pelas tradicionais abordagens
da Documentação.
De acordo com García Gutiérrez (1990), o processo documental
excede a natureza lógica e mecanicista, pois possui elementos linguísti-
cos. Além disso, a Linguística documental não deve ser vista como uma
Linguística aplicada, mas como uma genuína teoria da documentação
cujo método está centrado na noção de estrutura e sistema relacional, para
compreender a estrutura da documentação, enquanto conjunto de dados
e informações sobre um tema. Essa natureza epistemológica da Linguística
documental que precisa ser aclarada, isto é, saber até que ponto se está
sendo processado um salto qualitativo na proposição de teorias ou simples-
mente se aplica termos e conceitos que apenas sosticam a argumentação
e a defesa da Documentação. No constante à estrutura da documentação,
é sugestiva a citação:
La estructura de la Documentación, como organización de contenidos
codicables y decodicables, es el objeto de la Lingüística documental
en un doble sentido: 1) La estructura de la producción de información,
la formación, organización y presentación de las ideas por parte del
productor, como corpus de observación y descripción; 2) La estructura
de la representación del discurso del productor, a la que se accede
mediante formulaciones metodológicas y modelos de sínteses y
traducción.” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p. 24).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
223
Em teoria, tanto a análise documental de conteúdo quanto a
linguagem documental deveriam ser assuntos pertinentes à Linguística
documental como disciplina nos currículos dos cursos de Documentação
na Espanha. Nesta segunda versão de Linguística Documental, podemos
identicar o interesse pelo processo de análise, o qual contem a leitura do-
cumental para etapa geral de decomposição de conceitos. No entanto, ex-
clusivamente no quesito oferta acadêmica e expansão desse entendimento
junto ao circuito universitário, a Linguística documental revelou-se como
um fato isolado na Espanha.
A questão decorrente é que a Linguística documental não forjou
uma proposta clara e interdisciplinar para o entendimento do processo
de leitura para indexação. Neste caso, supomos que se assemelha à noção
de leitura (análise) tal como enseja a proposta de análise documental de
Chaumier (1971) e Gardin (1974).
Outra diculdade não tão contemporânea assim, é a insistência
pelas propostas de análise de textos (códigos verbais) como os principais
representantes do pensamento cientíco e especializado. Esta preferência
pode ter feito ruir a base de uma acepção de leitura dedicada à compreen-
são dos mais distintos códigos não verbais, os quais constam em documen-
tos que devem ser processados e representados para a recuperação.
Em suma, a Linguística documental, tal como foi concebida em
sua origem não poderia abrigar uma proposta interdisciplinar do estudo
da leitura para indexação de textos verbais e não verbais. Entre os avanços
da Linguística Documental neste quesito, podemos citar a compreensão
da estrutura textual, uma de suas principais variáveis (FUJITA, 2004). A
seguir, apresentaremos a hipótese que temos desenvolvido (ALMEIDA,
2011; ALMEIDA; GARCÍA MARCO, 2015) de que a organização da
informação, em geral, tal como a leitura para indexação,em especíco, me-
receria um espaço interdisciplinar que focalize também outros códigos.
3 semióticA dOcumentAl: um cAmpO interdisciplinAr pArA O estudO dA
leiturA dOcumentAl
O argumento aqui defendido é bem simples e objetivo. Se a
Linguística Documental não pode avançar como espaço epistemológico
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
224
a abrigar as reexões sobre leitura documental, qual área comportaria tal
interesse no interior da Documentação. Podemos responder prematura-
mente que a análise documental, tal como importada da matriz francesa
da Documentação pelo Grupo Temma no Brasil, já se preocupava com o
assunto. Contudo, há um interrogante, a noção de leitura ensejada pode
não ser suciente para abarcar a diversidade de experiências de leitura pro-
ssional executadas fora do código verbal. Neste caso, tanto a Linguística
documental, como visto, quanto a análise documental, não seriam su-
cientes para dar suporte epistemológico à leitura documental como estu-
dada na atualidade (FUJITA, 2004; AGUSTÍN LACRUZ, 2006, 2015;
MANINI, 2001, 2004; PATO 2014). O objeto desta seção é perspectivar a
Semiótica Documental e relacionar sua concepção como necessária para a
ampliação do escopo de estudo da Documentação, de modo a incluir uma
concepção mais geral de leitura para ns de indexação.
No caso da Documentação na Espanha, a Semiótica nem sem-
pre teve um potencial de articulação conceitual, tampouco foi inuente
para constituir-se uma corrente teórica coerente. Os trabalhos no sentido
de uma Semiótica aplicada à Documentação ou Semiótica Documental
surgiram na década de 1980. Contudo, em que pese a inuência con-
ceitual de Peirce em muitos trabalhos (HJORLAND, 2003; RABER;
BUDD, 2003; ABREU; MONTEIRO, 2010; MOURA, 2006, 2007,
2011; MOURA; SILVA; AMORIM, 2002; LARA, 1993, 1999, 2003,
2006; FRIEDMAN; THELLEFSEN, 2011; THELLEFSEN, 2002,
2003, 2004; THELLEFSEN; THELLEFSEN, 2004; MAI, 1997a, 1997b,
2000, 2001), não foi oferecido uma proposta disciplinar que congregasse
Semiótica e Documentação, tal como a Semiótica Documental.
Consideramos como as ideias de maior destaque nessa dire-
ção foram as de Izquierdo Arroyo, que cunhou a expressão “Semiótica
Documental”, utilizada desde nal dos anos 1980. Em uma publicação
de 1992, Izquierdo Arroyo destacou as pesquisas que então desenvolvia
e cujo teor já indicava a preocupação com a estruturação da Semiótica
Documental. Izquierdo Arroyo (1992) procurou esquematizar uma agen-
da de pesquisas em quatro grandes eixos: a) para uma teoria da representa-
ção documental; b) ensaio histórico de Semiótica Documental; c) a ciência
da busca secundária; d) concepção lógico-linguística da Documentação.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
225
Os dois últimos eixos foram iniciados e contam com publicações na litera-
tura especializada. Mas são os dois primeiros que revelam a linha de análise
e os fundamentos da Semiótica Documental e com a Semiótica de Peirce
2
.
Izquierdo Arroyo (1992, p. 39) dividiu a sua proposta de estudo em: des-
crição indicativa, esquema-sumário e referências adotadas. Ele sumarizou
os tópicos centrais dos estudos, identicando capítulos e seções detalhada-
mente, possibilitando sublinhar até as matrizes teóricas escolhidas.
Com base na Semiótica de Peirce, no eixo que trata da represen-
tação documental, o autor pontuou como primeiro trabalho necessário
“Um marco semiótico para a teoria da representação”. Em outros termos,
apresentou uma exposição completa dos principais conceitos da Semiótica
peirceana, expondo a divisão da Semiótica em Gramática Especulativa,
Retórica Pura e Lógica Geral.(IZQUIERDO ARROYO, 1992, p. 39-40).
Isso revela uma preocupação em articular seriamente os conceitos semió-
ticos de Peirce com a Documentação, longe de propor uma suposta inter-
disciplinaridade, que apenas recebe e procurar aplicar o que seja possível.
A base da teoria da representação a ser estudada ancora-se na
Semiótica de Peirce. Contudo, no segundo trabalho em curso, “Análise de
conteúdo e representação documental”, não indica a possibilidades de sínte-
se com a Semiótica, preferindo pôr ênfase às contribuições do Gerativismo,
Semântica Estrutural, Análise do Discurso e Linguística Textual.
O segundo eixo de trabalho trata dos estudos históricos agru-
pados na expressão Semiótica Documental. Izquierdo Arroyo (1992, p.
44-51) relacionou como discussões da história da Semiótica Documental
a origem das seguintes problemáticas: a organização de textos, as opera-
ções de análise e síntese, a indexação, a descrição textual, a catalogação, a
construção de repositórios bibliográcos, a classicação cientíca, a orga-
nização alfabética, a produção de glossários, dicionários, enciclopédias e
tesauros, a hierarquização temática e o estabelecimento das relações asso-
ciativas. Em resumo, o ensaio histórico da Semiótica Documental trataria
de estabelecer um diálogo com os principais temas da análise documental
de conteúdo.
2
Recentemente, Lara (2014) examinou o teor desse artigo de Izquierdo Arroyo, de 1992, descreveu a sua
estrutura e avaliou a sua importância para a Documentação, ressaltando que os trabalhos de Izquierdo Arroyo
não foram muito divulgados, e por conseguinte, houve um prejuízo no conhecimento de sua obra.
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226
Contudo, a formalização da Semiótica Documental apareceu
pela primeira vez no projeto docente de Izquierdo Arroyo – documento a
ser apresentado em concurso público seguindo o disposto no Real Decreto
n. 1427 de 1986 - redigido para admissão como professor da Universidad
de Murcia. Em entrevista concedida em 2014, Izquierdo Arroyo esclareceu
que quando estava escrevendo os “Esquemas de Lingüística Documental”,
entre os anos de 1989 e 1990, deparou-se com o enfoque agregador da
Semiótica: “Pero el hilo conductor de mi propuesta era ya la Semiótica peir-
ceana. Para la elaboración del trabajo Sobre la transducción, había reunido
en Burgos bastante material de Semiótica y Semiología.” (IZQUIERDO
ALONSO; IZQUIERDO ARROYO, 2014, p. 111).
Conquanto, é possível inferir que seu contato com o pensamento
semiótico de Peirce mais dedicado foi no nal de 1970.
Instalado en la Filosofía del Lenguaje (de corte más bien analítico) y en
la Semiótica – acababa de leer a Peirce -, consideré que la aproximación
más adecuada sería la lógico-linguística (término este que ya empezaba
a aparecer en algunas publicaciones recientes de entonces). A ello
obedeció el titulo y orientación del libro Concepción lógico-linguística
de la Documentación. (IZQUIERDO ALONSO; IZQUIERDO
ARROYO, 2014, p. 111)
Em 1989, foi aprovado no concurso para professor em
Documentação na Universidade de Múrcia. O concurso foi convocado
através do ato administrativo da referida universidade, Resolução n. 1309,
de 10 de janeiro de 1989, para formar parte do grupo de professores titula-
res para a Diplomatura
em Biblioteconomia e Documentação. O concurso
foi para a área (matéria) Análise e Linguística Documentais, contando com
as disciplinas Análisis documental, Lingüística documental I (10 créditos) e
Lingüística documental II (5 créditos). Foi este o contexto da elaboração do
projeto docente, redigido em Málaga no ano de 1989 e que nasceu uma
clara denição da Semiótica Documental.
As disciplinas Lingüística documental I e Lingüística documental
II, segundo consta em seu livro “Esquemas de lingüística documental”
(IZQUIERDO ARROYO, 1990), juntam-se a outras disciplinas em
que se trabalhavam os temas semióticos, a saber: Seminario de Estudios I,
Seminario de Estudo II, Trabalho de Fin de Curso. Esse arranjo de disci-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
227
plinas congregou as reexões originais sobre Semiótica e Linguística no
campo da Documentação.
Por vezes, Izquierdo Arroyo oferecia também uma optativa cha-
mada “Aspectos lógico-lingüísticos de la Documentación”. Através des-
sas disciplinas foram expostos aos alunos as perspectivas da Semiótica
Documental como uma disciplina que viria a subsumir a Linguística
Documental. Nessa mesma universidade, Izquierdo Arroyo aposentou-se
em 2012, após mais de 30 anos de magistério.
As bases teóricas de Izquierdo Arroyo recobrem diversos campos
das humanidades, mas com uma base consistente em Filosoa e Letras.
Del lado de la Documentación, me movieron alguns ideas redundantes
en P. Otlet, J. Chaumier, M. Coyaud, Y. Courrier, M. Taube, J.C.
Gardin, S.R. Ranganathan, D.J. Foskett, B.C. Vickery, D. Austin,
De Grolier, Fugmann, I. Dahlberg y otros. Del lado de la formación
en Filosofía, creo que puedo señalar tres referentes destacados, si
bien menos conocidos en el ámbito documental: a) la “Grammatica
Speculativa, sive De modis signicandi”, atribuida al Pseudo-Scoto/
Tomás de Erfut – entre otros tratados de semiótica medieval -; b)
los escritos lógico-semióticos de Charles Sanders Peirce (el mejor
conocedor de esos tratados medievales dentro del área anglosajona);
y c) el pensamiento perspectivista de don José Ortega y Gasset.
(IZQUIERDO ALONSO; IZQUIERDO ARROYO, 2014, p. 112)
Não se deve desmerecer as contribuições teóricas a sua formação
intelectual dos pensadores Greimas, Todorov, Barthes, Kristeva, Derrida,
Louis Hjelmslev, Lyons, Bühler, Jakobson e formalistas russos. Segundo
Moreno Fernandez e Izquierdo Alonso (2014, p. 21), Izquierdo Arroyo
pode ser considerado um lósofo e investigador que aporta contribuições
no campo da Lógica formal, Filosoa da ciência e Filosoa da lingua-
gem. Ele desenvolveu trabalhos em diversas áreas, Moreno Fernandez e
Izquierdo Alonso (2014) abordaram o desenvolvimento do autor em três
grandes eixos de atividades: os estudos ligados à teoria da Documentação;
os estudos ligados à teoria da comunicação e Semiologia; os estudos rela-
cionados à Semiótica documental.
Tras su publicación em 1980 de su obra Sobre la transducción,
meditaciones semiológicas, y desde sus primeras reexiones a inicios
de los 90 relacionadas con el tratamiento documental de contenido y
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
228
el tratamiento temático de la información, formuló y conceptualizó,
en el marco de un a semiótica estructural-funcional, su propuesta
de semiótica documental y denió sus modelos formales para la
representación documental y el estudio de los lenguajes documentales.
(MORENO FERNANDEZ; IZQUIERDO ALONSO, 2014, p. 21,
grifo dos autores)
Na Universidade de Múrcia, Izquierdo Arroyo, além das disci-
plinas já mencionadas que funcionaram como laboratório para os expe-
rimentos e sistematização da Semiótica Documental, vale a pena registrar
o papel do grupo de pesquisa que leva este nome SemioDoc (Semiótica
Documental). Fundado em 1991 junto à Universidad de Murcia, o grupo
funcionou como “comunidad de práctica investigadora y docente[...]”,
que, segundo Moreno Fernandez e Izquierdo Alonso (2014, p. 30) abor-
dou os seguintes temas: semiótica documental descritiva, modelos de
tratamento documental do conteúdo, gestão de linguagens documentais,
taxonomia, teoria da classicação, pragmática documental da represen-
tação e reconhecimento, gramáticas gerativas aplicadas à estruturação
textual, sistema de processamento de discurso, modelos e técnicas de
resumo, tratamento semântico de documentos icônicos e digitais etc.
Somente por esta lista pode-se constatar a amplitude do espectro temáti-
co da Semiótica documental
3
.
De acordo com Moreno Fernandez e Izquierdo Alonso (2014,
p. 27) o livro de Izquierdo Arroyo, “Esquemas de lingüística documental”
é um material obrigatório na discussão teórica da análise documental de
conteúdo e da Semiótica Documental:
Constituye una monograa de referencia obligatoria en los estudios
sobre análisis documental de contenido y su herramienta especíca: los
lenguajes documentales. En ella se asientan las bases de la concepción
cientíca de la LD, como disciplina teórico-práctica que se plantea
el almacenamiento racional y ulterior recuperación del contenido
analítico de cualesquiera documentos (denición pragmática).
3
O grupo de pesquisa SEMIODOC continua ativo e contanto com a participação de professores, colaboradores
e bolsistas. Mas informações sobre temas de pesquisa atuais podem ser levantadas em: <https://curie.um.es/
curie/catalogo-cha.du?seof_codigo=1&perf_codigo=10&cods=E053*02>.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
229
A Semiótica Documental assenta-se marcadamente na concepção
semiótica de Peirce e na divisão das dimensões da semiose desenvolvida
por Morris. A estruturação da Semiótica Documental toma como pres-
suposto o problema lançado por García Gutiérrez, a saber: o problema da
Linguística Documental, o qual deveria ser enfrentado nos primeiros anos
da década de 1990 por todos os especialistas em Documentação que se
ocupam da análise e da sistematização do conteúdo.
Examinando com mais acuidade, Izquierdo Arroyo (1990) apon-
tou as características do objeto desta disciplina: “Ese objeto es algo de ca-
rácter semántico – el llamado “contenido”, no muy felízmente – o semióti-
co, y por tal, distinto del plano material o “físico” o meramente “expresivo
(plano hjelmsleviano de la expresión).” (IZQUIERDO ARROYO, 1990,
p. 42). Para o autor, a disciplina não se confunde com análise documental,
pois considera esta expressão apenas voltada à descrição bibliográca ou
física dos documentos.
No que respeita a base teórica, como foi explicitado anteriormen-
te, a Semiótica documental deriva da concepção semiótica, em primeiro
lugar, de Peirce, e em segundo, de Charles Morris.
Por tal entiendo algo más que un simples tratamiento “lingüístico”,
en el sentido próprio de este término en el uso y mención que de
él hace la Teoría General del Lenguaje. El adjetivo “semiótico” (que
provisionalmente puede leerse como “lógico-lingüístico”) lo utilizo en
la acepción promovida por Ch. S. PEIRCE; para quien la Semiótica
(Semeiotic) aúna ternariamente las perspectivas de Gramática (aspecto
lingüístico propiamente tal), la Lógica formal-material (aspecto lógico)
y la Retórica, peculiarmente entendida por nuestro autor (aspecto
comunicativo y pragmático). Con ello quiero también signicar
que – en consonancia con la teorización de Ch. MORRIS -, dicho
tratamiento semiótico se mueve en tres dimensiones que bien se
conocen: sintáctica, semántica y pragmática. Y subrayo la primera
por cuanto entiendo que en si falta de consideración decidida radican
los principales problemas de los lenguajes documentales más en uso.
(IZQUIERDO ARROYO, 1990, p. 43)
A observação de Izquierdo Arroyo explica tanto as bases quanto
o nível dos problemas em Documentação. Nesse caso, sobressai-se o gru-
po de problemas sintáticos. Diferente da Linguística documental que se
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230
alinha à Linguística, apesar da notória inuência linguística, a Semiótica
Documental recorre à Semiótica geral de Peirce para projetar seus ramos e
colocar-se os problemas de tratamento do conteúdo na Documentação sob
este quadro de análise. Desenvolvendo um pouco mais a reexão sobre a
disciplina e apropriando-se das dimensões da semiose de Morris, Izquierdo
Arroyo destacou alguns desenvolvimentos históricos da disciplina.
Izquierdo Arroyo (1990, p. 46) é tributário logicamente à García
Gutiérrez pois este lançou à Documentação a questão da Linguística
Documental, contudo propõe a abertura da acepção empregada à discipli-
na, resultado da reexão e questionamento do rótulo até então utilizado.
Depreendemos dos argumentos de Izquierdo Arroyo: 1) os documentos,
de longe, não se limitam mais ao escrito-textual, dada a abundância e a
variedade dos códigos e suportes documentais; 2) a questão semântica e
pragmática mobiliza outros conhecimentos que não os tradicionalmente
utilizados pela Documentação de recorte linguístico; 3) a existência de
uma multiplicidade de códigos e de processos de tradução inter e entre
códigos na Documentação. Portanto, já se está há algum tempo em um
campo semiótico por excelência. Nesse sentido, não seria mais que adequa-
do redenir a disciplina Linguística Documental, e projetar uma disciplina
mais robusta e coerente com as novas descobertas cientícas e desenvolvi-
mentos em Documentação.
Segundo Izquierdo Arroyo (1993, p. 200), a Semiótica
Documental é o marco acolhedor das denominadas Ciências do Texto
em sua aplicação ao tratamento documental. Por texto, Izquierdo Arroyo
(1993, p. 201) deniu a representação física do discurso, escrito ou oral,
e por Ciências do Texto compreende pelo menos a Linguística textual e as
Ciências Cognitivas. Nesse caso, a Semiótica Documental já nasce com o
reconhecimento das teorias cognitivas como linhas explicativa da leitura
documental e do texto.
A denição de Semiótica tem como intenção principal recons-
tituir o papel da tríade recordada pelo autor de expressão/conteúdo/refe-
rente. Como observado, a proposição da Semiótica Documental ressalta a
necessidade de uma leitura dos três planos, portanto, presumimos que se
conra à teoria triádica do signo uma importância capital.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
231
Além disso, assumindo a Semiótica peirceana como matriz,
tal como se depreende da análise dos conceitos de Peirce utilizados por
Izquierdo Arroyo (divisões da lógica, signo, segunda tricotomia, inter-
pretante, realidade, mundo e coisa), o autor (IZQUIERDO ARROYO,
1993) arma que a substituição se justica porque a Semiótica cobre todos
os tipos de signos, em que representam o discurso e podem ser símbolos,
ícones e índices.
Em resumo, o autor concluiu o argumento sustentando que a
Linguística não cobria a totalidade dos signos, essa tarefa é cumprida pela
Semiótica (IZQUIERDO ARROYO, 1993, p. 202). Tal argumentação é
coerente e se mostra ecaz dada a abrangência pretendida, por isso, adotou
Semiótica no lugar de Linguística.
A disciplina em questão, “Linguística documental estendida”,
ou “Semiótica documental” pertenceria à teoria geral da Documentação
(IZQUIERDO ARROYO, 1990, p. 49, p. 54). Talvez isso signicas-
se que a Semiótica Documental, longe de ser um espaço de aplicações
e experimentações semióticas, foi mais bem uma perspectiva particular
da Documentação frente aos problemas do tratamento documental de
conteúdo que atingem várias disciplinas e prossões. Assim, a Semiótica
Documental poderia ser considerada um ramo da Documentação que
ofereceria soluções aos problemas de tratamento de informação a outros
campos, ao mesmo tempo em que se concentraria nos problemas gerais de
processamento da linguagem na sociedade.
Contrastando a Semiótica Documental com a Linguística docu-
mental, notamos um descompasso dessa última com os problemas não lin-
guísticos que foram potencializados com o uso de documentos imagéticos,
audiovisuais e da hipermídia.
Essa aspecto também foi ressaltado por Moreno Fernandez e
Izquierdo Alonso (2014, p. 27). A denição de tratamento documental
entendido por Izquierdo Arroyo (1990, p. 55) compreende tanto os aspec-
tos físicos quanto os de conteúdo do documento, não obstante, apenas este
último seria objeto da Semiótica documental. É justamente dentro deste
recorte epistemológico que encontramos o salto qualitativo da Semiótica
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
232
documental, o de considerar os processos de semiose em Documentação
como o centro do debate.
Sin embargo - aunque académicamente he apostado ya por la
denominación “Lingüística Documental” - me inclino a proponer para
nuestra disciplina una denominación más abarcadora de sus propósitos:
SEMIÓTICA DOCUMENTAL. Así nombrada, aparecería como
una especicación disciplinar de la Semiótica general, y habría de
entenderse como ciencia que estudia la semiosis documental. El la
concepción de PEIRCE y MORRIS, entre otros, la semiosis es el
proceso de comunicación general de que se ocupa la Semiótica, y en él
los signos se consideran em sus tres vertientes: sintáctica, semántica y
pragmática. (IZQUIERDO ARROYO, 1990, p. 63-64)
Infelizmente esta obra não foi divulgada na época de sua publica-
ção na literatura cientíca da Documentação nos países sul-americanos, e
nos estudos da Documentação de língua portuguesa, em especial, no con-
texto brasileiro. A substituição terminológica da Linguística Documental
daria lugar, por uma questão lógica, à Semiótica Documental. Porém, o
que sucedeu foi o uso da expressão Linguística Documental pela comu-
nidade de Documentação, especialmente no Brasil, quando, em realida-
de, as condições objetivas (documentos em vários códigos) e os temas de
investigação já exigiam uma reformulação, pois já se aproximavam dos
problemas semióticos.
A Semiótica Documental, como exposto, seria o marco acolhedor
das preocupações do tratamento documental del conteúdo, abarcaria con-
juntamente Linguística, Ciências Cognitivas e Ciências da Comunicação,
incluídas como ramos da Semiótica geral.
O trabalho de Izquierdo Arroyo em Semiótica Documental, a
despeito de o nível avançado de sistematização, ainda deixou pontos a
avançar e exigirão dos especialistas em Documentação propostas coerentes
para seu desenvolvimento. Izquierdo Arroyo tem chamado a atenção da
Documentação para o problema da variedade de códigos que se apresenta-
va já nal dos anos 1980 e para o qual não se tem ainda um campo coeren-
te ou abordagem unicada na área. Atualmente, ainda se atua como se o
problema do conteúdo fosse apenas uma questão de tratamento textual, e
o que não possui essa característica simbólica deve adaptar-se, quando, em
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
233
realidade, os diversos códigos icônicos e indiciais já reclamavam um espaço
próprio no consumo de informação na sociedade.
Izquierdo Alonso e Izquierdo Arroyo (2014, p. 116) argumentam
que as coleções de orais e os documentos icônicos, as imagens, não têm
tratamento adequados. Esse é um dos desaos atuais da Documentação,
em especial, da Semiótica documental, pois os documentos imagéticos e
sonoros exigem competências que estão além da teoria linguística. Aqui há
uma clara separação entre o que pode produzir a Linguística Documental
e o que preocupa a Semiótica documental de Izquierdo Arroyo.
A Semiótica Documental demonstrou cabalmente que os proble-
mas da Linguística Documental deveriam ser bem outros, mais condicio-
nados à realidade da informação e aos códigos utilizados. Os problemas
elencados pela Linguística documental, acreditamos, já surgiram defasados
no tempo e parece que apenas Izquierdo Arroyo notou esse fenômeno.
Com a análise podemos avançar na compreensão das ideias de Izquierdo
Arroyo, e começar a responder a precisa constatação de Lara (2014): “No
Brasil, o acesso aos textos de Izquierdo Arroyo é bastante incompleto, e
essa é uma das razões pela qual sua produção é pouco conhecida.
Assim, a Semiótica Documental se congura como um campo
híbrido que recebe contribuições losócas e cientícas destinadas a res-
ponder aos problemas teóricos e aplicados do tratamento de documentos
em linguagem verbal e não verbal. Sem uma postura semiótica não pode-
ríamos incluir o percurso da leitura para recuperação da informação, tal
como fomentado pelos estudos de Agustín Lacruz (2006, 2015), Manini
(2001, 2004) e Pato (2014). Em síntese, devemos rediscutir o que a noção
ampliada de leitura dentro do escopo da indexação implica, em especial, a
sua aplicação a códigos não verbais.
4 cOnsiderAções finAis
A leitura documental tem recebido muitas contribuições prove-
nientes de uma diversidade de áreas de pesquisa, nesse sentido, uma supos-
ta aglutinação de conceitos linguísticos não seria suciente para explicar
este processo tão complexo.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
234
Por esta razão, a Semiótica Documental pode ser a mais adequa-
da estrutura de conuência conceitual a ser desenvolvida no interior da
Documentação no sentido de propor como um de seus objetos básicos
a leitura com ns documentais. As vertentes da Linguística, das Ciências
Cognitivas, das Ciências da Comunicação, entre outras, seriam exploradas,
no arranjo da Semiótica Documental. Os estudos da leitura documental,
entre tantos outros com tratamento pulverizado na Documentação, per-
tenceriam aos interesses da Semiótica Documental.
A leitura documental contaria com uma riqueza cientíca deriva-
da de estudos aplicados e princípios teóricos para compreender a semiose
que ocorre em sistemas de informação, desde a representação do conteúdo
do documento até a apropriação da informação pelos usuários.
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240
Análise semióticA dA leiturA dOcumentAl nO
prOcessO de indexAçãO de AssuntO
Luciana Beatriz Piovezan
1 intrOduçãO
A leitura em Biblioteconomia possui papel importante na atu-
ação prossional, dado que o tratamento que recebem os documentos,
com vistas à
disponibilização para acesso e uso, necessita da leitura para
ser realizado. Desse modo, a leitura insere-se em diversas atividades reali-
zadas em unidades de informação, tais como, a catalogação, a elaboração
de resumos, a classicação e a indexação. A leitura é fundamental para as
atividades de tratamento temático da informação documental, em especial
para a indexação, por causa da necessidade de representação do conteúdo
temático dos documentos.
Em Unidades de Informação existem diversas tipologias docu-
mentais – livros, revistas, lmes, álbuns musicais, entre tantos outros
em diversos suportes físicos, todos requerendo do prossional tratamento
adequado. Aqui, entretanto, abordaremos as questões referentes à leitura
para tratamento de documentos textuais, que apresentam linguagem escri-
ta. Estas reexões referem-se principalmente a livros e artigos, ambos de
caráter cientíco.
As interseções entre a semiótica peirceana e a organização da in-
formação, especialmente no que tange à indexação, têm sido abordadas
na literatura recente de Ciência da Informação, como por exemplo, em
241
h
ttps://doi.org/10.36311/2017.978-85-7983-917-7.p241-262
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
242
Souza e Almeida (2012) que abordou a relação da semiótica e da indexa-
ção, ressaltando as questões da representação e do referente; em Redígolo
e Almeida (2012) onde se encontra um estudo da análise de assunto por
meio da semiótica de Peirce abordando os conceitos de hábito, experiên-
cia, representação e destacando também os tipos de signos que a análise
de assunto faz surgir. Do mesmo modo, encontramos em Dal’Evedove,
Almeida e Fujita (2013) uma análise do processo de indexação que o vis-
lumbra como um processo semioticamente estruturado, dado que se faz
por meio da interpretação; ainda em Almeida; Fujita e Reis (2013) os
autores procurar tratar a relação da indexação com o segundo ramo da
Semiótica, a Lógica Pura, argumentando que a indexação é um processo
inferencial por considerar a interação entre tipos diversos de signo neste
processo com intenção de representação da informação.
Percebemos que estes trabalhos anteriores tangenciam a ques-
tão da leitura documental, apresentando-a ora implícita (cf. SOUZA;
ALMEIDA, 2012) ora explicitamente (cf. REDÍGOLO; ALMEIDA,
2012; ALMEIDA; FUJITA; REIS, 2013), porém sem efetivamente ofere-
cer subsídios para sua compreensão. Suscitados, também, por essa vacância
literária, neste trabalho pretendemos abordar a possibilidade de compre-
ensão da leitura documental meio da perspectiva semiótica de Peirce. Para
traçar este caminho, iniciaremos expondo os principais aspectos da leitura
documental, apresentaremos a semiótica peirceana, abordando as princi-
pais contribuições destes estudos para a compreensão das questões infor-
macionais e, em seguida, serão expostas as contribuições identicadas no
estudo da Semiótica para a compreensão da leitura documental.
2 AspectOs relAtivOs à leiturA
Passaremos a apresentação das questões relativas à leitura docu-
mental, iniciando pela exposição do processo de leitura, como percebido
pelos modelos ascendente, descendente e interativo, de modo que pode-
remos passar ao entendimento da leitura documental ou leitura para a
realização dos procedimentos de representação de assunto, compreendida
como integrante do processo de indexação.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
243
As primeiras concepções sobre a leitura a descrevem como a de-
codicação de um código, a escrita, sendo necessário ao leitor apenas a
habilidade técnica de identicar os caracteres e sua relação linear entre
letras, palavras, frases e textos, não fazendo menção à relação entre o leitor
com o texto para adiante disso. Esta noção de leitura parece estar relacio-
nada à perspectiva semiológica no que diz respeito à visão estruturalista da
linguagem.
Essa perspectiva linear sobre a leitura é compreendida dentro
do modelo ascendente de leitura – bottom up ou modelo serial de Gough
(FUJITA; NARDI; FAGUNDES, 2003). Neste modelo centrado no tex-
to, se considera que o leitor realiza um processo ascendente e sequencial de
identicação e retirada do signicado do texto para sua apreensão, partin-
do das partes para seu todo e realizando processos indutivos em que recebe
o signicado do texto.
Em contrapartida, o modelo descendente de leitura – modelo
top down, oferece uma perspectiva na qual o leitor é o centro do modelo
e, ao ler, realiza processos dedutivos partindo das unidades signicativas
do texto e relacionando-as com seus conhecimentos prévios para elaborar
hipóteses e vericá-las no texto. A compreensão do texto, neste caso, é per-
mitida pela introdução de conhecimento extralinguístico, de modo que o
leitor não necessita de todos dados presentes no texto.
No presente momento, os pressupostos acerca da leitura englo-
bam questões mais complexas e humanísticas, ressaltando o envolvimento
cognitivo do leitor. A leitura, assim, é aceita como um processo de intera-
ção entre o conhecimento prévio do leitor com o conteúdo do texto para
construção dos sentidos do texto (NEVES; RAMALHO; FIGUEIREDO,
2008). Essa perspectiva voltada à compreensão da leitura implica em que
o signicado do texto é construído pelo leitor de modo relacional, pois o
texto escrito oferece diferentes possibilidades interpretativas.
Essa concepção de leitura é aceita no modelo denominado in-
terativo, no qual se entende que os processos descritos pelos modelos as-
cendente e descendente são mais do que inversos, são complementares
(FUJITA, 2004). A leitura, assim entendida, compreende procedimentos
coordenados que incluem operações cognitivas, linguísticas e de percepção
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
244
visual que induzirão à compreensão do texto e da reconstrução de seu con-
teúdo pelo leitor.
Essa perspectiva interacionista compreende, portanto que “o sen-
tido não precede o texto, não está nele depositado, nem é uma proposição
pronta, acabada. É no texto sim, mas através do ato de leitura que se pro-
duzem os sentidos” (DUMONT, 2006, p. 12). De modo que para esta
compreensão, o leitor deve ativar modelos mentais apreendidos em sua
vivência pessoal para tornar a leitura um processo ativo.
A presença dos esquemas – “[...] estruturas cognitivas que dizem
respeito ao conjunto de conhecimentos armazenados em sequência tem-
poral ou causal, nos quais são mantidos os conjuntos de características dos
objetos e seres que nos rodeiam” (NEVES, 2007, p. 3) – do leitor permite
que ele vá criando hipóteses com base em inferências sobre o texto e, caso
as conrme, estas são mantidas e mais desenvolvidas e, caso não possa
conrmar suas hipóteses, o leitor as descarta e constrói novas hipóteses
com base nos dados apreendidos do texto, alternando entre os processos
ascendente e descendente.
A leitura é entendida, desse modo, como um ato interativo,
dependente de suas variáveis, sendo elas, leitor e texto, assim como do
contexto de leitura. Tais variáveis estão sujeitas a diversas condições que
inuenciam o processo de leitura (FUJITA, 2004). Nesse sentido, Neves
(2007, p. 2) dene a leitura de um texto como uma atividade cognitiva que
[...] é também um processo interativo, em que o leitor e o autor se
relacionam mutuamente, sendo o texto o agente desta vinculação. O
autor, quando produz o texto, estabelece uma coerência textual que
é recuperada no momento da leitura. A reconstituição da coerência
de um texto depende de processos cognitivos construídos pelo leitor/
usuário para sua compreensão.
Entendemos que a leitura é, portanto, uma prática social, re-
lacionada a aspectos culturais envolvidos no cotidiano da sociedade,
permitindo o compartilhamento de informação. Da mesma maneira
a leitura é uma atividade subjetiva, que envolve aspectos cognitivos e
emocionais relativos ao indivíduo leitor para construção do sentido de
um texto. Assim como, a leitura é também, a principal forma de aces-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
245
so ao conteúdo documental majoritariamente composto de documentos
bibliográcos.
A leitura documental realizada pelo bibliotecário é a fase inicial
do processo de tratamento dos documentos para sua inclusão em um sis-
tema de informação e tem por nalidade a identicação de conceitos re-
presentativos do conteúdo temático do documento para sua representação.
Moura (2006) lembra que este procedimento ativa outros dois, a análise
de assunto e a indexação, e busca recompor a informação potencial do
documento.
De acordo com Moura (2006) as práticas de leitura do bibliote-
cário podem levar a dois tipos de apropriação textual, a apropriação termi-
nológica e a apropriação conceitual. A primeira se refere a uma assimilação
por parte do bibliotecário dos termos recorrentes na sua área de atuação,
porém sem compreender as relações teóricas, conceituais e metodológicas
existentes. Já a segunda se refere à assimilação consciente dos conceitos e
das relações conceituais existentes na área de conhecimento, realizando as
atividades de organização do conhecimento de forma mais signicativa e
mais benéca ao sistema e seus usuários.
Para que a leitura documental propicie a apropriação conceitual,
consciente e signicativa é necessário ao bibliotecário que tenha “[...] con-
dições especícas como conhecimento prévio e de mundo, instrumentos,
estratégias, e conhecimento de estruturas e tipos textuais e suas caracterís-
ticas” (REDÍGOLO; FUJITA, 2015, p. 357).
Dessa forma propõe-se que o bibliotecário seja visto como um
elemento a ser considerado no estudo de metodologias de indexação, sen-
do o objetivo principal da formação do prossional atuante no tratamen-
to temático “formá-lo ou capacitá-lo para uma leitura prossional, onde
seus objetivos prossionais sobrepõem-se aos objetivos pessoais de leitor
(REDÍGOLO, 2007, p. 5).
Isto porque é impossível para prossionais de informação realizar
a leitura do texto completo de todos os documentos que se apresentam
para sua análise, por questões de operacionalização do trabalho. Desta for-
ma, para uma melhor exploração textual, é necessário ao leitor prossional
o conhecimento prévio de superestruturas ou esquemas textuais, as estru-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
246
turas textuais de diferentes tipologias documentais, e a adoção de uma me-
todologia de abordagem ao documento, de maneira a permitir o alcance
dos objetivos de leitura documental.
Em ambientes informacionais, o processo de indexação acontece
em dois momentos, durante a inserção de um documento no sistema de
informação e quando o sistema recebe um pedido de informação, em am-
bas as situações, tem por objetivo identicar a necessidade informacional
do usuário. E não é excessivo ressaltar que a importância da leitura docu-
mental é devida a que a representação errônea ou incompleta dos docu-
mentos no processo de indexação irá reetir na qualidade da recuperação
da informação e, portanto, na qualidade dos sistemas de recuperação de
informação (MAI, 2001).
Gil Leiva (1999) observou a presença na literatura de bibliote-
conomia e ciência da informação de distintas denições para a indexação.
Em geral tais denições procuram com maior ou menor completude ca-
racterizar a indexação como um processo de análise, condensação e repre-
sentação de conteúdos documentais. Tais operações são entendidas como
etapas do processo de indexação.
Compreendendo, então, a indexação como um processo que
possui três etapas – a determinação do conteúdo temático de um item, a
análise conceitual para decidir quais aspectos de um item devem ser repre-
sentados no registro bibliográco e a tradução dos conceitos ou aspectos
em um vocabulário controlado (OLSON; BOLL, 2001, p. 87), percebe-se
que a leitura documental perpassa e possibilita esse processo, viabilizando
a análise de assunto.
Deste modo, de acordo com Fujita (2013) existem dois mo-
mentos principais na leitura documental, sendo estes, a identicação de
conceitos e a seleção de conceitos representativos do documento analisado.
No primeiro momento, a identicação de conceitos, o bibliotecário re-
aliza um exame lógico do texto de modo a selecionar conceitos repre-
sentativos de seu conteúdo (FUJITA, 2003). Nesta fase, o bibliotecário
realizará a determinação da tematicidade intrínseca do documento, a de-
terminação de seu assunto mais signicativo atendendo a composição do
autor (FUJITA, 2013).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
247
O segundo momento durante a leitura documental é a seleção de
conceitos, onde o prossional considera os objetivos de leitura documen-
tal, seus interesses prossionais de leitura, realizando a determinação da
tematicidade do documento, a representação do assunto mais signicativo
mais relevante ao contexto do usuário para o qual o documento se destina
(FUJITA, 2013). Desta forma, é possível que conceitos identicados na
primeira etapa não sejam selecionados para representar o conteúdo temá-
tico do documento.
Fujita (2013, p. 47) considera assim, que a análise de assunto
consiste de quatro fases “a) determinação da tematicidade intrínseca, b)
identicação de conceitos, c) seleção de conceitos e, d) determinação da
tematicidade extrínseca”.
Para a realização da leitura documental o bibliotecário irá ativar
seu conhecimento prévio, composto por entidades tanto linguísticas quan-
to conceituais e que pode ser linguístico, textual, conhecimento de mundo
e prossional, e suas estratégias de leitura.
Tais estratégias se dividem em dois grupos, as cognitivas, que se
tratam de comportamentos inconscientes em uma leitura uida e as me-
tacognitivas, comportamentos conscientes do leitor em relação ao modo
com que realiza a leitura. Quanto menos estratégias metacognitivas sejam
exigidas pelo texto, mais fácil será a leitura, em contrapartida, a leitura me-
tacognitiva conduz a maior compreensão do texto (NEVES, 2011).
Redígolo e Fujita (2015, p. 365) destacam ainda que “as estraté-
gias metacognitivas demonstram que o leitor tem consciência dos objetivos
da leitura e utiliza-se de alguns artifícios para realiza-la da melhor maneira,
tentando superar suas diculdades e explorando seus conhecimentos”.
É em razão do objetivo já citado da indexação, identicar a ne-
cessidade de informação do usuário de modo a permitir a recuperação
por assunto, que a indexação deve ser uma atividade personalizada, como
arma Lancaster (2004), para que a indexação ajuste-se com precisão aos
interesses do grupo de usuários. O mesmo autor lembra a concordância
de Hjørland (2001) quanto a essa questão, ao armar que “Uma vez que
qualquer documento pode, em princípio, proporcionar respostas a uma
innidade de questões, as análises de assuntos devem estabelecer priorida-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
248
des baseadas nos grupos de usuários especícos atendidos” (HJØRLAND,
2001, p. 776).
Hjørland (2001) deniu o assunto de um documento como
as potencialidades epistemológicas (ou informativas) do documento.
Adotaremos, apoiados no autor mencionado, esta noção de assunto en-
quanto potencial informativo de um documento.
Buscamos, portanto, a compreensão da losoa Peirceana para
reetir sobre a leitura prossional em indexação para representação do
conteúdo temático de documentos.
3 A semióticA de peirce
De modo sucinto, a semiótica deriva do exercício losóco de
Charles Sanders Peirce para compreender a realidade. Por meio da abs-
tração sobre signicado e linguagem, Peirce propõe o estudo do signo en-
quanto elemento triádico, composto por representamen, objeto e inter-
pretante, em oposição à compreensão binária proposta por Ferdinand de
Saussure. Tendo como fundamento a ideia de que a interpretação, que ele
denomina semiose, é que cria o signo, o autor defende que qualquer coisa
pode ser um signo, contanto que cause um efeito interpretativo em uma
mente cientíca. Desta forma, a teoria de Peirce não se atém a linguagem
verbal, como faz a teoria saussuriana, mas trata de como os signicados são
atribuídos aos signos em um sentido amplo.
Um dos conceitos centrais no quadro conceitual proposto por
Peirce, semiose vem a ser o processo de construir signicados por meio
de signos:
É importante que se entenda o que quero signicar por semiose [...]
uma ação, ou inuência, que é, ou envolve, uma cooperação de três su-
jeitos, tais como um signo, seu objeto, e seu interpretante, essa tríplice
relativa inuência não sendo de modo algum resolúvel em ações entre
pares. {Sémeiösis} em grego do período romano, desde o tempo de
Cícero, se relembro bem, signica a ação de qualquer espécie de signo;
e minha denição confere a qualquer coisa que assim atue o título de
um “signo” (PEIRCE, 1980 p. 133-134).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
249
Podemos, então, armar que o signo está para algo que interpreto
como sendo análogo à minha memória daquele algo.
No processo de interpretação, Peirce distingue, principalmente,
três tipos de interpretantes que são produzidos pela semiose, o interpretante
imediato, o interpretante dinâmico e o interpretante nal. O Interpretante
Imediato pode ser compreendido como o interpretante representado no
signo, assim o Interpretante Dinâmico seria o efeito de fato produzido na
mente pela ação do signo e o Interpretante Final seria o objetivo de toda
semiose, o propósito a ser alcançado por meio do desenvolvimento do
pensamento (PEIRCE, 2005, p. 168-169).
Conforme expõe Lara, o interpretante “[...] também depende ne-
cessariamente do domínio, do discurso, das condições de enunciação e da
experiência colateral do receptor” (LARA, 2004, p. 235-236).
Quanto ao objeto do signo, Peirce apresenta-os em dois tipos,
Objeto Imediato, o objeto do modo como representado no signo, e Objeto
Dinâmico, o referente em si, elemento indicado pelo signo. Em sua ten-
tativa de fazer compreender tal distinção, o autor lembra que “O signo
pode apenas representar o Objeto e referir-se a ele. Não pode proporcionar
familiaridade ou reconhecimento desse Objeto [...] ele pressupõe uma fa-
miliaridade com algo a m de veicular alguma informação ulterior sobre
esse algo” (PEIRCE, 2010, p. 47). Para compreender o que é o Objeto
Dinâmico não basta a experiência mediada pelo signo, faz-se necessária a
existência da experiência colateral, ou seja, conhecer o objeto em si, para
além do signo que o representa.
Para Lara (1993, p. 225) também a construção do signicado
está relacionada à experiência colateral, de modo que, “se essa experiência
ensinou ao seu intérprete o que é determinada coisa, ou o que determinada
palavra signica em uma dada sentença, sua interpretação será diferencia-
da”. O objeto determina o signo, de maneira geral, e o interpretante de
forma mais especíca, e sendo assim, a experiência tida com o objeto é
também determinante para a construção do interpretante. Como arma
Peirce (2010, p. 168, destaques do autor) “[...] o Signo não pode exprimir,
ele pode apenas indicar, deixando ao intérprete a tarefa de descobri-lo por
experiência colateral”.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
250
Para Peirce a função mais perceptível do pensamento é atingir
um estado que ele denomina de crença, esse estado é a etapa nal de um
processo sistêmico que advém de uma perturbação que causa um estímulo
- a dúvida, ou seja, a ação do pensamento inicia-se com o confronto com
a dúvida e cessa ao chegar à crença.
Convém estabelecer que em Peirce (1975, p. 77) a crença “é a
indicação mais ou menos segura de se ter estabelecido em nossa natureza
uma tendência que determinará nossas ações. A dúvida nunca se acom-
panha de tal efeito”. A crença possui três características “Primeiro é algo
de que estamos cientes; segundo, aplaca a irritação da dúvida; e, terceiro,
envolve o surgimento, em nossa natureza, de uma regra de ação, ou, diga-
mos com brevidade, o surgimento de um hábito” (PEIRCE, 1975, p. 56).
Já a função nal do pensamento seria a de construir hábitos de
agir, os hábitos tem como função produzirem resultados sensíveis, portan-
to os hábitos seriam um modo de agir em uma dada circunstância para
alcançar um determinado resultado desejado. Este modo de agir não deve
ser denitivo, mas será sempre questionado pelo surgimento de dúvidas.
Para Peirce (2010, p. 48) toda esta construção está relacionada
à existência de conhecimento prévio, pois em sua teoria, o autor deixa
claro que a apreensão dos signicados não é possível sem a determina-
ção de sua relação com o Objeto, ou seja, se o indivíduo não conhece
nada sobre o Objeto não há o que possa ser explicitado sobre ele que
irá ser apreendido.
Desse modo, embasados pela teoria peirceana, acreditamos que pro-
ssionais de informação criam hábitos de agir que guiam a sua leitura pros-
sional, levando a que se utilizem de estratégias de leitura cognitivas e metacog-
nitivas para identicação e seleção de assuntos que tenham pertinência quanto
ao texto e sejam potencialmente informativos aos usuários.
4 metOdOlOgiA
Para a realização deste estudo foi utilizada a técnica introspectiva
de coleta de dados do Protocolo Verbal Individual durante a tarefa de cata-
logação de assuntos de livros.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
251
A técnica de coleta de dados introspectiva denominada “Protocolo
Verbal” consiste na gravação da exteriorização verbal do pensamento de
um ou mais indivíduos durante a realização de uma tarefa. O pensar alto do
sujeito é gravado e transcrito literalmente. No caso do leitor, ele pode exte-
riorizar seus processos mentais enquanto a informação processada está sob
o foco de sua atenção. Ele lê e interpreta ao mesmo tempo, exteriorizando
em voz alta tudo o que passa pela sua cabeça durante a leitura (FUJITA,
NARDI, FAGUNDES, 2003).
O Protocolo Verbal Individual é uma metodologia útil para a
consecução do objetivo desta análise por se tratar de uma técnica intros-
pectiva que permite a observação do processo de leitura, porque o leitor
verbaliza o conhecimento processual que possui para o desenvolvimento
da atividade, realizando uma leitura consciente. Como também foi expos-
to por Tartarotti, Dal’Evedove e Fujita (2017, p. 44)
A introspecção é considerada um evento mental, por denição. Ato
pelo qual o sujeito observa os conteúdos de seus processos mentais,
assumindo consciência deles. Muitos são os conteúdos mentais pas-
síveis de introspecção, dentre os quais, e de interesse para a pesquisa,
guram o conteúdo do pensamento (conceitos, raciocínios, associações
de ideias etc.).
Os dados utilizados para a análise são provenientes de coletas
de dados realizadas por pesquisadores participantes do projeto de pes-
quisa “O contexto da leitura documentária de indexadores de bibliote-
cas universitárias em perspectiva sócio-cognitiva para a investigação de
estratégias de ensino”, coordenado pela Profa. Mariângela Spotti Lopes
Fujita no período de 2007-2010. Estes dados foram obtidos com o con-
sentimento da coordenadora do projeto e foram analisados com base no
interesse desta pesquisa.
As coletas de dados foram realizadas na Rede UNESP de biblio-
tecas com os catalogadores responsáveis pelas as atividades de catalogação
e indexação. Para melhor aproveitamento dos dados, foram selecionadas as
coletas referentes à tarefa de Catalogação Original, quando não há registro
bibliográco daquela obra na base de dados bibliográcos ATHENA ou
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Paula Regina Dal’Evedove (Org)
252
em bases servidoras, deste modo, o catalogador deverá fazer a catalogação
em primeira mão e, portanto, a leitura para análise de assunto da obra.
A coleta de dados com Protocolo Verbal Individual abrange três
grupos de procedimentos:
1) Procedimentos anteriores à coleta de dados
a. Denição do universo da pesquisa;
b. Seleção do Texto-Base;
c. Denição da tarefa;
d. Seleção dos sujeitos;
e. Conversa informal com os sujeitos;
f. Familiarização com a tarefa do “ink Aloud”.
2) Procedimentos durante a coleta de dados
a. Gravação do “Pensar Alto” durante a leitura do
texto-base.
b. Entrevista retrospectiva (optativa).
3) Procedimentos posteriores à coleta de dados
a. Transcrição literal das gravações das falas dos
sujeitos (Protocolo Verbal Individual);
b. Leitura detalhada dos dados em busca de
fenômenos signicativos e recorrentes para construir
categorias de análise;
c. Construção das categorias;
d. Volta aos dados para retirar trechos da discussão
que exempliquem cada fenômeno, cada categoria.
Por se tratar de uma pesquisa com reutilização de dados coletados
em âmbito de outro estudo, os procedimentos realizados tratam-se dos
itens “c” e “d” dos procedimentos posteriores à coleta de dados.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
253
As categorias de análise, selecionadas com base nos estudos teó-
ricos, foram:
− Semiose – Interpretação
− Níveis de interpretante
− Experiência colateral
− Estado de dúvida/crença
− Hábito/mudança de hábito
Em seguida passaremos a exposição dos resultados de nossa
análise.
5 cOmpreensãO dA leiturA dOcumentAl A pArtir dA semióticA peirceAnA:
resultAdOs e discussões
Em seguida iremos explorar algumas das intersecções possí-
veis entre a teoria semiótica proposta por Peirce e a leitura documental
em Ciência da Informação, com base na análise dos protocolos verbais.
Apresentaremos nossos resultados nas categorias de análises denidas
previamente.
− Semiose
Para a realização da indexação é necessário que o prossional da
informação compreenda o texto que está sob seu exame, pois, só assim a
identicação e seleção de conceitos serão bem feitas. Não será possível tor-
nar explícito o conteúdo do texto sem compreensão do mesmo por meio
da leitura (FUJITA, 2003).
Catalogador:
“Essa formação nesse sentido contempla compreensão de que a decisão de
que a decisão sobre os fundos das escolas é coletiva e é responsabilidade de
todos, então “educação administração”, “administração escolar”, “formação
de professores” e “gestores educacionais”. Gestores administradores primeiro
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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254
No trecho destacado da fala do sujeito, percebe-se que o bibliote-
cário catalogador enquanto lê o texto, procede à identicação dos concei-
tos que considera importantes para o conteúdo do livro, destacadas entre
aspas, inclusive estabelecendo uma ordem de prioridade. Este procedimen-
to é feito pela interpretação do conteúdo lido do documento.
Aludindo à teoria semiótica de Peirce é possível compreender o
processo de desconstrução do texto inicial, ou de interpretação, como o
processo de geração de signicado pela mente, por meio do qual o signo é
construído. A esse processo Peirce nomeia como “semiose” o processo de
construir signicados por meio de signos.
Nesse sentido, o próprio texto analisado, o documento que será
indexado, é um signo. É uma composição de signicado construída por
alguém, o autor, para representar uma parcela do mundo que por ele foi
interpretada, e que irá, da mesma forma, gerar uma nova composição de
signicado, na mente do leitor, distinta da primeira, que gerou o docu-
mento. Essa nova composição será apenas o efeito produzido pelo signo na
mente intérprete, um novo interpretante.
Toda interpretação é, assim, um tipo de modicação do represen-
tamen observado em um novo interpretante. Podemos considerar que a
interpretação é dependente das características emocionais, contextuais, de
limitações cognitivas e de objetivos de leitura. Não há garantias de que dois
leitores, diante de um mesmo texto, obterão a mesma interpretação, como
arma também Silveira (2007, p. 50) “nada garante que haverá um dia
uma interpretação denitiva, nem que somente venha a haver uma única
interpretação” (2007, p. 50).
− Níveis de interpretante
É na constatação das diferentes possibilidades interpretativas que
reside o principal problema da leitura documental. Como interpretar o
texto de um documento para levantar o seu conteúdo principal de forma
que este conteúdo, ou o signo que o representará, seja indicador ao usuário
do assunto do documento, ou em outras palavras, como agir de modo que
a interpretação do prossional de informação assemelhe-se àquela que o
próprio usuário faria.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
255
Catalogador
“Eu tenho que ver que público que vai usar, quem vai ser o consumidor
desse material”
então a gente já tem, procura indicar alguma coisa que o nosso usuário
tenha familiaridade
“Um exemplo assim típico disso é “educação matemática” que dentro da
pedagogia tem um professor que estuda educação matemática
“Mas vê-se na área que é uma forma usual de chamar. Então o catálogo
tem que se adequar a terminologia e não o pesquisador tem que se adequar
ao cabeçalho, porque o objetivo dele é chegar ao material.”
Nos trechos destacados, podemos perceber que o bibliotecário
catalogador procura se atentar para a demanda possível que o livro ca-
talogado irá atender, tentando compreender o que será de interesse para
o usuário, inclusive recobrando exemplos passados de interação com a
comunidade.
O leitor prossional busca em sua estrutura cognitiva ferramentas
para ajudá-lo na compreensão dos textos que se colocam sob sua análise, de
modo que possa gerar outro texto em sua mente, decorrente da interpreta-
ção do primeiro texto. Esse produto gerado em sua mente será, no processo
de indexação, reavaliado pelo prossional de informação e o produto dessa
nova análise, traduzido em termos de uma linguagem de indexação, será o
descritor de assunto para o documento.
− Experiência colateral
Catalogador
“Para esse assunto ele manda ver matemática estudo ensino, mas se eu fosse
classicar em matemática estudo ensino seria 51-07 pela CDU e não e isso
que ele quer, ele quer a educação matemática ele quer Educação
“Organização escolar é uma remissiva no BIBLIODATA. Então ele vai
mostrar qual a forma adotada. Ele manda ver “Escolas organização e ad-
ministração”, tudo bem, então toda vez que eu usar “Organização esco-
lar”, que é a forma que eu chamei, ele manda ver “Escolas organização e
administração.””
“Eu atualizo o meu, ((ASD)) Gestão educacional. Porque quem está escre-
vendo é que pode determinar a maneira como os pares/ Gestão educacional
ele sugere. [...] Gestão escolar. Qual seria a diferença? Não sei.”
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
256
“Gestão escolar, é a maneira como eles se comunicam, que eu não estou
inventando nada, estou seguindo o que outras bibliotecas fazem. Agora
em outros casos a gente pega a gente não estaria inventando a gente estaria
acatando a opinião de especialistas
Podemos observar nos trechos em destaque que o bibliotecário
catalogador se apoia em seu conhecimento da linguagem, conhecimento
prévio prossional, para determinar se a interpretação que fez do docu-
mento é relevante e pode relacionar-se com a demanda usuária. O cata-
logador também manifesta não ter certeza quanto aos termos que melhor
representam os conceitos identicados no documento, buscando a termi-
nologia aplicada em outros catálogos.
Quando dissemos que o indexador desconhece a área de assunto
especializada, em termos semióticos, o que estamos a sugerir é que o pro-
ssional desconhece o referente ao qual o signo procura representar.
Embora tenha contato com o signo, não teve a experiência colate-
ral com o Objeto Dinâmico, desconhece suas propriedades e suas idiossin-
crasias. Se aceitamos que a compreensão necessita de conhecimentos pré-
vios do intérprete para se realizar, entendemos que a semiose proveniente
dessa relação apresentará limites, pois o indexador não tem conhecimento
prévio da área especíca tal como possui o usuário especialista no domínio.
Souza e Almeida (2012) lembram que a experiência colateral do
indexador pode ir sendo construída com o tempo, na forma de experiên-
cia prossional, utilizando-se de linguagens de indexação como referentes,
processo observado no trecho destacado do Protocolo Verbal. A linguagem
de indexação, instrumento que, se propõe a conhecer e tornar explícitos os
signicados atribuídos a determinados signos em um domínio, servirá ao
indexador de contexto para a interpretação do signo/documento e, dessa
forma, apenas constrói uma sugestão de referente.
− Estado de dúvida/crença
Compreendemos que o leitor prossional passa do estado de dú-
vida ao estado de crença constantemente durante a leitura, e para deixar
o estado de dúvida o prossional aciona uma ou mais das estratégias de
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
257
leitura mencionadas anteriormente, no intuito de solucionar a diculdade
encontrada e retornar ao estado de crença.
Catalogador
Agora vou ler a última capa para ver porque aqui tem mais a ver com
formação de professores e administração escolar do que com história.”
olha “administração escolar” a palavra bastante repetida
esse livro, vamos ver ele já está falando do objetivo deles (~~~) discorre
sobre gestão pedagógica
No trecho destacado é possível observar que o bibliotecário ca-
talogador faz uso de estratégias de leitura para atingir o objetivo da inde-
xação, ao direcionar sua atenção a um determinado elemento do livro, no
caso a última capa, ao buscar a frequência em que determinadas palavras
são usadas no texto, assim como, quando aumenta seu nível de atenção ao
perceber que se trata de uma passagem relevante para a compreensão do
assunto do livro, no caso o objetivo do estudo.
A alternância entre o estado de dúvida e a crença, alcançada por
meio de uma determinada ação de pensamento, leva o bibliotecário a ter
esta ação como um procedimento que pode ser repetido quando em situa-
ção de dúvida semelhante, o que Peirce denominou como a construção de
um hábito de agir.
As estratégias que mencionamos têm por objetivo, em uma análise
semiótica, colaborar com o indexador para que sua interpretação construa
um interpretante que se assemelhe àquele que o usuário poderia alcançar,
dado que em razão de seu conhecimento prévio da área temática, o usuário
possui condições interpretativas diversas das que possui o indexador.
As estratégias são potencialmente conscientes e, em geral se dire-
cionam a solução de um problema. Tais estratégias podem oferecer ao in-
dexador a perspectiva do sistema de informação, uma forma de direcionar
sua leitura para a busca de uma interpretação coerente com a demanda,
condições para monitorar se a leitura está atingindo seu objetivo e se há
compreensão, conhecimento e segmentação do texto de modo a atentar
para áreas e aspectos principais e, para a correção de suas ações, se necessá-
rio (NEVES; 2011; REDÍGOLO; FUJITA, 2015).
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
258
Observando as estratégias de leitura mencionas sob a ótica da
losoa peirceana, podemos compreendê-las enquanto hábitos de agir ad-
quiridos para conduzir a leitura prossional. Hábitos em Peirce são ten-
dências inatas ou adquiridas para ter condutas semelhantes diante de si-
tuações semelhantes, em outras palavras “O que nos leva a, dadas certas
premissas, retirar esta ou aquela inferência é uma tendência de espírito, seja
ela constitucional ou adquirida” (PEIRCE, 1975, p. 74).
− Hábito/mudança de hábito
As reexões feitas no âmbito da categoria anteriormente expos-
ta estão fortemente relacionadas com esta categoria. Aqui, pretendemos
demonstrar como um hábito pode ser determinado, não a partir da expe-
riência empírica, mas incutidos no indivíduo por inuência externa, por
exemplo, a partir de procedimentos padrão que devem ser adotados.
Catalogador
Agora eu vou olhar todos os campos para ver se está de acordo com os padrões
da UNESP, então algumas coisas a gente fez tanto que já decorou, né?”
“Isso eu faço com um roteirinho do lado, pois a gente esquece muito
No trecho destacado é possível observar que o bibliotecário cata-
logador procura se apoiar em seus hábitos de agir, inclusive demonstrando
insegurança quando não pode recorrer a um hábito previamente constru-
ído. Porém, também podemos notar o processo de construção de um há-
bito de forma indireta, não pelo exercício do pensamento individual, mas
por meio de um procedimento padronizado para uma dada atividade.
6 cOnsiderAções finAis
Na cadeia de processos documentais realizados em unidades de
informação, a representação do conteúdo de documentos reveste-se de im-
portância essencial, dada a sua função de mediar a relação entre os usuários
e a informação documental. A representação da informação, em outras pa-
lavras, objetiva que a informação possa ser corretamente recuperada, aces-
sada e, por m, utilizada. Esse entendimento confere importância cabal
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
259
aos estudos de leitura para indexação no âmbito da organização do conhe-
cimento, buscando compreender as ações realizadas por prossionais de
informação, em seu contexto social e cognitivo, a formação que possuem
para realizar estas atividades e a sistematização da mesma, materializada em
políticas de tratamento da informação e manuais de atuação.
As teorias losócas de Charles Sanders Peirce surgem nesse pa-
norama como uma possibilidade para ampliar os horizontes teóricos da
Ciência da Informação, em especial, da área denominada de organização
da informação e do conhecimento.
O processo de indexação, em especial, constitui-se de interpre-
tação e de representação, conceitos essenciais na teoria semiótica proposta
por Peirce, o que leva a assegurar que o conhecimento de tal teoria ofereça
aos indexadores uma perspectiva ampliada de sua atividade, de modo a
compreendê-la melhor.
Para realizar a indexação é preciso que haja compreensão do texto
abordado, sem a qual não se torna possível a identicação de conceitos de
relevância presentes no texto, dessa forma, mesmo a leitura documental é
um processo interpretativo e, portanto, onde ocorre semiose. O nível de
compreensão, entretanto, dicilmente será aprofundado, permanecendo
numa apreensão supercial, construindo interpretantes superciais em re-
lação ao objeto, dado a inexistência de experiência colateral com o Objeto
Dinâmico do signo.
Ainda assim, é possível observar que a semiose não ruma sem-
pre a um nível de interpretante mais desenvolvido, podendo caminhar a
níveis menos desenvolvidos, no caso da indexação é necessário que assim
seja para construção da informação documental. Há, portanto, uma perda
quantitativa de signicado, bem como uma perda qualitativa, passando de
conteúdo simbólico, para um nível indicial, pois, a linguagem documental
delimita o signicado dos termos, de modo a torná-los unívocos.
O estudo da compreensão peirceana de hábito e mudança de há-
bitos também pode engrandecer e dar consistência aos estudos de leitura
documental ao oferecer novas possibilidades de compreensão do contexto
cognitivo do leitor prossional, permitindo que se ampliem as possibilida-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
260
des de ensino desses procedimentos a indexadores iniciantes, bem como,
em treinamentos para atualização prossional e/ou formação em serviço.
O uso da metodologia introspectiva do Protocolo Verbal
Individual se mostrou relevante para observar os interesses deste estudo
tendo explicitado fenômenos semióticos que possivelmente não poderiam
ser observados por outras metodologias não introspectivas.
Como visto, as diculdades encontradas para a análise de assunto
são muitas e as possibilidades de alcançar um nível ideal de representação
de assunto são limitadas pelas múltiplas possibilidades interpretativas pre-
sentes na relação leitor-texto. Entendemos, então, que a indexação deve
estar fortemente embasada nas concepções orientada ao conteúdo e à de-
manda e a unidade de informação deve conhecer o seu público potencial,
por meio de estudos de comunidades, estudos de usuários, análise de do-
mínios e outros meios, de modo que possa estar o mais claro possível ao
indexador quais são os interesses informacionais deste público.
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263
cOntribuições teóricAs dA semióticA pArA A
leiturA dOcumentáriA
Daniela Majorie Akama dos Reis
intrOduçãO
A leitura é um processo ativo, no qual o leitor traz toda uma vida
de experiências para o texto e utiliza essa experiência para interpretar e
elaborar sobre seus conteúdos. Os escritores conam que os leitores farão
inferências que lhes permitirão evitar ter de contar tudo em detalhes ente-
diantes (ELLIS, 1995, p. 62).
Em Organização do Conhecimento
1
, a leitura é a forma pela qual
os prossionais iniciam diversos processos, como por exemplo, a análise de
assunto e indexação. A leitura com objetivos documentários, realizada por
um prossional nunca ocorrerá de maneira determinada. Cada mente fun-
ciona de forma única, fatores como conhecimento prévio, domínio em que
o sujeito atua (e/ou atuou anteriormente), educação acadêmica, convívio
com outras pessoas, tudo, inuencia na forma como tal pessoa interpreta
determinada informação. Consequentemente, é fundamental revisar e atu-
alizar os rumos dos constantes estudos sobre as variáveis de leitura, o que
justica este estudo.
1
[...] “Organização da informação em registros bibliográcos, incluindo índices de citação, texto completo e
internet” (HJØRLAND, 2003, p. 1)
https://doi.org/10.36311/2017
.978-85-7983-917-7.p263-282
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264
Com base em pesquisas anteriores, considera-se relevante citar
2
algumas das diversas variáveis que envolvem a leitura, e consequentemente,
a leitura documentária: o domínio, contemplado do ponto de vista tanto
do documento quanto do leitor; conhecimento prévio dos prossionais;
tipo de documento (pensando em estruturas textuais de documentos e
suas respectivas áreas – considerando a questão do domínio do acervo em
geral); entre outras variáveis relacionadas ao prossional como leitor (am-
biente de trabalho, pressão, aspectos não mensuráveis).
Hjørland considera que os métodos de Organização do
Conhecimento em Biblioteconomia e Ciência da Informação são, no nível
mais profundo, baseados nas mesmas suposições losócas dos métodos
de ciência e erudição. Isto implica em que a discussão fundamental da base
da Organização do Conhecimento é fortemente conectada à discussão de
diferentes teorias em epistemologia (2003, p. 9).
A Semiótica, ou Teoria Geral dos Signos, é uma indagação sobre
a natureza dos signos e suas relações, entendendo-se por signo tudo aquilo
que represente ou substitua alguma coisa, em certa medida e para certos
efeitos (PIGNATARI, 2004, p.21). De acordo com o autor, entende-se
que “toda e qualquer coisa que se organize ou tenda a organizar-se sob
a forma de linguagem, verbal ou não, é objeto de estudo da semiótica
(PIGNATARI, 2004, p.15).
A leitura documentária, portanto, independentemente de seus
objetivos e produtos, é passível de análise por meio de aspectos manifes-
tados na teoria semiótica, pois um texto “não apresenta signicado nele
mesmo, é necessário que haja uma interação a partir da leitura para que o
signicado e conceitos que o texto pretende passar sejam compreendidos
pelo leitor” (MAI, 2004, p. 604).
Em dissertação de mestrado, defendida por Reis em 2012, foram
coletados Protocolos Verbais Individuais - PVIs
3
nas três áreas do conheci-
2
Não é o foco desta pesquisa apresentar detalhadamente cada uma delas.
3
Consiste na gravação da exteriorização verbal de pensamento durante a atividade de leitura. Isso é possível porque
o leitor pode exteriorizar seus processos mentais enquanto a informação processada está sob o foco de sua atenção.
Referem-se ao “ink Aloud” (“Pensar Alto”), em que o indivíduo lê e interpreta ao mesmo tempo, exteriorizando
em voz alta tudo o que “passa pela sua cabeça” durante a leitura. [...] o “Pensar alto” do informante é gravado e
transcrito literalmente, produzindo protocolos verbais. Protocolos são geralmente denidos como relatos verbais
dos processos mentais conscientes do informante (FUJITA, NARDI e FAGUNDES, 2003, p. 142).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
265
mento (Humanas, Exatas e Biológicas), em bibliotecas universitárias, du-
rante a catalogação de assunto de livros cientícos. Concluiu-se por meio
de análise detalhada da observação de estruturas textuais durante leitura,
que seria necessária outra forma de analise com base em critérios mais evo-
luídos (já considerando resultados anteriores) para entender como os pro-
ssionais agem durante o processo interpretativo com ns documentários.
Em artigo publicado em 2013, Almeida, Fujita e Reis conside-
ram “a abordagem semiótica do processo de indexação de assunto como
um campo promissor para os estudos da Organização e Representação
do Conhecimento” (2013, p. 239). Pesquisas que relacionam teorias da
semiótica tem sua importância no tratamento temático da informação,
principalmente devido à carência de estudos à esta abordagem especí-
ca. De acordo com os autores, estudos com base nos três tipos de ra-
ciocínio (Abdução, Dedução e Indução), explicados por Peirce, podem
esclarecer de forma mais genuína o processo de leitura documentária:
Em síntese, com a abdução sustentamos os processos de leitura (per-
cepção) e criação de sugestões hipotéticas de representação do assunto;
cumpre a dedução tratar da seleção de termos de representação segun-
do a generalização intelectual das consequências e; por último, resta
a indução ancorar as funções do teste e comparação dos potenciais
assuntos com às linguagens de indexação, linguagem do usuário e lin-
guagem do sistema de informação, com o objetivo de continuamente
avaliar e aprimorar as representações de assunto (ALMEIDA; FUJITA;
REIS, 2013, p. 240).
Portanto, propõe-se um estudo sobre a leitura documentária e
aspectos teóricos conhecidos na semiótica - especicamente, a Abdução,
Dedução e Indução - e seus efeitos na interpretação de prossionais res-
ponsáveis pela leitura documentária de livros, fundamentada em literatura
em Organização do Conhecimento e semiótica – principalmente Peirce e
autores baseados na teoria de Peirce.
Tem-se como objetivo deste estudo teórico, alicerçar pesquisas
aplicadas dentro da temática da leitura documentária sob um ponto de
vista de teorias semióticas.
Serão apresentados conceitos, com base em pesquisas anteriores,
e em literatura nacional e internacional, sobre a leitura, leitura documen-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
266
tária e por m, uma sincronização com aspectos da teoria semiótica. A
primeira seção tratará da semiótica e perspectivas para pensar na leitura,
seguida de uma seção sobre leitura documentária, uma discussão dos te-
mas tratados e resultados, e por m, as considerações nais e sugestão para
pesquisas aplicadas.
AspectOs semióticOs dA leiturA
Para Eco, a semiótica está relacionada a tudo que possa ser as-
sumido como signo. “É signo tudo quanto possa ser assumido como um
substituto signicante de outra coisa qualquer. Esta outra coisa qualquer
não precisa necessariamente existir, nem subsistir de fato no momento em
que o signo ocupa seu lugar” (2014, p. 4).
Almeida (2012, p. 50), explica a Semiótica peirceana, como uma
ciência formal, que está subdividida nos ramos: Gramática Especulativa,
Lógica Pura e Retórica Especulativa.
A lógica é o ramo da losoa que permite uma análise do pensa-
mento. Consiste numa operação mental que possibilita, através do raciocí-
nio, o surgimento de novas proposições através de proposições já existentes
(DIAS; NAVES, 2013, p. 83).
Considera-se inerente a relação da lógica com a leitura, indepen-
dente do objetivo desta última (documentária ou uida), pois esta deman-
da habilidades e estratégias especícas por parte dos leitores.
Diante da análise da concepção de lógica de Peirce, torna-se evi-
dente que o esforço necessário para a análise de assunto está relacionado à
lógica docens
4
, pela exigência da capacidade inventiva, generalização e teo-
ria, por parte do indexador, muito além da lógica do bom senso do homem
comum (DIAS; NAVES, 2013, p. 85).
Almeida, Fujita e Reis (2013, p. 240) consideram “fundamental
destacar o papel da Lógica como matriz teórica para conceber o processo
de indexação como inferencial”. Pode-se concluir, que à lógica, é
atribuída essencial importância quando pretende-se investigar aspectos
inferenciais da leitura documentária. Ainda, “a Lógica Pura, segundo
4
Resultado de estudo cientíco, conhecido como “logica docens”.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
267
ramo da semiótica de Peirce, procura responder a relação dos signos
com os objetos
Neris (2006, p. 3) faz considerações a respeito da leitura do ponto
de vista da teoria semiótica:
[...] é essencialmente uma semiose, uma atividade primordial cujo re-
sultado é correlacionar um conteúdo a uma expressão dada e trans-
formar uma cadeia de expressão em uma sintagmática de signos. Tal
performance pressupõe uma competência do leitor, comparável,
ainda que não necessariamente idêntica, à do produtor do texto. Se,
no momento da leitura normal, o fazer receptivo e interpretativo do
enunciatário-leitor continua implícito, sua explicitação, sob forma de
procedimentos de análise estabelecidos, tendo em vista a reconstrução
do sentido, constitui tarefa da semiótica (grifo nosso).
Para Eco (2014, p. 60), “A semiose explica-se por si só. Esta con-
tínua circularidade é a condição normal da signicação, e é isto que permi-
te o uso comunicativo dos signos para referir-se a coisas”.
Almeida, Fujita e Reis (2013), exploram o modelo semiótico da
indexação de Mai (2001)
5
, e explicam a semiose no processo de indexação,
que seria entendida como “uma sequência de atos interpretativos geradores
de signos a partir de seus passos e elementos” (2013, p. 237). Na visão dos
autores, existe a possibilidade da continuidade da semiose no momento da
busca realizada pelos usuários, ou seja, quando estes entram em contato
com os termos selecionados pelo bibliotecário.
Pode-se constatar que o sujeito que realiza a leitura documenta-
ria em bibliotecas – preferencialmente – será um bibliotecário munido de
conhecimento prévio e de diversas estratégias prossionais de leitura. Este
conjunto de fatores torna o bibliotecário competente para a leitura com
ns de sumarização, e de maneira inferencial, diferenciando-o de um leitor
comum, que realiza uma leitura espontânea e do documento na íntegra –
fora do domínio prossional.
Ao contemplar a leitura sob um viés da semiótica, pode-se avaliar
que “ler é produzir um texto que tem como referente outro texto. A leitura
5
MAI, J-E. Semiotics and indexing: na analysis of the subject indexing process. Journal of Documentation, v.
57, n. 5, p. 591-622, 2001.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
268
e a interpretação são constituídas por uma relação intertextual, ou seja, um
texto que remete a outro, que é a sua razão de ser” (NERIS, 2006, p. 5).
Observa-se aqui, a inuência do conhecimento prévio do leitor em deter-
minada área, quanto mais este conhece sobre tal assunto, melhor e maior
será sua habilidade de criação de hipóteses por meio da abdução.
ellefsen (2002, p. 76) também explica que em alguns casos, o
contexto é um importante elemento a ser considerado. “Buscamos um con-
texto, que é tão bem denido que pode proporcionar inúmeros signos com
signicado especíco”. Entende-se que o que ellefsen considera em artigo
de 2002, é o contexto como fator decisivo na interpretação de signos, con-
sidera-se aqui o mesmo para prossionais – bibliotecários – que realizam a
leitura documentária. O conhecimento prévio sobre um assunto dentro um
domínio especico é o fator que destaca um prossional de outros.
Na seção seguinte, serão apresentados conceitos, características e
tipos de estratégias da leitura e da leitura documentária.
A leiturA dOcumentáriA
Pinto e Gálvez (1999, p. 40) denem a leitura de maneira geral
como passo inicial para a aquisição de informações textuais. É realizada de
forma automática, quase que inconscientemente, por estar muito enraiza-
da em nossa vida diária.
A leitura, na concepção de Fujita (2004, p. 2):
[...] apesar da individualidade do ato realizado, é um ato social por-
que existe um processo de comunicação e de interação entre o leitor
e o autor do texto, ambos com objetivos estabelecidos anteriormente
dentro do contexto de cada um. Apesar de, aparentemente simples e
tão natural, o processo de leitura possui uma complexidade que está
subjacente porque depende do processamento humano de informações
e da cognição de quem lê, de um texto elaborado por um autor e do
contexto de ambos, o que determina os objetivos da leitura.
Segundo Neves (2007, p.2) “no que diz respeito à compreensão
de um enunciado, a leitura de um texto é uma atividade cognitiva que
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
269
requer esforço mental/cognitivo, envolvendo: percepção, memória, infe-
rência e dedução”.
Para Livingston, o conhecimento sobre as variáveis de estratégias
de leitura inclui conhecimento sobre estratégias cognitivas e metacogniti-
vas, bem como conhecimento condicional sobre quando e onde é apro-
priado usar tais estratégias. (1997, p. 1)
A metacognição é um assunto bastante estudado em pesquisas
sobre leitura documentária, e de acordo com Livingston (1997, p. 2) sig-
nica: “’pensar sobre o pensamento’ e envolve supervisionar se uma meta
cognitiva foi cumprida. Este deve ser o critério de denição para determi-
nar o que é metacognitivo”.
Deve-se ter em mente que “as estratégias cognitivas e metacogni-
tivas estão estreitamente entrelaçadas e dependentes uma da outra, qual-
quer tentativa de examinar uma sem reconhecer a outra não forneceria
uma situação adequada” (LIVINGSTON, 1997, p. 2).
Sobre a leitura, conclui-se que é inerente ao ser humano o uso
de estratégias cognitivas e metacognitivas, e é por meio destas que o leitor
prociente está apto a formular hipóteses para compreender o texto.
A leitura documentária, por sua vez, apresenta aspectos que dife-
rem da leitura habitual, pois, não é realizada para lazer ou aprendizagem,
nem é prazerosa, muito pelo contrário. O alto grau de incerteza, ansiedade
e responsabilidade contido na atividade já mostra que ela traz pouca satis-
fação. (DIAS; NAVES, 2013, p. 41)
Para Dias, Neves e Pinheiro (2006, p. 142), os leitores:
[...] identicam informações relevantes, lêem as partes aparentemen-
te mais importantes, fazem inferências, lêem em voz alta, repetem e
reformulam uma idéia buscando sua correspondência na memória de
trabalho. Tomam notas, fazem pausas para reetir sobre o texto, elabo-
ram paráfrases, buscam padrões textuais, fazem predições. Relacionam
partes do texto buscando esclarecer dúvidas, interpretam o texto, emi-
tem juízos de valor sobre a qualidade do texto e a veracidade do relato,
entre outras.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
270
Tanto a redação quanto a leitura de um texto, são processos reple-
tos de complexidade. Koch (1998, p. 25) arma que “o sentido não está no
texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação”.
Um texto não apresenta signicado nele mesmo, é necessário que
haja uma interação a partir da leitura para que o signicado e conceitos que o
texto pretende passar sejam compreendidos pelo leitor (MAI, 2005, p. 604).
Em PVIs é comum identicar tal comportamento por parte dos
leitores procientes. Estes verbalizam suas estratégias, possibilitando me-
lhor entendimento de como processam a informação durante a leitura
documentária.
Assim como na leitura habitual, durante a leitura de um texto
com objetivos documentários, “são ativados esquemas variados, desde co-
nhecimento de vocabulário, conhecimento da estrutura textual, do assun-
to, até conhecimento de mundo” (FUJITA; NARDI; SANTOS, 1998, p.
14). O quadro abaixo apresenta uma comparação de estratégias de leitura
em quatro concepções teóricas distintas:
Brown Kato Cavalcanti
Cintra (citando
teóricos da ciência
da cognição)
Skill
Estratégia
Estratégia cognitiva
Estratégia
metacognitiva
Estratégia automática
Estratégia controlada
Estratégia automática
Estratégia controlada
Quadro 1: Estratégias de leitura conforme as concepções teóricas (p. 19)
Fonte: Fujita, Nardi e Santos (1998)
Nota-se que todas as concepções fazem uma distinção entre o
que seriam estratégias cognitivas e o que seriam estratégias metacogniti-
vas. O que Kato considera como estratégia cognitiva (Skill para Brown),
Cavalcanti e Cintra consideram como estratégia automática; E o que
Kato considera como estratégia metacognitiva (Estratégia para Brown),
Cavalcanti e Cintra consideram como estratégia controlada. Desta forma,
as estratégias cognitivas, ocorrem na leitura uida, do documento na ín-
tegra, e as estratégias metacognitivas, ocorrem durante uma leitura com
objetivos documentários.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
271
Na leitura documentária, “não é necessário, nem aconselhá-
vel uma leitura linear, letra por letra, palavra por palavra, o leitor avança
no texto à medida que consegue predizer o que vem a seguir” (FUJITA;
NARDI; SANTOS, 1998, p. 20). As autoras explicam como o leitor com
objetivos documentários deve proceder para efetuar a leitura documentária
de forma ecaz. Ele deve:
[...] buscar detectar a estrutura do texto. O leitor que tem facilidade
de reconhecer as superestruturas textuais capta melhor as ideias prin-
cipais do texto, do que um leitor que lê linearmente, fazendo esforços
desnecessários para compreender trechos isolados, mas sem apoiar-se
na estrutura textual e seus conhecimentos prévios para inferir signica-
dos, e levantar hipóteses que o ajudarão a apreender a temática global
(FUJITA; NARDI; SANTOS, 1998, p. 20) (grifo nosso).
A Leitura documentária está presente em diversos processos na
Organização do Conhecimento. Foi mencionado anteriormente que exis-
tem diversos aspectos, que de maneira previsível, inuenciam na leitura
documentária – independentemente do processo e dos produtos obtidos
por meio do tratamento de informações.
Alguns fatores podem afetar o processo de leitura, e consequente-
mente, a leitura documentária. Kato (1995) dene as condições de leitura:
a) o grau de maturidade do sujeito como leitor; b) o nível de complexidade
do texto; c) o estilo individual; d) o gênero do texto.
Cintra (1983, p. 5) explica que a análise de documentos com
ns documentários (indexação ou catalogação de assunto) pode ser reali-
zada pela leitura do documento processada pelo cérebro humano, ou por
máquina. Considera-se que a leitura por uma pessoa seja mais adequada
dentro de domínios especícos, devido à bagagem de informação e conhe-
cimento especico em dada área, adquiridos ao longo da vida (aspectos
mais detalhados a seguir).
Para Dias e Naves (2013, p. 39):
O processo de leitura depende da competência comunicativa do leitor,
competência essa que sofre inuência de vários fatores e, dentre esses
fatores, destacam-se: (a) a ação da memória que, incessantemente, rela-
ciona o não conhecido ao conhecido e (b) a participação da razão e suas
atividades complementares de indução e dedução, análise e síntese.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
272
ellefsen (2002, p. 77) supõe que uma pessoa inserida em um
domínio de conhecimento bem denido possui um nível maior de conhe-
cimento em relação aos conceitos do que uma pessoa fora do mesmo. A
escolha das áreas das bibliotecas universitárias pesquisadas por Reis (2012)
teve como base este argumento. Acredita-se que bibliotecários inseridos
em domínios especícos observariam estruturas textuais de forma diferen-
ciada (tendo em mente também, os tipos de estrutura textual dos livros e
suas variações dentro de cada área).
Dias e Naves (2013, p. 27) explicam a necessidade da observação
de estruturas textuais para a análise de documentos por meio da leitura:
Para a análise de assunto que se realiza em textos escritos é preciso que
seja feita uma leitura que possibilite a extração de conceitos que sin-
tetizem o conteúdo desses textos. Sabe-se da importância do texto, de
estruturas e de tipos de textos, bem como a forma especíca de leitura
que deve ser feita pelo indexador.
Como resultados de pesquisa de 2012, chegou-se a diversas con-
clusões, por meio da análise dos PVIs durante a leitura documentária. Foi
possível observar quais as partes da estrutura textual são mais consultadas
para a análise de assunto dos livros por parte dos bibliotecários em cada
área (bibliotecas de Humanas, Biológicas e Exatas).
Os prossionais responsáveis pela análise de assunto em bibliote-
cas na área de Humanas apresentam esquemas de leitura documentária que
proporcionam melhores resultados com relação à complexa estrutura dos
documentos da área de Humanas, mesmo que estas envolvam a leitura de
quase ou todas as partes da estrutura textual do livro.
Por outro lado, nas áreas de Biológicas e Exatas, os livros usados
durante as coletas de PVIs apresentam uma estrutura mais uniforme de
maneira geral, com um título bem representativo e um sumário que lista
grande parte dos conteúdos apresentados nos capítulos. Esses fatores auxi-
liam o bibliotecário no momento da leitura documentária, mesmo quando
os livros estão em outra língua (que o leitor não domina).
Por meio da análise da leitura documentária dos bibliotecários
em cada área, foi possível observar as partes da estrutura textual que são
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
273
mais usadas para a análise de assunto dos livros. Os resultados foram ex-
postos em quadros, listando as partes das estruturas textuais por área e
comparando-as.
Ao considerar as variáveis que envolvem a leitura, e com base em
Kato (1995), foi elaborado o seguinte quadro:
As condições de leitura (KATO, 1995)
Leitura documentária (categorização para
estudos)
a) o grau de maturidade do sujeito como leitor;
•Conhecimento prévio/ enciclopédico/ de
mundo dentro de um domínio especíco;
b) o nível de complexidade do texto;
d) o gênero do texto;
•Livros em áreas especicas (Humanas)
dentro de um domínio especíco;
c) o estilo individual;
•Aspectos semióticos da leitura (observação
da Abdução, Dedução e Indução como
características inferenciais);
Quadro 2: As condições de leitura e as variáveis observadas na Leitura documentária
Fonte: Elaborado pela autora
Embora os resultados da dissertação de 2012 tenham sido signi-
cativos – no sentido de que se pode notar a tendência de analise de partes
de estruturas textuais de livros em cada área do conhecimento – considera-
-se necessário pesquisar a leitura de maneira mais aprofundada, origem do
interesse pelos aspectos semióticos observados na leitura em pesquisa atual.
discussãO e resultAdOs
Para Eco (2014, p.118), logicamente falando, “interpretação é
uma INFERÊNCIA. Inicialmente, assemelha-se ao tipo de inferência lógi-
ca que Peirce chamou de ‘abdução’ (e em certos casos de ‘hipótese’)” (grifo
nosso).
Diversos autores explicam a abdução, dedução e indução. Eco
(2001) apresenta os conceitos com base na teoria de Peirce. De acordo com
o proposto nesta pesquisa, daremos mais enfoque à abdução:
A abdução ou hipótese é amplamente descrita por Peirce em diversos
pontos da sua obra [...]
6
. Comparada com a dedução e a indução, ela dá
lugar aos três diferentes esquemas inferenciais da gura seguinte onde as
6
[cf. em particular 1902b, tradução italiana, p. 105-6; 1878, ed. 1951-58, §§ 619-635]
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274
casas delineadas a cheio exprimem os estádios argumentativos para os
quais se têm proposições já vericadas e as casas a tracejado os estádios
argumentativos produzidos pelo raciocínio (ECO, 2001, p. 54):
Dedução Indução Abdução
Regra Regra Regra
Caso Caso Caso
Resultado Resultado Resultado
Figura 1: Dedução, Indução e Abdução de acordo com ECO
Fonte: Eco, 2001, p. 54
A Dedução prova que algo deve ser; A indução mostra que
algo está operacional; Abdução simplesmente sugere que algo pode ser
(PEIRCE, 1931-1958, 171).
Para Eco:
Que depois haja indícios circunstanciais e contextuais a dirigir-me
para o estabelecimento da regra, não altera em princípio a estrutura
do processo interpretativo. A abdução intervém também quando devo
interpretar guras retóricas e quando devo interpretar vestígios, sinto-
mas, indícios (veja-se a referência hipocrática ao contexto). O mesmo
acontece, no entanto, quando quero interpretar o valor que um dado
enunciado, uma palavra-chave, todo um episódio, assumem num tex-
to. A Abdução representa, pois, o propósito, a tentativa arriscada, de
um sistema de regras de signicação à luz das quais um signo adquirirá
o seu signicado (2001, p. 56)
O fato da abdução “simplesmente sugerir que algo pode ser”,
coloca a responsabilidade da interpretação nas estratégias metacognitivas
desenvolvidas pelo prossional durante toda sua vivencia prossional den-
tro de um ou vários domínios.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
275
Seguindo essa linha de pensamento, na leitura documentária para
indexação, Almeida, Fujita e Reis explicam que “a abdução é a etapa cria-
tiva na indexação, a dedução é a etapa generalizadora e a indução é a fase
do teste e da continuidade da representação dos assuntos” (2013, p. 238).
Em diversos processos que envolvem a leitura documentária (in-
dexação, catalogação de assunto e classicação), esta, é sempre o primeiro
contato do prossional com o documento. É neste momento que se pode
observar a atividade inferencial e/ou abdução.
Desta forma, considera-se a abdução, como etapa mais impor-
tante observada no processo de tratamento temático da informação, pois é
neste momento que o bibliotecário exibe toda sua peculiaridade interpre-
tativa por meio da leitura documentária.
Em etapas seguintes de tais processos de tratamento temático, des-
taca-se a importância do uso de manuais, ferramentas, políticas, etc. Durante
a abdução, o leitor prociente tem a liberdade para reetir sobre o assunto
do documento, antes de traduzir tudo que ele considera importante na re-
presentação para uma linguagem documentária, observa-se neste momento,
a importância desta etapa inicial. As etapas nais não poderão ocorrer de for-
ma apropriada, sem a devida atenção na etapa inicial – leitura documentária.
À vista disso, podemos considerar que a abdução ocorre durante
o primeiro contato do sujeito com o texto, momento em que este aplica
todo seu conhecimento prévio, e simultaneamente, é inuenciado pelo do-
mínio em que está inserido. O leitor não tem a resposta exata do assunto do
documento, mesmo porque, a leitura documentária não procura ser, e não
deve ser exata. Depende do domínio e de seus objetivos, o que, portanto,
relaciona a leitura documentária diretamente à abdução (esta sugere o que
pode ser – não há uma certeza, como observado, por exemplo, na dedução).
INFERÊNCIAS ABDUTIVA DEDUTIVA INDUTIVA
DEFINIÇÃO
Criação de hipóteses
ou sugestões
explicativas sobre
os conteúdos do
documento
Análise das
consequências da
atribuição de assunto
ao documento
Teste e experimentação
com a suposta
linguagem do sistema
e do usuário
CATEGORIAS Primeiridade Secundidade Terceiridade
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NATUREZA Possibilidade Generalidade Continuidade
ETAPAS Criação Análise Comparação
ETAPAS DA
LEITURA
DOCUMENTÁRIA
Primeiro contato
do sujeito com o
documento, etapa
criativa proporcionada
pelo conhecimento
de mundo e do
domínio. O sujeito
já tem uma noção
básica do assunto do
documento.
Etapa em que ocorre
a conferencia da parte
criativa por meio da
análise da estrutura
textual do documento.
Consideram-
se, também, as
particularidades do
domínio.
Etapa envolvendo
processos nais de
Tratamento Temático
da Informação
(catalogação de
assunto e indexação).
Quadro 3: Processo Inferencial de Indexação
Fonte: Adaptado de Almeida, Fujita e Reis (2013)
O conceito de abdução explica de forma consistente o que ocorre
durante a leitura documentária, na mente do sujeito. Acredita-se que por
meio deste esclarecimento conceitual seja possível fazer uma análise prós-
pera dos processos mentais durante a leitura documentária em um domí-
nio especíco. A inferência dedutiva é observada principalmente durante
o contato do sujeito com estruturas textuais. A inferência indutiva deve
ocorrer após a fase de leitura documentária, na continuidade que ocorre
com o contato do usuário com os produtos do tratamento da informação.
Com base nos conceitos apresentados, e em alguns trechos
7
de seis
PVIs (nas três áreas do conhecimento), coletados e apresentados em Reis
(2012), foi realizada uma análise, relacionando os tipos de inferência dos tre-
chos mais importantes na determinação do assunto principal do documento.
áreA de biOlógicAs 001:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Então, só de olhar pelo título você já sabe né mais ou menos qual
desses cinco assuntos você vai encaixar.
7
Os PVIs completos podem ser encontrados nos apêndices de Reis (2012)
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
277
etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Aí nesse aqui eu vou começar pela pagina de rosto, pra leitura técnica
que eu faço eu gosto de ler todo o conteúdo {refere-se ao contents do livro}, leio
o conteúdo, leio o prefácio, porque por mais que/ por exemplo, o título seja bem
explícito, né?
áreA de biOlógicAs 002:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Agora a próxima obra né, [Ortopedia funcional e mecânica
dos maxilares] {leitura do título}. Esse caso aqui já seria um livro mais
específico, da área de Ortodontia, e uma experiência a gente já/ seria
um livro bem mais específico do que os dois anteriores né, quer di-
zer, fosse bibliotecário/ começando, a gente acharia que é tudo igual
– Comentário após o primeiro contato com o livro. Comentário
sobre o nível de especificidade do livro, e como um bibliotecá-
rio com pouca experiência teria dificuldade em realizar a leitura
documentária.
etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Agora com relação a esta outra obra né, os mesmos passos né, a gente
vai abrir, vai ver a folha de rosto né, como nessa outra também não tem/ o
título é [Ortodontia preventiva básica] {leitura do título} do [Alael de Paiva
Lima] {leitura do autor do livro} a gente vê a folha de rosto né, daí dá uma
olhada no/ faz uma leitura do prefácio
áreA de exAtAs 001:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Objeto-orientado, então o livro é básico de geometria algébrica, que
é um assunto básico da matemática pura, com aplicações, é um assunto que a
gente tem que é objeto-orientado. – Comentário após o primeiro contato
com o livro, por meio do título.
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etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Aí, uma coisa que eu gosto muito de olhar é o prefácio. Porque a
parte de prefácio, ela sempre vai me dar informação do livro, por exemplo,
se o livro já foi publicado anteriormente, se eles zeram um estudo de uma
coletânea de vários artigos pra basear esse livro
áreA de exAtAs 002:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Eu ainda não tô denindo o assunto, mas ele já ta me dando indícios
de onde o assunto, o livro vai car, que área pelo menos. Eu sei que é da
computação. – Comentário após o primeiro contato com o livro, por
meio do título e do autor.
etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Então esse daqui já tá denido e eu me baseei pela cha catalográca
que tá no verso da folha de rosto, e também no título, porque sem eu ver a cha
eu já tinha denido.
áreA de humAnAs 001:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Ó, esse aqui, [Cogitações sobre o número] {leitura do título}. Do que
será isso né? Aí a gente tem que procurar. Aqui, o que que a gente vai ter que
fazer, se está falando de cogitações sobre o número, deve ser automaticamente
algo sobre o número. Aí o que que eu faço, vou procurando. Comentário
após o primeiro contato com o livro, por meio do título (inferência
abdutiva). Neste caso, a primeira noção do assunto do livro estava
errada, o que foi constatado ao buscar informações em outras partes
da estrutura textual do livro (inferência dedutiva).
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
279
etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
[...] tem que olhar aqui dentro mesmo, aqui ó, isso aqui é historia da
arte, ó, esse título aqui, esse aqui não tem cha catalográca, então o que a gente
faz, será que é losoa? {olha o sumário} Isso aqui vai ser “losoa” porque fala
de dialética, identidade, então a gente vai tirando tudo que tem. – Vericação
do assunto do livro por meio de consulta de estrutura textual.
áreA de humAnAs 002:
etApA AbdutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
[...] então eu vou terminar esse daqui, eu tava no meio, eu tinha
visto que era sobre estética na Idade Média, pensando no título [Estética na
Idade Média], ele me dá alguma indicação.
etApA dedutivA ObservAdA nA leiturA dOcumentáriA (trechOs):
Mas com relação ao livro mesmo eu costumo usar mesmo basicamente
a catalogação na fonte, e também no sumário na apresentação.
De acordo com os trechos apresentados acima, é comum observar
a inferência abdutiva por meio da consulta do titulo do documento. O lei-
tor prociente terá uma noção da área do livro ao ler seu titulo (inferência
abdutiva), e a consulta às outras partes da estrutura textual ocorrem após
esse primeiro contato (inferência dedutiva).
Especicamente na área de Humanas, observa-se com mais fre-
quência a inferência abdutiva, mesmo que incorreta, tornando a inferência
dedutiva essencial no processo de leitura documentária. Ambas se com-
pletam, uma leitura que foca em apenas um tipo de inferência, deve ser
considerada incompleta.
Os quadros 2, 3 e a análise dos trechos de leitura apresentados,
são evidencias de que é possível categorizar o pensamento verbalizado de
sujeitos durante a leitura documentária, utilizando metodologias especi-
cas e a teoria da semiótica. Tais constatações foram proporcionadas por
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
280
resultados de pesquisas anteriores e estudos teóricos apresentados aqui.
Recomenda-se a aplicação em um domínio especico da área de Humanas.
cOnsiderAções finAis
Com base nos conceitos expostos sobre os aspectos semióticos da
leitura documentária, pode-se concluir que de fato, a leitura documentária,
é um processo inferencial, e que ocorre por meio da abdução e da dedução.
As etapas nais dos processos de tratamento temático da informação, so-
mente são possíveis graças ao uso de estratégias inferenciais indutivas por
parte dos leitores procientes (bibliotecários).
Recomenda-se a aplicação das teorias semióticas em domínios es-
pecícos (principalmente da área de Humanas – pois, conforme observado
por Reis (2012), a leitura documentária no tratamento temático é mais
complexa nesta área). Acredita-se que por meio de análises baseadas em
teorias da semiótica, seja possível mapear de forma mais adequada – aos
produtos nais do tratamento temático da informação – os processos me-
tacognitivos em leitura documentária de cada prossional.
A intenção não é criar um modelo ou padrão, e sim, realizar uma
tentativa de esquematizar como leitores procientes realizam a leitura do-
cumentária em determinados contextos com base em livros especícos de
uma área e no comportamento do sujeito durante a atividade. Em pesqui-
sas anteriores, o livro (suporte tradicional), foi o material usado para aná-
lise, sem o cuidado de observar que tipos de livros existem dentro de cada
área (Ex: Humanas: literatura ou conteúdo? Em Direito? Em Psicologia?
Qual área especíca?).
Sugere-se que a aplicação seja detalhada, observando os tipos de
livros a serem tratados, com base em teorias da semiótica, especicamente,
a abdução e dedução.
referenciAs
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283
Apêndice 1
mOdelO de leiturA pArA indexAçãO
de textOs
científicOs: mAnuAl explicAtivO
1
O manual explicativo contém o modelo de leitura acompanhado
de explicações, a cada etapa de sua realização, seguido de muitos exemplos
que ilustram sua aplicabilidade. De acordo com o Manual, a orientação
para a leitura está dividida em três etapas: exploração da estrutura textual,
identicação de conceitos e seleção de conceitos. Em cada uma destas
etapas os procedimentos são esclarecidos um após o outro, deixando trans-
parecer uma preparação conceitual e losóca sobre indexação baseada nos
resultados da pesquisa.
Apresenta-se, a seguir, o manual explicativo do “Modelo de leitura
para indexação, cuja demonstração é feita a partir de orientações explicativas
para que indexadores possam realizar um passo-a-passo” da tarefa.
mOdelO de leiturA pArA indexAçãO de textOs científicOs
Manual explicativo
1
Sintetizado e adaptado da tese de Livre-Docência: (FUJITA, 2003, p. 226-243);
Parte do Capítulo A leitura documentária e o processo de compreensão do indexador: memorial de investigação
cientíca”.
Publicado em:
FUJITA, M. S. L., RUBI, M. P. Um modelo de leitura documentária para a indexação de artigos cientícos:
princípios de elaboração e uso para a formação de indexadores. Data Grama Zero, Rio de Janeiro, v. 7, n.3, p.
1-18, 2006a.
FUJITA, M. S. L., RUBI, M. P. Modelo de lectura profesional para la indización. Scire (Zaragoza), v.12, p.
47 – 70, 2006b.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
284
A leitura documentária, realizada pelo indexador na fase de aná-
lise, visa a propiciar a “identicação de conceitos” para posterior represen-
tação em índices que satisfaçam a demanda do usuário.
A indexação em análise documentária, sob o ponto de vista dos
sistemas de recuperação de informação, é reconhecida como a parte mais
importante porque condiciona os resultados de uma estratégia de busca. O
bom ou mau desempenho da indexação reete-se na recuperação da informa-
ção feita por meio de índices. Isso nos leva a considerar que a recuperação
do documento mais pertinente à questão da busca é aquele cuja indexação
proporcionou a identicação de conceitos mais pertinentes ao seu conte-
údo, produzindo uma correspondência precisa com o assunto pesquisado
em índices.
Na identicação de conceitos, o indexador, após o exame do tex-
to, passa a abordá-lo de uma forma mais lógica a m de selecionar os
conceitos que melhor representem seu conteúdo. E a seleção de termos
é necessária tendo em vista os objetivos para os quais as informações são
indexadas. Assim, nem todos os conceitos identicados serão necessaria-
mente selecionados.
No contexto da análise para indexação, a leitura constitui a ati-
vidade principal da indexação, pois é a fase inicial que inuenciará no
desempenho de outras operações e resultará na seleção de termos que irão
representar o documento para o usuário. Assim, a leitura passa a ser mais
direcionada aos objetivos de indexação, diferente, pois, da leitura para ou-
tros ns.
Considerando-se que a identicação de conceitos é o objetivo da
leitura documentária e a operação mais importante da indexação, conclu-
ímos que:
- a identicação de conceitos pode depender do domínio do
indexador na exploração da estrutura textual;
- existem duas operações distintas realizadas pelos indexadores
durante (e não após!) a leitura – Identicação de conceitos e
Seleção de termos.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
285
Assim, essa instrução de leitura estará dividida em três procedi-
mentos principais:
I. Exploração do conhecimento da estrutura textual
II. Identicação de conceitos
III. Seleção de conceitos
explOrAçãO dO cOnhecimentO de estruturA textuAl
1. Observação da estrutura textual: ize no texto cientíco os ele-
mentos que o compõem, mesmo que não estejam evidentes nos itens ou
sinalizados por meio de destaques. Todo texto possui uma estrutura, evi-
dente ou não, que podemos denominar de superestrutura. Essa observação
deve ser feita, portanto, com base na superestrutura, pois indicará, com
maior objetividade, qual é o assunto tratado no texto, evitando que se
cometam equívocos:
- Título em português
- Título em inglês
- Autoria
- Resumo do trabalho cientíco
- Palavras-chave
- Abstract
- Keywords
- Introdução
- Materiais e métodos
- Resultados
- Figuras
- Discussão dos resultados
- Conclusões
- Referências bibliográcas
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
286
1. ização do conteúdo pertinente de cada uma dessas partes do
texto. Verique que o conteúdo pertinente a cada parte do
texto demonstra um padrão, tal como:
- Introdução: explicação do assunto principal com referencial
teórico, contendo os objetivos com o tema principal do
trabalho ao nal da introdução;
- Materiais e métodos: descrição de materiais e métodos
utilizados, processos, técnicas, amostragem;
- Resultados: compatibilidade com objetivos enunciados e
materiais e métodos utilizados, utilizando , às vezes, guras,
grácos, tabelas, fotograas etc.;
- Discussão dos resultados: vericação dos resultados a partir
do referencial teórico utilizado;
- Conclusões: vericação dos objetivos propostos;
- Referências bibliográcas
IMPORTANTE: a realização da etapa 2 é imprescindível, pois resultará
na compreensão global do texto.
II. identificação de conceitos
A metodologia utilizada para identicação de conceitos será rea-
lizada combinando a exploração da estrutura textual e o questionamento.
A identicação de conceitos é a etapa principal da indexação e
dependerá da compreensão do que é conceito e qual a sua importância.
Conceito é a formulação de uma idéia por palavras. Tomemos como exem-
plo o conceito agente que pode ser denido por aquele ou algo que realizou
a ação. Isso signica que o conceito agente poderá ser representado por
uma palavra no texto, que dependerá do contexto, para identicar-se com
a idéia de agente. Assim, asseguramos que esses conceitos poderão ser
identicados em qualquer texto, garantindo uma uniformidade de identi-
cação de conceitos e de compreensão global do texto que, de outra forma,
não seria possível por não termos parâmetros de compreensão.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
287
Ex.: Destruição de plantações de café pela geada.
O agente neste caso é a geada, pois ela “praticou” a ação de des-
truição de plantações de café.
Compreensão de conceitos
Os conceitos essenciais do documento são:
OBJETO: é algo ou alguém que está sob estudo do pesquisador.
AÇÃO: processo sofrido por algo ou alguém
AGENTE: aquele ou algo que realizou a ação
MÉTODOS: métodos utilizados para realização da pesquisa
 FÍSICO OU AMBIÊNCIA: físico onde foi realizada a
pesquisa
CAUSA E EFEITO:
- causa => razão ou motivo. Aquilo ou aquele que faz com que uma
coisa exista ou aconteça (antecedente); está vinculada à identicação
da AÇÃO.
- efeito => produto de uma causa. Resultado de um ato qualquer
(conseqüente); está vinculado ao resultado da AÇÃO realizada.
Assim, o suposto efeito ou conseqüente deve variar cada vez que
varia a suposta causa ou antecedente.
Ex.: Grupos familiares carentes que migram tendem a
desorganização interna.
Causa: processo de migração
Efeito: desorganização interna do grupo familiar
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288
Identicação de conceitos mediante exploração da estrutura textual
Para conseguir um melhor resultado na identicação de conceitos,
você poderá utilizar partes do texto em que os conceitos, geralmente,
poderão ser identicados:
PARTES DO TEXTO CONTEÚDO PERTINENTE CONCEITOS DE
Introdução
(objetivos)
Referencial teórico
Tema: objetivos*
Objetivos
OBJETO
AGENTE
AÇÃO
Metodologia
Descrição de materiais,
métodos, processos e técnicas
utilizados.
MÉTODOS
FÍSICO
MATERIAIS
Resultados
Discussão dos resultados
Compatibilidade com
objetivos enunciados
e materiais e métodos
utilizados, mostrados, às vezes
em tabelas;
Vericação dos resultados a
partir do referencial teórico
utilizado
CAUSA E EFEITO
Quadro 1: Identicação de conceitos mediante exploração da estrutura textual
* observe que o tema, geralmente, está expresso no objetivo.
Questionamento do texto para identicação
Por outro lado, esse resultado poderá ser obtido mais facilmente se
você utilizar o questionamento a seguir, pois as respostas a essas perguntas
implicarão uma análise do documento e darão origem à seleção de termos.
Abaixo temos um exemplo que demonstra o uso do
questionamento e a obtenção de termos como resposta à identicação dos
conceitos estabelecidos.
Ex.: Proliferação da ora anaeróbia no intestino delgado em
lactentes portadores de diarréia aguda e persistente.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
289
1. O ASSUNTO CONTÉM UMA AÇÃO (PODENDO
SIGNIFICAR UMA OPERAÇÃO, UM PROCESSO ETC.)?
=> AÇÃO: proliferação
2. O DOCUMENTO POSSUI EM SEU CONTEXTO UM
OBJETO SOB EFEITO DESTA AÇÃO?
=> OBJETO: ora anaeróbia
2.1 O OBJETO IDENTIFICADO PODE SER CONSIDERADO
COMO PARTE DE UMA TOTALIDADE?
=> PARTE DO OBJETO: “ora anaeróbia” é parte do “intestino
delgado” que é parte do todo “lactente
2.2 O OBJETO IDENTIFICADO POSSUI CARACTERÍSTICAS
OU ATRIBUTOS PARTICULARES?
No exemplo dado não existe característica ou atributo, mas em
outro exemplo, seria:
Substância aromática do vinho
vinho: objeto
substância aromática: atributo
3. O DOCUMENTO POSSUI UM AGENTE QUE PRATICOU
ESTA AÇÃO?
=> AGENTE: microorganismos anaeróbios
4. PARA ESTUDO DO OBJETO OU IMPLEMENTAÇÃO DA
AÇÃO, O DOCUMENTO CITA E/OU DESCREVE MODOS
ESPECÍFICOS, POR EXEMPLO: INSTRUMENTOS
ESPECIAIS, TÉCNICAS, MÉTODOS. MATERIAIS E
EQUIPAMENTOS?
=> MÉTODOS: Intubação intestinal; análise morfológica das
colônias
=> MATERIAIS:
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290
5. A AÇÃO, OBJETO E AGENTE SÃO CONSIDERADOS NO
CONTEXTO DE UM LUGAR ESPECÍFICO OU AMBIENTE?
=> FÍSICO OU AMBIÊNCIA: a pesquisa foi realizada em
Unidades de Gastroenterologia Pediátrica
6. CONSIDERANDO QUE A AÇÃO E O OBJETO
IDENTIFICAM UMA CAUSA, QUAL É O EFEITO DESTA
CAUSA?
=> CAUSA: proliferação da ora anaeróbia (AÇÃO+OBJETO);
=> EFEITO: diarréia aguda e persistente, pois quando há
aumento da proliferação da ora anaeróbia, agrava-se diarréia
aguda e persistente.
Observação: às vezes, nem todas as questões poderão ser respondidas.
Após a compreensão do texto citado, faça a identicação de concei-
tos combinando a exploração da estrutura textual com o questionamento.
iii. seleção de conceitos
A partir da identicação de conceitos, realizada por meio das res-
postas a essas questões, selecione os conceitos que você considera impor-
tantes para uma representação mais pertinente ao conteúdo do documento
e que constem do sistema, conforme linguagem adotada, promovendo a
garantia de uso do documento.
Exemplo:
TERMOS IDENTIFICADOS TERMOS SELECIONADOS
Flora anaeróbia Flora anaeróbia
Proliferação Proliferação da ora anaeróbia
Microorganismos anaeróbios Microorganismos anaeróbios
Intubação intestinal Análise morfológica
Análise morfológica das colônias Diarréia aguda
Unidades de Gastroenterologia Pediátrica Diarréia persistente
Proliferação da ora anaeróbia
Diarréia aguda e persistente
Quadro 2: Identicação e seleção de termos
291
Apêndice 2
diretrizes teóricO-metOdOlógicAs sObre
leiturA dOcumentáriA pArA indexAçãO
2
Mariângela Spotti Lopes Fujita
O Programa de orientação à formação do indexador em leitura
documentária contém os principais subsídios teóricos e metodológicos das
investigações dos Eixos I e II que fundamentam o aprimoramento do en-
sino de indexação.
Os subsídios mais importantes coletados referem-se aos seguintes
itens: Leitura e estratégias de leitura; O texto e sua estrutura; O indexador
como leitor: suas estratégias e conhecimento prévio; O leitor prossional
e seu contexto. A organização desses subsídios pautou-se pela perspectiva
interacionista das variáveis que participam do processo de leitura: o texto,
o leitor e o contexto, produzindo a estrutura básica: Leitura em análise
documentária; As variáveis inuentes na leitura: o texto, o indexador como
leitor e o contexto.
2
Sintetizado e adaptado da tese de Livre-Docência: (FUJITA, 2003, p. 244-251):
Parte do Capítulo A leitura documentária e o processo de compreensão do indexador: memorial de investigação
científica”.
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292
1 leiturA e estrAtégiAs de leiturA
A leitura, segundo Kleiman (2000), é um ato individual realizado
por apenas um leitor, porém, é também um ato social porque existe um
processo de comunicação entre o leitor e o autor do texto, ambos com ob-
jetivos estabelecidos anteriormente dentro do contexto de cada um.
O leitor traz consigo seu conhecimento prévio, suas experiências
acumuladas, seus valores, e utiliza essa bagagem para interagir com o texto
(os pontos de vista, as intenções do autor e suas idéias implícitas no texto)
(CAVALCANTI, 1989).
Com visão semelhante à de Cavalcanti, Giasson (1993) acredi-
ta que o leitor cria sentido, apoiando-se simultaneamente no texto, nos
seus conhecimentos prévios e na intenção da leitura. Qualquer processo
de compreensão de texto escrito, portanto, é um ato de comunicação que
envolve essas três variáveis: o leitor, o texto contendo as idéias do autor e o
contexto e variará de acordo com o grau de relação entre elas.
A interação entre as três variáveis desenvolve-se durante o pro-
cesso de compreensão de leitura, principalmente, pelo uso de estratégias
entendidas como ações conscientes do leitor (metacognitivas) direcionadas
para um objetivo ou para busca de solução de problemas de compreen-
são ou como ações subconscientes (cognitivas) durante a leitura uida.
Durante a leitura são ativados esquemas variados, desde conhecimento de
vocabulário, conhecimento da estrutura textual, do assunto, até conheci-
mento de mundo. O conhecimento prévio, importante para a compreen-
são, é aquele existente na memória a longo prazo, a qual é permanente,
ilimitada e constituída de esquemas (representações generalizadas), que
podem ser ativados durante o processo de leitura por dois movimentos
complementares interativos: bottom-up e top-down.
A característica principal deste modelo do processo de leitura de
Rumelhart (1977) é a interação dos componentes de cada nível, a ativação
de todos os subprocessos e a inuência da informação contextual em todo
o processamento. Pinto e Gálvez ([1996], p. 45) consideram o modelo in-
terativo de Rumelhart (1977) o que melhor representa a atuação do sujeito
documentalista porque:
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
293
... quando está lendo um texto cujo assunto lhe seja desconhecido, pro-
cederá dos níveis mais inferiores ao superiores, fará uma leitura lenta,
detalhada, ascendente ou bottom-up. Ao contrário, quando o texto
for familiar, realizará uma leitura “entre linhas” - descendente ou top-
-down -, antecipando informações e dirigindo-se a uma representação
do conteúdo global do texto.
A construção do sentido do texto, segundo Kleiman (1989,
p. 13), depende da “[...] interação de diversos níveis de conhecimento,
como o conhecimento lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo.
Segundo a autora, o conhecimento textual desempenha um papel impor-
tante na compreensão de textos, pois o domínio da tipologia documentária
e da estrutura textual são dois tipos de conhecimento prévio que poderão
aumentar compreensão do indexador durante o processo descendente de
leitura.
O mais importante, porém, é que o leitor possa monitorar sua
compreensão durante a leitura e isso é possível pela metacognição, en-
volvendo um conjunto de estratégias metacognitivas. A metacognição em
leitura permite ao leitor uma compreensão de sua própria compreensão, ou
melhor, que ele possa acompanhar e avaliar seu processo de compreensão
durante a leitura de um texto e, além disso, tomar providências quando a
compreensão falha (LEFFA, 1996, p.45). Além das estratégias metacogni-
tivas existem as cognitivas que são características em uma leitura mais ui-
da. O uso de estratégias cognitivas e metacognitivas será alternado durante
a leitura e sempre tenderá a um equilíbrio.
O uso de estratégias ainda que não seja facilmente observável,
porque ações mentais, como associações e deduções durante a leitura,
não podem ser vistas, pode ser verbalizado. Para observar essas estraté-
gias durante a leitura, existem métodos introspectivos, um dos quais é o
Protocolo Verbal, inicialmente utilizado em Psicologia Cognitiva e depois
em Lingüística Aplicada. Para conferir natureza metacognitiva às ações
mentais, Brown (1980, p.456) indica as seguintes atividades:
explicitação dos objetivos da leitura; identicação de aspectos impor-
tantes da mensagem; alocamento de atenção a áreas importantes; mo-
nitoração do comportamento para ver se está ocorrendo compreensão;
engajamento em revisão e auto-indagação para ver se o objetivo está
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
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294
sendo atingido; tomada de ações corretivas quando são detectadas fa-
lhas na compreensão; recobramento de atenção quando a mente se
distrai ou faz digressões.
O estudo sobre “Leitura” e “Estratégias de Leitura” revelou que
a leitura para ns documentários exige que o leitor seja metacognitivo.
O leitor documentalista deve fazer uso principalmente de estratégias me-
tacognitivas tais como a exploração do seu conhecimento de estruturas
textuais e deve manter em mente o seu objetivo de representar o texto para
futura recuperação, considerando as limitações da tarefa de indexação e os
objetivos do sistema de informação no qual se insere.
Considerando-se que a leitura documentária desenvolve-se du-
rante a análise de assunto, certamente, a formação do indexador deve in-
cluir a compreensão do processo de análise, visto que é etapa mais impor-
tante porque dela deverá resultar a representação do assunto principal do
documento.
Conforme resultados da observação de estratégias de leitura, está
explícito que existem duas operações distintas utilizadas pelos indexadores
durante a leitura: Identicação de conceitos e Seleção de conceitos. A seleção
de conceitos ocorre em dois momentos diferentes da análise de assunto:
durante a identicação de conceitos para a determinação do assunto e,
após a identicação de conceitos, durante a tradução dos termos que repre-
sentam os conceitos para os termos da linguagem documentária adotada
pelo serviço de análise.
Destaca-se, entretanto, que a análise de assunto reveste-se de
uma subjetividade característica, dadas as circunstâncias e elementos en-
volvidos, pois é realizada a partir da leitura do documento pelo inde-
xador. A questão da identicação do assunto do documento está, pois,
vinculada à leitura. A leitura é uma atividade autônoma que instrumen-
taliza a análise de assunto. No momento em que o indexador busca efe-
tivamente o assunto, começa a intersecção com a análise. Antes dessa
busca, o leitor observa a estrutura textual para descobrir em quais partes
do texto encontrará os conceitos a serem identicados e selecionados
durante a análise de assunto.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
295
A análise de assunto implica a determinação da tematicidade do
documento mediante a identicação e seleção dos conceitos que comporão
o assunto ou tema principal e secundários.
O tema possui uma estrutura composta por conceitos ou cate-
gorias ou facetas. A identicação das categorias ou conceitos na estrutura
textual do documento decorrerá da análise conceitual e a composição das
categorias identicadas formulará o tema do documento.
A identicação da estrutura temática, composta pelos conceitos,
leva à identicação do tema. Contudo, dependendo da legibilidade e da
estrutura textual, o tema poderá estar formulado no objetivo do trabalho
de forma clara ou, quando isto não acontecer, a identicação dos conceitos
deverá ser feita dentro da estrutura textual do documento.
Portanto, podemos considerar que a primeira etapa do processo
de indexação, a análise de assunto, constitui-se das seguintes fases:
- Determinação da tematicidade intrínseca
- Identicação de Conceitos
- Seleção de Conceitos
- Determinação da tematicidade extrínseca
Conforme Albrechtsen (1993, p.221), dependendo dos objeti-
vos institucionais, percebe-se qual a concepção de análise de assunto que
o sistema de informação segue e, conseqüentemente, o indexador levará
esse aspecto em questão. Consideram-se, assim, diferentes concepções de
análise que, certamente afetam o desempenho do indexador enquanto lei-
tor. A esse respeito, Albrechtsen (1993, p.220) considera três diferentes
concepções de análise de assunto: a concepção simplista, a orientada para
o conteúdo e a orientada para a demanda.
A concepção simplista lida com as informações explícitas dos do-
cumentos, considerando o assunto como abstração direta dos documentos.
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296
A concepção orientada para o conteúdo envolve uma interpre-
tação do conteúdo do documento que vai além da estrutura léxica e, às
vezes, gramatical do texto, ou seja, envolve aspectos mais complexos que o
processo da concepção simplista.
A concepção orientada para a demanda envolve os dados do as-
sunto como instrumentos de transferência do conhecimento, apontando
um encontro pragmático da informação ou do conhecimento. Este tipo
de indexação envolve um alto grau de responsabilidade por parte do in-
dexador, ao julgar a qualidade do documento para usuários potenciais,
tornando-se necessário antecipar a demanda, indo além das fronteiras que
separam acervo e usuários.
De acordo com Naves (1996), as duas últimas concepções -
orientada pelo conteúdo e orientada pela demanda – são complementares.
Consideramos que são mais do que complementares, são intrínsecas por-
que no momento em que o indexador está lendo e procurando identicar
e selecionar conceitos para a determinação do assunto do documento está
objetivando encontrar o assunto que lhe é familiar devido à sua prática
de indexação e também o que pode interessar ao usuário do sistema de
informação.
A concepção de leitura orientada para o conteúdo deve orientar
a identicação de conceitos e a concepção orientada para a demanda, a
seleção de conceitos durante a leitura documentária.
2 As vAriáveis influentes nA leiturA: O textO, O leitOr e O cOntextO
Na variável texto, constatou-se que o conhecimento da estrutura
textual permite ao indexador uma estratégia que facilita a leitura e com-
preensão do conteúdo e agilidade na leitura, pois em muitos momentos da
leitura o indexador pode praticamente “saltar” de um trecho a outro para
buscar o que precisa. Pela variável leitor, considerou-se que o indexador
torna-se um leitor no ato de análise de um documento com a nalidade de
realizar a indexação para representação do conteúdo por termos que serão,
posteriormente, recuperados por um usuário do sistema de informação.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
297
Na variável contexto, Giasson (1993) indicou três elementos extratexto:
contexto psicológico (intenção de leitura, interesse pelo texto), contexto social
(intervenção dos colegas e dos chefes imediatos) e o contexto físico (o tempo
disponível, as condições materiais).
2.1 O textO
Dentre as várias acepções do que vem a ser o texto, Koch (2002,
p. 17) o coloca na concepção interacional da língua, e considera o texto
como o lugar da interação quando se tem, junto ao sujeito leitor, o contex-
to sociocognitivo dos participantes da interação. Nesta concepção, Koch
(2002, p. 20) compartilha e subscreve a denição proposta por Beaugrande
(1997, p.10) para texto: “evento comunicativo no qual convergem ações
lingüísticas, cognitivas e sociais.
No que diz respeito à estrutura do texto, arma-se estar associado ao
modo com o qual as idéias são organizadas no texto; com relação ao
conteúdo, diz-se estar associado ao tema, aos conceitos tratados no
texto. A estrutura do texto se articula ao seu conteúdo, para tanto, o
autor de um texto escolherá determinada estrutura textual que venha
coincidir com o conteúdo que quer transmitir.
A idéia principal varia de acordo com a estrutura textual, por
exemplo: num texto narrativo, a idéia principal pode ser um acontecimen-
to ou a sua interpretação; num texto informativo, pode ser uma regra, um
conceito, ou uma generalização. Quando a idéia principal aparece implíci-
ta, o leitor deve inferi-la com base nas informações fornecidas pelo texto e
no seu conhecimento prévio sobre o assunto.
Assim, além de uma estrutura textual e lingüística, o texto possui
uma estrutura de signicado que só pode ser identicada, ou que somen-
te “aparece”, quando o leitor faz uma leitura compreensiva. Essa ligação
de estrutura ao conteúdo, “perceptível” durante a leitura, indica que todo
texto possui uma superestrutura e uma macroestrutura que o caracteriza.
Van Dijk (1992, p.142) explica metaforicamente que uma superestrutura
é um tipo de forma do texto, cujo objeto, o tema, isto é, a macroestrutura,
é o conteúdo do texto.
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298
Esse tipo de conhecimento prévio pelo leitor (de estruturas tex-
tuais) possibilita-lhe a identicar a parte do texto que traz a idéia principal
auxiliando-o, assim, a compreender, de forma global, o texto e a realizar
uma leitura, pois já conhece as partes que tem a explorar e os conceitos
pertencentes a cada parte, chegando, dessa forma, ao tema do texto.
Observando a variável texto no processo de leitura, numa pers-
pectiva macro, é possível notar que os textos apresentam uma estrutura
com as partes informacionais que os compõem organizadas numa seqüên-
cia lógica diferenciada de uma tipologia textual para outra.
Ao abordar a estrutura dos textos, Van Dijk (1992) enfatiza as es-
truturas narrativa, argumentativa e a do discurso cientíco, considerando
que os textos narrativos são formas básicas muito importantes da comuni-
cação textual; as argumentativas são as mais utilizadas em losoa e teoria
da lógica e servem de base ao discurso cientíco.
Considerando que este programa privilegia, em um primeiro mo-
mento, orientações para leitura do texto cientíco, passaremos a abordá-lo
mais objetivamente. Kobashi (1994, p.114-6) apresenta a seguinte organi-
zação básica para o texto cientico:
Tema: assunto que se irá desenvolver
Problemas: diculdade que se quer solucionar cienticamente
Hipótese: proposição que se antecipa à comprovação de uma realidade
Metodologia: procedimentos e operações que possibilitem a observa-
ção racional e controlada dos fatos, de modo a permitir a interpretação
e a explicação adequada do fenômeno observado.
Resultado: implica a aceitação ou não das hipóteses formuladas ou na
reformulação das mesmas;
Conclusão: comentário nal, que se discute as possibilidades de apli-
cação e de utilização dos resultados, isto é, a incorporação ou não des-
tes últimos a um sistema teórico.
Segundo resultados e conclusões (FUJITA, 1998, 1999), obtidos
a partir de observações dos Protocolos verbais, o domínio da estrutura tex-
tual pelo indexador faz parte de seu conhecimento prévio textual porque
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
299
foi identicado como estratégia de leitura que facilita a tarefa de identica-
ção e seleção de conceitos durante a análise de assunto.
As partes da estrutura textual mais exploradas pelos sujeitos in-
dexadores (num total de oito sujeitos) e em que foi possível encontrar os
conceitos pertencentes ao tema, foram, em ordem seqüencial da estrutura:
título, resumo, introdução, material e métodos, resultados, conclusão e
referências bibliográcas. Por se tratar de um estudo realizado em áreas de
assunto em que os títulos são reais, não se encontram títulos metafóricos.
Essa parte da estrutura foi, juntamente com o resumo, as mais utilizadas
para identicação e seleção dos conceitos representativos do tema do texto.
O título foi o mais explorado, seguido do resumo e da introdução, depois
a conclusão, material e métodos, referências bibliográcas e outras partes
do texto como: tabelas, grácos etc.
Consideramos, portanto, que é necessária a elaboração de um
modelo de leitura que utilize o conhecimento de estruturas textuais do lei-
tor apoiado em estratégias mais sistemáticas de identicação de conceitos,
para efetuar não só o movimento ascendente (bottom-up), mas a interação
entre os dois movimentos de leitura - ascendente e descendente ao mesmo
tempo, preconizado por Rumelhart (1977) e considerado o que melhor
representa a atuação do sujeito documentalista, de acordo com Pinto e
Gálvez ([1996]).
2.2 O leitOr
Entre as variáveis inuentes no processo de leitura, o Indexador
(como leitor) deve ser considerado a variável mais importante, pois, além
de um leitor inato, é um leitor com objetivo prossional, que possui uma
concepção de análise de assunto baseada em sua formação na graduação
e nos cursos de capacitação. Pela análise sobre sua formação, vericou-se
que o indexador foi formado e capacitado para uma análise de texto mais
orientada pelas linguagens documentárias do que para o conteúdo. Trata-
se de um leitor que interage com o texto e, a identicação de conceitos
depende de estratégias que facilitem sua compreensão.
Durante a leitura, o leitor-indexador faz uso de seu conhecimento
prévio implícito: (lingüístico, textual e de mundo), utiliza estratégias meta-
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300
cognitivas (que permitem uma compreensão de sua própria compreensão),
assim como estratégias cognitivas (conhecimentos da ordem natural, sintá-
tica e semântica), depositando sobre o texto expectativas acerca da coerência
textual de forma global e . Sendo, em princípio, o indexador um leitor apto
à compreensão, uma maior compreensão de leitura por parte dele implica no
desenvolvimento de seu auto-conhecimento em leitura, habilidades e estra-
tégias de leitura e aprofundamento de seu conhecimento prévio.
O estudo sobre observação da leitura do indexador identicou
estratégias utilizadas e a intervenção do conhecimento prévio no processo
de identicação e seleção de conceitos. Os resultados revelaram que a lei-
tura dos indexadores é metacognitiva ao explorar toda a estrutura textual
do documento, ao utilizar estratégias de leitura, principalmente, ao manter
em mente o objetivo da leitura – representar para recuperar.
A principal constatação a respeito da observação de estratégias de
leitura foi a de que existem duas operações distintas utilizadas pelos inde-
xadores durante a leitura: Identicação de conceitos e Seleção de conceitos.
Isso esclarece que o indexador realiza as duas operações durante a leitura e
não após a mesma. Para diminuir as diculdades durante a identicação de
conceitos é necessário realizar uma leitura compreensiva dotada de estraté-
gias que permitam agilizar e facilitar a identicação de conceitos.
Vericou-se, na investigação, que o indexador possui objetivos
prossionais claros quanto à análise para condensação documentária: re-
presentar o conteúdo documentário, com palavras-chaves, para futura
recuperação pelo usuário do sistema de informação. Por conta de seus
objetivos deve ser entendido como leitor prossional, dotado de conhe-
cimento prévio sobre tipologias documentárias e estruturas textuais, estra-
tégias metacognitivas de leitura documentária voltadas para seus objetivos
e conhecimento prévio especíco da linguagem documentária do sistema
para domínio de áreas do conhecimento especializado.
Isso signica que, mesmo sem conhecimento prévio especíco, ele
poderá desenvolver a compreensão do texto e realizar a análise de forma con-
ceitual, caso ele desenvolva habilidades e estratégias de leitura documentária,
aprofunde seu conhecimento prévio lingüístico e textual, desenvolva uma
experiência de análise em área especializada, com domínio da linguagem do-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
301
cumentária, para obter familiaridade com o assunto, e principalmente, tenha
uma formação em indexação capaz de incutir-lhe a necessidade e a impor-
tância de realizar uma análise conceitual pertinente e, ainda, seja conscien-
te de suas habilidades cognitivas inatas e construídas. Torna-se necessário,
portanto, ao indexador, compreender o processo de análise documentária,
denir os objetivos para a leitura documentária e dominar a linguagem do-
cumentária para conhecimento prévio da área de assunto.
A concepção de análise assumida pelo indexador ao realizar a aná-
lise de um texto está diretamente vinculada com a formação educacional e
com a política do sistema de informação e não pelo fato de ele ser um leitor
menos ou mais habilitado.
Na formação do indexador brasileiro, constatou-se que a ativida-
de está mais articulada com o desenvolvimento da prática e menos com a
fundamentação teórica e que os conteúdos programáticos de disciplinas da
matéria “Tratamento Temático da Informação” são mais dedicados ao uso
de linguagens documentárias, preocupando-se cada vez mais com a forma-
ção do indexador em leitura documentária, o que, certamente, tenderá a
desenvolver o tema “leitura documentária” em futuras reformulações cur-
riculares. É necessária a inclusão de conteúdo sobre leitura documentária,
adotando-se a visão interacionista do processo de leitura através das três
variáveis: o texto, o leitor e o contexto.
Além disso, é preciso adotar bibliograa especíca sobre leitura e
preocupar-se com a geração de conhecimento teórico e metodológico. É
importante demonstrar a realidade de atuação prossional do indexador
em sistemas de informação e conhecer as áreas especializadas e suas lingua-
gens documentárias.
Com base nas três concepções de análise de assunto
(ALBRECHTSEN, 1993) que afetam o desempenho do indexador en-
quanto leitor (simplista, orientada para o conteúdo e orientada para a de-
manda) realizou-se descrição das estratégias de cada concepção e partiu-se
para a segunda análise de trechos de protocolos verbais que pudessem reve-
lar as concepções de análise dos indexadores, constatando-se a ocorrência
de fusão de concepções e a existência de outras estratégias.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
302
Outras estratégias observadas foram a associação com a lingua-
gem do sistema, a inuência da quantidade limite de termos e a inuência
da área especialista do indexador.
Observou-se que a associação com a linguagem, aparece nessa
análise de forma mais especíca, ou seja, sob a ótica de um processo de
interpretação pelo resgate do CONCEITO na memória do indexador,
tentando obter uma compreensão. A associação com linguagem, então,
é característica da concepção orientada para o conteúdo, porque é de-
monstração de conhecimento prévio e, portanto, parte do processo de
compreensão.
Com relação à fusão de concepções, observou-se que nenhum
sujeito realizou apenas concepção simplista ou apenas orientada para a de-
manda, porém, os sujeitos 1 e 2 do Modelo de Leitura realizaram apenas
a concepção orientada para o conteúdo. De acordo com a literatura, o uso
de estratégias durante a leitura tende a um equilíbrio entre as estratégias
perceptuais (características da concepção simplista) e conceituais (carac-
terizada pelo domínio da área de assunto em que a análise vai além da
estrutura textual e supercial do documento). Todos os sujeitos, especia-
listas e não-especialistas no assunto, fazem uso de estratégias perceptuais
e conceituais, portanto, realizam leitura compreensiva. Os especialistas,
assim como os bibliotecários, também realizam a análise de acordo com
a concepção simplista, sendo esta observada em todos os sujeitos, sempre
combinada com a concepção orientada para o conteúdo.
Recomenda-se, desta maneira, que a leitura documentária em
análise de assunto envolva tanto concepções como estratégias de leitu-
ra, a partir da perspectiva das áreas de interface: Lingüística, Lógica e
Psicologia cognitiva. É necessário que a identicação de conceitos para
a busca da tematicidade seja realizada a partir de análise conceitual; que
a concepção simplista ou perceptual seja entendida como fase necessária
para o leitor indexador atingir a compreensão; que a seleção de conceitos,
durante a leitura para análise de assunto, seja orientada para a demanda
sobre a perspectiva do usuário e da política de indexação do sistema de
informação; que várias experimentações de leitura documentária em área
especializadas sejam realizadas para conhecimento das tipologias docu-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
303
mentárias e suas estruturas textuais, idealizando modelos de leitura para
ns documentários.
2.3 O cOntextO
Para os propósitos do estudo em questão e tendo em vista a abor-
dagem interacionista assumida para a leitura documentária, o contexto,
como anteriormente enunciado por Giasson (1993, p.40), pode ser distin-
guido em contexto físico, psicológico e social. No contexto físico encon-
tram-se todas condições materiais para o desenvolvimento da leitura; no
psicológico está o interesse e a intenção para a leitura e, no social, enten-
dido como contexto sociocognitivo do indexador, está o conhecimento da
situação comunicativa e de suas regras, implícitos no contexto do trabalho
desenvolvido por indexadores em sistemas de informação.
2.3.1 cOntextO psicOlógicO: O ObjetivO dA leiturA dOcumentáriA
O indexador tem como objetivo principal, representar o assunto
de um documento por termos signicativos para que seja possível sua re-
cuperação pelos usuários interessados.
Examinando os objetivos especícos da leitura documentária,
podemos inferir que são relacionados aos objetivos do sistema de informa-
ção e às necessidades dos usuários, consistindo basicamente em:
Determinar o conteúdo principal do documento;
Identicar e selecionar os conceitos para representar o conteú-
do dos documentos.
Os objetivos são relacionados ao trabalho a ser desenvolvido
pelo indexador e são pertinentes aos objetivos do sistema de informação.
Dessa forma, o leitor passa a ser considerado um leitor prossional, por-
que os objetivos prossionais se sobrepõem aos objetivos pessoais. No
caso da leitura documentária, o propósito consiste em extrair a informa-
ção relevante do texto, tendo em vista a sua posterior recuperação por
um leitor interessado.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
304
Como o indexador realiza uma leitura com objetivos prossio-
nais, sua leitura documentária sofre a pressão da falta de tempo devido à
grande quantidade de material que necessita ler para indexar. Sendo assim,
o leitor-indexador utiliza, na leitura para ns de indexação, estratégias me-
tacognitivas próprias de leitura documentária que lhe permitam atingir o
seu objetivo. Para atingir a compreensão da leitura, o indexador utiliza-se
de diversos processos existentes para a prática da leitura e, para a conclusão
destes processos, apóia-se em estratégias visando a alcançar os objetivos.
Dentre os aspectos cognitivos envolvidos no processo de com-
preensão da leitura, tais como interesse, tarefa, objetivo, conhecimento,
normas, opiniões ou atitudes; Van Dijk (1979), citado por Beghtol (1986),
postula que o objetivo no processo de leitura representa o mais forte argu-
mento na compreensão, pois, segundo o autor, o objetivo de leitura sobre-
põe-se a qualquer tipo de estrutura textual. Supõe-se que a denição de ob-
jetivos para a leitura documentária atue como facilitador da compreensão
e determinação do assunto do documento e deva fazer parte do programa
de orientação, uma vez que, em protocolos verbais dos estudos de casos,
a verbalização do objetivo durante o processo de leitura documentária foi
raro. Compreender o texto pela leitura documentária, na análise de assun-
to, para melhor representar seu conteúdo e assim torná-lo disponível e co-
nhecido aos usuários é um objetivo a ser melhor denido pelo indexador.
Em síntese, a leitura do indexador é guiada pelos seus objetivos e,
dependendo de suas habilidades de leitor, conhecimentos prévios necessá-
rios à atividade de indexação, ele terá êxito.
2.3.2 cOntextO físicO
O contexto físico de sistemas de informação demonstram reali-
dades diferenciadas na infra-estrutura física, importantes de serem consi-
deradas no contexto do indexador. Torna-se necessária a análise dessas rea-
lidades na formação do indexador, tendo em vista que a forma de atuação
prossional modica-se de uma realidade para outra: em bibliotecas, o in-
dexador realiza, além da indexação, atendimento ao usuário dentro de uma
biblioteca aberta ao público; por outro lado, em serviços de informação,
os indexadores realizam somente indexação, não atuam em um ambiente
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
305
de biblioteca e tampouco têm contato com o usuário. A inuência dessa
realidade física deverá reetir-se na política de indexação do sistema e na
concepção de análise assumida pelo indexador.
2.3.3 cOntextO sOciOcOgnitivO:
O contexto sociocognitivo aqui refere-se ao modelo mental do
leitor indexador ao qual será necessário acrescentar os procedimentos de
análise de assunto em indexação, a linguagem documentária do sistema
e a política de indexação do sistema explicados por manual. O conjunto
desses elementos deverá estar presente no conhecimento prévio do leitor
prossional que realiza a leitura documentária.
a) o manual de indexação
O manual de indexação será considerado aqui como conteúdo
a ser absorvido pelo indexador para a realização da leitura documentária
dotada de estratégias especícas, tendo em vista seu contexto prossional.
O conteúdo do Manual, então, expressa todo o contexto sociocognitivo
do indexador constituído dos procedimentos de análise de assunto, lingua-
gem documentária e política de indexação.
O manual de indexação, com objetivos, procedimentos, apresen-
tação da linguagem e política de indexação, é parte necessária ao contexto
sociocognitivo do indexador em leitura documentária, devendo contem-
plar os seguintes aspectos:
- Objetivos e propósito do sistema de informação;
- Apresentação dos procedimentos de indexação para
identicação e seleção de conceitos articulados com o processo
de leitura, incluindo um questionamento para esta nalidade,
contendo exemplos em cada fase;
- Apresentação das linguagens documentárias alfabética e
hierárquica adotadas para a representação dos conceitos
selecionados, respectivamente, na indexação e classicação,
esclarecendo aspectos de estrutura, vocabulário e conguração
interna para uso, contendo exemplos;
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
306
- A especicação dos elementos constituintes da política de
indexação do sistema: cobertura de assunto, critérios de seleção
e aquisição dos documentos-fonte, nível de exaustividade e
nível de especicidade.
b) a linguagem documentária
No âmbito da linguagem do sistema de informação, no que diz
respeito à associação e validação, vericou-se com indexadores que a asso-
ciação com linguagem permeia toda a operação e sempre está próxima (an-
tes ou depois) da estratégia de identicação de conceitos. Esta associação
com linguagem é um esquema do indexador não especialista acionado por
seu conhecimento prévio, o que signica que o domínio do assunto é feito
pela linguagem documentária do sistema;
Por outro lado, os indexadores que fazem associações com a lin-
guagem documentária em poucos momentos, utilizando muito mais o
próprio conhecimento prévio sobre o assunto, são especialistas e, portanto,
dominam o assunto.
Considerando-se a linguagem documentária do sistema de
informação como instrumento para domínio do assunto durante a
compreensão de leitura, é importante haver: uma estrutura de con-
ceitos visível e claramente compreensível ao indexador; explicações
detalhadas e indispensáveis para o seu uso e aplicação; controle sobre
as formas dos termos utilizados como descritores; diferenciadores ti-
pográficos para diferenciação entre as relações de hierarquia, associa-
ções e equivalência.
Além disso, recomenda-se que o indexador deve ter conhecimen-
to sobre a estrutura da linguagem e seu vocabulário para aumentar seu
conhecimento prévio e, se possível, aumentar o contato com usuários em
oportunidades variadas: eventos especícos, reuniões de colegiado, reuni-
ões de grupos de pesquisa; acompanhar a elaboração de trabalhos acadêmi-
cos, estratégias de busca, etc.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
307
c) a política de indexação
Considerando que a política de indexação adotada inuenciará
diretamente a indexação que, por sua vez, será reetida na recuperação
da informação, esta política do serviço de análise deve estar clara e obje-
tivamente expressa em seu manual de indexação para que os indexadores
tenham dela conhecimento e compreensão.
Os elementos de política de indexação que inuenciam direta-
mente na leitura do indexador são a exaustividade e a especicidade, porque
são essas variáveis que interferem na escolha dos termos para indexação:
exaustividade: o indexador, no momento da leitura, deverá
estar ciente do número de descritores que pode extrair de cada
documento, obrigando-o a escolher entre um e outro, fazendo
assim a seleção. Entretanto, é necessário que o sistema de
informação estabeleça um número (mínimo e/ou máximo) de
descritores a serem escolhidos. A ausência desta delimitação
apresentará variabilidade no número de descritores escolhidos
por cada indexador, gerando interconsistência.
especicidade: caso seja recomendação do sistema de
informação que o indexador seja o mais especíco possível,
será necessário que ele leia o documento, tendo em mente o
nível de especicidade exigida pelo sistema.
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Een Interdisplinaire inleiding
309
sObre Os AutOres
AnA lúciA terrA
Professora Adjunta no Instituto Politécnico do Porto
anaterra@iscap.ipp.pt
É doutorada em Ciências Documentais pela Universidade de Coimbra, Licencia-
da em História e Mestre em História Moderna pela mesma instituição. Pós-gra-
duada em Ciências Documentais (Opção Arquivo e Biblioteca/Documentação)
pela Universidade de Coimbra. É Professora Adjunta no Instituto Superior de
Contabilidade e Administração do Porto. Desde 2002, leciona na área da Ciência
da Informação, na Licenciatura em Ciências e Tecnologias da Documentação e
Informação, de que foi coordenadora no período de 2009-2016. Também leciona
no Mestrado em Informação Empresarial, de que é diretora desde a sua primeira
edição. Tem colaborado igualmente na Pós-Graduação em Gestão de Bibliotecas
Escolares. É investigadora integrada do CIC.Digital, no pólo da Universidade
do Porto. Foi galardoada com o Prémio Raúl Proença, da Associação Portuguesa
de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, em 2009. É sócia de diversas
associações prossionais e cientícas: Associação Portuguesa de Bibliotecários,
Arquivistas e Documentalistas, International Council on Archives, International-
Society for Knowledge Organization (ISKO) – Capítulo Ibérico e da SOPCOM
– Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. É coordenadora do Grupo
de Trabalho de Ciência da Informação da SOPCOM. As suas áreas de investiga-
ção abrangem a organização e representação da informação, o comportamento
informacional e a gestão da informação.
brisA pOzzi de sOusA
Docente do curso de Biblioteconomia - UNIRIO
brisapozzi@gmail.com
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESPcâmpus de Marília). Atualmente é doutoranda no Pro-
grama de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e docente nos cursos de bacharelado e licenciatura em Bi-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
310
blioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Integra os grupos de pesquisa Organização do Conhecimento para Recupera-
ção da Informação, liderado pelo professor Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda
(UNIRIO) e Fundamentos Teóricos, Metodológicos e Históricos da Organização
da Informação, liderado pela professora Cristina Dotta Ortega (UFMG).Seu foco
centrana Biblioteconomia e Ciência da Informação, nas temáticas que envolvem
o contexto da Organização do Conhecimento, destacando-se: análise de assunto,
indexação, classicação, modelagem conceitual e catalogação.
cArlOs cândidO de AlmeidA
Pesquisador nível 2 do CNPq
Departamento de Ciência da Informação
Faculdade de Filosoa e Ciências
UNESP – Campusde Marília
carlosalmeida@marilia.unesp.br
Docente do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual
Paulista, campus de Marília, com atuação nos cursos de Graduação em Arquivo-
logia e Biblioteconomia e no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Infor-
mação - UNESP. Pós-doutor em Biblioteconomía y Documentación pela Univer-
sidad de Zaragoza, Espanha, doutor em Ciência da Informação pela Universidade
Estadual Paulista, mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal
de Santa Catarina e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual
de Londrina. Líder do grupo de pesquisa Fundamentos Teóricos da Informação.
Bolsista de produtividade em pesquisa CNPq nível 2. É membro das sociedades
cientícas: Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da In-
formação ANCIB e do Capítulo Brasileiro da International Society for Knowled-
ge Organization ISKO, no Brasil. É parecerista de agências de fomento e membro
de comitês cientícos de eventos e periódicos em Ciência da Informação, no
Brasil e no exterior. Realiza pesquisas nas áreas: epistemologia da ciência da in-
formação, semiótica, comunicação, organização da informação, organização do
conhecimento e mediação.
dAnielA mAjOrie AkAmA dOs reis
Doutoranda em Ciência da Informação
UNESP – Campus de Marília
danielamajorie@yahoo.com.br
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes-
quita Filho” – UNESP com bolsa de iniciação cientíca CNPq/PIBIC. Mestra
em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesqui-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
311
ta Filho” – UNESP com bolsa FAPESP, com dissertação intitulada: A importân-
cia da observação da estrutura textual durante a catalogação de assunto de livros
cientícos em bibliotecas universitárias: uma análise realizada a partir da técnica
de Protocolo Verbal. Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, com previsão para con-
clusão e defesa da Tese em 2019. Estuda atualmente aspectos da Semiótica em
tratamento de livros na Organização do Conhecimento.
dulce AméliA de britO neves
Professora Titular do Departamento de Ciência da Informação da UFPB.
damelia1@gmail.com
Doutora em Ciência da Informação pela UFMG.Docente permanente do Pro-
grama de Pós-graduação em Ciência da Informação da UFPB, na linha Organi-
zação, Acesso e Uso da Informação. Coordena os Grupos de Pesquisa: Leitura,
organização, representação, produção e uso da informação e Representação temá-
tica da informação em Arquivística. Membro da: Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-Graduação em Ciência da Informação ANCIB e do Capítulo Brasileiro da
InternationalSociety for Knowledge Organization - ISKO, no Brasil e no exterior
da InternationalSociety for KnowledgeOrganization - ISKO. Faz parte do Corpo
Editorial da Revista Informação & Sociedade: Estudos e Revista Biblionline, da
Revista Ciência da Informação, Revista Encontros Bibli (UFSC), Informação &
Informação, Revista Brasileira de Pós-graduação (Capes), JournalofInformation
Science, Revista ACB (Associação Catarinense de Bibliotecários), Ponto de Aces-
so. Consultora Had Hoc da Capes. Áreas de interesse Ciência da Informação,
com ênfase em Biblioteconomia e Arquivologia, atuando principalmente em:
Representação da Informação, Organização da Informação. Indexação, Meta-
cognição, Leitura em Unidades de Informação, Comportamento Informacional.
Membro da ISKO Brasil
éricA fernAndA vitOrini
Doutoranda em Ciência da Informação
UNESP – Campus de Marília
erica.vitorini@marilia.unesp.br
Doutoranda em Ciência da Informação no PPGCI na Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho - Campus de Marília. Membro do Grupo de
pesquisa Análise Documentária. Mestra em Ciência da Informação no PPGCI na
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Campus de Marília em
2015, com o projeto Uso da linguagem documentária na busca da informação
em bibliotecas universitárias: a perspectiva dos decientes visuais. Bacharel de
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
312
Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade Federal de São Carlos-
Campus de São Carlos em 2010. Bolsista FAPESP em 2010 com o projeto de
Iniciação Cientíca A linguagem documentária vista pelo conteúdo em catálogos
coletivos de bibliotecas universitárias: avaliação qualitativa-sociocognitiva pela
perspectiva do bibliotecário indexador.
jOsé cArlOs frAnciscO dOs sAntOs
Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
UNESP – Campus de Marília
Docente das Faculdades Integradas do Vale do Ivaí - Ivaiporã - PR
jose.santos@marilia.unesp.br
Doutorando em Ciência da Informação na Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” – Unesp, Mestre em Ciência da Informação pela Universi-
dade Estadual de Londrina - UEL (2015). Docente e Coordenador de Estágio
Supervisionado do Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimen-
to de Sistemas das Faculdades Integradas do Vale do Ivaí. Gerente de Projetos
do Esap - Instituto de Estudos Avançados e Pós-Graduação. Como pesquisador,
atua nos Grupos de Pesquisa “Análise Documentária” (na categoria Estudante) da
Unesp, “Controle de Vocabulário em periódicos cientícos eletrônicos: proposta
de implantação da VCPC Tools no periódico “Discursos Fotográcos” (como
Colaborador ad hoc). Atua na área de Ciência da Informação, Organização do
Conhecimento, com ênfase em Controle de Vocabulário em periódicos cientí-
cos eletrônicos.
juAn-frAnciscO tOrregrOsA cArmOnA
Profesor Titular de Documentación Informativa
Universidad Rey Juan Carlos (Madrid, España)
juanfrancisco.torregrosa@urjc.es
Docente e investigador de la Facultad de Ciencias de la Comunicación de la Uni-
versidad Rey Juan Carlos (URJC, Madrid), en la que trabaja desde 2004 a tiem-
po completo, en grado y posgrado, presencial y semipresencial. Es Coordinador
Académico (Vicedecano) del Grado de Comunicación Audiovisual y miembro
de la Cátedra UNESCO de Investigación en Comunicación de la URJC. Doctor
por la Complutense, UCM (en Ciencias de la Información, sobresaliente cum
laude por unanimidad), donde fue personal docente e investigador. Diploma de
Estudios Avanzados en Estructura, Tecnología y Tratamiento de la Información.
Diploma de Aptitud Pedagógica en Lengua Española y Literatura.Licenciado en
Periodismo y Licenciado en Derecho, su formación principal ha correspondido
a la UCM y a la UNED (Universidad Nacional de Educación a distancia). Du-
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
313
rante años trabajó como redactor, columnista y documentalista en prensa, radio
y televisión, así como en la Dirección de Comunicación de empresas privadas y
de la Administración Pública. Perito judicial para cadenas nacionales de televisi-
ón públicas y privadas, ha impartido clase en programas de doctorado y títulos
de máster de instituciones y medios de comunicación y en universidades tanto
españolas como internacionales. Dentro de estas últimas ha sido conferenciante e
investigador en países de Europa, América Latina (Universidad Austral de Chile
e Instituto Tecnológico de Monterrey, México) y Asia-Pacíco (universidades de
Pekín y Waseda Universtiy, de Tokio).
luciAnA beAtriz piOvezAn
Doutoranda em Ciência da Informação
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília
lbpiovezan@gmail.com
Doutoranda em Ciência da Informação, vinculada à linha de pesquisa Produ-
ção e Organização da Informação do PPGCI da Universidade Estadual Paulista
– UNESP, com o tema Linguagem de indexação interoperável para bibliotecas
universitárias. Possui mestrado em Ciência da Informação (2015) e graduação em
Biblioteconomia (2011) pela UNESP. Foi membro da Sub-Comissão da CADA
para elaboração de Vocabulário Controlado de termos arquivísticos da UNESP -
VTArq (2013-2014). É membro do Grupo de Política de Indexação e do Grupo
de Linguagem da Rede de bibliotecas da UNESP. Desenvolve pesquisas na área
de Ciência da Informação, tendo como principais interesses as temáticas inde-
xação, política de indexação, linguagem de indexação e leitura documental para
indexação.
mAríA del cArmen Agustín lAcruz
Profesora Titular
Universidad de Zaragoza (España)
cagustin@unizar.es
Profesora e investigadora en la Universidad pública de Zaragoza. Doctora en
Filosofía y Letras(sobresaliente cum laude), licenciada en Filología Hispánica y
Diplomada en Biblioteconomía y Documentación,trabajó también durante ocho
años como bibliotecaria en la Red de Bibliotecas Públicas municipales de Zara-
goza. Actualmente es Directora del Departamento de Ciencias de la Documen-
tación e Historia de la Ciencia y coordinadora del Programa de doctorado interu-
niversitario (Universidad de Barcelona-Universidad de Zaragoza) en Información
y Documentación. Imparte docencia en los Grados de Información y Documen-
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
314
tación, y Periodismo, así como en el master en Consultoría en Información y
Comunicación Digital. Es autora de un centenar de trabajos sobre bibliotecas,
lectura, inclusión digital, análisis de imágenes, fuentes de información y organi-
zación del conocimiento. Ha impartido cursos y seminarios en diferentes univer-
sidades españolas, portuguesas (Évora, Oporto, Instituto Politécnico de Oporto)
y brasileñas (UNESP, UFSC y UFSCar).
mAriângelA spOtti lOpes fujitA
Bolsista PQ-1C/CNPq
Docente Permanente Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
UNESP – Campus de Marília
fujita@marilia.unesp.br
Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1992),
Livre Docente (2003) em Análise Documentária e Linguagens Documentárias
Alfabéticas, Professora Titular da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes-
quita Filho” – UNESP no período de 2010 a 2017. É docente permanente na
Pós-Graduação na linha de pesquisa “Produção e Organização da Informação” do
Programa em Ciência da Informação da UNESP. Como Pesquisadora atua nos
Grupos de Pesquisa “Representação Temática da Informação” (líder), “Leitura,
organização, representação, produção e uso da informação – UFPB” e “Organi-
zação do conhecimento para disseminação da informação-UFSCar”. Desenvolve
atividades de pesquisa na UNESP com bolsa de Produtividade em Pesquisa do
CNPq nível 1C. É membro das Sociedades Cientícas de sua especialidade: Asso-
ciação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação ANCIB
e do Capítulo Brasileiro da International Society for Knowledge Organization
ISKO, no Brasil e no exterior da International Society for Knowledge Organiza-
tion ISKO. Atualmente é Assessora e Presidente do Comitê de área de Comuni-
cação, Artes e Ciência da Informação do CNPq, Supervisora do Instituto de Polí-
ticas Públicas de Marília e Presidente da Comissão Permanente de Publicações da
Faculdade de Filosoa e Ciências da UNESP. É parecerista ad hoc de agências de
fomento e participa como revisora e membro de Comitês Cientícos de eventos e
periódicos cientícos em Ciência da Informação no Brasil e no exterior. Atua na
área de Ciência da Informação, com ênfase em Indexação, Leitura Documentária
para indexação, utilizando a metodologia introspectiva de Protocolo Verbal em
diferentes modalidades. Realiza pesquisas sobre os tema de política de indexação
e Linguagem de indexação para bibliotecas.
Leitura documentária: estudos
avançados para a indexação
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milenA pOlsinelli rubi
Bibliotecária
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – Campus Sorocaba
milenarubi@ufscar.br
Doutora em Ciência da Informação pela Faculdade de Filosoa e Ciências, Uni-
versidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, SP (2008). Possui graduação em
Biblioteconomia pela UNESP (2000) e mestrado em Ciência da Informação tam-
bém pela UNESP (2004). Atuou como professora substituta do Departamento
de Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi
bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior duran-
te o mestrado e doutorado e bolsista de iniciação cientíca do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico (CNPq). Tem experiência na área
de Ciência da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: indexa-
ção, política de indexação, análise documentária, protocolo verbal e estratégias
de leitura. Atualmente, é bibliotecária na Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), Campus Sorocaba.
rObertA cArOline vesu Alves
Mestre e Doutora em Ciência da Informação - Unesp de Marília
UNESP – Campus de Marília
robertavesu@gmail.com
Mestre em Ciência da Informação (2008) pela Universidade Estadual Paulista “Jú-
lio de Mesquita Filho” – UNESP, Bibliotecária Escolar do Centro Educacional do
Serviço Social da Indústria – SESI de Guararapes-SP (2009-2010), Bibliotecária
Jurídica (2010-2012) e Doutora em Ciência da Informação (2016) pela UNESP
com bolsa CAPES e, posteriormente, FAPESP. Bolsista CNPq-AT (2007) do pro-
jeto “Abordagem cognitiva da leitura documentária no tratamento documentário
com uso do Protocolo Verbal”, com orientação da Profª. Drª. Mariângela Spotti
Lopes Fujita. É membro da Sociedade Cientíca de sua especialidade: Capítulo
Brasileiro da International Society for Knowledge Organization – ISKO, no Brasil.
Atuou como Professora Substituta do Departamento de Ciência da Informação
da UNESP em 2016 e 2017. Atua na área de Ciência da Informação, com ênfase
em Análise Documental e indexação com leitura e identicação de temas para re-
presentação de conteúdo dos textos literários infanto-juvenis, Análise Documental
para representação e elaboração de resumos de textos narrativos ccionais infan-
to-juvenis, considerando aspectos de aboutness, Semiótica de Greimas, Análise do
Discurso, Percurso Gerativo de Sentido, teorias da Narrativa, Linguística Textual
e elementos textuais e cognitivos da Leitura Documentária para indexação e re-
presentação, além da Análise Documental no âmbito do Tratamento Temático da
Informação, Ciência da Informação e Organização do Conhecimento.
Mariângela Spotti Lopes Fujita; Dulce Amélia de Brito Neves
Paula Regina Dal’Evedove (Org)
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WAlter mOreirA
Departamento de Ciência da Informação
Faculdade de Filosoa e Ciências
UNESP – Campusde Marília
walter.moreira@marilia.unesp.br
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo (2010), Pro-
fessor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesqui-
ta Filho”. Atua nos cursos de graduação em Arquivologia e Biblioteconomia e
no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, na linha de pesquisa
“Produção e Organização da Informação”. Como pesquisador atua nos grupos de
pesquisa “Análise Documentária - UNESP” (líder) “Representação Temática da
Informação - UNESP”, “Linguagem, discurso e organização do conhecimento –
UNESP”. Desenvolve pesquisas sobre sistemas de organização do conhecimento,
linguagens documentárias, teoria da classicação, terminologia e ontologias.
WendiA OliveirA de AndrAde
Doutoranda em Ciência da Informação
Mestra em Ciência da Informação
UFPB – Campus de João Pessoa
wendia2810@gmail.com
Doutoranda (2015-2019) e Mestra distinta (2014) em Ciência da Informação
pela Universidade Federal da Paraíba, com a temática de usuários de arquivo. É
bibliotecária (2010) e atuou como Professora substituta na Universidade Esta-
dual da Paraíba (2014-2016), ministrando disciplinas no curso de Bacharelado
em Arquivologia, a saber: Representação da Informação Arquivística; Arquivos
Permanentes; Reprodução de documentos; Gestão da Informação Arquivística e
Metodologia da Pesquisa (ênfase na construção de trabalhos acadêmicos). Regu-
larmente oferece ocinas e palestras, com temática sobre as normas vigentes da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para elaboração de trabalhos
acadêmicos e também sobre Tesauros, como instrumentos de representação e re-
cuperação de informação em arquivos e bibliotecas. Tem experiência na área de
Arquivologia, com ênfase na organização e recuperação da informação (SRI) de
arquivos jurídicos. Tem interesse em temáticas como usuários de arquivo, aces-
sibilidade e uso de SRI, tanto em arquivos quanto em bibliotecas; disseminação
e recuperação da informação; linguagens documentárias; representação temática
da informação arquivística: tesauros e unitermos. Na área da Ciência da Informa-
ção, tem se dedicado aos estudos sobre o conceito de informação, relacionando-o
como a Arquivologia.
Catalogação
Telma Jaqueline Dias Silveira
Assessoria Técnica
Renato Geraldi
Maria Rosangela de Oliveira
Normalização
Maria Rosângela de Oliveira
CRB - 8/4073
Capa e Diagramação
Gláucio Rogério de Morais
Produção gráca
Giancarlo Malheiro Silva
Gláucio Rogério de Morais
2017
Impressão e acabamento
Gráca FFC-Unesp/Campus de Marília
Marília - SP
Formato
16X23cm
Tipologia
Adobe Garamond Pro
Papel
Polén soft 70g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Acabamento
Grampeado e colado
Tiragem
300
sObre O livrO